Izzy Nobre's Blog, page 34
August 31, 2014
O retorno da Newsletter do HBD!

Este poderia ser você
Estou atualizando o site excepcionalmente num domingo de preguiça universal para vos informar que a Newsletter do HBD retornou às suas atividades! Puta que o pariu, rapaz! E você achando que este seria mais um domingo de merda como sempre.
Anunciada originalmente há um ano, a Newsletter é basicamente um delivery do HBD na sua caixinha de emails. Todos os probloggers gringos são unânimes no que diz respeito às newsletters — é a melhor forma de se comunicar diretamente com o leitor do site.
A newsletter é útil pra caralho porque é muito comum o leitor cair aqui em algum post aleatório, curtir o estilo do site, mas esquecer o nome e a URL. “Qual era mesmo aquele site com um texto sobre ciúmes…?“, se perguntaria um leitor casual que esqueceu até a cor do layout do site. Com a newsletter, eu posso sempre mandar um “opa, aquele site que você curtiu tá com um monte de post novo!” pros leitores novatos — e pros veteranos também. Afinal, é muito comum o sujeito “perder” o site que visitava assiduamente numa formatação/perda de favoritos. Assinando a newsletter estaremos praticamente casados eternamente.
Como a Newsletter HBD será usada?
Vocês são gente ocupada que nem sempre tem tempo pra vir no HBD diariamente conferir os posts novos. Por isso, a maneira mais interessante de usar esse veículo será mandando um email semanal com um resumão do que rolou no HBD.
Se vocês tem mais idéias de formas legais de usar esta ferramenta, é só falar aí nos comentários!
E não, não vou te encher o saco mandando email com muita frequência. Enviarei um Resumão por semana, nos domingos. Quando eu estiver lançando um novo ebook ou algo do tipo, avisarei por lá também — e até mandarei previews exclusivos dos meus próximos livros para os assinantes da newsletter!

Crônicas da Sex Shop. Lançamento em 2015. Aguardem!
E não, eu JAMAIS venderei seu email. Isto está completamente e definitivamente fora de cogitação.
Tá esperando o que? Hoje mesmo já sai a primeira newsletter! Se inscreve, rapaz!
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August 29, 2014
[ Resenha de Filme ] As Branquelas (White Chicks, 2004), parte 2
[ Se você não leu a primeira parte, clique aqui! ]
Aqui está a segunda parte dessa resenha. Tive que esperar bastante pra retomar a escrita desse texto porque tive que me consultar com um oncologista após minha exposição ao filme da primeira vez, pra me assegurar que tudo estava bem.
Da última vez, parei exatamente na parte em que as garotas estão fazendo uma festinha de pijama e cabe ao Kevin ensinar as garotas como tratar uma piroca. Com medinho do pênis artificial de silicone, o sujeito inventa mil maluquices pra não ter que colocar a parada na boca porque como sabemos ele iria imediatamente parar de gostar de mulher se isso acontecesse.
Aí vemos coisas deprimentes como esta:
Meu deus. Lembrando que fui FORTEMENTE criticado nos comentários da primeira parte deste resenha porque ousei sugerir que este filme não é exatamente o Cidadão Kane da comédia, como alguns acreditam.
Depois de tooooodo esse lenga lenga e de piadinhas sem sentido, os tais sequestradores (que eram o motivo pra toda a trama) finalmente lembram que precisam aparecer no filme.
…exceto que não. Depois de uma rápida luta coreografada pelo diretor da Turma do Didi, Kevin joga os “sequestradores” na mobília de isopor do quarto e facilmente os derrota. Sério, a parada é tão pastelão que tu fica esperando o Renato Aragão pintar na tela apontando que a cenografia do quarto é falsa depois de liberar uma boa dose de extintor na cara de todo mundo.
E aí descobrimos que não eram sequestradores, e sim um par de strippers cujo mote é fingir que vão sequestrar a garota. Ok.
Estamos agora na praia.
Uma das vilãs do filme, aquela socialite adversária (?) está lendo uma revista qualquer, esbarra com a foto de crianças africanas subnutridas, e comenta que a foto a deprime… porque ela tem inveja da figura esbelta delas.
A tal vilã em seguida convoca o namoradinho pra humilhar as garotas. O rapaz joga uma bola de futebol americano na direção dela, acertando um barril de chopp e assim dando um banho alcólico nas pobres garotas. Nisso o Marcus, ou o Kevin, (é impossível discernir entre os dois irmãos travestis mesmo que você goste do filme) berra ameaças em voz de macho, lembra que está tentando fingir que é mulher, e transforma a ameaça de retaliação num choro impotente.
Você sabe, o tipo de gag que o filme já não está mais em tempo de poder fazer com impunidade. Fazia UM POUCO de sentido quando os rapazes acabaram de entrar no papel de socialites ricas, mas não depois de uma hora de filme, quando já estiveram vivendo como mulheres por alguns dias.
Em vingança, seu irmão pega a bola e devolve ao bully, acertando-o em cheio no peito e afundando seu esterno no processo.
Entra o Latrell.

Sim, ele realmente faz essa cara de estuprador O FILME INTEIRO.
Este nosso Pepé Le Pew afroamericano, que alguns alegam ser a única coisa que se salva do filme — e eu até concordo um pouco — continua sua implacável perseguição do cu do Marcus.
Ele aparece em cima do cara nesta imagem profundamente perturbadora. Eu mesmo já estou me sentindo estuprado só de tirar esse screenshot.
Cruz credo.
Enquanto isso, o Kevin tirou seu disfarce de pseudo Paris Hilton pra ir dar em cima de uma repórter, a tal da Denise Alguma Coisa, que ele conheceu rapidamente numa das festas e até deu em cima levemente enquanto travestido.
Lembra aquele subplot da esposa ciumenta do Marcus? Aquela mesma esposa que ele não tinha NENHUM motivo pra não explicar a missão com a qual está ocupado? Ela descobre que o seu cartão de crédito está com o limite estourado porque “alguém” comprou um vestido de 4 mil dólares. E ela resolve ir tirar satisfação com o marido. Vai dar merda.
À noite, chegou a hora do Marcus finalmente ir no encontro com o Latrell. O policial teme por sua virgindade anal, e não podemos culpa-lo.
Numa tentativa de broxar o cara, Marcus coloca A Thousand Miles Away no som do carro, o que não apenas sai pela culatra — Latrell é, imprevisivelmente, fã da canção – mas também gera a cena mais memorável do filme. A propósito, se você quiser se sentir velho é só lembrar que essa música foi lançada há 14 anos.
Latrell e a travesti menos convincente do mundo vão a um restaurante chique, onde Kevin estava esperando pra pegar as chaves do carro e da casa do cara “emprestadas” pra impressionar a Denise.
O encontro do Latrell e Marcus se resume a isso — o policial tentando futilmente enojar o outro, que parece míope aos sinais claros de desinteresse da “menina”.
Ao mesmo tempo em que esta merda está acontecendo, Kevin (fingindo ser o Latrell, lembrem-se) levou Denise pra casa do cara. Espectadores astutos talvez percebam que isso é um risco adicional desnecessário, colocado na trama apenas pra gerar conflito sem um motivo fidedigno.
Um dos riscos que ele corria, por exemplo, é de ser atacado pelo cachorro do Latrell. O que acontece quase imediatamente.
Enquanto isso no restaurante, Marcus usa uma arma secreta contra as investidas do Latrell — pra impedir um beijo, o policial solta um sonoro e aparentemente molhado peido. E Latrell, em vez de se sentir com nojo, se empolga e solta o seu próprio.
Voltando à casa do Latrell, aquela repórter finalmente dá uma contribuição à trama – ela revela que Ted Burton, o vilão presumido da história (lembra daquele plano de sequestro e tal? O filme já tinha esquecido) — roubou 100 milhões de dólares do pai das socialites adversárias. O que indica que é ele, o tal pai, que está por trás do plano do sequestro.
De volta no hotel, aqueles dois outros agentes do FBI aparentemente descobrem que as irmãs são na verdade homens disfarçados. O que serve apenas pra ressaltar que não havia um bom motivo pra que eles já não tivessem percebido isso desde o começo.
Estamos agora numa boate, onde Latrell lamenta com um amigo o fato de que ele não consegue convencer o Marcus travestido a transar com ele. Aquele douchebag de antes, que deu um banho de chopp nas meninas, sugere então que ele coloque rohypnol, conhecido como “date rape drug“, no drink dela. Neste ponto o filme deixa de ser apenas uma comédia imbecil e se torna literalmente deplorável.
Felizmente o policial não é um imbecil completo; ele percebe os comprimidos fervilhando no meio do drink e os troca de posição. Latrell bebe o martini de clonazepam.

