Denise Bottmann's Blog, page 80
March 15, 2012
o lobo do mar
e também vejo hoje que, aparentemente, a editora martin claret teve por bem substituir outra fraude descabelada por uma tradução que suponho legítima. pelo menos deu entrada à solicitação de novo registro na agência do isbn:
O lobo do mar

ISBN: 978-85-7232-848-7
TÍTULO: O lobo do mar
COLEÇÃO: A obra-prima de cada autor
VOLUME DA COLEÇÃO: 4
AUTOR: Jack London
TRADUTOR: Janaína Castilho Macoantonio
EDIÇÃO: 1
ANO DE EDIÇÃO: 2012
LOCAL DE EDIÇÃO: SÃO PAULO
TIPO DE SUPORTE: PAPEL
PÁGINAS: 220
EDITORA: MARTIN CLARET
a edição espúria, aliás, se encontra sob investigação no ministério público federal de são paulo, tendo sido determinada a instauração de um inquérito, conforme despacho que publiquei aqui e transcrevo abaixo:
reproduzo abaixo o post apontando tais irregularidades, que eu tinha publicado em 18 de março de 2009 (aqui).
mais um lobato clareteado
foi monteiro lobato quem introduziu jack london no brasil. fez as traduções de caninos brancos(1933), o lobo do mar (1934), o grito da selva (1935) e a filha da neve (1947).

