Denise Bottmann's Blog, page 113

February 7, 2011

diário do nordeste

reproduzo abaixo uma entrevista que dei a edma góis, do diário do nordeste. aqui o link .



Prejuízo para o leitor



6/2/2011



Tradutora experiente, Denise Bottmann está no centro do debate sobre o uso indevido de traduções. Ela denunciou casos aos Ministérios Públicos Estaduais de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. São 15 inquéritos sobre traduções com autorias forjadas atualmente disponíveis no mercado brasileiro. Em conversa com o Caderno 3, ela explica como começaram as suspeitas de plágio, além de opinar sobre o papel do Estado e do leitor em meio a essa discussão



O caso mais recente é o da investigação de plágios das traduções de Monteiro Lobato, a cargo do Ministério Público Federal. Há casos que a senhora esteja acompanhando?

Tem alguns inquéritos no Ministério Público Estadual de São Paulo, por iniciativa da tradutora Joana Canedo. A questão não é só do tradutor em si, mas da apropriação de um patrimônio cultural. Canedo entrou com uma grande petição e o Ministério Público Estadual de São Paulo instaurou um inquérito. Uma característica interessante é que uma boa maioria desses problemas acontece com traduções antigas, de textos de 1930 a 1950. Tem ainda um percentual de obras mais recentes envolvendo textos de Portugal.



Que suspeitas a senhora considera mais graves?

É o da editora Landmark. Mas em termos quantitativos (são quase 200), é o da Martin Claret. No caso da Landmark, um dos proprietários atribui a seu nome à tradução de "Persuasão" (Jane Austen). No início ele negava e depois contestou a adequação do termo "plágio". Uma das acusações que sofri é que eu estaria usurpando o papel do juiz ao condená-lo por "plágio". Eu apenas apontei a ocorrência de plágio, o que eu posso demonstrar em juízo.



Como vieram à tona os plágios de traduções portuguesas ?

A Universidade de Lisboa desenvolveu e publicou uma tradução de uma obra do Nietzsche. Essa tradução foi copiada por uma editora, substituindo o nome da legítima tradutora. No Brasil, a Martin Claret esteve envolvida em um dos primeiros escândalos. Um professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) apontou um plágio de uma tradução de "A República", de Platão. Na verdade, essa tradução tinha sido feita por uma estudiosa portuguesa e copiada pela Martin Claret, com outro nome.



Como atuam aqueles que usam indevidamente as traduções?

Normalmente, são dois tipos de plágio: o de tradutores originais já mortos ou de traduções atribuídas a nomes fictícios. A diferença do caso de Portugal é de que as tradutoras estão vivas. Existe uma pequeníssima minoria de tradutores brasileiros vivos que sofreram esse tipo de lesão. São os casos do poeta e historiador Ernâni Donato e do crítico literário Luiz Costa Lima. O caso dos dois foi com a editora Nova Cultural.



Há algum levantamento dos plágios no Brasil?

Todas as iniciativas são individuais. Na época em que denunciei, contei com o apoio do Sindicato Nacional dos Tradutores (Sintra) e da Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes (Abrates). Um dos maiores apoios vem dos setores acadêmicos, fundamentalmente dos departamentos de Letras e de Filosofia, porque uma questão é que os plágios são obras em domínio público de grandes clássicos da literatura e da filosofia.



O leitor não tem como saber que está comprando uma tradução copiada?

Bem ou mal, o tradutor é protegido por lei. Se tivesse algum caso de tradução minha lesada, entraria com uma ação judicial e não com o Ministério Público. A questão do leitor é essa. Ele não é reconhecido como parte legítima para ingressar com ação de lesão contra seus direitos. Estou com mais de 15 inquéritos como cidadã por estar sendo lesada por essas editoras. O Ministério Público de São Paulo, Rio de Janeiro e do Paraná aceitaram meus pedidos de representação por lesão ao Código do Consumidor. As editoras são Ediouro, Fundamento, Germinal, Grupo Geração, Landmark, e Martin Claret. O que eu digo é que aquela informação sobre a tradução é incorreta e induz o leitor ao erro.



Qual a importância da averiguação do MPF?