Os problemas de continuismo continuam, aliás. Repare a taça do Latrell.
Neste momento eu tive que me averiguar que o Netflix não mudou de filme sozinho, porque meio que do NADA começa uma batalha de dança coreografada estilo As Apimentadas.
As irmãs Vandergeld humilham as reais branquelas do filme, o que faz com que as Branquelas do título (ou melhor, dublês dançarinos de break dance usando a mesma roupa e perucas e convenientemente nunca mostrando o rosto) saiam ao seu resgate.
Blá blá blá, uma das amiguinhas das Branquelas revela que as irmãs Vandergeld estão na realidade sem dinheiro algum, e Latrel (sob influência da droga que ele tentou dar ao Marcus) está loucaço da cabeça raveando na pista.

Consigo ouvir até o apitinho
E de tão chapado que estava, acabou comendo o rapazinho lá que lhe deus as drogas.

Algo me diz que esse personagem só tinha cabelo comprido por causa dessa cena.
Nisso as irmãs Wilson (que eu achei que já tinham sumido do filme permanentemente) vêem os agentes disfarçados no jornal e pensam… que foram clonadas.
O filme neste momento falou “foda-se, vamos mongolizar essa porra toda agora”.
Chega a esposa ciumenta do Marcus no hotel onde os irmãos estão. Em vez de simplesmente explicar a porra da situação pra esposa, o sujeito fica enrolando a mulher até que ela inevitavelmente encontra seu irmão travestido.

“Eu posso explicar… mas não vou. Abs flw vlw”
Nisso, as reais irmãs Wilson aparecem no hotel pra confrontar os… ai ai ai. Os clones. E aí os agentes do FBI pegam as meninas e levam pra falar com o chefe.
Os agentes então se prestam a “expor” os impostores da forma mais Zorra Total do mundo: arrancando as roupas delas. E pra você ver que pouco mérito essa porra de filme tem, pelo menos em Zorra Total numa cena dessas eles nos mostrariam peitinho e bundinha. Em As Branquelas? Nada.
O chefe vai então até onde Kevin e Marcus estão, finalmente tendo descoberto a falcatrua. Não ficou imediatamente óbvio COMO o chefe descobriu isso só porque seus agentes tiraram a roupa de duas socialites na sua frente, mas enfim.
E aí a trama é revelada de fato: era o pai das irmãs Vandergeld que estava por trás de tudo.
Eis o problema.
Nessa cena, o Vandergeld diz “eles acreditaram! O FBI tá indo embora! Nosso plano está dando certo!”
O problema é: no que o FBI teria “acreditado”, exatamente…? O motivo pelo qual a operação do FBI (ou melhor, dos dois irmãos — o plano de se disfarçar das meninas era tecnicamente não-oficial) deu merda é completamente independente de qualquer maquinação do Vandergeld. Além do mais, ele sequer sabia que as garotas eram agentes disfarçados que se meteram em confusão com a chefia.
Além disso, a polícia só estava lá de tocaia pra começo de conversa porque ELE MESMO TINHA ENVIADO A PISTA PRO FBI. Qual era o plano? “Vamos dar uma pista pro FBI. Eles vão chegar aqui e investigar tudo. Eles terão dois agentes energúmenos, disfarçados das meninas que planejamos sequestrar, e eles vão cagar a operação, o que fará o FBI ir embora. Pronto, conseguimos tirar o FBI de cena, apesar de que nós mesmos que os trouxemos pra cá!”
E aliás, de onde exatamente o filme tira que o FBI abandonou o posto naquela missão de tocaia…?
ESSA CENA NÃO FAZ O MENOR SENTIDO E EU ODEIO VOCÊS POR CONSIDERAR ESSE FILME BOM.
Kevin recebe uma ligação do perito do FBI, avisando pra ele que GUESS WHAT? Aquela nota de ameaça de sequestro tinha as digitais do Vandergeld, que por algum motivo só analisamos agora, e que por um motivo ainda mais sem explicação eu estou repassando pra alguém que não trabalha mais pro FBI, e ninguém mais.
Demitidos e presumivelmente sem acesso aos recursos de maquiadores do FBI, os dois voltam lá pra prender o Vandergeld, usando a autoridade policial e armas que eles não tem mais.
Quero relembrar a todos que a idéia dos dois é pegar os sequestradores no ato, quando a polícia já teria probable cause pra prender o Vandergeld, bastando o tal perito ou um dos dois irmãos AVISAR SOBRE AS DIGITAIS À PORRA DO FBI.
Enfim. Neste desfecho do filme, Kevin e Marcus estão desfilando num show de moda. E lá vem a esposa de um deles, no intuito de sei lá o que, já que ela já pegou o cara a “traindo” algumas cenas atrás. A cena é filmada como se a mulher estivesse lá pra pegar o cara no flagra, o que narrativamente não faz sentido algum.
É realmente bizarro. O tom do filme nesse último ato vira aquelas ALTAS CONFUSÕES de sitcom, sabe? Aqueles mal entendidos clichês e tal. Numa das cenas finais, as irmãs Vandergeld sabotam o desfile, dando a Marcus e Kevin os vestidos errados. Isso faz o público do desfile rir, o que frustra os dois ex-policiais, que por algum motivo se importam com as opiniões de extras aleatórios que sequer sabem suas identidades reais.
Em seu ímpeto de sair da passarela, os irmãos acabam derrubando as modelos, e cada tentativa de melhorar a situação a piora ainda mais.
Sabe aqueles informerciais em que, antes de ser apresentado um produto revolucionário, você vê cenas de alguém falhando miseravelmente em fazer alguma tarefa trivial?

