Denise Bottmann's Blog, page 77

April 19, 2012

coisas boas

quantas novidades!








a tordesilhas lança contos de imaginação e mistério, de edgar allan poe, na tradução do competentíssimo cássio de arantes leite, numa bela edição ilustrada por harry clarke. são 22 contos (o site da editora, porém, não fornece o índice nem os nomes dos contos...) para engrossar a poeana brasileira. (agradeço o toque de nilton resende.) aqui, uma canja com "a máscara da morte vermelha".





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a revista língua portuguesa vai lançar nestes dias seu número especial, dedicado à tradução, com várias matérias e entrevistas (inclusive um depoimento meu).





Título do Livro




está saindo pela cosac a segunda mrs. dalloway neste ano, esta em tradução do caro amigo claudio marcondes. depois de um jejum de quase setenta anos, desde a primeira (e até 2011 a única) tradução brasileira, a de mário quintana, temos agora em 2012 as traduções de tomaz tadeu pela autêntica, a do claudio pela cosac e a minha (que deve sair em breve) pela l&pm.

longa vida à dama woolf.





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a revista cult, em seu último número saindo também por esses dias, vai trazer uma matéria sobre a nova tradução de dalloway (qual delas, ainda não sei - atualização em 21/4: o pessoal da revista me avisa lá no facebook que é a tradução de tomaz tadeu, pela autêntica).





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o número 2 da revista zum, do IMS, aqui saindo da gráfica, com fotos e entrevistas maravilhosas (e algumas traduções feitas por esta que vos fala; posso adiantar que a legenda desta foto é: "Soldado do Exército Nacional Afegão protegendo o rosto com um saco plástico durante tempestade de areia no Posto Avançado de Combate 7171, na Província de Helmand, Afeganistão, 28 de outubro de 2010").




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Published on April 19, 2012 17:07

April 18, 2012

em defesa de brenno II








ainda sobre o artigo "edgar poe em português: limites entre tradução e adaptação", da autoria de élida paulina ferreira e karin hallana santos silva, publicado na revista domínios de linguagem (v. 5, n. 3, 2011, disponível aqui), ter-se-ia que brenno silveira teria ferido "o princípio de fidelidade" e "quebra[do] a atmosfera de suspense e mistério" do conto "metzengerstein", de poe, devido à "supressão" de vários trechos do original em sua tradução. de mais a mais, brenno teria alterado a idade de um dos personagens de quinze para dezoito anos.



como seria muito longo transcrever todos os trechos supostamente suprimidos, reproduzo aqui apenas o breve trecho em que brenno teria alterado a idade do protagonista, citado às pp. 25-26 do referido artigo:


Frederick was, at that time, in his fifteenth year. In a city fifteen years are no long period — a child may be still a child in his third lustrum: but in a wilderness — in so magnificent a wilderness as that old principality, fifteen years have a far deeper meaning. 


Frederick contava, a essa altura, dezoito anos. Numa cidade, dezoito anos não são muito tempo; mas na solidão  – numa solidão tão magnífica como a daquele velho principado – o pêndulo vibra com um significado mais profundo.

as autoras consideram que se trata de uma opção proposital de brenno,* para adaptar o original ao contexto brasileiro, onde se atinge a maioridade aos dezoito anos, ademais suprimindo a frase "a child may be still a child in his third lustrum" para melhor adequar o texto em português a seus propósitos de "contextualização". o veredito é o seguinte:


Essa contextualização, no entanto, implica uma interpretação distinta do original no que concerne à visão que se tem da personagem, uma vez que com quinze anos ele é considerado uma criança e explicaria suas atitudes diante da perda dos pais. Sendo um adulto o fragmento perde todo o sentido em português. [p. 26; negrito meu]

ok, magister dixit. veja-se, porém, o texto original de poe em sua versão definitiva:


