Izzy Nobre's Blog, page 35

August 15, 2014

Porque eu decidi sair da internet

internet


CALMA, NEM O BLOG NEM O VLOG VÃO ACABAR, SOSSEGUE SEU ABALADO ÂNUS. Nunca. Pode ficar tranquilão. Palavra de honra!


De uns tempos pra cá eu me pergunto por que eu passo tanto tempo na internet. O hábito não é nem um pouco recente; o que realmente freava meu consumo internético quando eu era mais novo era a Geração Pulso Único, que limitava meu acesso às madrugadas, fins de semana, e feriados nacionais.


dial up

Lembra disso?


Quando chegou internet banda larga lá em casa em 2003, o mais groundbreaking nem era a então estonteante velocidade de 256kbps, e sim o fato de que eu estava SEMPRE conectado. Demorou pra se acostumar ao novo paradigma de poder acessar a web no meio de, digamos, uma terça feira a tarde sem precisar mutar o som do modem e rezando que a mãe não tentasse usar o telefone. É bem possível que você tenha passado por isso também!


De lá pra cá a internet meio que domina minha vida. Eu trabalho aqui, sim, e isso até justificaria passar bastante tempo online… o problema é que nem sempre estou trabalhando quando estou online. A internet se tornou um padrão de stand by. Tá fazendo nada? Vai ver o que tá rolando na internet. E nisso horas se esvaem da minha vida, clique a clique.


O tempo que eu passo online (e mais especificamente, o tempo que passo online sem fazer algo diretamente produtivo) não é um problema recente também. Mas o negócio é que algo recente me fez atentar pro desperdício de tempo, atenção e energia que passar tanto tempo online significa.


fb


A porra do Facebook.


Ultimamente tem sido difícil defender o hábito de “Facebookear”, na falta de um termo mais conciso pra “ficar perdendo tempo na porra daquela rede social”. Tem o perene problema das suas informações pessoais sendo leiloadas para anunciantes (o Google também faz, vá lá, mas entre serviços mais úteis como o Search, Translate, YouTube Gmail, Earth, Maps, Street View, Drive e etc o Google também me ajuda a pagar minhas contas, então é mais fácil aceitar). Teve o recente fiasco da imposição do app de Messenger, que tornou o serviço virtualmente inútil em plataformas mobile.


Nem eu, que costumo gostar de oferecer pontos de vista alternativos ao consenso vigente, consegui defender aquele app horrível e a forma como ele fragmenta desnecessariamente a experiência de usar o Facebook.


E tem o problema principal: meus amigos, e provavelmente os seus, simplesmente não tem nada interessante pra dizer, e definitivamente nada interessante pra compartilhar.


Já tem um tempo que minha experiência Facebookística se resume a pular propagandas veiculadas pra um demográfico do qual eu não pertenço, pular posts epidêmicos de joguinhos Free To Play do momento, pular textos prolixos defendendo fanaticamente alguma ideologia política que me faz repensar amizades, pular artigos Buzzfeed-style de clickbait preguiçoso, e pular notícias que eu já li no Reddit ontem.


Nas últimas semanas eu tenho percebido que não há mais um motivo real que me leve ao Facebook. Simplesmente não há. Nada me leva àquele site senão o hábito; a memória muscular de digitar F A C, esperar o autocomplete do navegador, e dar um Enter. Aí repito aquela experiência enfadonha que mencionei acima, penso “wow meus amigos são um porre, né?” e saio do site.


E pior: como um peixinho dourado desmemoriado, momentos mais tarde eu mando um F A C Enter de novo, volto lá, e a única diferença na experiência é que o péssimo algoritmo da timeline do Facebook me mostra posts de 4 dias atrás como se fossem recentes.


Por causa disso, eu estive considerando o Facebookicídio. Não queria fazer um post dramático lá anunciando a iminente deletagem do perfil em um número arbitrário de horas, exortando os “amigos de verdade” a passarem a me mandar emails em vez de mensagens. É uma prática comum na rede social, mas ao mesmo tempo me soa drama queen demais. É como subir numa mesa na festa/bar pra avisar a todo mundo que a festa/bar está muito chata e que você tá indo embora, quando você poderia simplesmente ir embora sem alarde como uma pessoa normal.


E essa metáfora de subir na mesa pra avisar a todos que está indo embora é piorada pelo fato de que o sujeito frequentemente anuncia a saída, e acaba voltando — tornando o exercício do anúncio ainda mais transparentemente uma busca por atenção.


(Se bem que de certa forma, essa análise sobre meu desinteresse no Facebook se encaixa um pouco nessa metáfora também…)


Não vou deletar meu perfil lá, não farei alarde, nada. Vou apenas tentar reconhecer o inegável: não há mais nada pra mim lá. É como continuar indo a um restaurante com comida péssima e atendimento revoltante simplesmente pelo hábito.


Apesar do meu foco no FB nesse texto, o mesmo se faz verdade pra quase todos os outros ambientes internéticos. Usar a internet como “stand by” padrão quando não se está fazendo nada é um péssimo hábito, não importa que site você eleja pra isso, e me causa problemas nos meus relacionamentos IRL. Muitas vezes minha mulher reclama da atenção que dou ao meu celular quando saímos, algo que tento ativamente reduzir.


O problema é que isso é o reflexo de uma vida inteira preenchendo os pequenos momentos de inatividade com internet. É só um sintoma; o problema real é que eu preciso ocupar meu tempo livre — que é limitadíssimo — com atividades mais produtivas. Reclamo há anos da minha dificuldade em me ater a um livro ou de não conseguir me focar na música, que era meu hobby principal uns 10 anos atrás (enquanto hoje minhas guitarras empoeiram).


Sempre culpo a internet por roubar minha atenção, mas a culpa real é minha.


Quero deixar claro mais uma vez: isso não é uma despedida, não tou fechando o site, nem o canal, nada do tipo. Essas atividades são produtivas, são criativas, e acima de tudo, são lucrativas. Eu pago minhas contas com o que ganho entretendo vocês. Se todo o tempo que eu passasse na internet fosse escrevendo ou gravando vídeo, eu não teria problema nenhum.


O problema é usar a internet como entretenimento passivo, como um escape preguiçoso pra preencher pequenos momentos de tédio — seja com o Facebook ou qualquer outra coisa. Só foquei no Facebook aqui porque ele é mais universal (nem todo mundo usa Reddit, Fark, ou Twitter) e os problemas dele são mais tangíveis.


Vamos ver se eu consigo quebrar esse ciclo. Pelo menos por uma semana, tentarei sentar na frente desse computador em primeiro lugar pra produzir. E tentarei exorcizar o Facebook da minha vida online.


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Published on August 15, 2014 14:44

August 14, 2014

Temos uma gatinha!

 


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“Please kill me”


Então, né. A Patroa me pedia um animalzinho de estimação há muito tempo (provavelmente impulsionada por instintos maternais que eventualmente a convencerão a parar de tomar anticoncepcional sem me avisar). Sempre fui a favor — tive diversos cachorros durante toda a minha infância, e de fato sinto que minha vida não será completa até o dia em que eu finalmente puder ter outro cachorrim.


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Eu e Collor, meu pastor alemão, em 1991. Até hoje não se sabe ao certo por que diabos meu pai deu esse nome pro coitado.


A minha própria esposa amargou recentemente a morte do cachorro de família, o espertíssimo Pepper, e desde então ela sonha em ter algum bichinho irracional pra cuidar além de mim.


Aliás, digo que o Pepper era espertíssimo e não é sem razão — como os pais da minha esposa são surdos, o cachorro foi treinado desde filhotinho a atender comandos dados através da língua de sinais. Ele sentava, latia, os chamava quando alguém batia na porta, fazia um monte de coisa através de comandos de sinais.


Então, idealmente eu queria mesmo um cachorrinho. O problema é que ainda não realizamos o Sonho Da Casa Própria™; achar casas ou apartamentos para aluguel que aceitem cachorros é dificílimo (creia, procuramos bastante). No máximo permitem gatos, ou hamsters, ou outros animaizinhos menores que não vão latir a noite toda, ou morder outros inquilinos, ou cagar todo o jardim do prédio. Meus peixinhos dificilmente fariam qualquer uma dessas atividades — tenho meu aquário há quase 8 anos e até hoje ainda não morderam ninguém –, então peixes geralmente entram na lista de animais lícitos também.


Limitados a expandir nossa fauna apartamentistica na direção felina, foi assim que a Marshmallow entrou em nossas vidas. Aliás, pra ser mais preciso, eu estava dormindo no sofá e sonhando profundamente qando minha esposa chega em casa com a Marshmallow a tiracolo.


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Esta é a Marshmallow, que pensando bem devia ter um nome mais cearense, como Tripinha, Catinga ou Pereba. Ela tem um mês de idade, e está atualmente testando nossa paciência mordendo e arranhando todas as nossas posses mais queridas.


Como meus dedos, por exemplo — na primeira noite, a gatinha nos chantageou emocionalmente miando de forma chorosa na porta do nosso quarto; ao que a esposa permitiu sua entrada, a Marshmallow passou então a revezar entre morder o meu pé, e morder o pé da minha mulher. Pra garantir que meus dedinhos não escapariam de seus dentes afiados de predador felino, ela cravava suas unhas no meu pé para estabiliza-lo.


