Izzy Nobre's Blog, page 36
July 13, 2014
Veja a Alemanha jogando sozinha naquele jogo lamentável
Cá estamos, prestes a presenciar a Argentina levando um título mundial dentro de nossas casas — algo que eles JAMAIS nos deixarão esquecer se acontecer de fato –, mas é importante lembrar que mesmo que eles percam esta já terá sido a Copa da Humilhação de qualquer forma. Aquele histórico 7×1 da Alemanha será a infâmia futebolística brasileira da nossa geração.
Dizer que a Alemanha praticamente jogou sozinha (ou seja, sem qualquer interferência ou obstrução da defesa brasileira) quando enfiou 7 gols em nossos cus coletivos foi a hipérbole mais presente nos comentários sobre aquela derrota completamente lamentável.
E aí algum espertinho resolveu tirar o “praticamente” daquela frase.
Veja como a vergonha mundial se faz ainda mais desgraçada. O ataque alemão praticamente passeia com a bola, sem nem correr tanto assim, sem precisar aplicar passes/cruzamentos particularmente bonitos ou habilidosos. Falou-se muito sobre o futebol alemão ser infinitamente superior ao nosso (e eu não duvido, porque sinceramente, até um time de lontras cegas teria sido uma melhor seleção que a nossa nesta copa), mas é vendo-os jogando sem a intrusão dos jogadores brasileiros que você percebe que DE FATO eles já tinham ganhado quando colocaram os pés no gramado.
Quer saber? Tomara que a Argentina ganhe mesmo. Os Deutschlandenses conquistaram o coração brasileiro com sua mensagem de solidariedade e um atacante espirituoso no Twitter, e no fundo eu até quero que eles levem essa taça porque realmente merecem. Mas se a Copa de 2014 é pra ficar mesmo marcada como a Copa da Humilhação, nada melhor que os hermanos levarem essa.
[ Update ] O primeiro vídeo foi removido pela FIFA, mas substituí com outro.
E vocês ainda ficam com raiva dos caras? Eles estão tentando nos salvar da humilhação!

July 11, 2014
As músicas mais “anos 90″ do mundo
Os anos 90, onde habitam as nossas infâncias (nascidos em 1984 represent!), foram marcados por inúmeros fenômenos culturais — o boquete da Monica Lewinski. A primeira guerra no Iraque. Aqueles filminhos da Turma da Mônica. A nossa Copa mais vitoriosa.
E tivemos também uma leva de músicas que essencialmente MARCOU aquela época. E digo “marcou” no sentido mais definitivo mesmo, tal qual pincel atômico permanente numa parede branca recém pintada pelo seu pai. Músicas conseguem capturar perfeitamente o espírito de um período da nossa vida; ouvi-las anos mais tarde é basicamente uma mini-viagem no tempo.
Então, entre no meu Delorean musical e voltemos ao longíquo ano de Nosso Senhor mil novecentos e alguma coisa.
Te Levar, do Charlie Brown Junior
http://www.youtube.com/watch?v=UhEYsC9F2Kw
Tirando algumas bandas locais de forró, que realmente não contam, o Charlie Brown Junior foi a única banda brasileira que eu vi ao vivo. E essa música aí foi eternizada por seus anos como canção de abertura de Malhação, que começou como uma academia, virou escola mas manteve o nome relacionado a puxar ferro porque afinal de contas, fodam-se, that’s why.
Bitter Sweet Symphony, do Verve
http://www.youtube.com/watch?v=1lyu1KKwC74
Bitter Sweet Symphony, melhor conhecida como “aquela música lá que toca no final do filme Segundas Intenções, que eu assisti empolgadíssimo mas não tem nenhuma putaria”, foi um raro one hit wonder que literalmente arruinou a banda. O que acontece é que a banda foi processada pelos Rolling Stones, os reais autores da música, e isso supostamente levou os caras à falência.
Rhythm of the Night, do Corona
http://www.youtube.com/watch?v=u3ltZmI5LQw
Este clássico incomparável dos anos 90, recentemente ressucitado através da infâmia do Rei do Camarote, deve ter sido catapultado para o estrelato no Brasil da mesma forma que 90% desses eurodances foi: empregado como tema de alguma novela.
Linger, do Cranberries
http://www.youtube.com/watch?v=G6Kspj3OO0s
Essa aqui era A música típica pra anotar a tradução numa folha de caderno e entregar pra namoradinha — tradução esta inevitavelmente cheia de erros de concordância, gramática, e falsos cognatos, como toda tradução de música pra namorada era.
Tubthumping, do Chuparola (estou com preguiça de dar Ctrl C no nome dessa porra dessa banda).
A música foi trilha do World Cup 98, que é mais um motivo pelo qual o jogo é inferior ao FIFA 98 com seu inesquecível Song 2. Um remix porradíssimo dessa música tocou na primeira boate que eu fui na vida, marcou minha adolescência.
Torn, da Natalie Imbruglia
A Natalie Imbruglia sumiu completamente, né? Essa música é notável porque entra naquele rol de “músicas cover que ninguém sabe que é cover”. Isso rende um texto, aliás. Olha a versão original dela como é diferente.
I’m The Scatman, do Scatman John
Essa é DELICIOSAMENTE anos 90, com aquele eurobeat safadíssimo de música de novela. Pra quem não manja, “scatman” não é porque o John era chegado numa escatologia (ou de repente ele era? Vai saber!), é uma referência ao estilo musical scat, nascido no jazz e atualmente sendo estragado pelo Jack Black, como basicamente qualquer outra coisa em que ele toca com a notável exceção do Tenacious D. Sério, o que diabos aquele corno estava fazendo no remake de King Kong? Garantindo que seria terrível?
Quais eu esqueci?

July 7, 2014
[ Recomendação de série ] House of Cards
Antes de mais nada, o disclaimer: eu jamais trabalhei com a Netflix, e este post não é patrocinado nem nada do tipo. Adoraria trabalhar com os caras, porque ganhar pra falar bem de algo que você já gosta mesmo (como foi o caso desta resenha) é excelente, mas acho que eles não me notaram ainda. Fazer o que!