o lobo do mar foi publicado pela companhia editora nacional em 1934, e nela se mantém até hoje, na enésima edição. em 1998 a martin claret abocanhou a obra, e desde então vem trapaceando o público em sucessivas edições com a tradução roubada a monteiro lobato e atribuída a "pietro nassetti".
- monteiro lobato:
CAPÍTULO 1
Não sei por onde começar, embora por brincadeira eu costume atribuir a causa de tudo a Charley Furuseth. Este amigo possuía uma casa de campo em Mill Valley, onde repousava durante os meses de inverno lendo Nietzsche e Schopenhauer; já os verões passava imerso no trabalho, a suar no tumulto da cidade. Não fosse meu costume de aparecer por lá aos sábados, ficando até a semana seguinte, e aquela manhã de janeiro não me teria pilhado a vogar na baía São Francisco. Meu barco, o "Martinez", oferecia toda a segurança; tratava-se dum barco recém-construído e ainda na sua quarta ou quinta viagem de carreira entre Sausalito e São Francisco. O que não oferecia segurança era o nevoeiro reinante, apesar de que, na minha ignorância das coisas do mar, não me passasse pela cabeça a menor idéia de perigo. Soprava uma brisa fresca e eu me sentia sozinho dentro da névoa úmida, embora com a consciência de que, lá em cima, na casa de vidro, estavam o piloto e o homem que devia ser o capitão.
Lembro-me que me pus a refletir sobre a divisão do trabalho. Graças a ela me via dispensado do estudo e conhecimento dos nevoeiros, marés e o mais relativo à navegação sempre que ia de visita a Charley Furuseth, lá do outro lado de baía. Ótimo que os homens se especializem no trabalho, ponderava eu. Os conhecimentos marítimos do capitão e do piloto, por exemplo, permitem que milhares de pessoas não pensem nisso, e uma, como eu, se dedique a estudos como aquele sobre o lugar de Poe na literatura norte-americana, que eu publiquei na Atlantic. Ao subir para bordo tinha visto, numa cabina entreaberta, um homem alentado a ler com atenção essa revista — a ler o meu ensaio. Era outra demonstração do valor da divisão do trabalho. O "conhecimento especial" do piloto e do capitão permitiam que aquele passageiro se inteirasse do meu "conhecimento especial" sobre Poe, enquanto era "navegado" com toda a segurança de São Francisco a Sausalito.
Minhas reflexões foram interrompidas pelo aparecimento no convés dum homem de cara vermelha, que ao deixar a sua cabina bateu a porta com violência e aproximou-se de mim manquitolando e martelando o chão com uma perna de pau. Isso, aliás, não impediu que eu tomasse rápida nota mental daqueles pensamentos, para pô-los num artigo que tinha em vista escrever sobre a necessidade da liberdade estética. O sujeito lançou uma olhadela para a casa do piloto e em seguida pôs-se a contemplar o nevoeiro, de pernas abertas, com visível ar de satisfação. Percebi ser homem afeito às coisas do mar.
— Tempo destes é que os põem de cabelos brancos tão cedo, murmurou, indicando com um movimento de cabeça a casa de vidro onde estavam o piloto e o capitão.
— Qual o quê! respondi na minha santa ignorância. Há a bússola para orientá-los. E há o leme que dirige o navio. E há os mapas. O negócio é simples como o abc. Tudo matemático.
— Qual o que, heim? rosnou o homem. Simples abc, heim? Certeza matemática, heim?
E cresceu para mim ao dizer isto.
— Que acha desta maré que incha todo o Golden Gate, senhor? perguntou-me quase num rugido. Com que rapidez vaza ela? Em que rumo? Vamos lá, senhor! Está ouvindo aquele som? Bóia de campainha — e mal a ouvimos já estamos sobre ela. Veja como mudam de lugar... Realmente, de dentro do nevoeiro brotava um som de campainha — o que fez o piloto dar à roda do leme com violência, até que o som, que vinha pela nossa frente, passasse a vir de lado. Enquanto isso a sereia de bordo pusera-se a apitar com a sua voz rouca, em resposta a outros apitos brotados de dentro da cerração.
— É algum "ferry-boat", explicou o homem da perna de pau, referindo-se a um apito que vinha da direita. E aquele lá, está ouvindo? Buzina! Buzina de assoprar com a boca. É o que usam nas escunas. Cuidado, mestre escuneiro! O inferno está hoje com vontade de comer gente...
O invisível "ferry-boat" apitava com furor e a buzina da escuna respondia com desespero.
— Estão agora a trocar cumprimentos e explicações, disse o homem logo que a fúria dos avisos cessou.
Seus olhos enchiam-se do brilho da excitação à medida que me ia traduzindo em língua de gente a fala daqueles instrumentos de fazer barulho no mar.
— Ouça! Aquilo é sinal para evolução à esquerda... E esse acolá, com voz de sapo, é grito de escuna a vapor que forceja contra a maré.
Um silvo fino e esganiçado rompeu à frente. Os gongos do "Martinez" soaram fazendo as rodas propulsoras afrouxarem o andamento, que só foi retomado quando aquele trilhar de grilo entre feras rugidoras se sumiu ao longe. Olhei para o meu homem, à espera de interpretação.
— Lancha, disse ele. Dessas endemoninhadas lanchas que só mesmo a gente metendo a pique. Umas pestes que vivem a causar trapalhadas. Qualquer imbecil julga-se no direito de meter-se nelas e sulcar as águas apitando com impertinência para que o mundo inteiro saiba que tais pulgas existem. E é preciso levá-las em conta. Estão no uso dum direito — direito de caminho pela superfície das águas. Direito, ah, ah!
Diverti-me com a cólera do homem, e enquanto ele andava de cá para lá, manquitolando na sua perna de pau, pus-me a refletir no romantismo da bruma.
Romantismo, sim. É romântico o nevoeiro que tudo envolve com o seu manto cinzento, de passo que os homens — meros átomos — blasfemam nos corcéis de aço flutuantes através do Mistério, às cegas dentro do Invisível, com palavras de confiança na boca e a incerteza e o medo nos corações.
A voz do meu companheiro fez-me voltar à realidade e sorrir. Eu também havia devaneado às tontas e às cegas dentro do mistério, julgando seguir caminho seguro.
— Olá! dizia ele. Vem algo ao nosso encontro, está ouvindo? Vem rápido e em linha reta. Juro que não nos percebeu ainda. Não ouve a nossa sereia. O vento está a nosso favor.
A brisa fresca soprava de frente, e pude ouvir bem nítido o silvo a que o meu homem se referia.
— "Ferry-boat"? perguntei.
O homem fez com a cabeça sinal que sim e acrescentou:
— Do contrário não viria nessa marcha. E com uma risada nervosa: — Estão assustados, lá em cima...
Olhei para a casa do piloto. O capitão, com a cabeça e ombros de fora, cravava fixamente os olhos no nevoeiro, como tentando devassá-lo à força. Suas feições mostravam ansiedade — a mesma que vi no rosto do meu companheiro, agora de bruços na amurada e também com os olhos presos no perigo invisível que se alapava dentro da névoa.
E o que tinha de dar-se, deu-se com incrível rapidez. Rompido por uma cunha, o nevoeiro mostrou a proa dum vapor a emergir franjado de espuma na linha d'água, com bigodes dum Leviatã. Pude ver a casa do piloto, com um homem de barbas brancas assomado a uma das janelas. Trajava uniforme azul, e lembro-me da impressão de calma que me deu.
Era terrível tal calma em tais circunstâncias. O homem aceitava o seu destino, avançava com ele de mãos dadas, a medir friamente o choque. Seu olhar inquisitivo fixava-se no "Martinez" como para determinar o ponto exato da colisão — e em nada se alterou quando o nosso piloto, branco de raiva, berrou-lhe: — Foi você o culpado!
A observação era por demais óbvia para tomar necessária qualquer resposta.
— Agarre-se no que puder e agüente-se! gritou-me o homem da perna de pau. Notei que a sua arrogância se dissipara e que parecia contagiado pela calma anormal do homem de barbas brancas. — E veja como as mulheres gritam, prosseguiu ele sombriamente, quase com amargura, fazendo-me crer que já havia passado por transes iguais àquele.
Os dois navios chocaram-se antes que eu pudesse seguir o seu conselho. O impacto devia ter sido no meio do "Martinez", que adernou violentamente por entre estrondos do madeirame. Vi-me lançado de borco sobre o convés alagado, e antes que pudesse erguer-me vi-me tonto pela grita das mulheres. Foi isso — esse indescritível e arrepiante uivo de pânico o que mais me apavorou. Lembrei-me do salva-vidas do meu camarote. Corri para lá. Ao alcançar a porta fui varrido por uma onda selvagem de criaturas em disparada. Não me recordo do que sucedeu logo depois, a não ser o avanço no estoque de salva-vidas, com o homem de perna de pau a atar os que podia à cintura dum bando histérico de mulheres. A memória dessa cena é mais nítida do que a de qualquer outra que me haja passado sob os olhos. Inda hoje vejo o quadro: o rombo numa cabina, através do qual a névoa revoluteava em turbilhão; divãs e poltronas esvaziados de súbito e com todos os sinais do estouro — pacotes, bolsas, guardachuvas, capas; o alentado sujeito daAtlantic, engastado num salva-vidas e ainda com a revista na mão, a perguntar-me com insistência se havia perigo; o meu companheiro da perna de pau a manquitolar por toda a parte muito seguro de si na tarefa de distribuir salva-vidas a quantos apareciam, e, finalmente, a inferneira louca do mulherio apavorado.
- pietro nassetti:
CAPÍTULO 1
Não sei por onde começar, embora por brincadeira eu costume atribuir a causa de tudo a Charley Furuseth. Este amigo possuía uma casa de campo em Mill Valley, onde descansava durante os meses de inverno lendo Nietzsche e Schopenhauer; já os verões passava imerso no trabalho, a suar no tumulto da cidade. Não fosse o meu costume de aparecer por lá aos sábados, ficando até a semana seguinte, e aquela manhã de janeiro não me teria encontrado a navegar na baía S.Francisco.
Meu barco, o "Martinez", oferecia toda a segurança; tratava-se dum barco recém-construído e ainda na sua quarta ou quinta viagem de carreira entre Sausalito e S. Francisco. O que não oferecia segurança era o nevoeiro circundante, apesar de que, na minha ignorância das coisas do mar, não me passasse pela cabeça a menor idéia de perigo. Soprava uma brisa fresca e eu me sentia sozinho dentro da névoa úmida, embora com a consciência de que, lá em cima, na casa de vidro, estavam o piloto e o homem que devia ser o capitão.
Lembro-me que me pus a pensar na divisão do trabalho. Graças a ela me via dispensado do estudo e conhecimento dos nevoeiros, marés e o mais relativo à navegação sempre que ia de visita a Charley Furuseth, lá do outro lado de baía. Ótimo que os homens se especializem no trabalho, ponderava eu. Os conhecimentos marítimos do capitão e do piloto, por exemplo, permitem que milhares de pessoas não pensem nisso, e permitem que uma, como eu, se dedique a estudos como aquele sobre o lugar de Poe na literatura norte-americana, que eu publicara na Atlantic. Ao subir a bordo eu tinha visto, numa cabina entreaberta, um homem [] a ler com atenção essa revista — a ler o meu ensaio. Era outra demonstração do valor da divisão do trabalho. O "conhecimento especial" do piloto e do capitão permitiam que aquele passageiro se inteirasse do meu "conhecimento especial" sobre Poe, enquanto era "navegado" com toda a segurança de S.Francisco a Sausalito.
Minhas reflexões foram interrompidas pelo aparecimento no convés dum homem de cara vermelha, que ao deixar a sua cabina bateu com violência a porta e aproximou-se de mimmancando e martelando o chão com uma perna-de-pau. Isso, aliás, não impediu que eu tomasse rápida nota mental daqueles pensamentos, para pô-los num artigo que tinha em vista escrever sobre a [] liberdade estética. O sujeito lançou uma olhadela para a casa do piloto e em seguida pôs-se a contemplar o nevoeiro, de pernas abertas, com visível ar de satisfação. Percebi ser homem afeito às coisas do mar.
— Tempo destes é que os põem de cabelos brancos tão cedo, murmurou, indicando com um movimento de cabeça a casa de vidro onde estavam o piloto e o capitão.
— Qual o quê! respondi na minha santa ignorância. Há a bússola para orientá-los. E há o leme que dirige o navio. E há os mapas. O negócio é simples como o abc. Tudo matemático.
— Qual o que, hein? rosnou o homem. Simples abc, hein? Certeza matemática, hein?
E veio em minha direção ao dizer isto.
— Que acha desta maré que incha todo o Golden Gate, senhor? perguntou-me quase num rugido. Com que rapidez vasa ela? Em que rumo? Vamos lá, senhor! Está ouvindo aquele som? Bóia de campainha — e mal a ouvimos já estamos sobre ela. Veja como mudam de lugar...
Realmente, de dentro do nevoeiro brotava um som de campainha — o que fez o piloto dar a roda do leme com violência, até que o som, que vinha pela nossa frente, passasse a vir de lado. Enquanto isso a sereia de bordo apitava com a sua voz rouca, em resposta a outros apitos brotados de dentro da cerração.
— É algum ferry-boat, explicou o homem da perna-de-pau, referindo-se a um apito que vinha da direita. E aquele lá, está ouvindo? Buzina! Buzina de assoprar com a boca. É o que usam nas escunas. Cuidado, mestre escuneiro! O inferno está com vontade de comer gente hoje...
O invisível ferry-boat apitava com furor e a buzina da escuna respondia com desespero.
— Estão agora trocando cumprimentos e explicações, disse o homem logo que a fúria dos avisos cessou.
Seus olhos enchiam-se do brilho da excitação à medida que me ia traduzindo em língua de gente a fala daqueles instrumentos de fazer barulho no mar.
— Ouça! Aquilo é sinal para evolução à esquerda... E este acolá, com voz de sapo, é grito de escuna a vapor que forceja contra a maré.
Um assovio fino e esganiçado rompeu à frente. Os gongos do "Martinez" soaram, fazendo as rodas propulsoras afrouxarem o andamento, que só foi retomado quando aquele trilar de grilo entre feras rugidoras se sumiu ao longe. Olhei para o meu homem, à espera de interpretação.
— Lancha, disse ele. Dessas endemoninhadas lanchas que só mesmo a gente metendo-as a pique. Umas pestes que vivem a causar trapalhadas. Qualquer imbecil julga-se no direito de meter-se nelas e sulcar as águas apitando com impertinência para que o mundo inteiro saiba que tais pulgas existem. E é preciso levá-las em conta. Estão no uso dum direito — direito de caminho pela superfície das águas. Direito, ah, ah!
Diverti-me com a cólera do homem e, enquanto ele andava de cá para lá, manquitolando na sua perna-de-pau, pus-me a refletir no romantismo da bruma.
Romantismo, sim. É romântico o nevoeiro que tudo envolve com o seu manto cinzento, de passo que os homens — meros átomos — blasfemam nos corcéis de aço flutuantes através do Mistério, às cegas dentro do Invisível, com palavras de confiança na boca e a incerteza e o medo nos corações.
A voz do meu companheiro fez-me voltar à realidade e sorrir. Eu também havia devaneado às tontas e às cegas dentro do mistério, julgando seguir caminho seguro.
— Olá! dizia ele. Vem algo ao nosso encontro, está ouvindo? Vem, rápido e em linha reta. Juro que não nos percebeu ainda. Não ouve a nossa sereia. O vento está a nosso favor.
A brisa fresca soprava de frente, e pude ouvir bem nítido o silvo a que o meu homem se referia.
— Ferry-boat? perguntei.
O homem fez sinal que sim com a cabeça; e acrescentou: "Do contrário não viria nessa marcha". E com uma risada nervosa: "Estão assustados, lá em cima..."
Olhei para a casa do piloto. O capitão, com a cabeça e ombros de fora, cravava fixamente os olhos no nevoeiro, como tentando devassá-lo à força. Suas feições mostravam ansiedade — a mesma que vi no rosto do meu companheiro, agora de bruços na amurada e também com os olhos presos no perigo invisível que se ocultava dentro da névoa.
E o que tinha de dar-se, deu-se com incrível rapidez. Rompido por uma cunha, o nevoeiro mostrou a proa dum vapor a emergir franjado de espuma na linha d'água, com os bigodes dum Leviatã. Pude ver a casa do piloto, com um homem de barbas brancas assomado a uma das janelas; trajava uniforme azul, e lembro-me da impressão de calma que me deu.
Era terrível aquela calma em tais circunstâncias. O homem aceitava o seu destino, avançava de mãos dadas com ele, a medir friamente o choque. Seu olhar inquisitivo fixava-se no "Martinez" como para determinar o ponto exato da colisão — e em nada se alterou quando o nosso piloto, branco de raiva, berrou-lhe: "Foi você o culpado!".
A observação era por demais óbvia para tomar necessária qualquer resposta.
— Agarre-se no que puder e agüente-se! gritou-me o homem da perna-de-pau. Notei que a sua arrogância se dissipara e que parecia contagiado pela calma anormal do homem de barbas brancas. "E veja como as mulheres gritam", prosseguiu ele sombriamente, quase com amargura, fazendo-me crer que já havia passado por situações iguais àquela.
Os dois navios chocaram-se antes que eu pudesse seguir o seu conselho. O impacto devia ter sido no meio do "Martinez", que tombou violentamente por entre estrondos do madeirame. Fuilançado de bruços sobre o convés alagado, e antes que pudesse erguer-me vi-me tonto pela gritaria das mulheres. Foi isso — esse indescritível e arrepiante uivo de pânico o que mais me apavorou. Lembrei-me do salva-vidas do meu camarote. Corri para lá. Ao alcançar a porta fui varrido por uma onda selvagem de criaturas em disparada. Não me recordo do que sucedeu logo depois, a não ser o avanço no sortimento de salva-vidas, com o homem de perna-de-pau a atar os que podia à cintura dum bando histérico de mulheres. A memória dessa cena é mais nítida do que a de qualquer outra que me haja passado sob os olhos. Ainda hoje vejo o quadro: o rombo numa cabina, através do qual a névoa revoluteava em turbilhão; divãs e poltronas esvaziados de súbito e com todos os sinais do "estouro" — pacotes, bolsas, guardachuvas, capas largados ali; o alentado sujeito da Atlantic, engastado num salva-vidas e ainda com a revista na mão,
a perguntar-me com insistência se havia perigo; o meu companheiro da perna-de-pau a mancar por toda parte, muito seguro de si na tarefa de distribuir salva-vidas a quantos apareciam, e, finalmente, a inferneira louca do mulherio apavorado.
à venda nos usuais amiguinhos da martin claret: fnac, martins fontes, galileu,siciliano, saraiva, cultura, submarino, travessa, americanas, leitura, da vinci,cortez etc., todos eles solidariamente responsáveis com o editor responsável pela fraude, de acordo com o art. 104, capítulo II, título VII da lei 9.610/98.
atualização em 16/2/12 - obs.: estes são apenas alguns exemplos a título ilustrativo, extraídos de um extenso cotejo feito entre as traduções, com outras traduções e com o original. veja aqui.
imagens: london.sonoma.edu; adrianapeliano.blogspot.com; missoavancine.blogspot.com; portugues.istockphoto.com
espero que a editora, quando lançar o texto legítimo, recolha o texto fraudado que está em circulação e faça um recall junto aos leitores que têm comprado tantos milhares de exemplares da edição espúria, em sucessivas reedições desde 1998.

