Izzy Nobre's Blog, page 13

September 19, 2016

Este sujeito destruiu completamente a série “Deixados Para Trás” de forma maestral

left-behind


Lembram deste meu post sobre a série Deixados Para Trás? Pra quem não sabe, Deixados Para Trás é uma série de thrillers (não há uma boa tradução pra isso no contexto literário, né?) baseados numa interpretação literal do livro de Apocalipse (e algumas profecias sortidas do velho testamento também, pra incrementar). Dados a mim por minha mãe lá por 2001 ou 2002, durante meus finais momentos de fé evangélica, a série é um sucesso absoluto na ficção cristã.


É basicamente o Harry Potter crente, pra você ter uma noção de impacto. Os Tim LaHaye e Jerry Jenkins venderam algo em torno de 40 milhões de cópias.


Aliás, apenas um dos dois é o que consideraríamos o “real” autor, tendo de fato posto caneta ao papel. O outro, não lembro qual deles, participou com contribuições belpescicas; algum tipo de “consultoria” paralela ao desenvolvimento da história ou algo assim. Suponho que uma revisão das passagens bíblicas pra garantir verossimilhança doutrinística ou algo assim, uma tarefa na qual a dupla de autores falhou miseravelmente de acordo com muitos evangélicos críticos de suas heresias.


Mas então, é uma série imensa — talvez a mais longa que já aguentei ler na vida. Parte do motivo é o fato de que os livros são provavelmente mais inflados com fillers do que a pior temporada de Naruto que você possa imaginar. Com uma história que caberia tranquilamente em 4 ou no máximo 5 livros, os 13 volumes da série são quase literalmente intermináveis. Ao chegar no último livro, eu li meio que pulando páginas, tamanha era minha impaciência com a enrolação.


Então, relendo a resenha que linkei no começo do artigo, vejo que fui muuuuuuuito mais generoso com os autores do que o merecido. Dei bem poucas críticas, focando basicamente nos momentos em que eles desastrosamente se meteram a enfiar ciência na história. Talvez porque quando moleque eu gostei bem mais dos livros; uma leitura adulta mais recente deixou claro que é uma literatura bem anêmica, mas lembrança de infância/adolescência, já viu, né.


Já o @SlacktivistFred, um brilhante blogueiro cristão americano, não tem as mesmas memórias nostálgicas da série que eu. Numa longuíssima série de posts escritos mais de 10 anos atrás e que posteriormente viraram dois ebooks, o cara destroçou a série praticamente parágrafo por parágrafo. Eu nunca vi uma desconstrução tão completa e impiedosa de uma obra de ficção. As já icônicas resenhas do Red Letter Media sobre a nova trilogia de Star Wars, que são mais longas que os próprios filmes, parecem um mero “ah nem gostei, fim” comparadas à maestria e profundidade com as quais o Fred destrinchou todos os átomos literários de Deixados Para Trás.


O cara ataca a parca interpretação bíblia dos autores, a prosa que nunca de fato MOSTRA, apenas CONTA os fatos acontecidos (pra entender a diferença, imagine um simplório “um carro capotou”, contrastado com uma explicação de quem o dirigia, o que acontecia no momento, como ele capotou, o que aconteceu com o motorista, etc etc etc)… tudo, desde a motivação dos personagens até o uso de certas expressões incabíveis ao contexto de uma cena é analisado.


O Fred claramente entende pra caralho tanto de doutrina bíblica, quanto de literatura e a língua inglesa em si, o que torna a brutal desconstrução um exercício fascinante e extremamente aproveitável de análise de escrita. Pra completar, ele ainda é um talentoso humorista; algumas piadinhas e sátiras que ele coloca no meio da resenha são realmente bem construídas. Eu sinto que minha própria escrita melhorou só de ler essa épica resenha dele.


Estou completamente fisgado na leitura, e lamento que os livros só podem ser lidos em plataformas da Amazon. Ler num computador não é tão confortável, tendo que continuamente ir e voltar entre o índice e as postagens; adoraria dar uns trocos pro cara pra motiva-lo a continuar destruindo os livros (ele parou no terceiro, até o momento).


