Denise Bottmann's Blog, page 118

December 8, 2010

os dez mais

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é muito divertido o recurso "estatísticas" que o blogger implantou alguns meses atrás.





eis, por exemplo, os dez posts mais visitados no último mês, devidamente linkados:

coleção folha, o capital de gabriel deville I
sarney tradutor
(anti)referências bibliográficas
coleção folha, descartes I
thoreau, walden
história da tradução no brasil
coleção folha, descartes II
colóquio de tradução na unimep: marcas
traduzir aprende-se traduzindo
coleção folha, o capital de gabriel deville II
aliás, quanto ao artigo "sarney tradutor", sobre os talentos latinistas do desapiedado entomólogo que cria seus insetos à base de aguardente (e expôs sua experiência no inesquecível marimbondos de fogo), recebi e-mails realmente divertidos e/ou congratulatórios. palmas a nosso amigo sérgio pachá, autor da peça aqui simplesmente transcrita.



imagem: top ten

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Published on December 08, 2010 14:48

aqui e lá

.enquanto aqui a gente se debate com as ABLs da vida premiando inexplicáveis "se tirar nota zero, eu furo o céu" ( veja aqui, em coup de grâce ), luta contra cópias deslavadas e saques ao domínio público de nossas traduções, lá promovem a tradução literária e de humanidades: great translation by the way . muito interessante, ilustrativo e edificante.







é um "panfleto para preservar uma cultura florescente da tradução" redigido em holandês por martin de haan, presidente da ceatl (veja aqui), e rokus hofstede, com tradução de jane hedley-prôle e s.j. leinbach (2008).

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Published on December 08, 2010 13:07

December 7, 2010

traduzir aprende-se traduzindo

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encontro hoje uma encantadora palestra de paulo rónai, nos idos de 1985, no departamento de letras da universidade federal do paraná. gosto muito e partilho dessa visão da tradução como ofício artesanal.

Traduzir aprende-se traduzindo. Os artesões de antigamente formavam-se como aprendizes ao lado de um mestre, com quem passavam longos anos. É muito difícil encontrar um mestre tradutor que aceite aprendizes. Os cursos de tradução ensinam os conhecimentos básicos indispensáveis ao métier, mas o modo de fazer é objeto de aprendizado individual. Cada tradutor deve ser seu próprio mestre. Ele mesmo deve inventar seus exercícios, confrontar um original com alguma tradução impressa, comparar a sua própria tradução com uma dessas versões, justapor duas ou mais versões do mesmo texto, organizar sua relação de falsos-amigos, de expressões idiomáticas, de equivalentes sintáticos. É preciso resignar-se à gratuidade desses exercícios antes de se atrever a fazer traduções remuneradas. O lema horaciano - Multa tulit fecitque puer, sudavit et alsit ("muito fazer e suportar em jovem, suar e tremelicar") - aplica-se ao tradutor como a ninguém.
a palestra foi publicada pela revista letras, n. 34 (1985), às pp. 186-195, com o título cascas de banana no caminho do tradutor. disponível aqui .



imagem: carving box

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Published on December 07, 2010 15:49

(n.t.), chamada

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a (n.t.), revista lítero-tradutória virtual, avisa:

Chamada para colaboração:



(n.t.) Revista Literária em Tradução n° 2 (março/2011)

Normas para publicação em: www.notadotradutor.com/publicar

Recepção de textos: de 15/09/2010 a 15/12/2010



A (n.t.) é uma revista virtual de periodicidade semestral destinada à publicação de textos literários traduzidos curtos.



