Roberto Denser's Blog, page 8

August 28, 2014

Alguma forma sólida de eternidade

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A ideia inicial era ficarmos juntos. Dividirmos as contas e as tarefas domésticas. Decidirmos quem ficaria com os pratos do jantar em algumas partidas de videogame (melhor de 3 em Guitar Hero ou Mortal Kombat — pois assim eu ganharia um dia, você ganharia outro, e ambos ganharíamos sempre).

Assim alcançaríamos, veja só: alguma espécie louca de equidade.

A ideia inicial era cozinharmos juntos. Você, com suas habilidades para doces e gostosuras; eu, com minhas habilidades para salgados e travessuras: dois experimentalistas gastronômicos no geral inábeis — eu mais que você —, o que seria evidenciado quando fôssemos preparar o peru de natal, que ficaria duro como o diabo e com um gosto esquisito que procuraríamos identificar sem sucesso. “Pelo menos foi divertido prepará-lo”, seria nossa desculpa. “Comê-lo é o de menos”, concordaríamos.

Assim alcançaríamos, veja bem: alguma espécie doida de equilíbrio.

A ideia inicial era ficarmos juntinhos na redinha da varanda. Lendo ou simplesmente balançando em silêncio — que seria quebrado apenas pelo iéc-iéc da rede ou pelo barulho da chuva (pois é claro que choveria!) —, ou a ouvir o novo disco de nossa banda favorita (ou da minha, ou da sua). E eu te beijaria ou cheiraria o olho, por vezes a pontinha do nariz.old-couple

Assim alcançaríamos, veja você: alguma espécie maluca de plenitude.

A ideia inicial era assistirmos filmes sempre que possível: algo que nos fizesse rir ou chorar, ou simplesmente pensar acerca de qualquer coisa. Você, encolhidinha em meu colo, às vezes com a pipoca encolhidinha no seu, às vezes cochilando no meio do filme chato para depois acordar e perguntar o que aconteceu. Eu, cheirando seus cabelos e beijando sua cabeça, com meus braços à sua volta em vias de te dar algum aperto.

Assim alcançaríamos, acredito: alguma espécie esquisita de conforto.

A ideia inicial era juntarmos nossos livros — e quadrinhos, e mangás, discos, dvds! — de modo que nem saberíamos mais de quem é o quê.

Assim alcançaríamos, veja isso: alguma espécie doida de organização.

A ideia inicial era nos ajudarmos, quando possível: fosse em algum problema relativo ao trabalho, à família, ou mesmo ao nosso íntimo no geral inalcançável. E vararíamos noites entre papéis e cafés, eivados de alguma... obstinação.

E haveria dias assim: você de calcinha pela casa, distraída, eu a chegar sorrateiro e te beliscar a bunda (você pularia de susto, eu agarraria suas nádegas com as duas mãos e diria que amo o seu traseiro gostoso, mas você se desvencilharia provocante e bambolearia para longe de mim). Depois você voltaria vestida, perguntaria que roupa ficava melhor e eu diria: “Tanto faz, você é linda de qualquer jeito” (e seria verdade, mas você não acreditaria em mim).

E também assim: eu a te perguntar, ansioso, se você finalmente terminou a leitura de meu novo livro. Você a me desancar em críticas, ou me derreter em elogios, e sua opinião seria a mais relevante do mundo para mim.

Mas também haveria dias nos quais você estaria, sabe deus por quê, com abuso de mim, cheia de não-me-toques, decidida a me odiar por qualquer coisa e se achando a criatura mais gorda e feia do universo até então conhecido, e de nada adiantaria te evidenciar o contrário: que você não era apenas a mais linda do MEU universo, como também a Delicinha das Galáxias de todos os universos possíveis, o que, mesmo sendo verdade, poderia resultar em um ataque homicida de sua parte. E você me chamaria de bocó (você era a única pessoa que eu conhecia que usava esse termo), e eu te chamaria de broto, e você diria que broto era a madrinha que nem tenho. Mas passaria, a ideia inicial era que passaria, e logo você voltaria a ser a criaturinha mimosa e amiga que sempre fora: a mesma que se aconchegava o mais possível quando dormíamos de conchinha, roçando e encaixando-se em meu corpo quase em vias de erupção; a mesma que ria com minhas piadas ou morria de rir com suas próprias.

Assim alcançaríamos, creio eu, alguma espécie louca de solidez.