Extremamente recomendado. Espero que o Fred continue resenhando os livros, porque eu rio só de pensar a indignação dele ao constatar que mais tarde na série, uns 3 livros INTEIROS tratam apenas da logística de um personagem indo de um lugar pro outro, com quase NADA acontecendo entre essas viagens. E eu demorando pra terminar meu novo livro…


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Published on September 19, 2016 12:40

September 18, 2016

Episódio 16: Mendigos e Anzóis

Já vou dar um spoiler: O anzol do título do episódio de hoje foi um anzol numa piroca.


Ouça o programa pra entender como evitar uma desgraça dessa acontecendo com você!


epi


Em primeiro lugar, vamos à China ver um malandro que bel pescezou os transeuntes a darem-no dinheiro fingindo ser deficiente físico; em seguida, um processo contra a Oi por terem mandado dois funcionários pra dividir uma cama de motel. Um brechó escolar interditado pela presença de dildos e calcinhas comestíveis, e uma piroca empalada por um anzol. Jesus!



►Notícias comentadas


Espertinho finge ser aleijado pra tirar uma grana e acaba exposto (Enviada por Heitor Lopes, que já cogitou a mesma estratégia quando estava no Cheque Especial)


Oi coloca funcionários pra dividir cama em motel e acaba processada (Enviado por @celsofpinto, que analisou o caso e decidiu que por 10 mil reais valeu a pena)


Brechó escolar vendendo estrovengas sintéticas atrai atenção das autoridades (Enviado por @ElCaputo que jura não ser o vendedor das piroca mas não pode provar que não pertenciam a ele)


ANZOL NA PIROCA. Não preciso falar mais nada pra te horrorizar (Enviado por @RaUL_AMDERLAINE, que está se recuperando de um acidente semelhante)


►Links comentados


Cora Coralina, uma das escola do Izzy.


Colocarei aqui a escola do Evandro assim que esse filho da puta me responder no WhatsApp porque eu perdi o link.


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Published on September 18, 2016 12:14

September 12, 2016

Episódio 15: Fantasmas e Caixas

OITO BOLAS DE SORVETE POR UM REAL. TRAGA A SUA VASÍLIA.


fantasmas-e-caixasa


Hoje temos aqui um mister galhofa que tentou escapar da polícia usando táticas Metal Gear Solídicas (sem sucesso); um outro brincalhão se mete na presepada de fazer um cosplay de fantasminha camarada e foi enquadrado pelos homem; uma ninfomaníaca estupradora faz uma segunda vítima; e um suposto médico supostamente autopsiando um suposto alienígena. Acredite quem quiser.



►Notícias comentadas


Solid Snake do DF não consegue despistar a polícia com caixa de papelão (Enviada por @Porsche911, que já conseguiu uma vez escapar da polícia usando uma caixa dágua)


Homem fantasiado de Gasparzinho preocupa populares, que é um sinônimo excelente pra “povão”, e polícia é acionada (Enviada por @flavioalmeida, que só se fantasia de fantasma se for o do Pacman)


Ninfomaníaca alemã prende sujeito em seu apê e o obriga a fazer sexo por 36 horas (Enviada por @WillMends, que afirma já ter comprado uma passagem pra Alemanha)


“Doutor” examina “alienígena” que teria matado seu cachorro nessa misteriosa fita gravada nos anos 90 (Enviada por @Ramon_qs, que talvez seja o doutor do vídeo)


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Published on September 12, 2016 09:45

September 3, 2016

A resposta de Bel Pesce: Quando a emenda sai pior que o soneto, parte 1

(O texto estava ficando tão grande que, pra facilitar a leitura e oferecer uma resposta aos que insinuam que estou me “acovardando” após o posto de “esclarecimentos” da Bel, decidi dividir este artigo em vários, onde tentarei cobrir cada faceta da réplica da empreendedora.)


(Ah, e pode haver uns erros ortográficos aí. Corrigirei a medida em que vocês esfregarem-nos na minha cara, insinuando que sou um analfabeto)


cinco diplomas


Vou ser honesto aqui: eu não sei exatamente o que é um “soneto”, e espero que você também não saiba pra que eu não pareça tão burro. Claro, a raiz da palavra sugere uma conexão etimológica com “som” (?), então naturalmente eu suponho que seja algo relativo a cantoria, esses negócios de ópera, algo assim. O que provavelmente não é, mas eu já estou comprometido com essa analogia então não vou googlear agora. Se o jornalismo brasileiro pode passar anos sem googlear um personagem a quem eles deram palanque, eu posso me omitir de uma pesquisa pelo bom andamento dessa introdução.