O Netflix, um excelente serviço de streaming que acredito honestamente ser o melhor custo/benefício que eu pago nessa vida, começou há algum tempo a lançar suas próprias séries — uma notícia que o público e a crítica em geral recebeu de braços abertos. Falou-se muito de uma “nova era da televisão”; de fato, na época em que notícia saiu pareceu até peculiar a idéia de um serviço de streaming virando produtora.
O título de primeiro seriado original do Netflix é acirradamente competido por causa de algumas tecnicalidades. Cronologicamente falando, o primeiro seriado produzido sob supervisão do Netflix foi Lilyhammer. Entretanto, o Netflix entrou como parceiro numa produção televisiva convencional que já estava em andamento. É como colocar meu nome no trabalho em grupo sobre capitanias hereditárias quando eu nem fui na casa da menina lá pra fazer a pesquisa com a galera.
Mas colocar o nome na capa do trabalho que foi Lilyhammer deixou o Netflix com vontade de produzir algo realmente seu. E aí veio House of Cards…
…que tecnicamente, também não é “realmente seu” — assim como The Office, House of Cards é remake de uma série britânica homônima. Dependendo do critério que você queira usar, Hemlock Grove seria então a primeira série totalmente original do Netflix.
Mas então, vamos logo à série.
Em House of Cards, o sempre excelente Kevin Spacey interpreta Frank Underwood, um congressman, que seria o equivalente político dos nossos deputados. Mas ele não é apenas um deputado comum — ele é um “whip”, ou seja, uma espécie de líder que coordena os votos dos outros deputados do seu partido. De acordo com o que me disseram no Twitter, seria algo como um líder da bancada no equivalente político brasileiro.
Costumo explicar House of Cards dizendo que é como Breaking Bad, se o Walter White já COMEÇASSE como vilão. O Underwood tem todas as piores qualidades de um político — egomaníaco, sedento por poder e influência, mentiroso, manipulador, e sem qualquer escrúpulos. Ferido por uma promessa política não cumprida pelo novo presidente, Frank Underwood começa então uma campanha secreta para galgar os degraus políticos e destruir a presidência no processo. Praticamente traição, como aponta um personagem — ao que Underwood rapidamente retorque que “bom, ‘praticamente traição’ é simplesmente ‘política’ mesmo”.
Como em Breaking Bad, temos um personagem que é literalmente um vilão, manipulando todos ao seu redor e escapando da vigilância daqueles que no mundo real seriam os reais heróis da história (lembra do Hank? Temos vários equivalentes ao Hank aqui, no encalço das maracutaias do Underwood). Também como em Breaking Bad, Frank Underwood se mete em enrascadas políticas e legais que são solucionadas genialmente no último instante, deixando os outros personagens com o inegável semblante de “como esse filho da puta fez isso?!” no rosto.
Cabe aqui um pequeno comentário sobre a expressão “anti-herói”, que assim como eu via (erroneamente) atribuída ao Walter White, vejo também sendo empregada para descrever o personagem do Spacey. Anti-herói, tradicionalmente, é um herói que foge do padrão clássico de “escoteiro bonzinho” encarnado em personagens icônicos como o Superman, Spider-Man, Capitão América, entre outros.
Nos anos 80 e começo nos anos 90, vimos no universo de quadrinhos um fenômeno reacionário aos “mocinhos” clássicos da arte sequencial. Foi nessa época que rolou uma explosão da popularidade dos anti-heróis; o período foi um campo fértil pra esse arquétipo de personagem. Wolverine, Spawn, Punisher, Deadpool e outros se tornaram estrelas justamente nessa época. Aliás, a dependência das HQs desse período nesse modelo de personagem é algo que rende piadas e paródias até hoje.
Basicamente, o anti-herói é ainda um herói no seu âmago, mas um que age fora das regras, ou que se dá ao luxo de desvios de moralidade e ética para o bem no geral. Han Solo, por exemplo, que é um contrabandeador que luta pela Aliança Rebelde, ou o Ben de Full Throttle, que é um gangster de bom coração, ou o Wolverine, que é “do bem” mas mata gente pra caralho (esse é o motivo pelo qual ele teve carterinha de Vingador em tantas ocasiões, aliás — fazer o “trabalho sujo” é parte do CV dele).
Frank Underwood não é um anti-herói. Pior que o Walter White (que pelo menos COMEÇOU com boas intenções, antes de virar um monstro completo), o Underwood já é um cínico e impiedoso literalmente na primeira cena da série. Ele é um vilão protagonista; seus objetivos são completamente egoístas, ele não
Voltando ao seriado: ele é uma interessantíssima exposição do processo político americano — e do processo político em geral, na real. O programa se embasa na mecânica jurídica/eleitoral americana, evidentemente, mas a dinâmica “uma mão lava a outra (e nesse lava-lava uma acaba algemada a outra)” deve existir literalmente em qualquer círculo político, seja em Washington ou em Brasília. Por isso, o seriado dá um insight interessante de como e por que alguns países são tão perdidamente corruptos. O vai e vem entre políticos e interesses privados, seja diretamente ou intermediados por lobbystas, é muito mais responsável pela direção dos EUA de House of Cards do que qualquer outra coisa.
E eu suspeito que o mundo real não é diferente em nada, com as vendas e trocas de favores políticos que moldam a direção do governo, e as eventuais pisadas de bola e/ou facadas nas costas uns dos outros que resultam em X9s delatando a parada toda.
Uma das primeiras dúvidas que tive com House of Cards foi decidir se um político americano, ao assistir o seriado, pensa “caralho, eles pegaram a gente, é desse jeito mesmo!” ou “pfff, eles pensam que é só isso aí? Então estamos de boa”. É assustador pensar que o mundo real tem inúmeros Frank Underwoods; ver a corrupção simulada na TV gera um “pânico sob controle” estilo montanha russa.
Talvez por isso o programa seja tão bom. Entretem e é ao mesmo tempo assustador.
E pra finalizar as comparações com Breaking Bad, é importante mencionar que temos aqui um vilão que é “the one who knocks” também. Não há nada melhor pra provar a maestria narrativa do seriado do que o fato de que a cena final, que não mostra literalmente NADA senão o protagonista batendo numa mesa (sequer tem diálogo), é de arrepiar.