E haveria dias assado também: você chateada com sei lá, eu chateado com nem sei. Brigas que, se parássemos para analisar objetivamente, nem chegariam a ter razão de ser.

E economizaríamos para a sagrada viagem anual, tiraríamos férias juntos — e partiríamos rumo a algum destino inusitado escolhido por nós dois no catálogo de um guia de viagens esquisito. E nas viagens haveria situações como eu querendo ver a casa onde viveu aquele poeta desconhecido que se matou com um tiro no peito e fantasiado de palhaço, você dizendo que era uma perda de tempo idiota, mas indo de todo jeito, e se divertindo de todo jeito, fazendo mais perguntas à guia do que eu, e no final da visita comprando uma antologia com os melhores poemas do sujeito.

Haveríamos, com o tempo, aprendido a ceder vez por outra, e que poderíamos fazer qualquer coisa valer a pena quando estivéssemos dispostos a isso. E o tempo talvez nos trouxesse a extensão da vida, e com os filhos viriam experiências e sacrifícios muito mais difíceis do que havíamos imaginado, mas dos quais certamente daríamos conta.

Assim alcançaríamos, veja só: alguma espécie sóbria de união.

E se o tempo nos fosse favorável, e se a vida nos fosse favorável, haveríamos, também, de morrer um dia. Um dia, distante, idosos e cheios de histórias em comum. Provável que eu fosse primeiro, afinal os homens vivem menos, mas eu te esperaria pacientemente do outro lado (como tantas vezes havia esperado você se arrumar, como tantas vezes havia apenas... te esperado). E nossos filhos juntariam nossas cinzas numa única urna, de modo que fôssemos finalmente um, e as jogariam talvez no mar, talvez na casa do poeta desconhecido, mas certamente em algum lugar que fora, a seu modo, importante para nós. 9FDF0061E67247399EAEFBE2E1494764

Assim alcançaríamos, meu amor, alguma forma sólida de eternidade.

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Published on August 28, 2014 06:59

July 30, 2014

Resenha de A Orquestra dos Corações Solitários feita por leitora

A leitora Meire, do blog Salada Médica, fez uma resenha do meu livro, que reproduzo a seguir com sua autorização:

A Orquestra dos Corações Solitários

“Trocaram a completude pela busca, agora nascem e morrem sós, por mais acompanhados que estejam.”

                 Roberto Denser no conto ‘O Zodíaco dos Desencontrados’

Este é o primeiro livro do escritor paraibano Roberto Denser. A obra foi lançada no ano passado em formato eBook Kindle, está à venda na Amazon por USD 4,43 e é uma coletânea de contos inspirados em músicas dos Beatles.

Antes de começar a ler pensei que os contos se linkariam de alguma forma e tão logo começava outro conto saía à procura de personagens já representados. Mas só o Diógenes, um vendedor de sandálias magnéticas que perdeu a noiva para um palhaço que não usava fantasia, deu o ar da graça no vagão onde a moça que de alguma forma me representa [não sei você, mas eu quase sempre me acho em algum livro] estava perdida em uns mesmos devaneios incontroláveis de empatia nos quais sempre me perco. 

Roberto Denser criou um livro temático, onde todos os contos - com exceção do bônus - tipificam uma solidão e a obra não tem a mínima pretensão, o que é muito massa, de criar teorias para explicá-las. Eles, os tipos, me parece que simplesmente surgiram (bom, se foram programados só ele poderá dizer). 

“Zombar de quem vem ao cinema sozinho não é legal.”

As visões artísticas da mente psicótica, dos depressivos e da estranha esquizotipia* que persegue os solitários são absolutamente sempre interessantes pra mim e raramente me interesso por livros de ficção que não envolvam essa temática.

Os contos são urbanos, de escrita deliciosamente contemporânea e às vezes com uma pitada de humor negro e que em muito me lembram Patrício Júnior, Daniel Galera e João Paulo Cuenca.

Acho que Denser é mais um excelente exemplo do estilo que marca essa geração de escribas, que embora se veja influenciada por grandes nomes como Saramago e outros acaba produzindo algo que é a cara absoluta de nossa época.

Ri em ‘A Outra’ como rio das carnificinas de Tarantino, sabe aquela coisa de ver um cérebro sendo estourado e mesmo assim achar engraçado? Há coisas tristes que são engraçadas e coisas engraçadas que são tristes, bem como coisas tristes que são simplesmente muito tristes. Gostei disso.