Então, eu não sei o que é. Se você me mostrasse um soneto na TV, supondo que essa teoria de que é alguma coisa relativa a música esteja correta, eu não ia aprumar os óculos na cara e falar com voz empostada de connoisseur musical babaca “ora, mas é claro que isso é um belo soneto, até mesmo um palerma sem instrução facilmente vê!”. Sei lá que porra é essa.


E sei menos ainda o que seria uma “emenda” aí nesse contexto supostamente musical. Alguém que chega correndo pra consertar uma desafinada da cantora “titular”…? Pra uma emenda sair pior que o soneto, então, eu imagino a emendadora subindo no palco bêbada, com a maquiagem toda zoneada, e então tropeça no vestido e cai de cara no fosso da orquestra, quebrando a clavícula numa tuba. Seria isso?


Bom, esqueçam essa metáfora e vamos trazer pra algo mais simples, mais visual. Lembram do Mr Bean? Em seu filme, ele dá um perfeito exemplo do que eu creio ser uma expressão melhor pra “emenda pior que soneto”.



Na sequência acima, o Mr Bean espirra numa famosa pintura. Na tentativa de limpar a parada, o cara a mancha com tinta, arranca a tela da moldura, pisa em cima, e acaba finalmente usando tiner — assim, literalmente destruindo a pintura. Essa cena foi uma das primeiras em minha vida toda que me fez literalmente chorar de rir, o que até então eu pensava ser exagero linguístico.


A situação vai piorando vertiginosamente a cada tentativa do Bean de desfazer a cagada; as reações do personagem quando descobre que o próximo passo saiu pela culatra miseravelmente, tudo isso quando o espectador está cima de um alicerce contextual de que a pintura era muitíssimo valiosa e que cada burrice dele a deixa irreversivelmente mais longe disso. Inclusive, no ramo artístico dos caras que entendem de pintuas e arte clássica isso tem o nome técnico de “esmerdalhança total e irremediável


No final, resta ao Mr Bean desenhar um facsímile fajuto por cima do estrago; um que ninguém poderia argumentar que é uma reprodução fiel do que estava pendurado na parede antes (de fato, apenas um cego poderia ser enganado por ela) mas que o autor de toda a cagada apresenta na tentativa de mostrar aos que confiaram nele que tudo está ok.


Foi exatamente isso que a autora de “A Menina do Vale” fez. O quadro é sua carreira e imagem. O espirro, a descoberta das, digamos, pra ser gentil, “inverdades”.


E ao tentar limpar a coisa, ela tá jogando tiner e ateando fogo na pintura. Feito o estrago, ela completou com um desenho em cima que DEFINITIVAMENTE não é a mesma figura que estava lá antes, por mais que ela tente fingir que sempre foi assim.


Se você não tiver tempo de ler a resposta da Bel no Medium, esse vídeo aí é o equivalente cinematográfico dele. Diria até que assistindo esse vídeo você tem um “minor” em “Desculpas Esfarrapadas da Bel”, se é que podemos chamar aquilo de “desculpa” porque desculpa presume admissão de erro, e não é isso que o texto dela faz em momento algum.


Todo mundo assistiu Mr Bean, mas você já viu um soneto? Provavelmente não. Então, aí está uma metáfora melhor: “o conserto que ficou pior que o espirro”.


É isso. Vamos lá.


A respost…

Pera.


Antes de falarmos da réplica da empreendedora, preciso reportar a vocês o que se desencadeou depois da postagem daquele artigo.


The Aftermath

Rapaz, que confusão esse negócio rendeu! Meu site foi tirado do ar pelo HostGator, porque o servidor compartilhado que eu usava não aguentava o tranco do número de acessos (em alguns momentos, rendeu picos de milhares de leitores simultâneos, algo inédito aqui). Consigo imaginar o @pedrovanzella, que nunca perdeu uma oportunidade de me criticar por não usar um serviço melhor de hospedagem, me criticando silenciosamente de longe.


