Izzy Nobre's Blog, page 32
October 22, 2014
3 caras que eu ficarei muito triste quando morrerem
Em menos de um mês eu terei TRINTA FUCKING ANOS de idade. Trinta anos, mano. Quando meu pai tinha essa idade eu já tinha 6 anos. Eu tou velho.
Muitas coisas vão acontecendo à medida que você envelhece. O primeiro estágio é quando as conversas passam a ser sobre assuntos de faculdade, em vez da escola de antes. Depois, vemos todos os amigos falando sobre empregos — lembra como era estranho?
Depois veio a era dos casamentos. Todos os amiguinhos começaram a se casar. Houve uma época em que isso era estranho (“nossa o fulano casou!!!!!”); já hoje parece que TODOS os meus amigos são casados. E agora, todos estão tendo filhos a respeito dos quais eu sou informado através de dois milhões de fotos no Facebook por dia.
Mais cedo ou mais tarde (mais tarde, se possível) chegaremos na era em que nossos pais, artefatos da geração antes da nossa, começam a morrer. E algum tempo depois disso, seremos nós mesmos.
Em um período intermediário dos nossos pais e nós mesmos, veremos ídolos já em avançada idade batendo as botas. E estes são os que mais me deixarão triste quando eu descobrir da sua morte.
Stan Lee
Stan Lee é simplesmente lendário. O cara foi responsável por criar todo um universo de heróis de quadrinhos (com participação do Kirby e do Ditko, sim, eu sei!) que estão mais populares hoje do que jamais foram antes. Ele essencialmente transformou a Marvel, que era uma pequena editora, numa imensa empresa de criações multimídia.
O cara já era idolatrado pelos nerds de quadrinhos; nos anos 2000, seus cameos obrigatórios em filmes de super heróis cimentaram no mainstream a persona do cara como o velhinho gente boa que nos deu aqueles personagens.
O cara tá com 91 anos. A julgar pelas suas aparições na mídia, tá super bem. Mas eu já me preparo psicologicamente pro dia em que noticiarão sua morte.
Stephen Hawking
Volta e meia a raça humana é abençoada com pessoas que elevam o nosso conhecimento a níveis completamente absurdos. Tivemos Isaac Newton, por exemplo, que eu considero o sujeito mais inteligente que já pisou neste planeta. Veio também o Louis Pasteur, que transformou o leite num alimento delicioso e saudável (antes da pasteurização um copo de leite era praticamente um tubo de ensaio de bactérias). Einstein é um exemplo óbvio.
E o Stephen Hawking está do lado desses caras.
A história de superação dele é praticamente matéria-prima pra lendas. Nos anos 60 o cara foi diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica, e deram 2 anos de vida pro cara. O cara mal tinha completado 21 anos e recebeu uma sentença de morte.
Hoje, 5 décadas depois, o Stephen Hawking ainda tá aí. É bastante provável que tenha sobrevivido aos médicos que deram seu diagnóstico, e não apenas “sobreviveu” — o cara revolucionou o que conhecemos sobre física e o universo. Sabia que até livros infantis ele escreveu — e podendo mexer basicamente apenas alguns dedos?
Eu nunca comentei isso aqui no site, mas foi justamente seus livros mais populares no mainstream — Uma Breve História do Tempo e O Universo Numa Casca de Noz foram grandes inspirações na minha vida acadêmica (cursei bacharelado em Física no Brasil, antes de largar o curso por causa da imigração pro Canadá).
Hawking tá com 72 anos – o que não parece uma idade tão avançada, até que você considera os inúmeros problemas de saúde que ele tem. É como se eu ou você vivessemos até os 200 anos.
Sílvio Santos
Se você nasceu no território nacional eu não preciso gastar adenosina trifosfato digitando aqui a biografia deste que eu considero o grande empreendedor brasileiro. Sílvio Santos é simplesmente um colosso. E em pensar que quase tivemos este homem como presidente.
//www.youtube.com/watch?v=7CFj7Fgh2EI
Nascido em lar humilde, o maluco trabalhou como camelô aos 14 anos e hoje tem um patrimônimo de R$ 2.7 bilhões de reais. Eu ouviria QUALQUER conselho dele, o empresário claramente sabe o que faz. Se ele falasse que eu tenho que começar a fazer review de maquiagem no meu canal, no dia seguinte eu estaria lá fazendo vídeo de haul da Sephora.
Mas o cara não é apenas rico. Grandes merdas ser rico, o Donald Trump também o é, e é um filho da puta insuportável. O esquema do Sívio é que além do tino comercial, ele tem um incrível carisma — tanto que é não só o dono da emissora como também um dos principais e mais amados apresentadores dela (algo que até onde sei é inédito no mundo).
A geração mais nova talvez não saiba, mas cês tão ligado que até disquinho com histórias infantis o maluco gravou?
Essa foto é da coleção da minha avó, que comprou todos para os meus tios quando eles eram crianças. Só de passear pela pasta onde salvei essas fotos, aliás — Ida ao Brasil (2009) — me bate uma saudade incontrolável da minha família.
O Sílvio tá com 83 anos. Muita energia e saúde ainda, a julgar por suas participações nos programas do SBT, ainda bem.

