Roberto Denser's Blog, page 7

March 18, 2015

17 Conselhos de escritores brasileiros contemporâneos para novos autores

Inspirado pelo post anterior, no qual expus alguns conselhos de escritores já consagrados para novos escritores, e me dando conta de que todos os conselhos foram dados por autores anglófonos (o que é normal, visto que é pelo menos um milhão de vezes mais fácil encontrar material sobre a escrita em inglês do que em português), resolvi fazer uma versão apenas com escritores brasileiros e saí enchendo o saco a inbox de meus colegas perguntando o que teriam a aconselhar a jovens que estejam começando a explorar os labirintos e desertos da escrita.

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Deixo meu agradecimento registrado a todos os colegas que contribuíram.

"Ler, escrever, pensar. Todos os dias, o tempo todo, com ênfase em cada um, de acordo com o momento."

(Braulio Tavares)

"Poucas pessoas vão te levar a sério enquanto você não ganhar o Nobel de literatura, mas você não deve deixar de se levar a sério enquanto escritor apesar disso. Só não exagere, pessoas que se levam a sério demais são chatas pra cacete."

(Roberto Denser)

"Não tenha medo de perturbar os padrões e tendências morais, éticos ou estilísticos; o escritor está aí exatamente parar subvertê-los"

(Wander Shirukaya)

"Concluído o [seu] texto, releia-o, à caça de possessivos e demonstrativos, [essas] categorias insidiosas. Dá para eliminar quase todas as ocorrências."

(Antonio Carlos Secchin)

"Busque um meio termo entre a ânsia de ser publicado e a paralisia pelo medo na véspera de expor-se a um 'não' editorial."  

(Maria Valéria Rezende)


"Leia os grandes autores do gênero pelo qual você optou. Leia-os bebendo a frase, vendo a construção de cada obra. Conviva com as obras deles. E escreva procurando a palavra mais exata, mais precisa para a sua frase. Não faça concessões ao seu texto - empenhe-se o máximo possível para dar forma a ele."

(Rinaldo de Fernandes)

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"Existem referências além da própria literatura. Use-as. O universo se expande pra dentro dos livros, não o contrário."

(Roberto Menezes)

"Afaste a palavra 'ansiedade' da sua vida."

(Ricardo Lísias)

"Escreva como se um louco estivesse apontando uma escopeta na sua cabeça. Não pare. Se parar, ele atira. Na hora da revisão, respire. Desarme o louco. Pegue a escopeta e aponte para o texto: arregace os neurônios dos adjetivos, ênclises, voz passiva, pronomes, excesso de informação e gerúndios, e tudo o que não presta. Agora faça isso todos os dias: parabéns, você é um escritor."

(Bruno Ribeiro)

"Trabalhe e leia. Conheça o assunto de seu trabalho – poucas coisas são tão estúpidas quanto um escritor que escreve sobre o que não conhece. E o mais importante: ignore o conselho e a companhia de outros escritores. Dos escritores, que não são poucos, bastam os livros."

(André Rodrigues)

"Escreva e reescreva. Depois, reescreva para, então, reescrever. Feito isso, basta reescrever. E aí, talvez, o texto estará bom."

(Raphael Montes)

"Os escritores devem se considerar parte de uma guilda e agir de acordo, honrando os mestres, colaborando com os companheiros e orientando os aprendizes."

(Ana Lúcia Merege)

"Escrever deve ser um momento de satisfação pessoal e profissional. Não se preocupe com o mercado ou com modismos: crie com a sua alma, segundo as suas convicções e verdades. Faça bem feito, com esmero e identidade. O público perceberá essa qualidade e respeito; e o círculo virtuoso estará completo."

(Eduardo Massami Kasse)

"Escreva três páginas por dia. Ao final do mês serão noventa páginas feitas. Depois de três ou quatro meses, se você for disciplinado(a), terá um livrão prontinho. Acha demorado? É nada. Tente!"

(André Vianco)

"Meu conselho é simples: leia tudo o que puder e tente sempre melhorar um pouquinho toda vez que escrever. Pode ser que demore um tempo para que você chegue no ponto que deseja. Contudo, basta lembrar que escrever é um trabalho como qualquer outro e exige dedicação. E o modem de internet desligado, porque ele pode devorar a sua alma."

