Jaime Lerner's Blog, page 25

January 14, 2021

37 Segundos

Filme de Hikari – Japão – 2019.

Trinta e sete segundos foi o tempo que Yuma ficou sem respirar quando nasceu. Esses segundos foram determinantes para sua vida. Ela não se vitimiza, mas às vezes pensa como seria se houvesse ficado apenas trinta e seis segundos sem respirar. 37 Segundos, longa-metragem de estreia da cineasta japonesa Hikari, surpreende pela ousada abordagem de tema  delicado: nosso olhar sobre portadores de deficiência física e o olhar deles sobre esse nosso olhar. 

Inicialmente, a ideia era ter uma protagonista que sofreu lesão na coluna após um acidente de carro. Para Hikari, diretora e roteirista, era fundamental que a atriz fosse cadeirante, tanto pela prática da inclusão, como pela naturalidade da interpretação. Após inúmeros testes ela conheceu Mei Kayama, atriz amadora que a cativou de imediato. Hikari reescreveu o roteiro, mudando as características da personagem e alguns elementos da trama inspirados na vida de Mei. A lesão na coluna deu lugar à paralisia cerebral e o filme ganhou seu título instigante. Não seria exagero dizer que em 37 Segundos, Kayama é muito mais do que a atriz principal. Embora não assine o roteiro nem a direção, muito da sua história enriqueceu o filme; muito da sua condição inspirou a maneira de filmar. A fisionomia híbrida de menina e mulher, sua voz, seu jeito e seus trejeitos trazem uma autenticidade singular ao personagem e à obra. A entrega, a coragem de expor-se em seu primeiro trabalho frente às câmeras impressiona. Para atingir esse patamar, Kayama contou com a direção segura de Hikari e com o apoio fundamental de seus colegas de elenco, principalmente o de Kanno Misuzu, que faz o papel de sua mãe.

Yuma (Mei Kayama), o mangá e seu olhar sobre nosso olhar sobre ela.

E é justamente da relação com a mãe que se origina o conflito principal. É a partir dele que personagem e filme se colocam em movimento. A superproteção materna sufoca Yuma, que é plenamente consciente de sua capacidade. Isso a faz romper a redoma e se expor a outras situações e olhares referentes à sua condição, o que a obra explora numa combinação mágica de crueza e sensibilidade. A gramática do filme, aliada à figura frágil de Yuma, cria uma tensão subjacente e nos confronta com nossos preconceitos, não só em relação aos “incapacitados” como em relação a outro universo marginal, o dos profissionais do sexo. A referida mudança no roteiro (que foi reescrito em apenas um mês, durante a pré-produção e preparação do elenco) sobrecarrega o ato final com excesso de subtramas e um tom levemente melodramático, destoante do clima do filme. Isso, no entanto, não chega a amenizar o forte impacto que a obra deixa ao final, junto com uma sublime sensação de bem-estar. É o que os americanos chamam de feelgood movie.

37 Segundos estreou na seção Panorama do Festival de Berlim em 2019, faturando o prêmio do Júri Popular e o prêmio da Confederação Internacional dos Cinemas de Arte. O filme pode ser visto na Netflix.

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Published on January 14, 2021 05:53

January 7, 2021

A Casa do Baralho, episódio de Hoje: A Invasão





Porteira que passa um boi, passa uma boiada –  ditado popular.





O presidente Trampo, ao saber que não ganhou o prestigiado prêmio Personagem do Anus de A Casa do Baralho (ver episódio anterior, Rectumpesctiva do Anus), ficou uma arara. Foi informado sobre o fato quando estava se dirigindo a um comício com seus seguidores, o gado da supremacia branca. Chegou ao comício como um touro enfurecido. Trampo não admite perder. Roubava no Banco Imobiliário quando ensinava o jogo aos filhos, por não tolerar a ideia, a possibilidade, a hipótese de não ser o vencedor. É verdade, a grande maioria das pessoas não gosta de perder, mas no caso dele é uma obsessão doentia. Nasceu em berço de ouro e aprendeu que sempre se ganha o que se quer. Se quiser sexo, é só agarrar uma xoxota. E se isso não funcionar, gaste uma graninha e contrate uma prostituta. Além disso, aprendeu que nos negócios, como na guerra, há que ser agressivo, vale tudo para levar a melhor. Essa educação primorosa criou um sujeito com um déficit grave: quando perde, fica perdido.





E perdido incitou seu rebanho a marchar sobre o congresso americano na sessão de certificação de Biteme como presidente eleito. O estouro da boiada invadindo o Capitólio foi o mais próximo do que os americanos chegaram a experimentar de um golpe de estado, embora tivessem muita experiência em incentivar golpes em outros países.