Tipo assim
Essa cena da passarela é basicamente isso.
Enfim. As amiguinhas das irmãs Wilson percebem as irmãs Vandergeld conspirando e rindo em cima da passarela; elas as derrubam no meio de todo mundo, o que faz com que baldes de tinta vermelha caiam em cima delas por motivo algum. Um dos críticos de moda vê essa presepada ridícula claramente sem qualquer direção ou valor artístico, diz que é “brilhante” e começa a bater palma. É um curioso momento de meta-crítica que espelha a forma como os fãs de As Branquelas vêem essa merda.
E então finalmente o tal sequestro QUE ERA A PORRA DA PREMISSA DO FILME acontece. Ou melhor, a tentativa de sequestro. O tal Senhor Vandergeld, um gênio do crime, contratou dois amiguinhos das meninas pra executarem o crime.
Blá blá blá, dá tudo errado, o tal Vandergeld se expõe na frente de todos e basicamente confessa o crime em rede nacional. Latrell pula na frente de uma bala pra salvar uma das meninas.
Chega o chefe e comenta que eles novamente cagaram uma situação completamente, mas que pelo menos “pegaram o cara certo”.
E no final, tudo dá tudo certo. Kevin pega a repórter, a esposa do Marcus (que não tem um real motivo pra estar com raiva, lembrem-se) o perdoa, Latrell pega as duas socialites, fim.
Eu odeio esse filme. Eu odeio esse filme profundamente. Existe um motivo pelo qual esse filme tem 15% de aprovação no Rotten Tomatoes, que eu até considero essa nota generosa. As Branquelas é um filme sem sentido, sem graça, sem motivo pra existir.
E não venham me falar que “ah Izzy mas é comédia né rsrsrs“. Não vejo ninguém defendendo Zorra Total ou Praça é Nossa como bastiões da sátira com esse argumento — porque eles são previsíveis e sem graça, assim como a porra desse filme. Por outro lado, Airplane!, uma comédia totalmente pastelão, tem 98% de aprovação no RT.
Por que? Porque é um filme engraçado. É um clássico. É bobo na superfície, mas inteligente no âmago. Comparar os dois só porque ambos tem “comédia” no verso do DVD é como comparar filet mignon e o músculo de um cadáver em putrefação porque ambos podem ser definidos como “carne”.
“Mas é uma comédia, Izzy!”, repetem incessavelmente os afligidos pelo mal gosto de gostar de As Branquelas, como se esse filme fosse comparável a Annie Hall, Ghostbusters, ou Tempos Modernos do Chaplin. Só na cabeça de vocês que definir um filme como “comédia” é justificativa pra um negócio imbecil como esse.
Que bosta de filme escroto do demônio. Eu odeio vocês.

August 27, 2014
[ Recomendação de Série ] Archer, a melhor comédia animada da atualidade
Eu estou semi-revoltado que esta porra está no presente no catálogo do Netflix Brasil e eu ainda preciso recomendar a parada pra vocês.
Archer é um seriado complicado de explicar, porque ele é muitas coisas ao mesmo tempo. A série é sobre o agente secreto Sterling Archer, que trabalha para a ISIS — uma espécie de CIA de segundo escalão — com um bando de colegas de trabalho igual ou mais malucos que ele. Eu via referências do programa no Reddit o tempo inteiro (como o meme “Do you want X? Because that’s how you get X“), e via a capinha da série lá no Netflix, e pensava “nahhh… tou muito ocupado com Breaking Bad no momento, foi mal Archer”. Finalmente assisti o programa nestes dias, e desde então minha semana se resume a assistir o seriado nonstop, um episódio atrás do outro. Já já acaba essa porra e eu ficarei triste.
Basicamente, Archer é um misto de The Office (com situações corporativas ou de RH que todo mundo que trabalhou em escritório reconhece), com Seinfeld (no contexto de personagens moralmente deploráveis) com South Park (no que diz respeito a animação intencionalmente tosca casada com humor negro e subversivo) com James Bond — afinal, o cara é um agente secreto — com comédia nerd cheias de referências inacreditáveis com umas pitadinhas de putaria soft core.

Não seria uma paródia de James Bond se não passasse boa parte do seriado comendo gostosas, né?
Comecemos pelo Archer. O protagonista da série homônima é um agente secreto alcólatra com uma relação com sua mãe que deixaria até Freud com medo. O cara é meio nerd e meio imbecil, apesar de ser um agente competente quando a série requer ação. Como Bond, em quase todo episódio ele tá catando alguma mulher sensacional, e o seriado usa e abusa desse plot device pra mandar uns fanservice gratuitos mas até bem vindos.
Uma das coisas que eu mais gosto no seriado é que o diálogo é orgânico. Ao contrário das sitcoms tradicionais de risadas enlatadas (que eu passei a abominar após conhecer Arrested Development e Community, ambos uma clara influência nos roteiristas de Archer), a série não segue aquele padrão formulaico de “setup de piada -> punchline da piada” que domina o cenário das sitcoms.
Boa parte do humor da série vem do fato de que os diálogos entre os personagens soam reais — com personagens rindo das próprias piadas, tossindo, se atrapalhando ou esquecendo o que iam dizer, se interrompendo, e por aí vai. O que se espera de uma série roteirizada é um diálogo “nos trilhos”, e essas subversões da regra te pegam de surpresa e é impossível não rir.

Velho, na moral, como você pode ver essa imagem e ainda precisar ser convencido de assistir Archer?
Aliás, outra parte do humor da série vem do fato de que os personagens da série se odeiam abertamente (e apesar disso, praticamente todos os personagens trepam uns com os outros em algum momento). Quase todos os episódios da série se resumem a um personagem sacaneando o outro de alguma forma, mais ou menos como víamos em Arrested Development.
E que personagens! Um dos mais memoráveis é um “doutor” completamente insano, responsável pela divisão tecnológica da agência, que é na verdade um clone de Hitler a la Meninos do Brasil.
(O doutor Krieger, aliás, é meu personagem favorito, aquele tipo que tem as MELHORES linhas. Literalmente TUDO que ele fala é hilário — como por exemplo, quando ele é acusado meio na brincadeira de ser um serial killer, ele responde que não é um SERIAL killer, ao que outro personagem pergunta porque ele enfatizou a palavra “serial”).
Temos uma gordinha sexólatra (aliás, muitos personagens do seriado o são também) responsável pelo RH que tem o hábito de espalhar segredos dos outros personagens pelo escritório todo e que nas horas vagas luta numa espécie de Fight Club. Um mordomo idoso viciado em heroína que é tratado basicamente como escravo. Um contador completamente incompetente que se mete a treinar como espião apenas pra cagar completamente as situações em que ele se envolve.
Uma das coisas mais legais sobre Archer é que, ao contrário da fórmula “algo bizarro acontece -> a trama se desenvolve -> no final do desenho, tudo volta ao normal”, os eventos da série não necessariamente se resolvem no final de um episódio, e assim são carregados para a cronologia corrente da série. Além de um fator de total imprevisibilidade, isso vai causando modificações no universo da série.

Vá assistir. Sério.
Somado ao fato de que boa parte do humor vem de “continuity gags” que se desenvolvem ao longo do canon, e de referência às situações absurdas de episódios passados, essa dinâmica pode talvez desencorajar o espectador casual que pegue o trem andando. Por outro lado, isso serve pra tornar Archer uma série realmente única.
O seriado é meio anacrônico: mostra estética, moda e tecnologia anos 60, mas faz constante referências a eventos e personalidades contemporâneas. Isso combina bem com o absurdismo do seriado.
Falando em absurdo: H Jon Benjamin, que faz a voz do protagonista, também é o voice actor do Bob de Bob’s Burgers, outro excelente seriado. Archer ofereceu, através de um cross over sensacional, a explicação de que ambos são na real a mesma pessoa, e por isso a voz é a mesma.
Preciso falar mais alguma coisa? Ah, sim, veja esse vídeo com melhores piadinhas do seriado.
Vá assistir agora.