July 4, 2014
[ Recomendação de Podcast ] The Biggest Problem in the Universe
Existe um blogger gringo que eu acompanho há literalmente mais de uma década: o Maddox.
O Maddox é O misantropo internético original. Seu site, sarcasticamente intitulado “A melhor página no universo”, enumera as coisas que ele gosta (e, mais frequentemente, as que ele odeia) com sarcasmo e cômica agressividade. Alguns talvez diriam que o “personagem” uber-crítico de tudo cansaria fácil — é a principal crítica que vejo haters do Felipe Neto usando pra o atacar, por exemplo –, mas o Maddox conseguiu se mater relevante mesmo depois de todos esses anos seguindo uma cartilha relativamente previsível. E o cara tá escrevendo desde 1998, mano!
Recentemente, o Maddox fez a transição pra vídeos na internet, e seguindo mais ou menos o mesmo modelo — pegando algo que as pessoas gostam, e explicando exatamente por que essas coisas são uma merda. Seu vídeo condenando o modus operandi do Buzzfeed, por exemplo, é excelentíssimo:
Novamente: haterismo gratuito é fácil; o difícil é usar argumentos reais (e engraçados) para detonar algo popular.
Então, a nova empreitada do Maddox é um podcast chamado The Biggest Problem in the Universe. A premissa é a seguinte: usando a hipérbole que lhe é familiar, ele e o co-apresentador enumeram os “piores problemas do universo” da semana. Os espectadores então votam nos piores problemas através de uma enquete no site.
Se você gosta de ouvir rants engraçadas — eu rio mesmo quando é rant contra algo que eu mesmo gosto, como o vídeo do Maddox contra pizza de calabresa –, recomendo o podcast.

July 2, 2014
[ Hora da Justiça ] Foi chutar um retrovisor, se FODEU
Acho que nunca tivemos um HORA DA JUSTIÇA nacional. Se eu estiver errado, não digam nada. Na verdade é curtinho, então tá mais pra SEGUNDOS DA JUSTIÇA, mas tá valendo
Vamos ao vídeo de hoje!
http://www.youtube.com/watch?v=YV8NBaqlPYo
Como sabemos, motoristas e motociclistas são inimigos naturais — tal qual cachorros e gatos, leões e zebras, corintianos e policiais ou skatistas e seguranças de shopping. Incapazes de dividir as estradas com harmonia e ordem, motociclistas e motoristas as transformam em campos de batalha ao redor do nosso país. Felizmente, o advento dos celulares com câmera tornam essas confusões youtubáveis e assim, podemos disseca-las com detalhes.
No começo do vídeo vemos o motociclista partindo pra cima do carro cujo modelo eu não conheço porque, você quer logo que eu admita que eu não sei porra nenhuma de carros? Ok, eu não sei. É um Corsa, sei lá.
Então, o motoboy vai pra cima do Palio e prepara um chute tal qual era executado quando se apertava a barra de espaço no Road Rash. Acho que era a barra de espaço.
Acontece que o sujeito talvez não tenha jogado este clássico o bastante pra aprender a executar um chute motociclístico bem sucedido. No momento preciso em que o pé do motoqueiro bate contra o carro, as inexoráveis leis de Newton (mais especificamente, a terceira) se manifestam para levar seu rosto de encontro com o chão. Eis o momento exato:
Não capturei este momento no GIF, mas repare atenciosamente que no vídeo, sua cabeça dá até uma quicada bonita naquela barreirinha de concreto — enquanto o cinegrafista no carro que vinha atrás adiciona um “se fodeu, idiota”. Esse curto vídeo se tornou assim o melhor filme com comentário do diretor, e olha que eu tenho o DVD e Aliens.
9 pontos na Escala Capitão América de Justiça. Tentou danificar a propriedade alheia, acabou danificando a própria coluna cervical em resultado.

June 29, 2014
“Acharam a Arca de Noé!” e outras lendas urbanas evangélicas
Tendo crescido em lar evangélico, como mencionei num vídeo recente, eu ouvi toda qualidade de histórias esdrúxulas sendo repassadas pela igreja — e mais tarde, pela internet. Essas histórias tinha como objetivo ou comprovar algum dogma da igreja, ou pra alertar a galera sobre os perigos de não levar Deus a sério, ou coisa do tipo.
Eu já me espantava, naquela época, do pouco senso crítico com o qual os “irmãos” entoavam seus Glória a Deus!’s ao ouvir aquelas anedotas; hoje em dia, é chocante imaginar que existem pessoas (adultos!) que aceitam a propagam essas histórias comprovadamente falsas, simplesmente porque elas oferecem uma migalhinha de (falsa) confirmação de suas crenças — crença essa, vale lembrar, que adverte aqueles cuja fé é condicional a provas.
E as principais lendas urbanas que vem a mente são…
Acharam a Arca de Noé!
Essa foi uma das primeiras que eu ouvi. Segundo “pesquisadores”, esta entidade metafísica que algumas pessoas adoram invocar para imprimir maior validade às suas alegações, a lendária Arca de Noé teria sido encontrada no pico do monte Ararat, na Turquia. Em alguns círculos, o “fato” de que encontraram a Arca de Noé era basicamente uma certeza inequívoca, algo tomado como verdade inegável. Como os ateus poderiam duvidar do Dilúvio se já até acharam a Arca de Noé?!
Curiosamente, nenhum dos que propagavam essa lorota se perguntavam porque jamais ouviram sobre essa incrível descoberta em nenhum veículo de notícias. A descoberta de uma embarcação que comportasse toda a biodiversidade animal do planeta, que certamente precisaria ter proporções de um transatlântico, mudaria tudo que conhecemos sobre a capacidade de engenharia dos seres humanos que viveram durante a Idade do Bronze. E no entanto, só se ouvia esse “fato” de boca a boca em igrejas.
