Roberto Denser's Blog, page 5

August 24, 2017

Palhaços

wellington e sinal 3

Ao vermelho do sinal, pelo menos cinco palhaços pularam na frente de nosso carro. Traziam pequenas bolas consigo, que utilizavam como malabares, atirando-as ao ar, às vezes por entre as pernas, cruzando os braços, sem nunca deixá-las cair, numa exibição de destreza circense. A maquiagem precária derretia sobre suas faces negras, suadas, fazendo com que o branco do sorriso palhaçal se tornasse o branco de uma tristeza abissal, seu real estado de espírito, a julgar pelos olhares resignados.

Após o miniespetáculo, passaram uma pequena caixa de papelão, aceitando o que quer que lhe enfiassem dentro. Uma parte dos espectadores naturalmente enfiava moedas, trocos de compras e pedágios, porventura ao alcance da mão. A maioria, entretanto, continuava a ignorá-los, xingando-os ou aconselhando-os em silêncio: “Vagabundos!”, “Vão trabalhar!”, “Vão estudar!”

O teor dos conselhos muda conforme a experiência e as convicções de quem aconselha. Às vezes a experiência é a mãe da convicção e avó do conselho, noutras é a convicção quem pare a experiência, e esta por fim o conselho. Uma coisa, contudo, nunca muda: é essa ânsia de ser norte no horizonte dos perdidos, como se não estivéssemos todos no mesmo labirinto, cada um perdido a seu modo. E como se não fôssemos, também, palhaços a equilibrar os malabares nossos de cada dia. Malabares que equilibramos seja num vão trabalhar, seja num vão estudar.

Nesse circo de palhaços resignados, somos todos malabaristas, e nossa maquiagem, assim como a dos garotos do sinal, também estão a derreter, e também expõem, lentamente, a tristeza de nosso próprio espírito.

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Published on August 24, 2017 11:29

June 14, 2017

Uma rotina para o escritor

Chalkboard-Writers-Block

Chega. Falo sério: estou cansado, chega.

Faz meses, talvez um pouco mais de um ano que não consigo escrever efetivamente. Não consigo me concentrar, as poucas palavras que caem a conta-gotas em meu processador de textos parecem vazias de significado e, pior, sentido. Centenas e mais centenas de palavras são deletadas pura e simplesmente, após qualquer releitura, e o romance que comecei há mais de dois anos continua tal e qual estava poucos meses depois que o comecei. Contos, nesse meio tempo escrevi e até publiquei alguns, todos verdadeiras porcarias que sequer tenho coragem de reler. Uma pena, mas desde que isso começou as coisas só pioraram. No princípio imaginei que passaria sozinho, que era só uma fase e eu não deveria me preocupar pra valer com isso, que cedo ou tarde a inspiração ou seus equivalentes voltariam a me fazer companhia. Ingenuidade. Hoje me dei conta de que se eu não fizer alguma coisa, nada acontecerá.

Estou me recuperando de uma pneumonia. Estou de atestado médico, em casa, e mais cedo conversei com a Raquel sobre isso, após tentar inutilmente por algumas horas rabiscar uma noveleta sobre um garoto de 12 anos e seu irmão mais velho. Não pude escapar da metáfora da fonte: “antigamente, se bem me lembro”, falei, parafraseando Rimbaud, que sempre me vem à mente nessas horas (talvez por um medo de mergulhar em minha própria saison en enfer), “a minha imaginação era uma fonte inesgotável, uma catarata por onde jorravam torrentes que mesmo que eu me esforçasse em tempo integral jamais conseguiria conter. Bastava enfiar um balde lá e ele voltaria cheio até a borda, esborrando. Hoje, sinto-me como alguém que tenta extrair as últimas gotas de uma fonte vazia com uma canequinha de alumínio e comemora cada plinc como mais uma vitória.”

Não sei se me faço compreender, mas é grave. Quando estou sem escrever, fico angustiado, como se tivesse perdido minha função no mundo, me transformo numa folha seca sendo levada por um córrego após uma tarde chuvosa em direção ao bueiro onde será sepultada e esquecida para sempre.

