Denise Bottmann's Blog, page 82

March 9, 2012

crime e castigo no brasil

alguma hora valeria a pena fazer um histórico de dostoiévski no brasil. para começar, uma trajetória bizarra e sinuosa é a de crime e castigo. eis o que comecei a reconstituir:



I.

por volta dos anos 1920, sai a primeira tradução brasileira, por provável interposição do francês, feita por fernão neves (pseudônimo de fernando nery), pela livraria castilho. não tenho notícia de qualquer reedição.



II.

em 1930, a editora americana lança uma tradução em nome de ivan petrovitch (curioso homônimo de pelo menos dois personagens de dostoiévski), com projeto gráfico da capa feito por di cavalcanti. desta edição tampouco tive qualquer outra notícia.








III.

em 1936, sai outra tradução pela editora pongetti, feita por jorge jobinsky e revista por aurélio pinheiro - jobinsky e pinheiro eram ambos tradutores do inglês para a pongetti; ademais, como o nome do autor vem grafado como theodore dostoiewsky, não duvido que fosse uma tradução por interposição do inglês. essa tradução de jobinsky tem segunda edição em 1939.





mais tarde, em 1944, sai como teodoro dostoievsky, com destaque na capa: "tradução revista por marques rebêlo" e não mais aurélio pinheiro.

































em 1960, ainda pela pongetti, a tradução aparece revista por luiz cláudio de castro:










e assim vai para a ediouro, onde permanece até hoje, sem nome de tradutor, com revisão e um dito cotejo com o russo de luiz cláudio de castro, mas indicando ser uma licença da pongetti:










por outro lado, quando a coleção biblioteca da folha publica uma edição dessa obra, em 1998, luiz cláudio de castro passa a constar na capa como se fosse o autor da tradução:



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IV.

também em 1936, sai pela guanabara (cuja razão social completa era guanabara, waissmann, koogan ltda.) mais uma tradução, esta feita por elias davidovich e que também não deixou rastros:






































não sei o que aconteceu com a tradução do homônimo dostoievskiano ivan petrovitch - se, conforme a página lá acima, a "collecção de obras celebres" da americana se transferiu para a waissmann em 1931, não entendo por que esta última não reeditou a tradução de 1930 e preferiu lançar nova tradução em 1936.



na verdade, desconfio que a tradução de 1930, com nome do tradutor tão curioso e do qual não se tem qualquer outra notícia, era apócrifa, anônima, pseudônima, qualquer coisa assim, e que foi ela que trafegou para a pongetti em 1936. pois a ligeireza com que o texto é tratado em sucessivas revisões (aurélio pinheiro, marques rebelo e por fim luiz cláudio de castro, que depois acaba aparecendo diretamente como seu tradutor) parece indicar que jobinsky dera seu nome como simples fachada para uma tradução anterior. teria de comparar os textos, mas o único exemplar de 1930 que encontrei à venda está uma fortuna (250,00) e meu gosto (ou bolso) bibliófilo não chega a tanto.





resumindo, brito broca comenta que a tradução de fernão neves (c.1920) era em "estilo meio precioso", provavelmente pelo francês; depois menciona que nos anos 30 andaram saindo umas traduções horrorosas de autores russos, dando como exemplo o caso de crime e castigo (tradução mutilada, "numa língua tão má que tornava até incompreensíveis certos trechos da obra", mas sem especificar se se se referia à de "ivan petrovitch", à de jobinsky ou à de davidovich).





V.

em 1949 sai a celebrada tradução de rosário fusco, por interposição do francês e do espanhol, na coleção fogos cruzados, pela editora josé olympio:








essa tradução teve constantes reedições ao longo das décadas, e em 2010 a clássicos abril a lançou em dois volumes:










VI.

em 1963, sai a tradução de natália nunes (consta também o nome de oscar mendes, mas tenho lá minhas dúvidas se participou efetivamente do trabalho de tradução: acho mais provável que tenha feito basicamente a adaptação brasileira do português lusitano de natália nunes), por interposição do inglês, pela aguilar, no vol. II de sua edição da obra completa de dostoiévski:



Capa




essa tradução tem sido constantemente reeditada pela nova aguilar, com licenciamento para a abril cultural, a nova cultural e, em data mais recente, a l&pm:










VII.



finalmente, em 2001 sai a primeira tradução feita diretamente do russo por paulo bezerra, pela editora 34:











VIII.

pela editora martin claret, ressurge em 2002 o tal ivan petrovitch, agora acompanhado de uma misteriosíssima "irina wisnik ribeiro":



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[sem contar as adaptações e condensações, como as de marcos rey, 1959 (alarico), e de carlos heitor cony, 1971 (tecnoprint/ ediouro)]



não corri atrás de todas essas traduções; tenho as de rosário fusco, de natália nunes e de paulo bezerra. mas encontrei algo interessante na internet: os parágrafos iniciais de "ivan petrovitch" e "irina wisnik ribeiro". são eles:




Em uma noite de um início de julho, excessivamente quente, um rapaz saiu do quarto que ocupava na água-furtada de um grande prédio de cinco andares na travessa de S... e vagarosamente, com ar irresoluto, tomou o caminho da ponte de K... 