Foi um deus nos acuda. Muitos aliados do presidente o condenaram, muitos assessores em cargos de confiança se demitiram, até o twitter bloqueou sua conta por doze horas. Seus familiares tentaram convencê-lo a repudiar a invasão e mandar os bovinos de volta para casa. Mas ele estava fora de controle. Perder as eleições já era insuportável, imagine perder o Personagem do Anus para o presidente B, aquele puxa-saco da república das bananas. A Casa Branca, numa conversa franca de casa para casa, pressionou a equipe de A Casa do Baralho a mudar o resultado da premiação. A Casa do Baralho disse que era impossível. Fiel ao seu princípio: os fins valem mais do que os princípios, até toparia negociar, mas os prêmios já haviam sido outorgados e publicados. O pentágono ligou para o premiado, o presidente B, para ver se em consideração ao amigo, ele concordava em abrir mão do prêmio e o entregar a Trampo. B faria qualquer coisa pelo seu ídolo, menos entregar o osso. Ademais, agora estava flertando com um novo guru, o presidente RasPutin, que não perde eleição desde o século passado. De qualquer forma, ofereceu um cargo ao presidente Trampo. Ele poderia escolher entre uma embaixada (só não nos EUA) e o ministério da saúde. Certamente daria um ótimo diplomata ou um excelente comandante no combate à pandemia. O presidente Trampo disse que de nada lhe serviria um cargo em país que mantinha acordo de extradição com os EUA.





Finalmente, encontrou-se uma solução: A Casa do Baralho ofereceu escrever o primeiro episódio do ano tendo Trampo como protagonista e B apenas como coadjuvante. O presidente americano desprezou a proposta, disse que isso não servia nem pra consolo. Mas quando soube que em seu gabinete se estudava usar a vigésima-quinta emenda para declará-lo incapaz e afastá-lo do cargo, topou imediatamente. Fez um vídeo dizendo aos invasores que fossem para casa, obedecessem às autoridades, mas não se aguentou. Disse que os amava, que eles eram muito especiais, que a eleição que perdeu foi roubada e que ele entendia a dor deles.





O que aprontará o tramposo no dia 20 de janeiro? Não perca no próximo episódio de A Casa do Baralho.

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Published on January 07, 2021 09:31

December 31, 2020

A Casa do Baralho, episódio de hoje : Rectumpesctiva do Anus





Para celebrar o fim de 2020, ano que deixa profundas marcas, A Casa do Baralho resolveu fazer uma retrospectiva diferente, alcunhada carinhosamente de rectumpesctiva, para premiar os destaques dos anais de 2020.  O processo de escolha das categorias e dos vencedores foi muito tenso. Houve pressão e lobby por parte de candidatos, houve debates acalorados entre os jurados, em alguns momentos a discussão chegou a ser virulenta, como foi o ano. Aliás, o Sars-coV-2 foi um dos indicados na categoria personagem do anus, o que incendiou ainda mais os debates. Diga-se de passagem que foi o único dos candidatos que não ligou, pressionou, adulou, ameaçou, tentou subornar para ser contemplado na prestigiada premiação.





Após essa introdução esclarecedora, vamos ao que interessa:





Troféu Bravura Indomável para o ato mais corajoso do anus – indicados:





 1. A escapadinha do Governador de SP para Meame, logo após fechar o estado para as festas de fim de ano.





 2. A volta apressada do Governador no mesmo dia, após ver as reações do povo nas redes sociais.





3. A barganha do presidente B com o STF, na qual entregou o ministro Waitarde para não ter que entregar seu celular.





4. A solicitação do STJ e do STF ao Instituto Fiocruz para reservar uma penca de vacinas para eles.





5. A fuga espetacular de Waitarde para os EUA, logo após ter bravateado que iria prender todos os “vagabundos” do STF.





O vencedor: a fuga espetacular de Waitarde para os EUA!





Na categoria Me dê Motivos (para Impeachment) – Indicados:





1. Sabotagem ao isolamento social, ao uso de máscara e à compra de testes.





2. Fabricação em massa de cloroquina.





3. Trocas feitas no comando da Polícia Federal para defender a família e proteger a sua hemorroida.





4. Campanha antivacinação.





5. Convocação da ABIN e do GSI para auxiliarem as advogadas do filho do presidente no caso das rachadinhas.





6. Excludente de ilicitude.





7. Participação em manifestações contra a democracia.









O vencedor: O presidente B, pelo conjunto da obra!





Na categoria Frase do Anus – Indicados





1. Ministro do Meio Ambiente: “Precisa ter de um esforço nosso aqui, enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura da Imprensa porque só se fala em Covid e ir passando a boiada e mudando todo o regramento (ambiental), e simplificando normas. “





2. Ministro da Economia: “É um câmbio que flutua. Se eu fizer muita besteira, o dólar pode chegar a R$5,00. Se fizer muita coisa certa, ele pode descer.”