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As duas gatinhas da residência Nobre


Trouxe o problema para a internet, e fui admoestado a fazer qualquer coisa menos tirar as garras dela — o processo, chamado “declawing”, involve literalmente arrancar cirurgicamente a última falange de seus dedinhos, com unha e tudo. Imagino que a Marshmallow preze por seus dedinhos tanto quanto eu, então essa opção foi desconsiderada.



Compramos inúmeros brinquedinhos pra saciar sua sede de arranhar e morder, incluindo um poste que eu apelidei oficialmente de “Empire State Kitty” de onde a Marshmallow observa majestosamente o dia a dia na nossa residência com aquele desdém característico que está embutido no DNA felino.


Comprei também um laser pra que ela persiga futilmente o pontinho vermelho no carpete na esperança de comê-lo. Parece até maldade, mas esses gatinhos filhotes tem muita energia, e a menos que eu a deixe cansada, ela passará as noites mastigando meus dedos. Veja aí a caçada implacável:



No geral estou gostando demais de ter a gatinha aqui em casa, a despeito dos arranhões tanto no meu corpo quanto na mobília. Ainda prefiro cachorros por serem mais afetivos, e porque dá pra brincar com eles de forma mais pessoal do que coloca-los pra perseguir um laser. Gato tem aquela indiferença meio anti-social que não atende totalmente o tipo de necessidade que eu sinto num animal de estimação.


Mas enquanto não temos nossa própria casa, quem não tem cão caça com gato.


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Published on August 14, 2014 17:38

August 6, 2014

[ A Hora da Justiça ] Provocou a galera no ônibus, levou uma surra

Estou de volta, amigos! Meu apê novo ainda está uma bagunça satânica, e demorou um bocado pra instalarem a internet nesta porra (quem mandou se mudar durante um feriado prolongado…), mas aqui estou!


Vamos assistir mais um sensacional exemplo de por que não se deve puxar brigas com desconhecidos. Solta o VT:



Estamos dentro de um transporte coletivo, onde um Gordinho de Camisa Cinza solta impropérios e provocações pra ninguém em específico. A putaria devia estar rolando já algum tempo, como é sempre o caso desse tipo de vídeo. Quando alguém finalmente pensa “melhor puxar o celular e filmar isso” é porque a energia no local indicava uma confusão iminente.


Eis que de repente levanta-se um marmanjo de aparente 2 metros de altura, construído exclusivamente por músculos. Os olhos dele são feitos de músculos, as veias dele são feitas de músculos, os músculos dele são feitos de músculos. Neste exato instante sabemos que o gordinho se fodeu muito bem fodido.


O gordinho tenta sorrateiramente evadir-se da área, mas é tarde demais: o sósia do Terry Crews está em modo teleguiado. Como num desenho animado, o grandão pega o gordo pela gola da camisa e vai levando-o pra longe do ônibus. Reparei pela primeira vez que o fortão tá com um livro nas mãos, o que simultaneamente desafia estereotipos E serve como um barômetro das suas habilidades marciais.


O fortão leva o gordinho para um ponto suficientemente longe do coletivo, e então o larga e se vira pra ir embora. O gordo, como é costumeiro de alguém prestes a ter a bunda chutada, não entende que está comprando uma briga que ele vai inevitavelmente perder.


Com o gordinho berrando xingamentos em sua face, o fortão dá-lhe um tapinha de leve, sem sequer soltar o livro — uma pequena amostra grátis do tipo de total e completa aniquilação prestes a cair sobre o gordim.


O gordinho continua berrando na cara do fortão, testando sua paciência. O fortão lhe dá mais um safanão, novamente exercendo considerável auto-controle (e nunca largando do livro). O gordo vai parar no chão, indignamente, como uma tartaruga que caiu de costas e tem dificuldade de se levantar.



O fortão se vira pra sair, novamente. O gordo, agora trajando uma camisa rasgada que fatalmente virará pano de chão, continua insistindo nessa briga onde ele só tem a perder (a dignidade, o equilíbrio, dentes, suas roupas, entre outros).


O gordo insiste, leva uma cuspida na cara, e estoura a briga. Em sua recuada, o gordo acaba tendo seu traseiro literal e norte-americanamente chutado.


E o grandão vai embora com o livro na mão.


8.9 pontos na Escala Capitão América de Justiça. Ele poderia ter DESTRUÍDO do gordinho se quisesse, mas aplicou apenas a quantidade de justiça necessária.


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Published on August 06, 2014 18:06

July 29, 2014

Uma viagem pela minha infância, cortesia do Google Maps

Eu estou de mudança, como já comentei no meu vlog. Tá uma bagunça absurda aqui no momento, e do jeito que eu e a patroa vivemos ocupados, mesmo no novo apartamento vamos ficar cercados por um stonehenge de caixas de papelão por alguns dias.


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Nossos últimos dias se revezam entre entre empacotar nossos pertences, e decidir de quais vamos nos desfazer. Uma mudança é uma boa oportunidade pra abrir mão de muita coisa que você vem guardando a anos sem motivo (“vai que um dia eu preciso” não computa como um bom motivo, vai por mim).


Todos os meus livros e DVDs, por exemplo, eu estou doando para a biblioteca local pois abandonei de vez a mídia física. As vantagens intangíveis (o tal proverbial “cheiro do livro” que alguns tanto valorizam) não chegam nem perto das vantagens objetivas e inegáveis de ter toda sua coleção de livros num aparelho que cabe no bolso. E sobre DVDs/Blurays, eu não consigo lembrar qual foi a última vez que eu assisti um filme em mídia física.


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Entre “ficar cheirando papel” e “migrar para o inevitável século XXI”, não me culpe por optar pelo segundo.


 


Ou seja, na prática, estou há anos entulhando minha casa com tralha inútil. Meus livros já estão todos no meu bolso, meus filmes estão divididos entre a nuvem do iTunes e o Netflix. Tá na hora de exercer o desapego.


Então, essa mudança iminente me fez pensar em todas as outras casas em que morei na vida — muitas dessas que foram o cenário das histórias aqui do HBD. Resolvi então dar uma pausa no encaixotamento dos meus pertences pra fazer uma retrospectiva de todos os locais onde morei na vida!


Vamos por partes:


A Casa Fodida



Essa foi difícil de encontrar. Como morei há MUITO tempo, a fauna residencial ao redor mudou muito, e foi difícil triagular exatamente qual era a minha casa. Pra achar a vizinhança foi relativamente fácil, já que ela fica a poucos quarteirões de distância da Casa Dos Meus Avós (já já chegamos lá). Mas enquanto achar a localização geral foi fácil, descobrir em qual dessas casas eu morei não foi.


Só saquei que era essa a casa quando atentei a detalhes quase imperceptíveis à primeira vista, como o tipo de janela usado nessa casa. Não sei como se chama, mas são aquelas que você puxa uma alavanca e tiras de vidro paralelas giram, permitindo a passagem de ar ou de uma criancinha de cinco anos. Já explico.


Por que eu a chamo de “a casa fodida”? Como você pode claramente ver, a casa não é lá essas coisas todas, e isso porque dos anos 80 pra cá ela foi bastante melhorada. A casa não tinha nem forro, e sempre acordava repleta de uma fina camada de poeira oriunda das vigas de madeira no teto — minha mãe suspeitava que eram cupins hiperativos.


1988 ou 1989, no jardim da Casa Fodida. Meu irmão à esquerda, eu na direita.


Só tínhamos um banheiro, e me lembro claramente de ter passado um bom tempo sem tampa no sanitário. Sanitário sem tampa é uma evidência inegável de família financeiramente fodida.


Essa casa, mais do que qualquer coisa na minha infância inteira, representava uma família humilde — uma época em que meus pais eram apenas jovem adultos sem uma carreira muito bem definida e com um futuro ainda incerto. É bizarro pensar que eu, hoje, tenho mais do que meus pais eram naquela época.


Aliás, vale mencionar aqui toda a minha família é de origem bem humilde. Minha mãe é filha de retirantes do interior do Ceará, o Seu Luiz (curiosamente, ele é xará do meu pai) e a Dona Cássia. Meu avô era o típico “faz tudo” que era tão comum no cenário popular de baixa renda daquela época.


Da esquerda pra direita: meu irmão, minha mãe, minha avó, meu avô, eu, minha tia. O objeto na mão do meu irmão era um aviãozinho de metal verde com dizeres “Lula Lá”, distribuídos na em Fortaleza pela campanha do candidato. Ou seja, essa foto foi tirada em 1989, e portanto eu tinha 5 anos; meu irmão, 3.


Seu Luiz fez de tudo pra pôr comida na mesa da família, de erguer muros sob o implacável sol cearense a matar porcos comprados na feira pra vender a carne. Minha avó também trabalhava informalmente como costureira, e completava o orçamento familiar fazendo salgados sob encomenda pra festas.


avos

Seu Luiz e Dona Cássia, em 2010. Felizmente ambos são ainda muito saudáveis, não bebem ou fumam e nem tem problemas graves de saúde.