Então comecei a pensar no que posso fazer para mudar isso e a primeira coisa que me ocorreu foi que preciso forçar uma rotina de escrita diária, com metas e prazos e esse tipo de coisa. Cheguei a cogitar comprar uma máquina de escrever, o que me livraria da tentação das redes sociais, mas optei por, mais uma vez, excluir as contas e desinstalar os aplicativos. O que fazer a seguir? As opções são várias, mas determinar horário/prazo e iniciar um projeto simples do zero é a mais tentadora no momento. Não sei se farei isso, talvez retome o romance, que passa por um momento complicado, o que de certa forma também serve a justificar sua lentidão, talvez simplesmente volte a escrever os contos que me derem na telha. Minha única missão agora é escrever, só isso, transformar a escrita num hábito diário tão vital quanto o cigarro é para alguns, e o álcool para outros.

Começo por esse texto porque precisava fazer isso o mais rápido possível, cavar a fonte, e se ainda estou comemorando cada plinc é porque tenho esperança de que em breve essa fonte volte a jorrar como antes. Me desejem sucesso.

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Published on June 14, 2017 15:22

April 27, 2017

Compromisso com quem mesmo?

Cena de Meia-noite em Paris, do Woody Allen:

(Gil Pember, um aspirante a escritor um tanto inseguro e saudosista, conversa com Hemingway, o mito):

Gil: Ouça, queria pedir-lhe o maior favor do mundo.

Hemingway: Qual?

Gil: Poderia lê-la?

Hemingway: Sua novela?

Gil: Sim, tenho 400 páginas e estou querendo... quero sua opinião.

Hemingway: Minha opinião é que a odeio.

Gil: Mas você nem a leu!

Hemingway: Se for má, a odeio. Odeio a má literatura. Se for boa, a invejo e a odeio. Não peça a opinião de outro escritor!

Acabo de finalizar a leitura do mais novo livro do Haruki Murakami publicado no Brasil — Romancista como vocação (Companhia das Letras) —, e apesar dele não figurar nem de longe entre meus autores favoritos, fez com que eu me desse conta do que esteve acontecendo comigo todos esses anos:

Durante muito tempo cultivei a impressão de que meu compromisso, ao escrever, era para com a comunidade literária a qual considerava fazer parte, e não para comigo mesmo ou para com a Literatura propriamente dita — ou mesmo para com os meus leitores. Essa impressão resultava em algo bastante desagradável: a necessidade de escrever algo que estivesse em conformidade com as expectativas dessa mesma comunidade e não com as minhas próprias.

Murakami me fez pensar em minhas origens, questionar os motivos que me impelem à escrita desde que me entendo por gente, e as respostas que obtive foram reveladoras, apesar de no fundo não constituírem surpresa: quando comecei a escrever, meu único objetivo era a atividade em si mesma. Quero dizer, sempre adorei histórias e desde cedo crio as mais diversas em minha cabeça. Naturalmente, chegou um momento em que isso não bastava, e eu passei a querer pô-las no papel, ver que formas adquiririam quando as tentasse transformar em arte. Contudo, não pensava em ser lido, e talvez a princípio sequer o quisesse, visto que não fazia a menor questão de mostrar meus contos a ninguém. Dois ou três amigos próximos leram meus primeiros textos — não lembro se a iniciativa partiu de mim ou deles — e pareceram ter gostado, pois daí em diante passaram a pedir para ler tudo que eu escrevia. Mais tarde, um outro amigo pegou um dos meus textos emprestados e o fez circular na escola onde estudava. Era um conto de horror e fez tanto sucesso que passei alguns meses conhecido como “o cara que escreveu aquele conto”. Aos poucos, fui fazendo amizade com outros escritores e me tornei conhecido entre alguns do bairro, da cidade, do estado, e até da região (naturalmente isso foi anos depois, quando surgiram blogs, fóruns na internet e esse tipo de coisa).

Com o tempo fui ganhando confiança suficiente para enviar material para revistas e, mesmo na maioria das vezes não recebendo sequer um “não” educado, cheguei a receber emails encorajadores (num deles, o editor de um site especializado em novos escritores que, diga-se, nem existe mais, me encorajava a continuar, dizia que eu viria a me tornar um grande escritor algum dia. Gostei tanto do email que o imprimi e ainda o tenho guardado junto com cartas de amigos e ex-namoradas em alguma caixa de sapatos lá na casa dos meus pais).