3. Ministro da Saúde, o General Estouaquiparaobedecê-lo: “Para efeitos da pandemia nós podemos separar o Brasil em Norte e Nordeste que é a região que está mais ligada ao inverno do hemisfério norte, são as datas do hemisfério norte em termos de inverno, e ao Centro-sul, Sudeste e Centro-oeste, que é o restante do país e está mais ligado ao inverno do hemisfério sul.”





4. Presidente da Câmera R. Mia: “Entendo parte da sociedade que está ficando com muita aflição e raiva do governo, pela péssima condução da pandemia, e principalmente agora, pelo caso da vacina, mas o processo de impeachment é político e precisa ser tomado com muito cuidado para não tirar o foco da pandemia. Não há condições para se avaliar esse tema, o que não quer dizer que eu avaliaria nem positivamente nem negativamente. Não considero omissão de minha parte.”





O Vencedor – A frase do Presidente da Câmera R. Mia!





Observação: Decidiu-se deixar as frases do Presidente B fora de competição nesta categoria, porque seria injusto com os outros concorrentes. É só conferir qualquer live, pronunciamento, twitt ou conversa no cercadinho. Da calcinha apertada até o histórico de atleta, ninguém fala tanta m como o presidente B, nem em conteúdo, nem em profusão.





E por fim, o troféu mais esperado…





Personagem do Anus – Indicados:





1. O futuro ex-presidente Trampo que perdeu a (re)eleição e o cargo, mas não quer desocupar a moita. 





2. O Sars-coV-2 que conseguiu livrar o mundo do Trampo, mais ainda não do B; 





3. Feiroz, o único personagem que tem munição para nos livrar do presidente B, mas resiste em entregar.





4. O senador Quicu Rodrigues, flagrado escondendo 30 mil reais em espécie no fiofó, quando a polícia fez uma operação de busca e apreensão em sua casa.





5. O presidente B.





Menção Honrosa: Senador Quicu, como inspirador da Rectumpesctiva do Anus.





O Vencedor: O Presidente B, que não quer virar chimpanzé, nem jacaré, mas ofereceu Cloroquina para a ema, protagonizou a maioria dos episódios de Casa do Baralho de 2020, criou a maioria das frases escabrosas, teve a maioria das atitudes obscenas e praticou os atos mais calamitosos. E apesar de tudo, ainda está em pé. No entanto, mostrou nesse final de ano que mesmo que ninguém consiga derrubá-lo, ele pode cair sozinho.







A queda do presidente!



E você, concorda com as categorias e os vencedores? Tem mais alguma para acrescentar? Deixe seu comentário.





Um feliz 2021! Se quiser maratonar a série, basta ir à aba Casa do Baralho e ler os episódios de baixo para cima.

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Published on December 31, 2020 07:10

December 24, 2020

Oito em Istambul

Öikü Karayel como Meryem



Série – criação e direção de Berkun Oya – Turquia – 2020





Com um pé na Ásia e outro na Europa, Istambul é uma cidade singular. Pode ser vista como ponte entre dois continentes, mas também é o palco onde se chocam ocidente e oriente, religião e secularismo, tradição e modernismo. Esse choque cultural é o combustível dramático da série Oito em Istambul, cujo nome original, Bir Baskadir, é uma expressão que significa fora de série.  A obra  acompanha a vida de várias pessoas de diferentes extratos sociais, nível de educação e profissão. Quem faz a ligação ente esses personagens é Meryem, jovem religiosa muito ingênua, porém de inteligência afiada. Ela nos conduz de seu bairro periférico de aparência rural, onde mora com o irmão, a cunhada e dois sobrinhos, pelas artérias da metrópole e pelos entroncamentos da trama multipersonagem. Cada contato que ela tem na sua rotina nos introduz ao núcleo de outro personagem, seus traumas, anseios e conflitos que nos levam ainda à outros personagens. O denominador comum entre eles: todos enfrentam, em formas e graus diferentes, medo e frustração em busca da felicidade. Nesse cabedal de personalidades, histórias e conflitos familiares, as personagens femininas são as mais fortes e mais interessantes. A forma como a série integra os diferentes dramas cria um mosaico riquíssimo e eleva o banal do cotidiano a especial. O olhar de Berkun sobre a sociedade turca é um olhar crítico…e amoroso.





Oito Em Istambul, estética sofisticada com elementos de melodrama.



A série trabalha o contraponto da tradição versus modernismo em sua própria estética. Filme turco significa, na Europa e no mediterrâneo, o mesmo que novela mexicana por aqui. A vertente popular do cinema turco é fortemente identificada com o melodrama, conflitos exacerbados, personagens e interpretações maniqueístas. Berkun insere elementos dessa tradição nos oito episódios, em meio a uma estética sofisticada, causando uma estranheza provocante e fazendo homenagem a esse veio do audiovisual e da alma turca. Isso fica mais evidente na trilha musical e em algumas utilizações de zoom in ou out: um  movimento de lente que aproxima ou afasta o protagonista para isolá-lo ou inseri-lo na paisagem. Por outro lado, a série tem uma estrutura elaborada e um visual marcante, tanto na fotografia como na direção de arte. A cena de abertura de Meryem saindo de casa, além de nos ambientar nos cenários, tem uma força estética que cativa desde o início. Há imensa sensibilidade na composição dos enquadramentos e na longa duração de alguns planos que nos permitem respirar junto com os personagens, partilhar com profundidade os seus sentimentos.