"Ele não deixou nenhum bilhete, mas só porque não tinha para quem deixar."

O suicídio é representado no livro de várias formas, da involuntária à não exitosa que deixou sequelas e passa também pelo pequeno suicídio (a automutilação da menina Camila Durë) e é patente a presença de complicadores que as pessoas conseguem encontrar em relacionamentos que nem deveriam ser complicados, bem como os fatos de existir solidão mesmo quando não se está só e da tormenta que é se relacionar com pessoas com transtorno de humor ou obsessivas.

Gostei e recomendo. 

M.

*Relaciono algum grau de esquizotipia à solidão de modo diletante, teoria meio minha, meio tosca. Acho mesmo, muito mesmo, que a solidão é uma resposta química do cérebro e que, da mesma forma que outros traços de personalidade, tem  um fundo genético gritante.

(Clique aqui para acessar o post original)

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Published on July 30, 2014 07:08

July 27, 2014

Tem dias que só Beatles salva…

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…E hoje é um desses dias.

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Published on July 27, 2014 14:40

May 7, 2014

A Chegada dos Bárbaros

O que esperamos na ágora reunidos? É que os bárbaros chegam hoje. Por que tanta apatia no senado? Os senadores não legislam mais?

(Do poema À Espera dos Bárbaros, de Konstantinos Kaváfis)

Resolvi fazer uma pequena pausa em minhas atividades mais urgentes para falar um pouco, só um pouco, sobre um acontecimento que vem me deprimindo já faz alguns dias: o espancamento público e sumário de Fabiane Maria de Jesus, dona de casa, moradora do Guarujá — palavra que segundo alguns significa “viveiro de rãs e sapos” — que, assim como Cristo à época de seu próprio suplício, contava apenas 33 anos quando caiu nas mãos da turba de bárbaros irresponsáveis que a espancaram até a quase-morte (ela veio a falecer após dois dias no Hospital Santo Amaro). O motivo? Um boato difundido por uma página do Facebook, um boato pura e simplesmente, sem qualquer indício de prova, como tantos outros que circulam na rede social de Zuckerberg, que a acusava de ser, pasmem, uma bruxa que sequestrava criancinhas para utilizá-las em rituais de magia negra.

Alguns contestarão o uso do termo “bruxa”, aqui colocado por mim com certa licença. Explico: em essência, a acusação (sequestrar crianças para usar em rituais de magia negra) quer dizer isso: uma bruxa, personagem que apavora o imaginário popular desde, talvez, a Idade Média.

A página que criou (ou difundiu, isso não ficou claro) o boato, veiculou a acusação ao lado de um retrato falado aleatório, feito pela polícia civil anos antes, referente a outro caso, que, pelo menos na opinião deste míope que vos escreve, em quase nada lembrava a Fabiane. A pouca semelhança não foi suficiente para impedir que alguém, ao vê-la chegar em Morrinhos, bairro onde morava com seu marido e seus dois filhos (12 e 1 anos de idade, duas crianças), gritasse: “Vejam, é ela!”

Não é difícil imaginar o que se seguiu. Para aqueles sem imaginação, dezenas de vídeos circulam pela rede, não é difícil encontrá-los. A cascata do terror, um efeito dominó de violência, pessoas que se uniram em turba para amarrar seus braços e pernas enquanto a espancavam com socos, pontapés, paus e pedras, e arrastavam seu corpo desfalecido como a um boneco do Judas, em meio a gritos e acusações (“Vagabunda!”), sem que ela, coitada, tivesse sequer o vislumbre de uma chance de defesa. Os bárbaros não se contentavam com o espancamento: fotografavam, filmavam, faziam poses sorridentes para postar em suas redes sociais, como se o fato e o feito fosse algo de que se orgulhar.

Ao final, a constatação de uma injustiça: Fabiane era inocente (e se não o fosse, quem houvera dado o direito ao cometimento dessa justiça ancestral?), e muitos dos que contribuíram com sua morte agora se escondem, alguns arrependidos, outros até envergonhados, há até quem colabore com a polícia na identificação daqueles que agiram de forma mais enérgica e, por conseguinte, tiveram uma participação maior no resultado. Mas não é só essa a constatação que fica, fica também a constatação de que nossa sociedade ainda tem muito o que evoluir no que diz respeito à civilidade e ao trato social, pois até mesmo criminosos confessos, sejam quais forem os seus crimes, têm direito a um julgamento e até, pasme, uma defesa.

