Izzy Nobre's Blog, page 37
June 14, 2014
A burrocracia brasileira fica ainda mais absurda quando você é também cidadão de outro país
Em sua mais famosa contribuição para a filosofia moderna, Platão falou de uma caverna onde prisioneiros vivem em escuridão, sem conhecer o mundo exterior. Por viver lá a vida inteira, eles se adaptaram às condições e interpretam o mundo apenas pelas poucas sombras e sons a que tem acesso. Os prisioneiros não acham que há NADA de errado com sua condição, e chegam a defende-la ou até mesmo atacar alguém que tente os convencer de que o mundo lá fora é diferente, e melhor.
A burocracia brasileira é a caverna de Platão.
Por criticar bitcoin e liberalistas extremistas, sou visto às vezes por essa comunidade como um estadista fanboy de intervenções e burocracias. Realmente não é o caso, e compartilharei com vocês um exemplo excelente, que me afeta diretamente, de como a burocracia governamental brasileira é surreal. Não é hipérbole, é literalmente surreal. Lembrem-se desta palavra.
Como vocês sabem, eu sou cidadão brasileiro e cidadão canadense. Estou em vias de tirar, finalmente, o meu passaporte canadense. Eis a documentação necessária:
O Canadá pede pouca coisa, como se pode ver — basicamente, um documento que prove seu status de cidadão. Pode ser uma certidão de nascimento, que aqui é só um cartãozinho, ou um certificado de cidadania, que é o que eu tenho. Em seguida, pede-se também uma carteira de identidade que traga fotografia, já que os outros dois não a tem. Tradicionalmente se usa a carteria de motorista, que é aceita no país inteiro como documento único de identificação pra toda e qualquer função.
Pronto. Isso é tudo que você precisa pra provar a eles que você é canadense. Com isso, você pode tirar o passaporte e exercer seu direito constitucional de ir e vir.
Vamos comparar com os requerimentos brasileiros, que não cabem no screenshot mas que podem ser vistos aqui.
Enquanto aqui é preciso simplesmente provar que é canadense, no Brasil você precisa de de diversos outros documentos, cada um tendo seu próprio processo burocrático, e cada um deles mais inútil que o outro — como o título de eleitor, que não serve pra votar; ou o RG junto com CPF, a redundância de dois números únicos de identificação. E não esqueçamos do alistamento militar, também — mais um papel que eu tenho que guardar pro resto da vida pra tirar futuros passaportes.
Ou seja: um monte de documento INÚTIL, perpetuados por uma máquina burocrática que nos custa MUITO caro, que complica a vida do brasileiro completamente a toa. Que limita nosso direito constitucional de ir e vir a uma miríade de condições. Só posso sair do país se… votei na última eleição, ou fui prestar contas da ausência e pagar uma multa…? Se me alistei no exército, mesmo quando isso quase sempre resulta em uma automática dispensa? Por que?
Por que eu, que moro fora do país e não sou mais afetado por sua política, continuo sendo obrigado a votar (em outra cidade, porque não há consulado em Calgary) pra poder tirar meu passaporte…?
Agora vem o tal “surreal” que mencionei antes. Como mencionei, sou cidadão brasileiro E cidadão canadense. Pra tirar meu passaporte brasileiro, eu preciso manter em dia e guardar com cuidado meu título de eleitor (porque sou obrigado a votar), meu número de CPF (eu não o tinha quando tirei meu RG, aos 16 anos — e que sou obrigado a ter pra uma miríade de finalidades), Certificado de Dispensa de Incorporação (porque fui obrigado a me alistar).
E preciso manter tudo isso em dia e guardadinho com cuidado pra ter passaporte brasileiro, pra que eu possa entrar no país em que eu nasci.
Por outro lado, pra um canadense ir ao Brasil, só precisa do seu passaporte canadense e uma cópia do itinerário da viagem. Pronto.
Aí chegamos no realmente surreal — pra facilitar minha vida/me livrar da obrigatoriedade de manter tanto documento absolutamente inútil, ou seja, PRA CONSEGUIR ENTRAR NO PAÍS ONDE EU NASCI SEM TANTAS CONDIÇÕES, eu cogito a possibilidade de abdicar minha nacionalidade brasileira, e aí aplicar pra um visto de turismo pro Brasil (que tem exatamente os mesmos 5 anos de duração). E é necessário abdicar a nacionalidade porque o Itamaraty não emite visto de turista para brasileiros.
Agora vamos tentar absorver essa informação.
Eu, um brasileiro por consanguinidade e nascimento, preciso encarar tanta burocracia pra obter o FAVOR de visitar meu país (que deveria ser um direito incondicional e inalienável), que pra mim é infinitamente mais fácil abrir mão da nacionalidade brasileira, e pedir este mesmo favor COMO UM ESTRANGEIRO. Em vez de ficar provando que eu sou eu, por meio de inúmeros documentos arcaicos e redundantes, e mante-los desnecessariamente… eu posso entrar como gringo tendo que providenciar apenas uma cópia do meu itinerário de vôo.
Ao perder a nacionalidade brasileira eu não preciso mais ficar guardando um monte de papel inútil, votar ou justificar voto, etc. Entro com mais facilidade do que um nativo. E pra esculachar de vez, entrando no Brasil como gringo, até a fila que eu pego pra passar pela Polícia Federal é menor.
E chegamos ao mito da caverna. Quando expliquei esse problema aos meus compatriotas no Twitter (e que fique claro, é apenas a ponta do iceberg de burocracia perpetuado porque essa máquina emprega muita gente), fui atacado por vários. Disseram que é “frescura” minha. Que é só guardar esses documentos todos/renova-los/tirar segunda via quando preciso, qual o problema? Qual o problema do país te exigir um monte de processos desnecessários, e gastando dinheiro público no processo? Inúmeros realmente não acham que toda essa documentação é exagerada ou desnecessária. Que era implicância boba minha.
Como imigrante que mora em um país sem tanta complicação há 11 anos, me sinto voltando a caverna pra explicar como as coisas são melhores lá fora, apenas pra ser hostilizado.
Fui até xingado. Tentei mostrar DIVERSAS vezes que outros países, como os EUA ou Canadá, permitem seus cidadãos exercerem o direito de ir e vir (o que é um passaporte senão O documento que encarna esse conceito?) com uma fração dos empecilhos que o Brasil exige. Nos EUA, aliás, você pode tirar passaporte com um ÚNICO documento — Certificado de Naturalização.
Alguns de vocês estão perdidamente acostumados com burocracia que já a encaram como um fato normal da vida. Teve gente que falou que eu estava chilicando por bobagem, porque os documentos que o Itamaraty pede pra emissão de passaporte são “documentos ‘normais’ que você precisa pra sair na rua”.
Pra você ter uma idéia, você sabia que existem DEZ documentos que provam o status militar de alguém? Você consegue imaginar 10 documentos que provem seu estado civil, ou se você tem habilitação pra dirigir um carro, por exemplo? Por que seriam necessários tantos…? Por que não poderia haver UM documento…? Isso é mais um pequeno exemplo do inchaço da nossa burocracia orwelliana (com a exceção de que o governo da Airstrip One era mais eficiente).
Acho que é porque não conseguem perceber que parte do dinheiro que falta pra escolas, faculdades, hospitais e polícia tá indo pra um maquinário burocrático LITERALMENTE inútil.