Essa sensibilidade do olhar me fez lembrar em vários momentos o cinema de Robert Altman (Nasville, Short-Cuts, entre outros) que integra magistralmente várias histórias e personagens em um espaço comum. Excelentes são também os diálogos  e o trabalho dos atores, principalmente o de Öikü Karayel como Meryem, que se nutre de pequenos detalhes para construir a complexa personalidade de uma pessoa simples e fora de série.





Oito em Istambul pode ser vista na Netflix.

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Published on December 24, 2020 05:29

December 18, 2020

O Espião Perfeito

John Le Carré



Quando eu tinha doze anos, peguei da biblioteca dos meus pais um livro com uma capa sombria e um nome esquisito: O Espião que Saiu do Frio. Naquela época, minha referência de livros de espionagem eram os livretos de aventura de Patrick Kim, um agente secreto tipo James Bond, cujas peripécias eram recheadas de pancadaria e sexo. Apesar da capa e do título que despertaram minha curiosidade, achei o texto muito chato. Uns quatro anos depois, reli e fui fortemente fisgado: estava pronto para o contato com a escrita rebuscada de John Le Carré. Senti, mesmo sem conhecer os termos, que aquele era um texto diferente, que conseguia integrar os truques sedutores dos best-sellers com literatura de águas mais profundas. Havia suspense, contratempos e reviravoltas, porém os personagens e as tramas, longe dos estereótipos do gênero, emanavam autenticidade. Com o passar dos anos, fui lendo outros romances do autor. Esse cara já trabalhou no serviço secreto, pensava eu, a cada nova leitura, ou tem fontes muito boas.





Até o dia em que David John Moore, conhecido pelo pseudônimo John Le Carré, revelou que havia sido oficial de inteligência no MI6, nos anos quentes da guerra fria. Foi “aposentado” quando sua identidade foi exposta aos soviéticos pelo agente duplo Kim Philby (cujo caso inspirou O Espião que Sabia Demais). A partir daquele momento, dedicou-se exclusivamente à literatura. É curioso que, em 1963, quando John ainda era recrutador de agentes do outro lado da cortina de ferro, o serviço secreto britânico liberou a publicação de O Espião que Saiu do Frio por considerar o livro pura ficção, ao contrário da sensação da maioria dos seus leitores. O fato é que John inventou procedimentos, termos e rituais que mais tarde seriam adotados por seus colegas espiões. Quanto à autenticidade, usou seu conhecimento de insider para criar – por meio de detalhes muito bem articulados – cenários, atmosferas e personagens consistentes. O resto era ficção. Sobre isso John escreveu em seu livro de memórias: “Para um advogado, a verdade são os fatos sem adorno. Se esses fatos são verificáveis, essa é outra história. Para o escritor criativo, os fatos são o material bruto, não seu capataz, e sim seu instrumento, e seu trabalho é fazê-lo cantar. Se a verdadeira realidade reside em algum lugar, não é nos fatos, mas nas nuances”.





O clima e as nuances. Gary Oldman como George Smiley, personagem ícone de Le carré



A meu ver, mais do que Kim Philby, Le Carré foi um agente duplo, infiltrado na comunidade de inteligência a serviço da arte, com a missão de elevar o gênero de espionagem à boa literatura. E isso ele fez com louvor, por meio de tramas intricadas e personagens complexos, envolvidos em profundos conflitos, externos e principalmente internos. Ele foi Um Espião Perfeito, título de um de seus melhores romances, no qual o protagonista, Magnus Pym, tenta acertar os ponteiros com a sua consciência. Quando a Guerra Fria acabou e satélites, drones e computadores diminuíram a importância do agente em campo, Le Carré ampliou seus tópicos e aumentou a carga política em seus textos.





John faleceu aos 89 anos de idade e 57 de carreira literária, com um legado de 25 romances, além de contos, ensaios e a autobiografia O Túnel de Pombos. Cerca de um terço de seus romances foram adaptados para o cinema e para a televisão. Um deles, O Jardineiro Fiel, foi dirigido por Fernando Meirelles e fotografado por César Charlone. Profeticamente, seu último romance chama-se Um legado de Espiões (2017) e fecha o ciclo iniciado com O Espião que Saiu do Frio.