(Jim Anotsu)

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Além do Joedson, que enviou seu conselho em versos:

FORMA

melhor é saber das técnicas todas
e usá-las à vontade mas sem fanatismo
que há contrarregras pra qualquer dos ismos
e o sexo mais sadio eu chamo de foda

reescrever a escrita do estabelecido
pro pré virar pós num tira e bota
de pensar palavras qual se cada fora
o poema inteiro e um desconhecido

pesquisar o assunto ao último som
mas sem que a ideia perca o que tem de louca
e o mal o poder de também ser bom

qualquer coisa pode se a arte não é pouca
vale é o dom pro momentâneo tom
passado e futuro estopa e nós nova roupa

CONTEÚDO

qualquer coisa serve se foi inspirada
por não sei o quê que deu na tua verve
ou se planejada com aquele tu deves
andar por aqui em cada passada

os motes são milhões portanto não há greve
pro detalhe que calhe pra contar a cagada
mas em geral os temas são poucos e fadas
apenas sob o dom e a rédea do almocreve

escolhe sem olhar no que metes a mão
ou cego te menta pra musa te mostrar
a ideia que tem a elite e o povão

mas dos dois só sairá a poeisis a ars
se das mãos dum único que clareie o carvão
em energia eterna enquanto homens há

GRAMÁTICA

ei-la enclausurada na elite sem piedade
que sou eu o supremo que lhe sanciona o onde
aqui uma beleza que mostra e esconde
milênio de misturas minutos de unidade

sempre presa a mim pois sou quem responde
à prima palavra e indago eternidade
através da vontade da hora um vade
retrô ou vanguarda de reação ao bonde

que se foda o erudito e o povo se fode
a fala do mendigo e do rei portuga
me servem igualmente pra escrita da ode

se submetem a mim pra apressada fuga
da arcaica casa ou da cadeia não pode
se soltam selvagens ou ficam por pulgas


INSPIRAÇÃO

por mais que alguém nunca da técnica esqueça
ou se está onde o vento redemunha
ou nem serve pra texto de servil testemunha
e o onde é sempre dentro da cabeça

ou se é mistura de antena que empunha
de tudo o que está na memória da espécie
do ido ao que dirá na praça da pressa
ou não se faz nada senão roer as unhas

mas quando a voz vem não tem nem ateu
o artista para e escuta todo ouvidos
a língua libertária do único deus

o ele-mesmo cego tão desconhecido
que se reconheceu ao mínimo sou eu
e se escreve em poema ou império o ungido

(Joedson Adriano)

E do Solha, cujo conselho ficou por último por um motivo óbvio…


"Depois de obedecer a todas essas regras, quebre-as, se lhe der vontade. Essa vontade é o que se chama Revolução, Criação."

(W. J. Solha)

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Published on March 18, 2015 04:56

March 16, 2015

16 Conselhos de escritores experientes para novos escritores

franzen

Concordo com todos os conselhos abaixo.

Leia! Leia tudo o que lhe cair em mãos. Leia livros que pouco ou nada tenham a ver com o gênero no qual você escreve.

(Michael Moorcock)

O seu tempo e seu local de trabalho devem ser sagrados. Mantenha todo mundo distante, mesmo as pessoas que são importantes pra você.

(Zadie Smith)

Apresente seus temas e personagens principais no primeiro terço do livro. Faça uma estrutura do tipo Introdução X Desenrolar X Desfecho.

(Michael Moorcock)

Na fase de planejamento, não planeje o final, ele deve ser uma consequência de tudo o que o precede.

(Rose Tremain)

Sempre carregue um bloco de notas, sempre. A memória de curto-prazo retém uma informação por apenas três minutos. Se você não anotá-la, poderá perdê-la para sempre.

(Will Self)

É duvidoso que alguém com conexão à internet em seu computador esteja escrevendo boa ficção.

(Jonathan Franzen)

Trabalhe em um computador desconectado da internet.

(Zadie Smith)

Leia seu texto em voz alta para você mesmo. Essa é a única maneira de ter certeza que o ritmo e as sentenças estão do jeito que você pretende.

(Diana Athill)

Não me diga que a lua está brilhando, mostre-me o seu reflexo num caco de vidro.

(Anton Chekhov)

Escute as críticas e sugestões de seus leitores de confiança que lerão a primeira versão do texto.

(Rose Tremain)

Solidão e confinamento são conditios sine qua non da vida e do trabalho do escritor, aceite isso.

(Will Self)

Seja seu próprio editor e crítico. Simpático, porém impiedoso.

(Joyce Carol Oates)

O leitor é um amigo, não um adversário ou um mero espectador.

(Jonathan Franzen)

Mantenha seus pontos de exclamação sob controle. Você não tem permissão para usar não mais do que dois ou três a cada 100. 000 palavras.

(Elmore Leonard)

Lembre-se: quando as pessoas dizem que algo está errado ou não funciona pra elas, elas estão quase sempre certas. Quando elas dizem exatamente o que elas pensam que está errado e como consertar, elas estão quase sempre erradas.

(Neil Gaiman)

A regra mais importante da escrita é que se você escrever com segurança e confiança, você terá permissão para escrever o que quiser. Então conte sua história da forma como ela precisa ser contada. Escreva honestamente, e da melhor maneira que puder.