É um grande precedente o MPF passar a reconhecer a lesão ao patrimônio, mesmo que não seja de textos em domínio público. No caso de Monteiro Lobato, ele reconhece que a sua contribuição integra o patrimônio cultural brasileiro, mesmo que os direitos autorais ainda pertençam à família. É reconhecer publicamente que uma obra literária, mesmo sem ser de domínio público, deve ser protegida pelo Estado. Eu, como leitora, não posso fazer nada, a não ser como consumidora. Mas que leitor irá saber? Eu posso ver irregularidades porque sou tradutora há mais de 25 anos. O leitor, em geral, não.



E o que pensar sobre os textos que estão na Internet?

O grau de infiltração é enorme. Tem vários para downloads. É incontrolável. São textos de estudo e muitos de graduação e pós-graduação. É mais fácil comprar em sebos, a baixos preços, do que fazer impressão de arquivos. Para consultas rápidas, funciona sim, mas para acervos de biblioteca, não acho que dê certo. O problema ainda é o livro impresso mesmo.



EDMA CRISTINA DE GÓIS

ESPECIAL PARA O CADERNO 3



foi uma longa conversa por telefone com a jornalista, a quem agradeço muito a oportunidade. gostaria apenas de fazer um reparo, pois talvez eu não tenha me expressado com clareza: indagada sobre o caso da landmark, em que um dos sócio-proprietários da editora, o sr. fábio cyrino, assinava uma das edições suspeitas, ao comentar sua gravidade eu estava pensando na ação judicial que a editora e o editor moveram contra minha pessoa, e que se encontra em curso. considero-o o caso mais grave, tanto pelas demandas da editora quanto pelo fato de que outra ação judicial contra mim, movida pelo sr. martin claret, não prosperou. deixei um comentário na página da entrevista, fazendo esse esclarecimento que me parece oportuno. do ponto de vista do catálogo da landmark, o nãogostodeplágio apontou apenas duas irregularidades: persuasão o morro dos ventos uivantes. veja aqui e aqui .



outra pequena retificação: ingressei com mais de quinze petições junto ao ministério público contra irregularidades praticadas por várias editoras. nem todas essas petições deram origem a inquéritos.

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Published on February 07, 2011 09:55

coleção folha: pascal, pensamentos

a coleção folha havia anunciado que publicaria pensamentos de pascal na antiga tradução de paulo m. oliveira. por alguma razão que desconheço e nem creio que venha ao caso, optou-se por uma outra tradução, cuja autoria é identificada na ficha catalográfica da obra em nome de isolina bresolin vianna, para a editora edipro, que licenciou seu copyrigth [sic] para a coleção "livros que mudaram o mundo".





a edição francesa adotada para a tradução é de 1671, em publicação a cargo de eric dubreucq. encontra-se disponível aqui .



esperar-se-ia de uma nova tradução de pascal - existem tantas traduções de seus pensamentos em português! - que pudesse talvez contribuir para a fortuna crítica do pensador em terra brasilis.



infelizmente, não parece ser este o caso. a bem da verdade, temo que essa tradução publicada pela coleção folha até constitua um retrocesso em relação às traduções anteriores dos pensamentos. digo "retrocesso", pois desde as primeiras linhas da obra é possível notar deficiências no domínio do francês que comprometem o entendimento até mesmo de coisas muito simples.



assim temos logo na primeira frase de "Contra a indiferença dos ateus":

Que ceux qui combattent la Religion apprennent au moins quelle elle est avant que de la combattre. 



isto é, ao pé da letra: "Que aqueles que combatem a Religião aprendam pelo menos o que ela é antes de combatê-la". um conselho sensato, diga-se de passagem, que se aplica não só à religião.



estranhamente temos na edição edipro/folha: "Aqueles que combatem a Religião mais fazem que ela siga avante do que a combatem".



ou S'ils parlaient de la sorte, ils combattraient à la vérité une de ses prétentions como "Se eles falassem da sorte, combateriam a verdade única de suas pretensões" (Se falassem dessa maneira, na verdade estariam combatendo uma de suas pretensões).