De todo modo, é aqui que devo explicitar um detalhe: na fase 2, quando me envolvi com a tal comunidade literária, ao escrever me preocupava com eles como me preocuparia com um editor exigente, por exemplo. Como nós éramos os únicos leitores uns dos outros — leitores que também eram escritores, vejam bem! —, e escritores tendem a ser um tanto implacáveis quando se trata de criticar um colega (devo dizer que eu não era exceção, mas culpo minha imaturidade na época antes de ego ou qualquer outra coisa), a possibilidade de me defrontar com alguns “tá-um-lixo”, pois muitas das críticas se resumiam a isso, fazia com que eu realmente me preocupasse com eles no momento da escrita.

Sim, um erro absurdo e do qual não me dei conta na época, o qual acabou se internalizando, tornando-se parte do meu processo de escrita. Mais tarde, quando publiquei de forma independente A Orquestra dos Corações Solitários e comecei a receber emails elogiosos de leitores desconhecidos, por mais que gostasse desses elogios e por mais que eles me servissem de bálsamo e estímulo para continuar escrevendo, a possibilidade de receber, a qualquer momento, um “tá-um-lixo” de algum colega ainda me rendia uma intensa insegurança.

Por incrível que pareça, só agora me dei conta disso e, devo admitir, graças ao livro do Murakami. Concluí que talvez seja esse o motivo pelo qual não consigo finalizar meu romance ou porquê publico tão pouco. Não estou querendo apontar um culpado na intenção de me eximir — no final das contas, o único culpado de qualquer coisa no que diz respeito à minha escrita sou eu mesmo, para o bem ou para o mal —, apenas encontrei uma explicação que faz bastante sentido para mim, e uma vez que encontrei o problema, com ele veio a solução.

Para Murakami, o que tem funcionado durante todos esses anos é que ele escreve, sempre escreveu, para si —— o que comigo também funcionava perfeitamente na época em que também escrevia apenas para mim ou para amigos que eram apenas leitores sem nenhuma pretensão literária. É libertador tomar consciência disso, deve ser uma sensação parecida com a que sente alguém que acabou de sair de uma sessão de análise verdadeiramente proveitosa.

Voltarei a me preocupar apenas com quem realmente importa.

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Published on April 27, 2017 14:30

April 21, 2017

Das Manhãs

“Manhãs são para café e contemplação.” (Chief Hopper)

Costumo acordar de mau humor. Não sei por que isso acontece, apesar de desconfiar do sono interrompido. Normalmente, vou melhorando conforme as horas passam: após 20 minutos de meditação, um banho quente, um desjejum leve e um café — tudo isso de preferência em silêncio ou ouvindo jazz —, meu humor costuma voltar ao normal. Não gosto de conversas matutinas, tampouco de barulhos em geral (moro em condomínio e aos sábados acordo cercado por uma orquestra infernal de furadeiras, martelos e música de péssima qualidade), e tenho sido assim desde que consigo me lembrar.

Se pudesse escolher, dormiria num bunker e só me disporia ao contato social de qualquer espécie após o meio dia, algo parecido com o que Salinger fazia — Aliás, devo dizer que se há um escritor com o qual me identifico em alguns aspectos pessoais, esse escritor é Salinger.

De todo modo, quase ninguém com quem já convivi compreende isso, e por não compreenderem não respeitam: algumas pessoas costumam acordar sorridentes, saudando o sol, falando pelos cotovelos, fazendo a noviça rebelde, e acham que há algum problema terrível te pondo sombrio apenas porque você quer ficar na sua até encontrar alguma disposição para o convívio.

É verdade que eu poderia iniciar alguma prática de PNL tentando reprogramar isso, mas sinceramente, sinceramente MESMO: não quero. Gosto de ser assim, acho até que é por isso que escrevo melhor pelas manhãs, quando estou mais introspectivo, ensimesmado. O maior problema ainda, como sugeri no parágrafo anterior, é fazer com que as pessoas com quem convivo compreendam e respeitem isso. Confesso que não é nada fácil.