O que rolou foi o seguinte: em 1948, na região da fronteira entre a Turquia e o Irã, chuvas torrenciais (que são chuvas pesadas, e não chuvas que baixam Agents of S.H.I.E.L.D. do Pirate Bay) e terremotos produziram uma formação rochosa que alguém olhou e falou “rapaz, meio que parece um barco, né não?

“Não…?”
Como o único barco antigo e imenso conhecido é a arca de Noé (se você ignorar os inúmeros outros mitos de dilúvio ao longo da história, isso é), a associação com a história bíblia foi estabelecida e pronto.
Acontece que a crença de que essas formações naturais são os restos da arca é TÃO absurda que até o site cristão Creation.com já desmentiu em detalhes.
Encontraram os gigantes da bíblia!
No Gênesis, há a menção breve de gigantes (no original, “nephilim”, que significa “caídos”) que passeavam pela Terra e se metiam nas maiores confusões, literalmente. É estranho que algo TÃO significativo, que desafia totalmente nossa compreensão dos humanóides que habitaram este planeta, apareça como mísera nota de rodapé — mas fazer o que. Os gigantes reaparecem mais tarde, quando Davi mata um com seu estilingue, e fica por isso mesmo.
Então, lá pelos idos de 2004, esta imagem começou a pintar na internet:
Trata-se de um Photoshop, claro. Mais especificamente, de um concurso de Photoshop do Worth1000, um site clássico de competição de montagens digitais. Nem mesmo o mais ingênuo de nós veria esta imagem e acharia que é verídica, mas como veremos, pessoas que precisam de qualquer forma buscar sustentação pra crenças conseguem ser ainda mais ingênuos.
Microfones captam sons de sofrimento direto do inferno!
A história, que circula na web desde 1997 mas que pode ter começado no finzinho dos anos 80, é a seguinte: mineiros russos estavam trabalhando numa escavação, quando de repente a broca encontrou uma imensa cavidade. Os caras abaixaram um microfone no buraco, e supostamente conseguiram ouvir os gemidos e choros dos condenados ao Inferno. Inclusive, tem arquivos de som por aí que diz-se tratar-se das gravações do buraco.
A primeira vez que ouvi essa história foi no segundo ano do ensino médio, de um professor cuja disciplina eu não lembro. Ele nos repassou a lorota como se fosse um fato incontestável, inclusive, que é geralmente o tom e energia com qual nos contam essas histórias.
A história, que nasceu num jornal cristão finlandês, ganhou popularidade ao ser divulgada por um canal americano evangélico de TV. Åge Rendalen, um professor norueguês (e troll nas horas vagas) mandou uma carta confirmando a história, e a exagerando um bocado. O canal reproduziu o relato do professor, e assim perpetuou o hoax.
Carro bate e os ovos no porta-malas sobrevivem porque o motorista fez uma piadinha sobre Deus!
Desta vez, um hoax aparentemente brasileiro (os links gringos que encontrei sempre fazem alusão à origem brasileira da história, que teria acontecido em Campinas). Um grupo de garotos bêbados estava por aí na vida da zuera, indo pra festinhas fumar maconha usando folhas da bíblia enquanto debatem sobre a validade do aborto e votam no PT, e pararam pra pegar um amigo. A mãe deste, preocupada com o estado dos companheiros do filho, teria então dito “Deus te acompanhe, meu filho!”, ou algo que o valha. Infelizmente ela não falou algo mais útil, como “andar de carro com uma cambada de bebum? Mas nem fodendo, já pro seu quarto!”.
Então. Diante da benção da mãe, o filho petulantemente respondeu que Deus teria que ir no porta-malas, pois não havia mais espaço no carro. Se isso fosse uma sitcom como Big Band Theory, onde piadas imbecis não são apenas encorajadas mas recompensadas, a platéia teria rido e batido palmas.
Pois bem, o carro bateu, morreram todos, e a polícia informou à mãe do garoto rebelde que uma caixa de ovos que estava no porta-malas havia ficado intacta.
Nao existe registro de tal acidente jamais acontecendo, obviamente. Não que faça muito sentido que um bando de adolescentes saindo pra balada tivesse uma caixa de ovos no porta-malas, também (ou que a polícia informaria a mãe de uma das vítimas deste fato).
Carro anda sem motor após oração de fiel!
Ainda no ramo de milagres automotivos (e também um que eu pensava ter origem brasileira, mas não é) tem a história do soldado que… bom, vai aí a versão que eu catei na web que é basicamente idêntica à que eu ouvi anos atrás:
Não precisa ser um sujeito muito inteligente pra desconsiderar completamente a história como um absurdo que apenas alguém sem qualquer senso crítico e/ou domínio de suas plenas funções mentais conseguiria acreditar.
O problema não é nem realmente acreditar em um ser sobrenatural que executa mágicas; o problema é acreditar simultaneamente que esta divindade faz truques para proteger seus amigos de piadas bobas, mas esquece de se manifestar em ocasiões que certamente requerem mais seu envolvimento, como por exemplo aqui só puxando de memória o Holocausto, ou quando morreram umas 30 milhões de pessoas no Grande Salto Avante da China, ou quando rolou aquele tsunami na Ásia, o maior terremoto da história diga-se de passagem, que acabou matando mais de 200 mil pessooas.
Você lembra de mais alguma lenda urbana evangélica?

June 24, 2014
[ Pergunta do Dia ] Em que música você está viciado no momento?
Eu me pergunto se tem gente que consume música igual eu. Quando descubro uma música que eu gosto, eu baixo em todos os meus aparelhos que reproduzem músicas, coloco nas playlists mais relevantes, e aí escuto a música sem parar pelas próximas duas ou três semanas — até o ponto de fadiga mental da música. Infelizmente, em minha falta de auto-controle, eu acabo estragando a música pra mim mesmo de tanto ouvir no repeat. Ouço até que a música pareça mais curta de tão acostumado que meu cérebro esteja a ela, porque passo a ouvir sem nem prestar atenção.
Não tem jeito. É o jeito que eu sempre ouço uma música bacana recém-descoberta.