(Neil Gaiman)

 

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Published on March 16, 2015 06:44

March 14, 2015

Sentaí, xovem, vamos conversar…

Outro dia um garoto de 13 anos me perguntou se eu era escritor, ao que respondi sim, e como era o trabalho de um escritor, ao que respondi bom… não há resposta universal para essa pergunta, mas posso ou responder de forma pessoal (como é a minha vida como escritor), ou apontar alguns elementos que tragam em si alguma generalidade, como, por exemplo, a noção de que escrever é um trabalho braçal – o que requer do jovem aspirante a escritor até mesmo certa maturidade para aceitar, desistir da ideia de que escrever depende essencialmente de talento ou inspiração –, que “baixar o santo” e seus equivalentes estão no âmbito da psicografia, e não do ofício de escritor.

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Obviamente não estou dizendo que talento e inspiração não existam, qualquer pessoa que escreva há algum tempo sabe que existem sim, mas que, pelo menos no caso do primeiro, não é um fator que irá determinar se seu trabalho será bom ou não: há escritores talentosos que se perderam, e há escritores sem talento algum que, com muito trabalho, conseguiram atingir eu diria até certo brilhantismo. Como diz Stephen King, “talento é mais barato que sal, o que separa a pessoa talentosa da bem sucedida é muito trabalho duro”.

No caso da inspiração, ela é eventual, assemelhando-se, esta sim, à ideia de “baixar o santo”, mas não equivalendo a ela, e portanto não devendo ser vista como algo ao alcance do arbítrio do autor. Vale um exemplo? Aqui vai um: em 2011 eu acordei com uma ideia para um conto martelando minha cabeça, sentei diante do laptop antes de fazer qualquer outra coisa (escovar os dentes, tomar banho, etc.), e digitei meio que possuído durante 20 minutos um conto de 1500 palavras chamado A Bailarina de Vidro, que muitos consideraram à época meu melhor trabalho. Esse tipo de coisa acontece, e ainda não consegui encontrar uma explicação, se é que há alguma… Meu ponto é: nenhum escritor deve apostar na inspiração ou esperar que ela venha. No máximo o que dá pra fazer, acredito, é encontrar formas de tornar sua vinda mais fácil, mas cada um tem sua forma de fazer isso (alguns ouvem música, outros usam psicotrópicos). 1779812_789677104394285_62974316_n

Quanto ao trabalho, bom, este sim está sob nosso controle, ou pelo menos deve estar,  o que requer muita, muita disciplina e determinação. Você tem que entrar em writing mode, como costumo dizer, e write a lot and read a lot, esta sim uma verdade universal para qualquer escritor. Portanto, que fique claro de uma vez por todas: é trabalho duro e leva tempo até que qualquer um atinja o grau de excelência necessária para escrever razoavelmente decente.

Escrever é a arte de enfrentar a página em branco, e vencê-la.

Para finalizar o tópico, creio que aqui valem as palavras de Neil Gaiman:

"Se você escreve apenas quando está inspirado, você talvez se torne um poeta razoável, mas jamais será um romancista, porque você tem que fazer sua quantidade de palavras aumentar hoje e as palavras não vão esperar até que você esteja ou não inspirado.

Você tem que escrever quando não está inspirado. E você tem que escrever as cenas que não te inspiram. E a coisa esquisita é que seis meses, um ano depois, você irá olhar para trás e então não conseguirá lembrar quais cenas você escreveu quando estava inspirado e quais você escreveu apenas porque precisava escrever.

O processo de escrita pode ser mágico (...), mas na maioria das vezes é um processo de colocar uma palavra depois da outra."

É até mais confortável aceitar que é assim que as coisas são.

Technorati Marcas: Escrever,Vida de escritor,literatura,inspiração,trabalho,ofício,Neil Gaiman,Stephen King,talento.
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Published on March 14, 2015 12:54

March 11, 2015

O Facebook é uma rede social estranha, Batman…

Tive meu perfil pessoal suspenso no Facebook e não sei quanto tempo isso vai durar. A suspensão também impede o acesso à minha fanpage, que é a única preocupação que eu tenho em relação ao ocorrido: perder o acesso a ela em definitivo. O motivo?, você deve estar se perguntando… bom, é algo tão bobo que nem eu acredito: postei uma fotografia do Jan Saudek, mais precisamente esta, daí alguém denunciou e voilá, suspenso, sem direito a contraditório e/ou ampla defesa.

O que me deixa indignado (sempre fico indignado quando sou ou vejo alguém ser injustiçado) é que ano passado um amigo meu, Júnior, denunciou um vídeo que já estava com centenas de milhares de curtidas e compartilhamentos de um cara estuprando uma criança asiática que aparentava ter uns 10 a 11 anos e a resposta do Facebook, pasmem, foi: o vídeo não viola nossos termos.

Vamos lá: uma fotografia de um renomado artista, admirado e reconhecido no mundo inteiro, viola os termos por se tratar de pornografia (a acusação formal que o facebook me fez foi “obscenidade”), enquanto que um vídeo de um cara estuprando uma criança asiática, não. É de dar um nó no juízo, ne c'est pas? A coisa fica ainda mais bizarra quando você lembra alguns casos famosos de censura envolvendo o quintal de Zuckerberg: da bunda de Simone de Beauvoir às mães amamentando, passando por bonecas peladas (BONECAS) e, pasmem, a capa do Nevermind! Acho que esses casos são analisados por um grupo de pervertidos, é a única explicação razoável que consigo encontrar.

