Roberto Denser's Blog, page 9
March 18, 2014
Perfil
Conforme mencionei anteriormente aqui no blog, a Samara Mello, estudante de jornalismo da UFPB, me entrevistou semana passada para um trabalho acadêmico que consistia na redação do perfil de uma pessoa que considerasse interessante por algum motivo, fosse seu trabalho, sua história, ou ambos. Ontem ela me enviou o resultado final desse trabalho, que posto abaixo com sua autorização. Segue:
A Nona Sinfonia de um Coração Solitário por Samara MelloNosso encontro não poderia ter sido em lugar mais apropriado: uma livraria. Para alguém que respira literatura, este é o melhor local para qualquer encontro. Roberto Denser, 28 anos, é escritor por vocação e bacharel em Direito por formação. Descobriu-se escritor no momento em que leu o segundo livro, ainda na infância: Uma Luz no Fim do Túnel, do paulista Ganymédes José; e formou-se bacharel em Direito ao final do ano passado. Amante da literatura desde o seu primeiro contato com as letras, tem na leitura e na produção literária um dos principais pilares de sua vida. Escreveu sua primeira história ainda na escola: um trabalho que deveria ter 30 linhas, a ser redigido no final de semana, tornou-se um livrinho de 30 páginas e encadernado artesanalmente, o que surpreendeu positivamente sua professora, que resolveu encorajá-lo a seguir uma carreira literária. Daí em diante não parou mais: amante da literatura fantástica e seus subgêneros (e com assumida influência dos grandes mestres da literatura universal), mantém sua própria criação literária neste viés, a despeito de sofrer, também, uma forte influência dos sonhos que tem, assiduamente, todas as noites. “Sonho todas as noites”, confessa, “e consigo lembrar de todos eles. Isso provavelmente acontece porque mantive um ‘Diário dos Sonhos’ durante boa parte da minha vida.”
Seu primeiro conto, “Uma noite maravilhosa e um assombro”, é a narração de um sonho que o perturbou até o dia em que resolveu escrevê-lo. Sonhos e literatura são duas constantes em sua vida: certa feita, numa das vezes em que encontrava-se imerso num dos seus sonhos mais recorrentes — que tem como cenário um mar furioso e ameaçador —, ao caminhar na orla, encontrou uma criatura pálida e esquelética que comia seu próprio coração com a voracidade de um esfomeado. Alguns dias depois do terrível pesadelo, folheando o livro Four past midnight, do escritor norte-americano Stephen King, encontrou na epígrafe o poema In the desert, da autoria de Stephen Crane, que descrevia de forma irrefutável a criatura de seu sonho.
Ao longo de seus 28 anos, manteve uma constante produção literária, fosse em contos, poemas, romances, ou mesmo roteiro para curta metragens (que nunca chegaram a ser adaptados), metendo-se também, vez ou outra, em diversas vertentes da Arte, como a música e o teatro. Em 2010, no auge dos seus 25 anos e enfrentando uma crise criativa, tomou a decisão de queimar tudo o que havia produzido durante toda a vida, desde os inúmeros contos, os dois romances, os rascunhos, assim como seus diários, para recomeçar do zero. “Eu não os achava bons o bastante”, admite, talvez lembrando da fogueira que fizera em seu quintal, “e estava mesmo disposto a recomeçar. Não, eu não me arrependo e faria tudo de novo.” Deste recomeço, surgiram os contos do livro digital recentemente publicado pela gigante Amazon, “A Orquestra dos Corações Solitários”, todos escritos entre Janeiro e Março de 2011. Neste projeto, reuniu duas de suas grandes paixões artísticas: a literatura e a música. No livro, sugere, antes de cada conto, que a leitura seja feita ao som de uma canção específica dos Beatles, todas sobre o tema da solidão. Nesta época surgiram também as ideias para três romances, Bernardo que está quase finalizado, e mais dois, os quais estão esboçados, mas sobre os quais prefere não falar nada.