Confesso, mais uma vez, que o ocorrido me deixou triste. Triste, mas não apenas isso: também fiquei assustado. Fabiane poderia ser qualquer de nós, ou de nossas mães. Você também não ficaria? E por falar em mães, domingo está chegando, e os filhos de Fabiane Maria de Jesus terão, talvez, o pior Dia das Mães que se pode imaginar. Eu, pelo menos, não consigo imaginar um pior. Você consegue?

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Published on May 07, 2014 07:44

April 1, 2014

A Orquestra dos Corações Solitários

Um ex-suicida com os tendões atrofiados, um jovem casal que se conheceu pela internet, um vendedor ambulante de sandálias magnéticas cuja noiva o abandonou para fugir com um palhaço, uma garota maníaco-depressiva que sonha se transformar numa poesia, um velho escritor no divã, uma bailarina que nasceu com uma doença rara... o que esses e tantos outros personagens possuem em comum? A dolorosa solidão na qual se encontram submersos e através da qual, entre encontros e desencontros num cenário realista e ao mesmo tempo absurdo, buscam nadar e sobreviver, apesar do autor nos deixar claro já nas primeiras linhas que isso nem sempre acontecerá.
Inspirado nas músicas dos Beatles, Roberto Denser brinca com as tragédias particulares das "tantas pessoas solitárias" que desfilam pelas páginas dessa obra que, como pontuou a escritora gaúcha Luisa Geisler, é "um primeiro álbum de best-hits".

capa_denser_final COMENTÁRIOS DE ESCRITORES
“Genial. Lembra-me Cortázar. Denser está conseguindo captar nossa época com a nitidez impressionante que ele costumava ter. É como se a gente estivesse cansado de tanto experimento em Arte e, de repente, déssemos com um quadro de total realismo, e respirássemos aliviados. Vai emplacar, meus caros. Vai emplacar.”  (W. J. Solha) 
“Foi uma experiência ótima de leitura que me tomou das 14h às 16h50, mais ou menos. O tempo de ouvir um álbum, não é?” (Débora Ferraz) 
A Orquestra dos Corações Solitários não é um livro de contos, mesmo sendo. É como os tais filmes Paris, eu te amo ou Contos de Nova York. Desde o começo, o projeto de unidade, que todo livro de contos deve ter, é levado ao extremo. E não estou dizendo aqui sobre as letras dos Beatles, que pra mim seriam dispensáveis, apesar de funcionarem como primeira camada desta unidade. Os personagens é que se conectam. A tristeza e a solidão da vida urbana permeia todo livro, e nem o conto final nos dá a esperança de que, na vida real, isso seja diferente. Um grande romance de estreia!” (Roberto Menezes) 
COMENTÁRIOS DE LEITORES
Um dos livros mais lindos que eu já li. Obrigada por me fazer rir e chorar. Por favor, não pare de escrever.” (Amanda Fontenelle) 
“Achei o 'O outro lado do nirvana' genial. Um tema que foi várias vezes abordados mas que Denser coloca de uma forma maravilhosa e faz a gente refletir sobre nossa própria vida. Aliás, todos os contos nos fazem pensar sobre nós mesmos. Eu acho isto uma grande qualidade! (...) 'Alguma coisa nas estrelas e 'Uma história de amor parada no tempo' são perfeitos! E este último me fez ir tão longe que eu me pergunto se o 'captei' bem. (...) Achei lindo!” (Aline Camargo) 
“Apesar de versar sobre a solidão, A Orquestra dos Corações Solitários é uma ótima companhia.” (Emilayne Souto) 
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Published on April 01, 2014 15:23

Alguns comentários sobre A Orquestra dos Corações Solitários

capa_denser_final COMENTÁRIOS DE ESCRITORES

“Genial. Lembra-me Cortázar. Denser está conseguindo captar nossa época com a nitidez impressionante que ele costumava ter. É como se a gente estivesse cansado de tanto experimento em Arte e, de repente, déssemos com um quadro de total realismo, e respirássemos aliviados. Vai emplacar, meus caros. Vai emplacar.”  (W. J. Solha)

“Um primeiro álbum de best hits.” (Luisa Geisler)

“Foi uma experiência ótima de leitura que me tomou das 14h às 16h50, mais ou menos. O tempo de ouvir um álbum, não é?” (Débora Ferraz)