De qualquer forma, this is it, já que não sou bem vindo, só me resta retirar-me pacificamente de lá (assim que recuperar o acesso à conta, por óbvio), mas deixarei a fanpage, sobretudo por causa do domínio /robertodenser, apesar de, confesso, ter perdido qualquer entusiasmo que vinha nutrindo com a perspectiva de expandi-la, mantê-la atualizada etc.

Até qualquer hora.

Update:

O Facebook me enviou um email dizendo para retirar as “imagens obscenas” (fotografias do Saudek) de minha conta e me devolveu o acesso a ela.

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Published on March 11, 2015 05:55

March 9, 2015

Sobre Leitores & Leituras

001Stephen King na mesma estante que Virginia Woolf, Oscar Wilde e Shakespeare.

Detesto quando vejo chegar algum ~entendido~ diante de alguém com um livro qualquer (exemplo: Crepúsculo) e sentencia: "Você lê essa porcaria?! Isso não presta! Que horror! Leia algum livro de verdade, como 'Grande Sertão: Veredas', do incrível Guimarães Rosa, esse sim um autor de verdade etc."

O que eu digo sempre a qualquer leitor que encontro é: "Muito bem, leia! Continue lendo! Leia o que você quiser, leia o que você gosta e, acima de tudo, leia POR PRAZER! A leitura não deve ser uma atividade tortuosa, pelo contrário: nela o leitor deve encontrar um refúgio e um escape, um lazer! Também não deve ser feita tendo o gosto alheio como parâmetro. Caso queira dicas de leitura, aceite recomendações, mas caso não goste delas, não hesite em desistir da leitura, a vida é curta e são muitos os livros. Se você não se interessa pela aristocracia parisiense do século XIX, leia sobre algo que lhe interesse, seja vampiros, dragões, aventuras de capa-e-espada ou romances regionalistas do século passado. O importante é: leia, leia, leia. Leia sempre mais, sempre que puder e quiser, só não desista de, sempre, dar oportunidade aos livros. Não aceite esse ou aquele livro como sendo 'o melhor do mundo' apenas porque seu professor de literatura disse isso, vá atrás daquele livro que se tornará 'o melhor do mundo' pra você. E despreze quem despreza seus livros favoritos, essas pessoas não possuem respeito algum por você."

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Published on March 09, 2015 15:58

March 6, 2015

E-conto Retrato de Família: download grátis

Bom dia, galera. 
Seguinte: nos próximos cinco dias o e-book abaixo (Retrato de Família, a história de uma família de origem alemã, sob a ótica de um de seus membros) estará disponível no site da Amazon para download gratuito. Para baixar, basta clicar na imagem abaixo e voilá!
Depois me mandem um email falando sobre o quanto detestaram essa história, beleza? 

 Clique aqui para ir ao site da Amazon.


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Published on March 06, 2015 06:51

March 4, 2015

Edição impressa de A Orquestra dos Corações Solitários

Antes tarde do que nunca, pois não?

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Pois sim. Conforme anunciado em minha página semana passada, a versão impressa de A Orquestra dos Corações Solitários já se encontra disponível para compra nos sites da Amazon americana e europeias (na Amazon brasileira apenas a nova versão digital, exclusiva para Kindle, por R$ 9,90 – nove reais e noventa cents  –, ou de graça para usuários do Kindle Unlimited).

Então é o seguinte: negociei o preço mínimo possível da edição impressa (abrindo mão de minha parte) e o preço final ficou por $ 7,99 dólares americanos (o que atualmente dá vinte e um reais e quarenta e um centavos depois de convertido), uma pechincha, diga-se de passagem. Vale ressaltar ainda que em compras a partir de $ 35,00 (trinta e cinco dólares) o frete é grátis e que vocês podem passar o cartão de crédito e receber o livro no conforto do lar.

Que mais? Bom, o livro, pra quem não conhece, é uma coletânea de contos sobre a solidão inspirados nas músicas dos Beatles (você pode ler o primeiro conto do livro clicando aqui), e quando lançado foi muito bem recebido tanto por leitores quanto por escritores (até compilei alguns comentários nessa edição). Pra comprar, basta clicar nos links abaixo:

Clique aqui para comprar a edição IMPRESSA de A Orquestra dos Corações Solitários;

Clique aqui para comprar a edição DIGITAL de A Orquestra dos Corações Solitários.

Dados do Livro:

Brochura: 176 páginas Editora: CreateSpace Independent Publishing Platform; 1 edition (March 1, 2015) Idioma: Português ISBN-10: 1508688931 ISBN-13: 978-1508688938

E, gostando ou não, fiquem à vontade para me enviar emails comentando o que acharam. Prometo responder a todos.