Já meus avós de parte paterna são meio que uma incógnita pra mim. Se me lembro bem do folclore da família, meu avô (o representante comercial Luiz Felipe Santiago; “Luiz” era um nome popular no Ceará aparentemente), morreu quando meu pai era criança de colo. Minha avó, a dona Elisa Nobre, morreu quando eu tinha 5 ou 6 anos. Só tenho duas lembranças dela: uma, quando ela me presenteou com um saco de animaizinhos de plástico iguais a estes, e a outra de ir no cemitério durante uma noite chuvosa deixar flores na cova dela.


Voltemos à Casa Fodida, que ficava justamente a poucos quarteirões da casa dos meus avós. O motivo pelo qual eu lembro claramente daquela janela é porque inúmeras vezes eu precisei engatinhar através dela pra destrancar a porta da casa. O que rolava é que a porta não se abria por fora, e em algumas ocasiões meus pais esqueceram a chave dentro de casa ao sair comigo.


A única solução (e que se me lembro bem foi empregada múltiplas vezes) era forçar a janela por fora e então me colocar pela estreita abertura dos paineis de vidro. De acordo com o relato da minha mãe, e de minhas próprias memórias embaçadas disso, eu saia correndo pela casa escura, sozinho, e conseguia destrancar a porta por dentro — com míseros cinco aninhos de vida.


Eu cresci ouvindo meus pais contando orgulhosamente essa minha proeza pros amigos (“…e aí ele deu a volta na casa inteira, toda escura, e destrancou a porta! Já pensou?”). Pela familiaridade com a história, eu nunca a achei tão impressionante quanto meus pais claramente achavam. Pensando nela hoje, é realmente impressionante que uma criança de 5 anos conseguisse resolver um problema como esse. A maior lembrança que tenho disso é de pôr meus pezinhos na cômoda do meu quarto, ao ser içado pela janela pelo meu pai, e pisotear todos os meus brinquedinhos — que cairam por toda parte.


No finalzinho dos anos 80, nos mudamos para…


O Prédio Esquecido



Eu tinha literalmente esquecido que morei nesse prédio. Já tinha terminado o artigo e estava dando um passeio virtual entre A Casa Amarela (aguarde, tá lá na frente) e a escola em que eu estudava na época, quando esbarrei com esse prédio e me veio o estalo “caralho, eu morei aí também!


É estranho que eu tenha esquecido desse prédio, porque eu tenho até bastante lembranças dele (ou melhor, de eventos que aconteceram quando eu morava nele).


Uma das mais memoráveis foi quando eu trouxe pra casa o peixinho de estimação da minha turma da escola (ainda se faz isso?), porque todo moleque ficava com ele por alguns dias e aí escrevia uma redação sobre cuidar do bicho ou algo assim. Coloquei o peixe numa bacia metálica — é estranho o quão sólida e firme é a lembrança dessa bacia; lembro até de pequenas imperfeições nela — e fiz um barquinho de papel pra que a cena ficasse mais parecida com Tubarão.


(Eu tinha uma fixação por reproduzir cenas de filmes com meus briquedinhos)


Após alimentar o peixe, fui ao banheiro e de lá ouvi os berros maravilhados do meu irmão (que devia ter 3 ou 4 anos na época): “ele pula, olha ele pulando!


Corro pra área de serviço e lá está o peixinho se debatendo no chão. Meu irmão havia o pescado e queria saber como o peixinho nadaria no piso da cozinha.


Outra lembrança desse prédio é algo que eu espero que algum de vocês também conheça. Foi nessa época em que meu pai comprou pra gente uma casinha de brinquedo, feita com um material que parecia papelão de plástico. Era bem pequena, mas cabia eu e meu irmão com razoável conforto. A gente levava travesseiros, lençois, e biscoitos pra dentro da casinha, e passava o dia inteiro lá. Às vezes, a montávamos na frente da TV, pra assistir nossos VHSs de filmes da Disney.


Alguém mais sabe do que diabos eu estou falando? Eu nunca descobri qual era o nome daquela casinha.


Em 1991, se me lembro bem, foi quando nos mudamos pra Londrina-PR. E a primeira casa lá foi…


O Edifício Coincidência



Este é o Edifício Fortaleza, que fica na aprazível Rua Porto Alegre. Houve uma época em que eu cheguei a cogitar que o nome do prédio, uma alusão à nossa cidade natal, teria sido o fator determinante na decisão paterna de morarmos lá.


Evidentemente meus pais não tinham o cacife financeiro pra tamanho capricho (“só podemos morar em prédios que façam referência à nossa cidade ou pelo menos estado de origem, ora mais!”), então me parece óbvio — sem nem ter que consultar meus pais — que o prédio simplesmente calhou de encaixar no orçamento familiar e como bônus de coincidência podíamos continuar dizendo que morávamos em Fortaleza.


Eu era muito novinho pra brincar na rua ainda (morei lá entre meus 5 e 6 anos), então eu era o absolutamente típico “piá de prédio”. Aprendi a andar de bicicleta naquela rampa ascendente do lado direito da imagem.


É curioso como tudo na nossa infância parecia maior; essa rampa, nas imagens mentais que tenho aqui da época, tinha a largura de uma auto-estrada. Era justamente nessa mesma área que eu brincava de Cybercops com os outros garotinhos do bairro, pulando das muretas simulando chutes nos amiguinhos.


As lembranças mais características desse prédio foi quando flagrei, da janela, os amiguinhos andando na minha bicicleta — “emprestada” sem minha autorização, vejam só que picaretas –; Collor, nosso pastor alemão que acredito ter recebido esse nome do meu pai de sacanagem, e a gravidez da minha mãe. Minha irmã foi a única Nobre que não nasceu em Fortaleza — nem na cidade nem no prédio, porque no ano de seu nascimento estávamos morando n’..


A Casa Que Não Mudou Nada



O motivo da alcunha dessa é óbvio: a casa não mudou LITERALMENTE NADA. Todas as outras passaram por reformas, pinturas e outros processos que tornaram difícil a identificação. Essa aí tá DO MESMO JEITO QUE ERA em 1991, com a exceção notável de uma árvore que na época ficava na frente daquele pé de limão restante, do lado esquerdo da foto.


É uma das poucas casas cujo endereço eu lembro até hoje sem titubear: Rua Marília 140, Jardim Veraliz. Não lembro EXATAMENTE por que esse endereço fixou e os outros não; a minha teoria é que por causa daquele Satanic Panic fodido que rolou no Paraná nos anos 90, meus pais acharam que valia a pena fazer os filhos decorarem o endereço e o telefone de casa caso fossem raptados ou algo assim.


Leitores de longa data do HBD talvez ficarão felizes em descobrir que foi nessa casa aí que o causo do “teste de sobrevivência” aconteceu. Spoiler pra quem não quiser ler o artigo do link: inspirado no Rambo, MacGyver e outros ídolos da auto-suficiência, eu sem cerimônias caguei no jardim da minha casa, em plena luz do dia.


Eu realmente recomendo que você leia aquele artigo. Deixe esse aqui no pause e vai lá ler aquele. Num plot twist raro, meu próprio irmão apareceu nos comentários pra oferecer mais detalhes da história.


Esse bairro marcou por alguns motivos: primeiro, o nascimento da minha irmã, meu primeiro familiar que eu literalmente vi nascer (eu tinha só 2 anos quando meu irmão nasceu). Segundo, essa casa me rendeu três cicatrizes que tenho até hoje.


A primeira foi um ralado no tornozelo esquerdo, oriundo de uma corrida de carrinho de rolimã com um vizinho/amigo de escola com quem mantenho contato até hoje, o Marcel. A segunda foi uma mordida de um cachorro de rua enquanto eu brincava com meus amiguinhos; a marca no pulso direito tá até lá hoje. O desgraçado mordeu e não largou, foi necessário o pai de um amigo surgir com um pedaço de pau e descer a lenha no pulguento desgraçado.


A terceira cicatriz é psicológica — um trauma permanente de cachorros na rua, graças àquele ataque. Até hoje, se estou na rua e um cachorro vem pra cima de mim, sofro efeitos psicossomáticos do trauma: respiração entrecortada, dilatação das pupilas, taquicardia, dor intensa nas costas, etc.


É estranho que algo que aconteceu há mais de vinte anos me cause tais efeitos, mas aí está.


Perto dessa casa morava um garotinho meio estranho, filho de uma mulher cheia de papos de espiritualidade e o caralho. O nome dele era Sacaq, ou Sacaque, que ela havia explicado que não era um “nome estranho” como a pivetada do bairro insistia, mas que tinha um significado cabalístico ou algo assim. Mano, eu tinha míseros 6 ou 7 anos e ela ficava enchendo meu saco falando um monte de abobrinha sobre “alinhamento cósmico” e “espíritos regentes do universo”, calcule a maluquice da mulher. Não culpo o Sacaq(ue) por ser meio estranho.


Ah, e a casa deles era bem zoada, parecia uma casa abandonada que eles haviam ocupado/invadido.


Em 1993 a família voltou de mala e cuia para Fortaleza. E passamos a morar n’…


A Casa Amarela



Essa é a segunda casa cujo endereço eu lembro — Rua Barão de Aracati 3000. E eu não sou daltônico, não — o muro dessa casa era amarelo na época.