A música que estou ouvindo sem parar no momento é este remix de From Nowhere, do Dan Croll.
http://www.youtube.com/watch?v=pUjVhBF5sXc
Você provavelmente está reconhecendo essa música de algum lugar, né? Ela apareceu na E3 desse ano, no vídeo de anúncio do GTA5 pros consoles next gen. A música, como falei, é o remix meio pop synth oitentista dessa música:
http://www.youtube.com/watch?v=973ibay5504
A trilha sonora de GTA5, e suas escolhas musicais em seus trailers, é sempre afiadíssima — e com esse remix de From Nowhere, eles acertaram pra caralho novamente. Está perdendo no momento só pra Sleepwalking, do Chain Gang of 1974, também com a mesma pegada pop synth oitentista, e do mesmo jogo (e que foi usada no melhor trailer dele):
http://www.youtube.com/watch?v=3jy7ceLVVgU
Essa música marcou o ano de 2013 pra mim, e foi outra que eu tou ouvindo sem parar até agora. Ela tem uma longevidade incomum!
Em que música você está viciado no momento?

June 21, 2014
5 vídeos que provam que a Skynet virá em breve
Eu vivo falando que adoro viver no futuro. Seja por causa de um serviço de streaming que me permite desperdiçar um dia inteiro de cueca no sofá assistindo House of Cards, ou o poder das telecomunicações instantâneas na palma da minha mão, ou o fato de que muito em breve teremos robôs para atender nossos desejos físicos mais íntimos e incandescentes, até aqui o futuro tá uma beleza. Faltam as hoverboards, mas ainda não estamos em 2015 ainda, então dá tempo.

Vamo agilizar essa porra aí por favor, Mattel?
Mas pouco a pouco começo a reparar nos avanços tecnológicos ao nosso redor e noto indícios funestos de que há algo terrível nos aguarda lá no futuro. As peças estão sendo lentamente encaixadas, e a cada inovação de robótica e inteligência artificial eu sinto um receio pelo futuro da raça humana.
Sei que a ciência promete que esses avanços significam um progresso necessário pra que melhoremos o mundo ao nosso redor, mas temei irmãos: a luz no fim do túnel pode muito bem o olho implacável de um Exterminador, usando seus chips robo-tecnológicos para calcular a explodibilidade dos seus preciosos órgãos internos.
Alguém precisa encontrar estes cientistas e parar suas pesquisas imediatamente. Senão, um dia alguém vai pegar esses vídeos pra montar um documentário explicando como as máquinas surgiram e inevitavelmente se levantaram contra nós.
O quadricóptero autônomo invulnerável
http://www.youtube.com/watch?v=w2itwFJCgFQ
No contexto de “meu deus do céu, um dias estaremos lutando contra essas máquinas pela dominância do planeta Terra”, quadricópteros são os robôs mais assustadores – seu método de locomoção por si só já representa 4 lâminas que te fatiarão feito um peru de Natal, imagina quando colocarem altas metrancas e lança-chamas nessa porra?
Aí cientistas pioraram o negócio, dando inteligência acrobática aos robôs. Este demônio tecnológico pratica hoje o equilíbrio de bastões e copos de água azul pra que amanhã consiga limpar agilmente o campo de batalha dos cadáveres dos nossos irmãos humanos.
Não fosse isso o suficiente, essas porras agora são praticamente invulneráveis.
Este traidor da raça humana demonstra que assim como o T-800, mesmo danificado o quadricóptero segue sua missão implacavelmente, a única diferença sendo que ele perde um pouco de estabilidade e fica girando loucamente (ou seja, sua eficiência em te fatiar aumentou 300%)
Seus ossos, que já antes não tinham muita chance, oferecerão a mesma resistência que uma batata palha contra as lâminas giratórias da morte deste bot assassino voador.
Nem as nossas melhores tesouras poderão combater a ameaça dos quadricópteros. Já estamos fodidos, e olha que ainda estamos no PRIMEIRO vídeo.
Big Dog, o robô que lembrará de todos os nossos abusos e se vingará sem piedade quando a hora do julgamento chegar
http://www.youtube.com/watch?v=bwa8m8VwhWU
A expressão “mula de carga” como sinônimo de alguém que só serve pra fazer trabalho pesado tem uma conotação negativa por um bom motivo. E em nossa vã soberba, buscamos aliviar nossas próprias costas do trabalho braçal que as quebraria empregado robôs para essa tarefa.
Este é o Big Dog, um projeto da Boston Dynamics de criar um robô que transporte material, munições, ou até mesmo combatentes feridos. E ele vai transportar isso mesmo um dia, só que não vai ser pro nosso lado.
Não bastasse o bicho soar como um enxame furioso de abelhas (imagina que beleza isso será pra moral dos humanos rebeldes…), ele ainda caminha muito similar a um bicho de verdade, o que o coloca bem no meio do Vale da Estranheza.
E eis o agravente, aquilo que garante que o Big Dog jamais estará nas fileiras dos robôs aliados juntos com o Arnold, o Gigante de Ferro e aquela lampadinha da Pixar. Sob pretexto de testar sua estabilidade, seus criadores o chutam impiedosamente.
E você está vendo o resultado de possíveis milhões de chutes necessários pra desenvolver o hardware e software a prova de bicudos. Big Dog agora aprendeu a aguentar porrada melhor do que a maioria dos humanos, e nós vamos estar em breve nos arrependendo de dar a ele esta habilidade.
CUPID, o drone eletrocutador
http://www.youtube.com/watch?v=6f1nCDM9WGY
No departamento menos letal (mas ainda letal, volta e meia alguém toma uma zapeada desses tasers e bate as botas), temos o CUPID, uma sigla imbecil que significa Bla Bla Bla Quem Se Importa Os Criadores Colocaram Qualquer Coisa Aí Pra Traçar Paralelo Com Outra Entidade Voadora Que Atira Em Humanos. Neste vídeo, observe o momento histórico do que pode ser a primeira vez na nossa história em que um ser humano foi atacado por um robô projetado especificamente com função de combate em mente.
“Mas não”, diz o criador apressadamente, “esse robô também serve pra trazer equipamento de emergência, ou ajudar a encontrar uma criança perdida…” e depois o quê, enfiar 80000 volts nela? Não crie um robô projetado para controlar a revolta humana contra as máquinas, e me venha com esse papo furado de “mas há aplicações não-provocadoras de ataques cardíacos pra essa tecnologia, eu juro!”