Até a próxima, pessoal. (Incrível como isso me lembra a porra dos Looney Tunes).

Technorati Marcas: Roberto Denser,A Orquestra dos Corações Solitários,Livro,Contos,Solidão,Beatles,Suicídio,Publicação
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Published on March 04, 2015 06:28

November 18, 2014

Novela e Romance: uma proposta

Muitas coisas me irritam. Algumas sequer precisam de explicação: pessoas que jogam lixo nas ruas, jovens que não cedem o lugar a idosos e gestantes nos ônibus, gente mal educada, injustiça e uma lista enorme de outras coisas, a maior parte delas ligadas à imbecilidade humana. Uma, entretanto, nada tem a ver com isso, estando ligada mais provavelmente a outros fatores, como a formação cultural do povo brasileiro, e que exatamente por isso me é compreensível, a despeito de, repito, me irritar bastante. Não sei. Quando se trata do tema que irei desenvolver, geralmente raciocino do topo de minha própria ignorância — ou inocência —, uma vez que, como para o religioso, estou mais confortável assim, e não faço a menor questão de sair de minha zona de conforto por causa de racionalizações, justificativas e provas científicas em sentido oposto.

O que é essa coisa, afinal?, quase consigo ouvir alguém perguntar. A resposta é simples: a ideia de que, ao dizer que estou escrevendo um romance, quero dizer com isso que se trata de uma história de amor. Qual o escritor brasileiro vivo que nunca passou por isso? Para certo público, há uma ligação ingênua e quase indissociável entre essas duas ideias: romance e romantismo, histórias cheias de amores e paixões ardentes, o que leva alguns autores e editoras a classificarem o que escrevem e o que publicam como romance romântico, romance de horror, romance steampunk etc., o que, cá entre nós, acho desconfortável.

Gosto do termo usado pelos anglófonos e pelos latinos: novel e novela, respectivamente. Eu, por minha própria conta, uso novela para me referir ao que os outros chamam romance, e noveleta para o que os outros chamam novela. Conto, obviamente, permanece conto.

No Brasil, novela, infelizmente, virou sinônimo de telenovela — Obrigado, Globo —, mas no campo da Literatura, em termos simplistas, trata-se de uma narrativa menor que o romance, e maior que o conto — algo entre 20 e 40 mil palavras. Tudo o que fiz foi trocar (“Primeiro as invertidas, agora isso?! Tu és doido de pedra, Denser!”, dizem meus amigos escritores), aqui vai tabela explicativa:

Conto: até 20.000 palavras.

Noveleta: de 20.000 a 40.000 palavras.

Novela: acima de 40.000 palavras.

Romance: uma novela romântica. E só.

Parece confuso? Eu não acho. Pelo contrário, acho que faz mais sentido e é mais lógico, além de nos colocarmos em afinidade com duas das línguas mais importantes do mundo hoje, o inglês e o espanhol. Também é importante lembrar que tais medidas apresentadas são apenas uma “aproximação” e, portanto, o que separa uma novela de uma noveleta não é uma única palavra.

Uma curiosidade: hoje em dia, se você digita novel no Google Imagens, o que você encontra? Livros, livros e mais livros. Mas se você digita romance ou novela... bom, acho que dá pra ter uma ideia do que aparece.

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Published on November 18, 2014 09:48

November 10, 2014

Carta encontrada entre as páginas de uma edição espanhola de Dom Quixote

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Estava na casa de um amigo escritor, no Rio, quando começamos a conversar sobre as cartas que escrevíamos antigamente. Eu dizia que sentia falta de me corresponder com pessoas queridas por meio de cartas e que mesmo que me esforçasse para fazê-lo com algumas pessoas, a internet continuava tornando tudo mais frígido: enquanto a carta viajava nas mãos dos Correios, o contato diário ou quase diário que mantinha com minha correspondente por meio das redes sociais já havia minimizado qualquer efeito que a carta pudesse ter sobre ela. Ele compreendia bem, disse, apesar de não se comunicar com ninguém por carta há séculos e só usar a internet para enviar e-mails. Foi então que me falou de uma carta intrigante que encontrara entre as páginas de uma edição espanhola em capa dura de Dom Quixote: comprara o livro num sebo do Rio, e quando chegou em casa e começou a folheá-lo, duas páginas meio amareladas do que parecia ser um diário, escritas frente e verso, caíram aos seus pés. “Era espécie de carta-desabafo, e me deixou deprimido a semana inteira”, disse, “porque parece nunca ter sido entregue e porque o rapaz que a escreveu, acerca do qual só dá pra saber o primeiro nome, parecia sofrer de uma inquietação que eu mesmo já sofri um dia e para a qual o tempo me tornou indiferente. Gostaria de ler mais coisas dele, talvez convidá-lo para um café e conversar sobre isso, explicar que a arte é o melhor caminho.” Respondi que, se possível, adoraria ler essa carta, ao que ele prontamente foi até a estante, pegou o exemplar de Dom Quixote e me entregou: “Parece loucura, mas eu guardo no mesmo lugar. Às vezes me imagino encontrando a moça para a qual a carta se destina e me vejo entregando-a a carta e o livro.” Sorri, disse que faria o mesmo e me pus a ler a carta, o que ele acompanhou em silêncio.