Frederick was, at that time, in his eighteenth year. In a city, eighteen years are no long period; but in a wilderness — in so magnificent a wilderness as that old principality, the pendulum vibrates with a deeper meaning. (1850)

tal como no caso dos supostos acréscimos e do "comentário interpretativo" que brenno silveira teria incluído em sua tradução de "berenice" - e que comentei aqui -, também aqui, nas alegadas supressões e alterações que ele teria efetuado em sua tradução de "metzengerstein", o simples fato é que, na verdade, as diferenças resultam da revisão que o próprio autor, edgar allan poe, fez em seu conto. a versão de "metzengerstein" utilizada por brenno é a definitiva, como consta na edição de 1850, ao passo que as autoras do artigo utilizaram a versão de 1840 para basear sua análise, apontar supostos acréscimos, supressões e contextualizações na tradução brasileira e tecer juízos sobre pretensas perdas de sentido em português, sobre uma alegada destruição da atmosfera de suspense resultante de tais supostas intervenções do tradutor e assim por diante.



não sei o que dizer. de certa forma, os fatos falam por si sós. mas fico com a impressão de que seria talvez desejável um pouco mais de pesquisa, de dedicação e humildade em relação ao objeto de estudo, até para conseguir entendê-lo melhor.



* e de clarice lispector também, com sua adaptação tratada em paralelo com a tradução de brenno.





imagem: metzengerstein , de harry clarke, 1933


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Published on April 18, 2012 16:56

em defesa de brenno I

a revista domínios de linguagem dedicou seu último número (v. 5, n. 3, 2011, disponível aqui)

à atividade de tradução. entre os artigos encontra-se "edgar poe em português: limites entre tradução e adaptação", da autoria de élida paulina ferreira e karin hallana santos silva.



sem pretender me deter nos indiscutíveis méritos do artigo, faço inicialmente uma pequena retificação: a identificação entre tales of the grotesque and arabesque e histórias extraordinárias não passa de um tolo despautério editorial perpetrado pela abril cultural em 1978, que acabou gerando alguns equívocos. sobre o histórico do uso desse título histórias extraordinárias no brasil desde 1958 e os descaminhos pelos quais enveredou a partir de 1978, pode-se consultar meu artigo, "alguns aspectos da presença de edgar allan poe no brasil", em esp. IV.3, aqui.



o reparo mais importante que tenho a fazer sobre o artigo de élida ferreira e karin silva, porém, diz respeito ao exemplo apresentado como prova dos acréscimos que brenno silveira teria feito ao texto original de edgar allan poe, no conto "berenice":


Nesse âmbito, além de omissões também  observamos acréscimos de trechos. Quando o tradutor opta por acrescentar algo à tradução que não consta no original, ele amplia de forma a trazer mais elementos interpretativos,  interferindo na recepção do texto e, eventualmente, criando uma imagem diferente desse texto na língua de chegada. (p. 26, negritos meus)

o exemplo dado como acréscimo de algo "que não consta no original" é o seguinte, às pp. 26-7 (em destaque meu):


Poe: “I held them in every light – I turned them in every attitude. I surveyed their characteristics – I dwelt upon their peculiarities – I pondered upon their conformation – I mused upon the alteration in their nature – and shuddered as I assigned to them in imagination a sensitive power, and even when unassisted by the lips, a capability of moral expression. Of Mad’selle Sallé it has been  said, ‘que tous ses pas etaient des sentiments’, and of Berenice I more seriously believed que tous ses dents etaient des idées.


Silveira: “Via-os sob todos os aspectos; revolvia-os em todos os sentidos; estudava suas características. Refletia longamente sobre suas peculiaridades. Meditava sobre sua conformação. Cogitava acerca de sua natureza. Estremecia ao atribuir-lhes, em minha imaginação, uma faculdade de sensação e de sensibilidade e, mesmo quando não ajudados pelos lábios, uma capacidade de expressão moral. De Mademoiselle Sallé foi dito – aliás muito bem  – que ‘tous ses pás étaient des sentiments’, e, de Berenice, eu acreditava ainda mais seriamente que toutes ses dents étaient des idées! Des idées!- ah! Aqui estava o pensamento idiota que me destruiu! Des idées! –Ah era por isso que eu os cobiçava tão loucamente! Sentia que somente a posse deles poderia restituir-me a paz, fazendo-me recobrar a razão.”



seria de fato surpreendente que brenno, um dos tradutores mais cuidadosos e atentos à letra e ao sentido das obras que traduzia, tivesse acrescentado à sua tradução as frases: "Des idées!- ah! Aqui estava o pensamento idiota que me destruiu! Des idées! –Ah era por isso que eu os cobiçava tão loucamente! Sentia que somente a posse deles poderia restituir-me a paz, fazendo-me recobrar a razão", apenas a título de "comentário interpretativo", como afirmam as autoras à p. 27.