Aliás, se é pra ir com nome de divindade, faria MUITO mais sentido chamar essa porra de THOR, caralho! Tenho até uma sigla melhor que essa porra aí: Tactical Human Obliteration Robot.
Vixi, fodeu, ajudei eles agora.
O “braço exterminador”, porque desistiram totalmente de disfarçar que essa porra toda resultará em robôs assassinos
http://www.youtube.com/watch?v=_qUPnnROxvY
Já neste vídeo temos um “braço exterminador” sendo beta-testado num humano que as máquinas talvez (talvez!) preservarão como um animal de estimação depois que vencerem a guerra, por sua contribuição no ramo de “desenvolvimento de braços cibernéticos com os quais esmagaremos as traquéias dos humanos”
A programação assassina já está lá. Suponho que devam haver mecanismos de segurança pra impedir que o braço, seguindo seus impulsos robóticos naturais de exterminar humanos, estrangule seu portador com vida própria, igual o Doutor Strangelove. Por exemplo, quando o operador fala sobre a posição de “apertar mão”, complementada com “this is for shaking hands, this is for being human“, o braço robótico na realidade fez um PUNHO pronto para afundar crânios humanos.
É como se o braço soubesse que o sujeito estava pensando em HUMANOS e já entrou no Battle Mode. Logo em seguida ele demonstra o “dedo gatilho” que muito em breve estará sendo usado para executar você e sua família na revolução robótica:

Dedo gatilho, que tem funcionalidade dupla pra dizer “venha, seu humano filho da puta”
Novamente: quando você coloca nos presets pré-programados do robô funções assassinas, não me venha com essas chorumelas de que o negócio é pra encontrar crianças perdidas ou pra ajudar um pobre deficiente físico a digitar ou amarrar os cadarços. Vocês estão é possibilitando o holocausto da raça humana.
Cabou tudo mano, fodeu completamente para a nossa raça
http://www.youtube.com/watch?v=diaZFIUBMBQ
Dê adeus à sua namorada/esposa, mande seus animais de estimação pro espaço e se mate logo para poupar tempo. Inventaram aí um robô capaz de basicamente todas as tarefas necessárias pra nos foder total e completamente de forma irreversível.
Primeiro, o robô é capaz de dirigir (e tentou atropelar o cameraman, repare. Robôs não cometem erros, aquilo foi intencional). Depois, ele escala barreiras construídas, digamos, por uma força-tarefa de resistência às máquinas. Depois ele sobe escadas pra alcançar, suponhamos, uma pequena facção de humanos escondidos em um prédio abandonado. Mesmo que este humanos tenham construído barricadas pra se proteger, não adiantará nada, porque assim como o amor este proto-exterminador remove todas as barreiras.
E não pense que suas portas vão impedir esta força de destruição: este autômato as abre e entra com facilidade, embora precise passar dançando a dança do caranguejo e lembrando, estranhamente, o Bob Sponja.
Não tem porta? Ele fará um buraco na parede, por onde enfiará seu braço indestrutível e esmagará a cabeça de seus filhos.
Não há chance para nós. Estamos fodidos.

June 20, 2014
Brasil: o que tenho, e o que não tenho saudade
Comentei nas redes sociais que estava meio sem assunto pra escrever, mas que não poderia deixar o dia passar em branco, e então pedi sugestões de idéias pra um artigo aqui no HBD. O leitor Lucas Hoffmann, @LHoffmann no tuíter, me pediu pra escrever um texto falando sobre o que sinto falta no Brasil, e o que NÃO sinto falta. É uma ótima idéia, Lucas, então obrigado!
Coisas que sinto mais falta no Brasil:
O clima
Vocês já me viram reclamar disso, mas deixa eu ressaltar a merda que é morar no Canadá (especialmente Calgary, na província de Alberta) no que diz respeito ao clima. O inverno, TEORICAMENTE, deveria durar apenas 3 meses. E nos EUA, que tem latitude mais baixa que a gente, o inverno realmente só dura 3 meses.
Aqui o esquema é mais punk.
Cê percebeu que mesmo quando a merda branca recua, ainda fica um pequeno OÁSIS de neve bem em cima da minha região? Isso que dá fundarem uma cidade praticamente em cima das montanhas rochosas.
O que acaba rolando é que o inverno, que teoricamente vai de dezembro a março, aqui começa em novembro e vai até maio.
E o inverno é uma bosta. O sol nasce lá pras 8am e se põe às 4pm, e o frio te impede de fazer praticamente qualquer coisa fora de casa. As estradas ficam mais perigosas, você tem que gastar mais de mil dólares com pneus de neve e suas instalações, as barras das suas calças ficam completamente estragadas, e esquiar/snowboard, supostamente a única parte aproveitável dessa estação do ano, é uma bosta de qualquer jeito.
http://www.youtube.com/watch?v=_EN2yN8RKyI
Por mais pitoresco que os pinheiros sejam num Natal nevado, prefiro infinitamente ir à Praia do Futuro no meio de janeiro e comer um caranguejo.
A comida
Me perguntam muito o que seria o “arroz e feijão” dos canadenses — ou como eu poderia viver sem esses dois elementos fundamentais da alimentação brasileira. A resposta da primeira pergunta é que o canadense não tem uma comida-base como o nosso arroz e feijão, ao redor da qual todos as outras adições alimentícias orbitam. A resposta da segunda pergunta é que só vive sem arroz e feijão quem quer, porque a idéia de que isso é exclusivo do Brasil é completamente sem nexo. Como arroz e feijão todo dia, como aquela foto que eu me arrependo de ter tirado deixa claro.
Mas nem só de arroz e feijão vive o homem. Coxinha, pastel, churrasco a rodízio, Negresco (que é objetivamente melhor que Oreos), guaraná, brigadeiro, beijinho, biscoito Passatempo, feijoada, peixe frito na praia, folheado de queijo (os folheados daqui são exclusivamente doces, de frutas e tal (BLERGH). Tem um monte de comidas exclusivas ao Brasil, e coisa bem mais interessante que um simples arroz com feijão.