Ao terminar a leitura, estava emocionado, e lutava para disfarçar as lágrimas que, caso eu me encontrasse sozinho, cairiam. Eu não apenas também me identificava com o autor da carta, mas, como meu amigo, passei a lamentar o fato dela aparentemente jamais ter sido entregue. Perguntei se poderia transcrevê-la e postá-la em meu blog, pois, uma vez na internet, talvez fosse mais fácil que, de alguma forma, a garota, hoje mulher, a qual a carta se destinava a encontrasse. Ele achou uma boa ideia e disse que teria feito o mesmo, caso tivesse um blog ou participasse de redes sociais. Assim, transcrevo ipsis literis como o texto se encontrava, e espero que, um dia, ele alcance, enfim, sua destinatária, pois toda história precisa de um desfecho, mesmo as que terminam em reticências.

Carta encontrada entre as páginas de uma edição espanhola de Dom Quixote

La Coruña, Abril de 1993

Certa vez ouvi, ou acho que ouvi, que La Coruña é o melhor lugar do mundo para morrer. É estranho lembrar disso agora que estou aqui, mas talvez seja exatamente por isso que essa lembrança meio que se impôs sobre meus pensamentos. Não importa. Na verdade, só queria começar essa carta com uma referência ao lugar de onde escrevo: La Coruña, claro, mais precisamente em um banco de cimento de frente para La Enseada de San Amaro, um lugar tranquilo, mas extremamente solitário — ou talvez só passe essa impressão por causa do horário e do clima: é fim de tarde, o céu está nublado, faz uns oito graus e algumas pessoas caminham por “El Paseo”, provavelmente turistas, hóspedes dos hotéis da região. Venta muito, e pra dizer a verdade eu não sei como vim parar aqui. La Coruña nunca esteve nos meus planos iniciais, para ser mais específico, mas agora que aqui me encontro, a única pergunta que me faço no momento é “Por quê?”

É engraçado. Agora que pus essa pergunta no papel (o moleskine que você me deu antes da viagem, lembra? “Diário de Bordo”, você disse, “para anotar suas peripécias.”), a resposta parece óbvia: eu talvez estivesse à procura de um bom lugar para morrer. Concorda? Claro que não, até consigo ouvir sua voz: você discorda energicamente, mas também não descarta a associação entre essa informação que eu guardava adormecida em alguma gaveta do meu inconsciente e o fato de estar neste exato momento com a bunda congelando sobre o cimento de um banco em La Coruña, no outro extremo da Torre de Hércules. Você provavelmente diria: “Ora, Daniel, é claro que existe uma relação entre a ideia que você fazia, mesmo que inconscientemente, de La Coruña, e o estado de espírito no qual você se encontra atualmente, mas isso não quer dizer que você foi aí para morrer. Você provavelmente foi aí para pensar em como seria morrer ou talvez para perceber que morrer não é o que você quer ou precisa, e sim continuar vivendo, vivaz como sempre foi. Inquieto, inadequado a quase tudo e todos, mas vivaz como uma criança saudável porque é assim que você é, Daniel, e é por amar tanto a vida que você pensa na morte.”

Sorrio ao pensar em você falando isso. Consigo ver os seus olhos bem abertos, um olhar mais convencido do que convincente, querendo verdadeiramente acreditar, e me levar a crer consigo. Em minha imaginação, você usa um vestido preto, meias e botas pretas, e está com os cabelos soltos e franja — pois era assim que você estava quando te vi pela última vez — e não usa maquiagem como também não usava naquele dia porque você sabia que a borraria em algum momento, fosse com meu beijo ou com as lágrimas que derramaria quando a hora do meu voo se aproximasse.

Sinto saudades, Nina, não apenas da namorada com a qual sonhava viver e com a qual projetei todo um futuro pintado com cores exóticas, mas também da amiga, a única amiga que conseguia entender tanto minhas dores quanto minhas piadas e referências, a única que lera os mesmos livros e vira os mesmos filmes que eu. Sei que o tempo e as circunstâncias foram ingratos conosco, mas também sei que fugi por ser egoísta e até um pouco covarde. Egoísta por precisar, antes de qualquer coisa, me sentir encaixado no mundo, e achar que apenas sozinho conseguiria alcançar isso; covarde por ter tido medo de aceitar sua ajuda, que sempre esteve ali: ao alcance de um sussurro. A ironia é que agora penso que talvez tivesse sido melhor com você. Mais fácil com você. Mas você não podia me acompanhar porque seus pais isso e aquilo e aquilo outro.