Teve a boa sorte de não encontrar na escada a senhoria, que morava no andar inferior. A cozinha, cuja porta estava quase sempre aberta, dava para a escada. Toda vez que o rapaz saía, era obrigado a passar por ali, o que fazia experimentar uma forte sensação de covardia, que o humilhava e o fazia franzir o sobrolho. Devia uma soma importante à senhoria e receava encontrá-la.

o que há de interessante nesses parágrafos iniciais da edição claretiana que ressuscita "ivan petrovitch" e lhe oferece a misteriosa companhia da dita "irina wisnik" - tirando a menção à "noite", que não se encontra em lugar nenhum (pois a cena se passa de tarde) - é a alteração da ordem do texto e a eliminação de uma frase, procedimento absolutamente idêntico ao que se vê na tradução que saíra de início em nome de jorge jobinsky, revista por aurélio pinheiro (1936), por marques rebêllo (1944) e enfim por luiz cláudio de castro (1960 até o presente).



independentemente do nível lexical e das variações vocabulares, o que acontece é que a descrição "um grande prédio de cinco andares" pertence, em verdade, ao segundo parágrafo, onde o cubículo no qual mora raskolnikov é comparado a um armário, de tão pequeno que é. tanto a tradução em nome de ivan petrovitch e irina wisnik quanto a tradução revista por (e depois atribuída a) luiz cláudio apresentam absoluta coincidência neste aspecto, eliminando a frase do segundo parágrafo, transferindo a menção ao edifício de cinco andares para o primeiro parágrafo e simplesmente excluindo o restante da frase, com a analogia entre o quartinho e um guarda-roupa.



sinto muita dificuldade em acreditar em coincidências, ainda mais tão coincidentes, e é por isso que, além de outras razões, tenho o palpite de que a tradução de 1930 (apócrifa, pois quem há de acreditar que seria feita por um fortuito xará do narrador-personagem de humilhados e ofendidos? ou mesmo do ivan petrovitch ptitsin de o idiota?) é a que anda por aí até hoje, sob vários nomes, tendo passado ao longo das décadas pelas mais promíscuas manipulações.





para uma comparação do parágrafo inicial em quatro traduções - rosário fusco, natália nunes, luiz cláudio de  castro (na verdade apenas revista por ele) e paulo bezerra - vale a pena ver o artigo de alfredo monte, aqui.



finalizando, se alguém me perguntar, já antecipo a resposta: estou satisfeita com as traduções que tenho em casa (fusco, nunes e bezerra). as outras navegam em águas turvas demais para o meu gosto.




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Published on March 09, 2012 08:09

March 7, 2012

ainda sobre a casa das rosas

paulo franchetti fala sobre o infeliz episódio da casa das rosas, mostrando o cerne da questão: a relutante relação (ou espinhosa falta de relação) entre esfera pública e esfera privada, entre poder e crítica, entre estado e cidadania e outros difíceis parezinhos - veja em 
http://www.sibila.com.br/index.php/mix/2085-falta-de-juizo





faltaria, porém, que veículos não diretamente envolvidos na questão divulgassem essas posições mais objetivas.  do contrário, argumentos lúcidos e sensatos podem acabar sendo absorvidos e distorcidos por esse torvelinho personalista em que foi convertido algo que, em princípio, poderia ter sido muito construtivo.



minha posição está aqui: http://naogostodeplagio.blogspot.com/2012/02/luis-dolhnikoff-e-casa-das-rosas.html



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Published on March 07, 2012 04:42

March 6, 2012

a verdade dói






transcrevo aqui uma excelente matéria de luís antônio giron, que se encontra aqui.