October 20, 2014
[ A Hora da Justiça ] Tapa de pizza aqui, soco na cara ali
Caras, eu nem ia atualizar o HBD hoje, e com bom motivo: estou cansado pra caralho. Fui nadar com total indisposição — pra provar pra mim mesmo que consigo me ater ao compromisso de me exercitar mesmo quando não estou super com vontade –, e no final de miseráveis 30 minutos eu estava acabadíssimo.
Não me arrependo. Enfim.
Passeando pela internet eu encontrei o vídeo abaixo, e aí eu pensei “foda-se que são 10:30 da noite e como se não fosse o bastante o fato de que eu estou caindo de tanto cansaço ainda tenho que acordar às 5:30 amanhã pra um plantão. Preciso mostrar isso pra galera do HBD“.
Vamos acompanhar juntos.
A cena se passa numa lanchonete qualquer, no que parece ser um clima de fim de balada. Cambada de playboyzinho levemente (ou não tão levemente) embriagados e testando os limites uns dos outros. Já vi esse filme.
Geralmente quando narro essas cenas eu pego um detalhe da indumentária dos protagonistas e uso isso como nome do personagem. Nesse caso ambos estão de camisa preta e boné, o que desafia minha capacidade de dar apelidinhos pras pessoas, mas eu gosto de desafios. O sujeito com a pizza eu chamarei criativamente de O Da Pizza. O rapaz agredido será o Justiceiro.
O Da Pizza começa a cena mandando um semi-riso pra câmera do colega, o que deixa claro que o que estávamos prestes a ver foi totalmente premeditado. Talvez por algum atrito anterior a filmagem, O Da Pizza elaborou o plano de humilhar o Justiceiro.
O Da Pizza se aproxima do Justiceiro, desarmando-o com a aparente cordialidade de um aperto de mão. Com a guarda baixa, o Justiceiro nada consegue fazer para defender-se do tapa. Um tapa perfumado de orégano, sim, mas um ataque à sua hombridade de qualquer forma.
O Da Pizza recua satisfeitíssimo consigo mesmo, certamente pensando “tomara que meu broder tenha enquadrado legal o vídeo, vai ficar IRADO no YouTube“. O Justiceiro começa imediatamente a maquinar sua vingança, embora ele mal apareça no frame da gravação, você o vê preparando o contra-ataque — ele dá o casaco pra um amigo e aparentemente tenta convencer uma garota a o deixa-lo livre.
A garota, certamente portadora de carteirinha do clube dos Deixa Disso, tenta criar uma barreira entre O Da Pizza e o Justiceiro. O Justiceiro perde a paciência, empurra a menina pro lado e desce o punho na cara d’O Da Pizza.
É um soco voraz, que faz jus ao nome do socador, perfeitamente capturado pelo microfone do celular do amiguinho. O vídeo continua e vemos que o soco tirou sangue d’O Da Pizza, que quando recuperar suas capacidades mentais irá adicionar ao seu caderininho mental a importante dica de jamais dar tapas em estranhos, seja com fatias de pizza de calabresa ou nao.
8.5 pontos na Escala Capitão América de Justiça. Perde pontos porque saiu correndo em seguida como se tivesse feito algo errado/estivesse com medo da represália.

October 19, 2014
[ Frugalidade ] Qual o maior inimigo das suas finanças? O meu é…
…comer fora.
Capaz de ser o seu também.
Comer fora é, sem QUALQUER SOMBRA DE DÚVIDAS, o maior obstáculo na minha vida financeira, e eu preciso desenvolver disciplina pra dominar.
Não é apenas um vilão do meu bolso, aliás — comer fora (ainda mais com a frequência que eu como) também desgraça minha saúde e aparência de forma geral, mas vamos resolver um problema de cada vez, porra.
A causa por trás desse problema é dupla: uma crônica falta de tempo, e a escravidão da conveniência. Não bastasse o fato de que a minha agenda é enlouquecedora (sabe aqueles filmes em que o cara workaholic negligencia a própria família pra no final aprender uma importante lição? Tou nesse nível), eu sou também muito preguiçoso.
“Escravo da conveniência” é um termo mais chique, mas preciso ser honesto com vocês: a verdade mesmo é que sou preguiçoso. Eu morro de preguiça de preparar almoço pra levar pro plantão, por exemplo.
Se eu acordo, me arrumo pra sair pro hospital, e ao preparar uma marmitinha na cozinha eu percebo que preciso, por exemplo, fazer arroz, eu jogo as mãos pro alto e falo “foda-se, vou almoçar no restaurante do hospital hoje“. O agravante é que fazer arroz é a tarefa mais fácil do mundo; talvez sequer condiz chamar isso de uma “tarefa”.
Tenho uma daquelas panelas elétricas que é só jogar o arroz, a água, alguns temperos, apertar o botão e pronto. O simples fato de que eu não posso tirar arroz já pronto da geladeira e montar um pratinho pra levar pro plantão muitas vezes me condena a comer fora. É totalmente injustificável.
O problema é que comer fora aqui e ali, especialmente quando você paga com cartão (seja débito ou crédito) parece aquela despesa intangível. Não sei você, mas eu basicamente não paro pra realmente avaliar o gasto quando estou usando cartão. Isso não sou eu falando, não — é a American Psychological Association. Nesse estudo de setembro de 2008, foi notado que de fato pessoas gastam mais quando não usam dinheiro vivo.

Fig1: O demônio
O que acontece é que você não vê efetivamente o dinheiro indo embora como quando paga com espécie, por exemplo. Cartões ainda são relativamente recente na história humana e a evolução psico-social ainda não nos deu a habilidade de associar pagar com cartão a realmente estar gastando dinheiro.
Quando tu abre a carteira e tira uma nota de 10 reais, depois mais uma, e depois uma terceira pra então pagar uma conta de 30 reais, há uma sensação gritante de “MEU DINHEIRO ESTÁ INDO EMBORA SOCORRO ME AJUDEM” que não é exatamente a mesma quando se paga com plástico.
Ou seja: plástico é seu inimigo. Com cartão de débito, pelo menos você gasta o que tem. Gastar no crédito (e com isso, acumular juros) é ainda pior; quanto mais rápido você se livrar do seu cartão de crédito, melhor pra sua vida.
Isso deveria ser sua prioridade, aliás, caso não seja.
E pensando nos meus gastos com comida eu resolvi fazer uma experiência aqui. Um dos principais passos na caminhada da frugalidade é tirar, na ponta do lápis, QUANTO exatamente você anda gastando com supérfluos como comer fora, que no meu caso é o principal culpado.
E o resultado foi estarrecedor. No ano de 2013 (demorou um bocado pra calcular isso tudo manualmente, puta que pariu!) eu gastei exatamente CAD$ 3932.88 comendo fora, ou seja, o equivalente a R$ 8488.69. Eu estou em choque com isso. Com essa grana eu poderia ter TRANQUILAMENTE feito as tais viagens que eu tanto quero!
Nem tudo isso é comendo no trabalho, evidentemente. Saídas com a esposa, uma ida ao shopping que se estende em um lanche não antecipado na praça de alimentação, esse tipo de coisa entrou na conta.
Mesmo assim, é de causar um arrependimento no fundo da alma. Não apenas eu meio que joguei fora 4 mil dólares no ano de 2013 (puta merda, mano…), esse hábito desgraçado ainda se manifesta em calças que não fecham mais e em camisetas que eu preciso doar porque não comportam mais meu bucho.
Este é o primeiro e mais importante passo na minha jornada pessoal da frugalidade: abrir mão da conveniência de comer fora.
Mas COMO exatamente fazer isso? Bem, experimentando bastante aqui eu achei umas soluções BEM interessantes. Mas isso é assunto pro próximo post!