Muito ouvi sobre o tal “desmatamento”nas aulas de Estudos Sociais quando criança e vejo que meus professores não exageravam. Como a casa anterior, essa também tinha uma árvore na frente que não existe mais. Levei muitas quedas daquele imponente pé de jambo, de onde eu observava a atividade da pivetada do bairro quando estava proibido de sair de casa por decreto paterno.


Essa casa me marcou por um motivo excepcional — foi quando morava lá que eu me tornei gamer. Eu tinha um amiguinho na escola, o Eric (também ainda mantenho contato com ele até hoje. Oi, Eric!) que trazia revistas de videogame pra escola, onde líamos juntos. Além disso, era só atravessar a rua pra chegar na lendária Locadora do Seu Roberto, um local mítico que já mencionei no 99Vidas infinitas vezes.



Tá vendo aquele estabelecimento ali com as faixas? Era ali que o Seu Roberto operava a R&R Games, a locadora do bairro onde aconteceu minha formação gamer. Tá vendo esse Peugeot ali? Foi exatamente onde ele está estacionado que meu pai desceu a porrada num bully que havia me batido. Foi lá que soltei uma ratazana de esgoto, também.


Essa foto traz à tona mais uma vez o estranho dimorfismo espacial que acontece na nossa infância. Na minha lembrança infantil, esse prédio tinha tipo 30 andares. Hoje constato com incredulidade que são míseros 6 (ou 7, caso você seja essa galera estranha que conta o térreo).


Eu tinha toda uma patotinha nesse bairro, e a gente inventava altas presepadas. Por exemplo, um dia atentamos a esta portinha aí.



Isso é uma portinha que por onde o lixeiros extraiam o lixo do prédio. Descobrimos que era fácil forçar a parada e assim ganhar acesso a esta pequena área:



Decidimos que aquele era agora nosso “clubinho” (nenhum dos moleques sequer morava nesse prédio, diga-se de passagem — era uma invasão totalmente ilegítima). No primeiro dia lá, exerci um senso de liderança inédito — convoquei a pivetada a arrumar dinheiro que usaríamos para adquirir “mantimentos” pro nosso esconderijo; no meio do caminho, armazenar alimentos virou “vamos fazer uma festa pra inaugurar nosso clube”. E assim, eu e outros 4 ou 5 pirralhos acabamos sentados dentro da área de serviço de um prédio aleatório comendo biscoito e um Cheetos genérico qualquer com refrigrante.


Foi enquanto morávamos nessa casa que meu pai se tornou pastor de uma igreja chamada Assembléia de Deus Betesda. Sinta-se à vontade pra fazer a piadinha óbvia de Skyrim que todos já fizeram.


Ao contrário da maioria de pastores, meu pai era pastor “part time”, ou seja, como hobby. Sua profissão e carreira sempre foi Tecnologia da Informação e Eletrônica.


Em 1996 ou 1997, a família se mudou novamente. Dessa vez, para…


O Apartamento Imenso


Eu vivo falando isso pra Jurema também.


O térreo deste prédio de 3 andares era ocupado na época pela Igreja Betesda do Montese, uma outra congregação da mesma denominação da qual éramos membros. Imagino que pela familiaridade com o prédio, meus pais notaram uma vaga que bateu com o timing da mudança, e assim acabamos indo morar lá.


Essa foto não dá uma noção boa de quão grande o apartamento era — e dessa vez não é impressão infantil, porque comentários impressionados sobre o tamanho do apê eram lugar comum sempre que tínhamos visitas. Talvez essa foto lateral ajude a dar uma idéia do espaço:Screen Shot 2014-07-28 at 3.39.52 PM


Cada andar era ocupado por apenas um único apartamento, e a área que você vê aí com as grades (uma espécie de varanda em formato de L) era tão larga que quando entediado eu ficava andando de bicicleta nela. Tá vendo as janelas lá no fundo do prédio? Meu quarto ficava ali — só que, claro, no primeiro andar. Compara a distância de onde era meu quarto, pra varanda. Era um apartamento grande!


Apesar disso, quando nos mudamos pra esse apartamento, foi necessário dar adeus ao Collor. Pelas minhas contas, aquele pastor alemão deve ter morrido por meados do ano 2003; perdemos há muito tempo contato com o sujeito para quem meu pai deu o cachorro, então é impossível confirmar a data exata do falecimento do bicho.


Foi quando eu morava aí neste prédio que meu pai me deu possivelmente o mais significativo presente que ganhei na vida — um Super Nintendo de segunda mão, comprado de um quase mitológico “Barbalha”. Barbalha era um amigo de trabalho que morava em Brasília do qual sempre ouvi falar, mas jamais conheci.


Outro amigo do meu pai se tornou presente nos anos em que morei nesse prédio, e também teve uma conexão gamer — o ilustre “Tio Monte”. Sem conexão sanguínea, o Monte era um velho amigo de trabalho do meu pai na época em que ambos trabalhavam na Cobra (uma empresa de tecnologia made in Brazil) nos anos 80.


O Tio Monte era, além de muito engraçado e desbocado, um PC Gamer fanático; seu gênero favorito era estratégia. Por intermédio dele fui apresentado a todos os clássicos de estratégia e simulação na época: Sim City,  Warcraft, Age of Empires e tudo mais. Ele trazia lá em casa CDs piratas que ninguém seria capaz de adivinhar de onde surgiram, lotados de jogos completos. E ele me subornava com os joguinhos, também — lembro que as condições pra ele me dar o Sim City era não ouvir reclamações relativas ao meu lendário mal comportamento.


Meu histórico mal comportamento, aliás, era na real um sintoma claro de hiperatividade. Nos anos 90 isso não era tão bem diagnosticado. Naquela época, moleques como eu eram apenas os “encrenqueiros que não param de falar na sala e interrompem a aula de 5 em 5 minutos pra fazer gracinhas”.


Os meus anos de jogador de SNES foram curtos — como já contei aqui no HBD, foi nesse apartamento (tentando pregar uma peça no meu irmão) que eu destruí meu Super Nintendo. Morei pouco tempo nesse local (como todos os outros), e por isso calculo que nosso SNES durou pouco mais de um ano. Naquela época, ganhar jogos era limitado a aniversário e Natal; mesmo somando os aniversários e presentes de Natal de dois irmão, não tinha como ter uma coleção muito grande.


Vocês que vivem me zoando no 99Vidas por “não jogar nada” , seus filhos da puta, vocês estão esfregando meu trauma e limitação na minha cara, é quase como tirar onda de um cara que não sabe jogar bola porque teve a perna decepada quando foi atropelado por um trem. Puta que pariu como vocês são desgraçados.


Apesar da morte prematura do meu SNES, eu tive oportunidades de continuar jogando – a casa vizinha da esquerda era uma locadora, assim como a casa da esquina na direção oposta. Só que eu percebi que a patotinha do bairro era o real motivo pelo qual eu orbitava a fauna infantil da locadora do Seu Roberto, e acabava jogando videogame por tabela. Nessa nova rua aí eu não tinha literalmente NENHUM amigo, nenhum mesmo, e sem o círculo social fazendo baderna na locadora, Command and Conquer me atraia mais.


Tive apenas um amigo no bairro — o Farney. Conheci-o na sétima série, no Colégio Adventista de Fortaleza onde eu uma vez fui suspenso por apagar a luz da sala. É curioso pensar que eu e ele nos conhecemos quase vinte anos atrás e continuamos tão amigos como sempre fomos quando criança.


Eu e o Farney, rindo e ajeitando os ternos, momentos antes do meu casamento. O cara no meio é o Trevor, um grande amigo canadense que também já foi personagem coadjuvante de causos aqui no HBD.


A essa altura, como mencionei antes, meu pai era pastor de uma pequena e humilde congregação evangélica num bairro de periferia chamado Conjunto Ceará.


Por causa dessas idas e vidas dos meus pais pra essa igreja (que ficava bem longe), e como a congregação não pagava nada a eles,  o gasto com a gasolina pesava no orçamento familiar. Essa era a igreja, a propósito:


Imagem de um vídeo de família que tenho aqui no HD


Esse Voyage branco era do meu pai, aliás.


De acordo com o Google Street View, a igreja evoluiu bastante de lá pra cá. Esta é a fachada da Igreja Betesda do Conjunto Ceará hoje:



O dízimo pelo jeito é melhor do que na época do meu pai. Vai ver que por não precisar daquela grana, ele não espremia tanto os fiéis na lábia como seus equivalentes contemporâneos, sei lá.


A propósito, se assim como eu você tem dificuldade de imaginar meu pai como pastor (porque nem eu consigo mais visualizar isso, tamanho foi o desligamento do meu pai de religião organizada de qualquer espécie), aqui vai uma foto pra ajudar:


Meu pai (e minha mãe, ao fundo) durante o casamento da irmã de um amiguinho meu da igreja, o Paulinho. Também ainda mantenho contato com ele, pelo Facebook. Oi, Paulinho!