Tradutores mais que traidores


Os livros no Brasil são tão mal traduzidos que comprometem a categoria




LUÍS ANTÔNIO GIRON













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Luís Antônio Giron Editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV (Foto: ÉPOCA)LUÍS ANTÔNIO GIRON
Editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV (Foto: ÉPOCA)

Uma das obrigações mais agradáveis da função de jornalista é a de ler muito e acompanhar de perto os lançamentos de livros, selecionando os bons dos maus lançamentos. O prazer, no entanto, pode facilmente se transformar em tortura, já que os maus títulos sempre superam numericamente os bons. Nós setoristas de cultura somos obrigados a lidar com obras esotéricas, romances para moças (hoje chamados de chick-lit), suspenses de quinta disfarçados de inteligência (os smart-thrillers) e biografias pretensiosas, cujo autor parece desejar loucamente ofuscar o biografado. Aproveitamos menos de 5% do total estimado de 20 mil títulos lançados anualmente no país.

Ora, dentro dessa tortura mora outra ainda mais cruel: a oferecida pelas traduções de obras estrangeiras para o português do Brasil. É cada vez menos raro encontrar traduções de baixa qualidade de obras importantes lançadas por grandes editoras brasileiras. O problema se dissemina por toda parte, do setor de didáticos e paradidáticos ao dos best-sellers e grandes obras literárias. Ninguém escapa da má tradução. A grande vítima é o leitor, prejudicado sem saber, mesmo porque não tem obrigação de julgar uma tradução.

saiba mais


Oscar para vira-latas
A bilheteira mística
Sem noção do limite
Não me roubem a noite
O segredo dos palestrantes
A amante de Machado de Assis?
Sertanejos universais
Animais de superestimação
Festas de lembrar
O esfoliante que apaga a memória
Quanto vale João Gilberto



Como leitor profissional, tenho vivido momentos de horror crescente ao me deparar com traduções literárias, aquelas que deveriam merecer um pouco mais de cuidado por parte dos encarregados do texto vernáculo. Para não ferir egos, é melhor não citar quem e que obras foram vertidas. Afinal, os problemas são recorrentes em boa parte dos títulos literários. Eles são de três ordens: técnica, educacional e cultural.

O primeiro aspecto que chama atenção está na abundância de falhas de revisão ortográfica. São aqueles erros que atrapalham a leitura, desviam a atenção e, pior, fazem a gente duvidar da qualidade do conteúdo do que está lendo. Erros tipográficos, como se dizia antigamente, já deveriam ter sido eliminados de nossas vidas. Em revistas e jornais, cometem-se muitas dessas falhas, e é uma luta cotidiana para tentar banir esses monstrengos que rebaixam qualquer texto. Quando se trata de livros, porém, essa questão já deveria ter sido ultrapassada. Com revisores competentes e corretores de texto de última geração, é possível detectar os erros. Claro que seria necessário algum tempo para o trabalho ser realizado. Esse tempo parece ter acabado.

Os erros de português são mais frequentes do que os de ortografia. Concordância, regência e sintaxe são massacradas impiedosamente, tudo em nome de vultos literários conhecidos. Ler um clássico dessa forma conspurcado irrita e muitas vezes ultraja o leitor. O tradutor atua aqui não como um traidor (de acordo com a expressão italiana clássica dada à profissão: "Traduttore, Tradittore" - tradutor, traidor), e sim como um genuíno usurpador dos tesouros da literatura. Com um mínimo de conhecimento, qualquer um percebe que oportunistas quase analfabetos se encarregam de tarefas para as quais obviamente não têm competência.

Ainda mais graves são as ocorrências de equívocos que demonstram a falta de cultura daqueles que estão fazendo tradução. Eles produzem versões desprovidas de coerência do enunciado e coesão entre as diversas partes de um texto. Isso indica que falta pensamento lógico básico em muitos tradutores. Eles usam barbarismos imundos e contaminam o idioma. Como se não bastasse, desconsideram que a tradução também deve envolver conhecimento da parte do tradutor em relação ao contexto do idioma que ele está vertendo. Em um romance que li recentemente, traduzido do espanhol, o teatro São Carlos de Lisboa está grafado "San Carlos", como se fosse um teatro espanhol, e a região da Saxônia aparece como "Sajonia". E assim por diante, derrapadas desse tipo desqualificam a tradução como um todo, pois evidenciam a falta de preparo e de conhecimento que o tradutor possui do assunto. É interessante que essas traduções parecem subestimar a inteligência do consumidor, como se ele não fosse capaz de distinguir o ruim do pior.

Tenho quase certeza que esses indivíduos que se dizem tradutores fazem questão de assinar seu trabalho nas páginas de rosto dos livros lançam mão dos mais pérfidos recursos para completar suas tarefas. Já li muito livro cuja tradução em português parece ter sido produzida no Google Translator.