ou Ainsi notre premier intérêt et notre premier devoir est de nous éclaircir sur ce sujet d'où dépend toute notre conduite como "Assim, nosso primeiro interesse e nosso primeiro dever é nos esclarecer sobre que assunto deve depender toda nossa conduta" (...nos esclarecer sobre esse assunto, do qual depende toda nossa conduta).



não tenho o menor interesse em tripudiar ninguém, nem a menor intenção de lesar honras e ferir sensibilidades, e não estou disposta a ficar sendo acionada, processada etc. por editoras insatisfeitas com minhas críticas, que julgo serem bastante objetivas e fundamentadas. aqui estou falando de um livro em sua materialidade física e concreta, com sua respectiva identificação bibliográfica, posto à venda no mercado e com respaldo numa ampla campanha de divulgação comercial.



é extensa a lista de equívocos e erros presentes nessa edição, mas creio que bastam esses rápidos exemplos extraídos da primeira página da obra (p. 13). a meu ver, ilustram claramente a precariedade da tradução, seus erros palmares: entendo que a coleção folha pisou mais uma vez na bola oferecendo esse produto medíocre a seus leitores.

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Published on February 07, 2011 07:41

editora legatus II

Em sua Coleção Clássicos da Literatura Internacional, a Editora Legatus oferece na Amazon:

Dostoievski, O idiota, em tradução de Paulo Besera (sic)
Dostoievski, Crime e castigo, em tradução de Paulo Besera
Dostoievski, Os irmãos Karamazov, em tradução de Paulo Besera
Dostoievski, Noites brancas, em tradução de Paulo Besera
Dostoievski, Uma criatura dócil, em tradução de Paulo Besera
A jornalista Raquel Cozer constatou que uma das traduções que a Editora Legatus vende, atribuindo-a a um mal-grafado Paulo Bezerra ou a um fantasmagórico Paulo Besera, na verdade corresponde à tradução feita por José Geraldo Vieira - imagino que se trate de O idiota, única obra de Dostoievski, até onde sei, que José Geraldo traduziu, por interposição do francês, e que saiu pela José Olympio em 1949 (3a. ed. 1952).



O engraçado é que essa tradução de José Geraldo Vieira - que parece se enquadrar na definição de "obra abandonada" e, portanto, estaria em domínio público - se encontra  disponível gratuitamente em vários sites. O primeiro site de download que aparece em consulta no Google - o superdownloads.us - traz uma imagem meio borrada da edição da 34, com o nome de Paulo Bezerra na capa. Mas, se você pede o download (demora uma eternidade), a obra que baixa é justamente a tradução citada por Raquel Cozer, a de José Geraldo Vieira.Talvez tenha sido este o gancho para o "Paulo Besera" da Legatus:



imagem: superdownloads.us .
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Published on February 07, 2011 04:04

February 6, 2011

matéria no diário do nordeste

Reproduzo aqui a matéria "Plágios no Mundo das Traduções", publicada hoje, 06 de fevereiro, no Caderno 3 do Diário do Nordeste Aqui o link para a matéria.

PLÁGIOS NO MUNDO DAS TRADUÇÕES
Até abril, o Ministério Público Federal dará resposta sobre a análise das traduções de "O Lobo do Mar" e "O Livro de Jângal", traduzidas por Monteiro Lobato, mas que estampam outros nomes de tradutores nas edições do selo Martin Claret.



Grandes nomes que preenchem a lista de renomados autores brasileiros tiveram em seu currículo uma atividade paralela, a de tradutor. O criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo, Monteiro Lobato, por exemplo, traduziu Lewis Carroll ("As aventuras de Alice no País das Maravilhas"), Hans Christian Andersen ("Contos de Andersen"), Daniel Defoe ("Robinson Crusoé"), Alexandre Dumas ("A mão do finado") e Ernest Hemingway ("Adeus às armas" e "Por quem os sinos dobram"). Agora, Monteiro Lobato tem seu nome no fogo cruzado de uma investigação do Ministério Público Federal, que averigua denúncia de plágios de traduções feitas pelo autor, porém atribuídas a outras pessoas.