August 26, 2014
[ HBD News ] Mágico americano se mata dando um tiro no peito enquanto algemado por trás das costas
A notícia não informa que Victor White III era mágico, mas essa é a única conclusão que eu posso tirar.
De acordo com a matéria, o rapaz teria sido preso por posse de drogas. Após revistado, algemado por trás das costas, e colocado no banco traseiro do carro da polícia, Victor White III (que se pronuncia “the third”, caso você esteja curioso; seria o equivalente de “Neto” na cultura brasileira) teria então produzido uma arma e deu um tiro nas próprias costas.
O que já seria absurdo o bastante (como ele tinha uma arma após ser revistado e algemado…?), até que um pequeno detalhe inconveniente apareceu na autópsia: o tiro foi no peito. Ou seja, ou o rapaz era o Doutor Estranho e usou artes arcanas pra produzir uma arma e manipula-la astralmente pra atirar no próprio peito, ou então há uma família de contorcionistas circenses de luto hoje na Louisiana.
Tá rolando uma espécie de meme na América no momento de matar negros desarmados. Teve o Mike Brown em Ferguson, teve o Kajieme Powell em Saint Louis – em que há um vídeo que contradiz a versão dos policiais –, teve o Eric Garner em New York, e estes são apenas os que eu lembro aqui de cabeça porque foram os mais recentes. Em todos há um leve grau de ambiguidade que vai servir pra inocentar os policiais, mas este último tá difícil de ignorar o fato de que estão executando negros a torto e a direito, e por motivos completamente triviais.
A menos, novamente, que Victor White III era a identidade secreta do David Blaine.
(Sei que o zeitgeist vigente no Brasil é “fodam-se, matem todos os marginais, por mais triviais que sejam os crimes”, mas antes de ter essa reação tente compreender o absurdo que é um estado policial matando pessoas no meio da rua e mentindo sobre os detalhes do incidente — e onde isso vai parar)

5 coisas (impressionantes) que aprendi por ter um gato
Por acaso faz tempo que tu não aparece aqui no site? Se sim, eu preciso te contar uma novidade: eu agora tenho um gato.

Izzy e Marshmallow Nobre
Caso não faça tempo que você não aparece aqui e você já está familiarizado com o Marshmallow, você talvez esteja se perguntando por que a minha gata virou subitamente um gato. Já expliquei no meu vídeo do Ice Bucket Challenge, mas basicamente eu e minha esposa cometemos um erro que muitos jovens brasileiros embriagados já cometeram em baladas ao redor do nosso país — pegamos uma gatinha, e para nossa surpresa descobrimos posteriormente que a gatinha tinha um pênis.
Aparentemente é um engano comum em filhotes, quando os órgãos sexuais ainda não estão plenamente desenvolvidos; quando levamos o bichano no veterinário ele nos informou da real identidade do Marshmallow. O foda é que agora já pegamos o costume de chama-lo de ELA. Mas enfim.
Ter um gato (qualquer animal de estimação, na real) é frequentemente comparado a ter um filho, e eu estou entendendo por que as pessoas dizem isso. Ambas experiências são um constante aprendizado. Por exemplo, quando você tem um gato…
Não perca tempo comprando brinquedos chiques. Às vezes ele vai cagar pra eles.

“Whatever”
Parte da diversão de ter um gato é vê-lo brincando alegremente, da forma que você brincava um dia quando você era uma criança sem preocupações de carreira e contas e parcela do carro, quando a chama da esperança e do espírito humano ainda queimava fortemente dentro da sua alma.
O problema é que gatos tem uma indiferença inata e às vezes excretam e caminham para suas tentativas de entrete-los com brinquedinhos caros. É por isso que eu pessoalmente ainda prefiro cachorros — eles parecem realmente GOSTAR mais de você.
Eu comprei um monte de coisa aqui pra porra desse gato. Um desses brinquedos, um cilindro com um chocalho dentro e com peninhas, foi mais ignorado pelo gato do que você quando foi pra balada no fim de semana passado. Se eu tivesse pego aqueles mesmos vinte dólares, cortado em tiras de confete e suspendido diante do gato, teria sido literalmente um uso melhor do dinheiro.
Aliás, o bicho brincou mais com o saco plástico que eu usei pra trazer essas paradas pra casa. Obrigado, seu mal agradecido filho da puta do caralho.
Gatos tem um botão liga/desliga
Essa aqui é impressionante. Deixarei que o vídeo fale por si só:
Se você não entendeu o vídeo, é o seguinte: se você apertar a parte superior do pescoço deles, o gato fica PERFEITAMENTE CALMO E IMÓVEL.
Isso é algo que donos de gatos aparentemente já conhecem há milênios — porque é inclusive uma técnica útil pra dar remédios, cuidar de machucados e coisas do tipo –, mas que eu desconhecia.
As hipóteses pra esse comportamento bizarro vem, como sempre é o caso com essas coisas, da ciência evolucionária. Uma das idéias é que essa técnica é usada para gatos pra acalmar as parceiras e assim facilitar o coito. Gatas que sofrem o efeito trepavam mais, o que proporcionou a propagação do gene que instala essa chave geral no bicho.
A outra, que explico neste outro vídeo, é que os gatinhos relaxam ao serem apertados nesse ponto porque é assim que suas mães os carregam de um lado pro outro, e é mais prático que os bichos não estejam saracoteando e tentando furar os olhos da mãe nesse momento.
E aparentemente essa é uma técnica boa de aprender, porque…
Você está constantemente sob ataque felino

Esse foi um dos mais caprichados arranhões que eu levei ontem. Ah, e a foto da Bebba no crachá faz parte da cultura de hospital daqui — praticamente todos os funcionários tem foto dos filhos, animal de estimação, ou esposa no verso do crachá.
Você gosta de dormir? Eu também. Todos gostam de dormir. É provavelmente um dos maiores prazeres não-sexuais gratuitos dos quais a espécie humana goza. Isso, e dar aquele peidinho de leve durante a mijadinha matinal. Esse aí até arrepia.
Já meu gato, por outro lado, odeia que eu durma. Descobri rapidamente que dormir com a porta do quarto aberta é na real uma contradição lógica, porque o Marshmallow encara a porta aberta como um convite explícito pra pular na minha cara, morder meu pé, tentar puxar minha aliança do meu dedo (ele faz o mesmo com a da minha esposa, aliás. Um hábito felino que eu até então eu desconhecia) e basicamente fazer qualquer coisa em seu limitado porém eficiente poder pra me manter acordado.

“Vamo brincá cara!”
Ontem eu quase sofri uma vasectomia caseira nas mãos do Dr Marshmallow, cujas credenciais médicas eu questiono. Eu estava aqui trabalhando no computador, de cueca (por que não, porra?), na santa paz do senhor. De pernas abertas, meus frágeis testículos descansavam no assento da cadeira, cobertos por uma fina camada de seda que oferece menos proteção do que uma camisinha caseira feita com um saco plástico do Pão de Açúcar.
Eis que subitamente sinto um peso adicional na cadeira e ouço o inconfundível som de couro sendo rasgado. Marshmallow oscilava pendurado na cadeira, com suas garras Wolverinísticas firmemente cravadas no assento da cadeira — a meros milímetros dos meus ovos.
E não sou só eu; minha esposa e a mobília aqui de casa estão perdendo nessa guerra também. Cogitamos aparar a pontinha das unhas do gato, mas descobri também que…
Não ouse comentar sobre o tratamento que você dá ao seu gato
Na internet, todo mundo tem opiniões fortes — e não necessariamente baseadas em conhecimento prévio, treinamento formal no assunto, ou sequer um bom compreendimento da situação.
Não sou isento disso: eu mesmo costumo dar minhas opinadas aqui, com firme embasamento no meu diploma da Universidade Federal da Wikipédia. Somos todos culpados deste mesmo pecado, bem como dizia Romanos 3:23.