Foi por isso que pus o artigo naquele horroroso Medium, que é de longe o pior serviço de blogging que eu usei na vida. Alguns dias depois, sob tutela e auxílio cuidadoso do Pedro, consegui repôr o site no ar. Aliás, na real, ele que pôs essa merda toda de volta na internet, eu só loguei aqui e ali e apertei os botões que ele me mandou apertar na hora certa.


Sabe os macacos que a NASA treinou pra realizar operações simples em aeronaves no começo do programa espacial? Então, foi mais ou menos daquele jeito, com a diferença que eu tinha uma probabilidade maior de explodir a porra toda.


O meu artigo foi citado no Estadão, no Huffington Post, na VejaSPduas vezes no Pânico, na Época, e provavelmente em vários outros que agora estou com preguiça de procurar. O artigo correu as redes sociais no mesmo galope com o qual, predizem alguns, vem uma carta rogatória de São Paulo com direção à minha casa.


Fui bastante parabenizado pela pesquisa e pela redação do texto em si — embora, curiosamente, tenha recebido também muitas críticas de que o artigo era “demasiadamente agressivo” e “sem tom ou seriedade jornalística”. Nessa hora caiu a ficha que meu texto não estava mais sendo analisado pelo meu público usual, que entende meu temperamento e meu senso de humor. Eu não havia calculado inicialmente que o texto seria julgado por quem não me conhece.


Eu imagino que o que acontecia é que o sujeito via o burburinho relativo ao caso, via que parecia um assunto grave, e quanto se interessava o bastante pra clicar, já estava condicionado a esperar algum tipo de matéria mais séria. Sem saber que este é o mesmo site famoso por uma história onde eu cago no tapete do meu banheiro ou acidentalmente mijo no meu gato.


O que eu quero dizer é: eu sou, a priori, um humorista. Aliás, não, deixa eu corrigir isso: por mais que humorista não seja nem um título de prestígio, eu não sou nem bom o suficiente pra ser humorista. Tenho um blog e conto umas piadinhas que frequentemente nem engraçadas são.


O que torna inexplicável a exigência daquela matéria do Estadão, que diz que “falhei com a ética jornalística por não ouvir o outro lado da história” ou coisa assim. Essa acusação é hilária em várias camadas diferentes:



Eu não sou jornalista. Não faz qualquer nexo cobrar de um não-jornalista a ética jornalista (como se nossos jornalistas sequer a tivessem mas isso é um ponto paralelo);
O outro lado já foi ouvido, por anos, em um palco com maior alcance que o meu. A MINHA impressão dos fatos é que é o outro lado, o contraditório;
Não devo “direito de resposta” a ninguém, tampouco alguém que com uma postagem no Facebook alcança mais de meio milhão de pessoas e eu, uma fração disso. Não que eu esconderia a resposta dela, afinal, linko-a aqui com prazer (curioso que ela sequer me menciona na sua postagem, o que talvez seja até recomendação jurídica). Só me incomoda e rejeito fundamentalmente essa exigência de que é dever meu dar “espaço de resposta” a alguém que aparece em veículos de alcance nacional rotineiramente.
O autor da matéria não me procurou pra pedir de mim o MEU direito de resposta à sua crítica de mim, o que torna sua recomendação nada mais do que uma postura moralmente falida.


Uma parte não tão interessante assim (aliás, francamente assustadora e repugnante) foi a alteração histórica executada por meios de comunicação que outrora promoveram a moça. Em pelo menos duas ocasiões, de matérias que antes romantizavam os feitos de Bel Pesce foram removidos trechos de adulação e feitos duvidosos que soavam, pra ser plenamente honesto, como diretamente extraídos de um kit de mídia da moça.


O UOL Economia, por exemplo. Antes:



Hoje:



Em outras palavras, sempre estivemos em guerra com a Lestásia. Sem qualquer tipo de errata ou esclarecimento, o UOL literalmente mudou o que havia veiculado anteriormente. Sem qualquer exagero ou brincadeira — isso é Orwellianamente inaceitável, e se estão dispostos a fazer isso por uma bobagem como essa, é preocupante imaginar o que mais se arriscariam a “corrigir” quando fosse realmente de seu interesse.