No prefácio de sua autobiografia O Túnel de Pombos, Le Carré explica o título do livro e, mais do que isso, a origem dos conflitos de seus personagens: “Não há quase nenhum livro meu que, em algum momento, não tenha sido chamado provisoriamente de O túnel de pombos. A origem desse título tem uma explicação simples. Quando eu era adolescente, meu pai decidiu me levar em uma das suas jogatinas em Monte Carlo. Perto do velho cassino, ficava o clube esportivo e, mais abaixo, o gramado e um campo de tiro de frente para o mar. Sob o gramado, estreitos túneis paralelos corriam até a água. Neles, eram colocados pombos que haviam nascido e sido apanhados em armadilhas no telhado do cassino. Sua tarefa era voar pelos túneis escuros e emergir no céu mediterrâneo, servindo de alvo para os cavalheiros esportistas que aguardavam, de pé ou deitados, com suas espingardas. Os pombos que não eram atingidos ou ficavam apenas feridos faziam o que essas aves sempre fazem: retornavam ao local de nascimento no telhado do cassino, onde as mesmas armadilhas esperavam por eles. A razão pela qual essa imagem me assombra há tanto tempo é algo que talvez o leitor seja capaz de julgar melhor do que eu”.

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Published on December 18, 2020 06:54

December 10, 2020

Mank





Filme de David Fincher – EUA – 2020.





Do alto de seus quase oitenta anos, Cidadão Kane ainda é considerado um dos grandes filmes da história do cinema. Impressiona também o fato de ter sido realizado por um jovem de 24 anos, em sua estreia em um set de filmagens. Orson Welles foi o ator principal, assinou o corroteiro e dirigiu o longa. No post sobre Cidadão Kane, destaquei o papel fundamental do diretor de fotografia, Gregg Toland, nas inovações da sofisticada linguagem cinematográfica empregada no filme. Em Mank, David Fincher traz à luz outro personagem importante dessa obra genial, o roteirista Herman Mankiewicz. O filme cobre os noventa dias em que Mank, como era apelidado pelos amigos, escreveu o roteiro de Cidadão Kane, isolado em um rancho no meio do deserto e acamado após um acidente de automóvel. Esse período é entremeado por uma série de flashbacks que revelam como e por que o roteirista escolheu seu tema e personagem, ou melhor, o seu alvo. O roteiro rendeu o único Oscar para Herman, em sua profícua carreira, e para Cidadão Kane, entre as dez categorias que disputou em 1942.





Mank foi rodado em Preto e Branco e seu som é mono (grande ousadia do realizador). Um dos destaques do uso desse som acontece na cena do suicídio de um colega de Mank – após uma conversa tensa entre os dois. Fincher opta por nos afastar dessa cena: pela janela do edifício, vemos apenas o clarão do disparo e ouvimos o som de um tiro seco e breve, sem o eco e a intensidade sonora que Hollywood nos acostumou. A imagem distante e, principalmente, a limpeza do som acentuam a dramaticidade da cena. Mank faz referência a Cidadão Kane nos cenários, na profundidade de campo, em alguns planos memoráveis e nos dois elementos temáticos interligados como gêmeos siameses: o poder e a política. Uma das referências interessantes é a disputa eleitoral que, em ambos os filmes, desemboca em pontos de virada importantes de seus protagonistas. A outra, é a utilização de um falso documentário. Cidadão Kane abre com um jornal cinematográfico, inserindo na sua obra de ficção uma linguagem documental. Mank mostra como os grandes estúdios criaram um falso news reel (o rolo de notícias que era apresentado antes de cada filme) para derrotar Upton Sinclair – o candidato democrático com ideias socialistas. Como o fato é verídico, podemos constatar que as fake news nasceram muito antes das redes sociais.





Referências visuais ao Cidadão Kane e seus famosos triângulos. Gary Oldman como Mank, Harlis Howard como o poderoso Louis B. Mayer e Tom Pelphrey como Joseph Mankiewicz.



Mank tem um roteirista como personagem e a escrita de um roteiro como fio condutor.  Curiosamente, o roteiro é o seu ponto fraco.Repleto de personagens reais com potencial para criar excelentes personagens dramáticos, a começar pelo protagonista, o roteiro foca nos maneirismos e não aprofunda nos personagens e conflitos. As interpretações, principalmente as de Gary Oldman (Mank), Lily Collins (Rita) e Tuppence Middleton (Sara) amenizam essa superficialidade, mas não salvam os personagens. Uma das figuras que mais despertam interesse é Upton Sinclair, que aparece em cena por meros dois minutos, mas seu nome paira sobre o filme em um dos principais eixos dramáticos. Mankiewicz foi alçado ao posto de roteirista top na época da transição para o cinema falado, graças a qualidade de seus diálogos. Os diálogos em Mank tentam manter a verve afiada das falas curtas que fizeram a fama de Herman, mas acabam se atendo a frases de efeito, muitas vezes repetitivas. A relação de Mank com sua esposa Sara se resume ao ritual de se perguntarem mutuamente como ela o atura todos esses anos; e ao fato de ele e seus amigos se referirem a ela como pobre Sara.