“…a Bíblia falou sobre brigas de internet…?”
Mas eu desconhecia a fúria dos defensores dos animais. Ou a intensidade com a qual eles tentam salvar animais que não sofrem qualquer risco.
Após uma semana inteira de destruição cutânea e da mobília do meu apartamento, eu ousei comentar no Tuíter que estava cogitando aparar a pontinha da unha do Marshmallow. Comprei uma tesourinha especial pra isso, li as instruções (tanto na embalagem quanto em sites especializados), vi vídeos no youtube. Sim, eu sei que a unha do gato tem vasos sanguíneos até um certo ponto — dá pra ver a olho nu, inclusive –, e que por isso você tem que se ater a cortar só a pontinha.
Fui imediatamente respondido por uma garota que me perguntou como eu me sentiria se alguém arrancasse meus dedos. A garota mandou outros inúmeros tweets, constantemente se referindo ao ato de aparar a ponta das garras do gato como equivalente a amputar as patas dele. “Você é burro e vai machucar ele”, ela disse.

Como a garota imaginava que eu apararia as unhas do Marshmallow
Não tinha jeito. A garota viu algo trivial como uma total agressão aos direitos do gato na melhor das hipóteses, e um crime de mal trato aos animais na pior. Imagina se eu tivesse sugerido tirar as garras dele, que é de fato uma amputação das falanges distais do bicho.
A expressão “reflexo felino” não ganhou este nome por acaso

Essa varinha de pescar com umas peninhas na ponta é tipo, o iPad do Marshmallow
Gatos são um misto de Daiane dos Santos com o Flash com o Noturno com o Homem Aranha (além de uma pitadinha de Wolverine, graças às garras retráteis que estão me rendendo cicatrizes). Eles são os ninjas do reino animal.
O bicho está constantemente correndo de um lado pro outro, escalando coisas, pulando de um ponto a outro e basicamente desafiando a gravidade, inércia e primeira lei da termodinâmica ao mesmo tempo (como tanta energia vem de tão pouca comida…?).
A típica indiferença felina se aplica também às leis físicas que eles quebram constantemente.
Há momentos que o desgraçado parece literalmente se teletransportar. O Marshmallow é fissurado com o corredor aqui do prédio; em qualquer momento que eu saia ou entre no apartamento, ele DISPARA pela porta pra explorar o corredor. Nenhuma barreira é capaz de impedir a passagem do bicho — bloquear com o pé ou perna, abrir a porta rapidamente, ou abri-la o mínimo possível pra se espremer pela fresta, ou até mesmo fazer isso tudo ao mesmo tempo: é tudo tão fútil quanto tomar banho e cagar logo em seguida. Você fica se sentindo um idiota que apenas perdeu tempo a toa.
Às vezes eu estou DE OLHO na fresta da porta, e penso que saí com agilidade e que o gato nem percebeu que a porta foi aberta. Tranco a porta, viro pra descer a escada, e lá está o filho da puta a 30 metros de distância no final do corredor. Se eu tento chamar o bicho de volta — um comando que não parece funcionar bem pra gatos –, ele olha pra mim com descaso e continua perambulando pelo corredor.
Mas sabe duma coisa? Eu amo esse filhotinho de Satanás. E olha que até semana passada eu preferia cachorro!

August 25, 2014
[ Artigo Clássico ] Alluda Majaka, um HILÁRIO filme de ação indiano!
(Postado originalmente em março de 2010)

Eu não sei nem o que dizer sobre o poster do filme.
Você deve saber que a Índia, além de monopolizar call centers e competir com a China pela posição de provável superpotência mundial nos próximos 20 anos, tem uma afeição por cinema.