A Orquestra dos Corações Solitários não é um livro de contos, mesmo sendo. É como os tais filmes Paris, eu te amo ou Contos de Nova York. Desde o começo, o projeto de unidade, que todo livro de contos deve ter, é levado ao extremo. E não estou dizendo aqui sobre as letras dos Beatles, que pra mim seriam dispensáveis, apesar de funcionarem como primeira camada desta unidade. Os personagens é que se conectam. A tristeza e a solidão da vida urbana permeia todo livro, e nem o conto final nos dá a esperança de que, na vida real, isso seja diferente. Um grande romance de estreia!” (Roberto Menezes)

COMENTÁRIOS DE LEITORES

Um dos livros mais lindos que eu já li. Obrigada por me fazer rir e chorar. Por favor, não pare de escrever.” (Amanda Fontenelle)

“Achei o 'O outro lado do nirvana' genial. Um tema que foi várias vezes abordados mas que Denser coloca de uma forma maravilhosa e faz a gente refletir sobre nossa própria vida. Aliás, todos os contos nos fazem pensar sobre nós mesmos. Eu acho isto uma grande qualidade! (...) 'Alguma coisa nas estrelas e 'Uma história de amor parada no tempo' são perfeitos! E este último me fez ir tão longe que eu me pergunto se o 'captei' bem. (...) Achei lindo!” (Aline Camargo)

“Apesar de versar sobre a solidão, A Orquestra dos Corações Solitários é uma ótima companhia.” (Emilayne Souto)

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Published on April 01, 2014 15:23

March 27, 2014

Urgente: Pennywise é visto nos arredores de Staten Island!

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Stephen King escreveu um dos livros de horror mais belos e assustadores que eu já tive oportunidade de ler: It (no Brasil publicado como A Coisa), que virou um filme de muito mau gosto para a TV no início dos anos 90.

Apesar do filme ser uma porcaria, o livro é, na minha opinião, a magna opus do mestre (muitos acham que o livro merecedor desse título é The Stand — A Dança da Morte, no Brasil —, que também é colossal). Nele, Stephen King narra a história de um grupo de crianças, o autointitulado Clube dos Perdedores, que por força das circunstâncias são obrigadas a enfrentar seus maiores medos e que, já adultos, precisam voltar para confrontá-los mais uma vez. O livro conta com um elenco fascinante de personagens, alguns tão marcantes que, garanto, permanecerão na lembrança dos leitores para sempre, como Bill Gaguinho (“Ele soca os pulsos contra os postes insistindo em ver fantasmas como hostes”), Eddie (Ei, Éds!) Kaspbrak, Beverly Marsh (“Beeeeeev, eu me preocupo com você, Beeeev!”), Richie Tozier (Boca de Lixeira), Benjamin Hanscon (“Ei, monte de feno!”) e tantos, tantos outros. Tudo isso eu escrevo de cabeça, sem consultar no livro de 749 páginas que li em apenas 3 dias quando contava cerca de 16 anos. Tudo isso para mostrar o quão marcante foram os personagens e a história, cujo vilão (a ‘coisa’ do título) é uma entidade que se transforma naquilo que você mais teme, e costuma se mostrar às crianças na pele de um palhaço fodidamente assustador a oferecer balões. Seu nome? Parcimonioso (Pennywise), o “palhaço bailarino”.

Tudo ficção, certo? Podemos dizer que sim. Acontece que em Staten Island, no condado de Richmond, cidade de Nova York, as pessoas começaram a relatar e fotografar a aparição de um palhaço assustador que em muito lembra o Pennywise criado por King. Seguem algumas imagens postadas na rede esses dias:

 

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O próprio Stephen King, com o característico bom humor, já se pronunciou a respeito em sua conta no Twitter: “Parcimonioso fotografado nos arredores de Staten Island. Ganho algum royaltie?” (tradução livre)

Apesar da imensa maioria de moradores assustados, alguns acreditam se tratar de um viral para promover algum filme (quisera eu fosse um remake digno do livro!); outros, que trata-se apenas de algum desocupado querendo assustar os passantes. Pouco importa, só sei que se eu estivesse voltando tarde da noite pra minha casa e encontrasse um palhaço fodido desses num cruzamento, er..., deserto, bom, eu não responderia pelas infrações de trânsito que certamente se seguiriam.