na verdade, a questão é bem mais simples. trata-se apenas de duas versões diferentes de "berenice": as  autoras tomaram como referência a versão de 1835, reproduzida na edição das TGA de 1840, ao passo que brenno silveira utilizou a versão definitiva, que poe havia estabelecido para publicação desde 1845. veja-se a versão final do texto de poe (negrito meu):


I held them in every light. I turned them in every attitude. I surveyed their characteristics. I dwelt upon their peculiarities. I pondered upon their conformation. I mused upon the alteration in their nature. I shuddered as I assigned to them in imagination a sensitive and sentient power, and even when unassisted by the lips, a capability of moral expression. Of Mademoiselle Sallé it has been well said, “Que tous ses pas etaient des sentiments,” and of Berenice I more seriously believed que tous ses dents etaient des idées. Des idées! — ah here was the idiotic thought that destroyed me! Des idées! — ah therefore it was that I coveted them so madly! I felt that their possession could alone ever restore me to peace, in giving me back to reason.

em suma, o tradutor não procedeu a qualquer acréscimo ou comentário interpretativo a esta passagem: o acréscimo fora feito pelo próprio autor, edgar allan poe, na versão definitiva de "berenice", ela sim utilizada por brenno silveira em sua tradução.


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Published on April 18, 2012 07:48

April 17, 2012





The Common Reader, by Virginia Woolf



The C...







The Common Reader, by Virginia Woolf



The Common Reader


There is a sentence in Dr. Johnson’s Life of Gray which might well be written up in all those rooms, too humble to be called libraries, yet full of books, where the pursuit of reading is carried on by private people. “. . . I rejoice to concur with the common reader; for by the common sense of readers, uncorrupted by literary prejudices, after all the refinements of subtilty and the dogmatism of learning, must be finally decided all claim to poetical honours.” It defines their qualities; it dignifies their aims; it bestows upon a pursuit which devours a great deal of time, and is yet apt to leave behind it nothing very substantial, the sanction of the great man’s approval.

The common reader, as Dr. Johnson implies, differs from the critic and the scholar. He is worse educated, and nature has not gifted him so generously. He reads for his own pleasure rather than to impart knowledge or correct the opinions of others. Above all, he is guided by an instinct to create for himself, out of whatever odds and ends he can come by, some kind of whole — a portrait of a man, a sketch of an age, a theory of the art of writing. He never ceases, as he reads, to run up some rickety and ramshackle fabric which shall give him the temporary satisfaction of looking sufficiently like the real object to allow of affection, laughter, and argument. Hasty, inaccurate, and superficial, snatching now this poem, now that scrap of old furniture, without caring where he finds it or of what nature it may be so long as it serves his purpose and rounds his structure, his deficiencies as a critic are too obvious to be pointed out; but if he has, as Dr. Johnson maintained, some say in the final distribution of poetical honours, then, perhaps, it may be worth while to write down a few of the ideas and opinions which, insignificant in themselves, yet contribute to so mighty a result.




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Published on April 17, 2012 17:48

dickens IX






pelos 200 anos de nascimento de dickens, seguem mais algumas traduções de sua obra no brasil.



I.

em 1943, é lançada a vida de nosso senhor, em tradução de costa neves (josé olympio):







depois de quase quarenta anos, vem uma sucessão deles.



- em 1982, sai uma nova tradução, agora de geir campos (francisco alves):







que é editada também pelo clube do livro, em 1988:



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dois anos depois, em 1984, sai mais uma vida de nosso senhor, agora em tradução de fernando b. ximenes, pela ediouro em sua coleção de paradidáticos:



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e então, em 2003, sai a tradução de herculano villas boas pela martins fontes:



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II.

quanto a bleak house, temos a tradução de oscar mendes, a casa soturna, que foi publicada em 1946 em capítulos (no folhetim d'o estado de são paulo), e em 1954 saiu em dois volumes pela globo:







e pela nova fronteira em 1986:







III.

já quanto a nicholas nickleby, em 1957 sai vida e aventuras de nicholas nickleby, em tradução de oscar mendes e milton amado, pela josé olympio:







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não tenho notícias de outras edições ou traduções desta obra.





acompanhe as traduções de dickens no brasil aqui.  