Além de acreditar na arte como o fator que faz da vida algo melhor e mais bonito, ele também acredita no autodidatismo e na independência intelectual. “Saí da escola aos 12 anos para trabalhar, voltei aos 17 e me matriculei num curso supletivo equivalente ao Ensino Fundamental. Apesar de ter deixado a escola, nunca deixei de estudar: me mantive sempre lendo e estudando os assuntos de meu interesse.” E foi por causa desse autodidatismo que se tornou fluente em inglês e espanhol, e começa a dar seus primeiros passos na língua de Balzac. O motivo? Gosta de ler seus autores favoritos no original, apesar de não dispensar uma boa tradução. Além disso, leu, durante quase todo o tempo em que esteve fora da escola, nas bibliotecas públicas às quais tinha acesso, cerca de 100 livros por ano. “Era uma meta, sabe?”, explica, “E eu lia de tudo. Não era muito criterioso. Às vezes passava da meta, às vezes ficava entre os sessenta ou setenta livros. Variava muito.”
Apesar de defender a bandeira do autodidatismo e criticar o dirigismo das escolas e universidades, ele sempre foi um bom aluno. Após completar o Ensino Fundamental no curso supletivo e voltar ao Ensino Médio regular, criou com um amigo o jornal escolar Vírgulas Aéreas, o qual fez um enorme sucesso entre os estudantes, e o fez perceber o poder da mídia na sociedade. Foi através do jornal que conseguiram feitos como retirar da escola uma professora inadimplente, bem como o direito de assistir às aulas sem o fardamento, até então obrigatório. Foi ao perceber toda essa força da comunicação que criou-se nele a vontade de cursar Jornalismo. O tempo passou e o vestibular chegou, e como nos seus contos acontecem coisas extraordinárias, na sua vida não poderia ser diferente: no ano em que prestou o primeiro vestibular para o curso de Comunicação Social - Jornalismo, a concorrência neste curso foi uma das maiores da UFPB, ficando, inclusive, acima da que havia sido de Direito no ano anterior — tradicionalmente um curso muito mais concorrido — e, por uma carência nas áreas exatas do conhecimento, acabou reprovando em sua primeira opção e começou a cursar a faculdade de Letras da UEPB, na qual foi aprovado em segundo lugar, numa tentativa de adquirir, ali, uma formação literária que lhe permitisse tornar-se o escritor que tanto almejava. Com o passar do tempo, porém, percebeu que formar escritores não era o objetivo do curso de Letras, como acontece em outros países, sendo este, no Brasil, muito mais voltado à formação de professores e, deste modo, decidiu-se por abandonar o curso.
Após deixar a faculdade, voltou a apostar no autodidatismo. Com sua saída do curso, resolveu mudar de ares e foi para o Rio Grande do Norte, apostando todas as cartas nesse recomeço, que começou de forma bastante promissora: um emprego estável e o tempo para se dedicar à literatura. Durante o período em que morou lá, investiu ainda mais energia na produção literária, gastando grande parte do seu dinheiro com livros e papéis para a máquina de escrever elétrica Olivetti, que ainda hoje guarda com carinho. Após uma agradável temporada no Rio Grande do Norte, voltou à Paraíba, onde agora fora aprovado nos cursos de Jornalismo na UFPB, e Direito na UNIPÊ com bolsa integral pelo ProUni. Diante desse dilema, optou pela carreira no Direito, por lhe dar um leque maior de possibilidades para uma vida mais estável, e
acabou por se encantar com as Ciências Jurídicas, a despeito de manter certa reserva quanto à práxis, e agora, depois de ter concluído o curso, aguarda pela prova da OAB, apesar de ainda não tem certeza quanto à carreira na advocacia.
Mesmo sendo escritor, ele revela que seu gosto pelas artes não fica apenas na literatura, mas se espalha por todas as artes. “Me dou bem e consumo todas as artes.” No cinema, acredita que até filmes ruins valem a pena ser assistidos, “No mínimo eu vou dar risada destes filmes ruins.”; na música prefere o rock, o jazz, o blues, a MPB e a música clássica, além de ser mega fã da música produzida na Inglaterra; nas artes plásticas, nada se compara a Van Gogh, “O qual podemos metaforicamente dizer que pintou com seu sangue, seu suor e suas lágrimas, e que levou o ‘artistic way of living’ às últimas consequências”, mas não esqueceu do autor de “O Jardim das Delicias Terrenas”, Hieronymus Bosch, o qual também acha um pintor fantástico. Na literatura, as coisas complicam, pois são muitos os seus autores favoritos. Dentre eles, destacou na poesia o seu gosto pelos malditos, como Charles Baudelaire e Arthur Rimbaud, mas não deixou de fora grandes nomes da poesia como William Shakespeare, Pablo Neruda, Fernando Pessoa e Florbela Espanca, bem como alguns poetas mais modernos. Já na prosa, onde se encontra a sua grande paixão, destacou Dostoiévski como o topo dessa categoria, depois citou Gabriel García Marquez, José Saramago, Machado de Assis, Hermann Hesse, Roberto Bolaño e tantos outros, destacando também seu grande amor pela literatura anglofóna.