Descendo um pouco a rua da igreja, encontramos outro palco de um relato histórico aqui do HBD:



Este terreno baldio (eu havia desenhado um mapinha bem fiel no Paint pra ilustrar aquele post, mas as imagens se perderam — se um dia isso acontecer com esse post eu ficarei MUITO puto. Alguém me faz o favor de salvar essa porra offline ou algo assim…?) foi o campo de batalha onde eu apanhei miseravelmente de um pequeno marginal armado com uma perna de uma cama.


Como ninguém vai ler esse post inteiro, este é o momento em que eu insiro uma mensagem subliminar no texto: RAPADURA.


Subindo a avenida semi-perpendicular a esse terreno aí, chegamos à nossa primeira casa no Conjunto Ceará.


A Casa da Periferia



Mais uma casa que mudou quase que completamente (o muro tinha outra cor, e havia um acesso lateral aos fundos que aparentemente não existe mais). Para encontra-la, precisei usar outros pontos geográficos da rua como referência — até perceber que mesmo depois de tantos anos e mudanças, a calçada permanece EXATAMENTE como era em 1998.


Morar nessa casa foi um choque de realidade porque como garoto de condição social razoavelmente elevada, eu não estava acostumado a estar no meio do subúrbio fortalezense. Não coincidentemente, foi enquanto eu morei nesse bairro que fui assaltado pela primeira vez na vida enquanto voltava pra casa da escola.


Exatamente na frente dessa sorveteria, que na época não existia.


Foi o seguinte: um garoto me seguiu brevemente, pedindo “algum trocado”. Outro, maior, se materializou na minha frente no meio do caminho, exibindo no bolso o que ele alegava ser o cabo de uma faca.


Eu não tinha nenhum centavo, então levaram meu relógio e minha camisa (???). Depois, me mandaram sair caminhando calmamente na direção oposta, e que se eu desse algum pio eles atirariam em mim. É esse tipo de inconsistência sobre a arma do crime que me faz pensar que o cara me mostrou era a pontinha dum pente com cabo de madeira, e não uma faca. Que tipo de filho da puta assalta uma criança de 13 anos, mano? O que você poderia esperar levar nesse roubo, um punhado de Tazos?


Um ano depois, o dono da casa onde morávamos precisava dela de volta ou algo assim, e nos mudamos para uma casa na mesma rua, quase vizinha. Era…


A Casa da Periferia, round 2



A coisa mais digna de nota sobre essa casa é que foi nela que desenvolvi o hábito/vício de passar as madrugadas acordado acessando a internet no pulso único. O que aconteceu é que meu colégio era bem longe, o que fez meus pais me transferirem pro turno da tarde. Assim, eu podia ficar a madrugada inteira no mIRC, dormir impunemente durante a manhã, e ir pro colégio de tarde.


Essa foi nossa última casa em Fortaleza. No final de 1999, passamos um ano viajando pelos Estados Unidos. Ao voltar ao Brasil, já nem tínhamos mais casa na minha cidade natal — fomos direto pra São Luis, no Maranhão. Foi a época d’…


A Casa Rosa, Que Eu Insistia Que Era Salmão



Ou pintaram de branco, ou o sol maranhense castigante desbotou o muro. Na minha época, a casa era claramente rosa (ou “salmão”, como minha mãe um dia explicou, e virou meu principal argumento pra me defender de galhofagens dos amiguinhos). Era essa casa que tinha um portão elétrico automático que servia como alarme de que meus pais haviam chegado em casa, dando a mim e a minha namoradinha da época mais ou menos 20 segundos pra nos vestirmos.


Nessa época eu fiquei tão pavlovianamente condicionado a ouvir o barulho da ativação do portão como um alerta “PAIS EM CASA, PARE AGORA AS ATIVIDADES ILÍCITAS” que mesmo quando eu tava de boa estudando ou assistindo TV e o portão abria, eu sentia uma profunda inquietação.


Morei nessa casa de 2000 até 2002. Foi nela que vi o Brasil ser campeão pela quinta e até então última vez numa Copa do Mundo. Muitos de vocês eram bebês de colo nessa época. Aliás, olha eu decorando a rua pra Copa e de quebra inventando a selfie!


O cabelo tava curtinho por ter passado no vestibular no final do ano anterior


Aliás, a casa que aparece atrás de mim (onde morava o Márcio, meu vizinho da frente, cujo claim to fame era ser sobrinho do cantor maranhense Zeca Baleiro) não mudou quase nada nesses 12 anos:



Pouco tempo depois, meus pais realizaram o tal “sonho da casa própria” e compraram uma residência num bairro próximo. Essa era…


A Casa Própria



Esta foi a única casa própria em que a Família Nobre morou. E moramos por pouco tempo — a mudança para o Canadá já estava sendo idealizada quando morávamos aí, e no final de 2003 estávamos vindo pra cá. Acabei tendo pouquíssimas lembranças dessa casa, com exceção do fato de que eu costumava me reunir com os amiguinhos pra tocar na garagem.


Eu na guitarra, Fívio no contrabaixo


Tenho poucas lembranças dessa casa, com exceção do fato de que foi AÍ que o HBD nasceu. Mais precisamente, aqui:



Esse era o meu quarto, como menciono no meu Patreon. Foi aí que descobri os blogs, e iria eventualmente abrir o meu próprio.


Eu vivi em muitas casas diferentes, o que complicava o desenvolvimento de amizades duradouras e de maiores lembranças. Todas as memórias dessas casas são curtas, porque afinal de contas meu tempo nelas foi curto. Mas mesmo mudando mais que caixeiro viajante, houve UMA casa na minha infância que foi constante.


A Casa dos Meus Avós.



Terminamos essa jornada bem próximo do ponto de onde começamos — a casa dos meus avós, que como mencionei ficava a poucos quarteirões da Casa Fodida. Tão próximo, aliás, que lembro de ir correndo (sozinho) almoçar na casa da minha avó quando tinha 5 ou 6 anos.


Por motivos que não devem ser difíceis de entender, essa casa foi o único ponto de referência imutável na minha infância. Meu avós a compraram quando imigraram pra Fortaleza, era uma casa minúscula. O vizinho do lado pôs a casa à venda também, meu avô comprou e usando skills rudimentares de engenharia e arquitetura, pôs-se a unificar ambas casas em uma só.


Foi um trabalho excelente pra alguém que fez tudo sozinho sem qualquer educação formal no ramo, mas ainda assim, pequenas imperfeições no “projeto” dele são imediatamente aparentes — janelas que dão pra um corredor estreito, escadas com degraus de dimensões variantes, etc — e dão um charme pitoresco à casa.


Há mais detalhes nessas imagens do Google Street View que me remetem à vida brasileira. Sabe esse Corsa cinza na frente da casa da minha avó? Então, esse carro pertencia à minha mãe. Em 2003, com a mudança iminente pro Canadá, minha mãe o vendeu pra minha tia (que mora no andar de cima), e o carro tá lá até hoje.



Neste outro ângulo, algo que me deixa até com um nó na garganta — a eterna cadeirinha de plástico, onde meu avô costuma passar suas tardes observando o movimento da rua.


Ver pequenos detalhinhos da minha infância no Street View dá uma sensação muito estranha — um registro acidental da minha infância no processo da captura de imagens da cidade. É bizarro pensar que alguém que eu nunca conheci na vida dirigiu por essa rua, fotografou a casa dos meus avós (sem sequer imaginar a significância emocional daquela foto); as imagens foram então uploadeadas e moram lá num servidor do Google, inertes, esperando que me dê na telha de escrever esse texto e então passear virtualmente pela área, e assim encontrar a cadeira do meu avô e o antigo carro da minha mãe.


É como se a minha infância fosse algo tangível, palpável, que está lá como um fóssil esperando para ser redescoberto.


Porra mano, foi aí que eu vi a final da Copa de 1994!


A outra curiosidade sobre a casa da minha avó é meio triste. Quando o Street View surgiu, eu CORRI pra visitar a casa da minha avó, apenas pra perceber decepcionado que o carro do Google não passou pela rua dela.



O carro passou na avenida perpendicular, e isso era o mais próximo que eu conseguia chegar: uma visão quase tangente da casa, da esquina.


Isso me encheu de melancolia. Quão irônico é poder FINALMENTE revisitar a casa onde eu cresci — a única casa onde pode-se dizer que “cresci”, por ser o único ponto de referência fixo numa vida nômade –, sou obrigado a ver de longe; da esquina. Cheguei até aqui… mas não posso chegar mais perto.


Eu não estava planejando visitar Fortaleza este ano. Estou muito focado no futuro e tal, mas ao escrever esse post, acho que mudei de idéia.


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Published on July 29, 2014 13:07

July 26, 2014

Meu segundo livro, Crônicas da Sex Shop, vem aí! Mas antes…

Photo 7-26-2014, 8 32 27 PM


…vocês sequer querem essa merda?


É o seguinte. Como vocês talvez saibam, eu lancei um livro. Ele era uma reedição e revisão de alguns dos meus textos mais comentados aqui no site. Com quase 25 mil downloads, eu o considerei um belo sucesso.


Chegou a hora de escrever meu segundo livro. Crônicas da Sex Shop abordará o período de quase 3 anos que passei trabalhando durante o turno da madrugada numa loja de artigos sexuais aqui no Canadá. O prefácio e o primeiro capítulo estão aqui, caso você esteja curioso pra ver como está saindo.