Acredito que isso aí é o equivalente indiano de “Senhor e Senhora Smith”. London deve ser “Smith” em indiano.
E a máquina do cinema indiano – referida carinhosamente como “Bollywood” — não se limita a comédias românticas não recomendadas pra diabéticos nem drama mela-cueca, não! De vez em quando um estúdio qualquer libera alguns quatrilhões de rúpias (a Índia, como qualquer país fodido que se preze, deve ter uma inflação astronômica), e algum Steven Spielberg de bigode põe a mão na massa e tentam emular a ação cinematográfica americana.
Olha só. Se você alguma vez se lamentou pelo fato de que o cinema brasileiro não faz tentativas similares, rapidinho você vai entender que isso é na verdade uma benção. Xeu explicar por que.
O cinema indiano é que nem a menina de 7 anos que, após observar a mãe se arrumando pro trabalho, pega o estojo de maquiagem e pinta a cara com oito cores diferentes, passa baton na orelha, come um pouco do ruge e vomita em cima da cama: através da observação eles pegaram a idéia principal, mas a execução – além de falhar catastroficamente – é uma das coisas mais engraçadas que você já viu na vida.
Estava eu noutro dia passeando por um desses fóruns em que os usuários, unidos pelo amor pela pornografia, trocam largas quantidades de links pra todo tipo imaginável putaria. Um dos foristas devia ter dado Ctrl C no link errado, porque o que ele postou no tópico foi isto aqui.
//www.youtube.com/watch?v=wS5W-7kgovM
O épico acima se chama “Alluda Majaka”, e a única coisa que sei sobre ele é que é um filme de ação indiano lançado em 1995.
O forista misterioso, que nunca mais retornou ao tópico aliás, não nos deu nenhum contexto em relação ao filme ao qual a incrível cena pertence. Fomos obrigados a teorizar que é um trecho de Puta Que Pariu! – O Filme.
O filme (vou tratar a cena como se fosse O FILME, tá? Mais fácil que ficar falando “naquela cena do filme…” o tempo todo) abre com o nosso Herói algemado e sendo levado de camburão à delegacia – provavelmente.
Que crime o sujeito teria cometido? Podemos ver que ele adere pelo menos a uma das leis indianas mais importantes, que é manter um bigode de pelo menos 8 centímetros de comprimento. Então, não deve ser um completo fora-da-lei.
Como o Herói tinha coisas mais importantes a fazer naquele dia (“não ser espancado por policiais corruptos de terceiro mundo”, logo após “levar o menino pro dentista”), ele nem pensa duas vezes – com potentes chutes bem no meio do peito de seus captores, ele os projeta pra fora do camburão, derrubando as portas laterais que estavam presas por um clipe de papel aparentemente.
O Herói salta pra fora do veículo, desce o cacete em mais um policial armado. Enquanto ambos dançam um balé coreografado, o policial dispara vários projéteis.
Considerando que a Índia é um dos países mais populosos do mundo, cada uma daquelas balas deve ter matado ao menos cinco transeuntes. E se os tiros forem à queima-roupa, estamos falando de vários metros de bigodes chamuscados.
O policial então é arremessado contra o primeiro de muitos parabrisas que explodirão ao longo do filme. Um outro tira apanha o rádio e chama reforços, e então começa a perseguição mais alucinante (e surreal) jamais capturada em celulóide.
O Herói sai correndo no meio de um engarrafamento, e um dos policiais acredita que é uma boa idéia persegui-lo DE MOTO, EM ALTA VELOCIDADE. Previsivelmente o motociclista se enfia no primeiro veículo que bloqueia sua trajetória, e o impacto projeta o pobre policial a órbita geosíncrona.
O Herói jamais pára, nem mesmo após ter praticamente iniciado o programa espacial indiano. Dois jipes tentam bloquear sua correria, mas o habilidoso indiano pula por cima dos dois como se fosse um ginasta olímpico. Se o Herói fosse um personagem de 3D&T, ele e seu bigode juntos teriam oito pontos de Habilidade.
O cara então decide que esse negócio de andar no chão é meio perigoso e decide sair correndo por CIMA dos carros. Quando menos se espera, o espaço aéreo da região é invadido por uma moto voadora inexplicável (que diabo de técnica de perseguição policial é essa? “Jogue uma moto contra o suspeito!”?), mas o Herói desvia com habilidade e escapa.
E aparentemente ele gastou toda a habilidade dele, porque na queda ele engancha o pé entre dois carros. De longe vemos outro jipe da polícia, em alta velocidade ao seu encalço. Nosso Herói se tornará pizza de asfalto em poucos segundos, e os créditos rolarão.
O nosso MacGyver asiático então remove um pedaço do carro sob o qual ele se encontra preso, e o arremessa contra o jipe que se aproxima. O troço se prende à grade do jipe e por motivos que desafiam tudo que conhecemos sobre as leis naturais que regem o universo, isso faz o jipe sair voando.
A única maneira dessa sequência fazer sentido é se as viaturas policiais indianas têm um “modo avião”, assim como o meu celular, mas de forma mais literal. O susto provocado pelo cano arremessado contra o jipe fez o policial apertar um botão sem querer, que causou o jipe a decolar com destino à altitude comercial de trinta mil pés.
Infelizmente como a decolagem súbita não foi antecipada pelo motorista/piloto, ele falhou em checar todos os sistemas pré-vôo. Por isso, o reversor da turbina invisível (outra tecnologia indiana que um dia dominará o ocidente) não foi desativado, resultado num desastre aéreo que vitimou os tripulantes do carro/aeronave.
Agora, a próxima cena é importante. Eu imagino que eles mataram uns sete ou oito cavalos filmando essa sequência.
Uma inexplicável cavalaria aparece em perseguição do Herói. Por que afinal de contas, se motos e carros não conseguiram alcançar o cara, talvez um downgrade nos modos de transport… wait, isso não faz o menor sentido, porra! Eu imagino que o diretor do filme ganhou esses cavalos numa rifa ou algo assim, e decidiu que ia coloca-los na fita não importa o que.
(Aliás, deixa eu mencionar aqui que a trilha que toca na cena é familiar porque uma musiquinha muito semelhante foi usada no filme A Rocha)
Na tentativa de apreender o fugitivo, um dos policiais montandos enfia as patas do cavalo por mais um parabrisas. O Herói, mais safo que um sabonete besuntado com KY, escapa por um fio mais uma vez.
É nessas que dois dos tiras chegam mais perto e, usando laços que soam como QUALQUER COISA menos laços, conseguem capturar o Herói. E eles saem arrastando-o pela rua, levantando ainda mais questões sobre os procedimentos policiais indianos.
Eis que um poste se aproxima. Os policiais que seguram as cordas vão um pra cada lado do post, o que implica que eles planejavam realmente matar o protagonista, ou não entendem como o corpo humano funciona.
O Herói, agindo rapidamente pra salvar a própria vida salta do chão e… acerta o poste com a virilha. Isso mesmo. ESSE ERA O PLANO DELE: bloquear o impacto com os testículos.
Essa acrobacia – que se tivesse acontecido no planeta Terra teria partido o personagem em duas fatias simétricas – não apenas salva a vida do cara, como também faz os cavalos que o arrastavam dêem uma cambalhota em câmera lenta e caiam num mangue que brotou ali nas rendondezas.
E pra tornar a coisa maleficamente hilária, você pode ver claramente os fios que usaram pra fazer os cavalos tropeçarem de cabeça na água rasa. E seus jóqueis saem voando, como praticamente tudo no filme.
Mas ainda há outros policiais montados atrás do protagonista. Usando a corda que o prendia (e que não está atada a nada, lembre-se), ele derruba o resto da cavalaria inteira.
Novamente, atente pros fiozinhos atados nas pernas dos pobres animais. Dá pra ver elas por um segundo, logo antes do momento em que os bichos enfiam a cara no chão enquanto desenvolviam velocidade máxima.
O Herói, que até então tava se dando muito bem a pé, decide pegar emprestado um dos cavalos que não sofreu traumatismo craniano na queda. E surgem do éter indiano mais policiais montados correndo atrás do cara.
E chega um momento icônico do filme, imortalizado na internet no formato .GIF. Quando um caminhão bloqueia a trajetória do Herói e seu cavalo, o cara faz a coisa mais fisicamente impossível jamais concebida por um escritor de filme de ação. Nem quando brincava com meus bonequinhos eu desrespeitava tanto as leis universais que descrevem movimento e fricção.
O cara poderia ter pulado o caminhão com facilidade, já que a cena inteira parece acontecer num cenário montado na Lua. Ao invés disso, ele DESLIZA COM O CAVALO POR BAIXO DO CAMINHÃO, como se este estivesse deitado em cima de vários skates.
Já o jipe que perseguia o cara passa voando sobre o caminhão, de acordo com o esperado.
Tou sem palavras pra descrever o resto do filme. Há mais sequências-clichê de gente (e objetos inanimados) voando, parabrisas sendo estilhaçados, nego caindo por cima de balcão de feira de fruta, tá tudo lá.
Tal qual o exemplo da criança tentando se maquiar, todos os elementos da perseguição hollywoodiana estão lá, mas misturados exageradamente um por cima dos outros, de uma forma que o resultado final é praticamente uma paródia do objetivo desejado.
E pra não dizerem que faltou explosões, a seqência termina com a ignição espontânea de uma frota inteira de carros, e o uso mais evidentemente óbvio de chroma key que eu já vi na vida.
Se você achava que o uso da técnica em Chaves era hilariamente forçado, think again.
A cômica incorência do filme se estende até ao artigo da Wikipédia que o descreve. Segundo ela,
The movie was directed by E.V.V. Satyanarayana and was released in 1995, at a time when Chiranjeevi was slightly less obese than usual.
Ou seja, o filme foi lançado em 95, quando o ator principal “era menos obeso do que de costume”. Não “menos gordo”, veja bem.
Menos OBESO. O ator principal da película é alguém que, quando em seu melhor condicionamento físico, é referido como “MENOS OBESO”.
O humor não-intencional de Alluda Majaka é tão denso que passa por osmose até mesmo pras mídias relacionadas, como esse artigo da Wikipédia. O descompromisso com a realidade é tamanho que, perto desse filme, Comando Para Matar e Stallone Cobra parecem documentários.
Temo que o imperialismo norteamericano que oprime a indústria de locadoras aqui do bairro me impedirá de assistir Alluda Majaka em toda a sua glória e esplendor, mas eu sinto que esses cinco minutos aí do youtube me mostraram tudo que eu precisava saber sobre o filme.

Sabe o que eu queria? Eu queria viajar mais
Oi. Tudo bom? Tu cortou o cabelo? Tá bonito. Bem vindo de volta ao HBD. Obrigado pela preferência!
Vamos hoje falar de algo que eu queria muito fazer — e provavelmente você também. Eu queria viajar mais.

Punta Cana, na República Dominicana. Uma paisagem ainda mais atraente considerando que daqui poucos meses estarei ENTERRADO em neve
Caralho, eu passei a noite inteira pensando em como escreveria esse texto, e agora sentado na frente do computador, me deu branco. Pera.
Ah, sim. Eu queria viajar mais.
Ultimamente venho pensando bastante em quais são, de fato, minhas prioridades nessa vida maldita que o Senhor McDonalds um dia vai sem dúvida findar. Completar meu curso, ser bem sucedido na minha carreira, ter os 1.1 filhos que famílias canadenses costumam ter, , comprar minha casa, etc etc etc etc.
Mas… às vezes eu sinto fortemente que eu preciso fazer algo a mais. Algo mais diferente da norma, algo mais aventureiro. Ver o mundo.