Até aqui descrevi a situação. Chega a hora de perguntar por que todos esses erros, equívocos e bandalheiras ocorrem. Dois motivos me ocorrem de imediato: o fenômeno da vulgarização das traduções, que reflete o avanço do mercado, e a indigência cultural brasileira, que não prepara adequadamente profissionais de tradução, ou, pelo menos, desconsidera os profissionais da área e remunera mal tradutores arrivistas ou mesmo amadores.

Vamos ao primeiro motivo. Como tudo no mundo, livros não consistem em entidades perfeitas. E eles se tornam cada vez mais precários à medida que o mercado impõe uma alta velocidade de lançamentos. O mercado brasileiro de livros cresce 8% ao ano. Além disso, os livros já estão livres do papel, e chegam agora até nós no formato digital de e-books. Havia um respeito talvez exagerado pelo texto impresso em papel. Hoje o papel não passa de um subproduto do texto digitalizado. O papel traz matéria a um bem imaterial chamado texto. A dessacralização do objeto livro deixa os salteadores à vontade para fazer o que bem entenderem com as obras alheias.

O segundo motivo afeta a profissão do tradutor. A alta frequência de inexatidões acaba por prejudicar a minoria de excelentes tradutores em atividade no Brasil. Por isso, os tradutores profissionais estão se rebelando contra a situação. Sentem-se excluídos porque a tabela do Sintra (Sindicato Nacional dos Tradutores) é alta de acordo com as editoras, que querem trabalhar com orçamentos cada vez mais reduzidos. E já que os bons profissionais custam mais e levam mais tempo para entregar o trabalho, a solução encontrada é ignorá-los em benefício de amadores ou arrivistas. Criou-se uma espécie de lúmpen da tradução, que aceita pagamentos mínimos por uma tarefa da qual se safa rapidamente.

O que fazer para melhorar o nível das traduções e não comprometer a ínclita categoria dos tradutores? Não tenho resposta para isso. Talvez fosse útil criar instrumentos mais precisos para controlar a atividade. Mas quem faria isso sem medo de ser chamado de inimigo da liberdade de expressão? Melhor então seria empreender uma caça às bruxas para julgar e banir os maus tradutores do mapa. A desaparição de muitos tradutores preencheria uma lacuna em nossas vidas. A verdade é que a tarefa é mais complicada do que parece, além de exigir o longo prazo. Seria necessário investir com seriedade na formação dos tradutores, com critérios de seleção menos complacentes que rigorosos. Má tradução e a má leitura são farinha do mesmo saco de permissividade cultural em que estamos metidos. 


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Published on March 06, 2012 09:40

March 2, 2012

aguardando o parecer da comissão da fbn






como publiquei aqui, a fbn determinou que fosse instaurada uma comissão para avaliar as irregularidades apontadas em dezenas de obras inscritas no cadastro nacional do livro de baixo preço, para abastecimento de 2.700 bibliotecas públicas e comunitárias do país.



a comissão tinha prazo de apresentar seu parecer em quinze dias, i. é, 17 de fevereiro. bom, carnaval, pós-carnaval, isso e aquilo, foi difícil conseguir algum contato no dia 23. no dia 27, falei com a sra. ângela, do gabinete do sr. aníbal bragança, coordenador da comissão. ela me avisou que o parecer estava pronto e já tinha sido encaminhado desde o dia 23 à coordenação de comunicação. falei com o sr. clóvis horta, coordenador da comunicação da fbn, o qual me explicou que o parecer estava na mesa da presidência, aguardando apenas o ok final, e seria divulgado em dois ou três dias.



apenas para continuar a marcar alguns pontos que me aprecem relevantes, no mesmo dia 27 encaminhei um e-mail à presidência da fbn, com o seguinte teor:



prezada instituição, enquanto aguardo ansiosamente o parecer da comissão instaurada para avaliar as medidas a ser tomadas diante das denúncias de irregularidades de muitas obras inscritas no cadastro nacional do livro de baixo preço, retomo alguns pontos que considero os mais relevantes:





 se lermos o edital de chamada pública da fbn, publicado no d.o.u. em 01/12/2011, temos lá que a habilitação dos editores no programa do livro popular depende obrigatoriamente da legalidade e autenticidade dos dados dos livros que inscrevem no programa; temos que a habilitação dos editores para o portal do livro também depende obrigatoriamente da legalidade e autenticidade dos dados dos livros. por três vezes, em três itens, é especificado que os editores declaram que os livros inscritos não violam qualquer princípio legal vigente: tanto para a habilitação geral dos editores (4.1.6), quanto para a inscrição dos títulos (4.3.3), quanto para a habilitação específica no portal do livro (6.1.6).