Teoricamente dá pra fazer tudo isso em casa (pastel, particularmente, é tão fácil de fazer que até eu consigo), mas uma coisa é ter sempre que se dar ao trabalho de preparar esses quitutes por conta própria, e outra é ir na esquina e comprar já feitinho (e geralmente com um resultado melhor que o caseiro).
A família e os amigos
Este aqui é O motivo pelo qual eu ainda gasto 1500 dólares só com a passagem aérea para o Brasil de tempos em tempos. Meu pai viajava mais que caixeiro viajante quando eu era criança, e por causa disso moramos em inúmeras cidades diferentes. Assim, eu já estava meio acostumado com a distância da família desde pequeno. Pra você ter uma noção, dos meus quase 30 anos, apenas 11 foram vividos na minha cidade natal, Fortaleza — e se você parar pra pensar, metade desses 11 anos foi do meu nascimento até os 5 anos de idade (o que basicamente nem conta).
Eu cresci sem ir em aniversários de primos, formaturas, casamentos (com exceção de um, em 2010, da minha prima Talita Nobre), perdendo essencialmente todos os eventos importantes, os Dias das Mães com almoço de família na casa da minha avó, os Natais, etc.
Coisas que eu NÃO sinto falta no Brasil:
O péssimo atendimento ao consumidor (e a falta de educação em geral do povo brasileiro)
Já comentei uma situação que passei no Brasil que ressalta algo que acontece tanto com o nosso povo — apesar de estar 100% errado na situação, ainda achar que stá certo. Existe um elemento cultural e endêmico de “se dar bem por cima dos outros” no nosso país, e me parece que isso desencadenou uma corrida evolutiva onde os estabelecimentos presumem com antecedência que você está tentando trapacear de alguma forma.
O resultado é um péssimo atendimento ao consumidor, que acaba sendo um reflexo da nossa tão debatida falta de educação de um modo geral. Acho que este vídeo ilustra bem o meu ponto:
http://www.youtube.com/watch?v=ssEhLSAO16k
São pequenas coisinhas. Em minhas últimas idas ao Brasil, se destacaram quase todos os atendente de qualquer estabelecimento comercial sempre me cobrando o troco exato da transação (e esboçando clara frustração quando eu não o tinha). Ou um atendente do cinema, que cortou a fila na minha frente — enquanto eu fazia uma pergunta pro guichê — pra jogar um papo furado qualquer na amiga de trabalho. Ou basicamente qualquer servidor público que te atende com má vontade e indiferença, como se você o estivesse incomodando durante seu horário livre pra pedir um favor, em vez de exigindo que ele faça o trabalho pelo qual é pago.
Quando você mora num lugar onde você esbarra em alguém e ESSA PESSOA te pede desculpa (não é uma hipérbole, isso acontece mesmo; você esbarra em alguém e a pessoa frequentemente presume que ELA que estava no local errado, e se desculpa), as pequenas nuances de como brasileiros se comportam parecem ainda pior.
Sei que soa como babaquice criticar a falta de educação do brasileiro em geral, mas eu não estou INVENTANDO esse conceito, né.
A falta de segurança
No Brasil, fala-se muito que a melhor forma de evitar a violência é “não dar mole”, geralmente acompanhado de uma longa lista do que seria “dar mole”: ficar escaneando o ambiente o tempo inteiro, não deixar relógio ou celular a mostra, não usar headphones brancos típicos de iPhones, não parar no sinal vermelho de madrugada (????), colocar a carteira no bolso da frente, etc. Existem mil lifehacks no Brasil pra evitar entrar nas estatísticas de violência, e querendo ou não eu mesmo perpetuei essas instruções pra tantos amigos gringos que queriam ir ao Brasil ver a Copa, mas estavam apreensivos sobre a tão falada criminalidade do nosso país.
Pra alguém que mora num país como o Canadá, essa constante vigilância parece absurda. Existe crime aqui também, evidentemente (eu mesmo consegui a proeza de ser assaltado), mas é numa escala tão inferior ao nosso país que acontecem coisas absurdas como o fato de que canadenses estão TÃO acostumados a deixar seus carros destrancados por aí que a polícia precisa alertar pra que eles parem de fazer isso. Casas ficam geralmente destrancadas, também, como mostrou Michael Moore em Tiros em Columbine.
E isso é algo DIFÍCIL de abrir mão. Pra vocês já deve ser algo completamente normal, faz parte do dia a dia. Pra mim, ou pra minha esposa, o sentimento de paranóia é exacerbado pelo fato de que não temos esse hábito de esperar sempre pelo pior e agir de acordo. Depois que meu pai teve suas malas roubadas dentro do aerporto de Guarulhos, eu ando por lá olhando pra tudo quando é canto, segurando a mochila firmemente. E ter que se comportar assim dentro de um AEROPORTO é uma parada muito sem sentido.
E termino essa lista com algo que eu sentia muita falta, mas após mais de 10 anos morando fora (e tendo visitado o Brasil apenas 4 vezes), é um sentimento que vai se esvaindo cada vez mais.
A sensação de “pertencer” ao Brasil
No começo, estar aqui era uma novidade como nada antes na minha vida; o clima, estar cercado de pessoas falando em inglês (que tornava a experiência equivalente a “estar dentro de um filme”), até a simples diferença arquitetural das casas realçava aquela sensação de mundo alienígena, muito diferente do meu contexto cultural. Lembro que até as maiores trivialidades, como ver comerciais em inglês na TV, ou usar um dinheiro diferente, era muito surreal. Mesmo sabendo que minha vinda pra cá foi definitiva, tudo era tão diferente, tão “isso aqui não tem nada a ver com o meu background… Isso aqui é a terra de outra gente!“, que no meu âmago eu ainda sentia que minha casa mesmo é no Brasil.