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Published on March 27, 2014 20:31

Filmes com temática literária (2014)

Sobre “Kill your darlings”

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Trata-se de cinebiografia de Allen Ginsberg estrelada pelo Daniel “Harry Potter” Radcliffe, que cobre parte de sua juventude na Columbia University ao lado de Lucien Carr, Jack Kerouac e William Burroughs e, como não podia ser diferente, o caso do assassinato de David Kammerer, amante de Lucien.

Primeiro, quero dizer que odiei o título nacional (“Versos de um Crime”, oi?): a expressão “kill your darlings”, além de ser uma citação de Faulkner (“In writing, you must kill your dalings.”), é um termo amplamente difundido em escrita criativa, e refere-se à ideia de que um escritor muitas vezes precisa tomar cuidado com elementos inadequados em sua escrita (seja uma palavra, um uma frase, um diálogo etc.), cortando-o, mesmo que o elemento em questão seja muito bem quisto por ele. O título nacional, além de feio e apelativo, retira toda a poesia do original, uma vez que não só trata-se de referência interna e externa, como também amplia elementos expostos ou sugeridos no próprio filme.

Segundo, detestei (sim, sou chato) a escolha dos atores, com exceção do que interpretou Burroughs (que, aliás, é o mais fascinante dos beatniks) e do que interpretou o pai de Ginsberg (que, diga-se, parece tanto com o real Ginsberg, na velhice e imberbe, que chega a ser desconcertante).

Terceiro, um elogio ao Radcliffe pela coragem de interpretar, com excelente disposição, o papel do Allen, que não dispensou cenas de sexo com outro ator, beijos homossexuais etc. Nutro grande admiração por atores corajosos, independente de talento ou qualquer coisa que o valha.

Sobre “Authors Anonymous”

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Até agora é o meu filme com temática literária favorito desse ano (2014): basicamente fala sobre um grupo de aspirantes a escritores que se reúnem semanalmente para discutir os textos uns dos outros (semelhante ao Clube do Conto, do qual participo sempre que posso) e as implicações, no grupo, quando um dos membros assina um contrato com uma editora.

É comédia, mas tem seu lado dramático: dramédia, portanto. A coisa que mais gostei? Os personagens são caricaturais, verdadeiros estereótipos do que encontramos no mundo real: a escritora não-leitora; o cara que só tem ideias, mas não escreve nada; o Bukowski wannabe, o autopublicado por editora sob demanda, etc.

Para quem gosta da temática, garanto boas gargalhadas do começo ao fim, bem como um final que, pelo menos para mim, foi bastante emocionante.

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Published on March 27, 2014 11:08

March 24, 2014

O tempora o mores!

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O título é uma citação de Marco Túlio Cícero, que traduzido significa “Oh, tempos! Oh, costumes!”, e está presente em suas Catilinárias (série de discursos acusatórios dirigidos ao Senado de Roma contra Lúcio Sérgio Catilina, então considerado traidor da República). Hoje me peguei utilizando essa mesma expressão ao pensar sobre o nosso próprio tempo — Que tempos! Que costumes! —, admirado que me encontrava pelas comparações feitas entre dois momentos de minha vida. Desenvolvo a seguir.

Tenho 28 anos. Pertenço, portanto, a uma geração que quero chamar de “Geração de Transição” — os nascidos entre meados dos anos 70 e 80, essa “charrete que perdeu o condutor”, para usar as palavras de Raul Seixas —, que consiste, basicamente, daqueles que viveram sua infância ou adolescência entre os anos 80 ou primeira metade dos anos 90. Uma geração, por assim dizer, analógica.

Crescemos praticamente sem acesso ao telefone como conhecemos hoje (para os moradores de meu bairro, o único telefone público disponível era um vermelho que funcionava através de fichas, então localizado na principal farmácia local), ouvindo nossas bandas favoritas em discos de vinil ou através dos programas de rádio, que vigiávamos com uma fita cassete virgem engatilhada no toca-fitas (geralmente um 3 em 1), pronta para começar a gravar assim que aquela música que queríamos tanto começasse a tocar — engraçado lembrar a fúria que nos acometia quando o locutor falava no meio da execução da música, estragando a tão esperada captura! —; e cuja coisa mais parecida com um computador que havia ao nosso alcance eram as máquinas de escrever IBM que infestavam os cursos de datilografia e as repartições públicas.