Publicamos seleções de textos inéditos ou retraduzidos em poesia e prosa poética, contos, epistolário, teatro, além de excertos de textos filosóficos. A atenção da revista se volta especialmente àquelas línguas e autores que ainda têm pouca visibilidade no sistema literário de traduções no país. A temática dos textos a serem submetidos é livre.



http://www.notadotradutor.com/
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Published on December 07, 2010 07:35

December 6, 2010

coleção folha, ainda descartes

.dediquei dois posts à edição de descartes na coleção folha: aqui e aqui .



para ninguém achar que é implicância minha: " a edição capenga de descartes", no jornal opção 

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Published on December 06, 2010 10:59

coleção folha, o capital de gabriel deville III

estabelecido que le capital de karl marx é uma obra de divulgação de gabriel deville, montada em 1883 a partir da tradução francesa de j. roy do das kapital, entendo que a apresentação correta desse resumo em português seria: gabriel deville, o capital de karl marx, como fez, por exemplo, a editora cultura nos anos 1940:



ou:



todavia, vimos que não é o que tem ocorrido: mencionei as edições da melso, da ediouro, da edipro e da coleção folha.



abro a edição da coleção folha: não bastasse ter marx virado o autor do aperçu sobre o socialismo científico e do resumo de deville, vejo lá um "prefácio do tradutor".



qual tradutor?, pergunto-me eu. e vejo ali que se trata do prefácio de gabriel deville, de 1883, onde justamente ele explica que montou seu apanhado seguindo a tradução francesa existente, feita por joseph roy.



como o préface do original se transformou em prefácio da tradução é mais um daqueles mistérios que só acontecem no brasil, e que não consigo desvendar. outra curiosidade é como a data do prefácio original - 10 de agosto de 1883 - se transformou no "prefácio da tradução" em 10 de outubro de 1883. e engraçado também como a remissão original de deville, em seu pós-escrito, às páginas 24-25 e 59-60 de le capital de karl marx, é mantida literalmente na edição da folha (p. 18), sem qualquer correspondência de fato no volume brasileiro.



o prefácio e o pós-escrito de deville não constam na edição melso. a tradução deles nessa edição da folha é sofrível: tenta-se um decalque que acaba se tornando ininteligível. por exemplo, ce que j'ai écrit dans d'autres conditions d'âge et par suite de connaissance é dado como "o que escrevi em outras condições de idade e após aprendizado" [p. 17; seria algo como "o que escrevi em outras condições de idade e, portanto, de conhecimento"].



já a tradução do aperçu e do resumo na edição folha/edipro, em nome de murilo coelho, é praticamente idêntica à tradução revista por gesner de wilton morgado, na edição que saiu pela melso 50 anos atrás. ambas guardam a mesma razoável distância e as mesmas discrepâncias em relação ao original em francês:

I



COLLECTIVISME OU COMMUNISME





Il y a six ans, la classe ouvrière qui n'était pas encore remise de l'épouvantable saignée de 1871, avait abandonné la tradition révolutionnaire et n'attendait plus son affranchissement que des associations coopératives généralisées. Les mots parti ouvrier et collectivisme, aujourd'hui passés dans notre langue politique, étaient, peut-on dire, inconnus ; les idées qu'ils représentent ne comptaient plus en France que de rares partisans, sans lien, sans possibilité d'action commune.



C'est le journal l'Égalité fondé, à la fin de 1877, sur l'initiative de Jules Guesde et dirigé par lui, qui a seul donné l'impulsion au mouvement socialiste révolutionnaire actuel. Tel est le fait que ne réussiront pas à effacer les personnalités envieuses empressées à le masquer, ou tout au moins à l'amoindrir, ayant bien soin, dans leurs prétendues histoires, de cacher les dates qui ne laissent aucun doute à cet égard.