June 11, 2014
[ Pergunta do Dia ] Qual o seu super-poder social?
Eu penso nisso o dia todo, e é algo que me entristece. Infelizmente, a despeito do avanço da tecnologia, reais super-poderes jamais existirão. O único super poder permitido em nosso universo é o do Batman, que é ter bilhões de dólares, e nem eu nem você jamais atingiremos esse patamar. Aliás pensando bem, o super poder do Batman e os do super homem, pra nós, estão no mesmo nível de impossibilidade.
Temos que nos contentar com os super poderes sociais.
Eu explico. Um super poder social é uma habilidade social levemente acima dos humanos normais. Sabe aquela habilidadezinha boba que você tem, mas que muitas pessoas carecem — e que graças a ela você consegue navegar esse cruel mundo ao nosso redor com mais facilidade?
Eu tenho uma. Eu consigo abstrair COMPLETAMENTE as chateações de trabalho assim que ponho o pé fora do hospital.
O adendo da lei universal de que Todo Dia Tem Uma Merda é a Sempre Tem Um Filho Da Puta. Em todo lugar tem um filho da puta: no sua faculdade, na sua auto-escola, no batismo do seu primo, no condomínio, no grupo do Whatsapp, sempre haverá um filho da puta. E se não tem, é porque o Filho da Puta é você, então cuidado.
O filho da puta no meu trabalho no momento na verdade é UMA filha da puta. Uma senhorinha que está lá no hospital há dois mil anos — acho que ela fez o teste do pezinho em Jesus o Nazareno inclusive — e carrega em seus milênios de vida a acidez e amargura de quinhentas vidas mal vividas. E descontando sua frustração em incautos, como eu.
Hoje, numa série de eventos muito complexo pra explicar, ela me provocou bastante raiva com sua petulância que seria sua marca registrada se não tivesse que disputar o pódio com a sua carranca de poucos amigos. Fiquei imediatamente bem puto, não nego. Fiquei amaldiçoando minha sina de ter escolhido uma carreira que me obriga a habitar o mesmo ambiente que esta velha coroca mal amada.
E aí algo mágico aconteceu.
Deu 3 da tarde, o final do meu expediente. Joguei o jaleco na lavanderia do hospital, peguei minha mochila e a chave do carro do meu armário e… no momento EXATO que saio do hospital, imediatamente é como se a mulher deixasse de existir.
E eu percebo que isso é um super poder social, porque a maioria das pessoas que eu conheço levam essas pequenas rixas pra casa, ficam remoendo eternamente essas rusgas, dando replay mental durante o banho, imaginando como teria sido melhor se tivessem dito X em vez de Y… minha própria esposa se estressa bastante, pós-expediente, com as merdas que ela precisa aturar no trabalho.
Eu não. Pus o pé pra fora daquele hospital, todas as complicações e estresses de trabalho literalmente param de existir, tal qual um detalhe no jogo de videogame que está além do draw distance que a programação permite. O meu draw distance de stress de trabalho é limitadíssimo, dou um passo pra fora do hospital e tudo relativo ao meu emprego deixa de existir pra mim.

Tá vendo aquela ponte lá longe? Então, quando saio do trabalho, a velha fica atrás daquela ponte
E isso me permite uma vida menos estressante. Eu vejo como são meus broders que levam o trabalho pra casa, em especial essas encheções de saco, e é um inferno.
Você tem algum super poder social?

June 8, 2014
Elliot Rodger, o atirador da Califórnia (e por que uma população armada não dá certo)
http://www.youtube.com/watch?v=toQL8ndxd_Y
O debate sobre direito armamentista é infindável, e é complicado de ter com brasileiros porque nossos compatriotas INEVITAVELMENTE vêem a situação pela nossa própria ótica sociocultural nacional, que não sofre o fenômeno dos “mass shootings” como os EUA. Pro Brasileiro Comum (eu chutaria que uns 90% da nossa gente), população armada simplesmente significa “pessoas de bem tem métodos de se defender”, e não o inevitável efeito colateral de “pessoas com problemas mentais terão métodos mais fáceis à sua disposição para se vingar do mundo, a quem eles culpam por suas incapacidades”.
Até a questão cultural da posse de armas é muitíssimo diferente. O Americano Comum se arma porque acredita, baseando-se em sua cultura constitucional, que um dia poderá precisar peitar o próprio governo. Brasileiros em geral querem apenas uma defesa contra bandidos mais ordinários.

Uma Glock 19 e balas 9mm hollow point em cima de uma bandeira e da Constituição Americana. Isso dá uma excelente idéia da cultura armamentista americana.
Curiosamente (ou talvez eu deva dizer “inevitavelmente”), antes de finalmente escrever este texto complementar a esse vídeo, já rolaram DOIS outros casos de tiroteio gratuito — um deles atipicamente canadense. O outro, nos EUA, foi impedido por um estudante portando spray de pimenta.
De um ponto de vista puramente teórico e ideológico, sim — é bonito que os Founding Fathers gringos (os caras que basicamente criaram o país e bolaram sua constituição) tenham criado uma emenda pra garantir ao povo um método de lutar contra o próprio governo, caso um dia ele se torne tirano como a coroa inglesa cuja bunda eles acabavam de chutar pra fora do continente americano. O problema é que como muitas outras coisas que funcionam num nível teórico, (como socialismo, jogos freemium, ou minha técnica de fazer miojo no microondas), uma população armada tem efeitos colaterais extremamente problemáticos.
“Mas Izzy o Elliot Rogder também matou pessoas com uma faca, e atropelando-as com seu carro. Certamente você não defende que deveríamos banir também facas e carros“, dirá um comentarista neste post.
Na realidade, nenhuma das pessoas que ele atropelou morreu, mas vamos fazer de conta que sim.
Então. Defendo a proibição de facas e carros por isso?
Mas claro que não. Existe aqui um problema de proporcionalidade que os defensores do armamentismo popular ignoram convenientemente — quando foi a última vez que alguém matou 30 pessoas atropeladas, ou esfaqueadas…? Com exceção de um caso raríssimo na China que precisou da coordenação simultânea de QUATRO bandidos, não, facas e carros — além de servir inúmeras outras funções além da exclusiva tarefa de matar pessoas, e talvez por isso mesmo — não são instrumentos eficientes para chacinas em massa.
Não, nem eu nem nenhuma pessoa com mente sã pretende banir qualquer instrumento que possa ser usado pra matar alguém. Sabemos que é impossível impedir completamente violência. O problema é que existe uma miríade de opções entre “impedir completamente qualquer tipo de violência”, que é fantasioso, e “tomar passos necessários pra ao menos reduzir a incidência de malucos fuzilando inocentes”.
Não fazer absolutamente nada pra previnir essas tragédias é como concluir que bandidos vão continuar assaltando de qualquer forma, e por isso não deveriamos nem trancar as portas de casa. Afinal, eles vão arrombar a tranca de qualquer forma, OU roubar seu carro em vez da sua casa. Vamos deixar tudo destrancado mesmo, não há como impedir roubos!
Pessoas de bem deveriam ter o direito de se defender? Mas claro. Ninguém discorda disso. O problema é que eu não acho que MAIS armas balanceem a equação da violência.
Seria coincidência o fato de que o único país no mundo que cultiva uma cultura de direito constitucional inalienável a armas seja também o único país em que essas chacinas ocorram rotineiramente — a ponto de que tenham que redefinir o termo pra reduzir artificialmente o número de tragédias?
Lembra do Massacre do Realengo? Agora imagina isso se tornando uma trivialidade no nosso país.
Agora, trazendo de volta pra nossa realidade brasileira. Você não quer armas pro completamente hipotético e surreal cenário da luta armada contra o governo, eu entendo. Você só quer chances melhores de se defender, e defender a sua família, de vagabundos. Como alguém que já foi vítima de assaltos (tanto no Brasil quanto aqui no Canadá, pra você ver como eu sou sortudo), eu compreendo.
O problema é que existe algo fundamentalmente errado com a noção de que o problema da inequalidade social — que é o real perpetuador da criminalidade — será resolvido armando todo mundo, e rezando pra que os homens de bem é que tenham a melhor mira.
Ah, e sobre os tais “homens de bem” — são eles quem cometem a maioria dos homicídios no Brasil. Ao contrário do que você acredita, bandido matando cidadão enquanto comete um crime na real é a MINORIA dos assassinatos no nosso país. São “pessoas de bem” matando-se uns aos outros que engordam as estatísticas de homicídios no Brasil.
Agora imagina com todo mundo armado.
“AH IZZY QUERIA VER SE FOSSE SUA MULHER SENDO ESTUPRADA E SEUS PAIS SENDO ASSASSINADOS E SEU CARRO ROUBADO…” se seu argumento é essa absurda apelação emocional, ficou patente que você não tem os fatos do seu lado.