October 18, 2014
5 apps iOS que uso com mais frequência
Como um usuário hardcore da plataforma iOS, eu experimento inúmeros aplicativos numa busca incessante de apps que melhor atendam às minhas necessidades. Por causa disso, estou sempre compartilhando no Twitter screenshots de apps e comentando sobre suas funções.
O resultado disso é que eu virei uma espécie de expert acidental em apps de iOS. Todo dia, literalmente TODO DIA alguém me manda mensagens perguntando qual o melhor app pra fazer isso ou aquilo. Então, resolvi fazer o texto que vocês tanto pedem!
Pocket (Digrátis)
Antigamente chamado “Read It Later”, o app serve exatamente para aquilo que o antigo nome descrevia — tu joga lá links interessantes pra ler mais tarde.
Há extensões pra todos os navegadores, então quando tu abre aquele post particularmente interessante mas que tá sem tempo de ler no momento, basta clicar num botão no browser pra enviar pro app.
Tudo bem que o app acaba virando um tupperware internético (isso é, tu joga coisa lá e nunca mais confere), mas com alguma disciplina o Pocket é uma ferramenta daora pra ir aniquilando aquelas cinquentas abas abertas no Chrome que você prometeu pra si mesmo que no fim de semana finalmente lerá.
ComicZeal (US$4.99)
Esse aqui é O app pra ler HQs. Não há aplicativo melhor em nenhuma loja virtual (e sim, eu procurei no Android também — tive um Nexus 7 por duas semanas. Longa história).
Basicamente, o ComicZeal te permite ler quadrinhos em formato .cbr/.cbz, que é basicamente o .mp3 das revistinhas: o formato padrão da internet. Organiza as séries direitinho (seja lá de onde você tenha baixado os quadrinhos) e tem todas as features que você precisa — que não são lá muitas, afinal de contas, o app é só pra ler quadrinhos né.
Entretanto, ele tem uma função que não vi em nenhum outro: se você der um certo nível de zoom na página e segurar por dois segundos, o app trava todas as próximas páginas nesse mesmo nível de zoom. Assim, você consegue maximizar a área dos painéis e remover bordas das páginas.
Com o iPad, eu leio vendo a página inteira, então a função é bacana mas não tão necessária. No iPhone 6 Plus, ela é ESSENCIAL. A propósito, decidi que a melhor forma de ler HQ no iPhone 6 Plus é dando um pan de cima pra baixo, assim:
Vou dar um exemplo do esquema de travar o zoom. Tá vendo essa mínima borda aí na lateral? Ela foi reduzida graças ao nível de zoom que eu setei. A página na íntegra é assim:
Na tela do PC parece que não faz muita diferença, mas lendo numa tela pequena esse nível de zoom mostrando tanta borda atrapalha um pouco a leitura, porque exibir a página inteira dessa forma torna os diálogos fiquem menores.
Em todo app de quadrinho tu pode mexer no zoom da página, mas o ComicZeal é o único que mantém esse nível quando você passa de página. Isso é uma killer feature, confie em mim: ficar reposicionando o zoom a cada virada de página enche o saco.
(Pelo menos na época que fiz a decisão definitiva pelo ComicZeal, nenhum outro app tinha isso. De repente é capaz que hoje eles tenham)
TeamViewer (Digrátis)
Certamente você talvez tenha pensado “Mas Izzy, por que você mostrou um screenshot do seu PC? Este é o post de APPS DE I-PHONE™ e você está colocando um app de Windows. Isso é uma trapaça, e eu não pago o seu Patreon pra este tipo de desonestidade!”
Então, isso é um screenshot do iPhone, sim. Estou rodando o TeamViewer, que permite que eu controle minhas máquinas remotamente. Isso é uma mão na roda INACREDITÁVEL que já salvou minha vida inúmeras vezes.
Ou é apresentação de trabalho que eu esqueci de anexar a um email, ou um recibo de passagem aérea que eu imprimi e esqueci na impressora, ou um protocolo de matrícula da faculdade que eu enviei pra mim mesmo por email mas a formatação ficou toda cagada, vídeo que eu deixei upando no YouTube quando saí de casa mas que deu erro, já passei por várias situaçoes em que precisei logar remotamente no meu PC pra resolver de um pepino.
E na tela acima, como você pode ver, eu poderia até mesmo dar ajustes na edição de um vídeo através do Vegas. Funciona melhor do que você deve estar imaginando, porque eu já tive que fazer isso. Um dos QDIs foi parcialmente editado pelo meu celular enquanto eu esperava que minha mulher experimentasse roupas numa loja. True story.
Uns 4 ou 5 anos atrás, as soluções semelhantes exigiam configurações chatíssimas de VNC e tal. O TeamViewer por outro lado é super descomplicado.
Duolingo (Digrátis, e olha que podia facilmente ser pago pela qualidade e utilidade do serviço que ele oferece)
Já recomendei o Duolingo aqui uma vez, e ele merece facilmente entrar neste post. Basicamente, este app é um curso grátis de línguas na palma da sua mão. A versão mais recente até mesmo te permite treinar a pronúncia, como mostrei no screenshot acima.
O Duolingo é simplesmente incrível. Recomendo com muita força a todos.
Evernote (Digrátis)
O Evernote é um caderno de anotações online que sincroniza suas notas em todos os seus aparelhos — no meu caso, rascunhos dos posts aqui do site e scripts do QDI, que eu escrevo no PC e leio do iPad, usando-o como um teleprompter rudimentar.
Pra melhorar tudo, os caras do Evernote disponibilizaram uma nova interface web limpinha, sem muitas distrações, que eu acho excelentíssima pra manter o foco. É uma ferramenta que eu assino embaixo MESMO.
Se você gosta de escrever, ou está fazendo algum curso, o Evernote é basicamente obrigatório.
Que app você me recomendaria?