Apesar dos problemas no roteiro, Mank é um filme que vale a pena ser assistido, principalmente para quem gosta de cinema. É um resgate interessante, tanto na estética como nos temas, de uma época que mudou muito, mas mantém alguns “princípios” arraigados até os dias atuais.





O projeto foi idealizado e roteirizado, ainda nos anos 1990, por Jack Fincher, o falecido pai do diretor. Quase trinta anos depois foi produzido pela Netflix. Sugiro um programa duplo: ver, ou rever, Cidadão Kane e depois embarcar na trama mankiavélica dos bastidores da criação de seu roteiro.

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Published on December 10, 2020 07:36

December 3, 2020

O Avesso da Pele

[image error]Jeferson Tenório, foto de Carlos Macedo



Livro – Jeferson Tenório – Brasil – 2020.





O romance de Jeferson Tenório entra para o clube de cânones como Viva o Povo Brasileiro e Cidade de Deus, obras que tratam da realidade brasileira de maneira visceral e causam um terremoto em cada parágrafo. Não é leitura fácil, mas é altamente necessária. O texto te transplanta na pele do personagem e te vira pelo avesso. E tu entendes coisas como nunca antes entendeste e sentes outras como nunca havias sentido. 





Logo após a morte do pai, Pedro entra na casa de Henrique. Sente-se quase um invasor, devassando a intimidade de um lar que perdeu seu habitante, mas que ainda não sabe disso. Em meio a papeis espalhados, objetos pessoais e fragmentos de lembranças, Pedro busca indícios. Tenta entender quem é; quem foi Henrique; qual o peso da carga que lhe foi passada como uma herança maldita. A busca é conduzida, assim como o livro, por uma conversa entre filho e pai. Uma conversa que é um monólogo, um grito de socorro, uma declaração de amor, um ritual de luto e um acerto de contas.





Jeferson constrói esse monólogo complexo com sofisticação, em arquitetura labiríntica – por  momentos confunde o leitor, amalgamando identidades: trata-se de Pedro, do pai, ou do pai do pai? É um labirinto acidentado. As histórias de Henrique e de Martha, pela boca do filho, são assimétricas na qualidade literária e na densidade visceral. Mas não na importância narrativa. Na base dessa construção, no entorno e nas sombras está o racismo, ou a condição de ser negro  no Brasil atual, especificamente em Porto Alegre, capital do estado mais branco do país. “No sul do país, um corpo negro será sempre um corpo em risco.” O romance traça essa condição como um beco onde não há saída, não há caminhos possíveis para escapar. A sensação de beco sem saída acompanha Henrique de forma permanente e, muitas vezes, avassaladora, também na sua ocupação como professor de escola pública na periferia. Quando ele finalmente encontra uma saída para sacudir seus alunos do marasmo, descobre que os dois labirintos pertencem à mesma arapuca.





O Avesso da Pele é um acerto de contas com o abandono. No plano mais evidente, um filho que se sente abandonado pelo pai; no plano mais doloroso, o filho abandonado pela pátria, ou pela sociedade que o aceita rejeitando. Essa ligação entre o drama familiar e a tragédia social, que desemboca na identidade esquizofrênica de pertencer por ser excluído, é um dos pontos fortes da obra, ao lado da talentosa descrição de situações e sentimentos que nos colocam nas peles de Henrique, de Pedro e na mente de um policial assombrado por um pesadelo recorrente: na calada da noite negros invadem o seu lar.





O Avesso da Pele é um soco na boca do estômago. É literatura de grosso calibre. Respire fundo e mergulhe.

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Published on December 03, 2020 07:08

November 26, 2020

A Carne Mais Barata do Mercado

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“Sejam civilizados e queimem pessoas e florestas. Deixem as vitrines dos bancos e supermercados em paz.” Fabiana Moraes





A carne mais barata do mercado é a carne negra, diz a canção de Seu Jorge, Marcelo Yuka e Ulisses Cappelletti. João Alberto, de 40 anos, sentiu na pele essa abominável verdade. Sentiu nos ossos e nos músculos, sentiu no pulmão asfixiado, no coração acelerado, antes de deixar de sentir. Foi espancado brutalmente no estacionamento do supermercado Carrefour, morreu cercado por “seguranças”, na frente da mulher e de outras pessoas atônitas. Era noite de quinta-feira, véspera do dia da consciência negra e oito dias antes da Black Friday. Várias lojas já promoviam descontos, aquecendo os consumidores para a sexta-feira das grandes liquidações. No Carrefour da zona norte de Porto Alegre, a Liquidação ficou por conta do assassinato brutal de João Alberto. O “esquenta Black Friday” ganhou uma conotação sinistra na véspera do dia da consciência negra.