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Nossas pesquisas para os trabalhos da escola eram feitas na biblioteca pública, nossos trabalhos escritos à mão (em caneta azul ou preta!, dizia a professora), nossas provas em papel mimeografado (ainda consigo sentir o cheiro), e nossas brincadeiras e encontros se davam na rua — era comum ter crianças na rua naquela época, correndo e se escondendo, gritando e brigando, machucando-se ou divertindo-se nas horas livres da escola —; para assistir algum filme inédito, tínhamos as locadoras de vídeo (VHS), onde muitas vezes precisávamos reservar com antecedência, tamanha era a demanda, e, ao devolvê-las, as fitas precisavam estar rebobinadas — será que algum jovem com menos de 15 anos conhece o termo? —, sob pena de pagar multa.

Videogames? Pouquíssimos eram os felizardos que os tinham em casa (“Estraga a TV!”, diziam os pais, aterrorizados com essa perspectiva). O mais comum eram os chamados ‘playtime’ ou ‘casa de jogos’, onde nos encontrávamos para jogar nos arcades ou nos consoles então caríssimos.

Isso tudo numa época em que os dias pareciam mais longos, e a temperatura mais amena.

Então veio a segunda metade dos anos 90, o Radiohead lançou o ‘Ok Computer’ (1997), como quem diz: “Ok, computador, você venceu”, e quase como que de repente — foi a impressão que eu tive —, abrimos os olhos e nos vimos mergulhados, alguns até mesmo afogados, num mar de informação, superexposição e acesso a tudo. De repente não mais que de repente, todo mundo andava encangado com um celular, absorto por seja lá que sombra se expunha através de suas luzes, e existir agora se dava em outro plano: a rede. As músicas, os filmes, a informação, vinham com tanta facilidade e fluidez que de repente ficou difícil distinguir o excepcional, ou ser marcado por ele. “Menos é mais” — um dos mantras de minha adolescência — foi substituído por “menos é menos, mais é mais”, e a admirável inocência dos jovens — e não falo em sentido ‘pueril’ — foi substituída por um cinismo cada vez mais doentio. A geração que desenvolvia seus músculos, ossos, e muitas vezes caráter —, nas brincadeiras de rua, hoje sofre de obesidade, ansiedade crônica, problemas articulatórios precoces, temperamentalismo.

Quanto a quem não conseguiu se adaptar a essa transição, vive em crise, sem saber muito bem como viver “fora da caverna”, onde nada parece estar acontecendo. Não se trata, necessariamente, de um problema provocado pela solidão — fora da caverna, por incrível que pareça, é menos solitário do que dentro dela, apesar de parecer o contrário —, mas por uma, digamos, falta de ritmo (ou timing) para acompanhar os tempos, os costumes, da forma mais apropriada. Talvez as mudanças tenham acontecido de forma rápida demais. Os que eram bons de dança (de timing) se adaptaram com facilidade, entraram no baile, estão adorando a festa. Os que não eram, por outro lado, ficaram distribuídos entre os que se encostaram acanhados pelas paredes do baile, a observar os outros, e os que resolveram deixar a festa e voltar pra casa, onde podiam colocar em seu toca-discos uma música mais apropriada para o seu temperamento.

Eu, é claro, como bom colecionador de antagonismos, paradoxos e contradições (um homem analógico vivendo em um mundo digital), me esforço para manter “um pé nos anos 50, outro nos anos 2000”, como venho dizendo desde que comecei a usar a internet.

Confesso que não e fácil.

Créditos da imagem: Olalla Ruiz .

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Published on March 24, 2014 06:05

March 20, 2014

A biblioteca do meu filho não nascido

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Não é nenhum segredo que 1. eu adoro crianças, 2. sou louco para ser pai (independente da insegurança – Será que serei um bom pai etc.? –, perfeitamente compreensível que assola qualquer um que possua essa vontade), ter uma pequena escadinha de filhos de qualquer sexo (brincadeira, dois já estão de bom tamanho), briga de comida em volta da mesa, historinhas na hora de dormir, esse tipo de coisa.

Sou tão apegado a essa ideia que, confesso, já me vi comprando livros para dar de presente aos meus filhos não nascidos. Geralmente são alguns daqueles que foram marcantes para mim por algum motivo, sobretudo na época da infância ou adolescência (O Hobbit, O Senhor dos Anéis, As Crônicas de Nárnia, Harry Potter, O Mundo de Sofia, O Dia do Curinga, A Coisa…). Estranho, né? Eu sei que sim.

Me pergunto se mais alguém tem essa mania.

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Published on March 20, 2014 06:54