para que os livros de um editor sequer possam ser aceitos para figurar no portal do livro, ele deve garantir "a autenticidade e atualização dos dados" e declarar que os livros não violam nenhum princípio legal vigente: ou seja, nos termos do edital da fbn, se o editor não é capaz de dar tal garantia, ele não está habilitado a participar seja do programa do livro, seja do portal do livro.




continuo sem entender por que a FBN renuncia a exercer o direito que se reservou no item 16.2 das Disposições Gerais do Edital, que lhe faculta solicitar informações e documentos, inclusive por e-mail, sem necessidade de proceder a uma convocação que exija publicação oficial. Pois afinal, como consta no edital: "5.4.1.Os editores inscritos são responsáveis, civil e criminalmente pelo cadastramento de seus livros, e devem indicar, em campo específico do formulário, que possuem todos os direitos autorais dos livros inscritos, contratos de edição e documentos conexos, em plena vigência e em situação regular, nos termos da legislação vigente". 




assim, eu consideraria sensato e natural que a FBN passe a exercer seu direito plenamente assegurado no item 16.2, pedindo aos editores o encaminhamento dos contratos de edição, de tradução e titularidade dos direitos autorais sobre as traduções apontadas como suspeitas, bem como os documentos conexos, com vistas a garantir a lisura do programa.




atenciosamente, 

denise bottmann





estamos no dia 02 de março, sexta-feira. o próximo dia útil já será dia 05. por que tanta demora em divulgar o bendito parecer da comissão?



acompanhe esse imbróglio aqui.



imagem: esperando sentado




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Published on March 02, 2012 07:06

February 25, 2012

mrs. dalloway






hoje, o prosa&verso do jornal o globo publicou uma ótima matéria sobre as novas traduções de mrs. dalloway. a íntegra da minha resposta à jornalista foi a seguinte:






A primeira
e única versão de Mrs.
Dalloway 
é de 1946 e foi traduzida por Mário Quintana. Qual a
importância de Mrs. Dalloway ganhar
uma nova tradução?




            Há
vários aspectos. O primeiro, e mais genérico, é que toda tradução autoral tem a
marca pessoal do tradutor. O segundo, diretamente relacionado a esse primeiro
aspecto, é que cada tradução vem muito marcada por sua época: toda tradução é, por
definição, mais datada do que a obra original. Assim, é não só natural, mas
desejável que periodicamente se renovem as traduções das principais obras do
chamado cânone literário ocidental. Em terceiro lugar, e mais especificamente,
há uma questão peculiar nessa tradução do Quintana: considero-a muito boa, e até
admirável sob diversos ângulos. Há nela, porém, uma leve tendência de arredondar
um pouco o texto. A modernidade de Woolf - as invenções estilísticas no plano
da escrita e mesmo alguns recursos narrativos utilizados no texto – às vezes
parece um pouco atenuada: penso na função muito peculiar da pontuação, na
incansável repetição de termos que funcionam como marcadores não só do texto,
como também do fluxo mental dos personagens, na estruturação sintática, no uso
de uma linguagem muito, muito simples, mas ao mesmo tempo com uma grande
elaboração das frases.

            Veja um exemplo que acho bonitinho –
há lá a certa altura, falando de Septimus, quando se mudou para Londres: "... there were experiences, again
experiences, such as change a face in two years from a pink innocent oval to a
face lean, contracted, hostile.
" Você nota nos dois blocos de adjetivos como
o uso das vírgulas é quase icônico, figurativo? Em pink innocent oval, os adjetivos correm, fluem como se quisessem mostrar
como era liso, sem marcas, o rosto do jovem; então vem lean, contracted, hostile (que contraste, como pisa duro!), como se
as vírgulas mimetizassem as marcas da experiência. Ninguém há de crer que isso
seja por acaso; é de uma grande deliberação, e esse uso da pontuação como uma
espécie de encenação visual e emocional desempenha uma função muito
interessante em todo o texto, que entendo que deva ser mantida na tradução.

            Ela
levou três anos para escrever Mrs. Dalloway: um polimento
constante, um esforço incessante em reproduzir no plano da linguagem o discurso
mental e mesmo o tropel emocional que avassala os personagens. Não foi fácil.
Então, digamos, a tradução do Quintana - que, repito, acho muito boa - se depara
com esse "modernismo" dela e, em alguns momentos, prefere
contorná-lo. A tradução resultante causa menos estranheza ao leitor – ainda
mais pensando no leitor médio dos anos 40. Mas isso significa que, para nós, uma
obra que fazia parte da grande onda de renovação literária das primeiras
décadas do século XX chegou vazada numa escrita um pouco mais convencional, que
não incorporava plenamente alguns de seus aspectos mais inovadores.  Mas também é claro que, setenta anos depois da
tradução de Quintana e noventa anos depois do lançamento do original (estou
arredondando as décadas), uma tradução mais respeitosa da letra do texto, mais
atenta àquilo que era inovador naqueles tempos não vai despertar no leitor
contemporâneo – que hoje em dia tem quase um estômago de avestruz – a surpresa
que poderia ter despertado no passado. 




a matéria está aqui.