Não foi só esse artigo. Tem este aqui também, que até pouco tempo era assim:



Agora, por que será, está assim:



Felizmente graças a inúmeros prints e ao Web Archive, na internet não existe buraco de memória onde fatos que contradigam a narrativa vigente possam ser extirpados completamente do registro histórico.


A ironia é que essa correção, que presumo tinha o objetivo de melhorar a imagem do UOL como um veículo de notícias, a piorou. Não foi só a Bel que estragou a pintura e desenhou uma tosquice por cima como forma de “conserto”.


Infelizmente pra Bel, o que ela falou em vídeo não é tão simples de editar. Então, entremos na resposta dela.


A resposta de Bel

Você conhece o conceito de “misdirection“? Oriundo do mundo da mágica, o “misdirection” é o OPA OLHE PRA LÁ, NÃO OLHE PRA CÁ NÃO, OLHE PRA LÁ POR UM SEGUNDINHO SÓ OK AGORA PODE OLHAR AQUI DE NOVO. Provavelmente não é coincidência que a Bel apelasse pra essa tática, visto que ela já atua num ramo que (assim como na mágica) basea-se em mostrar coisas num ângulo certinho, cuidadosamente, pra que o fantasioso pareça real.


Boa parte da resposta da Bel foca nas dúvidas levantadas sobre seu passado acadêmico. Como falei no meu texto, o que me despertou a curiosidade é a forma como na biografia em português, ela dizia explicitamente que tinha cinco diplomas…


O site dela permanece inalterado.


…enquanto em inglês ela é menos direta e fala só dos majors e minors:



Eu achei essas duas descrições totalmente conflitantes, que foi o red flag primordial dessa coisa toda. Primeiro, porque dois majors não significam necessariamente dois diplomas, como explica a Wikipédia:


“Apesar de declarar dois majors, a maioria das faculdades confere apenas UM DIPLOMA. “School”, a propósito, é usado nos EUA e Canadá como sinônimo de qualquer tipo de instituição de ensino.


Não há espaço pra chorumelas: quando ter dois majors não é nem necessariamente o mesmo que ter dois diplomas, de onde vem essa conta de CINCO diplomas, então…? Como ela acha apropriado mencionar MINORS (que no MIT requerem apenas entre 5 e 7 disciplinas) de DIPLOMA, quando por sua duração e escopo mal poderiam ser considerados cursos técnicos?


(Pior que isso, ter um major não é sequer sinônimo de ter se formado, como vemos aqui.)


Pronto, o palco está montado. Entra a ilusionista Bel Pesce com seus assistentes de palco, a mídia ingênua que acredita e replica o que ela alega.


Note: eu falei claramente “BEL PESCE DIZ TER CINCO DIPLOMAS EM PORTUGUÊS, MAS EM INGLÊS ELA É MEIO VAGA A RESPEITO DE TER SE FORMADO OU NÃO, E TERIA NA MELHOR DAS HIPÓTESES DOIS DIPLOMAS”, e mostrei os mecanismos lógicos através dos quais eu cheguei a isso.


Em resposta, o que ela faz? Ela mostra que não tem nada em uma manga, nada na outra, faz um gesto arcano com as mãos, e assim redireciona a atenção do público a algo que eu nunca falei: “BEL PESCE NÃO É FORMADA, PONTO FINAL“.


Tendo este espantalho nas mãos, ela enche então o post de fotos da formatura, dos exatos dois diplomas que eu previ, que até então aparentemente o mundo inteiro pensava ser cinco porque ela mesma falava explicitamente que eram cinco, e assim boa parte do meu artigo está “refutado”.


Mas o pior não é essa COMPLETA omissão de um pedido sincero de desculpas por ter acrescentado três diplomas aos seus dois reais. O pior trecho é este outro meta-misdirection, um truque de mãos paralelo enquanto já se está fazendo outro:


Se em algum momento, posicionar que tenho cursos em Engenharia Elétrica, Ciência da Computação, Administração, Economia e Matemática pode ter feito alguém se sentir ofendido, desculpe. Sempre que possível eu clarifiquei, mas de alguns milhares de vezes que eu tenha falado sobre o assunto, imagino que certas vezes realmente não tenha ficado claro(…)


That’s the pivot“, diriam os gringos.