June 6, 2014
[ A Hora da Justiça ] Tenta assaltar loja, apanha, e ainda tem que limpar o sangue do chão
Vamos direto ao ponto!
http://www.youtube.com/watch?v=GuLVdxYxrJo
Estava o balconista desta loja, do calibre daquelas que colocam placas dizendo “COMPRAMOS OURO!!!” com entusiasmo na calçada, sentado tranquilamente quando um ELEMENTO entra nas dependências da loja proferindo voz de assalto, que eu imagino ser uma voz grossa, vindo direto da goela, talvez no timbre do Darth Vader.
O meliante tinha uma arma, e usando-a, intimidou o balconista a entregar a grana. Perceba que o sujeito por trás do balcão aparenta ter 2 metros de altura por 2 de largura, isso se tornará um problema para o assaltante já já.
O balconista segura o dinheiro, em vez de colocar direto no saco do vagabundo. O marginal caiu na armadilha, indo perto do atendente pra pegar a grana. Nisso, a vítima do assalto enfia um poderoso cruzado de esquerda no nariz, boca e olhos do assaltante, que como sabemos são os botões Liga/Desliga que Jesus instalou na gente ao nos criar. O vagabundo vai ao chão automatica e satisfatoriamente, e o saldo aproximado de sua atividade criminosa neste caso foi de aproximadamente 0 dólares.
Mas aí vem a parada que realmente coloca a JUSTIÇA neste vídeo. Um vagabundo levando porrada na cara são ossos do ofício, um risco ocupacional. Entretanto, o que segue é a real e destilada justiça. O balconista arrasta o elemento, talvez para permitir melhor visualização pelas câmeras de segurança, e então liga para a polícia. Quando o vagabundo volta a si, o balconista então o obriga a limpar o próprio sangue do chão.
Nota na Escala Capitão América de Justiça: 9.7. O vagabundo recebeu um potente soco na faca, o que o desableou tal qual quando eu removo minha praca wifi no gerenciador de dispositivos pra reinstalar o driver. A vítima, que poderia então ter DESMONTADO o sujeito na base da porrada, mostrou honra e auto-controle e apenas o obrigou a limpar o próprio sangue do chão.

June 1, 2014
[ Daily Drive ] Investido no Canal!
Neste Daily Drive, comento sobre o maior investimento que fiz no meu canal nestes anos todos produzindo conteúdo para a internet: dois monitores de 27″:
http://www.youtube.com/watch?v=VFMeydt8Ih4
Acho que já tem uns 4 anos que meus amigos próximos que manjam de edição de vídeo me INTIMAM a comprar um segundo monitor pra agilizar a produção de vídeos. Com o investimento que vocês fazem através do meu Patreon, e com a impaciência provocada por editar um vídeo com 7 tracks num monitor de 21 polegadas, resolvi então fazer o segundo grande investimento da HBD Media & Cooperativa.
Dois monitores idênticos de 27″. Inicialmente, eu comprei só um, e fiquei usando o monitor antigo de uma forma meio gambiarrada. Meus Patrões odiaram aquele visual e LITERALMENTE me mandaram voltar lá e pegar um monitor igual ao maior, pra coisa ficar menos escrota. E como eles estão pagando as contas, como recusar a sugestão? Voltei lá e peguei um monitor igual.
E vou te falar, TUDO fica melhor com dois monitoes. Não é só editar vídeos, não — fazer pesquisas na web, escrever, literalmente tudo fica mais dinâmico. Só o fato de poder deixar uma tela perenemente mostrando o iTunes ou o Tweetdeck, e poder acessar um ou outro sem precisar minimizar o que estou fazendo, já ajuda a manter o foco. A qualidade do trabalho aumentou 450%.
Lição de moral: quando vocês passarem ANOS me recomendando algo, atenderei mais cedo.
Pra quem esteja curioso, cada monitor custou CAD$300, mais impostos. O legal é que como tenho que pagar imposto dos meus rendimentos online, posso declarar ambos monitores como material de trabalho quando fecha o ano fiscal da HBD Media & Fábrica de Goiabada, então o governo canadense alivia um pouco da facada, também.
Win-win!