October 16, 2014
O acidente de Byford Dolphin, provavelmente a pior coisa que já aconteceu com alguém
Todos temos dias ruins de vez em quando. Se você já bateu o carro, perdeu o emprego, teve uma morte na família ou tomou uma bomba desgraçada naquela prova em que você precisava ter um bom rendimento pra passar numa certa disciplina, você já experimentou uma dose generosa do desalento que acompanha o quebrar do espírito humano. Talvez HOJE MESMO uma (ou múltiplas?) dessas coisas tenha acontecido com você.
Quando tais coisas acontecem, uma das técnicas frequentemente usada pelos broders é dizer que “as coisas poderiam ser pior, mano!”; como evidência disso, ofecerem cenários hipotéticos que seriam de fato piores do que a sua condição atual. “Sei lá cara, podia você ter pego sua mulher na cama com o seu cachorro!” ou outros cenários absurdos são imaginados pra fazer você não sentir na merda. Bem, frequentemente estes cenários fogem tanto do reino da realidade que fica até difícil considera-los como exemplo de que de fato as coisas poderiam ser pior.
Hoje eu venho trazer um exemplo melhor que ser chifrado pelo Totó. E o exemplo é o seguinte: pelo menos você não estava na Byford Dolphin quando ela explodiu.
A Byford Dolphin é uma plataforma de petróleo construída nos anos 70. Atualmente ela é operada pela BP, a petroleira infame pelo vazamento no Golfo do México.
Então. Em 5 de novembro de 1983 (exatamente um ano antes do meu nascimento; marque no calendário pra não esquecer aliás) a plataforma estava perfurando perto da Noruega.
Neste dia terrível (e é foda, bem que os caras podiam ter escolhido outra data né), as leis naturais que regem o nosso universo deixaram patente que não se importam, nem um pouquinho só, com o bem estar da raça humana. Ou pelo menos com uns quatro mergulhadores em particular que estavam trabalhando lá naquele dia.
É o seguinte. Pra trabalhar nas profundidades necessárias pra puxar petróleo/gás natural do fundo do mar, os caras entram em batisferas (também chamados de “sinos de mergulho”, de acordo com meus seguidores no Twitter) pra descer até lá embaixo. A pressão da água lá embaixo é mais alta do que a sua dívida do cartão de crédito, então pra evitar que a batisfera seja amassada feito uma latinha de guaraná Kuat, a pressão dentro dela é altíssima — 9 atm, pra ser exato, ou 9 vezes a pressão da nossa atmosfera ao nível do mar.

Uma batisfera similar.
Então. O problema é que ao puxar os mergulhadores pra superfície novamente, o diferencial de pressão é ABSURDO. Por isso, existe todo um sistema de equalização atmosférica pra permitir que os mergulhadores saiam do ambiente altamente pressurizado. A batisfera é conectada à plataforma, mas as portas que separam os dois ambientes só são abertas quando um supervisor averigua que a pressão já foi equalizada.
E aí está a desgraça.
Naquele fatídico dia 5 de novembro, um dos mergulhadores fez merda e abriu uma das travas das portas da plataforma antes que a pressão tivesse sido equalizada. O ar da cabine sob 9 atmosferas saiu violentamente pras outras câmaras, matando instantaneamente toda a galera que estava no ambiente. Mas isso não é a pior parte.
Um dos caras se chamava Truls Hellevik. Ele estava DO LADO da porta por onde o ar passou, ou seja, sofreu a maior exposição dos efeitos da descompressão explosiva. Sabe quando usa-se o termo “explosivo” como um modificador hiperbólico? Tipo uma notícia explosiva, ou um temperamento explosivo.
Neste caso, quando a gente diz “descompressão explosiva”, é exatamente disso que estamos nos referindo. O Hellevik literalmente explodiu de dentro pra fora por causa da expansão súbita dos gases dentro do corpo dele, tamanho era o gradiente de pressão.
Vejamos o que a wikipédia tem a nos dizer:
All of his thoracic and abdominal organs, and even his thoracic spine, were ejected, as were all of his limbs.
Em outras palavras, foi essencialmente a versão mundo real disto aqui.
E não é só isso. Além de ter EXPLODIDO, os restos mortais do pobre Hellevik foram expelidos por uma passagem de menos de 60 centímetros de diâmetro formada pela porta emperrada da câmera onde ele estava, fazendo dele provavelmente o único infeliz na história da humanidade a ser explodido e em seguida moído.
Foi Hellevik pra tudo quanto era lado, basicamente pintando o interior das câmaras com suas entranhas. Encontraram pedacinhos do cara numa torre 10 metros acima de onde a explosão aconteceu.
Pra você ter uma noção ainda melhor da desgraça, o sangue do cara ferveu instantaneamente, tamanha foi a brutal diferença de pressão a que o corpo dele foi submetido.
Então. Seja lá o que te aflige no momento, podia ser pior.