Quando finalmente consegui tirá-lo do meio de toda essa sua paixão pela literatura, embarcamos num papo sobre suas manias, medos e crenças.
Das manias, me revelou ter um pequeno TOC por coisas organizadas de determinada maneira e por coleções de livros incompletas, “ Ver uma coleção de livros incompleta na estante faz com que eu perca a minha paz!”; ainda no que diz respeito às manias, me confidenciou uma esquisitíssima: “Toda vez que vejo um caminhão de mudança, preciso tocar em algo verde e falar: ‘verde que é bom é meu’. Não sei de onde tirei essa mania, mas é algo que carrego comigo desde sempre.”; das crenças, afirmou ser totalmente cético, embora tenha sido religioso durante a infância; e em relação aos medos, destacou sofrer de uma forte aracnofobia, culpa de uma aranha que o picou no pescoço enquanto dormia.
Nosso encontro terminou ao som de nossas risadas em relação a sua mania e com a minha certeza da sua paixão pela literatura, bem como a certeza de um futuro brilhante na literatura e na vida por completo.
March 15, 2014
Aí sim, catzo!
Em meados de 2009 eu escrevi aqui no blog um post intitulado “Quem seria o John Constantine ideal?” no qual esculhambava opinava sobre a péssima escolha de Keanu Reeves para o papel e ainda dava minha sugestão (Kiefer Sutherland, com direito a imagens comparativas e tudo o mais).
O post infelizmente já era (devido à mania que eu tinha de apagar todos os posts ao final de cada ano), do contrário linkava aqui. De qualquer forma, os leitores mais antigos lembrarão, pois, além de polêmico, foi um dos artigos mais visitados e debatidos daquele ano (eu costumava falar mais de quadrinhos naquela época).
Aqui vai uma das imagens que anexei ao post para defender o meu ponto:
Não é a cara do Kiefer? Bom, deixemos isso de lado.
O tempo passou, não vieram sequências cinematográficas (graças aos deuses!) e de repente nos vimos diante da ÓTIMA notícia de que Hellblazer (acho que o nome oficial será Constantine) vai virar uma série da NBC (thank God!), coisa que eu vinha defendendo desde que assisti Supernatural pela primeira vez (“Porra, Supernatural dá tão certo, por que não fazem o Hellblazer?”). Bom, a série terá o ator Matt Ryan (só conheço seu trabalho em Criminal Minds, sorry) no papel do John, e essa semana a NBC divulgou a primeira imagem dele encarnando o personagem. Abaixo:
E aí, gostaram? Eu gostei bastante (confesso que até mais do que o Kiefer Sutherland), e até fiquei com uma expectativa enorme, coisa que eu não tava, pra que essa bendida maldita série estréie logo.
Espero que o Matt aí faça jus ao papel, viu? Em relação à caracterização do personagem, porém, tudo o que eu tenho a dizer por enquanto é: AÍ SIM, CATZO!
Aguardemos os próximos eventos.
PS. Eu gosto do Keanu Reeves.
March 14, 2014
Vídeo: “Coração Assombrado”
No vídeo eu falo um pouco sobre o livro Coração Assombrado, biografia de Stephen King publicada pela Darkside Books.
March 13, 2014
Rapidinhas
Suspiro...Porra, Dario, qual é o lance dessas cores?!
Suspíria (1977) é um dos maiores clássicos do horror italiano, mas eu nunca o havia assistido. Verdade que eu tinha cá minha curiosidade, afinal lera inúmeras matérias a respeito, todas elas positivas, mas, infelizmente, na minha cidade era dificílimo encontrá-lo em alguma locadora — na verdade, era praticamente impossível encontrar filmes não-hollywoodianos nas locadoras de minha cidade — e a internet foi um pouco inacessível para mim durante algum tempo.