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Published on April 21, 2017 06:26

December 29, 2016

Breves notas de dezembro

#1 Invejo na Raquel sua capacidade de concentração para escrever: com música, com alguém falando por perto, com o bebê chorando, interrupções. Nada disso funciona comigo. Quando se trata de escrever, tenho a capacidade de concentração mais volúvel de que se tem notícia. Curioso que com a leitura não seja assim: leio em meio a incêndios, se necessário.

#2 Termino o ano com 46 livros lidos (minha meta era 55) e pelo menos duas dezenas de leituras inacabadas. Somando-as talvez fechasse e até ultrapassasse a meta, mas não é o caso: simplesmente não a cumpri. Sim, poderia ter lido bem mais se não tivesse perdido tanto tempo vendo filmes, séries, redes sociais etc. Em 2017 tentarei compensar.

#3 Foi um bom ano: o ano em que me tornei pai e daí por diante (poderia escrever sobre novas experiências, amizades, descobertas etc., mas ter me tornado pai é o tipo de experiência que fagocita todas as outras).

#4 Artisticamente, entretanto, foi um ano medíocre: somando o que escrevi, creio que não preencheria 30 páginas do Word. O principal motivo é o de sempre: indisciplina. O resultado é que ainda não terminei meu romance, que o adiantei pouco, que me distanciei dos personagens, que etc.

#5 Ainda assim, participei da antologia O demônio de cada um, organizada pelo meu conterrâneo Bruno Gaudêncio e ao lado de muita gente boa, o que foi bem divertido.

#6 Também foi o ano dos filmes. Redescobri minha velha paixão por filmes antigos (abandonada por teimosia), vi quase um por dia, às vezes até mais, hábito que pretendo manter com a pretensão de somar a ele uma breve resenha aqui no blog.

#7 Minha relação com o Rio de Janeiro continua ambígua, assim como minha relação com o Brasil. Por mim, cairia fora (para algum lugar no interior da américa latina, de repente me tornar vizinho do Belchior), mas há muito o que considerar, e isso me paralisa.

#8 Desprezo o vício. Oh, como eu o desprezo!

#9 Cada dia mais convencido de que a pressa é a maior inimiga do escritor.

#10 Quanto mais velho fico, menos certezas eu tenho.

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Published on December 29, 2016 13:41

August 10, 2016

Diário de Escrita–Dia 0

Ainda é uma coisa experimental, mas a ideia é manter um registro diário do processo de escrita de meu romance atual. O que vou escrever nesses registros? Qualquer coisa que tenha acontecido durante o dia e que seja pertinente ao processo de escrita. Por exemplo: hoje resolvi retomá-lo, após uma longa pausa, e continuar exatamente de onde parei. Irei até o fim, com uma meta diária (2k/day), como se estivesse participando de um NaNoWriMo louco, correndo sem olhar pra trás, com a consciência de que the first draft of anything is shit (se Hemingway falou, tá falado), ciente de que cabe à revisão a correção do que quer que seja.

No momento, meu romance encontra-se com as seguintes estatísticas:

2016-08-10 

É praticamente metade do que pretendo. Quero dizer, até onde consigo calcular, estou na metade da história: está quase tudo engatilhado ou engatilhando-se, o único problema é que os capítulos que estão por vir são os mais difíceis, requerem mais pesquisa, mais… cuidado – Ah, eis aqui uma dica pra quem vai embarcar no projeto de um novo romance: se você já tem uma ideia geral sobre o que será seu livro, faça um levantamento bibliográfico e uma pesquisa ANTES de começar a escrevê-lo. Como não segui o meu próprio conselho, terei que pesquisar depois que finalizar o first draft (não é recomendado pesquisar durante, exceto se for um detalhezinho ou outro).

O dia zero será dedicado à releitura, tenho que fazer isso porque tanto tempo longe fez com que eu me distanciasse da história, dos personagens, etc. A partir de amanhã retomarei a escrita propriamente dita: me desejem sucesso, tenho que terminar esse romance ainda esse ano ou acabarei despirocando.

’tobrigado.