October 12, 2014
[ Vídeos da Semana ] O perigo dos ET, resenha de Alien, e Skynet vem aí!
Oi amigos! A semana foi movimentada hoje lá no meu canal. Primeiro, fiz esse vídeo elaborando as consequência de um possível contato alienígena com a raça humana (spoiler: acho que eles iriam nos foder):
Depois, ainda com medo de ETs, fiz uma resenha breve do filme Alien, de 1979, no que será um novo quadro no meu canal: resenha de filmes! É algo que já fiz muito no passado, mas agora terá um programa específico.
Finalmente, eu peguei este post e transformei num vídeo:
Repare aliás que tem muita gente levando o vídeo super a sério. Não fale nada pra eles.
Como BÔNUS, eu gravei minha primeira livestream ever. Também na antecipação do lançamento do Izzy Mode, meu programa de games, joguei Settlers e Command and Conquer pra galera.
Há muitos jogos de PC antigos que eu acho que não recebem atenção dos youtuber que falam sobre games, então decidi eu mesmo falar deles. Aguardem a estréia do Izzy Mode!

October 10, 2014
[ Joguinho viciante da semana ] The Room Two (e porra, compra o 1 também, vai por mim)
Você precisa comprar The Room Two urgentemente. Aliás, como diz o título do post, compre logo o primeiro também. Apenas confie em mim; confie no fato inegável de que eu jamais recomendei algo ruim aqui no HBD.
E veja só este disclaimer: The Room nem é o tipo de jogo que eu tradicionalmente gosto.
Não me entenda mal: eu sempre gostei muito dos point and click adventure, mas meu já documentado déficit de atenção acaba me atraindo mais aos joguinhos casuais, sem comprometimento, que dá pra jogar em poucos minutinhos.
Quando vi as resenhas de The Room e The Room Two — todas universalmente positivas; de fato a ÚNICA reclamação entre os críticos é que acaba muito rápido, quando você já tá no tesão máximo pelo game –, pensei “que bosta: mais um jogo bacana que eu SEI que não vou jogar porque sou um merda que não consegue prestar atenção em nada por muito tempo“.
Além disso, tem o fato de que o mote principal do jogo — puzzles – sempre me fazem sentir o homem mais burro do mundo. Entretanto, The Room consegue ser desafiador o bastante pra se manter interessante, sem passar pro lado “preciso ser o Professor X pra descobrir o que diabo o designer tinha em mente quando bolou a solução desse quebra-cabeça, porque tá foda”.
Mas vamos começar do começo. The Room é um jogo que segue os moldes do clássico (mas que eu nunca joguei) Myst – você explora, em primeira pessoa, um ambiente misterioso repleto de artefatos estranhos. Ativando este ou aquele botão e girando esta manivela e conectando a repimboca à parafuseta, tu vai avançando na fase.
Além dos cenários lindamente renderizados e texturizados e dos sons que se encaixam perfeitamente com a “ação” do jogo (nunca imaginei que o ruído de uma gaveta abrindo ou uma fechadura girando fossem tão satisfatórios), o pano de fundo da série é um mistério deliciosamente HP Lovecraftiano de artefatos arcanos possivelmente amaldiçoados, organizações secretas tentando estabelecer contato com forças demoníacas, e mensagens deixadas por homens que falharam em elucidar os mistérios da parada.
Tou na última fase do The Room Two (que recentemente baixou pra 99 centavos na AppStore), e aí correi correndo arrependido pra AppStore pra comprar o The Room 1 que eu negligenciei todos esses anos, como quem descobre que a garota que ele sempre ignorou no colegial é agora modelo da Playboy.
Os dois jogos oferecem uma experiência ímpar, especialmente por esse preço. Embora não seja EXATAMENTE um jogo de terror, tem uns bons sustos aqui e ali. Minha mulher ficou alucinada pela parada e me proibiu de jogar sem ela por perto pra ir acompanhando/dando pitaco na solução dos puzzles. Melhor ainda, o jogo funfa perfeitamente com AirPlay, então jogamos em 58 polegadas e é uma maravilha.
Compre sem medo de ser feliz. Mano, eu sou tão fã do Lovecraft que bastava a descrição do jogo mencionar essa vertente da narrativa que eu comprava na hora já.
Ah, tem pra Android também, pelo mesmo preço!