Bom, no frigir dos ovos, um pequeno conjunto de fatores fez com que apenas agora eu pudesse me sentar para apreciar a magna opus de Dario Argento, e confesso que não gostei. Quer dizer, “não gostei” não é a expressão mais apropriada, uma vez que, na verdade, eu detestei o filme. Trata-se de produção tosca, com roteiro capenga e sofríveis interpretações. Apesar disso, o que mais me incomodou foi, de longe, aquele excesso ridículo de cores vibrantes, bem como aquela maldita e martelante trilha sonora.
Assim, acredito que Suspíria seja um filme que só funciona bem para quem o assiste sob os efeitos do LSD, e seu sucesso só pode ser justificado por ter sido produzido anos 70.
Storm of the Century
Não, eu nunca havia assistido. Resolvi assistir ontem à noite, quando me vi com algumas horas de tédio pela frente, e me surpreendi bastante: trata-se, na minha opinião, do melhor trabalho de King já feito para a TV.
E André Linoge acabou por se tornar um dos meus vilões favoritos. Croatoan, motherfuckers!
“What’s up, Doc?”
Doctor Sleep tem sido uma leitura maravilhosa, foi muito bom reencontrar o Danny Torrance e ver no que aquele garotinho se transformou. Resolvi ler apenas um capítulo por dia, como quem come uma caixa de chocolates raros, assim o livro dura um pouco mais... claro, enquanto isso intercalo com outras leituras (atualmente contos, muitos contos).
Entrevista
Ontem dei uma entrevista para a jovem estudante de jornalismo Samara Mello (a “Sammy” para a qual é dedicada o meu conto A Bailarina de Vidro) no café da Livraria Nobel. Trabalho da faculdade. Aposto como ela nunca imaginou que eu fosse capaz de falar tanta abobrinha em tão pouco tempo.
Foi uma tarde agradável. Postarei o resultado da entrevista por aqui, caso ela permita.
F.A.
“Facebookólatras Anônimos”. Não existe, mas deveria. Estou há dois dias sem usar a Rede Social da Besta do Apocalipse, e já me sinto como um adicto em recuperação. O que me leva ao seguinte questionamento: Qual seriam os ‘12 Passos’ para alguém que tenta se libertar de um vício em Facebook?
Resultados
Os resultados, porém, já são visíveis, vejam só: quem imaginou que eu seria capaz de atualizar o blog duas vezes na mesma semana?!
Ok, estou exagerando.
March 11, 2014
Literatura, Cigarros e Facebook
Não sei qual foi o motivo que me levou a fumar. Não lembro quando ou como fumei meu primeiro cigarro. Tudo o que sei é que o fiz durante algum tempo, talvez influenciado pela imagem mental que eu fazia do escritor solitário, martelando sua Remington 1980 num quarto sujo e mal iluminado, com as mangas arregaçadas e tendo diante de si, além da máquina, apenas um cinzeiro transbordando bitucas. Esse escritor, claro, possuído pela influência de Calíope, musa-mor da criação literária, sempre trazia no canto da boca um cigarro mais da metade fumado, meio amassado, com as cinzas quase a se desprender de sua extremidade queimada.
Assim, fumei apenas durante tempo suficiente para perceber que eu não gozava da saúde necessária para durar muito tempo, caso continuasse com isso. Eu, que tenho sinusite crônica e fôlego curto, jamais faria carreira como cowboy em propagandas de cigarro. Por isso decidi parar, substituir o tabaco por vícios mais saudáveis como o café e a prática de atividades físicas, e quando o fiz não encontrei grandes dificuldades como imagino passe a maioria dos que aspiram ao título de ex-fumantes. Talvez tenha fumado pouco — cerca de dois anos —, ou talvez o meus círculos social e familiar, em sua quase totalidade não-fumantes, tenham ajudado a me livrar do vício de forma mais efetiva. Quero dizer, por não querer incomodá-los com a minha fumaça ou o meu cheiro de cinzeiro, parar não foi tão difícil, a despeito de ter quase duplicado a quantidade diária de café que passei a beber. De qualquer forma, dizem os amigos que sou muito bom em me livrar de vícios (já me livrei de alguns, a maioria bobos ou circunstanciais, nunca graves ou particularmente danosos), apesar de achar que finalmente encontrei um com o qual devo me preocupar de verdade: ele, o Facebook.