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Published on August 10, 2016 07:27

July 22, 2016

Stranger Things, uma recomendação

Ontem tiramos o dia aqui em casa para assistir, de uma tacada só, todos os episódios da primeira temporada de Stranger Things, a nova produção original da Netflix que, desde o primeiro trailer, me deixou com a curiosidade atiçada. Confesso, entretanto, que protelaria a investida um pouco mais, não fossem tantos comentários positivos que vi na internet. Não é pra menos: Stranger Things é um verdadeiro presente pra quem cresceu entre os anos 80 e primeira metade dos 90, lendo livros do Stephen King e assistindo aos filmes de Spielberg e Carpenter na Sessão da Tarde ou Cinema em Casa, ouvindo músicas gravadas em fitas cassete BASF e alimentando a imaginação com monstros, aliens e teorias da conspiração.
A série está cheia de referências (explícitas e implícitas) a vários grandes momentos da cultura pop dos anos 80, de uma caminhada em companhia de amigos pelos trilhos do trem a uma fuga alucinante de bicicleta. Isso pra não mencionar a INCRÍVEL sonoplastia, uma das melhores que já ouvi na vida (refiro-me não apenas às músicas, mas aos efeitos em geral), e do encantador elenco mirim. Entrou fácil para o meu top five de séries favoritas de todos os tempos, mesmo me deprimindo ao final, mesmo me deixando nostálgico, uma condição que tenho tentado evitar já faz alguns anos.

De todo modo, fica aí a recomendação 5/5: assistam.
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Published on July 22, 2016 03:24

March 31, 2016

Ulysses: meu filho

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Fala o PrOfETA Homero, naquela que é a primeira obra da literatura ocidental, que o que Aquiles tinha em força, Ulysses, o protegido da deusa Atena, tinha em inteligência, sagacidade e astúcia. Foi ele quem deu a ideia imortal da construção do cavalo de madeira que pôs termo à guerra de dez anos entre Grécia e Troia, foi ele quem enfrentou o deus do mar e o senhor dos ventos, subjugou infernos em sua jornada de volta ao lar, aos braços de Penélope, sua esposa, e Telêmaco, seu filho.

Também chama-se Ulysses aquela que é uma das maiores obras literárias já concebidas pela mente humana: onde Leopold Bloom assume o papel de Ulysses em sua própria Odisseia.

E sempre me ocorre que, de certa forma, todos nós somos o Ulysses de nossas odisseias particulares: com todas as dificuldades que a vida impõe em nossas jornadas, enfrentamos deuses e movemos infernos para, ao final, chegar onde pertencemos.

Ulysses também é o nome que escolhemos para o nosso primogênito (meu e da Raquel), que com muita alegria será recebido em nossas famílias. Com ele, homenageamos obras imortais (a literatura sempre será o principal negócio da família), versos que para sempre serão cantados. Foi uma escolha discutida, ponderada, que atende perfeitamente aos critérios que estabelecemos entre nós. Assim, Ulysses, esperamos ansiosos sua vinda. Você já é, por nós, amado.

Papai e Mamãe.

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Published on March 31, 2016 07:04

March 18, 2016

Coisinhas

Vou fazer de conta que o país não está em vias de pegar fogo e ao invés de escrever sobre política (pasmem, eu conseguiria fazer isso de forma não binária), escreverei sobre coisinhas. Minhas coisinhas.

Andei lendo bastante nas últimas semanas, de tudo um pouco. Dentre os autores que mais li estão o Alejandro Zambra e o Enrique Vila-Matas, apesar de também ter lido o Valter Hugo Mãe, de quem gostei mais do que imaginei que gostaria. No âmbito da não ficção, li duzentas páginas de Chatô, mas perdi o animus para continuá-lo, pelo menos por ora, além de uns livros científicos para noobs que levaram bomba nas exatas na época da escola, mas que adoram saber mais e mais sobre a vida, o universo e todo o resto: daí que também li Dawkins, Bryson, Harris, e por pouco não li Hawking (ainda). Creio que tenho conseguido ler tanto, apesar de ainda estar longe do que já estive lá pelas bandas dos anos 00, principalmente porque diminuí bastante minha participação nas redes sociais. Isso ajuda mesmo, vá por mim, pois ao invés de me dedicar a discussões estéreis sobre a maior polêmica de todos os tempos das últimas vinte e quatro horas, estico minhas pernas no sofá, abro um livro e voilá, mando-me para algum lugar qualquer imaginado. Quase sempre vale a pena.