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Published on February 25, 2012 08:56

February 24, 2012





cícero: si hortum in bibliotheca habes, deerit ni...





cícero: si hortum in bibliotheca habes, deerit nihil, carta a terêncio varrão em junho de 46 a.C. (fonte: google). imagem via josélia aguiar, aqui







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Published on February 24, 2012 06:56

February 22, 2012

luís dolhnikoff e a casa das rosas

não sou poeta, não sou escritora, não moro em são paulo, não conheço círculos de literatos, sou basicamente uma filistina.



posto isso: sou brasileira, tenho cpf, tenho rg, pago meus impostos, acredito na democracia e acredito que vivemos numa democracia. no meu tempo de infância, durante o governo juscelino e jango, tinha uma matéria na escola primária que se chamava "educação moral e cívica". veio o golpe militar, a tal educação moral e cívica, nem lembro o que aconteceu com ela. mas lembro que, aos sete, oito, até os dez anos de idade, a gente aprendia a constituição brasileira, os direitos fundamentais do cidadão etc.



por isso, creio eu, cresci com a convicção e a serenidade de que eu podia - sozinha, como cidadã - me dirigir a qualquer instituição pública dessa nossa república e expor minhas questões, minhas dúvidas, meus questionamentos sobre as coisas de interesse da sociedade.



por isso achei absolutamente natural e mais do que pertinente um artigo de luís dolhnikoff indagando - muito civilmente, muito civicamente e muito civilizadamente - sobre o estado e os rumos da casa das rosas, em são paulo. não tenho muita paciência para me delongar sobre o assunto, que realmente anda beirando as raias da sandice, e remeto o leitor apenas ao artigo - são, sadio, saudável, salubre e todas as redundâncias que se fizerem necessárias - de luís dolhnikoff, que está aqui.



todos os desvarios em torno, manifestações apressadas, desqualificações cruéis, miasmas de sarjeta, capanguismos empreguistas, a pior das piores heranças coloniais deste pobre país: tudo isso que o lúcido artigo de dolhnikoff suscitou - espantosamente! - serve apenas para desviar a atenção do que realmente importa. e a truculência das reações despertadas pelo artigo acima citado no diretor responsável pela entidade chegou a tal ponto que, a meu ver, o que está em questão agora nem é mais a gestão assim-ou-assado da casa das rosas, mas a própria relação entre estado e sociedade, instituição pública e cidadania.



meu ponto é: para sermos cidadãos, temos de agir como cidadãos. luís dolhnikoff está em seu pleno direito ao indagar dos rumos de uma instituição pública como é a casa das rosas, e merece resposta séria e honesta em lugar desses urros que andam ensurdecendo qualquer pessoa de bem. a questão de fundo não pode se perder na barbárie e deve ser vigorosamente defendida: o direito de todos nós, como cidadãos, sermos ouvidos e termos o encaminhamento correto de nossas legítimas cobranças em prol do bom funcionamento, transparente e democrático, de nossas instituições públicas.


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Published on February 22, 2012 17:44

fraudes e comissão de apuração da fbn

eu tinha lido no jornal o globo que a fundação biblioteca nacional havia determinado a instituição de uma comissão para se posicionar em relação às fraudes inscritas no Cadastro Nacional de Livros de Baixo Preço - a matéria está aqui.



estou esperando passar esse período do carnaval para retomar o assunto e me informar se, como e quando a comissão terá seu parecer sobre esse assunto absurdamente repulsivo - mas tão grave e urgente devido aos prazos do programa da fbn para abastecimento de 2.700 bibliotecas públicas do país.



nesse meio tempo, encontrei no google o despacho da fbn determinando a instauração do processo de avaliação, publicado no Diário Oficial da União em 02/02/2012.


FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL

DECISÃO EXECUTIVA Nº 3, DE 30 DE JANEIRO DE 2012

A Presidente em Exercício da Fundação Biblioteca Nacional-FBN, no uso das atribuições que lhe confere o art. 16 do Estatuto aprovado pelo Decreto 5.038, de 5 de abril de 2004, publicado no DOU de 08 de abril de 2004, DECIDE:

1 - Instituir uma Comissão para avaliar os questionamentos e denúncias que surgiram e que venham a surgir sobre as obras inscritas pelas editoras e autores no Cadastro Nacional de Livros de Baixo Preço, da Fundação Biblioteca Nacional;

2 - A Comissão será composta por servidores da Fundação Biblioteca Nacional sob a coordenação do Coordenador Geral de Pesquisa e Editoração, Aníbal Bragança, e por membros do Conselho Interdisciplinar de Pesquisa e Editoração, nomeados através da Decisão Executiva nº 208 de 26 de outubro de 2011, publicada em DOU Seção 2, conforme segue abaixo:

a - Área de Biblioteconomia e Ciências de Informação

Célia Ribeiro Zaher

Nanci Elizabeth Oddone

Simone da Rocha Weitzel

b - Área de Ciências Sociais

Marco Antonio da Silva Mello

Ronaldo George Helal

Sílvia Helena Simões Borelli

c - Área de Comunicação

Maria Immacolata Vassalo de Lopes

Paulo Bernardo Ferreira Vaz

Sonia Virgínia Moreira

d - Área de Educação

Célia Frazão Soares Linhares

Francisca Izabel Pereira Maciel

Maria helena Câmara Bastos

e - Área de História

Denis Antônio de Mendonça Bernardes

Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves

Nelson Schapochnik

f - Área de Letras

Celina Maria Moreira de Mello

Ivan Prado Teixeira

Maria Teresa Santos Cunha

3 - A Comissão terá um prazo de 15 dias para deliberar sobre os procedimentos cabíveis diante de tais questionamentos e denúncias;

4 - Todas as obras que, por qualquer motivo, infrinjam a legislação em vigor serão excluídas do Cadastro.

5 - Esta Decisão Executiva entra em vigor na data de sua publicação.

LOANA MAIA



aguardemos, pois.



acompanhe esse espantoso imbróglio aqui.


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Published on February 22, 2012 12:41

February 16, 2012

atualização

Millions of books are waiting to be found and then sold on the Internet



ninguém há de imaginar que eu haveria de transcrever integralmente aqui no blog os exaustivos cotejos que faço entre diferentes traduções e suas relações com o original, num trabalho que envolve muitas centenas de páginas, em alguns casos beirando um milhar de páginas para cada cotejo. mas suponho também que ninguém há de imaginar que exponho as fraudes e encaminho minhas denúncias ao Ministério Público e outros órgãos baseando-me apenas nos parágrafos que publico a título ilustrativo neste blog.



neste espaço, publico alguns trechos escolhidos mais ou menos ao acaso (sistema mais recomendável de amostragem), com as respectivas referências de título, editora, ano de edição e créditos de tradução das obras legítimas e das obras espúrias. naturalmente mantenho toda a documentação e provas pertinentes devidamente catalogadas e arquivadas em meu escritório.



de qualquer forma, para deixar claro aos leitores do Não Gosto de Plágio que os posts de cotejo são exemplificativos, estou acrescentando ao final de cada um deles a seguinte observação: "obs.: estes são apenas alguns exemplos a título ilustrativo, extraídos de um extenso cotejo feito entre as traduções, com outras traduções e com o original".




imagem: aqui


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Published on February 16, 2012 15:50

February 13, 2012

thoreau traduzido no brasil

Os textos de Henry David Thoreau traduzidos no Brasil são os seguintes, por ordem alfabética dos títulos em português:


"A escravidão em Massachusetts" - tradução de José Augusto Drummond
"A vida sem princípio" - traduções de E. C. Caldas, José Paulo Paes, José Augusto Drummond, 
José Luiz Perota
"Andar a pé" (também como 
"A arte de caminhar", "Caminhada", "Caminhando", "O pequeno livro da sabedoria", novamente "Caminhando", novamente "Caminhada") - traduções respectivas de Sarmento de Beires e José Duarte, 
E. C. Caldas,  Aydano Arruda, José Augusto Drummond, Vera Renoldi, Roberto Muggiati e Davi Araújo
"Cartas familiares selecionadas" - tradução de Aydano Arruda
"Desobediência civil" (ou "Resistência ao governo civil") - traduções de E. C. Caldas, Aydano Arruda, José Paulo Paes, David Jardim Jr., José Augusto Drummond, Astrid Cabral, Sergio Karam
"Domingo" (segundo dia de A Week on the Concord and Merrimack Rivers) - tradução de Aydano Arruda
"O naufrágio" (primeiro capítulo de Cape Cod) - tradução de Aydano Arruda
"Onde vivi e a razão por que vivi" (segundo capítulo de Walden) - tradução de Aydano Arruda
"Os lagos Allegash" (terceira parte de The Maine Woods) - tradução de E. C. Caldas
"Paraíso (a ser) recobrado" - tradução de José Paulo Paes
"Três excertos de A Week on the Concord e Merrimack Rivers" - tradução de José Augusto Drummond
"Um apelo em prol do Capitão John Brown" - tradução de José Paulo Paes
Excertos variados por Theodore Dreiser - tradução de Lauro Escorel
Walden - traduções de E. C. Caldas, Astrid Cabral, Denise Bottmann