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Published on April 17, 2012 17:24

April 16, 2012

o coração da matéria

este caso não é tão significativo quanto a volta do parafuso de henry james que comentei aqui:

por um lado chega a ser mais grotesco; por outro lado, pelo menos não chegou a se firmar tão entranhadamente entre nós.






refiro-me a o coração da matéria, um inacreditável "foot of the letter" cometido por oscar mendes no romance de graham greene, the heart of the matter. essa tradução foi editada e reeditada diversas vezes entre 1941 e 1968, pela brasileira, pela record e pela itatiaia.



Clique para ampliar a capa







Clique para ampliar a capa



o recifense oscar mendes (1902-1982), promotor e juiz radicado em minas, homem dado às letras com bom trânsito editorial, sobretudo no rio de janeiro, tradutor de razoável renome, é um caso interessante: assinou grande número de traduções, às vezes a quatro mãos, muitíssimas delas de obras fundamentais, como o teatro completo de shakespeare (com cunha medeiros, a partir do espanhol), grande parte da obra completa de edgar allan poe (com milton amado), a obra completa de dostoiévski (com natália nunes, pelo inglês), oscar wilde, emily brontë, virginia woolf e outros.



o nível de suas traduções oscilava muito, e tenho notícias de que chegou a utilizar "bagrinhos", isto é, terceiros para fazer traduções a que depois apunha seu nome. isso ajudaria a explicar a grande variação na qualidade dos textos.



de qualquer forma, é sempre bom lembrar tais exemplos mais flagrantemente escabrosos: tradução é um ofício que, como atividade séria e sistemática, nem chega a cem anos de existência aqui no brasil. todos esses cometimentos são talvez até compreensíveis dentro do contexto editorial tão irregular e amador que prevalecia entre nós até os anos 1920, com um legado que se prolongou ainda por algumas décadas - razão tanto maior para admirarmos o trabalho de figuras como mário quintana, rachel de queiroz e tantos outros amorosos praticantes do ofício, que assim se mostram ainda mais fundamentais na história da tradução no país.


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Published on April 16, 2012 19:36

o parafuso jamesiano

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Expressão idiomática é uma das ciladas constantes à espreita do tradutor. Quem brincava muito bem com isso era Millôr Fernandes, no viceversa, em The Cow Went to the Swamp.



A volta do parafuso para the turn of the screw não é tão radical quanto a vaca milloriana que foi para o brejo, mas é um pouco mais abstruso do que o "frio como um pepino" de Péricles Eugênio da Silva Ramos em Moby Dick.



Mas afinal o que está dizendo Henry James, que é o que importa? Além do título, ele usa a expressão apenas duas vezes ao longo da novela: logo no começo, e depois quase ao final.



No começo, alguém comenta que histórias de terror sempre têm um efeito mais intenso, geram maior tensão, quando envolvem alguma criança. E pergunta: e se fossem duas crianças?


"I quite agree—in regard to Griffin's ghost, or whatever it was—that its appearing first to the little boy, at so tender an age, adds a particular touch. But it's not the first occurrence of its charming kind that I know to have involved a child. If the child gives the effect another turn of the screw, what do you say to TWO children—?"

Brenno sabe o que é to turn the screw, claro - tanto é que desdobra a expressão para que se torne inteligível ao leitor: "... Se uma única criança aumenta a emoção da história e dá outra volta ao parafuso, que diriam os senhores de duas crianças?" Olívia Krähenbühl também sabe, claro, e tenta uma alternativa que lembra nosso "arrochar": "... Se uma única criança imprime à vossa emoção mais um passe de tarraxa... - que direis de duas?"



Na segunda ocorrência, no capítulo 22, o sentido da expressão é um pouco diferente:


I could only get on at all by taking "nature" into my confidence and my account, by treating my monstrous ordeal as a push in a direction unusual, of course, and unpleasant, but demanding, after all, for a fair front, only another turn of the screw of ordinary human virtue. 