A tradutora Denise Bottmann entrou com uma representação, alegando que as obras "O Lobo do Mar" (Jack London) e "O Livro de Jângal" (Rudyard Kipling), ambos publicados pela editora Martin Claret, trazem em suas capas outros nomes de tradutor, quando o verdadeiro autor das traduções seria Lobato. O assunto está sendo tratado pelo MPF e até o fim de abril será finalizada a perícia técnica dos livros. Para isso, o MPF analisa a necessidade de pedir ajuda técnica de pesquisadores da área de literatura de alguma universidade federal. Caso raro de investigação para o próprio órgão, a suspeita de apropriação de tradução de terceiros é tratado no inquérito cível, como ação de desrespeito ao patrimônio cultural brasileiro.



Em caso de comprovação de plágio, o MPF poderá solicitar o recolhimento das obras que estiverem no mercado, assim como a impressão de erratas corrigindo o nome do verdadeiro tradutor. O MPF, por meio de sua assessoria de imprensa, também não descarta a possibilidade de um acordo entre a família, detentora dos direitos autorais, da obra e a editora Martin Claret, mas reconhece que caso isso aconteça, não resolve o prejuízo causado ao leitor, afinal de contas, o mais fraco dessa disputa. Quem não tem conhecimento para avaliar se uma obra foi plagiada ou não pode acabar comprando gato por lebre.



Descaracterização



Segundo a tradutora Denise Bottmann, que tem um vasto currículo de traduções da Companhia das Letras, é comum a tradução vir com alterações mínimas no texto para descaracterizar o uso indevido da obra, deixando os leitores em maus lençóis e que cifras deixem de ser pagas a quem é de direito. Denise Bottman é tradutora há mais de 25 anos e escreve o blog "Não gosto de plágio", onde faz defesas do trabalho dos tradutores e denuncia suspeitas de plágio. Com base nos 15 inquéritos com os quais Bottmann entrou na Justiça, ela contabiliza de 8 a 10 milhões de exemplares plagiados nas livrarias do País.



A assessoria de imprensa da editora Martin Claret ainda minimiza a repercussão da investigação do MPF, alegando que nem mesmo a família de Monteiro Lobato, a maior interessada no caso, procurou pelo selo. "Não recebemos notificação nem recebemos reclamação de nada", afirmou. Ainda de acordo com a assessoria, as edições de ´O Lobo do Mar´ e ´O Livro de Jângal´ estavam há 14 anos no mercado sem nenhum problema. O clássico de Jack London não seria encontrado no mercado há dois anos e o segundo título foi recolhido para que uma reedição, com nova tradução, fosse colocada nas livrarias em novembro do ano passado. A Martin Claret contabiliza o recolhimento de 3 mil exemplares dessa segunda obra. Apesar das alegações da Martin Claret, "O Lobo do Mar" e "O Livro de Jângal" ainda podem ser encontrados em catálogos virtuais de livrarias como a Cultura.



A advogada da editora, Maria Luíza Eger, disse que, a exemplo do que aconteceu em 2003, quando a editora foi considerada culpada em caso de plágio e teve de ressarcir o autor e encomendar nova tradução, poderá reparar dados caso seja provado que houve cópia indevida de tradução. "Não conhecemos o inquérito, então é difícil falar sobre. Mas a editora é uma produtora cultural que não atua sozinha. A culpa no caso é do tradutor contratado e não da editora", afirmou.



Primeiras denúncias



São poucos os casos de autores vivos que viram seus trabalhos de tradução assinados por outros nomes. Em 2001, um dos tradutores prejudicados nessa história foi o professor de literatura Alfredo Bosi. Logo a seguir, em 2003, o escritor Ivo Barroso, denunciou traduções indevidas das editoras Nova Cultural e Martin Claret, em artigos de jornal. Em 2007, a Universidade de Goiás denunciou uma suspeita de plágio da tradução de "A República", de Platão. O crítico Luiz Costa Lima também está entre os nomes de tradutores ocultados das capas de livros.