May 29, 2014
[ Resenha de Filme ] As Branquelas (White Chicks, 2004), parte 1
Eu odeio tanto esse filme, e por isso o texto está ficando TÃO longo, que resolvi resenhar esta bosta em duas partes. Eis aqui a Parte 1.
…
Há muito tempo aqui no HBD, eu tinha o hábito de resenhar péssimos filmes, porque eu sou masoquista. Esste hábito se perdeu, sei lá por que. Talvez tenha algo a ver que na época “áurea” do HBD eu não trabalhava e nem estudava e tinha literalmente o dia inteiro livre pra me dedicar à ingrata (e desgraçadamente inútil) tarefa de assistir filme ruim e depois atualizar a porra desse site.
Poizentão. Há algum tempo eu venho sentindo saudade desse antigo hobby, então arrumei um tempo pra resenhar um filme pra vocês. E resolvi retornar com as resenhas em grande estilo, com um filme que inexplicavel e vergonhosamente é bastante popular no nosso país. Palavras não conseguem descrever o quanto eu odeio esse filme, mas vou escrever várias delas mesmo assim.
As Branquelas, ou em seu título original, “White Chicks”, é um filme com uma premissa ridícula e uma execução tão absurda que só funcionaria mesmo no universo de desenho animado — e eu suspeito que nem num desenho animado os personagens que interagem com os protagonistas seriam tão ingênuos. Mas vamos começar pelo começo.
O filme abre com os dois protagonistas, os agentes do FBI Kevin e Marcus (da infame família Wayans, que suspeito odiarem Hollywood em geral e a mim pessoalmente), disfarçados de estereotipos cubanos.
A imitação gratuita (e até um pouco racista, pelo menos para os padrões norte americanos) é completa com maracas, charuto, a religiosidade e as dancinhas/músicas características.
Então, tá vendo esse moço ali na direita? Ele é um brutamontes de sotaque russo fazendo o papel de entregador de sorvete. Compreenda que os agentes estão lá numa tocaia pra pegar um grupo de contrabandistas que chegariam lá disfarçados de entregadores de sorvete.
Nessa hora eu vim chegando lá na esquina a inevitável “surpresa” de que esse cara na real é um entregador de sorvete de verdade que os irmãos vão atacar por achar que se trata do seu alvo criminoso. Penso que meu irmãozinho David, que tem 10 meses de idade e ainda não detém a habilidade para controlar o próprio esfíncter, também teria previsto a “reviravolta” caso eu quisesse arriscar uma visita do Conselho Tutelar o fazendo assistir essa merda.
Depois da troca de frases-código, o entregador russo traz o sorvete. É a deixa pra que os agentes revelem suas reais identidades e dêem voz de prisão aos entregadores.
Os “bandidos” tentam fugir, e os agentes começam a lutar com eles. Após alguns minutos de uma cena de luta imbecil, os agentes controlam a situação e derrotam os “bandidos”. Aí OLHA QUE SURPRESA QUE NINGUÉM ESPERAVA: Esses caras eram entregador de sorvete de verdade! Os barris de sorvete, que eles esperavam estar cheios de drogas, estavam cheios de… sorvete.
E os reais traficantes aparecem na loja em seguida, com o mesmo disfarce e frase secreta de sorvete!
Por que os vendedores reais teriam fugido/lutado contra policiais se não tinham absolutamente nada sujo no cartório não faz o menor sentido; isso é pra você já ir se acostumando com o tipo de universo paralelo em que esse filme se passa — uma dimensão onde coisas completamente sem nexo acontecem pra que piadinhas/reviravoltas óbvias possam rolar.
Os agentes dão voz de prisão aos bandidos, que sacam armas e atiram neles. Os policias atiram de volta, os bandidos fogem. A tocaia foi completamente arruinada.
Entra a cena nada clichê dos policiais “porra-loucas” (eles inclusive são literalmente chamados do equivalente cultural disso; é preciso que fique bem explícito o tipo de policial lugar-comum de filmes que eles são) levando um esporro do tradicional “chefe de polícia que já não aguenta mais suas putarias”. Os dois são zoados por uma dupla de colegas de trabalho — porque o diretor dessa merda tinha assistindo Bad Boys 2 naquela semana, que tem exatamente a MESMA situação de uma dupla de policiais negros sendo zoados por 2 colegas de outra etnia –, e então eles vão pra casa.
Chegando em casa, Marcus leva outro esporro, dessa vez da sua namorada (que estranhou ele ter chegado 2 minutos atrasado em casa). Novamente — o tipo de exagero cartunesco que contribui pra que nenhum personagem dessa bosta se pareça muito com seres humanos, e sim com paródias ambulantes. É o tipo de erro terrível que torna os personagens absolutamente insuportáveis.
Falando em insuportável, a namorada ciumenta tá dando bronca lá no Marcus por ter chegado em casa 2 minutos atrasado. O rapaz senta na mesa porque ela reclama que eles precisam se comunicar mais. Ela começa a contar como foi o seu dia, e o cara começa a cair no sono enquanto a menina tá falando.
O problema dessa cena é que o filme nunca estabeleceu que o cara é particularmente ocupado ou o maior trabalhador do mundo, então em vez de “olhaí o cara tá tão cansado que caiu no sono enquanto falava com a mulher, coitado”, acaba ficando mais como “que falta de consideração dormir no meio duma conversa com a namorada”. Novamente: o filme pecou em não estabelecer um bom motivo pras ações na cena, e por isso a parada fica sem sentido.
Isso é um padrão no filme.
Depois dessa cena imbecil sem qualquer propósito no filme, temos outra cena dos dois policiais brancos antagonizando os protagonistas.
Além de isso ser um clichê barato provavelmente importado de Bad Boys 2 (que só tem 23% nos Rotten Tomatoes, sabia? Eu fiquei sabendo agora), isso acontece menos de TRÊS MINUTOS depois da última cena dessa treta entre as duas duplas. Tediosamente repetitivo.
E aí entramos na trama real do filme. Como o chefe de polícia explica, tem duas garotinhas socialites quaisquer (numa pegada meio Paris Hilton/Nicole Richie do universo desse filme) que foram ameaçadas de sequestro. Porque aparentemente é assim que sequestros funcionam, avisando as vítimas com antecedência. E a missão da polícia é ficar de tocaia esperando os bandidos tentarem raptar as garotas, pra então pegá-los no ato.
Como esta e a cena inicial indicam, a polícia do universo desse filme trabalha exclusivamente na base das armadilhas, esperando os bandidos se revelarem pra então prenderem-nos. Investigar a parada, interrogar possíveis testemunhas/suspeitos, analisar pistas?
Não. O chefe de polícia assistiu bastante o Papa-Léguas, e talvez por nunca ver a conclusão dos planos do Coiote ele achava suas artimanhas geniais e pensou “um dia vou conduzir um departamento de polícia inteiro com essa metodologia!”

Eis o manual de treinamento deles
Os protagonistas, que foram zoados pela outra dupla de policiais por não estarem trabalhando no prestigioso caso do hipotético sequestro das socialites, interrompem a reunião de briefing do chefe pra exigir entrarem no caso. E o chefe aceita prontamente, porque o PRESTIGIOSO CASO do qual os carinhas estavam se gabando é basicamente agir como babás das duas garotas.
Na próxima cena, os dois estão esperando as meninas no aeroporto. Kevin, o protagonista que incentivou que a dupla exigisse participar do caso, começa a reclamar dele literalmente na próxima cena. Seu irmão, Marcus, é que chega como a voz da razão mandando o “deixa disso, a gente faz esse trampo aí e o chefe fica de boa com a gente”. Novamente, essa cena não faz sentido — este deveria ser o cara que estava empolgado pra participar da missão a qualquer custo (pelo menos 10 segundos atrás ele estava), e o irmão que foi arrastado junto é que deveria ser o reclamão.
Eu estou reclamando de inconsistências narrativas na porra de As Branquelas. Eu odeio a minha vida.
E então somos apresentados às proto-Paris e Nicole do filme.
Evidentemente, Hilton e Richie eram instituições da cultura popular em 2004, e por isso essas meninas do filme foram quase completamente modeladas com base nas duas celebridades do The Simple Life, com direito até ao cachorrinho dentro da bolsa que foi marca registrada da Paris Hilton por alguns anos.
A diferença é que, como tudo nesse filme, a emulação das celebridades nessas personagens é exagerada e caricaturizada. Ou seja: as Brittany e Tiffany Wilson são exageradamente arrogantes, e superficiais. Mais uma dupla de personagens impossível de gostar nessa porra de filme.
Aliás, isso aqui é um nitpicking relativamente pequeno mas como eu odeio esse filme com todas as células do meu corpo eu vou mencionar.
Na cena seguinte, os irmãos pegaram as garotas e as estão levando pra casa. Marcus teve que ir no bagageiro, junto com as malas, porque as meninas exigem que o cachorro vá no assento da frente. Aliás, não — o seu irmão Kevin é que exige isso. O filme não mostra as meninas fazendo essa exigência, o que faria mais sentido, em vez de colocar um cara que nem é tão simpático à missão de escoltar as garotas justificando seus caprichos.
Enfim. Nada nesse roteiro faz sentido.
Na cena seguinte vemos o Marcus emergindo das malas:
Como você pode ver, a mala à direita dele sumiu. Uma tomada mais tarde, ela reaparece:
Isso é um tipo de preguiça cinematográfica inexcusável que serve pra exemplificar o descaso com o qual esse filme foi feito, na justificativa de que “quem se importa, imbecis rirão das piadinhas óbvias de qualquer forma!”
Então. Depois de uma cena de “ação” com o uso mais óbvio de chroma key desde Chaves (e bizarramente, até em cenas com o carro parado usaram chroma key. Pra que?!), Kevin perde o controle do carro por causa daquele cachorro retardado, começa a costurar a estrada, e se vê de frente com um caminhão. Só que…
O caminhão vem trafegando no meio de duas faixas. Ou seja: eles estariam de frente com a morte INDEPENDENTE DA CENA RIDÍCULA DO CACHORRO PULANDO NO PAINEL DO CARRO.
Mas então, o Kevin se desespera, enfia o carro numa vala, e as garotas acabam desenvolvendo minúsculos ferimentos. Considerando que elas quase foram espatifadas por um caminhão vindo na contra-mão (sério, qual é a explicação daquele caminhão no meio da estrada…?), elas saíram no lucro. Óbvio e evidente que estas desgraçadas irão é dar chilique por causa dos pequenos cortes que ganharam.
E aí dá o grande conflito que impulsiona a trama do filme: como as garotas estão horrivelmente desfiguradas (de acordo com elas próprias), elas decidiram não ir mais para o tal evento social onde seriam usadas como isca pro tal sequestrador. E assim, os irmãos Wayans — e por extensão, o FBI — não poderão pega-lo.
Justo nessa hora o chefe deles liga pra ver como estão as coisas. Marcus quer confessar a cagada pra chefia, mas Kevin impede-o de contar a verdade esmagando seus testículos, o que extrai de Marcus ricas reações faciais.
O filme Idiocracy, que curiosamente tem em comum com esta desgraça a presença do hilário Terry Crews, teoriza um futuro distópico onde as massas se perderam num abismo de desinteligência tão profundo que o programa de TV mais assistido é Ow! My Balls, em que um protagonista tem os testículos machucados ao som da risada dos espectadores.
O futuro, a julgar pelo número de pessoas que me condenaram por não achar graça no desperdício de celulóide que é White Chicks, é agora.
Então né, até que vem a lógica idéia idiota para resolver o impasse: vamos nos disfarçar delas e ir no lugar delas. A idéia vem literalmente do NADA, sem absolutamente nada na narrativa até aqui que estabelecesse previamente que os dois tem acesso a esse tipo de recurso. Até os produtos da Acme que o Coiote encomendava eram pelo menos justificados pelo cânon anterior do desenho. Já os irmãos FBI aí conseguem, com UMA ligação telefônica, uma imensa equipe de maquiadores que aceitam a missão prontamente, sem questionar a finalidade do disfarce, sem qualquer pagamento.
E depois dessa rápida montagem que mostra o time transformando os irmãos, vemos a abominação que é o carro-chefe desta bosta.