A ce moment, il y avait utilité à distinguer le communisme scientifique sorti de la savante critique de Marx, du vieux communisme utopique et sentimental français. La même dénomination pour deux théories différentes aurait favorisé une confusion d'idées qu'il était essentiel d'éviter ; aussi avons-nous alors exclusivement employé le mot collectivisme.
Maintenant, nous écrivons collectivisme ou communisme indifféremment. Au point de vue de leur dérivation, ces deux termes sont également exacts; au point de vue usuel, ils ont les mêmes inconvénients. S'il y a eu un communisme dont nous devions nous distinguer, il y a des formes de collectivisme, les diverses contrefaçons belges par exemple, que nous répudions. L'important est de connaître non pas l'étiquette que chacun prend, mais ce que chacun met sous son étiquette.


edição melso, tradução revista por gesner de wilton azevedo (1961)



 

edição coleção folha, tradução de murilo coelho (2010)


contribuindo de passagem para a hipótese de que a tradução revista por gesner era lusitana, note-se na edição da melso a grafia de "carlos", "empregámos", "teem", "diferençar", e adiante "póde", "quasi", "jámais", "gráu", "sólo", ou as construções "em frança" e "facilidades que se irão aumentando". mas a questão, aqui neste contexto, é quase secundária. o que quero apontar é que essa tradução publicada pela folha é reedição, apenas com a ortografia atualizada, de uma tradução bastante antiga, que nas edições brasileiras anteriores não trazia créditos indicando sua autoria.

outra não pequena desinformação é a que consta na página de divulgação da coleção folha: essa obra de deville seria o "único resumo autorizado por Karl Marx, com o intuito de popularizar suas ideias na camada operária".

em verdade, marx teria autorizado vários resumos:

Versões resumidas para operários também apareceram em fins do decênio de 1870 em sérvio e inglês (esta publicada nos Estados Unidos). A edição italiana, feita por Carlo Cafiero, foi autorizada por Marx e publicada em 1879. No ano seguinte, Marx autorizou o anarquista Domela Nieuwenhuis a publicar um resumo popular em holandês. A obra saiu em 1881 (Ferdinand Domela Nieuwenhuis. Karl Marx. Kapital en Arbeid, s´Gravenhage, 1881). Na mesma época ele colaborou com Johannes Most numa edição resumida em alemão. No ano da morte de Marx foi editado o resumo francês (Gabriel Deville. Le Capital de Karl Marx, resumé et accompangé d´un aperçu sur le socialisme scientifique, Paris, 1883).
in Lincoln Secco, Leitura e Difusão de O Capital de Karl Marx, p. 12
ainda no mesmo release da coleção folha, consta que a obra de deville foi "publicada em 1883 e revista em 2010". o que significa "revista em 2010"? a antiga tradução revista por gesner, sim, pode ter sido re-revista em 2010 para essa edição da folha, e só.



restam algumas dúvidas: quem é murilo coelho? quando foi feita essa sua tradução? onde e quando foi inicialmente publicada? por que a ediouro, em suas várias edições, não havia lhe dado os créditos de tradução? por que a melso, em sua edição, preferiu apenas apontar que se tratava de uma "tradução revista por gesner de wilton azevedo"? e por que a folha em sua coleção "livros que mudaram o mundo" escolheu uma tradução, seja de quem for, tão fraquinha e com algumas informações aparentemente tão erradinhas?

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Published on December 06, 2010 09:08

December 5, 2010

coleção folha, o capital de gabriel deville II

. recapitulando: em 1883, o socialista francês gabriel deville publica um resumo das ideias centrais de marx, num volume chamado le capital de karl marx, résumé et accompagné d'un aperçu sur le socialisme scientifique, para fins de divulgação entre o operariado e a militância socialista na frança.



essa introdução ao pensamento marxiano é traduzida para o português por albano de moraes e é publicada pela typographia de francisco luiz gonçalves em 1912, como: carl [sic] marx, o capital: resumido e acompanhado de um estudo sobre o socialismo scientifico, estudo de gabriel deville. outra tradução portuguesa dessa época, porém menos conhecida, é a de maria emilia de araújo pereira, publicada pela guimarães editora também em 1912, que utiliza a grafia "karl".