Sei que parece exagerado falar dessa rede social nesses termos, mas deixe-me expor alguns fatos. Primeiro, costumo dizer que eu tinha um futuro promissor, então surgiram as redes sociais e acabaram com tudo. O motivo? Bom, eu sou um cara muito dispersivo, que se distrai com muita facilidade e está sempre com os pensamentos em algum lugar nas imediações de Wonderland. Escrevi meus primeiros textos com uma caneta Bic, os segundos com uma Olivetti ET Personal 50 que ganhei do meu pai, os terceiros com um computador sem conexão com a internet, e os quartos com um laptop conectado a uma rede Wi-Fi. A diferença entre os três primeiros way of writing e o quarto é basicamente o fato de que uma caneta escreve, uma máquina de escrever escreve, um computador sem conexão com a internet faz algumas coisas legais, mas, principalmente, escreve — ou pelo menos era o que eu fazia quando me sentava diante dele —, mas um laptop com uma conexão Wi-Fi banda larga, além de escrever, canta, dança, representa, solta raios laser e, diabos, coloca o mundo diante de você para que você faça praticamente qualquer coisa (escute música, converse com o seu amigo de infância que atualmente mora no Sudão, tenha acesso aos seus filmes favoritos, viaje sem sair da poltrona, atualize-se acerca de tudo o que ocorre no mundo em qualquer área, conheça novas pessoas etc. etc. etc. etc., não sei nem se há um limite, além da experiência real de fazer algumas dessas coisas!), exceto escrever. Quero dizer: no MEU caso. Trata-se de um problema específico meu. Tenho amigos que conseguem escrever numa boa, até melhoram o desempenho se estiverem entre uma aba do Facebook, Twitter, Tumblr ou o que quer que seja, mas não e o meu caso. Definitivamente.
Até gostaria de fazer uma comparação: quando eu me sentava diante de um daqueles três primeiros instrumentos de trabalho, trabalhava. Meus contos escritos à época da Olivetti, por exemplo, eram enormes, isso para não falar de duas novelas (‘Carnificina’ era a minha favorita) e alguma coisa que podemos chamar de romance. Isso acontecia porque eu não me sentava diante da máquina de escrever para assistir vídeos no Youtube ou ficar de papo com algum amigo, eu me sentava diante da máquina de escrever para, isso mesmo, escrever! O que acontece hoje? Mais uma vez, isso mesmo!, me sento diante do computador e a última coisa que faço é escrever. O mesmo cara que em outros tempos passava horas inventando histórias diante de sua querida Vetti, hoje não consegue fazê-lo por meia hora sem parar pra olhar quem diabos curtiu a porra da foto recém-compartilhada no Facebook.
Então, naturalmente, decidi, mais uma vez, colocar um ponto final nessa história. Mais uma vez porque não é a primeira que tento me livrar dessa rede social maldita: acabo tendo recaídas por causa de algum motivo inventado por mim mesmo para me convencer de que devo dar ‘só uma olhadinha’ (como qualquer dependente em recuperação). Isso precisa mudar, e sei que vai ser mais difícil do que foi com o cigarro (as tentativas mostram isso, e dessa vez não contarei com a ajuda dos meus círculos social e familiar). Ocorre que sempre quis ser escritor, e tenho milhares de ideias para contos e romances nas quais preciso, e quero, trabalhar. Não vou colocar minha carreira literária a perder por causa do que posso chamar de distrações inúteis.
Assim, deletei meu perfil pessoal (deletei mesmo, não desativei) e resolvi manter apenas a página (que é praticamente unilateral e permite a divulgação dos meus textos, novidades, publicações etc.). O Twitter não tem sido um problema, portanto o manterei numa boa. Caso venha a se tornar um, também darei um jeito de utilizá-lo apenas de forma unilateral, nem que para isso precise deixar de seguir algumas pessoas queridas. Sei que isso me torna ainda mais antissocial, é meio rude etc., mas afinal de contas é por um bom motivo. Quero dizer, é por um motivo MUITO importante para mim. Sei que muitos dos meus amigos e leitores constantes serão compreensivos a esse respeito.