Entre as pessoas que assistiram atônitas o assassinato estava um entregador que corajosamente filmou o ato, mesmo sendo intimidado por uma funcionária. As imagens viralizaram na manhã da sexta-feira, dia da consciência da negra no Brasil, uma semana antes da Black Friday, dia do consumo desenfreado. E contaram a história da brutalidade que assola há séculos este país, chocando mais uma vez a todos os que ainda preservam a sua humanidade.





O Carrefour rapidamente emitiu uma nota lamentando o corrido e esclarecendo que os seguranças, assassinos de João Alberto, não são seus funcionários, são terceirizados. Terceirização é um modelo de negócios que ganhou ainda mais força na recente reforma trabalhista orquestrada pelo mercado para “flexibilizar” direitos do trabalhador. Ao tentar terceirizar a responsabilidade pelo assassinato, a nota da multinacional escancarou o verdadeiro significado do termo. A empresa terceirizada, que teve seu contrato interrompido, tem como sócios dois funcionários públicos, da Polícia Civil e da Policia Militar. Um dos assassinos é um policial militar que estava fazendo um bico na segurança privada. Era o seu primeiro dia de “trabalho”. Trouxe consigo, da instituição policial, a licença de matar.





Este país, colonizado por europeus, tem na base de sua fundação duas barbáries: o genocídio indígena e a escravidão negra. Essas barbaridades, embora abolidas legalmente, seguem sendo perpetradas, todos os dias. E nos assombrarão, como sociedade e como indivíduos, enquanto não tivermos a coragem de encará-las.





[image error]Manifestação dentro do Carrefour do RJ, após o assassinato de João Alberto (Photo by CARL DE SOUZA/AFP via Getty Images)



Os protestos em todo o país mostraram que o debate sobre o racismo vem evoluindo nos últimos anos, graças, principalmente, à ação dos movimentos negros. Hoje se percebe o racismo como projeto político, como instrumento de exploração e poder e não somente como um preconceito individual. Na contramão desse debate, o presidente e seu vice reagiram ao assassinato negando que haja racismo no Brasil. “Querem importar um problema que não existe aqui”, disseram. A música A Carne responde: Só cego não vê.





Não, o presidente e seu vice não são cegos. São agentes do projeto político acima mencionado que liga os pontos entre o racismo estrutural, as privatizações, a precarização do trabalho, e a outorga da licença para matar. Foram eleitos para tocar o instrumento de exploração e domínio que preserva a propriedade privada e liquida vidas, esquenta o consumo e queima florestas. Quem está por trás desse sistema?





No dia em que o Brasil ficou chocado pelo assassinato brutal de João Alberto – dia da consciência negra e a sexta-feira anterior ao dia das maiores vendas no ano – o Mercado, aquele ente abstrato, sensível a qualquer brisa, também reagiu: a bolsa encerrou o dia em queda de 0.59%, mas as ações do Carrefour fecharam em alta de 0.49%. A liquidação da carne mais barata do mercado, dentro de um supermercado, foi aplaudida pelas mãos invisíveis do Mercado.

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Published on November 26, 2020 06:54

November 19, 2020

A Vegetariana

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A Vegetariana foi meu primeiro contato com a literatura sul-coreana. Contato que certamente será aprofundado depois dessa experiência. O livro foi premiado com o International Man Booker´s Award em 2016 (prêmio para livros traduzidos para o inglês, outorgado a autores e tradutores), o que impulsionou a carreira internacional de Han Kang. O curioso é que foi a própria tradutora, Deborah Smith, quem sugeriu o livro ao editor inglês, abrindo o caminho para o mundo anglófono conhecer a obra de Han. A tradução de Deborah, que tem o aval da autora, gerou polêmica e é considerada, por tradutores e acadêmicos coreanos, quase uma adaptação, principalmente, por adjetivar e florear o estilo seco do texto original.





A novela é dividida em três partes que, mesmo ligadas entre si, têm sua autonomia literária. A Vegetariana é narrada pelo marido da protagonista Yeonghye; A Mancha Mongólica e Árvores em Chamas são narradas na terceira pessoa por um narrador-observador, tendo como falsos protagonistas o cunhado e a irmã, respectivamente. As três histórias, portanto, nos apresentam Yeonghye por intermédio de outros. Não são três versões sobre o mesmo episódio. Cada versão retrata um momento diferente; recortes do processo de decomposição da sanidade mental de Yeonghye, ou é o que parece num primeiro olhar. O olhar mais profundo, pelo qual a autora nos conduz com poesia e horror, não traz “explicações” sobre o que acontece com a protagonista, mas abre uma misteriosa janela de paisagens sugestivas – filosóficas, alegóricas e metafísicas – para o leitor embarcar.