Então. Ao contrário do primeiro livro, este vai me custar um investimento mais significativo — tanto de tempo quanto de dinheiro, pois quase todos os artigos serão inéditos (10 inéditos, e alguns capítulos adicionais de reedições de histórias da sex shop que eu já contei aqui no blog). Além disso, também contratarei o artista que fez a capa do primeiro livro pra desenhar as ilustrações de cada capítulo.


Pra você ter uma noção do tipo de história BIZARRÍSSIMA que contarei no livro, eu fui convocado pela polícia pra testemunhar num julgamento de assassinato que aconteceu lá. Eu não estou brincando, e tenho até documentos oficias sobre o julgamento que pedi autorização da polícia local pra incluir no livro.


Resumindo: se você curte meu trabalho, é possível que você vai gostar desse livro. Mas antes de me dar ao trabalho de terminar essa porra e contratar editor/revisor/diagramador pra produzir um negócio bonitinho e artista pra fazer ilustrações, preciso ter uma idéia do interesse.


Planejo lançar o livro em todas as lojas virtuais possíveis (iTunes iBookstore, Google Play, Amazon, tudo mesmo — o que complica/encarece um pouco mais a produção do que soltar um epub gratuito e mal formatado no meu site, porque precisarei terceirizar isso aí).


Responda COM TOTAL HONESTIDADE a enquete abaixo. É só uma perguntinha, bem fácil de participar neste exercício democrático.


Loading…


Pretendo, considerando os valores que tenho em mente pra produção e lançamento do livro, quero cobrar míseros US$5 pelo Crônicas da Sex Shop. Dá mais ou menos 10 reais, menos do que você paga por um lanche no McDonalds e a indigestão que este livro te dará será menor mesmo que você coma o seu Kindle.


Fui desafiado a lançar esse livro antes do final de 2014. O que vocês acham?


Ah, caso não tenha ficado claro: só versão digital. Não há nenhum plano pra versão física (não estou por dentro dos trâmites necessários nem tenho contatos no mundo literário).


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Published on July 26, 2014 19:36

July 23, 2014

[ Vergonha alheia da semana ] 3 donos de Mustang fazendo merda

Ver Mustangs sendo danificados me causa uma dor no coração (assim como ver gadgets sendo destruídos naqueles vídeos masoquistas que testam suas resistências; sempre que um amigo quebra o celular, eu me comovo mais que o dono), mas eu tenho um compromisso jornalístico com os leitores do HBD. Vamos lá, então.



O vídeo acima aconteceu em Myrtle Beach, no estado americano de South Carolina. Rola lá todo ano o Mustang Week, onde donos de Mustang levam seus carros pra praia pra… sei lá, trocar idéia com outros donos de Mustang…?


Eu entendo mais ou menos o ímpeto de fraternizar com outros donos do mesmo modelo de carro do seu; sempre que paro no sinal ao lado de um, trocamos um silencioso porém respeitoso aceno com a cabeça, como quem diz “é isso aí, broder, ambos devemos até o cu a um banco só pra exercer nossa fidelidade a uma marca qualquer de carro“.


Só que alguns motoristas não se contentam em simplesmente socializar com outros amantes de muscle cars; alguns precisam dar aquela exibida. Um por um os protagonistas desse lamentável vídeo tentam driftar e inevitavelmente fazem merda.


O primeiro erra na mão e acerta um carro estacionado ali na faixa oposta. Não ficou imediatamente claro se o motorista do Mustang parou pra deixar sua informação do seguro no carro atingido (a prática comum nos EUA/Canadá quando você acerta o carro de alguém), mas eu aposto que não foi o caso.


O segundo, um tiozão que claramente não tem porque estar num evento como este, vai pra cima da galera com esse Mustang Fourth Gen tosco e arregaça o alinhamento da roda no meio fio — deixando para trás a capa da capota conversível.


O terceiro, novamente um Fourth Gen escroto, erra na mão, pula o canteiro central e se mete na contra-mão. Vemos, nos últimos instantes, fragmentos do parachoque no chão.


Eu já tentei me exibir pra amiguinhas do bairro da minha avó na bicicleta; ao tentar dar um cavalo de pau, acertei uma área um pouco arenosa e tomei um tombaço do caralho. O que eu senti de vergonha naquele momento desgraçado desse ser uma fração ínfima da humilhação que esses motoristas sentiram. Eu arranhei um pouco o joelho, eles esculhambaram os próprios carros e os de terceiros.


Também, quem mandou comprar Mustang Fourth Gen.


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Published on July 23, 2014 09:19

July 22, 2014

[ Clássico ] 5 motivos pelos quais namoro a distância é uma merda


Se você é como eu, você deve passar uma boa parte do seu tempo visitando fóruns de discussão na internet.


Fóruns são uma ótima forma de adquirir uma montanha de opiniões sobre diversos assuntos em que os opinadores obviamente não têm qualquer conhecimento, embora isso não os impeça de falar com a pompa de um especialista. Não importa o assunto sendo debatido (Pontes de hidrogênio? Acasalamento de maripousas norte-americanas? O padrão da bolsa de valores de New York?), sempre aparecerá alguém disposto a se pintar como um profundo expert no negócio.


E um debate que aparece com frequência preocupante é – Namoros à distância valem a pena? Pode ter certeza que o seu fórum favorito já viu pelo menos 5 tópicos sobre o assunto.


Não duvide de mim, seu corno. Abra um fórum qualquer, dirija-se à barra de busca e pesquise o termo. Tente as diversas grafias “alternativas” da expressão (“namoru há distânsia”, por exemplo) porque afinal de contas não podemos dar muito crédito às habilidades gramaticais dos habitantes de uma nação que transformaram o orkut em mania nacional. Clique em SEARCH e você verá que eu, como sempre, estou certo.


Já me envolvi em quatro relacionamentos à distância. Todos foram resultado do mesmo processo — meu pai recebia uma oportunidade mais interessante em um estado que não era aquele em que morávamos, e lá ia a família de mala e cuia seguindo o velho.


E a namoradinha ficava pra trás. Ambos prometíamos fidelidade, e em menos de 3 meses depois o namoro havia acabado. A exceção dessa tendência foi a Bebba, minha esposa, que ficou em Oshawa por um mês quando nos mudamos pra Calgary. Foi o meu único relacionamento à distância que durou, e por condições específicas.


Após experimentar os mesmos sentimentos e chegar ao mesmo resultado nas minhas três primeiras experiências com essa modalidade de namoro, concluí que esse tipo de relacionamento é uma fenomenal perda de tempo – por vários motivos. Cinco motivos, aliás.


5) Manter um namoro à distância é uma espécie de admissão da sua incompetência romântica.


Imagine que você conheceu uma garota interessante na internet. Após conversar com ela por três ou quatro meses, você decide que está gostando da menina o suficiente pra considera-la uma namorada. Essencialmente, você está dizendo pra si mesmo “jamais conseguirei convencer outro ser humano a gostar de mim, portanto preciso fazer qualquer coisa pra manter esta menina/menino que eu nunca vi na vida“.


Ainda que isso seja verdade (e se você é o tipo de maluco que gosta de ler o HBD, provavelmente é), o namoro virtual não está te provendo com absolutamente nada que o faça merecer o título de “namoro” (intimidade, companheirismo, ou a boa e velha fodelança).


Ou seja, você está a troco de nada admitindo que é um merda completo com o sexo oposto, incapaz de convencer alguém do seu círculo social a atura-lo como par romântico.


4) O relacionamento a distância perverte a própria premissa de um namoro.


Entenda uma coisa – seres humanos normais namoram porque gostam de passar tempo junto à outra pessoa.


Quando um sujeito começa a namorar (salvo por cristãos, cujas filosofias a respeito de relacionamentos devem ser ignorados de qualquer maneira), ele não está pensando em passar o resto da vida com a menina. E igualmente, uma garota não começa a namorar ninguém tendo em mente a data de casamento ou nome do primeiro filho. Pessoas namoram porque apreciam a presença do parceiro; o período de namoro é um teste de compatibilidade ao fim do qual ambas partes decidem se poderiam suportar viver juntos pelo resto da vida.


Como o namoro a distância não tem o contato próximo que é justamente o propósito fundamental de um namoro, os amantes pulam a etapa de teste e focam suas atenções e esforços no objetivo final — o casamento. O problema é que você está tomando a decisão de matrimônio sem ter feito aquele test drive essencial antes.


E aí você vê moleques de 17 anos que mal criaram pêlo no saco, mas estão fantasiando em se casar com uma garota que mora a 800km de distância e que eles nem teriam conhecido se não fosse a magia de World of Warcraft.


A triste ironia destes relacionamentos virtuais iniciados em MMORPGs (e acreditem, existem MUITOS) é que ambos os participantes teriam muito mais chances de se relacionar com alguém no mundo real se não investissem tanto tempo na babaquice que é um MMO.


That’s right, I said it.