Sei que sim.
No mais, creio que se eu for bem sucedido nessa nova investida aparecerei mais vezes por aqui do que de costume, seja para falar a respeito das coisas que tenho feito, seja para mostrá-las. E espero encontrá-lo, amigo-leitor e leitor-amigo, como sempre encontrei quando apareci cá por essas bandas com alguma novidade, informação, opinião ou qualquer coisa que o valha.
Obrigado pela presença constante e pela paciência.
Roberto Denser
March 8, 2014
Sobre Leitores & Leituras
Stephen King na mesma estante que Virginia Woolf, Oscar Wilde e Shakespeare.
Detesto quando vejo chegar algum ~entendido~ diante de alguém com um livro qualquer (exemplo: Crepúsculo) e sentencia: "Você lê essa porcaria?! Isso não presta! Que horror! Leia algum livro de verdade, como 'Grande Sertão: Veredas', do incrível Guimarães Rosa, esse sim um autor de verdade etc."
O que eu digo sempre a qualquer leitor que encontro é: "Muito bem, leia! Continue lendo! Leia o que você quiser, leia o que você gosta e, acima de tudo, leia POR PRAZER! A leitura não deve ser uma atividade tortuosa, pelo contrário: nela o leitor deve encontrar um refúgio e um escape, um lazer! Também não deve ser feita tendo o gosto alheio como parâmetro. Caso queira dicas de leitura, aceite recomendações, mas caso não goste delas, não hesite em desistir da leitura. Se você não se interessa pela aristocracia parisiense do século XIX, leia sobre algo que lhe interesse, seja vampiros, dragões, aventuras de capa-e-espada ou romances regionalistas do século passado. O importante é: leia, leia, leia. Leia sempre mais, sempre que puder e quiser, só não desista de, sempre, dar oportunidade aos livros. Não aceite esse ou aquele livro como sendo 'o melhor do mundo' apenas porque seu professor de literatura disse isso, vá atrás daquele livro que se tornará 'o melhor do mundo' pra você. E despreze quem despreza seus livros favoritos, essas pessoas não possuem respeito algum por você."
February 25, 2014
Download Gratuito: A Orquestra dos Corações Solitários
Clique na capa do livro na barra lateral para fazer o download.
February 23, 2014
Manuscrito encontrado numa antiga caixa de madeira
Certa vez ouvi, ou acho que ouvi, que La Coruña é o melhor lugar do mundo para morrer. É estranho lembrar disso agora que estou aqui, mas talvez seja exatamente por isso que essa lembrança meio que se impôs sobre meus pensamentos. Não importa. Na verdade, só queria começar essa carta com uma referência ao lugar de onde escrevo: La Coruña, claro, mais precisamente em um banco de cimento de frente para La Enseada de San Amaro, um lugar tranquilo, mas extremamente solitário — ou talvez só passe essa impressão por causa do horário e do clima: é fim de tarde, o céu está nublado, o termômetro marca oito graus e algumas pessoas caminham por “El Paseo”, provavelmente turistas, hóspedes dos hotéis da região.
Não sei como vim parar aqui. La Coruña nunca esteve nos meus planos iniciais, para ser mais específico, mas, agora que estou, a única pergunta que me faço no momento é “Por quê?”
Engraçado. Agora que pus essa pergunta no papel (o moleskine que você me deu antes da viagem, lembra? “Diário de Bordo”, você disse), a resposta parece óbvia: eu talvez estivesse à procura de um bom lugar para morrer, não acha? Claro que não. Você não acha isso, mas também não descarta a associação entre essa informação que eu guardava adormecida em alguma gaveta do meu inconsciente e o fato de estar neste exato momento com a bunda congelando sobre o cimento de um banco em La Coruña, no outro extremo da Torre de Hércules.
Vou continuar ignorando a resposta óbvia — ainda não encontrei o que vim procurar quando saí do Brasil —, dialogando mentalmente com você e te escrevendo cartas que nunca enviarei. Sei que você entenderá, como sempre entende, afinal de contas, como é mesmo que você costumava dizer? “Sou a mulher mais compreensiva do mundo”. Tenho certeza que sim.
Acho que vou ficar por aqui, caminhar um pouco antes que escureça duma vez... procurar um táxi ou um lugar pra passar a noite.