Brenno dá: "mas que exigia apenas ... uma outra volta do parafuso da virtude humana comum". Olívia se sai com brio na literalidade que escolheu: "e que exigia ... apenas um passe de tarraxa suplementar à humana virtude de todos os dias". Ao fim e ao cabo, o parafuso de Olívia ficou restrito apenas ao título - a essas alturas, mais coerente seria O passe da tarraxa.



Só tenho essas duas traduções em casa, e não sei como os demais tradutores trataram esses dois trechos.* Teria curiosidade especial pelas possíveis sugestões de Marcelo Pen, tão atento ao equívoco foot of the letter da coisa.



*Na adaptação de Ana Carolina Rodriguez para a Rideel, disponível online, temos "seus corações se sentirão apertados como se recebessem não apenas uma, mas duas voltas de parafuso" (a segunda menção à "volta do parafuso", no final da novela, foi omitida).



imagem: turning a screw




atualização - gentilíssimo, fred spada fornece em comentário as soluções e esclarecimentos de marcelo pen:


Seguem as traduções do Marcelo Pen (em "Contos de Horror do século XIX", Cia das Letras, 2005) e seu comentário na apresentação do conto:


"Se uma criança concorre ao efeito com outro aperto do torniquete, o que diriam de duas...?" (p. 133)

"(...) mas que apenas exigia enfim, sejamos francos, que se apertasse o torniquete da virtude humana usual." (p 227)

E a apresentação:


"Observação: o título 'A volta do parafuso' é um caso clássico, talvez mundial, de tradução equivocada. A rigor, não diz nada em português. Tighten the screw, give the screw another turn e expressões correlatas significam, em geral, aumentar a pressão sobre alguém que já se encontra em posição aflitiva. A expressão lembra o thumbscrew, os 'anjinhos' - antigos anéis de tortura com que se apertavam os dedos das vítimas. Curiosamente, existe em português uma expressão equivalente (inclusive com a reminiscência à tortura) - apertar o torniquete -, que, conforme atesta Antenor Nascentes [Tesouro da fraseologia brasileira], quer dizer 'pôr em situação difícil quem já não está em boa situação'. Não propomos mudar o título do clássico de James, hoje consagrado, mas ajustamos a expressão vernácula nas ocorrências em que o autor usou, posto que com ênfases diversas, a angustiante locução inglesa." (p. 132)




mais uma gentilíssima contribuição na caixa de comentários, agora de elaphar, transcrevendo as soluções de marcos maffei em sua tradução que saiu pela hedra:


"Se uma criança dá ao efeito uma outra volta do parafuso, o que me diriam de duas crianças?" (p.33)

"mas exigindo, afinal, para um confronto justo, apenas uma outra volta do parafuso da virtude humana comum" (p.155)



outra gentilíssima contribuição na caixa de comentários, esta de ricardo duarte, com as soluções de paulo henriques britto e com link para um post do blog da companhia das letras, comentando tangencialmente o título:


Mais uma tradução - a do Paulo Henriques Britto pela Penguin Companhia:


"Se uma criança dá ao fenômeno outra volta do parafuso, o que me diriam de duas crianças...?" (p. 8)

"mas algo que exigia, afinal, para manter uma fachada serena, apenas outra volta do parafuso da virtude humana comum." (p. 145). 



aqui tem uma linha do tempo com as traduções de james no brasil.


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Published on April 16, 2012 07:00

April 14, 2012

(n.t.) 4



muito legal, saiu a (n.t.) número 4, disponível aqui:











EDITORIAL

POESIA SELETA


Epigramas|Epigrammata, de Décimo Magno Ausônio
[Trad. Daniel da Silva Moreira] prévia 

Mas é música|Ale je hudba, de Vladimír Holan
[Trad. Lucie Koryntová] prévia 

Don Juan: Dedicatória a Robert Southey|Dedication to Robert Southey, Esq ,
de Lord Byron
[Trad. Roberto Mário Schramm Jr.] prévia 

Três poemas acerca da morte|Tres poemas acerca de la muerte, de Miguel de Unamuno
[Trad. Yuri Ikeda Fonseca] prévia


PROSA POÉTICA


Metamorfose|Metamorfosis, de Juan José Arreola
[Trad. Bairon Oswaldo Vélez Escallón] prévia