Nos últimos dias, tal qual alguém que faz maratona de Breaking Bad, eu ficava me perguntando COMO essa protagonista iria escapar dessa vez. Enquanto eu já esperava que todo o resto seria remanejado com floreios semânticos facilmente palatáveis pros fãs cegos, estamos aqui falando de um fato objetivamente inegável:


5 ≠ 2

Não é POSSÍVEL que ela vai passar pano nisso. É?


E aí ela manda esse trecho que colei acima. Tive que levantar da cadeira e bater palmas. Ou melhor, teria, se essa transparente ginástica semântica tivesse colado entre seus seguidores, e não é bem o caso se os comentários do Medium e de sua postagem no Facebook são indicação de qualquer coisa.


Veja bem o que ela falou: “Se em algum momento, posicionar que tenho cursos em…“.


O que ela está dizendo nas entrelinhas, na esperança de que você aceite por osmose, quase na base da mensagem subliminar, aí é que tudo que ela sempre falou é que ela tem CURSOS (em Belspeak, “cursou disciplinas”) de Engenharia Elétrica, Ciências da Computação, Administração, Economia e Matemática. Afinal, ela realmente tem “cursos” de tudo isso que ela enumerava como diploma. Ela cursou algunas disciplinas dessas graduações, que é o que a dá os dois minors.


Perceba — o que ela fez nesse trecho é implicitamente negar que algum dia tenha falado “EU TENHO CINCO DIPLOMAS NAS DISCIPLINAS (…)”, o que ela teria dito é “tenho cursos nas disciplinas (…)”, o que é tecnicamente verdade. Afinal, um CURSO pode ser uma miríade de coisas (curso profissionalizante? Curso de reforço escolar? Curso como sinônimo de matéria de faculdade?), o que a dá bastante latitude pra dizer “você simplesmente me entendeu errado”.


Abracadabra. 


curso

“Gente eu só falei que tinha CURSOS, de onde vocês tiraram que eu falei “DIPLOMAS”?


Entendeu? Tecnicamente ela pode dizer que as matérias que completou são CURSOS daquelas graduações, e você que entendeu errado.


Tecnicamente eu posso chamar disso” é literalmente o MO dela. É através desse mesmo mecanismo de claríssima má fé que ela se chamava de “fundadora” de uma empresa que já existia, com donos bem definidos, a qual ela claramente se uniu pra ser funcionária subordinada de um chefe. Não é isso que compreendemos como FUNDADORA, não era isso que ela dava a entender quando se gabava de ter vendido tal empresa por 50 milhões de dólares (o que também não aconteceu):



“Uma das MINHAS empresas EU vendi por 50 milhoes de dólares”. O que se compreende ao ouvir isso? Que ela assinou um contrato pra entrar numa empresa já existente de outro cara, ou que ELA FUNDOU A PARADA E ERA LITERALMENTE A DONA?


…maaaaaaaaas, “tecnicamente eu posso me chamar de (co)fundadora sim, olha esse trechinho minúsculo de um contrato aqui que nem menciona o nome da Lemon ou sequer prova que o acordo foi concretizado!”. Cê tá percebendo o padrão?


Mas essa questão aí da Lemon e adjacentes é assunto pro próximo post. Não quero me estender tanto.



Voltando aos diplomas, ela também não tenta se desculpar por sempre se referir ao seu bacharelado em Electrical Engineering and Computer Science como se fossem duas formações distintas, o que simplesmente não é.


Em seguida ela cara-de-paumente manda que “sempre que possível eu clarifiquei”, como se não houvessem entrevistas com ela em vídeo em que ela diz, verbatim, “tenho cinco diplomas”.


O melhor vídeo sobre o "caso Bel Pesce" é esse né? pic.twitter.com/7rzHDdLVIT


— Evandro de Freitas (@evandrof) September 1, 2016



Como se o próprio site dela não dissesse “…onde se formou em Engenharia Elétrica, Ciências da Computação, Administração, Economia e Matemática”. Ela está tentando passar essa bola de que a mídia que “entendeu errado” porque ela não “clarificou”.