Na opinião do escritor e um dos mais importantes tradutores do País, Ivo Barroso, com mais de 40 livros publicados, a maioria com traduções de Arthur Rimbaud (1854-1891), a discussão sobre os plágios no Brasil passa necessariamente por uma ação cultural de valorização dos livros. "Enquanto não tivermos uma política cultural séria, que resguarde livros, autores e tradutores, nada vai acontecer, nem os processos judiciais darão resultado", disse. Barroso se dedica a obra de Rimbaud desde os anos de 1970, foi vencedor do Prêmio Jabuti de Tradução, de 1998, e premiado também pela tradução de T. S. Eliot (1888-1965) - O livro dos gatos e Teatro Completo.



O tradutor desfaz o argumento de que traduções não podem ser tão diferentes entre si. É muito difícil tradutores diferentes usarem os mesmos verbos, por exemplo. "Esse teste já foi feito em universidades. A minha leitura é diferente da sua, por isso não tem como termos textos idênticos. Na poesia, essa identificação é mais imediata", explica. Quando Ivo Barroso denunciou, pelos jornais, traduções plagiadas pela Martin Claret e Nova Cultural, em 2003, ele alegava que apenas alguns termos, de modo muito sutil, haviam sido alterados, para mascarar a "nova tradução". "Era estranho, mas fácil de identificar. Toda maquiagem é criminosa", disse Barroso.



Domínio público versus tradução

Kipling: obras em domínio público e suspeita de plágio



A discussão sobre o domínio público parece dar mais munição para que traduções sejam comercializadas com nomes falsos ou sem constar os nomes de seus tradutores. Isso porque além do grande público não atentar para o nome do tradutor estampado na capa do livro, também não sabe do que trata o "domínio público". Este nada ou pouco tem a ver com as traduções. "O que pode acontecer é o uso de má fé do nome ´domínio público´", afirma a tradutora Denise Bottmann.



De acordo com a legislação, a obra entra em domínio público 70 anos após a morte de seu autor, no entanto, não inclui as traduções das mesmas. Assim, a obra de Walter Benjamim, em domínio público a partir de 2011, está disponível para o público, que não mais precisa pagar pelos direitos autorais aos descendentes do autor, em sua língua original. A partir daí, espera-se por exemplo que mais obras de Benjamin circulem no Brasil, uma vez que o domínio público irá baratear as novas edições. No entanto, nada toca na questão da tradução, que deve continuar sendo respeitada e protegida.



O tradutor é um transpositor da obra original, tendo de recorrer à pesquisa e ao conhecimentos de outras áreas para executar seu trabalho. Contudo, o tradutor não é considerado co-autor do texto. As editoras são obrigadas a registrar em suas edições os nomes dos tradutores, como parte integrante do trabalho que chega às mãos do leitor. Profissão reconhecida, porém não regulamentada, o tradutor, muita vezes, concilia esta atividade com trabalhos de outras áreas (ensino, pesquisa e jornalismo etc). De acordo com o Sindicato Nacional dos Tradutores (Sintra), o valor da lauda traduzida hoje é de R$12.



EDMA CRISTINA DE GÓIS

ESPECIAL PARA O CADERNO 3
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Published on February 06, 2011 08:49

February 5, 2011

editora legatus

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Complicado. Hoje a jornalista Raquel Cozer publica a seguinte notícia em sua coluna do Sabático :

INTERNET-1

Surpresa eletrônica



O minguado catálogo de e-books em português na Amazon guarda surpresas entre as traduções de clássicos. Obras de Dostoiévski aparecem com "Paulo Besera" como tradutor, a US$ 6,99 cada uma. Quem arrisca a sorte, na esperança de que seja erro de digitação do site americano, recebe no Kindle a versão de José Geraldo Vieira (1897-1977), feita em 1952 do francês, e não do russo. Os livros são "editados" por uma tal Legatus, que vende várias outras traduções na Amazon e não tem endereço para contato na rede. "Vou me informar e vou processá-los", diz Paulo Bezerra, que verte pela 34 as obras completas de Dostoiévski.
Quem achar a coisa curiosa e for ao site da Amazon, em sua Kindle Store, constatará que a  Legatus Editora  oferece 139 títulos em seu catálogo. Esses títulos se distribuem em várias coleções:

- Coleção de Leis (CLT, Código da OAB, súmulas do STJ etc.)

- Coleção Classics (clássicos da literatura em inglês, p.ex. David Copperfield)

- Coleção Clássicos da Língua Portuguesa (Camões, Machado de Assis etc.)