O lobo do mar

ISBN: 978-85-7232-848-7
TÍTULO: O lobo do mar
COLEÇÃO: A obra-prima de cada autor
VOLUME DA COLEÇÃO: 4
AUTOR: Jack London
TRADUTOR: Janaína Castilho Macoantonio
EDIÇÃO: 1
ANO DE EDIÇÃO: 2012
LOCAL DE EDIÇÃO: SÃO PAULO
TIPO DE SUPORTE: PAPEL
PÁGINAS: 220
EDITORA: MARTIN CLARET
a edição espúria, aliás, se encontra sob investigação no ministério público federal de são paulo, tendo sido determinada a instauração de um inquérito, conforme despacho que publiquei aqui e transcrevo abaixo:
PORTARIA No- 694, DE 15 DE DEZEMBRO DE 2010
Representação nº 1.34.001.002410/2009-98. Assunto: PATRIMÔNIO PÚBLICO.
Notícia de publicação de traduções de obras feitas por Monteiro Lobato atribuídas a outros autores, pela Editora Martin Claret.
O Ministério Público Federal, pela Procuradora da República subscritora da presente,
CONSIDERANDO os elementos constantes do Procedimento Preparatório nº 1.34.001.002410/2009-98, em que se apura se traduções de obras feitas por Monteiro Lobato foram atribuídas a outros autores, em publicações da Editora Martin Claret;
Resolve, com fundamento no artigo 129, III da Constituição Federal, bem como artigos 6º, inciso VII, alínea "b" e 7º, inciso I, ambos da Lei Complementar nº 75/93, instaurar INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO, determinando:
a) o registro e a autuação da presente Portaria, procedendo-se às anotações de praxe;b) a comunicação à 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal - 4ª CCR, nos termos do artigo 6º, da Resolução nº 87, de 03 de agosto de 2006, do Conselho Superior do Ministério Público Federal;c) determino que os autos sejam encaminhados para o núcleo pericial para elaboração de Parecer Técnico pelo perito em Antropologia..
ADRIANA ZAWADA MELOProcuradora da República
reproduzo abaixo o post apontando tais irregularidades, que eu tinha publicado em 18 de março de 2009 (aqui).
mais um lobato clareteado
foi monteiro lobato quem introduziu jack london no brasil. fez as traduções de caninos brancos(1933), o lobo do mar (1934), o grito da selva (1935) e a filha da neve (1947).