Na realidade, como o vídeo acima deixa absolutamente explícito, a única “clarificação” que Bel dava sobre seus cinco diplomas parece ser uma admissão flagrantemente envergonhada de que seus cinco majors/diplomas seriam “teóricos” assim que alguém fazia rapidamente a aritmética básica de que ter isso tudo de diploma não faz nenhum sentido. Eu tenho a impressão que esse entrevistador já estudou fora, e talvez por isso ela nem tentou empurrar a balela tradicional de “cinco diplomas” e já fez o downgrade pra “cinco majors” pra soar um pouco mais verossímil.


E ainda assim não deu, porque o cara IMEDIATAMENTE viu que a conta não fechava.


Bel, manda um mea culpa mais honesto em relação a esses seus cinco diplomas. Tá plenamente escancarado que você mentiu. Você deu a entender que tinha uma qualificação maior do que realmente tem, e vendo como você tem um benefício direto através disso (sua imagem e seu currículo é o que fazem comprarem seus livros, cursos e palestras), é plenamente desonesto.


E o pior: não sou só eu, o “hater” como você descreveu no Facebook, te cobrando. Inúmeros reais admiradores seus esperavam uma posição mais franca.


A pior parte disso tudo é o seguinte: você tem mérito por ter entrado E SE FORMADO no MIT, com dois majors ainda por cima. Eu, particularmente (qualquer nerd na real), acho o MIT uma instituição foda pra caralho. Quando moleque, lendo a revista Superinteressante, parecia que todas as mais incríveis pesquisas e projetos de computação, robótica, exploração espacial, computadores wearable e inteligência artificial saiam de lá.


Sabe aquele mundo paralelo do horrível Tomorrowland?



Na minha cabeça, o MIT era aquilo. Você já tinha DUAS formações que impressionavam.


(Já tô vendo os fanboys alucinando por achar que acertaram suas previsões de que tudo não passa de ~inveja~, o argumento com a firmeza moral e intelectual de uma criança de 12 anos)


Era reeeeeeealmente necessário multiplica-las, se colocando nessa posição extremamente desconfortável de fazer pretzels de palavras tentando se explicar (e nitidamente falhando)? Você parece não ter aprendido a lição principal desse caso inteiro:


Você não precisava ter inventado esses outros três diplomas, e poderia muito bem ter pedido desculpas mais honestas admitindo que mentiu. Parafraseando o célebre ditado e usando a suposta pronúncia correta do seu nome pro trocadilho infame: Pesce morre pela boca.


Essa sua súbita mudança de TENHO DIPLOMAS pra TENHO CURSOS é meio envergonhante, porque ela deixa subententido que você não respeita a inteligência dos seus seguidores. Alguns vão cair nessa, claro, afinal, por admiração cega já vi pessoas fazendo muito pior.


Mas eu pude constatar que a maioria do seu público é inteligente, por mais que você pense que não. Eles ESTÃO vendo o que está perfeitamente transparente. Talvez por ter sido adulada como menina genial por tantos anos, você achou imediatamente que essa estratégia de passar um verniz na mentira era obviamente acima da capacidade dedutiva de nós, meros mortais. Afinal, é mais um empreendimento da Bel Pesce.


A propósito: “empreendimento” não significa “entrar na empresa dos outros”, e nenhuma quantia de screenshot de contrato convencerá as pessoas que te ouviram falar explicitamente “minha empresa”.


“Vendi MINHA empresa”.


“EU VENDI MINHA EMPRESA POR 50 MILHÕES DE DÓLARES.”