October 8, 2014
10 jogos que marcaram a minha infância (parte 2)
A parte 1 tá aqui, caso você já tenha esquecido. Continuando os jogos que marcaram minha vida, sem nenhuma ordem de preferência.
The Dig
The Dig é tão merecedor de estar nesta lista quanto Full Throttle, ou talvez até mais. Este point and click adventure classiquíssimo conta a história de 3 astronautas (originalmente 4, mas isso foi alterado na versão final do jogo) que, ao tentar salvar a Terra de um asteróide errante — 3 anos antes de Armageddon, vale ressaltar! — são transportados pra um planeta distante e abandonado. Resolvendo puzzles ao longo do caminho, os 3 vão descobrindo o que aconteceu com o planeta e seus habitantes, além de arrumar uma forma de voltar pra casa.
Eu adoro sci fi, adoro contos de pessoas presas em locais inóspitos e distantes (estou lendo The Martian neste momento, que trata bem disso, e irei em breve resenhar procês!). The Dig é um jogaço, e o fato de que foi produzido pelo Steven Spielberg certamente te convencerá disso caso você já provavelmente não soubesse.
Plants vs Zombies
Existe um folclore corrente no 99 Vidas que narra a história de Easy Nobre, o jogador noob que nunca zerou nenhum jogo na vida. É verdade que hoje em dia meu TDAH complica bastante de me envolver profundamente com um jogo a ponto de zera-lo (especialmente os jogos recentes), mas essa brincadeira é um patente exagero. Um exemplo disso é Plants vs Zombies.
Em Plants vs Zombies (cujo nome original seria Lawn of the Dead, até o George Romero implicar legalmente com a paródia) você usa vegetação armada pra combater os mortos-vivos. O visual cartunesco é muito charmoso, o gameplay é daqueles que praticamente te obriga a jogar “só mais uma fase” até perceber que já são 3 da manhã, e o jogo tem bastante replay value.
Eu devo ter zerado esse jogo umas 5 vezes — uma pra cada plataforma onde eu o joguei. O clássico de tower defense é um daqueles jogos que leva inúmeros prêmios e você acha merecidíssimo. Uma pena que a franquia foi sequestrada pela EA, que a transformou num caça-níqueis freemium odiável.
(Eu não era mais criança quando joguei PvZ mas entra merecidamente nesta lista)
Heroes of Might and Magic III
Existem dois tipos de pessoa pra mim. Pessoas que gostam de Heroes or Might and Magic 3, e pessoas que eu simplesmente não quero na minha vida.
Conheci a série através do segundo jogo da franquia, mas foi o terceiro que eu realmente joguei PRA CARALHO. E quando eu digo PRA CARALHO, estou querendo dizer que devo ter jogado entre 500 e 600 horas desse jogo ao longo dos anos. É possivelmente o jogo que eu MAIS joguei na vida; desde 1999 eu jogo PELO MENOS umas 2-3 horinhas toda semana. Só de descrever o jogo aqui me dá vontade de ir jogar.
HoMM 3 é um jogo de estratégia turn based, ou seja, tu faz teus movimentos, e depois o oponente faz os dele. Você começa num castelo de uma das 8 facções, cada uma tendo estratégia, unidades e habilidades diferentes. Tu vai explorando o mapa (lindamente ilustrado, diga-se de passagem), derrotando monstros e outros personagens centrais da história, conquistando recursos, e por aí vai.
Eu nem curto esse cenário de fantasia e ainda assim vou viciado no jogo, pra você ver!
Abuse
Esse aqui é bem underground, e realmente merece uma menção nessa lista. Abuse é um jogo de 1995 com uma premissa de controle que hoje é lugar comum, mas na época inovou o gameplay dos jogos de tiro — você controla o movimento do protagonista Nick Vrenna (um presidiário numa colônia penal futurista) com o teclado, enquanto aponta a mira dele com o mouse.
Era difícil de dominar no começo, mas rapidamente o gameplay se tornava muito intuitivo. O visual claustrofóbico, os monstros claramente inspirados no xenomorfo* de Alien, e principalmente os sustos que você levava tornaram a parada uma experiência gamer marcante.
Uma curiosidade é que o jogo saiu em 2009 pra iPhone com o nome Alien Abuse, feito por um cara que se aproveitou do fato de que o código do jogo é open source desde os anos 90. O problema é que Dave Taylor (um game dev famosinho que era um dos donos originais da empresa que fez o jogo) não gostou e armou treta com advogados a tiracolo e o jogo saiu da AppStore. Eu acompanhei o drama no fórum do Touch Arcade na época.
O próprio Dave Taylor lançou então Abuse Classic na AppStore — dois dólares mais caro, cheio de bugs, e o abandonou logo em seguida. Que filho de uma puta.
*Esse não é realmente o nome da criatura de acordo com o cânon do filme, mas deixa pra lá.
Sim City 2000
Só de ver esse screenshot eu já fico saudosista. Sim City 2000 foi, por muito tempo, aquele famoso jogo que você sempre ouviu falar mas nunca teve a oportunidade de jogar. Eu via as propagandas nas revistas de games (uma delas tinha uma tagline que dizia algo como “não aprova o trabalho do seu prefeito? Tome o emprego dele!” ou algo assim) mas nunca tive nem um demo da parada pra ver como era. As screenshots pixelizadas nas revistas era tudo que eu tinha.
Até que o famoso Tio Monte, que já mencionei aqui no site, apareceu um dia lá em casa com Sim City 2000 (além de outros jogos) num CD. E o resto é história.
A versão que ele me deu tinha o Urban Renewal Kit, e passei muitas tardes após a escola desenhando prédios em foram de piroca.
Você deve ter percebido que o gênero de estratégia é muito presente nessa minha lista, né? Sempre foi meu estilo favorito.
Agora me contem prontamente os seus 10 jogos que mais te marcaram!