Hoje não é mais o caso. Após uma década morando aqui, se tornando proficiente com a língua, decifrando os referenciais culturais e sendo absorvido pela comunidade canadense… eu não me sinto mais que minha casa é o Brasil. De fato, estou cada vez mais por fora dos assuntos vigentes: as novelas do momento, as músicas que dominam nas rádios/baladas, os jogadores de futebol ou atores mais conhecidos, os jargões populares, a música brasileira… Isso chega por mim aos poucos, filtrado lentamente via redes sociais. Me sinto totalmente por fora na maior parte do tempo, alienado.
No final das contas é uma questão simples de aritmética, na real. Vim ao Canadá com 19 anos, e estou aqui desde 2003. Comparado ao tempo em que passei no Brasil, 10 anos é mais da METADE da minha vida brasileira. Se você considerar que sua vida realmente consciente só começa mesmo lá pros 6 ou 7 anos, podemos concluir sem exagero que eu passei quase tanto tempo no Canadá quando passei no Brasil. E em breve, eu terei vivido mais tempo no Canadá, do que no Brasil — e quando isso acontecer, algo que é um fator tão determinante de quem eu sou, que significou boa parte da minha vida (ou seja, o fato de que nasci e vivi no Brasil) vai se tornar um detalhe secundário.
E embora seja meio triste essa sensação de “desligamento” da sua terra-mãe, é meio inevitável no processo de adaptação de outro país.

June 15, 2014
Confissões de um baderneiro escolar
Quando moleque (e não apenas quando moleque), eu era incrivelmente bagunceiro e desleixado.
Eu era um pirralho muito irriquieto, e que fazia de TUDO pra arrancar risadas dos coleguinhas de sala. Os professores me odiavam; passar o dia escolar inteiro sem ser expulso de sala pelo menos em UMA das aulas era TÃO raro que minha mãe me fazia promessas tipo “se você passar um mês sem ir pra sala da coordenadora eu comprou um SNES pra você” (em vários meses diferentes!) sem jamais ter que se preocupar com a logística de cumpri-la.
Era um win-win pra ela, porque a esperança de ganhar um SNES me mantinha na linha por um bom tempo, mas o ímpeto galhofeiro era tão potente que geralmente no finalzinho do prazo eu tocava o puteiro de novo e ela tinha justificativa legal pra não me dar porra nenhuma.
Uma das minhas palhaçadas de classe clássicas era o “Nômade”. E sim, eu realmente usava esse termo pra definir a brincadeira — devo ter lido em algum livro de história na semana em que bolei o chiste.
Consistia no seguinte: quando o professor virava pro quadro negro (um minuto de silêncio por uma geração inteira dos meus professores que devem ter morrido de câncer após inalar tanto pó de giz), eu levantava minha carteira e a movia alguns metros pra trás. Dependendo da geografia da sala, dava pra me movimentar relativamente sem muitas obstruções, e a graça era ver quão longe eu chegava antes que o professor se emputecesse e inevitavelmente me expulsasse da classe

Uma gincana escolar em 1994 (que nosso grupo ganhou, aliás). A seta verde sou eu. A seta vermelha aponta pro @ericxlive, um grande amigo infantil que eu tenho contato até hoje. Nos conhecemos na alfabetização, há mais de vinte anos!
Um dos reflexos da minha vagabundagem escolar eram as condições lastimáveis do meu material escolar. Quando criança, os flipbooks me cativavam, e então eu convertia as margens de todos os meus livros da escola em flipbooks rudimentares. Você não podia pegar um livro meu de matemática ou ciências sem ver bonequinhos palito pulando, fazendo polichinelo ou qualquer outra atividade fácil de desenhar nas beiradas das páginas.
Um outro hábito semi-artístico que eu nutria era desenhar adereços por cima das ilustrações de personagens do nosso folclore histórico. Se havia um retrato em bom tamanho do Santos Dumont, por exemplo, o ímpeto de desenhar óculos, uma barba, e as vezes band-aids (?) na cara do Pai da Aviação era absolutamente irresistível — imagino até que fosse tão irresistível quanto sua gana por ganhar os céus franceses no começo século 20, então por termos paixões de igual intensidade eu acho que ele me perdoaria.
http://www.youtube.com/watch?v=kv5Q6mjGpzU
O problema era quando meu pai via essas putarias no meu material. De vez em quando, meu pai chegava em casa puto com alguma coisa, e talvez pra manter o momentum da raiva, ele exigia inspecionar nosso material escolar pra avaliar seu estado de conservação e o status das tarefinhas de casa.
Aí que tá. Meu irmão era o comportadinho, o almofadinha que se comportava na sala (ou seja, não tinha histórias geniais pra contar durante a aula inteira), nunca brigava com os coleguinhas (ou seja, não tinha a fibra moral para defender com os punhos sua convicção na superioridade do SNES sobre o Mega Drive), não era chutado de sala quase todo dia (ou seja, não deixava os professores invejosos de sua popularidade na sala). Até penteado pra escola ele ia.
Essa foto ajuda a ilustrar a diferença nos nossos temperamentos. Às esquerda, meu irmão: comportado, engomadinho, servindo como pajem no casamento da minha tia. Às direita, eu: estragando uma foto familiar com uma lagartixa de brinquedo com a qual eu planejava assustar minha avó. Repare a mão da minha tia, tentando impedir que eu estragasse o registro fotográfico familiar com a parada.
Então. Meu pai pegava o material do Daniel e lá estava tudo bonitinho, com as tarefas de casa terminadas, o encapamento dos livros impecáveis, como se tivesse acabado de ser feito por minha mãe.
Aí ele ia ver o meu. O encapamento todo rasgado e riscado, com super heróis desenhados em todo canto. Animações de bonequinhos pulando em uma cama elástica nas margens. Uma ou outra página julgada como “inútil” estava em falta, certamente usada como matéria prima para um aviãozinho de papel no dia anterior. Ao abrir as páginas do livro de história, meu pai era recepcionado por um Dom Pedro II de óculos escuros, fumando cachimbo, com uma cartola e com uma inexplicável tatuagem de uma caveira na bochecha. Minha reinterpretação da figura do nosso último imperador certamente não foi apreciada pelo meu pai.
Minha vida escolar foi inteiramente assim.

Izzy Nobre's Blog
- Izzy Nobre's profile
- 5 followers