Caras, vocês tem uma conta bancária hollywoodiana a seu dispor. Se queriam TANTO se travestir dessa forma, que o fizessem sem nos sujeitar à bosta desse filme.
E como estamos falando de uma missão secretíssima, evidentemente um dos dois esculhamba o disfarce imediatamente ao chegar no country club comprando briga com um sujeito que o cantou. O outro critica o primeiro, admoestando que ele se controle, e também roda a baiana quando outro transeunte o canta.
O resto do filme prossegue com os dois interagindo mal e porcamente com pessoas que supostamente conhecem as garotas que eles estão tentando emular. Não bastasse a aparência geral dos dois ser um misto de “meu amigo carioca no Bloco das Piranhas” e “vovó Mafalda”, teremos que engolir por uma hora e meia o típico clichê de “impostor tentando ser aceito no meio social ao qual ele não pertence”.
Lembra que eu falei que esse filme tem a pior continuidade já vista num filme produzido profissionalmente, o que serve como uma indicação inegável de que os responsáveis por esta bosta superfaturaram os produtores e transformaram a grana em farinha em vez de pagar por recursos cinematográficos que impediriam essas coisas?
Numa cena seguinte, uma das “garotas” derruba um mostruário ao chegar num hotel chique:
Dois segundos depois, como que por forças misteriosas, os lápis estão agora dentro do cilindro plástico que ela acaba de derrubar pra fora do frame:
O ângulo da cena muda, e logo em seguida, os lápis estão espalhados livremente de novo no balcão:
São coisinhas assim, normalmente triviais, que galvanizam meu ódio profundo pela bosta desse filme. É como se o diretor estivesse zoando com a minha cara: “isso mesmo, a gente não tava nem aí quando fez essa bosta e AINDA ASSIM você terá que ouvir seus compatriotas brasileiros falando que adoram esse filme“.
Então, Marcus e Kevin chegam no hotel pra fazer o check-in, e o atendente (um dos policiais que viviam azucrinando os dois irmãos, também em disfarce) pede a identidade e o cartão de crédito das meninas. Coisa que os irmãos não tem, porque afinal de conta, arrumar um time de maquiadores experts de calibre hollywoodiano sem qualquer aviso prévio com uma única ligação é moleza, difícil mesmo é produzir uma identidade falsa que crianças norte-americanas em idade colegial descolam o tempo todo pra comprar cerveja.
Enfim, o Kevin (ou seria o Marcus, eu lá sei mais a essa altura) dá um chilique pra escapar de ter que mostrar identidade e cartão de crédito. Nisso chega o chefe deles — também disfarçado na missão, porque é assim que missões policiais funcionam, né? — e alivia as meninas.
Estes são agentes especiais treinados pelo FBI que não conseguem perceber absolutamente nada de errado com as duas meninas, nem o fato de que elas mudaram completamente de complexão facial. Como eu falei antes, é como um desenho animado live action, tipo quando o Pica Pau ou o Pernalonga se vestiam de mulher e ninguém achava estranho.
As duas garotas esbarram com supostas amigas. Rola aquela “tensão” de “epa, tem algo diferente com vocês duas…”, que você sabe com plena certeza que não é uma ameaça real. A acusadora chuta na trave, Marcus e Kevin riem aliviados, e seguem pra próxima cena.
Puta que pariu, só se passaram 25 minutos dessa bosta de filme.
As três garotas que quaaaaase perceberam o disfarce dos agentes, ou o Trio Exposition como eu as chamo, vão ajudando Marcus e Kevin a navegar o traiçoeiro mar social dessas patricinhas ricas — inclusive identificando a elas as irmãs Vandergeld, suas supostas inimigas. Essas aí se aproximam dos agentes disfarçados, mandam uns desaforos, e estes revidam na cena que acredito ter popularizado as piadinhas “yo mamma” no Brasil.
Durante a festa, Kevin vê uma jornalista de quem ele é fã ou algo assim — novamente, o filme jamais estabeleceu isso em momento algum — e ele vai lá se apresentar pra ela como ele mesmo, como se ele tivesse acabado de esquecer que está usando mais maquiagem que uma prostituta de beira de estrada que caiu num container da Avon. É mais uma cena imbecil num festival de cenas imbecis.
Voltando para o Marcus, que está devorando canapés ou sei lá que merda é aquela, quando uma das garotas comenta que ela deveria “pegar leve no queijo”. É uma das raras cenas do filme que faz referência a algo previamente estabelecido — o fato de que o Marcus tem intolerância a lactose –, só que o filme precisa estupidecer a sequência, fazendo Marcus explicitar que “queijo? Tipo, queijo que tem lactose e tal…?”, porque vai que um dos espectadores não sabe o que é queijo.