Ilhas Madeiras, em Portugal
Eu leio blogs de caras que viajam bastante. O Tim, do Wait Buy Why (um dos MELHORES blogs de humor que eu já li na vida), está viajando por diversos países e escrevendo sobre a aventura. Não é nem a primeira loucura que o cara fez em prol de escrever um texto bacana — O post dele sobre 20 coisas que ele aprendeu na Coréia do Norte (sim, esse maluco foi lá mesmo) é hilariante e extremamente informativo.
Tem também o Chris Guillebeau (“Guilebô”, caso você esteja curioso), cujos escritos eu já recomendei aqui no HBD no passado. O cara é um problogger que escreve sobre viver de forma não-convencional, e uma das formas não-convencionais é que ele visitou literalmente todos os países do mundo. Admiro-o muito, embora críticos digam que os conselhos dele sejam às vezes vagos, às vezes óbvios.
Ele inclusive ensina como fazer isso de forma barata, se aproveitando de cartões de crédito que pagam milhas e usando-os pra pagar literalmente todas as suas despesas — evidentemente pagando o cartão completamente todo mês, senão em vez de viajar tu vai ser financeiramente arrombado com a intensidade de mil torcedores do Corinthians.
Vejo as fotos de suas viagens, as histórias sobre as pessoas que ele conheceu, e fico imensamente invejoso.

Allure of the Seas, o maior cruzeiro do mundo. De acordo com a Wiki, ele é 50 milímetros maior que o segundo maior cruzeiro do mundo — uma diferença de pura tecnicalidade por causa de temperaturas ambientes diferentes durante as medições dos dois navios.
E a vontade de viajar não é simplesmente/necessariamente pra passar férias, não. Meio inspirado pelo Kerouac, pelos bloggers que citei acima, pelo Mr Manson (outro blogger viajante que foi ao Piauí e transformou a viagem num livro hilário), o que eu queria MUITO é meter meu iPad e minha câmera numa mochila e sair por aí escrevendo sobre o mundo. Há algo meio romântico na idéia do escritor errante e tal.
Agora, eis o dilema: se eu realmente tivesse culhões, eu poderia viajar a qualquer hora que eu quisesse. Ao contrário de pessoas que aspiram uma vida errante de aventuras ao redor do mundo, eu ocupo a rara e privilegiada posição de realmente poder fazer isso.
(Se eu tivesse culhões)
Estou no momento num hiato estudantil; só retorno ao meu curso em janeiro. Minha posição privilegiada no hospital me permite tirar férias praticamente em qualquer momento que eu quiser. E graças ao Patreon, eu não preciso necessariamente trabalhar num local fixo pra conseguir pagar minhas contas. Poderia — com alguma frugalidade — passar um mês inteiro viajando e escrevendo/fazendo vídeos sobre a aventura.
Isso sem contar que desde 2008 eu tenho uma poupança de emergência na qual JAMAIS toco. Com fundos de reserva, a ideia de viajar se torna ainda mais viável (embora este não seja o uso ideal pra esse tipo de pé-de-meia; idealmente, essa reserva é pra alguma catástrofe como perder o emprego ou coisa do tipo).
E pra facilitar mais ainda, eu sou desde 2012 um cidadão canadense. O perrengue tipicamente brasileiro de precisar pedir vistos pra viajar não me afeta.
O fator dificultante são dois, na real — o primeiro, o fato de que eu sou casado. Minha mulher não tem a mesma flexibilidade trabalhística que eu, e custear passagens/comida/hospedagem pra ambos estouraria o orçamento. Não é a toa que o Chris Guillebeau viajou o mundo inteiro sozinho, apesar de ser casado.
Admiro um casal que consegue fazer isso, mas eu e a Bebba somos muito próximos, e eu acho que não conseguiria realmente curtir a aventura sozinho. Eu e a Bebba somos o tipo de casal que mesmo que brigue furiosamente durante um dia ruim, à noite dormimos abraçados independente de qualquer coisa.

Lago Cheakamus, em British Columbia. Esse eu não tenho uma boa desculpa pra não conhecer, é relativamente perto de onde eu moro.
O outro fator é são os tais planos para o futuro. Eu tenho diversos conhecidos vivendo uma vida errante ao redor do mundo – uma amiga da minha esposa dando aulas de inglês na China, minha cunhada que vive como uma hippie 2.0, uma outra amiga que largou tudo pra ir morar na Austrália por um ano.
Uma constante entre essa turma é que eles não tem a menor idéia do que fazer no futuro, porque não estão acumulando nada financeiramente. Com isso, acabam sem nenhum plano de estudar, de comprar uma casa, nada do tipo. São aquele tipo de pessoa aventureira que vive “no momento”, um luxo que um homem casado de quase 30 anos não se pode dar.
E isso é o que mais pesa na minha já mencionada falta de culhão pra ir ver o mundo. Se eu torro, digamos, 2 mil dólares pra sair por aí com uma mochila nas costas documentando tudo pro meu site e pro vlog, são 2 mil dólares a menos pra investir (ando obcecado com a idéia de investir, a propósito — queria uma aposentadoria precoce pra passar minha meia idade brincando com meus futuros filhos); 2 mil dólares a menos pra pagar meu carro, ou a casa que eu ainda não comprei.
Ainda assim, a idéia de falar “foda-se”, socar tudo que preciso pra manter o site e o canal numa mochila (e talvez algumas roupas também, provavelmente também precisarei disso) e ir o mais longe possível de onde eu estou é muito, mas muito tentadora mesmo.
O que vocês acham, amigos?

August 24, 2014
Trailer de Automata, sci fi do Antonio Banderas com robôs e tal
Sci fi sempre foi meu gênero cinematográfico favorito, e isso sempre rendeu discussões infindáveis quando alguém diz o inofensivo porém extremamente errado “eu também, adoro Star Wars inclusive!”. Um dia elaborarei melhor esse ponto, mas por enquanto confie no seu favorito imigrante cearense morando no Canadá: Star Wars não é sci fi, caralho. Posso provar isso matematicamente.
Mas voltando ao assunto. Sci fi! Com robôs!
Automata, o novo filme do Antonio Banderas, mostra um mundo habitado por robôs-serventes que funcionam numa versão meio modificada das icônicas 3 leis da robótica, do Isaac Asimov. Uma dessas novas leis proíbe que robôs se modifiquem, sei lá por que exatamente mas tenho certeza que vão inventar alguma justificativa arbitrária pra isso.
Parece interessante, porque eu sempre fui fascinado pelos conceitos filosóficos relacionados a robôs com consciência. Eu gostei da identidade visual do filme, embora seja basicamente uma xerox de Blade Runner. É difícil criticar o diretor de arte da parada por isso, porque querendo ou não o Ridley Scott basicamente instalou na nossa consciência coletiva que visual uma distopia futurista deveria ter.
Por outro lado, precisava imitar até aquelas capas de chuva transparente, porra? Fazia uma verde-limão, sei lá. O futuro é todo neon mesmo.
Hollywood não tem um histórico muito bom em como adaptam o trabalho do Asimov (lembra dessa bela merda? Depois de ver o trailer pra Automata, você definitivamente deveria, porque há muitos elementos similares entre ambos), pelo andar da carruagem do trailer eu já tou ligado que o filme sofre da síndrome de Pocahontas/Dança Com Lobos/Avatar – isso é, o protagonista que não tem muita simpatia com uma raça oprimida acaba se “convertendo” pro lado deles.
Mas, como falei lá no começo, gosto de sci fi. Vou acabar pagando pra ver esse negócio.
Ah, e vamo parar com essa porra de chamar diretor de “visionários”, faz favor. Arrumem outro adjetivo, pois este já foi estragado pelo Zack Snyder.