o lobo do mar foi publicado pela companhia editora nacional em 1934, e nela se mantém até hoje, na enésima edição. em 1998 a martin claret abocanhou a obra, e desde então vem trapaceando o público em sucessivas edições com a tradução roubada a monteiro lobato e atribuída a "pietro nassetti".
- monteiro lobato:
CAPÍTULO 1
Não sei por onde começar, embora por brincadeira eu costume atribuir a causa de tudo a Charley Furuseth. Este amigo possuía uma casa de campo em Mill Valley, onde repousava durante os meses de inverno lendo Nietzsche e Schopenhauer; já os verões passava imerso no trabalho, a suar no tumulto da cidade. Não fosse meu costume de aparecer por lá aos sábados, ficando até a semana seguinte, e aquela manhã de janeiro não me teria pilhado a vogar na baía São Francisco. Meu barco, o "Martinez", oferecia toda a segurança; tratava-se dum barco recém-construído e ainda na sua quarta ou quinta viagem de carreira entre Sausalito e São Francisco. O que não oferecia segurança era o nevoeiro reinante, apesar de que, na minha ignorância das coisas do mar, não me passasse pela cabeça a menor idéia de perigo. Soprava uma brisa fresca e eu me sentia sozinho dentro da névoa úmida, embora com a consciência de que, lá em cima, na casa de vidro, estavam o piloto e o homem que devia ser o capitão.
Lembro-me que me pus a refletir sobre a divisão do trabalho. Graças a ela me via dispensado do estudo e conhecimento dos nevoeiros, marés e o mais relativo à navegação sempre que ia de visita a Charley Furuseth, lá do outro lado de baía. Ótimo que os homens se especializem no trabalho, ponderava eu. Os conhecimentos marítimos do capitão e do piloto, por exemplo, permitem que milhares de pessoas não pensem nisso, e uma, como eu, se dedique a estudos como aquele sobre o lugar de Poe na literatura norte-americana, que eu publiquei na Atlantic. Ao subir para bordo tinha visto, numa cabina entreaberta, um homem alentado a ler com atenção essa revista — a ler o meu ensaio. Era outra demonstração do valor da divisão do trabalho. O "conhecimento especial" do piloto e do capitão permitiam que aquele passageiro se inteirasse do meu "conhecimento especial" sobre Poe, enquanto era "navegado" com toda a segurança de São Francisco a Sausalito.
Minhas reflexões foram interrompidas pelo aparecimento no convés dum homem de cara vermelha, que ao deixar a sua cabina bateu a porta com violência e aproximou-se de mim manquitolando e martelando o chão com uma perna de pau. Isso, aliás, não impediu que eu tomasse rápida nota mental daqueles pensamentos, para pô-los num artigo que tinha em vista escrever sobre a necessidade da liberdade estética. O sujeito lançou uma olhadela para a casa do piloto e em seguida pôs-se a contemplar o nevoeiro, de pernas abertas, com visível ar de satisfação. Percebi ser homem afeito às coisas do mar.
— Tempo destes é que os põem de cabelos brancos tão cedo, murmurou, indicando com um movimento de cabeça a casa de vidro onde estavam o piloto e o capitão.
— Qual o quê! respondi na minha santa ignorância. Há a bússola para orientá-los. E há o leme que dirige o navio. E há os mapas. O negócio é simples como o abc. Tudo matemático.
— Qual o que, heim? rosnou o homem. Simples abc, heim? Certeza matemática, heim?
E cresceu para mim ao dizer isto.
— Que acha desta maré que incha todo o Golden Gate, senhor? perguntou-me quase num rugido. Com que rapidez vaza ela? Em que rumo? Vamos lá, senhor! Está ouvindo aquele som? Bóia de campainha — e mal a ouvimos já estamos sobre ela. Veja como mudam de lugar... Realmente, de dentro do nevoeiro brotava um som de campainha — o que fez o piloto dar à roda do leme com violência, até que o som, que vinha pela nossa frente, passasse a vir de lado. Enquanto isso a sereia de bordo pusera-se a apitar com a sua voz rouca, em resposta a outros apitos brotados de dentro da cerração.
— É algum "ferry-boat", explicou o homem da perna de pau, referindo-se a um apito que vinha da direita. E aquele lá, está ouvindo? Buzina! Buzina de assoprar com a boca. É o que usam nas escunas. Cuidado, mestre escuneiro! O inferno está hoje com vontade de comer gente...
O invisível "ferry-boat" apitava com furor e a buzina da escuna respondia com desespero.
— Estão agora a trocar cumprimentos e explicações, disse o homem logo que a fúria dos avisos cessou.
Seus olhos enchiam-se do brilho da excitação à medida que me ia traduzindo em língua de gente a fala daqueles instrumentos de fazer barulho no mar.
— Ouça! Aquilo é sinal para evolução à esquerda... E esse acolá, com voz de sapo, é grito de escuna a vapor que forceja contra a maré.
Um silvo fino e esganiçado rompeu à frente. Os gongos do "Martinez" soaram fazendo as rodas propulsoras afrouxarem o andamento, que só foi retomado quando aquele trilhar de grilo entre feras rugidoras se sumiu ao longe. Olhei para o meu homem, à espera de interpretação.
— Lancha, disse ele. Dessas endemoninhadas lanchas que só mesmo a gente metendo a pique. Umas pestes que vivem a causar trapalhadas. Qualquer imbecil julga-se no direito de meter-se nelas e sulcar as águas apitando com impertinência para que o mundo inteiro saiba que tais pulgas existem. E é preciso levá-las em conta. Estão no uso dum direito — direito de caminho pela superfície das águas. Direito, ah, ah!
Diverti-me com a cólera do homem, e enquanto ele andava de cá para lá, manquitolando na sua perna de pau, pus-me a refletir no romantismo da bruma.
Romantismo, sim. É romântico o nevoeiro que tudo envolve com o seu manto cinzento, de passo que os homens — meros átomos — blasfemam nos corcéis de aço flutuantes através do Mistério, às cegas dentro do Invisível, com palavras de confiança na boca e a incerteza e o medo nos corações.
A voz do meu companheiro fez-me voltar à realidade e sorrir. Eu também havia devaneado às tontas e às cegas dentro do mistério, julgando seguir caminho seguro.
— Olá! dizia ele. Vem algo ao nosso encontro, está ouvindo? Vem rápido e em linha reta. Juro que não nos percebeu ainda. Não ouve a nossa sereia. O vento está a nosso favor.
A brisa fresca soprava de frente, e pude ouvir bem nítido o silvo a que o meu homem se referia.
— "Ferry-boat"? perguntei.
O homem fez com a cabeça sinal que sim e acrescentou:
— Do contrário não viria nessa marcha. E com uma risada nervosa: — Estão assustados, lá em cima...
Olhei para a casa do piloto. O capitão, com a cabeça e ombros de fora, cravava fixamente os olhos no nevoeiro, como tentando devassá-lo à força. Suas feições mostravam ansiedade — a mesma que vi no rosto do meu companheiro, agora de bruços na amurada e também com os olhos presos no perigo invisível que se alapava dentro da névoa.
E o que tinha de dar-se, deu-se com incrível rapidez. Rompido por uma cunha, o nevoeiro mostrou a proa dum vapor a emergir franjado de espuma na linha d'água, com bigodes dum Leviatã. Pude ver a casa do piloto, com um homem de barbas brancas assomado a uma das janelas. Trajava uniforme azul, e lembro-me da impressão de calma que me deu.
Era terrível tal calma em tais circunstâncias. O homem aceitava o seu destino, avançava com ele de mãos dadas, a medir friamente o choque. Seu olhar inquisitivo fixava-se no "Martinez" como para determinar o ponto exato da colisão — e em nada se alterou quando o nosso piloto, branco de raiva, berrou-lhe: — Foi você o culpado!
A observação era por demais óbvia para tomar necessária qualquer resposta.
— Agarre-se no que puder e agüente-se! gritou-me o homem da perna de pau. Notei que a sua arrogância se dissipara e que parecia contagiado pela calma anormal do homem de barbas brancas. — E veja como as mulheres gritam, prosseguiu ele sombriamente, quase com amargura, fazendo-me crer que já havia passado por transes iguais àquele.
Os dois navios chocaram-se antes que eu pudesse seguir o seu conselho. O impacto devia ter sido no meio do "Martinez", que adernou violentamente por entre estrondos do madeirame. Vi-me lançado de borco sobre o convés alagado, e antes que pudesse erguer-me vi-me tonto pela grita das mulheres. Foi isso — esse indescritível e arrepiante uivo de pânico o que mais me apavorou. Lembrei-me do salva-vidas do meu camarote. Corri para lá. Ao alcançar a porta fui varrido por uma onda selvagem de criaturas em disparada. Não me recordo do que sucedeu logo depois, a não ser o avanço no estoque de salva-vidas, com o homem de perna de pau a atar os que podia à cintura dum bando histérico de mulheres. A memória dessa cena é mais nítida do que a de qualquer outra que me haja passado sob os olhos. Inda hoje vejo o quadro: o rombo numa cabina, através do qual a névoa revoluteava em turbilhão; divãs e poltronas esvaziados de súbito e com todos os sinais do estouro — pacotes, bolsas, guardachuvas, capas; o alentado sujeito daAtlantic, engastado num salva-vidas e ainda com a revista na mão, a perguntar-me com insistência se havia perigo; o meu companheiro da perna de pau a manquitolar por toda a parte muito seguro de si na tarefa de distribuir salva-vidas a quantos apareciam, e, finalmente, a inferneira louca do mulherio apavorado.
- pietro nassetti:CAPÍTULO 1
Não sei por onde começar, embora por brincadeira eu costume atribuir a causa de tudo a Charley Furuseth. Este amigo possuía uma casa de campo em Mill Valley, onde descansava durante os meses de inverno lendo Nietzsche e Schopenhauer; já os verões passava imerso no trabalho, a suar no tumulto da cidade. Não fosse o meu costume de aparecer por lá aos sábados, ficando até a semana seguinte, e aquela manhã de janeiro não me teria encontrado a navegar na baía S.Francisco.
Meu barco, o "Martinez", oferecia toda a segurança; tratava-se dum barco recém-construído e ainda na sua quarta ou quinta viagem de carreira entre Sausalito e S. Francisco. O que não oferecia segurança era o nevoeiro circundante, apesar de que, na minha ignorância das coisas do mar, não me passasse pela cabeça a menor idéia de perigo. Soprava uma brisa fresca e eu me sentia sozinho dentro da névoa úmida, embora com a consciência de que, lá em cima, na casa de vidro, estavam o piloto e o homem que devia ser o capitão.
Lembro-me que me pus a pensar na divisão do trabalho. Graças a ela me via dispensado do estudo e conhecimento dos nevoeiros, marés e o mais relativo à navegação sempre que ia de visita a Charley Furuseth, lá do outro lado de baía. Ótimo que os homens se especializem no trabalho, ponderava eu. Os conhecimentos marítimos do capitão e do piloto, por exemplo, permitem que milhares de pessoas não pensem nisso, e permitem que uma, como eu, se dedique a estudos como aquele sobre o lugar de Poe na literatura norte-americana, que eu publicara na Atlantic. Ao subir a bordo eu tinha visto, numa cabina entreaberta, um homem [] a ler com atenção essa revista — a ler o meu ensaio. Era outra demonstração do valor da divisão do trabalho. O "conhecimento especial" do piloto e do capitão permitiam que aquele passageiro se inteirasse do meu "conhecimento especial" sobre Poe, enquanto era "navegado" com toda a segurança de S.Francisco a Sausalito.
Minhas reflexões foram interrompidas pelo aparecimento no convés dum homem de cara vermelha, que ao deixar a sua cabina bateu com violência a porta e aproximou-se de mimmancando e martelando o chão com uma perna-de-pau. Isso, aliás, não impediu que eu tomasse rápida nota mental daqueles pensamentos, para pô-los num artigo que tinha em vista escrever sobre a [] liberdade estética. O sujeito lançou uma olhadela para a casa do piloto e em seguida pôs-se a contemplar o nevoeiro, de pernas abertas, com visível ar de satisfação. Percebi ser homem afeito às coisas do mar.
— Tempo destes é que os põem de cabelos brancos tão cedo, murmurou, indicando com um movimento de cabeça a casa de vidro onde estavam o piloto e o capitão.
— Qual o quê! respondi na minha santa ignorância. Há a bússola para orientá-los. E há o leme que dirige o navio. E há os mapas. O negócio é simples como o abc. Tudo matemático.
— Qual o que, hein? rosnou o homem. Simples abc, hein? Certeza matemática, hein?
E veio em minha direção ao dizer isto.
— Que acha desta maré que incha todo o Golden Gate, senhor? perguntou-me quase num rugido. Com que rapidez vasa ela? Em que rumo? Vamos lá, senhor! Está ouvindo aquele som? Bóia de campainha — e mal a ouvimos já estamos sobre ela. Veja como mudam de lugar...
Realmente, de dentro do nevoeiro brotava um som de campainha — o que fez o piloto dar a roda do leme com violência, até que o som, que vinha pela nossa frente, passasse a vir de lado. Enquanto isso a sereia de bordo apitava com a sua voz rouca, em resposta a outros apitos brotados de dentro da cerração.
— É algum ferry-boat, explicou o homem da perna-de-pau, referindo-se a um apito que vinha da direita. E aquele lá, está ouvindo? Buzina! Buzina de assoprar com a boca. É o que usam nas escunas. Cuidado, mestre escuneiro! O inferno está com vontade de comer gente hoje...
O invisível ferry-boat apitava com furor e a buzina da escuna respondia com desespero.
— Estão agora trocando cumprimentos e explicações, disse o homem logo que a fúria dos avisos cessou.
Seus olhos enchiam-se do brilho da excitação à medida que me ia traduzindo em língua de gente a fala daqueles instrumentos de fazer barulho no mar.
— Ouça! Aquilo é sinal para evolução à esquerda... E este acolá, com voz de sapo, é grito de escuna a vapor que forceja contra a maré.
Um assovio fino e esganiçado rompeu à frente. Os gongos do "Martinez" soaram, fazendo as rodas propulsoras afrouxarem o andamento, que só foi retomado quando aquele trilar de grilo entre feras rugidoras se sumiu ao longe. Olhei para o meu homem, à espera de interpretação.
— Lancha, disse ele. Dessas endemoninhadas lanchas que só mesmo a gente metendo-as a pique. Umas pestes que vivem a causar trapalhadas. Qualquer imbecil julga-se no direito de meter-se nelas e sulcar as águas apitando com impertinência para que o mundo inteiro saiba que tais pulgas existem. E é preciso levá-las em conta. Estão no uso dum direito — direito de caminho pela superfície das águas. Direito, ah, ah!
Diverti-me com a cólera do homem e, enquanto ele andava de cá para lá, manquitolando na sua perna-de-pau, pus-me a refletir no romantismo da bruma.
Romantismo, sim. É romântico o nevoeiro que tudo envolve com o seu manto cinzento, de passo que os homens — meros átomos — blasfemam nos corcéis de aço flutuantes através do Mistério, às cegas dentro do Invisível, com palavras de confiança na boca e a incerteza e o medo nos corações.
A voz do meu companheiro fez-me voltar à realidade e sorrir. Eu também havia devaneado às tontas e às cegas dentro do mistério, julgando seguir caminho seguro.
— Olá! dizia ele. Vem algo ao nosso encontro, está ouvindo? Vem, rápido e em linha reta. Juro que não nos percebeu ainda. Não ouve a nossa sereia. O vento está a nosso favor.
A brisa fresca soprava de frente, e pude ouvir bem nítido o silvo a que o meu homem se referia.
— Ferry-boat? perguntei.
O homem fez sinal que sim com a cabeça; e acrescentou: "Do contrário não viria nessa marcha". E com uma risada nervosa: "Estão assustados, lá em cima..."
Olhei para a casa do piloto. O capitão, com a cabeça e ombros de fora, cravava fixamente os olhos no nevoeiro, como tentando devassá-lo à força. Suas feições mostravam ansiedade — a mesma que vi no rosto do meu companheiro, agora de bruços na amurada e também com os olhos presos no perigo invisível que se ocultava dentro da névoa.
E o que tinha de dar-se, deu-se com incrível rapidez. Rompido por uma cunha, o nevoeiro mostrou a proa dum vapor a emergir franjado de espuma na linha d'água, com os bigodes dum Leviatã. Pude ver a casa do piloto, com um homem de barbas brancas assomado a uma das janelas; trajava uniforme azul, e lembro-me da impressão de calma que me deu.
Era terrível aquela calma em tais circunstâncias. O homem aceitava o seu destino, avançava de mãos dadas com ele, a medir friamente o choque. Seu olhar inquisitivo fixava-se no "Martinez" como para determinar o ponto exato da colisão — e em nada se alterou quando o nosso piloto, branco de raiva, berrou-lhe: "Foi você o culpado!".
A observação era por demais óbvia para tomar necessária qualquer resposta.
— Agarre-se no que puder e agüente-se! gritou-me o homem da perna-de-pau. Notei que a sua arrogância se dissipara e que parecia contagiado pela calma anormal do homem de barbas brancas. "E veja como as mulheres gritam", prosseguiu ele sombriamente, quase com amargura, fazendo-me crer que já havia passado por situações iguais àquela.
Os dois navios chocaram-se antes que eu pudesse seguir o seu conselho. O impacto devia ter sido no meio do "Martinez", que tombou violentamente por entre estrondos do madeirame. Fuilançado de bruços sobre o convés alagado, e antes que pudesse erguer-me vi-me tonto pela gritaria das mulheres. Foi isso — esse indescritível e arrepiante uivo de pânico o que mais me apavorou. Lembrei-me do salva-vidas do meu camarote. Corri para lá. Ao alcançar a porta fui varrido por uma onda selvagem de criaturas em disparada. Não me recordo do que sucedeu logo depois, a não ser o avanço no sortimento de salva-vidas, com o homem de perna-de-pau a atar os que podia à cintura dum bando histérico de mulheres. A memória dessa cena é mais nítida do que a de qualquer outra que me haja passado sob os olhos. Ainda hoje vejo o quadro: o rombo numa cabina, através do qual a névoa revoluteava em turbilhão; divãs e poltronas esvaziados de súbito e com todos os sinais do "estouro" — pacotes, bolsas, guardachuvas, capas largados ali; o alentado sujeito da Atlantic, engastado num salva-vidas e ainda com a revista na mão,
a perguntar-me com insistência se havia perigo; o meu companheiro da perna-de-pau a mancar por toda parte, muito seguro de si na tarefa de distribuir salva-vidas a quantos apareciam, e, finalmente, a inferneira louca do mulherio apavorado.à venda nos usuais amiguinhos da martin claret: fnac, martins fontes, galileu,siciliano, saraiva, cultura, submarino, travessa, americanas, leitura, da vinci,cortez etc., todos eles solidariamente responsáveis com o editor responsável pela fraude, de acordo com o art. 104, capítulo II, título VII da lei 9.610/98.
atualização em 16/2/12 - obs.: estes são apenas alguns exemplos a título ilustrativo, extraídos de um extenso cotejo feito entre as traduções, com outras traduções e com o original. veja aqui.
imagens: london.sonoma.edu; adrianapeliano.blogspot.com; missoavancine.blogspot.com; portugues.istockphoto.com
espero que a editora, quando lançar o texto legítimo, recolha o texto fraudado que está em circulação e faça um recall junto aos leitores que têm comprado tantos milhares de exemplares da edição espúria, em sucessivas reedições desde 1998.
Published on March 15, 2012 19:43
caninos brancos
reproduzo abaixo um post que eu tinha publicado em 31 de janeiro de 2009 (aqui).
vejo hoje que, aparentemente, a editora martin claret teve por bem substituir essa fraude descabelada por uma tradução que suponho legítima. pelo menos deu entrada à solicitação de novo registro na agência do isbn:
Caninos brancos