[image error]A autora Han Kang. Foto de Jean Chung para o New York Times



Exatamente como o marido, o cunhado e a irmã, sentimos distanciamento e proximidade em relação à Yeonghye; uma identificação e uma angustiante impossibilidade de compreendê-la. O estranhamento não se dá apenas pelo comportamento incomum, deflagrado por um conjunto de sonhos, nem somente pelas reações que suscita, mas também por alguns truques ocultos no texto. O marido fala sobre Yeonghye sem mencionar seu nome até quase o final da narrativa, o que acaba criando uma oposição entre familiaridade e intimidade. Mais um recurso interessante é a inserção da voz da protagonista na narração do outro, principalmente quando seus sonhos são relatados, o que quebra brevemente a barreira da mediação do narrador e aproxima o leitor da personagem principal. As relações familiares, conjugais, patriarcais e sociais ao redor de Yeonghye também são envoltas em estranheza, mergulhadas em um caldo de rigidez, sensualidade e na ânsia existencial de se libertar de uma prisão impalpável que cerca todos os personagens.





Essa prisão se desenha avassaladora no texto cru e sensível da escritora de estilo peculiar que maneja com maestria beleza, lirismo e dor. A Vegetariana foi adaptado para o cinema, em 2009, pelo diretor sul-coreano, Lim Woo-Seong. No Brasil, o livro foi relançado pela editora Todavia e traduzido diretamente do coreano por Jae Hyung Woo.

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Published on November 19, 2020 07:16

November 12, 2020

A Casa do Baralho, episódio de hoje: O Começo do Fim?

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O governo brasileiro, inspirado pelo ocorrido no Amapá, sofreu um apagão. No estado nortista, foi o incêndio em um transformador que deixou a região inteira no escuro. Em Brasília, foi a derrota do presidente Trampo nas eleições.





A tristeza pelo revés do amigo e o medo de que os brasileiros sigam o exemplo norte- americano seria suficiente para paralisar qualquer um. Mas o presidente B se viu ainda frente a outro problema. Trampo não reconhece a derrota. E B ficou sem saber como agir. Várias autoridades brasileiras, políticos e juristas felicitaram os vencedores Joe Bite-me e sua vice Calma-lá Harris. Líderes das outras nações mandaram mensagens calorosas. Inclusive o primeiro ministro israelense, duas vezes Bi, publicou duas notas: uma felicitando o vencedor, outra agradecendo ao derrotado pela grande amizade. E B quieto, no escuro, se perguntando o que fazer.  Ligou para o amigo, mas havia um sinal estranho na linha: fakiú, fakiú – como se o fone estivesse fora do gancho. Seria uma mensagem cifrada? O presidente experimentou a sensação de grande parte dos brasileiros sob o seu governo, o desamparo. Saiu momentaneamente do apagão para participar de uma atividade de suma importância, a formatura de novos policiais rodoviários. Em seu discurso, ainda em estado de choque, disse que Trampo não era a pessoa mais importante do mundo, essa pessoa era Deus. Foi alertado que cometeu dupla blasfêmia.





Trampo não admite que perdeu a eleição. Alega que foi roubado. Aliás, ele previa essa possibilidade antes das eleições e anunciou que, se não ganhasse, seria sinal inequívoco de fraude. Dizem que ele não tem provas. Como não, se a grande prova é o próprio resultado? Reconheceria a derrota, sem problema nenhum, se o derrotado fosse o adversário.





B, em quase todos as suas atitudes, é uma imitação provinciana de T. No entanto, foi o pioneiro na artimanha da fraude eleitoral.  Ainda em 2018, às vésperas da eleição presidencial brasileira, recuperando-se da fakada sofrida, anunciou que haveria fraude nas urnas eletrônicas. Insistiu na tese, sem apresentar fatos ou provas, mesmo depois de eleito. Não, não estava contestando a sua própria vitória; não fosse a fraude, bravateou, teria vencido no primeiro turno. Nesse quesito superou seu guru Trampo. Este é apenas um mau perdedor. B é também um péssimo vencedor.





A derrota de Trampo pode ser o começo do fim da pandemia negacionista e reacionária que se espalhou pela política mundial. Essa possibilidade assusta a trupe tramposa e por isso esperneiam com tanto vigor. É um cenário possível, mas incerto. Vai depender do quanto outros países forem contagiados pelo exemplo norte-americano; e o quanto, de fato, os eleitores estão vacinados. Infelizmente, foi preciso outra pandemia para debelar a primeira. Foram mais de dez milhões de infectados, duzentos e quarenta mil mortos e uma recessão sem precedentes. Nessa queda de braço, o corona deu uma chave de pescoço no Trampo. E ele terá que procurar, a partir de janeiro próximo, outro trampo. Para manter-se fiel a si mesmo, não sairá sem tumultuar o processo.





Quem irá embaralhar as cartas a partir de agora? Resistirá B sem o seu grande pilar? Não perca nos próximos episódios de A Casa do Baralho.

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Published on November 12, 2020 06:51