É isso, é uma confissão. Nina, eu fugi de você porque tive medo de me perder de forma irremediável. O que eu não percebi na época é que eu já estava perdido, e continuo assim. A diferença é que então eu acreditava numa salvação e agora em nada creio, o que me leva a pensar que Lennon é quem tinha razão. Como é mesmo aquela frase sobre ele só ter se encontrado em si mesmo? Alguma coisa sobre ter andado por todos os lugares à procura de si, você deve lembrar…

Ah, Nina, minha nina, pensei que sair do Brasil era a solução. Levado por um romantismo bobo e ingênuo, achei que em mim havia uma necessidade de grandeza a ser preenchida, e que eu a preencheria com uma dessas jornadas líricas rumo a um lugar qualquer, desde que fosse na Europa. Eu sei, é patético e risível, principalmente risível. O que aconteceu depois que cheguei? Um monte de coisas, passei um tempo em Portugal pensando no quanto eu tinha sido idiota por te deixar, dialogando mentalmente com você e te escrevendo cartas todos os dias. Cartas que nunca enviei, como você deve imaginar, e que nunca enviarei, pois já não faz o menor sentido. Sei que você entenderá, como sempre entendeu, como sempre entende. Como é mesmo que você costumava dizer? “Sou a mulher mais compreensiva do mundo”. Uma coisa da qual nunca tive dúvidas, Nina, apenas a mulher mais compreensiva do mundo seria capaz de me suportar como você suportou. Depois Portugal se tornou pequena e previsível demais, então me vi na Espanha fumando haxixe com uns universitários loucos que conheci e respondendo perguntas sobre o Brasil e suas peculiaridades. Agora estou aqui: sozinho, perdido, me questionando se La Coruña é mesmo um bom lugar para morrer e como eu teria que fazer se quisesse seguir daqui rumo à Amsterdã, onde estão os quadros de Van Gogh.

Sinto sua falta. Sinto mais que sua falta, sinto sua ausência, uma necessidade de você somada à saudade. Às vezes vejo algo que queria te mostrar, às vezes penso em algo que queria te dizer, às vezes simplesmente gostaria de estar com você, talvez fazendo nada a dois, talvez fazendo amor num local público tarde da noite, quem sabe enchendo a cara e discutindo Freud, Marx, Bill, nossa vã filosofia, não importa. Faria qualquer coisa com você, estar contigo seria o bastante. Nunca me perdoarei por ter te deixado.

Ah, Nina…

O que vou fazer agora? Não faço a menor ideia. Quando comecei a escrever, pensava em suicídio, pensava em te deixar uma carta de despedida sem muitas explicações, apenas para te dizer o quanto te amo e o quanto esperava que você fosse realmente feliz, que gostaria que você encontrasse alguém menos complicado do que eu e que cuidasse de você, que conseguisse entrar para uma boa faculdade, constituir família, construir uma carreira e esse tipo de coisa. Mas não, Nina, não é o que quero te desejar. Sou egoísta demais para te desejar esse tipo de coisa ao lado de alguém que não seja eu, sou egoísta demais para me matar sabendo que você, o amor da minha vida, viverá seus dias ao lado de outro. No entanto estou aqui, sabe deus quantos quilômetros de distância do Rio e após ter deixado você olhando com uma expressão vazia para o portão de embarque do aeroporto com o rosto vermelho e inchado de tanto chorar, olhando para uma praia cinza idiota, sentado num banco idiota num frio idiota e lamentando o fato de você não estar comigo.

É confuso, eu sei que é confuso. E é por andar tão confuso assim que escrevo, escrevo e escrevo e quando vou reler o que escrevi me dou conta de que estou ficando louco. Eu estou ficando louco, Nina. Louco. Eu quase consigo sentir o cheiro da loucura.

Mas deixa isso pra lá. Vou me despedir por aqui. Não vou postar essa carta, até porque sua mãe provavelmente não te entregaria. Sei que ela me odeia e que vai à igreja todos os dias para agradecer o fato de eu ter sumido da vida de sua filha. Eu sei, Nina, eu sei.

Vou caminhar um pouco por El Paseo, como fazem os turistas, talvez sirva pra me aquecer. Não sei onde ou se vou dormir, ainda não é hora de pensar nisso.

Mais uma vez, sinto sua falta. Continuo amando você, e planejo continuar te amando. Espero vencer essa loucura, preencher esse vazio, assim como espero que um dia possamos ficar juntos novamente e de uma vez por todas...

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Published on November 10, 2014 11:23

O tempora o mores!

Analogico-Digital

O título é uma citação de Marco Túlio Cícero, que traduzido significa “Oh, tempos! Oh, costumes!”, e está presente em suas Catilinárias (série de discursos acusatórios dirigidos ao Senado de Roma contra Lúcio Sérgio Catilina, então considerado traidor da República). Hoje me peguei utilizando essa mesma expressão ao pensar sobre o nosso próprio tempo — Que tempos! Que costumes! —, admirado que me encontrava pelas comparações feitas entre dois momentos de minha vida. Desenvolvo a seguir.