ISBN: 978-85-7232-847-0
TÍTULO: Caninos brancos
COLEÇÃO: A obra-prima de cada autor
VOLUME DA COLEÇÃO: 38
AUTOR: Jack London
TRADUTOR: Marcelo Albuquerque
EDIÇÃO: 1
ANO DE EDIÇÃO: 2012
LOCAL DE EDIÇÃO: SÃO PAULO
TIPO DE SUPORTE: PAPEL
PÁGINAS: 190
EDITORA: MARTIN CLARET
espero que a editora, quando lançar o texto legítimo, recolha o texto fraudado que está em circulação e faça um recall junto aos leitores que têm comprado tantos milhares de exemplares da edição espúria, em sucessivas reedições desde 2001.
jack london na claret
mais um cotejo que estava no fundo do baú: jack london, white fang.
caninos brancos teve várias traduções no brasil, desde a primeira feita por monteiro lobato até a mais recente de rosaura eichenberg.
a insaciável claret recorreu ao infatigável nassetti, garfando a tradução portuguesa de olinda gomes fernandes, pela editora civilização, porto, 1969. a tradução de olinda traz o nome de colmilhos brancos, mas a inclemente claret preferiu a forma consagrada no brasil, caninos brancos mesmo.
este plágio traz as substituições habituais na claret - alterações cosméticas da primeira frase; troca de termos menos usuais, como "arrostar" por "enfrentar", "cabedal" por "couro macio", "terra ártica" por "terra do pólo norte" e assim por diante.
Capítulo I.
- civilização:
[...] Um vento recente arrancara às árvores o seu manto de geada, e elas pareciam inclinar-se umas para as outras, negras e agoirentas, na luz agonizante. Reinava sobre a paisagem um silêncio imenso. Aquela região era desolada, sem vida, sem movimento, tão só e gelada que a palavra tristeza não chegava para a descrever. Havia nela uma sugestão de riso, mas de um riso mais terrível que qualquer tristeza - um riso sem alegria, como o sorriso da esfinge, um riso frio como o gelo e com algo do horror da infalibilidade. Era a sabedoria despótica e incomunicável do riso eterno perante a futilidade e os esforços da vida. Era a terra árctica, agreste e gelada. (olinda gomes fernandes)
- claret:
[...] Um vento recente arrancara às árvores o seu manto de geada, e elas pareciam inclinar-se umas para as outras, negras e agourentas, na luz agonizante. Reinava sobre a paisagem um silêncio imenso. Aquela região era desolada, sem vida, sem movimento, tão só e gelada que a palavra tristeza não era suficiente para a descrever. Havia nela uma sugestão de riso, mas de um riso mais terrível que qualquer tristeza - um riso sem alegria, como o sorriso da esfinge, um riso frio como o gelo e com algo do horror da infalibilidade. Era a sabedoria despótica e incomunicável do riso eterno perante a futilidade e as agruras da vida. Era a terra do pólo Norte, agreste e gelada. (pietro nassetti)
Capítulo III
- civilização:
[...] Henry sentou-se no trenó e ficou a observar. Não podia fazer mais nada, já perdera de vista o companheiro; mas, de vez em quando, aparecendo e desaparecendo por entre os grupos isolados de árvores, lobrigava o Desorelhado. Calculou que o cão estava perdido. Dir-se-ia que o próprio animal tinha consciência do perigo em que se encontrava, mas corria traçando um extenso círcuo exterior, enquanto a alcateia de lobos se movimentava num círculo interior e mais acanhado. Tornava-se fútil admitir a possibilidade de o cão ultrapassar o círculo formado pelos seus perseguidores e conseguir alcançar o trenó. (olinda gomes fernandes)
- claret:
[...] Henry sentou-se no trenó e ficou a observar. Não podia fazer mais nada, já perdera de vista o companheiro; mas, de vez em quando, aparecendo e desaparecendo por entre os grupos isolados de árvores, lobrigava o Desorelhado. Calculou que o cão estava perdido. Dir-se-ia que o próprio animal tinha consciência do perigo em que se encontrava, mas corria traçando um extenso círcuo exterior, enquanto a alcatéia de lobos se movimentava num círculo interior e mais acanhado. Tornava-se fútil admitir a possibilidade de o cão ultrapassar o círculo formado pelos seus perseguidores e conseguir alcançar o trenó. (pietro nassetti)
Último capítulo
- civilização:
[...] A este não se podia censurar o seu juízo errado. Passara toda a vida a tratar seres humanos, produtos de uma civilização que os enfraquecera, que levavam vida fácil e descendiam de muitas gerações criadas de igual modo. Comparados com Colmilhos Brancos, não passavam de entes frágeis e débeis, incapazes de se agarrarem à vida com força suficiente. Ele vinha directamente da selva; no meio onde se criara, os fracos não subsistem; e não havia quaisquer contemplações. (olinda gomes fernandes)
- claret:
[...] A este não se podia censurar o seu juízo errado. Passara toda a vida a tratar seres humanos, produtos de uma civilização que os enfraquecera, que levavam vida fácil e descendiam de muitas gerações criadas de igual modo. Comparados com Caninos Brancos, não passavam de entes frágeis e débeis, incapazes de se agarrarem à vida com força suficiente. Ele vinha diretamente da selva; no meio onde se criara, os fracos não subsistem; e não havia quaisquer contemplações. (pietro nassetti)
em tempo: outra coisa absolutamente obrigatória nos livros é a ficha catalográfica. esqueci de comentar que a claret não é dada a tais vezos, sequer a colocar o nome original da obra na página de créditos.
em compensação, ela nunca se esquece de especificar "copyright desta tradução: editora martin claret, ano tal", nem de estampar cinicamente, na primeira página, o soturno selo da abdr: "cópia não autorizada é crime: respeite o direito autoral".atualização em 16/2/12 - obs.: estes são apenas alguns exemplos a título ilustrativo, extraídos de um extenso cotejo feito entre as traduções, com outras traduções e com o original. veja aqui.
imagens: capa ed. civilização, 1969; selo da abdr
Published on March 15, 2012 19:12
decisão da fbn sobre as fraudes no cadastro nacional
finalmente o site da fbn publicou, aqui, a decisão da presidência da fundação biblioteca nacional e o parecer da comissão cipe diante das denúncias de irregularidades em obras inscritas no cadastro nacional de livros de baixo preço, para aquisição de 2.700 bibliotecas públicas do país. os dois documentos se encontram respectivamente aqui e aqui.
resumidamente, a decisão da fbn foi encaminhar ofício ao ministério público federal, solicitando uma investigação "quanto a possíveis indícios de traduções plagiadas ou mesmo falsas atribuições de autoria em obras da editora martin claret, que foram inseridas no cadastro nacional de livros de baixo preço".
acompanhe esse imbróglio aqui.
Published on March 15, 2012 16:51
March 14, 2012
stepantchikov
I.
elias davidovich, calvino filho, 1933:

reeditado pela global em 1984 com o título de o vilarejo:

II.
"a aldeia de stepantchikovo e seus moradores" está incluído no volume noites brancas e outras histórias, olívia krähenbühl, josé olympio, 1960:
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III.
"a granja de stiepantchikovo" está incluído no vol. I da obra completa, natália nunes e oscar mendes, aguilar, 1963:

IV.
klara gouriánova, nova alexandria, 2001:

V.
a editora 34 está com lançamento previsto ainda este ano de o vilarejo de stiepantchikov e seus habitantes, em tradução de lucas simone.
acompanhe a pesquisa sobre as traduções de dostoiévski no brasil aqui.

elias davidovich, calvino filho, 1933:

reeditado pela global em 1984 com o título de o vilarejo:

II.
"a aldeia de stepantchikovo e seus moradores" está incluído no volume noites brancas e outras histórias, olívia krähenbühl, josé olympio, 1960:
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III.
"a granja de stiepantchikovo" está incluído no vol. I da obra completa, natália nunes e oscar mendes, aguilar, 1963:

IV.
klara gouriánova, nova alexandria, 2001:

V.
a editora 34 está com lançamento previsto ainda este ano de o vilarejo de stiepantchikov e seus habitantes, em tradução de lucas simone.
acompanhe a pesquisa sobre as traduções de dostoiévski no brasil aqui.
Published on March 14, 2012 19:15
os possessos/os demônios
agora um levantamento mais simples, com quatro traduções no brasil.
I. muito provavelmente pelo francês (les possédés):
Autor: Dostoievski, Fiodor, 1821-1881.
Título / Barra de autoria:Os possessos.
Imprenta:Rio de Janeiro, Ed. Panamericana, [1943?].
Descrição física:539 p.
Notas:Registro Pré-MARC
Entradas secundárias:Rodrigues, Augusto, trad.
Classificação Dewey:
Edição:891.73
Indicação do Catálogo:I-246,7,22
II.
em 1951, sai a tradução de rachel de queiroz, os demônios, em três volumes, pela josé olympio (pelo francês):

III. em 1963, a tradução de natália nunes (e oscar mendes) pela aguilar, no vol. 3 da obra completa (pelo inglês):

IV. em 2004, sai a tradução de paulo bezerra, a única direta do russo, pela ed. 34:

há quem fale em os possuídos - talvez tendo em mente o inglês the possessed ou mesmo o francês les possédés -, mas não encontrei nenhuma edição com esse título.
acompanhe a pesquisa sobre as traduções de dostoiévski no brasil aqui.

I. muito provavelmente pelo francês (les possédés):
Autor: Dostoievski, Fiodor, 1821-1881.
Título / Barra de autoria:Os possessos.
Imprenta:Rio de Janeiro, Ed. Panamericana, [1943?].
Descrição física:539 p.
Notas:Registro Pré-MARC
Entradas secundárias:Rodrigues, Augusto, trad.
Classificação Dewey:
Edição:891.73
Indicação do Catálogo:I-246,7,22
II.
em 1951, sai a tradução de rachel de queiroz, os demônios, em três volumes, pela josé olympio (pelo francês):

III. em 1963, a tradução de natália nunes (e oscar mendes) pela aguilar, no vol. 3 da obra completa (pelo inglês):

IV. em 2004, sai a tradução de paulo bezerra, a única direta do russo, pela ed. 34:

há quem fale em os possuídos - talvez tendo em mente o inglês the possessed ou mesmo o francês les possédés -, mas não encontrei nenhuma edição com esse título.
acompanhe a pesquisa sobre as traduções de dostoiévski no brasil aqui.
Published on March 14, 2012 16:39
o/um jogador
essa novela de dostoiévski é dificilzinha de rastrear. entre as novelas dele, deve ser a mais conhecida entre nós. com dez, doze, catorze traduções, nem isso dá para saber com certeza.
I.
bom, comecemos pelo arrojado e idealista russo iúri zéltzov, que achava mais bonito se assinar georges selzoff (veja aqui) e criou a superartesanal "bibliotheca de auctores russos", num estilo de tradução pra lá de simpático: ia lendo e traduzindo na hora o texto russo em seu português estropiado, enquanto brito broca e orígines lessa, jovenzinhos, iam botando num português que prestasse. ele publicou um jogador nessas condições em 1931:

não sei bem como era a relação entre a coleção artesanal georges selzoff e a editora cultura: se era dele, se era uma sociedade ou o quê, mas sua tradução está ali também, e também em 1931:

o subtítulo adotado foi (das notas de um rapaz) igrok
II. em 1943, otto schneider tem sua tradução publicada pela pan-americana:

III.
aí vem costa neves, pela josé olympio, em 1944 (abaixo, capas de 1944 e de 1951):

com o subtítulo de (notas de um jovem)

em 1954, o subítulo é alterado para (das memórias de um jovem)
IV.
em 1946, sai uma edição pelo clube do livro em 1946, mas não localizei o nome do tradutor: cabe lembrar que o clube do livro não era muito afeito a publicar traduções próprias. gostava muito de pegar traduções alheias e publicar sem os créditos ou tascando algum crédito indevido. aqui, capa da edição de 1954:

V.
esta é um mistério. mas está lá em nosso acervo na biblioteca nacional:
Autor: Dostoievskii, Fedor Mikhailovich, 1821-1881.
Título / Barra de autoria:O jogador.
Imprenta:Rio, Ed. G. Carneiro [1953].
Descrição física:132 p.
Notas:Registro Pré-MARC
Classificação Dewey:
Edição:890
Indicação do Catálogo:II-401,1,21
VI.
em 1960, a josé olympio substitui a tradução de costa neves por uma tradução direta do russo, feita por boris schnaiderman:

o subtítulo adotado é (apontamentos de um homem moço). a tradução revista será reeditada em 2004 pela editora 34:
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VII.
a tradução de natália nunes (e oscar mendes), de 1963:
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que a nova aguilar sabiamente publica em 1976 em volume separado, acrescido de noites brancas (aliás, devia fazer isso com toda a sua obra completa de dostoiévski):

VIII.
outra meio misteriosa, pela bloch edições, sem data (mas, pela capa, parece dos anos 60). não descobri o nome do tradutor:

nosso acervo na bn também possui um exemplar dessa edição:
Autor: Dostoievskii, Fedor Mikhailovich, 1821-1881.
Título / Barra de autoria:O jogador.
Imprenta:[Rio de Janeiro] Bloch [s.d.]
Descrição física:171 p.
Notas:Registro Pré-MARC
Classificação Dewey:
Edição:891.73
Indicação do Catálogo:II-193,3,43
interpolação:
a editora 3 costumava licenciar traduções (tenho o palpite de que é a de otto schneider), 1974:

IX.
a tradução de moacyr werneck de castro sai pela civilização brasileira em 1976:

traz o subtítulo de (do diário de um jovem) civilização, 1976
essa tradução é licenciada para a bertrand brasil algumas vezes desde 1986:

X.
pelo clube do livro sai uma tradução de tadeu louzado em 1986:
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XI.
uma tradução de pedro gambarra sai nos anos 80 pela graphos, aqui em capa de 2004, na coleção clássicos gamma:

XII.
em 1998, sai a tradução de roberto gomes pela l&pm:

traz o subtítulo de (do diário de um jovem)
XIII.
esta aqui é um mistério. consegui apenas a imagem de capa; não localizei editora, ano, tradutor, nada. parece revistinha de banca de jornal.