no post anterior, citei algumas fontes para acompanhar a divulgação da obra de deville no brasil a partir dos anos 1930. é um percurso interessante, que talvez alguma hora eu explore melhor. mas, com referência a nossos objetivos, tenho em mãos o exemplar publicado pela editora melso em 1961, e é dessa edição que eu gostaria de tratar, para chegarmos ao volume publicado na coleção folha "livros que mudaram o mundo".





na edição da melso sumiu qualquer referência a gabriel deville. dá-se a obra como da autoria pura e simples de marx, com o título o capital. na página de rosto consta "edição condensada" e "tradução revista por gesner de wilton morgado". o livro começa diretamente com socialismo científico: o leitor desavisado pensará que é um texto de marx que integra o começo do suposto capital condensado.



por outro lado, quanto à tradução: sabemos que, por convenção editorial, costumava-se utilizar a expressão "tradução revista por" para indicar que se tratava de uma tradução portuguesa adaptada para o português do brasil. cabe mencionar também que a orelha da capa da melso traz em destaque: CARL MARX, embora todas as demais referências venham grafadas Karl Marx.





assim, embora eu não tenha em mãos a tradução de albano de moraes, sou tentada a crer que foi ela a utilizada na edição da melso, e depois várias vezes reeditada pela ediouro, em suas coleções "clássicos de bolso" e "universidade de bolso".





pois muito que bem. agora chegamos à edição da folha, em tradução atribuída a alguém de nome "murilo coelho", licenciada da edipro, a qual consta na página de créditos como detentora do copyright da referida tradução. não consegui encontrar referências a qualquer tradução de murilo coelho, nem mesmo do próprio suposto capital condensado de marx, a não ser as divulgadas pela folha de s. paulo anunciando a publicação e do nãogostodeplágio dando a lista dos títulos da coleção folha.

o que se encontra às centenas é, por exemplo: "MARX, Karl. O capital. [Titulo original: Das kapital]. Gabriel Deville (Trad.). 1 ed. Bauru: Edipro, 1998. 286 p. ISBN 8572830987", ou "A EDIPRO tem satisfação em oferecer ao leitor a tradução condensada d`O Capital por Gabriel Deville", ou "A Edipro apresenta a Edição Condensada de O Capital, com tradução de Gabriel Deville" - com esse tipo de dado, qualquer um poderia achar que gabriel deville traduziu o capital para o português. mas, mais amiúde, o que se tem é apenas algo na linha "O Capital - Edição Condensada - 3ª Edição 2008. Marx, Karl / EDIPRO".





ademais, na fundação biblioteca nacional, agência brasileira do isbn, tem-se:



PESQUISA NO CADASTRO DO ISBN



ISBN: 978-85-7283-597-8

TÍTULO: O CAPITAL

COLEÇÃO: CLÁSSICOS EDIPRO

AUTOR: KARL MARX

TRADUTOR: GABRIEL DEVILLE

EDIÇÃO: 3

ANO DE EDIÇÃO: 2008

LOCAL DE EDIÇÃO: SÃO PAULO

TIPO DE SUPORTE: PAPEL

PÁGINAS: 224

EDITORA: EDIPRO



puxa vida, que história. espero que o leitor tenha entendido que, digam o que disserem as editoras, esse capital de karl marx pouco tem a ver com o capital de karl marx. é um apanhado, uma "apostila", digamos assim, montada por deville a partir da tradução francesa de joseph roy (cuja revisão, aliás, teria comentado marx que lhe deu "um trabalho dos diabos").



num próximo post, pretendo comparar a tradução revista por gesner morgado (melso; ediouro), a tradução em nome de murilo coelho (coleção folha; edipro) e o original de gabriel deville.