- Coleção Clássicos da Literatura Internacional (em tradução; Kafka, Voltaire, Jane Austen etc.)

- Coleção Clássicos da Política (em tradução; Marx, Maquiavel etc.)

- Coleção Clássicos da Filosofia (em tradução: Descartes, Kant, Allan Kardec[!])

- Coleções Erótica, Gay Erótica e Erótica com Fotos

- variados (Bíblia, Constituição Americana etc.)



Veja-se, por exemplo: Discurso sobre o Método (Clássicos da Filosofia) (Portuguese Edition) by René Descartes and Enrico Corvisieri (Kindle Edition - Aug. 24, 2010) - Kindle eBook Buy: $6.99 Auto-delivered wirelessly



Ora, essa suposta tradução de Descartes sob o nome inventado de "Enrico Corvisieri" é uma coisa tão descabelada que a própria Editora Nova Cultural, responsável por essa edição desde 1999, retirou-a de circulação e catálogo. É uma apropriação indevida, cheia de alterações alopradas, da consagrada tradução do Discurso do método feita por Jacó Guinsburg e Bento Prado Jr. no final dos anos 1950, para a Difel.



A tradução espúria assinada pelo fantasmático Enrico Corvisieri se encontra disponível para download gratuitamente, por obra e (des)graça de um tal Grupo Acrópolis, que infestou a rede com ela. Já a boa notícia é que a tradução legítima de Jacó Guinsburg e Bento Prado Jr. também se encontra disponível para download gratuito , por cortesia dos detentores de seus direitos.



E agora vem a Editora Legatus, que, além de se apropriar da fraude da Nova Cultural, ainda por cima quer cobrar por ela?!



O nãogostodeplágio deu ampla cobertura a esse problema. Consulte aqui .

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Published on February 05, 2011 11:23

February 4, 2011

caso germinal

recentemente fui chamada à delegacia para uma oitiva sobre o caso da editora germinal. eu tinha entrado com um pedido de representação junto ao ministério público estadual de são paulo, e o procurador considerou por bem mandar instaurar um inquérito para apurar as responsabilidades.



compareci à delegacia, confirmei nomes, fatos e provas, e o inquérito continua em andamento.



por coincidência, vejo que o crítico literário alfredo monte, um dos primeiros a denunciar essas terríveis ocorrências de plágios e cópias de traduções alheias, republicou em seu excelente blog, Monte de Leituras, um oportuníssimo Memorial do Caso Germinal .



transcrevo alguns trechos de seu artigo extremamente esclarecedor:

Uma das editoras que surgiram nos últimos anos, a Germinal, vem publicando traduções suspeitíssimas. Contatos foram tentados com os responsáveis, mas não há explicações plausíveis para o fato de as traduções de Felipe Padula Borges para Mulheres apaixonadas, de D. H. Lawrence, e Wilson Hilário Borges para Os Sonâmbulos, de Hermann Broch, serem cópias de versões anteriores. Não tiveram nem o cuidado de disfarçar um pouco, o máximo a que se deram ao trabalho foram algumas mudanças insignificantes!





É lamentável, ainda mais porque se perdeu a oportunidade de oferecer, no caso de Broch, a primeira tradução legítima no Brasil (pois o suposto trabalho de Wilson Hilário Borges copia o do português Jorge Camacho para as Edições 70) de uma obra-prima; no caso de Lawrence, apesar de circular em nosso país há muito tempo, numa adaptação de Ruth de Biasi, a versão descaradamente copiada também é um texto lusitano, de Cabral do Nascimento, editada pela Record, pelo Círculo do Livro, pela Abril Cultural e recentemente pela Nova Cultural, herdeira mais pobre (em qualidade). [...] É ela que foi plagiada por Felipe Padula Borges. Eis um trecho plagiado:



pág. 482 (ed. Record): "Aquele lugar evocava uma panela pouco funda que jazesse entre neve e pedregulhos, num mundo perto das nuvens. Ali adormecera Gerald. Em volta os guias tinham pregado estacas de ferro, de maneira a poderem içar-se com o auxílio de uma comprida corda amarrada a elas; assim atingiriam, para além dos cimos denteados, a área de neve endurecida, que se confundia com o céu e onde se escondia Marienhutte entre penhascos. Em toda a volta havia picos aguçados erguidos para o firmamento, como compridos pregos muito alvos."