October 6, 2014
Fui pai por um dia. Eis como foi a experiência
Como os senhores certamente sabem, eu tenho dois meio-irmãos do segundo casamento do meu pai. Estes são o Kevin e o David:
O Kevin, que há alguns anos eu apelidei de “Kevo” sem nenhum grande motivo lógico, tem 9 anos. O David, que o Kevin apelidou de “Davotron” (que mostra que ele manja mais de apelidos do que eu), acabou de completar um aninho.
Eu sempre gostei muito de brincar com os moleques, que me lembram muito meu contato com o Matheus — meu priminho de Fortaleza que foi o primeiro membro da família que eu vi crescer, com exceção da minha irmã. Sempre que vou na casa do meu pai, o Kevin corre pra me mostrar os joguinhos no iPad dele, pergunta que jogos eu tenho jogado, se eu vi aquele ou este outro filme.
E eu sempre cumpro meu papel de irmão mais velho — dou uns cascudos às vezes, brinco de lutinha, esse tipo de coisa. Pra ilustrar bem as nossas brincadeiras, veja este vídeo:
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Ou este, que filmamos momentos depois porque eu não queira desperdiçar esse excelente cospobre de Subzero que eu o ensinei a fazer:
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Subzero me pegou! View on Instagram
Então. Eu tinha prometido pro Kevin que “qualquer dia desses” — aquela data mítica que nunca chega, é excelente pra marcar coisas que você não quer ou pretende de fato fazer — ia levar ele pra sair. E esse dia chegou ontem.
Como tanto eu quanto ele assistimos o Lego Movie recentemente, achei que o melhor lugar pra leva-lo seria na loja de Lego que tem aqui em Calgary. Não tínhamos nem chegado no shopping ainda e já rolava cantoria da música tema do filme no carro:
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Everything is awesome
Chegando na loja de Lego, a primeira experiência paterna: a porra do pivete estava CONVENCIDO que eu compraria metade da loja pra ele.
Não, sério: ele tinha uma listinha mental de uns 5 kits diferentes que, na cabeça dele, já era GARANTIDO de eu dar de presente pra ele.
Foi realmente um pequeno vislumbre da paternidade. Até ontem, minha experiência com o Kevin era limitada a chegar lá na casa do meu pai, jogar o moleque pra cima (sempre sob olhar preocupado da mãe dele, que teme que eu vou arrebentar o teto com a cabeça do menino), gravar uns vídeos engraçados e então ir pra casa.
Enquanto ontem eu tive que jogar um balde de água fria na empolgação do pirralho, dizendo que “não tinha dinheiro pra comprar brinquedo”, uma frase que ouvi muito crescendo.
“Você pode usar seu cartão de crédito!” ele retorquiu. Fiquei atônito com a sagacidade do pirralho (e com seu não compreendimento de quão baixa é, na minha lista de prioridade, comprar brinquedo pra criança ou pior ainda, usar meu cartão de crédito pra isso).
Neguei novamente apressei-o pra fora da loja, porque eu estava morrendo de fome.
“Kevin, você quer comer onde?”
“Não sei…”
“Bom, decide aí. Onde tu quer comer?”
“Hmm… não sei.”
Essa conversa, com poucas variações, continuou por uns 3 minutos. Foram os 3 minutos mais longos da minha vida e suspeito que por pelo menos metade deles, o moleque estava me sacaneando com sua resposta indecisa. O moleque decidiu então que não estava com fome o bastante, então não queria nada.
“Você tem CERTEZA?”, questionei com ênfase clara no “certeza”.
“Tenho”, ele garantiu.
Ok então. Comprei um lanche e, mal havia sentado na praça de alimentação, Kevin havia decidido então que o meu lanche era comunitário. Ele passou a redistribuir minhas batatas fritas pra si mesmo.
“Porr… caramba Kevin!” (tento não falar palavrão na frente dele, e sempre falho) “te perguntei MIL VEZES se você queria alguma coisa e você disse que não!”
“Agora eu quero” ele falou, com um sorriso pilantríssimo no rosto. Aquele sorriso do moleque que já sacou que fazer piadinhas com tudo é a melhor forma de se sair de enrascadas. É como se eu estivesse vendo o Izzy Nobre de 1995.

Pior que eu meio que parecia com ele, também
Além de comer minhas batatas fritas, o Kevin passou literalmente o tempo inteiro fazendo isso:

Fico tonto só de ver o GIF
O moleque deve ser alimentado por uma bateria nuclear daquelas que a NASA instala em sondas exploratórias, porque puta que pariu mano. Vai ter energia assim na cara do caraio.
Depois, fomos para a YMCA. Decidi que ia ensinar o pirralho a nadar. Na pior das hipóteses, sou certificado como Emergency Medical Responder, então morrer ele provavelmente não morreria. Arrumei as coisas, pus numa mochila, e dei pro moleque e falei que ele estava encarregado da missão de guardar nossas coisas. Convencer a pirralhada a fazer qualquer coisa só funciona se tu transforma numa brincadeira.
Ele pôs a mochila nas costas com um olhar compenetrado e falou “vamos lá!”
Pra chegar na YMCA, temos que atravessar uma ilha que fica aqui pertinho. O moleque nunca tinha visitado essa área da cidade (acho que ele nunca tinha visto o centro, aliás); ele ficou maravilhado.
Chegamos na YMCA. Experimentamos a piscina de pirralhos primeiro; o moleque ficou mais audacioso e falou “ok, vamos para a piscina dos adultos, Izzy!”
Ensinei-o a dar braçadas pra se manter a tona. Ele fez mais ou menos; demos algumas voltas na piscina, e ele desistiu de se tornar aquaticamente independente e resolveu voltar pra piscina de pivetes.
Na saída da YMCA, o moleque tava com fome de novo. Fomos no Subway, onde ele pediu um sanduiche tipicamente nove anos de idade, ouj seja: pão branco, queijo, presunto, e nenhum tipo de molho ou verduras. Eu riria, exceto que como sou FRESQUÍSSIMO pra comer, meus sanduíches geralmente são assim também.
Na saída da parada, um trailer de sorvete. Não deu outra, o moleque literalmente saiu correndo na minha frente em direção aos sorvetes.
Eu acabei cedendo. Momentos mais tarde o Kevin saltivava pela trilha que passava pela ilha, se lambuzando com sorvete, em direção ao meu apartamento.
No retorno, gravei esse videozinho enquanto cruzávamos a Peace Bridge,
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Peace Bridge #yyc
Vale um parêntese aqui. O prefeito de Calgary, Naheed Nenshi, é conhecido por suas trolladas no tuiter. Quando essa ponte foi inaugurada, a oposição espevitou a população contra seu líder, criticando o preço alto que os contribuintes pagaram pela construção. Numa dessas, o prefeito mandou essa resposta pra um crítico:

“Pra que essa ponte tão cara?”, “Acho que é pra atravessar o rio”
Sim, essa é a conta oficial dele e tudo.
Mais tarde, já de noite, era hora de deixar o menino em casa. Eu já estava cansadíssimo, e o pirralho ainda saltitando pelo meu apartamento, me fazendo perguntas aleatórias sobre meu trabalho (?), implorando pra que eu o deixasse jogar GTA 5 — o diálogo “mas todos os meus amigos jogam!”, “não importa, você não é seus amigos” novamente me imbuindo com uma aura paterna.
Quando ele percebeu que eu estava muito cansado pra continuar acompanhando suas estripulias, ele puxou o iPad e ficou jogando Minecraft até eu o deixar em casa.
E esse foi meu dia de pai.
É hilário ouvir da boquinha do pirralho o tipo de abobrinha que eu falava pro meu pai quando tinha sua idade (“mas se você não tem dinheiro pra comprar brinquedo, como é que tá pagando pelo lanche?!?!”), e moleques energéticos assim nunca entendem que você não tem mais a gana pra acompanhar suas estripulias e que já tá na hora de parar, o que me deu todo um insight de por que meu pai se irritava tanto comigo quando eu era criança.