“Queijo? Feito de leite, aquele líquido branco que sai de vacas e tal? Que contem lactose? A mesma lactose que eu, Agente do FBI Marcus Copeland, sou intolerante?”
Segue uma cena do Marcus aflito na privada, peidando e cagando até a alma, enquanto o Trio Exposition dá mais explicações sobre o universo do filme.
E nisso entra, finalmente, o supracitado Terry Crews.
Tal qual a bela orquídea que consegue crescer, e deslumbrar, num punhado fumegante de bosta, a interpretação de Terry Crews é a única coisa que chega próximo de poder ser considerado algo bom neste filme. Tudo bem que suas cenas são basicamente a versão live-action do Pepé Le Pew, aquele gambá quase estuprador dos Looney Toons. Aliás, toda a subtrama do Terry Crews é basicamente o plot deste episódio do predador sexual mais romântico dos desenhos animados.
O resto da participação do Terry Crews nesse filme pode ser resumida por esta imagem:

“Vosso cu me pertence”
Ou seja, o cara faz avanços sexuais que beiram, não, ULTRAPASSAM a linha do inaceitável pra alguém que é na verdade um homem disfarçado de mulher.
Na próxima cena teremos um leilão beneficente, então os dois Agentes Travestis e o Trio Exposition vão comprar roupas novas. Esta cena deixou o filme 0.7% mais suportável porque vemos a bundinha de uma das mais gostosinhas do Trio Exposition, que está se trocando na frente do Kevin. A cena prossegue com uma imbecilidade que é exatamente o que eu já me acostumei a esperar de White Chicks — a tal gostosinha tem um exageradíssimo ataque nervoso porque se acha gorda, e o Marcus, que foi espremido dentro de roupas que não cabem nele (“HAHAHA MULHERES SÃO TÃO VAIDOSAS NÉ, ESSAS IMBECIS, ELAS TODAS FAZEM ISSO GENTE! RSRSRS”), apenas para explodir as roupas como se fosse o Bruce Banner após dar uma topada na quina da mesa.
Após uma cena igualmente imbecil e desnecessária em que Kevin é assaltado e persegue o ladrão, voltamos ao country club pra o tal leilão beneficente. Não sei se o modelo existe no Brasil, mas é basicamente o seguinte: garotas são “leiloadas” a malucos ricos, a grana é doada à caridade e as meninas vão pra um jantar com os caras. Não há conotação sexual na parada, ou melhor, não deveria, mas Terry Crews (acompanhando pela mais horrenda gravata que alguém já gastou tecido pra fazer) estão na platéia.

Parafraseando o poeta MC Maromba, Terry Crews tem aspirações de levar Marcus no cartório para que este passe o cu para o seu nome
Terry oferece mil dólares por um jantar com Marcus, e Kevin sai pela sala afora berrando valores mais altos para salvar o cu de seu irmão e pisando no pé/batendo na bunda de outros homens na platéia (o que INEXPLICAVELMENTE os faz levantar a mão, e assim torna válidas as ofertas que eles não fizeram. Novamente: desenho animado live-action). E Terry Crews vence o leilão pela virgindade anal de Marcus Copeland.
Na cena seguinte, as meninas do Trio Exposition vão ao quarto dos dois agentes pra uma festinha do pijama. A maquiagem dos dois, que o filme estabeleceu mais cedo que requer um time inteiro pra aplicar convincentemente, é colocada pelos dois sem grandes dificuldades nos 10 segundos que demora pra que eles abram a porta.
Uma das garotas puxa do nada um dildo (porque não é isso que meninas fazem em festinhas do pijama, mesmo…?) e então este Wayan faz algo ainda mais lamentável que estrelar nesse filme pra começo de conversa:
Pelo amor do Shigeru Miyamoto. Isso é tudo que eu consigo aguentar por enquanto. Aguardem a parte 2 da resenha!

Magic the Gathering e o truque simples pra obter sucesso em TUDO na vida (trabalho, relacionamentos, saúde, etc)
Este post é baseado numa série de tweets que fiz lá na minha conta gringa, a @MrNobre. Criei a conta pra divulgar meu conteúdo em inglês, e de quebra converso com os amigos de bolso que gostam de praticar o inglês. Se você quer bater papo comigo mas se intimida com meus 60 mil seguidores e acha que eu nunca leria sua mensagem, vem falar comigo em inglês que a “competição” (menos de 4 mil seguidores) é menor.
Pois bem. Vamos falar sobre ídolos e inspiração.
Este é um Shadowmage Infiltrator.
Esta cartinha dominou o metagame azul e preto de Magic no bloco Odisséia. Mais importante do que sua habilidade (que de fato era foda, jogou MUITO na época), é o homem por trás dela. Reparou que a fotinha do boneco na carta é bem mais fotorealista do a arte das cartas de Magic costuma ser? Isso é porque o carinha é uma pessoa de verdade. Este cara se chama Jon Finkel.
Finkel é uma lenda no mundo do Magic. O cara é um dos jogadores profissionais mais realizados no meio (tendo pilotado um dos decks mais apelões de toda a história do jogo com uma vitória mundial em 2000), migrou pro poker/blackjack e ficou rico, e agora trabalha como gerente de uma empresa de capital de risco. Curioso que mesmo com esse currículo impressionante ele foi zoado por uma mal-amada qualquer que o criticou por ser “nerd” nesta matéria asquerosa do Gizmodo.
Pois bem. Numa entrevista que eu li anos atrás, e que procurei incessantemente pra este artigo e não achei, um repórter perguntava pro Finkel qual o segredo de ter tanto sucesso como jogador de Magic. E o que ele falou me marcou profundamente. Parafrasearei:
“Eu foco em estudar a situação e tomar a melhor decisão. Porque independente da condição do jogo, existe UMA decisão, UMA jogada que é a melhor possível. Qualquer outra decisão que eu tome é literalmente a pior decisão que eu poderia tomar”.
Internalizei isso fodidamente, transplantando pra outros contextos além de Magic. Sim, de fato, se você não faz a MELHOR jogada possível de acordo com o jogo na mesa, você fica à mercê do seu oponente. E por isso, qualquer jogada além da melhor possível seria tecnicamente a PIOR possível — porque graças a ela você desperdiçou a chance de fazer algo melhor.
Mas isso não se limita em Magic, e foi aí que eu percebi que esse é o truque pra obter sucesso em literalmente qualquer coisa na sua vida.
Durante toda a sua existência consciente, você está constantemente tomando decisões. Seja no nível micro (o que comer hoje ou que horas ir dormir) como no nível macro (como conduzir sua pequena empresa, ou como agir com sua família), você tem a MELHOR decisão a tomar… e todas as outras. Que desde que ouvi essa frase do Finkel, foram automaticamente categorizadas na minha mente como “as piores decisões que eu podia tomar”.
É uma postura relativamente alarmista/exagerada, sim — se levarmos ao pé da letra a filosofia de que qualquer decisão além da MELHOR decisão possível é então a pior coisa que você poderia fazer, chegamos a conclusões meio deprimentes, como por exemplo: se eu decido comer um bife no almoço em vez de uma refeição menos calórica como uma sala, isso seria então o mesmo que almoçar sorvete com banha de porco? Existem níveis de “pior”, né?
Bom, sim — se você quiser ver dessa forma. Mas com uma mentalidade focada em resultados (e obviamente rendeu numa vida bem sucedida como é o caso do Finkel), escolher qualquer opção além da mitológica “Melhor Decisão” vai apenas te levar pra mais longe dos seus resultados, ou na melhor das hipóteses simplesmente atrasar você em chegar neles.
Vou dar um exemplo pessoal aqui. Além da minha carreira no ramo de saúde, tenho um trabalho na internet — o site que você está lendo e o meu canal no youtube. Por causa do meu Patreon, minhas atividades internéticas se tornaram um negócio MESMO — pago impostos, tenho empregados, etc –, por mais que eu ainda esteja muito acostumado a procrastinar e gastar tempo na web com atividades que não estão diretamente relacionadas à produção de conteúdo. Fazer o que, perder tempo na internet é um hábito que nutro há quase 15 anos, vai demorar um pouco pra eu me acostumar que sentar na frente do PC não é mais carta branca pra se distrair.
Em todo momento que estou na frente do computador, a MELHOR decisão a tomar é trabalhar para vocês — seja escrevendo um artigo como este, finalizando um roteiro, editando um vídeo, etc. Se estou no trabalho, a MELHOR decisão possível é dar 100% do meu esforço e atenção à minha função. Se estou estudando, idem — rever minhas anotações mas parando “rapidinho” de vez em quando pra dar uma bizoiada no Twitter ou Facebook é a metade do caminho, uma falta de compromisso, e por isso em vez de ser uma opção “razoável” (seja sincero, quantas vezes você já não estudou assim achando que “tá valendo”?), ela é por definição a PIOR decisão.
Quer um novo emprego? Sabe qual a MELHOR decisão que você poderia estar fazendo? Não é lendo meu site, não. É revendo seu currículo, estudando pra certificações/concursos, estudando uma língua nova (dá pra fazer isso gratuitamente hoje em dia, sabia?), e em outras palavras correndo atrás.
Quer perder peso? O mesmo mecanismo continua valendo. Qualquer coisa que não seja A melhor decisão — treinar consistentemente, se informar sobre nutricionismo, fazer escolhar saudáveis de alimentação — fica então sendo considerada a partir de agora a pior decisão.
Tendo lido todos esses exemplos, feche os olhos e imagine como seria sua vida se um ano atrás, você tivesse decidido viver à base de uma filosofia que rejeita todas as decisões que não sejam a melhor pra você mesmo.
Ainda dá tempo de começar.