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Published on December 05, 2010 18:03

coleção folha, o capital de gabriel deville I

.a coleção folha "livros que mudaram o mundo" lançou um volume com o título o capital, que seria da autoria de karl marx, em tradução de murilo coelho da tradução condensada francesa de gabriel deville. vamos a ele.





em 1883, o socialista francês gabriel deville publicou um resumo de das kapital de karl marx, livro I (único publicado em vida), acrescido de um curto ensaio de sua autoria sobre o socialismo científico. trata-se de:



Gabriel Deville, Le capital de Karl Marx, resumé et accompagné d'un aperçu sur le socialisme scientifique, Paris, Ernest Flammarion Éditeur, 1883.





essa introdução às ideias de marx se encontra disponível para download em diversos sites, por exemplo aqui, na biblioteca da universidade de toronto .



sob todos os pontos de vista, o autor dessa pequena obra de divulgação do pensamento marxista é gabriel deville. é tão descabido atribuir le capital de karl marx a marx como seria atribuir diretamente a hegel ou a tomás de aquino qualquer introdução, em qualquer língua que seja, aos conceitos da fenomenologia do espírito ou da suma teológica.



curiosamente, porém, le capital de karl marx veio a ser publicado desde 1912 em portugal e nos anos 30 no brasil dando a entender que fosse o próprio das kapital de marx, que teria sido traduzido e condensado por gabriel deville. aliás, não me admiraria muito se até mesmo o devilleano aperçu sur le socialisme scientifique, que precede seu resumo do livro I d'o capital, tivesse passado no brasil e em portugal por peça da lavra de marx.*



* quem se interessar pela divulgação inicial das ideias de marx nos países de língua portuguesa, há alguns levantamentos disponíveis na rede, que dão uma breve noção da coisa:

lincoln secco, leitura e difusão de o capital de marx

idem, notas para a história editorial de o capital

carlos bastien, os primeiros leitores portugueses de marx economista

denilson azevedo, a história da publicação das obras de marx e engels



referências mais completas para o brasil se encontram em dois livros de leandro konder:

a derrota da dialética: a recepção das idéias de marx e engels no brasil até o começo dos anos trinta (campus, 1988) e as idéias socialistas no brasil (moderna, 1995)



a coisa se torna ainda mais bizarra, pois o então jovem militante socialista gabriel deville em momento algum sugeriu que sua súmula se baseasse no original de marx. muito pelo contrário, ele esclareceu com todas as letras, no prefácio de seu opúsculo, que utilizara a tradução francesa: Quant au résumé, [...] il a été fait d'après l'édition française, dernière édition revue par l'auteur.





a tradução de das kapital tinha sido feita por joseph roy a partir da 1a. edição alemã, e foi publicada em fascículos entre 1872 e 1875, pelo editor maurice lachâtre. marx, ao ler a tradução e acompanhar os fascículos, procedeu a várias modificações que foram incorporadas à obra em francês. a primeira edição desses fascículos em formato livro saiu em 1875, entièrement revisée par l'auteur. em c. 1878, lachâtre lança uma segunda edição pelo selo da librairie du progrès. muito provavelmente é a esta edição de c. 1878 que se refere deville, quando cita a dernière édition revue par l'auteur.



a propósito das modificações feitas por marx, ver seu posfácio à edição francesa de 1875:

O Sr. J. Roy empenhou-se em apresentar uma tradução tão exacta, até literal, quanto possível; cumpriu escrupulosamente a sua missão. Mas estes mesmos escrúpulos obrigaram-me a modificar a redacção, a fim de a tornar mais acessível ao leitor. Estas alterações, feitas sem continuidade, pois que o livro se publicava em fascículos, foram objecto de atenção desigual, o que havia de produzir incoerências de estilo.