As referências bibliográficas são, por ordem cronológica da primeira edição no Brasil:




O pensamento vivo de Thoreau

O pensamento vivo de Thoreau. Coleção Biblioteca do Pensamento Vivo, vol. 15. Seleção, organização e introdução de Theodore Dreiser. Tradução de Lauro Escorel. Contém excertos variados. São Paulo: Livraria Martins, 1939. 181 p.






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Ensaístas americanos. Coleção Clássicos Jackson, vol. XXXIII. Tradução de Sarmento de Beires e José Duarte. Contém "Andar a pé". São Paulo: W. M. Jackson, 1950. 360 p.








Walden e outros escritos. 2 volumes. Introdução de Brooks Atkinson. Tradução de E. C. Caldas. Contém Walden, "Os lagos Allegash", "A arte de caminhar", "Desobediência civil", "Vida sem princípio". Rio de Janeiro: Revista Branca, 1953. 184 p. (aqui capa do vol. II)






Escritos Selecionados Sobre Natureza e Liberdade

Escritos selecionados sobre natureza e liberdade. Série Clássicos da Democracia, vol. 25. Tradução de Aydano Arruda. Contém: "Desobediência Civil", "Onde vivi e a razão por que vivi", "Naufrágio", "Domingo", "Caminhada", "Cartas familiares selecionadas". São Paulo: IBRASA, 1964. 167 p.








A desobediência civil e outros ensaios. Seleção, introdução, tradução e notas de José Paulo Paes. Contém: "A desobediência civil", "A vida sem princípio", "Paraíso (a ser) recobrado", "Um apelo em prol do Capitão John Brown". São Paulo: Cultrix, 1968. 130 p.






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Walden. Introdução de Brooks Atkinson. Tradução de E. C. Caldas. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1968. 350 p.








Desobedecendo. A desobediência civil & outros escritos. Apresentação de Fernando Gabeira. Seleção, introdução, tradução e notas de José Augusto Drummond. Contém: "A desobediência civil", "A vida sem princípio", "Caminhando", "A escravidão em Massachusetts" e trechos escolhidos de Uma semana nos rios Concord e Merrimack. Rio de Janeiro: Rocco, 1984. 167 p.








Walden, ou a vida nos bosques. Coleção Armazém do Tempo. Introdução e tradução de Astrid Cabral. Contém em apêndice "A desobediência civil". São Paulo: Global, 1986. 331 p. Reed. Aquariana, 2001 (346 p.); Novo Século, 2007 (288 p.).








Desobediência civil (Resistência ao governo civil) e Walden. Coleção Universidade de Bolso. Introdução de Brooks Atkinson. Traduções respectivas de David Jardim Jr. e E. C. Caldas. Rio de Janeiro: Ediouro, c. 1987. 217 p.






pequeno livro da sabedoria, o

O pequeno livro da sabedoria. Tradução de Vera Maria Renoldi. São Paulo: BestSeller (C.L.C.), 1996; Rio de Janeiro: BestSeller (Record), 2005. 81 p.








A desobediência civil. Coleção L&PM Pocket. Tradução de Sergio Karam. Porto Alegre: L&PM, 1997. 80 p.








Caminhando. Coleção Sabor Literário. Introdução e tradução de Roberto Muggiati. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006. 126 p.






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Walden. Coleção L&PM Pocket. Apresentação de Eduardo Bueno. Tradução de Denise Bottmann. Contém em apêndice "Thoreau", necrológio de Ralph Waldo Emerson. Porto Alegre: L&PM, 2010. 335 p.








Caminhada. Tradução de Davi Araújo. Içara: Dracaena. 56 p.








Vida sem princípio. Tradução de José Luiz Perota. Içara: Dracaena, 2011. 48 p.





Online encontram-se disponíveis: "Andar a pé" (Beires/Duarte) e "A desobediência civil" (Drummond) no EbooksBrasil, a coletânea Desobedecendo (Drummond) e Walden ou a vida nos bosques (Cabral) no Scribd.



Existe uma edição da Martin Claret que, a meu ver, não merece consideração e é indigna de constar em qualquer bibliografia séria. Ver aqui, aqui e aqui.


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Published on February 13, 2012 17:19

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