May 27, 2014
[ Resenha de Filme ] X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (sem spoilers!)
O gênero de filme de quadrinhos já está tão bem estabelecido no tecido da nossa cultura popular que, assim como outras instituições perenes da sociedade como o carro, o chiclete ou a internet, é fácil esquecer quem foi o criador da parada. E este mérito vai pro filme dos X-Men — aquele primeirão, que saiu em 2000, que eu tinha combinado de ver com uma peguete que furou o encontro mas o filme foi tão foda que eu nem liguei.
X-Men foi O filme que deu início a essa era de adaptações quadrinísticas. Muitos dão este crédito a Blade, mas eu o considero apenas o primeiro filme moderno de super-herói. O que realmente fez Hollywood decidir sair comprando tudo quando é propriedade intelectual baseada em HQ (e jogando na tela, às vezes apressadamente e com resultados facepalmeantes) foi X-Men mesmo.
A essa altura, a franquia X-Men é um GIGANTE do ramo. Com 14 anos de histórias contadas ao longo de sete filmes, a mitologia do quadrinho foi muito bem explorada nas telas — o problema é o preço dessa longevidade. A série começou a sair dos trilhos cedo: o terceiro X-Men: The Last Stand, universalmente odiado e usado com frequência como evidência de que o terceiro filme de uma franquia de super-heróis tende a ser o mais fraco, matou meu interesse nos personagens. O X-Men Origins: Wolverine, cujo conceito era explorar individualmente cada um dos personagens em spin-offs numa abordagem meio proto-Fase 1 da Marvel Studios, foi uma cagada tão inconcebível que, até onde sei, o resto da continuidade da série meio que finge que ele não aconteceu.
Então. Fui ver o X-Men: First Class sem grandes pretensões. Fui tão “ah, whatever” que não li nada e achava até que a série era um reboot da franquia, e me surpreendi com a aparição especial do Wolverine que confirmava que o universo antigo ainda estava valendo. Na época não entendi bem por que não aproveitar a oportunidade pra começar tudo do zero; a continuidade de X-Men já estava TÃO ZOADA (talvez pra ficar fiel aos quadrinhos?) que eu não via propósito em contar a história de um time totalmente de X-Men mas deixar a continuidade antiga valendo.
E X-Men: Days of Future Past justificou essa decisão.
O filme conecta, como foi prometido, as lacunas entre a continuidade “presente” dos X-Men, e a sua fundação em First Class. É uma tarefa ÁRDUA, porque estamos falando de 6 filmes que cobrem um periodo longo, e que já faziam os fãs coçar a cabeça faz tempo. O filme não conserta tuuuudo (o que seria literalmente impossível se tratando duma trama obrigatoriamente paradoxal que é padrão em qualquer filme de viagem no tempo), mas considerando a bagagem com a qual ele tinha que lidar, roteiros escritos e dirigidos por tantas pessoas diferentes, foi um esforço hercúleo.
E a fita é tão divertida que você deixa as pequenas inconsistências passarem batido. DoFP tem cenas que realmente justificam que a história seja sobre super-heróis — a luta inicial que abre o filme é emocionante; você sente o peso e os riscos do que está acontecendo; a corrida do Quicksilver durante a fuga do Magneto de uma prisão embaixo do Pentágono me fez desejar que o velocista mais famoso da Marvel aparecesse mais no filme, ou tivesse o seu próprio. Aliás, não só o poder do Quicksilver é enche os olhos na tela do cinema, mas a personalidade dele estava combinando perfeitamente com a habilidade dele — ele é o homem mais rápido do mundo. A polícia jamais poderá pegá-lo (ou sequer provar que ele fez algo errado), então ele se comporta de acordo.
Isso é um bom exemplo de como os nerds não sabem de porra nenhuma. Se você contasse pra galera que chilicou quando essa foto do Quicksilver foi divulgada que ele seria um dos personagens mais divertidos do filme, que eles concluiriram? Que o filme é uma bosta, o que é errado, ou insistiriam que o personagem cagaria o filme por causa da aparência “ridícula”.
Só pra fixar melhor como nerds não sabem de porra nenhuma, apenas de reclamar, vejamos estas matérias sobre a aparência do Quicksilver:
Dear God, what has X-Men: Days of Future Past done to Quicksilver?
Why Nerds Are Outraged Over ‘X-Men’ Movie’s Quicksilver Makeover
Poisé. Quero ver o Joss Whedon fazer um Quicksilver melhor.
Em resumo, X-Men: Days of Future Past é competente em atar as pontas soltas da franquia, e faz um trabalho melhor ainda em sua tarefa mais importante: ser divertido. Não perca a cena no final dos créditos, que me fez ter uma convulsão nerd berrando “NÃO ACREDITO QUE VÃO FAZER ISSO! NÃO ACREDITO QUE VÃO FAZER ISSO!”. Foi no nível do Sam Jackson mencionando os Avengers no final do primeiro Iron Man.
E de quebra, o plot device de viagem no tempo permite literalmente apagar as coisas que mais odiamos sobre a franquia. Pra roubar o título de uma série de outro herói da Marvel, é um “Brand New Day” pros X-Men. Vá assistir.