pág. 563 (ed. Germinal): " Aquele lugar evocava uma panela pouco funda que jazesse entre neve e pedregulhos, num mundo perto das nuvens. Ali adormecera Gerald. Em volta os guias tinham pregado estacas de ferro, de maneira a poderem içar-se como auxílio de uma comprida corda amarrada a elas; assim atingiriam, para além dos cimos denteados, a área de neve endurecida, que se confundia com o céu e onde se escondia Marienhutte, entre penhascos. Em toda a volta havia picos aguçados erguidos para o firmamento, como compridos pregos muito alvos."



Como [se] vê, a única contribuição de Felipe Padula Borges para a versão anterior foi uma vírgula após a palavra Marienhutte.



Vejamos agora o caso de "Os Sonâmbulos". O livro foi lançado pelas edições 70, de Portugal, em três volumes ( os números 7, 11 e 13 da Coleção Caligrafias). O primeiro volume, "Pasenow ou O Romantismo" (em 1988), traduzido por António Ferreira Marques.





pág. 164 (ediçôes 70): "Acudiu-lhe ao espírito uma frase de Clausewitz: ninguém age senão por pressentimento e instinto da verdade. E, num pressentimento, o coração revelou-lhe que lhes seria concedida, num lar cristão, a ajuda salvadora e protectora da graça, para que eles não tivessem de peregrinar sobre a terra ignorantes, desamparados e sem objectivo, a caminho do nada."



pág. 160 (Germinal): "Acudiu-lhe ao espírito uma frase de Clausewitz: ninguém age senão por pressentimento e instinto da verdade. E, num pressentimento, o coração revelou-lhe que lhes seria concedida, num lar cristão, a ajuda salvadora e protetora da graça, para que eles não tivessem de peregrinar sobre a terra ignorantes, desamparados e sem objetivos, a caminho do nada."



O sr. Wilson Hilário Borges teve muito trabalho nesse trecho: tirar o "c" lusitando de protectora e objectivo.



O 2o. volume ((1989), "Esch ou A Anarquia", foi traduzido (assim como o 3o., do mesmo ano, "Huguenau o O Realismo") por Jorge Camacho.



pág. 306-7 do 3o. volume (edições 70): "Qualquer deles sabe efectivamente que a vida do homem não é suficiente para levar os passos ao longo dessa estrada que sobe em espiral para plataformas sempre mais elevadas e onde o que foi e o que se afunda ressurge mais alto, sob a forma de fim, para se enterrar a cada passo nas brumas mais distantes; via infinita do círculo fechado e da realização, realidade lúcida em que as coisas se desagregam e se afastam até aos pólos e aos confins do mundo" etc etc.



pág. 697 (Germinal, que publicou os três num volume só):"Qualquer deles sabe efetivamente que a vida do homem não é suficiente para levar oa passos ao longo dessa estrada que sobe em espiral para plataformas sempre mais elevadas e onde o que foi e o que se afunda ressurge mais alta, sob a forma de fim, para se enterrar a cada passo nas brumas mais distantes: via infinita do círculo fechado e da realização, realidade lúcida em que as coisas se desagregam e se afastam até os pólos e aos confins do mundo" etc etc.



O trecho acima deu mais trabalho: além do "c" de efectivamente, ele teve de tirar uma preposição de "aos pólos".
Como disse, o inquérito para apurar as responsabilidades da editora em questão está em andamento. Espero que a procuradoria do estado venha a tomar as providências cabíveis e previstas em lei.

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Published on February 04, 2011 09:18

January 30, 2011

leitura dominical II

muito bom artigo de lenke peres: " mudança no mundo da tradução ", no observatório da imprensa.

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Published on January 30, 2011 05:44

leitura dominical

para quem é assinante da uol ou da folha de s.paulo, um ótimo artigo de paulo henriques britto: " caleidoscópio de boris ".

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Published on January 30, 2011 05:27

Denise Bottmann's Blog

Denise Bottmann
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