Uma vez empreendido esse trabalho de revisão, fui levado a aplicá-lo também no conteúdo do texto original (a segunda edição alemã), simplificando alguns tópicos, completando outros, incluindo material histórico ou estatístico adicional, acrescentando observações críticas, etc. Sejam quais forem as imperfeições literárias desta edição francesa, ela possui um valor científico independente do original e deve ser consultada mesmo pelos leitores que dominam a língua alemã.
(tradução de teixeira martins e vital moreira, karl marx, o capital, capítulo I.)



retomando o tema central: gabriel deville, então membro do parti ouvrier francês, queria apresentar um painel sintético e simplificado dos principais conceitos de marx para a divulgação do marxismo entre o operariado. assim, fez um apanhado das ideias centrais presentes n'o capital, conforme a tradução de roy, revista por marx, antepondo a essa introdução aos conceitos marxistas um artigo seu sobre o socialismo científico, em que expõe também pontos programáticos da linha socialista a que então se filiava. marx (que, diga-se de passagem, era sogro de paul lafargue, um dos fundadores do partido operário francês a que pertencia deville) tinha conhecimento da iniciativa e, segundo algumas fontes, dava seu apoio a ela. mas jamais chegou a vê-la impressa, morrendo meses antes de seu lançamento.



tal é a obra que se chama o capital de karl marx. não é de marx, e não é uma tradução, nem mesmo condensada, de das kapital.



em outro post, comentarei um pouco a fortuna lusobrasileira dessa introdução de gabriel deville às ideias de marx.



imagens: google images.
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Published on December 05, 2010 11:56

a propósito

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boa entrevista de maria luiza borges a jo gomes dos reis, em carta capital "o segredo de traduzir" .

via jane austen em português,

traduzindo jane austen e outros autores

imagem: translationtaskteam.
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Published on December 05, 2010 06:01

December 4, 2010

parturient montes, nascetur mus

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gosto da expressão de horácio, sintetizando a fábula de esopo: "a montanha pariu um rato". é a impressão que tenho e certamente muitos hão de ter diante de elaboradíssimas elucubrações sobre o ato tradutório, a operação do traduzir ou, mais pedestremente, o ofício de tradução.



acredito que algumas reflexões até podem ser interessantes e pertinentes, mas tenho algumas objeções de saída:

- algumas dessas questões são discussões conceituais que exigem um mínimo de formação filosófica e dificilmente guardam alguma relação direta com o ofício (por exemplo, a metafísica do idealismo romântico alemão generalizada e popularizada por antoine berman)

- outras questões não passam de trivialidades disfarçadas em discurso grandiloquente: no frigir dos ovos, o conteúdo é banal (por exemplo, um relativismo bastante radical extrapolado a partir do acacianismo de que toda tradução apresenta marcas histórico-culturais, como se vê em rosemary arroyo)

- outras ainda confundem problemas diferentes, misturando aspectos que pertencem a uma certa ordem de reflexão, como a chamada "invisibilidade" da tradução, com aspectos comerciais sobre o nível de remuneração que mereceria o tradutor (como em laurence venuti, por exemplo)



minha preocupação maior, porém, é que obras mais ou menos áridas, mais ou menos abstratas e, algumas delas, razoavelmente abstrusas têm sido discutidas e até tomadas como valor de verdade em alguns meios acadêmicos e mesmo extra-acadêmicos, sem que muitos de seus leitores cheguem a entender do que se trata.



assim, se falei longamente no colóquio de piracicaba e depois coloquei por escrito os temas tratados, com vários palavrões pomposos e altissonantes, o que eu quis dizer, no fundo, é que, em grande parte da tradução editorial no brasil, nós praticantes do ofício estamos no nível mais simples e básico da atividade. e aqui meu ponto seria: a gente até pode conseguir atravessar o rio e chegar do outro lado, mas com toda certeza não será nadando através dele.



ver:

colóquio de tradução na unimep: marcas
colóquio de tradução na unimep: autoria e responsabilidade
colóquio de tradução na unimep: marca pessoal e invisibilidade (onde se encontra também a referência da última frase: "nadando através dele")
imagem: rachel liang, flickr.
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Published on December 04, 2010 12:02

Denise Bottmann's Blog

Denise Bottmann
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