XIV.
em 2000, a editora martin claret lança mais uma de suas pretensas traduções em nome de pietro nassetti. o exemplar em nosso acervo da biblioteca nacional é de 2006.
Autor:Dostoievski, Fiodor,
1821-1881.
Título / Barra de autoria:O jogador / Dostoiévski ; tradução: Pietro Nassetti. -
Imprenta:São Paulo : M. Claret, 2006.
Descrição física:173p. ; 19cm. -
Série:(A obra-prima de cada autor ; 31)
Notas:Tradução do original em russo.
ISBN:8572322973 (broch.)
Assuntos:Ficção russa.
Entradas secundárias:Nassetti, Pietro.
Classificação Dewey:
Edição:891.73
22
Indicação do Catálogo:VI-411,5,32
Registro Patrimonial:1.135.521 DL 08/03/2006
Sigla do Acervo:DRG
XV.
finalizando, algo totalmente obscuro: uma menção passageira a o jogador pela ordipra: sem ano, sem nada. vai saber... em todo caso, fica o registro.
se localizar maiores informações, acrescentarei.
acompanhe a pesquisa sobre as traduções de dostoiévski no brasil aqui.

I.
bom, comecemos pelo arrojado e idealista russo iúri zéltzov, que achava mais bonito se assinar georges selzoff (veja aqui) e criou a superartesanal "bibliotheca de auctores russos", num estilo de tradução pra lá de simpático: ia lendo e traduzindo na hora o texto russo em seu português estropiado, enquanto brito broca e orígines lessa, jovenzinhos, iam botando num português que prestasse. ele publicou um jogador nessas condições em 1931:

não sei bem como era a relação entre a coleção artesanal georges selzoff e a editora cultura: se era dele, se era uma sociedade ou o quê, mas sua tradução está ali também, e também em 1931:

o subtítulo adotado foi (das notas de um rapaz) igrok
II. em 1943, otto schneider tem sua tradução publicada pela pan-americana:

III.
aí vem costa neves, pela josé olympio, em 1944 (abaixo, capas de 1944 e de 1951):

com o subtítulo de (notas de um jovem)

em 1954, o subítulo é alterado para (das memórias de um jovem)
IV.
em 1946, sai uma edição pelo clube do livro em 1946, mas não localizei o nome do tradutor: cabe lembrar que o clube do livro não era muito afeito a publicar traduções próprias. gostava muito de pegar traduções alheias e publicar sem os créditos ou tascando algum crédito indevido. aqui, capa da edição de 1954:

V.
esta é um mistério. mas está lá em nosso acervo na biblioteca nacional:
Autor: Dostoievskii, Fedor Mikhailovich, 1821-1881.
Título / Barra de autoria:O jogador.
Imprenta:Rio, Ed. G. Carneiro [1953].
Descrição física:132 p.
Notas:Registro Pré-MARC
Classificação Dewey:
Edição:890
Indicação do Catálogo:II-401,1,21
VI.
em 1960, a josé olympio substitui a tradução de costa neves por uma tradução direta do russo, feita por boris schnaiderman:

o subtítulo adotado é (apontamentos de um homem moço). a tradução revista será reeditada em 2004 pela editora 34:
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VII.
a tradução de natália nunes (e oscar mendes), de 1963:
[image error]
que a nova aguilar sabiamente publica em 1976 em volume separado, acrescido de noites brancas (aliás, devia fazer isso com toda a sua obra completa de dostoiévski):

VIII.
outra meio misteriosa, pela bloch edições, sem data (mas, pela capa, parece dos anos 60). não descobri o nome do tradutor:

nosso acervo na bn também possui um exemplar dessa edição:
Autor: Dostoievskii, Fedor Mikhailovich, 1821-1881.
Título / Barra de autoria:O jogador.
Imprenta:[Rio de Janeiro] Bloch [s.d.]
Descrição física:171 p.
Notas:Registro Pré-MARC
Classificação Dewey:
Edição:891.73
Indicação do Catálogo:II-193,3,43
interpolação:
a editora 3 costumava licenciar traduções (tenho o palpite de que é a de otto schneider), 1974:

IX.
a tradução de moacyr werneck de castro sai pela civilização brasileira em 1976:

traz o subtítulo de (do diário de um jovem) civilização, 1976
essa tradução é licenciada para a bertrand brasil algumas vezes desde 1986:

X.
pelo clube do livro sai uma tradução de tadeu louzado em 1986:
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XI.
uma tradução de pedro gambarra sai nos anos 80 pela graphos, aqui em capa de 2004, na coleção clássicos gamma:

XII.
em 1998, sai a tradução de roberto gomes pela l&pm:

traz o subtítulo de (do diário de um jovem)
XIII.
esta aqui é um mistério. consegui apenas a imagem de capa; não localizei editora, ano, tradutor, nada. parece revistinha de banca de jornal.

XIV.
em 2000, a editora martin claret lança mais uma de suas pretensas traduções em nome de pietro nassetti. o exemplar em nosso acervo da biblioteca nacional é de 2006.
Autor:Dostoievski, Fiodor,
1821-1881.Título / Barra de autoria:O jogador / Dostoiévski ; tradução: Pietro Nassetti. -
Imprenta:São Paulo : M. Claret, 2006.
Descrição física:173p. ; 19cm. -
Série:(A obra-prima de cada autor ; 31)
Notas:Tradução do original em russo.
ISBN:8572322973 (broch.)
Assuntos:Ficção russa.
Entradas secundárias:Nassetti, Pietro.
Classificação Dewey:
Edição:891.73
22
Indicação do Catálogo:VI-411,5,32
Registro Patrimonial:1.135.521 DL 08/03/2006
Sigla do Acervo:DRG
XV.
finalizando, algo totalmente obscuro: uma menção passageira a o jogador pela ordipra: sem ano, sem nada. vai saber... em todo caso, fica o registro.
se localizar maiores informações, acrescentarei.
acompanhe a pesquisa sobre as traduções de dostoiévski no brasil aqui.
Published on March 14, 2012 15:32
March 13, 2012
o idiota
a primeira das quatro traduções desta obra entre nós sai com o título de o príncipe idiota:

dermeval café e oswaldo castro, waissman, reis & cia., 1931 (pelo francês)
então segue-se:

josé geraldo vieira, josé olympio, 1949 (indireta, mas não sei a língua de interposição)
(aqui na capa de 1955)
depois vem:

natália nunes e oscar mendes, aguilar, 1963 (pelo inglês)
por alguma razão misteriosa, desde 1967 a tecnoprint/ediouro publica essa tradução apenas em nome de oscar mendes:
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passados quase quarenta anos, temos:

paulo bezerra, ed. 34, 2002 (direto do russo)
acompanhe a pesquisa sobre as traduções de dostoiévski no brasil aqui.


dermeval café e oswaldo castro, waissman, reis & cia., 1931 (pelo francês)
então segue-se:

josé geraldo vieira, josé olympio, 1949 (indireta, mas não sei a língua de interposição)
(aqui na capa de 1955)
depois vem:

natália nunes e oscar mendes, aguilar, 1963 (pelo inglês)
por alguma razão misteriosa, desde 1967 a tecnoprint/ediouro publica essa tradução apenas em nome de oscar mendes:
[image error]
passados quase quarenta anos, temos:

paulo bezerra, ed. 34, 2002 (direto do russo)
acompanhe a pesquisa sobre as traduções de dostoiévski no brasil aqui.
Published on March 13, 2012 17:22
(n.t.) revista literária em tradução
que maravilha, saiu mais um número da (n.t.) revista literária em tradução, trabalho incrível mantido e desenvolvido por gleiton lentz.
este número, entre várias coisas magníficas, traz o último conto que edgar allan poe publicou em vida, "von kempelen and his discovery", que era inédito entre nós. com isso, fica completa a poeana de ficção no brasil.
http://www.calameo.com/read/00026024524903193dea2
este número, entre várias coisas magníficas, traz o último conto que edgar allan poe publicou em vida, "von kempelen and his discovery", que era inédito entre nós. com isso, fica completa a poeana de ficção no brasil.
http://www.calameo.com/read/00026024524903193dea2
Published on March 13, 2012 11:39
March 12, 2012
casa dos mortos
localizei sete traduções diferentes desta obra de dostoiévski no brasil. são elas, por data da primeira edição:
fernão neves (pseud. de fernando nery), livraria castilho, 1922

antônio de oliveira garcia, livraria martins, 1942
(em 2 vols.; aqui, capa da edição de 1944)

rachel de queiroz, josé olympio, 1945
(aqui, capa da 3a. ed., 1952)

[image error] josé geraldo vieira, saraiva, 1949.
é reeditada pela francisco alves em 1982.
(e em 2006 pela martin claret, mas não sei dizer se é contrafação ou não)
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natália nunes e oscar mendes, aguilar, 1963

é licenciada para a l&pm em 2008
[image error]
fernanda pinto rodrigues, edibolso, 1978
[image error]
nicolau s. peticov, nova alexandria, 2006
pessoalmente, acho meio exagerado sete traduções diferentes em noventa anos, mas é interessante notar a frequência e os intervalos entre elas. naturalmente, algumas têm reedições sucessivas e são licenciadas para outras editoras, de forma que sempre há uma ou mais traduções disponíveis na praça (mesmo que três delas tenham praticamente caído no esquecimento - fernão neves; oliveira garcia; f. pinto rodrigues). veja-se:
entre a primeira e a segunda tradução passam-se vinte anos;
aí, numa mesma década (40), vêm três traduções de roldão;
passam-se catorze anos;
depois, quinze;
e então 28 anos.
acompanhe a pesquisa sobre as traduções de dostoiévski no brasil aqui.

fernão neves (pseud. de fernando nery), livraria castilho, 1922

antônio de oliveira garcia, livraria martins, 1942
(em 2 vols.; aqui, capa da edição de 1944)

rachel de queiroz, josé olympio, 1945
(aqui, capa da 3a. ed., 1952)