August 22, 2014
[ A HORA DA JUSTIÇA ] Puxou briga, dormiu no chão
Acredito que aqui n’A HORA DA JUSTIÇA faço o importante serviço público de alertar aos amigos que altercações físicas no meio da rua não valem a pena. Sim, eu passei a vida toda crendo isso porque sou um nerd fracote sem habilidades marciais, mas esta máxima vale para pessoas de todos os tamanhos e constituições físicas. O vídeo de hoje se destaca porque ele é basicamente COMENTÁRIOS DO DIRETOR da porrada.
Vamos lá.
Como o narrador explica, ele estava sendo seguido por outro indivíduo — certamente pra tirar satisfação de alguma barbeiragem mínima de trânsito. Eu queria muito ter o tipo de tempo livre que me permitisse abandonar meu plano para o dia pra perseguir alguém deus sabe até onde só porque ele entrou na minha frente sem ligar o pisca-alerta, mas infelizmente sou um membro produtivo da sociedade sem impulsos psicóticos.
Repare que ele inclusive para numa vaga pra deficientes físicos, sendo que até então ele ainda não o era. Depois desse vídeo, não tenho muita certeza.
O valentão vai pra cima do narrador com tudo, e o dá um empurrão. O narrador, que é definitivamente o tipo de pessoa que você não deveria empurrar, desfere dois poderosíssimos socos em sua mandíbula. Na do valentão, não na sua própria. Eu estou pensando que foram 2 socos, a habilidade com a qual o rapaz lidou com seu agressor, é possível que ele tivesse despachado uns dezoito socos ali, e o framerate da câmera simplesmente não foi bom o bastante pra capturar todos os movimentos.
O valentão imediatamente é lembrado do efeito da gravidade no momento em que seu cérebro se desliga e suas pernas não mais o mantém longe do chão. Ele caiu quase embaixo da própria caminhonete, inclusive. O cara ainda planeja desferir um chute, mas parece perceber que não era mais preciso e então se freia um pouco (a ponta de seu sapato ainda triscou um pouco no bucho do agressor, no entanto).
Este justiceiro urbano anônimo aponta na sua direção, dizendo provavelmente algo como “eu bem que avisei pra você não me empurrar, ein! E fique aí mesmo!”
Nesse momento os amigos do agressor, que não pareciam estar muito engajados em impedir a briga antes (afinal de contas, eles deixaram o amigo perseguir o desconhecido, e o deixaram descer da caminhonete pra confronta-lo) correm em seu socorro. A garota vista no vídeo questiona porque o rapaz fez isso com o amigo dela, ao que ele responde “ué, ele que veio querendo briga tia”. Fica a pergunta de por que os amigos não tentaram impedir o acontecido ANTES do amigo tomar uma violenta sova. Sem dúvidas, assim como o dorminhoco, eles esperavam um resultado diferente.
E é por isso que não vale a pena comprar brigas na rua.

August 19, 2014
O desafio do balde de gelo e a chatice dos eternos reclamões
A essa altura do campeonato, eu nem preciso explicar o que é o desafio do balde de gelo. Caso você more em algum interior fodido do Tocantins e não tenha internet, primeiro me explica como você tá lendo esse site porque isso é surpreendente. Web por telepatia?
É o seguinte: o desafio do balde de gelo consiste em virar um balde de gelo (duh) na própria cabeça, e em seguida desafiar outros 3 amigos/inimigos a fazer o mesmo. Os indivíduos, se recusarem o desafio — o que é cientificamente conhecido como PEIDAR NA FAROFA –, devem então doar para a ALS Association, uma fundação que combate esclerose lateral amiotrófica. É uma doença desgraçada, sem cura, e que até recentemente não recebia muita atenção da mídia por ser considerada uma doença rara. Uma das “vítimas” mais célebres da doença é o físico inglês Stephen Hawking, que embora esteja todo contorcido numa cadeira de rodas só conseguindo mover os dedos, é mais inteligente e importante para o compreendimento humano do cosmos do que eu, você, e todas as pessoas que nós conhecemos.
Então. O impacto do desafio foi imenso.
Inúmeros famosos se comprometeram com a causa; são tantos, aliás, que a essa altura seria mais fácil enumerar os que NÃO entraram na onda. Muitos já fizeram o desafio: entre eles, Chris Pratt, Seth Green, Macklemore, Ben Afleck, Charlie Sheen, Vin Diesel, Neymar… é tanta água sendo jogada no chão nesse desafio que já já vão ter que criar outra campanha de doações lembrando que existem inúmeros locais no planeta sem água potável disponível.
Inevitavelmente, começaram a surgir os chatos de plantão. Você conhece a raça. Os “contraditórios”, os “do contra”. A galera que vê algo, SEJA LÁ O QUE FOR, e pensa imeditamente “pera, eu preciso achar um ângulo pra criticar aqui, porque de forma contrária como poderei expor meu intelecto superior e meu afiadíssimo senso crítico?”
E começaram os posts reclamando do desafio do balde de gelo. Alguns dizem que as pessoas estão fazendo “só pra aparecer”. Outros, aparentemente fiscais não-oficiais da ALS Association, criticam que “tem muita gente fazendo o desafio e não falando que é pra ALS, estou de olho nisso aí, nada escapa da minha astúcia”. Imagino-os com uma prancheta anotando nos nomes dos infratores enquanto balançam a cabeça negativamente.

“ai gente odeio quando as pessoas não seguem minhas estipulações arbitrárias enquanto promovem uma boa causa”
Hoje tive o imenso desprazer (comparável àqueles arrotos em que o vômito sobe até a garganta, sabe coé?) de ler este texto. O veneno do autor é tão peçonhento você imaginaria que o Desafio do Balde de Gelo consiste na verdade em ir até a casa do sujeito e cagar na sua cama, depois recolocar o cobertor e pisar em cima. Se você montasse uma cartela de bingo de críticas sem substância, você ganharia em poucos parágrafos.
Todas as críticas rolamole estão lá. Sim, estou cunhando o termo “rolamole”. Todos os greatest hits de crítica débil estão lá:
“Mimimi quem faz o desafio, faz pra aparecer!”
“Mimimi existem outras doenças piores!”
“Mimimi tem outras formas melhores de combater o ALS!”
“Mimimi estão fazendo vídeos mas não estão realmente doando para a instituição”!
Sabe a piadinha sobre desperdiçar água que eu fiz lá em cima…? Esse cara fez esse argumento NA SERIEDADE, olhando bem fundo no seu olho. “A água, gente! Estão jogando água no chão!!!!”
Sim, um sujeito que diariamente caga dentro de uma bacia contendo água encanda limpa criticando o “desperdício” de água do Desafio do Balde D’água. Espero o senhor autor do texto nos explicando como, em seu engajamento com a causa da escassez de água potável, abriu mão de usar a privada e agora passou a cagar dentro de um balde que ele então limpará com folhas de jornal e orvalho.
De acordo com a ALS Association, em menos de um mês da onda do Desafio do Balde de Gelo, foram arrecadados quase 23 milhões de dólares. No mesmo período, no ano passado, foram arrecadados menos de 2 milhões. Esses 23 milhões de dólares vieram de quase meio milhão de novos doadores, boa parte dos quais provavelmente nunca sequer teria ouvido falar da doença (que dirá então contribuir) se não fosse o Desafio do Balde de Gelo.
Apesar disso, o autor do tal texto que eu linkei (já me arrependo a dar cliques a ele) fala a seguinte tremenda canalhice:
“entre essa obsessão pela autopromoção camuflada de solidariedade e não fazer absolutamente nada, prefiro a honestidade da imobilidade”
É isso mesmo. Entre a doença receber atenção e uma contribuição financeira inédita que poderá um dia levar a cura, e as vítimas da parada continuarem sofrendo com a doença, o sujeito prefere a segunda opção — porque é “honesta”.
É uma questão de princípio pro autor, imagino. Um comprometimento irredutível com a babaquice.
Não há na internet escassidade de ativismo vazio. Volte sua birra e métrica arbitrária de medição de engajamento pra esses, ao menos, e deixe aquelas que geram resultados em paz.

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