ENSAIOS LITERÁRIOS


O vazio do poder na Itália|Il vuoto del potere in Italia, de Pier Paolo Pasolini
[Trad. Davi Pessoa Carneiro] prévia 

É esforço|Es esfuerzo, de Rafael Barrett
[Trad. Patrick Fernandes Rezende Ribeiro] prévia 

O Deus-criminoso|The criminal-God, de Edgar Wind
[Trad. Larissa Costa da Mata] prévia 

Porque sou pagã|Why I am a Pagan, de Zitkjala-Ša [Gertrude Bonnin]
[Trad. Scott Ritter Hadley] prévia 


PENSAMENTO


Ensaio sobre o Ser|Versuch über das Sein, de Johann Gottfried von Herder
[Trad. Márcio dos Santos Gomes] prévia


CONTOS & EXCERTOS


Gentes e Culturas - Timor-Leste|Emarkultura - Timor Lorosa'e, seleção de textos
[Trad. Irta Sequeira Baris de Araújo] prévia 

Repolhos e Reis|Cabbages and Kings, de O. Henry [William S. Porter]
[Trad. Vanessa Lopes Lourenço Hanes] prévia 

Três heróis|Tres héroes, de José Martí
[Trad. Michelle Vasconcelos O. do Nascimento] prévia 

A flor vermelha|Красный цветок, de Vsêvolod Gárchin
[Trad. Oleg Almeida] prévia 

Von Kempelen e sua descoberta|Von Kempelen and his Discovery, de Edgar Allan Poe
[Trad. Denise Bottmann] prévia 

MEMÓRIA DA TRADUÇÃO


“Papiro de Nu” (Livro dos Mortos), texto anônimo
(reprodução do papiro em hieroglifos + tradução estabelecida a partir da versão inglesa)
[Trad. Octávio Mendes Cajado] prévia


ILUSTRAÇÃO


Os Sinos|The Bells, de Anne Sexton
[Ilustrações de Aline Daka e tradução de Ana Santos]





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Published on April 14, 2012 18:14

April 12, 2012

boccaccio, decameron II






dando continuidade à comparação entre as traduções de raul de polillo e de torrieri guimarães para o decameron (veja aqui), detenho-me agora num exemplo pitoresco. estamos na primeira história da quarta jornada, a tragédia amorosa de ghismonda e guiscardo:


Guiscardo non per accidente tolsi, come molte fanno, ma con diliberato consiglio elessi innanzi ad ogn'altro, e con avveduto pensiero a me lo'ntrodussi, e con savia perseveranza di me e di lui lungamente goduta sono del mio disio. Di che egli pare, oltre allo amorosamente aver peccato, che tu, più la volgare oppinione che la verità seguitando, con più amaritudine mi riprenda, dicendo (quasi turbato esser non ti dovessi, se io nobile uomo avessi a questo eletto) che io con uom di bassa condizione mi son posta.

polillo verte:


Não foi por acaso, como fazem muitas mulheres, que fiquei com Guiscardo; ao contrário, escolhi-o, com espírito deliberado, antes e acima de qualquer outro homem; por via de manobra claramente premeditada, introduzi-o nos meus aposentos; e, com prudente perseverança, tanto da parte dele, como da minha, longamente gozei o prazer da satisfação do meu desejo. Afigura-se-me que você me esteja repreendendo, por eu haver amorosamente pecado; quer-me parecer, entretanto, que, acompanhando a opinião do vulgo, o senhor me repreenda com mais dureza por eu me haver entregue, como o senhor diz, a homem de baixa condição social; e isto, como se o senhor não se perturbaria, se eu houvesse escolhido, para o mesmo fim, um homem que fosse nobre.

além do descomunal encompridamento da prosa boccacciana na tradução de polillo, de sua prolixidade pretensamente explicativa e seu distanciamento do original, note-se a inexplicável oscilação no tratamento que guismunda dá a seu pai tancredi, ora "você", ora "o senhor", todavia tratado no original sempre como tu.



no texto de torrieri, como se pode aferir abaixo, discerne-se claramente o decalque do texto de polillo, submetido a um singelo copidesque, trocando aqui e ali alguns termos - e a impostura ganha um cômico requinte adicional com a preservação do oscilante tratamento que recebe tancredi na tradução de polillo:


Não foi casualmente, como fazem inúmeras mulheres, que fiquei com Guiscardo; pelo contrário, eu escolhi-o, com deliberação, antes e acima de outro homem qualquer; por manobra inteiramente premeditada, introduzi-o em meus aposentos; e, com prudente perseverança, tanto da parte dele, quanto da minha, longamente desfrutei o prazer da satisfação do meu desejo. Parece-me que você me repreende, porque eu amorosamente pequei; parece-me, contudo, que, seguindo a opinião popular, o senhor me censura, mais duramente, o fato de eu ter-me entregado, segundo diz o senhor, a homem de ínfima posição social; e isto, como se o senhor não ficasse perturbado, se eu escolhera, para idêntico fim, um homem da nobreza.

se é uma vergonha que tal embuste tenha infestado o cenário entre 1970 e 2003 com alguns milhões de exemplares distribuídos pelo brasil afora, devido aos incautos licenciamentos da abril cultural, círculo do livro e nova cultural, trabalhando com tiragens altíssimas em suas sucessivas reedições, mais uma razão para comemorarmos vivamente a iniciativa de l&pm em recorrer à notória competência de ivone benedetti para uma nova tradução do decameron.



aliás, a jornalista raquel cozer, da folha de s.paulo, também comentou recentemente que a tradução de torrieri é "parecida até demais com a de polillo", aqui




imagem: ghismonda recebe o coração de guiscardo, aqui


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Published on April 12, 2012 16:28

boccaccio, decameron I

fiquei realmente entusiasmada quando ivone benedetti me comentou que estava traduzindo o decameron de boccaccio para a l&pm. meu contentamento se deve a duas razões principais:




a primeira delas é que ivone benedetti é uma das grandes tradutoras que temos em atividade no brasil, em particular na delicadíssima área de humanidades e clássicos da cultura ocidental. por exemplo, se agora dispomos da edição das vidas completas de vasari, a quem podemos agradecer a indizível oportunidade de ler esse monumento do quinhentos em português?
a segunda razão diz respeito à obra mor de boccaccio e sua obra mor no brasil. é sobre ela que vou me deter mais longamente neste post. para o original, pode-se consultar aqui.




recapitulemos.




I.

em 1956, sai a primeira tradução integral da obra no brasil, em tradução de raul de polillo, na coleção "edições de arte", pela livraria martins, em 3 volumes em formato grande (25 x 45), com ilustrações de gino boccasile (cuja trajetória no fascismo italiano e cujo papel no desenvolvimento do desenho de propaganda e erotismo na itália mereceriam um post à parte) e introdução de edoardo bizzarri, diretor do instituto de cultura italiana no brasil (aliás tradutor de, entre outros, guimarães rosa):

















diga-se de passagem que essa tradução de polillo trafegará mais tarde para a tecnoprint/ ediouro, saindo em 1967 numa lamentável edição de bolso em dois volumes, quase ilegível de tão compacto e miúdo foi o tipo utilizado para a impressão, e se mantém em seu catálogo até hoje. a tradução de polillo sai também em 2000 e 2002 pela itatiaia, de belo horizonte:










II.

em 1970, a editora hemus lança uma dita tradução feita por torrieri guimarães, também integral, numa edição em brochura um tanto tosca - aqui, capa e lombada:



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por  aqueles mistérios editoriais que seguem por meandros que apenas as próprias editoras conhecem, essa tradução de torrieri guimarães conhece uma fortuna inaudita. tem inúmeras e inúmeras reedições, licenciada para a abril cultural desde o mesmo ano de seu lançamento pela hemus, em 1970, até 1989.





a seguir, essa dita tradução passa para o círculo do livro entre 1989 e 1993, e finalmente é licenciada para a editora nova cultural, onde continua a ser reeditada até 2003.