Sinto sua falta.
February 15, 2014
Da Infância #1
São muitas as coisas das quais sinto falta na infância que tive, mas gostaria de citar duas que me ocorrem no momento:
De quando chovia: ou tomávamos banho de chuva (quando a mãe deixava) com direito a guerra de lama, ou desenhávamos um sol no meio da rua para que, assim, a chuva pudesse ir embora (as crianças não fazem mais isso) e nós pudéssemos brincar lá fora.
De quando faltava luz: fazíamos lanternas improvisadas com uma lata de leite Ninho ou Neston, um arame e uma vela, e saíamos para caçar vaga-lumes, mas o mais divertido era a gritaria de todo mundo — adultos e crianças — quando a energia voltava.
Por que amamos os livros?
Não sei. Talvez sejamos leitores porque procuramos reencontrar aquela sensação indescritível (sim, indescritível) que sentimos quando da leitura do primeiro livro que nos marcou de verdade. Você consegue lembrar qual foi o seu? Eu lembro bem do meu: de como ele chegou em minhas mãos, de quando e como o li.
Não sei porque resolvi falar sobre isso. Hoje me peguei ouvindo algumas músicas antigas, da época da minha infância lá pela segunda metade dos anos 80, e acabei ficando nostálgico e esse tipo de coisa. Acho que você conhece a sensação.
Bom, o livro era Uma luz no fim do túnel, do Ganymédes José, um escritor paulista de literatura infantil, infelizmente já falecido, do qual nunca li nenhuma outra obra. Pertencia a uma tia, Sueli, irmã do meu pai, que é um pouco, só um pouco, mais velha que eu. Como eu visitava bastante a casa da minha avó, o livro estava sempre à vista, atirado no sofá ou na cama, às vezes numa caixa de papelão. Numa dessas visitas, o peguei sem pretensão alguma além de passar o tempo enquanto minha mãe colocava a conversa em dia. Li as primeiras páginas, fiquei interessado e pedi o livro à tia Su emprestado.
Já em casa — era por volta do meio-dia, e o dia estava chuvoso e cheio de ventos, diria até que meio cinza —, tomei banho, almocei e, depois de me certificar que não iria passar nenhum filme interessante em Sessão da Tarde ou Cinema em Casa, me deitei no sofá e comecei a ler.
Lá fora passou a chover — lembro bem disso porque eu sempre nutri um fascínio anormal por dias chuvosos — e relampejar e, além do barulho da chuva no telhado, eu sentia todas essas coisas que são descritas quando se fala de chuva e infância: o cheiro de terra molhada, a vontade de ir tomar banho ao ar livre, desenhar um sol sorridente no chão ou brincar de guerra de lama com os vizinhos.
Não lembro quanto tempo fiquei deitado no sofá com a cara enfiada naquele livro, mas também não lembro de ter respirado durante a leitura, ou piscado, ou qualquer coisa desse tipo. O que lembro? Bom, de ter sentido um apego absurdo pelos personagens e seus destinos, e ter criado uma aversão às drogas que provavelmente foi uma das responsáveis por eu ter me mantido limpo durante toda a adolescência. Também senti um vazio esquisito, mas isso só veio ao término da leitura. Que tipo de vazio? Descobri esses dias que o termo corrente é “book hangover”, quando você termina a leitura de um livro de ficção e, ao voltar ao mundo real, este parece irreal porque você ainda está, de certa forma, vivendo no mundo do livro: este tipo de vazio.
Fiquei alguns dias em choque. Reli o livro, mas não era a mesma coisa — se alguém tivesse falado na existência de uma continuação eu certamente teria movido os ínferos para consegui-la — e, desde então, não mais parei com as leituras. Cheguei a sentir coisas parecidas com outros livros, mas nunca foi a MESMA coisa. Quer dizer, não com a mesma intensidade... quiçá por ter sido aquela a primeira vez.
Não sei. Sei que quando procuro uma resposta para essa pergunta que vivem insistindo em me fazer (“Como começou esse seu amor por livros?”), penso que a única resposta possível talvez seja que eu venha tentando, desde aquele dia, repetir aquela experiência, como alguém que busca doses cada vez mais intensas de uma mesma sensação.
Não sei. E sinceramente não me importa.