October 4, 2014
O assustador mundo das abelhas
Abelhas.
Mas pra você entender como chegamos neste assunto, e assim talvez ter um insight melhor da imprevisibilidade da minha cabeça perturbada, compreenda que tudo isso começou… nas Filipinas.

Nas Filipinas.
Há uma comunidade grande de filipinos em Calgary, sei lá porque. A principal língua deles é o tagalog; a despeito disso, menos de 30% do país fala Tagalog, tamanho é o número de outros dialetos por lá. Aliás, fica aqui uma curiosidade: a maioria dos meus colegas de trabalho são asiáticos/africanos, e eles acham estranho que o Brasil tenha apenas uma língua oficial.
Aparentemente, países com múltiplos idiomas são muito mais comuns que o contrário. Muitos duvidaram de mim, aliás: tive que mostrar pros caras na wikipédia e tudo. Todo mundo com quem eu trabalho fala PELO MENOS 3 línguas fluentemente.
Então, eu estou aprendendo algumas palavrinhas em tagalog. Há muita influência espanhola na sociedade filipina, por motivos óbvios — apesar dos portugueses terem chegado lá primeiro, os portugas não manjam muito de realmente tomar de conta das paradas (aí embaixo mesmo eles só ficaram com o Brasil); a coroa espanhola é que acabou fincando uma bandeira nas Filipinas.
De fato, o próprio nome do país é uma homenagem ao Rei Felipe II, dada pelo explorador Ruy López de Villalobos que devia ser um daqueles puxa-sacos de chefe e tal. Como a página da wikipédia não tem foto, tente imaginar a cara de bajulador escroto dele.
Então. Os colegas filipinos estavam me ensinando algumas palavras básicas e tal, quando descobri que eles não tem uma palavra pra “pasta de dentes”. Ou dizem “toothpaste” com o sotaque nativo deles — é comum na língua tagalog enfiar palavras em inglês, pelo que notei no Facebook –, ou dizem colgate em clara referência à marca. Isso se chama metonímia, caso você tenha esquecido.
Então comecei a pensar em exemplos similares em português. Temos os óbvios termos derivados de informática que nunca foram propriamente assimilados pelo português: hardware, software, mouse (que virou “rato” em Portugal mas foda-se, somos a maioria, então mouse é mouse mesmo), e aí alguém no Twitter mencionou o tal do “drone”.
Ele se referia aos veículos àreos não tripulados que os EUA usam pra entregar morte flamejante à domicílio em países por aí. De fato, não há uma palavra específica em português pra ESSE tipo de drone, mas temos pra outro tipo:
“Drone” seria também o macho de uma colônia de insetos, como formigas, abelhas ou cupins. E isso me fez pensar nas abelhas.
Dizem que devemos a biodiversidade do planeta, em boa parte, às abelhas e seu esforço polinizador. Portanto, não posso exatamente falar mal delas. Só que levei uma picada de uma abelha quando moleque (em sua defensa, eu meio que pisei em cima dela) e compreensivelmente eu as odeio agora.
MAS ENTÃO, tem as abelhas-rainha.

A do meio
Na prática, a abelha rainha não é exatamente uma “rainha” por assim dizer — ela não exerce nenhum tipo de liderança no grupo; ela é apenas a única fêmea fértil em toda a colméia. Sendo literalmente mãe de todas as abelhas da colônia, talvez “abelha-mãe” fosse o termo mais correto.
O ciclo de vida das abelhas as faz parecer algum tipo de alienígena; é realmente fascinante. É o seguinte: as abelhas trabalhadoras constróem “casulos reais”, especiais pra acomodar futuras rainhas. A rainha atual, quando “grávida”, sai botando ovos em todos os casulos que encontra pela frente.
As abelhinhas trabalhadoras, coitadas, vão então preenchendo os casulos com mel, mas alimentam as futuras rainhas sabe com o que? Com a tal da “geléia real”, que eu aposto que tu não sabia que é uma gororoba que elas excretam nojentamente porque a bem da verdade tudo na natureza é meio nojento.

É verdadeiramente alienígena a parada
Então, ao comer exclusivamente geléia real, a abelhinha (que até aqui era uma larva como outra qualquer) digivolve e vira uma abelha rainha. Só que tem um problema.
As abelhas não “treinam” apenas uma abelha; elas alimentam várias larvas com a geléia real. Quando as candidatas a rainha se tornam fisiologicamente maduras e saem dos casulo, é um deus nos acuda porque elas se detectam e então saem na porrada mortal. A sobrevivente final, com uns 50 olhos roxos eu imagino, é então coroada a rainha de fato. E tu achando que a competição de um vestibular era estressante.
A partir daí a vida da rainha não difere muito das monarcas humanas – o resto da colméia passa a tomar conta dela, alimentando e mantendo o seu asseio, sua prole sendo de extrema importância pra continuidade da colméia.
…Até o momento em que ela fica velha demais pra “trabalhar”. Com essa abelhopausa, rola uma queda da produção de feromônios. As abelhas funça detectam essa queda, e falam umas pras outras “olhaí, essa velha já tá coroca. FORA DILMA, vamo eleger outra!”
E sem cerimônias, as abelhas se amontoam na pobre rainha, aumentando sua temperatura e mordendo/picando a ex-governante. A parada é meio brutal:
Aliás, um detalhe: pelo menos a rainha tem uma fisiologia bem “normal” até. O cupim rainha, por outro lado, é realmente uma monstruosidade adaptada para a tarefa de gerar prole. Olha que merda:

Dat ass
O abdomen é tão deformado que a esse ponto o bicho não deve nem conseguir se locomover.
Nós dividimos o planeta com esses pequenos monstrinhos e todo mundo aceita isso de boa mano.

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