Tenho 29 anos. Pertenço, portanto, a uma geração que quero chamar de “Geração de Transição” — os nascidos entre meados dos anos 70 e 80, essa “charrete que perdeu o condutor”, para usar as palavras de Raul Seixas —, que consiste, basicamente, daqueles que viveram sua infância ou adolescência entre os anos 80 ou primeira metade dos anos 90. Uma geração, por assim dizer, analógica.

Crescemos praticamente sem acesso ao telefone como conhecemos hoje (para os moradores de meu bairro, o único telefone público disponível era um vermelho que funcionava através de fichas, então localizado na principal farmácia local), ouvindo nossas bandas favoritas em discos de vinil ou através dos programas de rádio, que vigiávamos com uma fita cassete virgem engatilhada no toca-fitas (geralmente um 3 em 1), pronta para começar a gravar assim que aquela música que queríamos tanto começasse a tocar — engraçado lembrar a fúria que nos acometia quando o locutor falava no meio da execução da música, estragando a tão esperada captura! —; e cuja coisa mais parecida com um computador que havia ao nosso alcance eram as máquinas de escrever IBM que infestavam os cursos de datilografia e as repartições públicas.

analogico-vs-digital

Nossas pesquisas para os trabalhos da escola eram feitas na biblioteca pública; nossos trabalhos, escritos à mão (em caneta azul ou preta!, dizia a professora), nossas provas em papel mimeografado (ainda consigo sentir o cheiro), e nossas brincadeiras e encontros se davam na rua — era comum ter crianças na rua naquela época, correndo e se escondendo, gritando e brigando, machucando-se ou divertindo-se nas horas livres da escola —; para assistir algum filme inédito, tínhamos as locadoras de vídeo (VHS), onde muitas vezes precisávamos reservar com antecedência, tamanha era a demanda, e, ao devolvê-las, as fitas precisavam estar rebobinadas — será que algum jovem com menos de 15 anos conhece o termo? —, sob pena de pagar multa.

Videogames? Pouquíssimos eram os felizardos que os tinham em casa (“Estraga a TV!”, diziam os pais, aterrorizados com essa perspectiva). O mais comum eram os chamados ‘playtime’ ou ‘casa de jogos’, onde nos encontrávamos para jogar nos arcades ou nos consoles então caríssimos.

Isso tudo numa época em que os dias pareciam mais longos, e a temperatura mais amena.

Então veio a segunda metade dos anos 90, o Radiohead lançou o ‘Ok Computer’ (1997), como quem diz: “Ok, computador, você venceu”, e quase como que de repente — foi a impressão que eu tive —, abrimos os olhos e nos vimos mergulhados, alguns até mesmo afogados, num mar de informação, superexposição e acesso a tudo. De repente não mais que de repente, todo mundo andava encangado com um celular, absorto por seja lá que sombra se expunha através de suas luzes, e existir agora se dava em outro plano: a rede. As músicas, os filmes, a informação, vinham com tanta facilidade e fluidez que de repente ficou difícil distinguir o excepcional, ou ser marcado por ele. “Menos é mais” — um dos mantras de minha adolescência — foi substituído por “menos é menos, mais é mais”, e a admirável inocência dos jovens — e não falo em sentido ‘pueril’ — foi substituída por um cinismo cada vez mais doentio. A geração que desenvolvia seus músculos, ossos, e muitas vezes caráter, nas brincadeiras de rua, hoje sofre de obesidade, ansiedade crônica, problemas articulatórios precoces, temperamentalismo.

Quanto a quem não conseguiu se adaptar a essa transição, vive em crise, sem saber muito bem como viver “fora da caverna”, onde nada parece estar acontecendo. Não se trata, necessariamente, de um problema provocado pela solidão — fora da caverna, por incrível que pareça, é menos solitário do que dentro dela, apesar de parecer o contrário —, mas por uma, digamos, falta de ritmo (ou timing) para acompanhar os tempos, os costumes, da forma mais apropriada. Talvez as mudanças tenham acontecido de forma rápida demais. Os que eram bons de dança (de timing) se adaptaram com facilidade, entraram no baile, estão adorando a festa. Os que não eram, por outro lado, ficaram distribuídos entre os que se encostaram acanhados pelas paredes do baile, a observar os outros, e os que resolveram deixar a festa e voltar pra casa, onde podiam colocar em seu toca-discos uma música mais apropriada para o seu temperamento.

Eu, é claro, como bom colecionador de antagonismos, paradoxos e contradições (um homem analógico vivendo em um mundo digital), me esforço para manter “um pé nos anos 50, outro nos anos 2000”, como venho dizendo desde que comecei a usar a internet.

Confesso que não e fácil.

Créditos da imagem: Olalla Ruiz .

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Published on November 10, 2014 06:14