May 26, 2014
Sobre ser reconhecido na rua
Ontem eu estava num negócio chamado Lilac Festival, um festival de rua calgariense (calgariano?) que que celebra o término do inverno com centenas de vendedores ambulantes, apresentações musicais, de artes marciais, essas coisas. Eis uma fotografia eletrônica digital que tirei lá para que você possa se sentir no meio do evento:
E eu estava lá, perdido em meus pensamentos sobre quanto tempo faz que não jogo aquele jogo do Homem Aranha do Atari, que era bem legal aliás, quando eu percebo um rapaz olhando pra mim.
Era o rapaz de branco dessa foto lá embaixo. Ele me olhava com uma cara que eu já vi antes — a cara de alguém que te reconhece de algum lugar, mas está incerto se devia se manifestar.
É a expressão típica de alguém que me reconhece na rua. Acontece com muito mais frequência quando vou ao Brasil, mas por causa da tag “Calgary” que coloco em meus vídeos, somado com o fato de que não há grande “competição” no ramo de “vídeos de brasileiros em Calgary”, há um grande número de inscritos/leitores meus na comunidade brasileira daqui.
Então, o rapaz estava olhando pra mim, possivelmente tentando concluir se era mesmo eu, e/ou se devia falar alguma coisa. Finalmente, ele resolveu o impasse vindo na minha direção.
“Izzy Nobre? Você é o Izzy Nobre, né?” ele perguntou.
Minha reação é sempre exatamente a mesma, e quem já esbarrou comigo aí por este planeta Terra afora não me deixaria mentir. É afora ou a fora? Eu não estou com a disposição de googlear o nome daquele programa da Monique Evans pra lembrar a grafia. Lembra do programa? Rolava umas putarias legais, considerando que era TV aberta.
Mas voltando ao assunto! Sempre que alguém me reconhece na rua, minha reação é a mesma. Esboço um largo sorriso e estendo a mão para a pessoa, perguntando há quanto tempo ela assiste o canal, o que ela está fazendo aqui no Canadá, esse tipo de coisa. Às vezes pergunto que vídeo ela gosta mais, também, ou que vídeo ela mais odiou.
(Isso parecerá babaquissíssimo, mas não estou lembrando o nome do rapaz de branco. Lembro o nome de todos — era Felipe, Felipe, e Paulo, e lembro que o rapaz de óculos escuro se chama Felipe, porque ele me adicionou no FB, só não lembro quem é o outro Felipe e quem é o Paulo. Espero que eles perdoem minha fraca memória, é que conhecer um monte de gente de supetão e lembrar dos nomes de todos é difícil pra alguém burro como eu)
Menciono os outros rapazes porque logo depois que o primeiro se apresentou, um segundo — o com a camiseta do Brasil, seria ele um dos Felipes ou o Paulo? Novamente, me sinto um filho da puta canalha por não lembrar — e falou algo como “é o Izzy Nobre?!”, e da mesma forma, eu estendi a mão pra ele e agradeci por ele curtir o canal.
O terceiro rapaz chegou meio que por traz de mim. Este, um dos Felipes, estendeu a mão com um grande sorriso e falou “Izzy, você não sabe quem eu sou, mas eu me amarro nos seus vídeos”. Achei uma apresentação diferente; geralmente, as pessoas não comentam que eu não os conheço. Acho que a maioria das pessoas considera isso subentendido, sei lá. Achei uma peculiaridade curiosa; talvez o Felipe não imaginasse que eu já estou relativamente acostumado a ser abordado por pessoas que não conheço (o que é uma conclusão bastante compreensível, afinal, a moro 10 mil quilômetros de distância de onde 99.9% do meu público mora).
Conversei com os três por um bom tempo lá, dando o máximo de atenção possível e fazendo tudo que eu podia pra manter a conversa fluindo de forma bacana. Tento tratar todo mundo como se fossem broders que eu já conheço e cuja presença eu aprecio, em vez de “ah oi legal você gosta do meu canal que bacaninha ó vou lá, falou”.
Quando nos separamos (após convida-los a me adicionar no FB, e que se quiserem fazer alguma coisa por aqui é só me dar o toque, um “bora marcar” um pouco menos brasileiro — ou seja, mais sincero. Talvez porque moro fora há tanto tempo, perdi a manha do “bora marcar” retórico…?), a Bebba virou pra mim e perguntou “você realmente fica feliz de conhecer o seu público, não é?”
E eu gosto demais. Eu me considero extremamente sortudo por ter vocês, a galera que acompanha meu trabalho, que curte o que eu faço, que recomenda pros amigos, que paga pelo meu contéudo, que me faz companhia dia e noite no Tuíter. Me sinto tendo milhares de amigos, espalhados pelo país inteiro. Pessoas que dão apoio quando preciso (e que puxam minha orelha também, o que é necessário numa amizade de verdade às vezes), e que me aturam a despeito de meus súbitos estouros de insuportabilidade.
Sinto que esses 10 anos que passei produzindo conteúdo na internet fizeram diferença na vida de alguém.
Se você alguma vez me vir em algum lugar, seja lá onde for, sinta-se à vontade pra vir falar comigo. Eu me considero honrado pelo fato de que você gasta seu limitado tempo me dando atenção.
[ Update ] Adicionei-os no Facebook e assim lembrei que o rapaz de branco, o primeiro que falou comigo, era o Paulo. Os outros dois, os Felipes.

May 22, 2014
[ A Hora da Justiça ] Foi dar uma paulada, acabou no chão
Uma das grandes mentiras da humanidade, além de “é só a cabecinha” e “não é pirâmide, é marketing multinível“, é a brasileiramente clássica “você não sabe com quem está falando/mexendo“. A pecularidade semântica que temos aqui é que enquanto as duas primeiras precedem alguém te fodendo, a terceira é uma AMEAÇA de potencial foditivo que jamais se concretiza.
É quase uma verdade universal: se alguém manda a bravata do “você não sabe com quem está falando/mexendo”, existe uma garantia inviolável, mantida pela altas cortes internacionais, de que este indivíduo não detém qualquer poder relevante que ele possa usar para antagonizar sua vida. Paralelo ao ditado popular de que “cão que late não morde”, a vaga advertência é justamente o único recurso que o indivíduo tem na altercação. Se alguém solta o VNSCQEF/M, pode falar/mexer despreocupado.
Mas existe sempre uma exceção. Às vezes você realmente não sabe com quem está falando/mexendo, e tão rápido e furtivamente quanto um peido no vento, a maré pode virar e este indivíduo com quem você fala/mexe pode aniquilar completamente o seu dia.
Vamos ao vídeo.
http://www.youtube.com/watch?v=PwEBe_tx4zA
Vemos uma caminhonete estacionada, e dois homens discutindo por motivos que desconheço. Temos o cara de cinza, que chamarei de Cinza, e o cara de preto, que chamarei de Azul. Cinza está falando no celular, e Azul tenta peitá-lo. Percebemos rapidamente que Cinza tem uns 40 centímetros e quilos a mais que Azul, e que se Azul preza pela integridade estrutural de seus dentes ele deveria reconhecer a inferioridade física e abaixar a voz.
Entretanto, não é isso que ele faz. Azul corre pra casa, presumivelmente com o rabinho entre as pernas. Cinza continua falando no celular, provavelmente atendendo algum amigo que tenta o recrutar pra um esquema de pirâmide. Eis que subitamente Azul emerge de sua casa como um Psycho de Borderlands, com um taco de baseball em punho e desejo assassino na alma. Quando digo “assassino” não é uma hipérbole humorística; atacar alguém dessa forma já foi interpretado pela jurisprudência americana muitas vezes como tentativa de homicídio.
Azul desfere o primeiro e único golpe a que ele teve oportunidade nessa briga. Como que trajando um exoesqueleto impenetrável importado direto do universo Marvel, Cinza responde à paulada com quase completa indiferença. Quando você corre pra cima de alguém com um taco de baseball, dá a maior porrada possível mirando na cabeça do cara e como resultado a vítima parece apenas levemente incomodada, ali está vaticinado inegavelmente que você acabou de se foder.
Cinza agarra seu agressor e o enfia como um bate-estacas no carro mais próximo. Como uma prensa humana, ele prende o Azul contra o carro, e em seguida o desarma. Azul ensaia uma fuga, mas Cinza não terminou de deixar hematomas no formato de retrovisores no pâncreas de seu agressor, e então ele o joga contra um segundo automóvel. Um mata-leão bem aplicado envia Azul para a terra dos sonhos, o que é de se esperar de um golpe que de acordo com o nome é suficiente até pra mandar o rei da floresta pra cova.
MORAL DA HISTÓRIA:Não importa o motivo da briga. No momento que você parte pra cima de alguém com uma arma, você se torna automaticamente (eu diria até retroativamente) o errado da situação inteira.
Escala Capitão América de Justiça: 8 de 10. Cinza aplicou sua habilidade de auto-defesa de forma expert, e mostrou calma e auto-controle não jogando o sujeito no sol, algo que a julgar pelo seu skill no vídeo ele só não fez porque não quis mesmo. Perde 2 pontos porque 2 carros inocentes ficaram com algumas marcas de sangue, eu acho.

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