3) Namoro à distância toma mais tempo na vida do indivíduo do que um namoro convencional


Por causa da falta de contato próximo, os namorados procuram saciar as necessidades românticas passando o máximo de tempo possível se contatando. E assim você acaba vendo aquele amigo que tem que estar em casa às nove hora SEM FALTA por que a namoradinha chega em casa da faculdade e ele não poderá sobreviver se não passar quatro horas no MSN com ela, ou interrompendo uma atividade com os amigos de dois em dois minutos pra responder SMSs da menina.


Enquanto isso, namorados “de verdade” podem se dar ao luxo de se ignorar um pouquinho de vez em quando, já que no dia seguinte recompensarão a ausência com o mais espetacular sexo que os vizinhos deles jamais ouviram.


Esse tipo de comportamento é, como você poderia imaginar, extremamente irritante. Não se surpreenda se seus amigos decidirem te alienar porque você é incapaz de dar toda a sua atenção à partida de War à mão caso o seu celular esteja por perto.


Isso pra não entrar no mérito das viagens que o sujeito invariavelmente planeja pra cidadezinha cu-do-mundo onde a menina mora – viagens que custam dinheiro que ele frequentemente não tem, e que o obrigam a colocar sua vida (família-trabalho-faculdade-amigos) no pause só pra poder ver a menina por três ou quatro dias.


2) Namoro à distância é matematicamente falando um mau negócio


Perdoe-me a sinceridade, mas num ponto de vista estritamente matemático um namoro a distância é o pior negócio em que você poderia embarcar.


Afinal de contas, um relacionamento à distância combina tudo que há de PIOR em ser solteiro — a falta de intimidade com outro ser humano, a profunda tristeza sentida nos Dias dos Namorados, a masturbação crônica — com tudo que há de PIOR em ser comprometido – não estar romanticamente disponível, ter que dar satisfações pra um cônjuge ciumento, a paranóia de estar levando um chifre as we speak.


É o pior dos dois mundos. É mais ou menos como se alguém te vendesse um carro sem rodas. Talvez o fato de ter um “carro” na sua garagem te deixe feliz, mas você continua tendo que andar até a parada de ônibus pra ir pro trabalho. Então, qual a diferença?


Em outras palavras, namoro a distância não suplanta as necessidades românticas do indivíduo. Ao invés disso, esse tipo de relacionamento acaba é sendo emocionalmente desgastante. O que nos leva ao próximo item nesta listinha, o motivo principal pelo qual namoros à distância não valem a pena. E este é o fato de que…


1) “Namoro à distância” e “felicidade” são mutualmente exclusivos


Se você já alguma vez teve um relacionamento à distância, deve concordar que é um negócio extremamente desgastante. Todo relacionamento tem seus prós e contras, mas no relacionamento à distância não existe tal equilíbrio. O ciúme, a paranóia, a saudade e todos os outros pontos ruins desse tipo de relacionamento acabam cansando emocionalmente o sujeito.


Sem exceção, você perceberá que pessoas que terminam namoros à distância descreverão o fim do negócio como um profundo alívio. Afinal de contas, o que o sujeito está perdendo quando termina esse tipo de relacionamento? Ele não tinha contato com a “namorada” mesmo.


Você não compartilhava nada com ela, a não ser logs do MSN. Sua família não sofrerá o típico vácuo pós término de namoro (aquela sensação de estranheza quando a namorada, agora ex, desaparece da vida coletiva familiar), porque a garota jamais pôs os pés na sua casa.


E como eu falei antes, um dos maiores lucros de ter um relacionamento é não depender exclusivamente de pornografia pra saciar os desejos carnais. Eis outra vantagem da qual o namoro à distância não te beneficiou.


Por outro lado, foi-se a constante paranóia de ser traído, foi-se o cansaço emocional de fazer todos os seus planos para o futuro orbitarem seu relacionamento com uma pessoa que você mal conhece na realidade, e também se foram as limitações que um compromisso romântico (mesmo um de mentirinha) impõe. O sujeito agora está livre pra fazer o que quiser.


Ahh, e não venha me falar que você conhece o sujeito porque se falam no Skype e por SMS praticamente 24 horas por dia. A única coisa que você realmente “conhece” sobre a pessoa nesse caso é o som da voz dela e suas opiniões triviais sobre filmes, livros e etc. Só dá pra realmente conhecer alguém através de convivência.


Tendo exposto minhas opiniões, pergunto a você — por que diabos você mantém um namoro à distância?


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Published on July 22, 2014 08:04

July 17, 2014

[ Joguinho Viciante da Semana ] Space Agency

Photo 7-17-2014, 8 40 39 AM


Quando eu era molequinho, eu me amarrava num joguinho de Windows chamado Gravity Well. Era um jogo super simples de batalha/exploração espacial (com um nome que faz referência a um conceito físico, aliás) com uma feature que eu nunca tinha visto em nenhum jogo do gênero — uma simulação relativamente realista de mecânica orbital. Eu jogava o game SÓ por causa dessa feature, aliás.


De lá pra cá o jogo mais renomado com esse foco é o tal Kerbal Space Program, que eu finalmente joguei hoje pra ver qual que é. Gostei bastante, mas achei um pouco complexo demais pra apreciação imediata; KSE é o tipo de jogo que precisa ser digerido com calma pra sequer entender os comandos.


Hoje eu descobri um joguinho pra iOS que tem os mesmos elementos de mecânica orbital, mas é um pouco mais acessível ao jogador mais casual. Chama-se Space Agency.


Photo 7-17-2014, 9 15 44 AM


Assim como Kerbal Space Program, em Space Agency você pode montar seus próprios foguetes (com componentes reais, a propósito) e executar missões como pôr um satélite em órbita, acoplar numa estação espacial, ou pousar na lua.


Os comandos são simples de aprender, mas algumas missões são desgraçadamente difíceis. Tou há algumas horas tentando acoplar com essa estação espacial aí em cima, aliás.


O que é notável nesse jogo é que ele foi lançado em 2012 mas eu NUNCA tinha ouvido falar dele, e achei poucas resenhas também. O layout da interface é lamentável; parece uma interface padrão de app dos tempos do iOS 4. O gráfico do jogo é bem simples, mas cumpre o serviço.


Photo 7-17-2014, 8 44 55 AM


Ao contrário do Kerbal Space Program, no Space Agency você está limitado a foguetes mais “realistas” em vez de poder sair construindo basicamente qualquer coisa. Dependendo de como você prefere seus joguinhos espaciais, isso pode ser uma vantagem ou uma desvantagem. Eu particularmente acho que o jogo fica mais simples e acessível.


No geral, por 99 cents, e funcionando tanto em iPhones quanto iPads, dá pra perdoar a interface SUPER datada — especialmente considerando que não há outros jogos similares. Recomendo!


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Published on July 17, 2014 16:29

July 16, 2014

Sobre a merda toda entre a Palestina e Israel

Há algum tempo estou sendo cobrado uma opinião sobre a mais recente confusão no Oriente Médio entre o Estado de Israel e o Hamas. Não sou nenhum especialista em política externa e é possível que eu fale um monte de merda aqui que será corrigida com brilhante eloquência por um comentador com alto calibre no assunto. É o risco que eu aceito correr nessa “profissão” de opinador de internet.


israel


Vamos lá. Como vocês devem saber, o pau tá quebrando lá por aquelas bandas de novo. Não é novidade: a situação é tensa lá há décadas, muito antes de nossos pais nascerem, e infelizmente é provável que continue assim muitas décadas após a nossa morte. Guerra no Oriente Médio já virou parte do nosso folclore contemporâneo.


A versão resumida da história é que Israel se instalou na região após a Segunda Guerra, e o povo palestino (e o mundo árabe em geral, por proxy) é contra isso. Israel teve apoio Ocidental, e por isso acabou se desenvolvendo como um poderio militar sem similares na região — e que claramente não tem muitas ressalvas sobre usar esse poderio pra revidar os ataques do Hamas, e de quem mais se atreva.


E é justamente dos tais ataques que eu queria falar, especificamente. Percebo atualmente, de uma forma que eu não notava há uns 10 ou 15 anos, um apoio político/social bem maior do povo e causa palestina. Talvez porque não tínhamos os mecanismos para opinar publicamente, talvez porque recebíamos notícias de fontes mais limitadas na época (Jornal Nacional versus uma MIRÍADE de sites e vídeos noticiosos de outros países, caso você fale alguma língua além do português), mas hoje é BEM comum ver pessoas apoiando a Palestina de uma forma que eu jamais vi quando era mais novo.


E acho que isso é bom. Mostra que estamos tendo mais informação do que naquele tempo, e que estamos mais alertas em relação ao conflito. E a causa palestina (do POVO palestino, que fique bastante claro) MERECE apoio. Mas voltando aos ataques e, mais importante, às mortes resultantes.


Graças às mídias sociais, podemos ver a realidade não-filtrada do conflito. Prédios destruídos, civis mortos ou deformados, aquela desgraça clássica que ilustra matérias sobre a situação, mas bem mais rápido e em muito mais abundância que o pouco que víamos nos jornais 10 anos atrás.


E essas imagens geram o principal argumento contra o Estado de Israel — elas ilustram, argumentam os críticos, a carnificina que o país promove. E não há como refutar que matar quase duas centenas pra revidar contra ataques de foguetes que quando muito matam um é realmente desproporcional.