[image error] josé geraldo vieira, saraiva, 1949.
é reeditada pela francisco alves em 1982.
(e em 2006 pela martin claret, mas não sei dizer se é contrafação ou não)
[image error]
natália nunes e oscar mendes, aguilar, 1963

é licenciada para a l&pm em 2008
[image error]
fernanda pinto rodrigues, edibolso, 1978
[image error]
nicolau s. peticov, nova alexandria, 2006
pessoalmente, acho meio exagerado sete traduções diferentes em noventa anos, mas é interessante notar a frequência e os intervalos entre elas. naturalmente, algumas têm reedições sucessivas e são licenciadas para outras editoras, de forma que sempre há uma ou mais traduções disponíveis na praça (mesmo que três delas tenham praticamente caído no esquecimento - fernão neves; oliveira garcia; f. pinto rodrigues). veja-se:
entre a primeira e a segunda tradução passam-se vinte anos;
aí, numa mesma década (40), vêm três traduções de roldão;
passam-se catorze anos;
depois, quinze;
e então 28 anos.
acompanhe a pesquisa sobre as traduções de dostoiévski no brasil aqui.
Published on March 12, 2012 18:52
seis por três ou quatro
a leya, que em 2010 já andou dando umas sapecadas numa tradução portuguesa da guerra dos tronos e não agradou nem a gregos nem a troianos, parece que está tentando se esmerar.
a novidade agora é o circo do dr. lao, na tradução de donaldson garschagen que tinha saído pela francisco alves em 1979 e que a leya relançou no segundo semestre de 2011:

francisco alves, 1979 leya, 2011
não li, não vi, não conheço, mas sou fã do alfredo monte, que considero o melhor crítico literário brasileiro em atividade, o mais lido, o mais arguto, o mais antenado, o menos ingênuo, menos deslumbrado e menos embeiçado por falatórios teóricos tão vicejantes na contemporaneidade, um autêntico, leal, fiel, verdadeiro amante e conhecedor de literatura, alta, média e popular, capaz de juízos maravilhosamente independentes e bem fundamentados. se ele diz, tem meu maior crédito de confiança. e, neste caso, eis o que ele diz:
aqui o artigo de alfredo monte na íntegra. bom, a notinha [3] é que interessa. tem lá:
naturalmente ganham a parada os bandoleiros em substituição às bandeirolas e as orelhas afiadas em substituição às orelhas afiladas, e sempre vai ter alguém desconversando e dizendo que foi uma mera, pequena, insignificante distração. mas além dos absurdos, distraídos ou não, existem coisas ridículas, e o que não é ridículo é simplesmente pífio. o revisor que fez o serviço deve ter alguma ótima explicação que nos esclareça por que, afinal, "temperatura abrasante" há de ser melhor do que "calor abrasante", e por que um urso que "parece um homem" há de ser melhor do que um urso que "parece gente". que a leya sapateie em cima da tradução de garschagen me parece um típico exemplo do descerebramento que anda acometendo muitas editoras por aí.
escrevi ao donaldson comentando essas ridicularias. começava que ele nem sabia que a leya tinha publicado sua tradução. aí, se foi a francisco alves que cedeu, qual era o contrato do tradutor com a editora, são outros quinhentos, e é um assunto entre as partes - mas, para a obra e o leitor, uma coisa dessas dá dó, ah, se dá.

a novidade agora é o circo do dr. lao, na tradução de donaldson garschagen que tinha saído pela francisco alves em 1979 e que a leya relançou no segundo semestre de 2011:

francisco alves, 1979 leya, 2011
não li, não vi, não conheço, mas sou fã do alfredo monte, que considero o melhor crítico literário brasileiro em atividade, o mais lido, o mais arguto, o mais antenado, o menos ingênuo, menos deslumbrado e menos embeiçado por falatórios teóricos tão vicejantes na contemporaneidade, um autêntico, leal, fiel, verdadeiro amante e conhecedor de literatura, alta, média e popular, capaz de juízos maravilhosamente independentes e bem fundamentados. se ele diz, tem meu maior crédito de confiança. e, neste caso, eis o que ele diz:
O romance que o originou, O circo do doutor Lao (The Circus of Dr. Lao, 1935; a tradução que utilizo, de Donaldson M. Garschagen, havia sido publicada em 1979 pela Francisco Alves com o título semelhante ao filme, e agora reaparece, bastante revisada, pela Leya, com o título original e adequado [3]), escrito por Charles G. Finney, é de uma atordoante originalidade.
aqui o artigo de alfredo monte na íntegra. bom, a notinha [3] é que interessa. tem lá:
[3] Sou muito devedor à coleção a que pertencia essa tradução da Francisco Alves, "Mundo Fantástico", que me deu acesso a vários títulos imperdíveis. E pelo meu ponto de vista a maioria das modificações na versão atual da tradução de Garschagen foi para pior.
Alguns exemplos (os da edição de 1979 estão à esquerda; os da atual estão à direita da barra de separação):
"em tom bombástico" / "com floreio"
"aeroplano"/ "avião"
"nenhum homem mediano"/ "nenhum homem comum"
"para propiciar essa deidade, ainda mais antiga que Bel-Marduk"/ "para satisfazer essa deidade, ainda mais antiga que Bel-Marduk"
"o circo estaria franqueado ao público"/ "o circo estaria aberto ao público"
"a função noturna"/ "a apresentação noturna"
"quem foi o corretor" [do anúncio no jornal]/ "quem foi que vendeu o espaço para o anúncio"
"Disse que poderíamos escolher o tipo que quiséssemos"/ "Disse que poderíamos escolher a tipologia que quiséssemos"
"apanhei o dinheiro e a matéria"/ "apanhei o dinheiro e o anúncio"
"As definições deixaram-na mais esclarecida, porém mais triste"/ "As definições foram esclarecedoras, porém deixaram-na triste"
"uma visão fugaz através de um orifício"/ "uma visão fugaz através de um olho mágico"
"essa dureza"/ "essa penúria"
"sua carnadura"/ "sua carne"
"uma rainha da tela"/ "uma rainha do cinema"
"o emprego parcimonioso do grifo"/ "o emprego parcimonioso do itálico"
"atirada fora"/ "atirada ao chão"
"olhadela na parada"/ "olhadela no desfile"
"então deve ser um aleijão"/ "então deve ser um aleijão ou algo desse tipo"
"estou dizendo que tenho olhos"/ "estou dizendo que tenho bons olhos"
"saiu do restaurante para a rua"/ "saiu do restaurante em direção à rua principal"
"o que há com seus olhos?"/ "o que há de errado com seus olhos?"
"as pessoas estão começando a olhar para você, rindo"/ "as pessoas estão começando a olhar para você, com todo esse riso"
"subiram para o velho automóvel"/ "entraram no velho automóvel"
"nada, deixa"/ "nada, vamos"
"Pensa que não conheço um russo, merda?"/ "Pensa que eu não conheço um russo quando vejo um?"
"você me põe maluca"/ "você me deixa maluca"
"Você sabe que não é um jumento. Você sabe que os jumentos são peludos"/ "Você sabe que não é um jumento por que [sic] os jumentos são peludos."
"Mas, que diabo, era um urso!"/ "Por Deus, era um urso!"
"Há, há! Índio nada, seu! Era um ursão."/ "Há, há! Índio nada, era um ursão."
"Como será que ele arranjou aquele chifre, vocês imaginam? Nunca ouvi falar em cavalo com chifre."/ ""Como será que ele arranjou aquele chifre: Nunca vi um cavalo assim."
"Bem, então era um urso muito parecido com gente"/ "Bem, então era um urso muito parecido com um homem"
"um cavalo com um chifre na testa, mas ele tinha um rabo gozado, disse Edna"/ "um cavalo com chifre na testa e um rabo gozado—respondeu Edna"
"O dia estava quente. Etaoin pensou como era bom que estivesse quente" / "O dia estava quente e o Sr. Etaoin caminhou pelas ruas de Abalone. Pensou como era bom que estivesse quente."
"atravessou para a sombra"/ "atravessou rumo à sombra"
"por causa do calor abrasante"/ "por causa da temperatura abrasante"
"bandeirolas"/ "bandoleiros"[ sic]
"suas orelhas eram afiladas"/ "suas orelhas eram afiadas"[ sic]
"apenas sabia que estava suando"/ "apenas sabia que estava transpirando"
"cilindros de rezar"/ "cilindros de oração"
"duros sapatos de pau"/ "duros sapatos de madeira"
"os homens sonham com o amor, a senhora sabe"/ "os homens sonhavam com o amor, a senhora sabe"
Os "disse" dos diálogos viraram "replicou", "respondeu", "falou".
naturalmente ganham a parada os bandoleiros em substituição às bandeirolas e as orelhas afiadas em substituição às orelhas afiladas, e sempre vai ter alguém desconversando e dizendo que foi uma mera, pequena, insignificante distração. mas além dos absurdos, distraídos ou não, existem coisas ridículas, e o que não é ridículo é simplesmente pífio. o revisor que fez o serviço deve ter alguma ótima explicação que nos esclareça por que, afinal, "temperatura abrasante" há de ser melhor do que "calor abrasante", e por que um urso que "parece um homem" há de ser melhor do que um urso que "parece gente". que a leya sapateie em cima da tradução de garschagen me parece um típico exemplo do descerebramento que anda acometendo muitas editoras por aí.
escrevi ao donaldson comentando essas ridicularias. começava que ele nem sabia que a leya tinha publicado sua tradução. aí, se foi a francisco alves que cedeu, qual era o contrato do tradutor com a editora, são outros quinhentos, e é um assunto entre as partes - mas, para a obra e o leitor, uma coisa dessas dá dó, ah, se dá.
Published on March 12, 2012 15:49
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