Filmes tenho visto poucos, séries idem. Falta encontrar algo que se encaixe bem com minha atual disposição de espírito. Não sei. Semana passada buscava algo nos moldes de Relatos Salvajes, ontem nos de All about Eve, e hoje nos de La grande bellezza. Como podem ver, meu animus muda frequentemente, e com ele o meu saco está mais ou menos cheio para isto ou aquilo.

Música, que parece ter trocado de lugar com uma série de outras coisas em minha vida, varia bastante: vou de Birdy a Tom Waits em questão de segundos, e gosto de ambos igualmente.

Quanto a escrever, bom, é complicado. Como quase sempre, é complicado. Estou com pouco mais de 50k palavras escritas de meu romance, e tenho a impressão de que ele estará pronto com algo entre 80k e 100k, mas é que agora estou narrando um trecho um tanto complexo e o ritmo que eu vinha mantendo (2k/dia) deu uma reduzida absurda. Isso também acontece porque tenho que ler umas coisas, para melhor contextualizar a obra, um erro que cometi (deixar para pesquisar durante a escrita) e que não vai se repetir em meus romances futuros.

No mais, ainda estou aqui, tentando segurar a onda que, cá pra nós, nunca é fácil, apesar de quase sempre parecer.

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Published on March 18, 2016 08:07

January 20, 2016

Existir ou não existir (na rede)

Faz exatamente 96 dias que excluí meu perfil pessoal no facebook, deixando apenas uma fanpage capenga com atualizações eventuais, assim como o blog. No twitter, decidi não seguir ninguém (nem minha esposa, nem meu melhor amigo, nem a the new yorker ou a empresa onde trabalho). No instagram, uma censura idiota me fez perder o interesse pela rede (quem não estiver ciente de minha relação com a censura, aqui vai um artigo que escrevi originalmente para a Carta Potiguar, e que depois republiquei na revista Sexus). Além dessas, ainda mantenho uma conta no filmow (principalmente para pegar recomendações de filmes e seguir algumas listas), e outra no goodreads, que quase sempre esqueço existir. No skoob, há uma página que não controlo. E no google+, um perfil que a bem da verdade nem sei como foi parar lá.
Em síntese, nas redes sociais das quais participo, participo de forma unilateral, e no blog, não permito comentários nas postagens. Atualmente uso as redes quase que exclusivamente para divulgar minhas publicações (no blog, na obvious ou onde quer que seja) ou entrar em contato com meus parcos leitores que vez por outra me mandam mensagens encorajadoras.
Apesar do que esse comportamento e atitudes podem sugerir, não sou uma pessoa antissocial, como qualquer um que me conheça pessoalmente poderá atestar com segurança. Claro que tenho um temperamento voltado para a introspecção (sou escritor, pelamordedeus!), mas estou longe de ser um misantropo. Portanto, não estranhe se você por acaso me encontrar rindo à toa e falando pelos cotovelos na casa de algum amigo em comum.
E também é verdade que adoro escrever emails, apesar de nos últimos meses ter escrito pouco mais que nada.
Confesso, entretanto, que sou tentado diariamente por uma vontade de sumir, em absoluto, de toda e qualquer rede social da qual ainda participe, mesmo que de forma unilateral. A única coisa que me impede é essa crença ingênua criada por um mix de vaidade e senso comum de que na rede poderei divulgar melhor o meu trabalho. Não sei até quando isso vai durar, já que percebi, com a publicação de Kabal, que no frigir dos ovos essa minha presença nas redes não faz muita diferença: a maioria dos meus leitores são aleatórios, caem de paraquedas nos meus livros sabe-se lá por que motivo, e só depois é que vão lá com seu like, seu follow.

Pós-escrito: Todo esse desabafo me remete, agora, à declaração de um escritor brasileiro de que Rubem Fonseca, hoje, não seria publicado (pelo menos não por uma editora comercial). Talvez ele tenha razão, afinal, ou talvez o Rubem fosse sim publicado, mas seus livros pouco seriam lidos.
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Published on January 20, 2016 07:33