Mas, como tudo nesse mundo, a situação não é tão fácil de resumir assim. Existem elementos em jogo aqui que alguém disposto a simplesmente criticar um lado ou o outro com uma afirmação simples e categórica (“Israel mata mais que a Palestina, logo, é tudo culpa deles!”) está ignorando.


O Hamas é, acima de tudo, uma organização terrorista, racista, facista, e sexista. Pra você ter uma noção do nível de revisionismo histórico que eles empregam, o Hamas é contra dar aulas sobre o Holocausto em escolas da Faixa de Gaza. Seus líderes negam que ele sequer tenha acontecido.


Não há também liberdade de expressão ou de imprensa – dois importantíssimos pilares da democracia, diga-se de passagem.


E o que é mais trágico: faz parte do modus operandi do Hamas instalar plataformas de lançamentos de foguetes em proximidades de áreas populadas, como mostra o vídeo abaixo (e inúmeros outros):



Isso é deliberado, a propósito — a idéia é justamente atacar com impunidade, na esperança de que a parte agredida se constrangerá em revidar fogo quando que efetuou o disparo se esconde no meio da população.


E aí que tá. Quando Israel resolve retaliar ao ataque (como uma nação soberana, completamente cercada por países que a odeiam, poderia levar mísseis na cara e não fazer algo a respeito…? Que nação no mundo inteiro NÃO retaliaria…?),  num esforço pra diminuir as vítimas elas ligam pra regiões que irão bombardear com antecedência, avisando a população da iminente destruição para que tenham tempo de evacuar a área.


Essa “cortesia” não seria necessária, a propósito, se o Hamas obedecesse convenções de guerra que proíbem a prática de se esconder no meio de civis; acontece que a idéia deles é justamente (explicitamente) usar a população como escudo humano.


Agora, olha a merda. A IDF avisa pra galera (por rádio, panfletos soltos por aviões e até mesmo telefonemas) que vai retaliar contra ataques terroristas, e que eles precisam evacuar a região; o Hamas vai e fala pra galera ficar quietinha onde estão; que é “blefe” dos israelenses. Como seus dirigentes não valorizam tanto assim a vida, nem mesmo a vida de palestinos, vêem a morte como lucro espiritual e principalmente, político.


E ESSE é o ponto que eu não estou vendo ninguém comentar. Tá vendo a imagem abaixo?


Se algo serve como consolo é o fato de que as coisas tem se acalmado nos últimos anos!


Talvez você tenha visto essa:


palestina2


É inegável que Israel está provocando mais casualidades contra a Palestina, do que o contrário. A parte realmente desgraçada da equaçao é que é exatamente isso que o Hamas quer.


Para o próprio Estado de Israel, ou para qualquer pessoa que condene a ação militar israelense no solo palestino, esses números são uma desgraça nacional, uma vergonha indefensável.


Já para o Hamas, é a concretização da cartilha terrorista seguida pelo próprio Bin Laden — ataque um inimigo poderoso, e se esconda no meio de civis (ou seja, deliberadamente os colocando em perigo). Se o inimigo alertar a população sobre o iminente contra-ataque, convença-os a continuarem servindo de escudos-humanos. O inimigo então gastará tempo e dinheiro detonando os inocentes tentando te pegar, e com isso você fortalece a própria base ideológica podendo apontar para os agredidos e dizer que são ELES os reais facínoras.


Esses números não são vistos como o Hamas como uma fatalidade (como eu, você, e sim, o próprio Estado de Israel vê), e sim o resultado esperado de uma estratégia deliberada. A reação internacional forte condenando Israel é o real objetivo destes ataques débeis.


A vida humana é secundária à agenda política de grupos terroristas, e essa vida humana nem sempre precisa ser do inimigo. Às vezes provocar a morte da própria população serve também.


Israel tá cometendo cagadas na região desde que foi colocado lá por fruto das circunstâncias do final da Segunda Guerra, isso é inegável. Paz só ocorrerá no local quando/se Israel finalmente abrir mão dos territórios ocupados e reconhecer o Estado Palestino.


O povo palestino merece dignidade e segurança, e mais importante, um governo que não cometa ações deliberadas pra trocar suas vidas pela propagação de sua agenda política.


No livro The Osama bin Laden I Know, o jornalista inglês Peter Burgen explica que o real plano do Bin Laden não eram os 3000 mortos no World Trade Center, aquilo era um “bônus”. A real idéia por trás do Onze de Setembro era jogar a isca para que os EUA se enfiassem naquela guerra no Afeganistão, onde o país desperdiçaria recursos sem um fim claro e mais importante, seriam condenados pela comunidade internacional por brigar com alguém “menor”. Michael Scott Doran fez o mesmo argumento no artigo Somebody Else’s Civil War – a idéia era matar indiretamente civis no Afeganistão, o que geraria condenação global dos EUA e mais importante, do mundo islâmico em geral, e assim fortificar sua própria agenda.


O Hamas segue a mesma cartilha, ao custo de vidas inocentes israelenses E palestinas. E Israel, por sua parte, bem que poderia fazer esforços MAIORES pra aplacar a ira do mundo islâmico. É difícil mensurar quem está “mais errado”, ou quem poderia fazer mais pra resolver a situação, mas numa situação complicada como essa, eu tenho a tendência de ficar do lado que exerce democracia.


Democracia é o pior método de governo, com exceção dos outros, já parafraseava Winston Churchill — e eu concordo. Eu não acho que um governo que usa morte dos próprios cidadãos como moeda política (“olha que coisa indignante Israel fazer exatamente o que nós planejamos deliberadamente que eles fizessem!”) seja a melhor escolha, ou uma digna de apoio.


Os palestinos merecem algo melhor. É uma pena que a cagada já tá feita, e que a retórica e o governo do Hamas é cada vez mais fortalecido pelas matanças de retaliação de Israel, então tá tudo fodido mesmo.


Como planejava Bin Laden contra os EUA, por mais que Israel esteja se defendendo legitimamente ele cai na arapuca do Hamas, reage desproporcionadamente, mata gente inocente, e se fode perante a comunidade internacional. É um jogo em que todos perdem.


E você achando que a política no nosso país era podre.


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Published on July 16, 2014 12:29

July 14, 2014

Pronto, a internet atingiu o seu ponto mais baixo

Em 2015 não teremos os hoverboards e carros voadores profetizados por De Volta Para o Futuro 2 (aliás, provavelmente nunca teremos carros voadores, e eis o porque), mas será ainda uma data memorável pra mim porque celebrarei 20 anos de internet. E nesses 20 anos de internet, eu vi muita coisa desgraçada e lamentável.


Tinha o Rotten, por exemplo, um shock site clássico dos anos 90 (que não mudou muito desde então) que era o principal destino do meu navegador quando amiguinhos vinham me visitar em casa e eu queria traumatiza-los. O Ogrish, que em 2006 virou o LiveLeak, era outra fonte de vídeos e imagens terríveis. Imageboards com o 4chan também contribuiram para a minha dessensibilização de material como esses.


Eu achava que mais NADA na internet poderia me chocar ou provocar uma reação de intensa ojeriza… até hoje.


Eu não lembro mais COMO fui cair nessa página. Eu tenho o (péssimo)  hábito de usar 2 navegadores simultaneamente, um aberto em cada monitor, com 400 abas abertas que às vezes vieram de um link que eu cliquei ontem e só fui verificar hoje. Meus caminhos pela internet são difíceis de mapear.


Mas enfim, alguém me mandou esta merda.



Então. Numa fanpage dedicada a alguma ídolo teen que eu desconheço completamente — o que me faz me sentir velho pra caralho –, esta imagem de crianças sofrendo de inanição na Nigéria foi postada como uma pergunta retórica: se você tivesse meios hipotéticos de ajudar crianças subnutridas à beira da morte, você ajudaria? A página pede que você Compartilhe a imagem se sua resposta é “sim”, curta se “talvez”, e “só olha” se a resposta for “não”.


Considere todos os fatores que precisaram acontecer pra que essa imagem desgraçadíssima precisasse existir. Em algum lugar do nosso amado país uma pessoa sentou na frente do computador, foi ao Google, digitou “criancinhas morrendo” no campo de pesquisa (possivelmente o search mais sadístico que alguém poderia fazer), e ficou procurando, tal alguém que passeia por um shopping, a “melhor imagem”.


Achando a imagem acima, ela abriu o Photoshop pirata e jogou por cima da foto essa chantagem emocional arquitetada cuidadosamente pra trapacear o mecanismo de curtidas/compartilhamentos do Facebook. Talvez ela deu uma ajeitadinha no posicionamento do texto, pra acertar bacana e tal.


Terminada a obra de arte, a pessoa então fez upload pro Facebook, pensando satisfeita “rapaz, esse aí vai dar compartilhamento pra caramba!!!!”.


E essa foi, a despeito das tentativas dos cantos mais sombrios da internet, a coisa mais horrível que eu já fiz alguém fazer, e por TÃO POUCO. Já vi todo tipo de desgraça na internet, mas alguém (que quase certamente vive em conforto) usando imagens de criancinhas tão perto da morte pra angariar pontos virtuais é completamente deplorável.


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Published on July 14, 2014 09:39

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Izzy Nobre
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