   



III.

em 2005, a editora crisálida de belo horizonte licencia e publica a admirável tradução portuguesa de urbano tavares rodrigues, intitulada decameron: ou príncipe galeotto, originalmente publicada em 1976 pela bertrand de portugal, e da qual se pode ter uma ideia lendo um trecho aqui.










quero me concentrar nas traduções de raul de polillo, de 1956, e de torrieri guimarães, de 1970. já gabriel perissé, anos atrás (em 2006, para ser mais exata), havia comentado as singulares semelhanças entre elas no artigo "boccaccio e uma centena de histórias", um de seus luminosos textos sobre traduções na revista língua portuguesa. retomo uma parte do exemplo dado na ocasião - é o início do parágrafo final do proêmio, e comento alguns aspectos:


Adunque, acciò che in parte per me s'ammendi il peccato della fortuna, la quale dove meno era di forza, sì come noi nelle dilicate donne veggiamo, quivi più avara fu di sostegno, in soccorso e rifugio di quelle che amano, per ciò che all'altre è assai l'ago e '1 fuso e l'arcolaio, intendo di raccontare cento novelle, o favole o parabole o istorie che dire le vogliamo, raccontate in diece giorni da una onesta brigata di sette donne e di tre giovani nel pistelenzioso tempo della passata mortalità fatta, e alcune canzonette dalle predette donne cantate al lor diletto. 

em sua tradução, polillo opera mudanças sintáticas expressivas. assim é que a longa e complexa frase de seis linhas e meia se converte em cinco frases mais curtas em ordem direta, sofre algumas eliminações e apresenta poucas e simples intercalações (e não garanto que tenha captado o conteúdo original de maneira totalmente adequada):


Portanto, a fim de que para mim se corrija o pecado da Sorte, pretendo contar cem novelas, ou fábulas, ou parábolas, ou histórias, ou o que quer que sejam. A Sorte foi menos favorável, como vemos, para as delicadas mulheres, e mais avara se lhes mostrou de amparo. Em socorro e refúgio daquelas que amam, é que escrevo (porquanto, para as outras, bastam a agulha, o fuso e a roca). O que escrevo são coisas contadas, em dez dias, por um grupo honrado de sete mulheres e de três moços, na época pestilenta da passada mortandade levada a cabo. Acrescentam-se algumas cantigas das mulheres antes referidas, cantadas a seu gosto. 

goste-se ou não, aprecie-se a simplificação ou não, a intervenção de polillo é clara e inconfundível.



assim, quando se vê o trecho correspondente na tradução dita de torrieri guimarães, evidencia-se sua absoluta identidade sintática com o texto de polillo, resultante de suas intervenções na construção das frases, além de reproduzir as mesmas supressões e algumas falhas no nível semântico:


Assim sendo, para que se corrija, para mim, o pecado da Sorte, pretendo narrar cem novelas, ou fábulas, ou parábolas, ou estórias, sejam lá o que forem. A Sorte mostrou-se menos propícia, como vemos, para as frágeis mulheres, e mais avara lhes foi de amparo. Em socorro e refúgio das que amam, é que escrevo (pois, para as demais, são suficientes a agulha, o fuso e a roca). O que escrevo são as coisas contadas, durante dez dias, por um honrado grupo de sete mulheres e três moços, na época em que a peste causava mortandade. Ajuntam-se algumas cantigas das mulheres já mencionadas, cantadas à sua vontade. 

no nível lexical, vários vocábulos na tradução dita de torrieri são sinônimos aproximados dos vocábulos empregados por polillo (contar/narrar; favorável/propícia; delicadas/frágeis; referidas/mencionadas etc.), mas as alterações em relação à frase original e o corte das orações são absolutamente idênticos - está para nascer quem possa me convencer de que dois tradutores diferentes consigam picotar um original exatamente da mesma maneira e redigir dois textos estruturalmente tão similares entre si quão distantes do original.



da mesma forma, a experientíssima tradutora ivone benedetti havia constatado soluções unânimes de ambos,    igualmente "a léguas do original" e igualmente privadas de sentido.



por essa razão, eu teria muitas ressalvas a fazer antes de considerar a dita tradução de torrieri guimarães como uma tradução de direito próprio. parece pertencer mais ao campo de um simples copidesque efetuado sobre o texto de raul de polillo, dispensando o recurso ao original.



apresentarei adiante outros exemplos de comparação entre o texto de raul de polillo e o texto de torrieri guimarães, para ilustrar melhor o problema.


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Published on April 12, 2012 05:36

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Denise Bottmann
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