Se tinha o nome de outra pessoa no final do contrato aprovando sua entrada nela, ela não era sua empresa, Bel. O “Ah, mas tecnicamente…” funcionaria se não fosse sua resposta pra tudo. “Tecnicamente trabalhei no Google sim, tecnicamente eu era co-fundadora da Lemon sim, tecnicamente eu tenho 5 “cursos” sim”…


Aliás, uma coisa que eu só fiquei sabendo no frigir de ovos durante essa confusão toda, que é uma expressão particularmente curiosa pra mim já que nem de ovo eu gosto — meu próprio pai trabalhava numa empresa onde, um dia, a divisão onde ele atuava fragmentou-se em uma empresa independente. Os empregados que já tinham anos de casa e migraram pra “nova” empresa foram “grandfathered in” como co-fundadores da nova empresa, que é um título total e completamente ornamental, por mais que alguns deles ganhem de bônus algumas ações na empresa e tal pra servir de incentivo. Meu pai continua, como sempre foi, apenas um funcionário que TECNICAMENTE estava na empresa desde o primeiro dia de sua existência.


Meu pai jamais, em hipótese alguma, se apresentaria por aí dizendo que “fundou” a empresa por causa disso. Seria, pra usar língua sem rodeios, uma franca loucura. Caso a empresa seja vendida eventualmente, ele da mesma forma não vai delirar dando carteirada por aí em tom de soberba dizendo que “vendeu sua empresa por X milhões de dólares”, porque essa representação é completamente fantasiosa.


Nos próximos textos abordarei a questão da Lemon, e os inúmeros vídeos e tweets em que você se referia dela com claríssimo tom de posse que hoje você evidentemente não usaria mais. Suspeito que hoje você não falaria algo assim:



Até a próxima.


Ah, e falando novamente sobre a imprensa: eu queria saber fazer amizade com eles como você. Primeiro te promoveram, e agora se referem ao seu post como uma “refutação” do que eu descobri quando você na real confirma TUDO QUE EU FALEI — os 2 diplomas, os estágios que você dava a entender em inúmeras ocasiões que eram posições de liderança, o fato de que você não fundou a Lemon como todos compreendiam de acordo com sua narrativa, e que tinha um tal de Wences Casares cuja existência e papel em te aceitar na empresa dele eu diria que uma parcela grande dos seus fãs desconheciam…


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Published on September 03, 2016 14:50

August 29, 2016

Bel Pesce e o empreendedorismo de palco: porque a Menina do Vale não vale tanto assim

1bel


Quando fiz meu vídeo sobre o hilariante fiasco da campanha de crowdfunding da “hamburgueria” Zebeleo (sim, ainda tenho um implicância quase irracional com esse termo desnecessariamente gourmetizado), fui duramente criticado por reduzir a tal Bel Pesce a “um desses playboys aí” com o que muitos julgaram ser um ar de desmerecimento.


O vídeo da presepada dos três foi tirado ao ar, mas a internet jamais nos priva dessas coisas. Aqui está o reupload:


//www.youtube.com/watch?v=_MSb5y6tDwI


Eu jamais tinha ouvido falar na moça, pra surpresa de muitos, e minha suposição é que ela era apenas mais um rosto entre essa turminha de hipsters millenials descoladinhos e cosmopolitas que orbitam o mundo marketeiro brasileiro enquanto repetem jargões da propaganda. Você sabe, aquela galera que está sempre inovando o mindset 2.0 do paradigma com sinergias do brand pra agregar ao engajamento do upcycling de um job e coisa assim.


Ledo engano. Fui informado que, em vez disso, a garota é uma wunderkind brasileira sem paralelos. Formada pelo célebre MIT, a menina passou por pelas mais consagradas instituições do mundo da tecnologia — Microsoft e Google –, e até meteu o dedo em um no sistema bancário. Não parando por aí, ela também fundou várias empresas (uma delas que, seguindo a cartilha de sucesso no Vale do Silício, foi posteriormente vendida por milhões).


E após todo esse sucesso que não deixa a desejar perante as biografias dos grandes luminários da tecnologia como Bill Gates, Steve Jobs ou Elon Musk, Bel Pesce voltou ao Brasil pra injetar uma necessária dose de empreendedorismo na nossa combalida economia.


Em outras palavras: eu sou um perdedor imbecil invejoso e a garota é um prodígio promissor que trouxe reconhecimento e o espírito empreendedor ao Brasil.


Da mesma forma que minha falta de respeito com os respeitáveis louros da garota provocou incômodo em muitos, houve um outro tipo de chateação no vetor oposto — alguns inscritos se revoltaram com a oportunidade que eu perdi de expor a moça que, de acordo com eles, é uma charlatã do emergente (e lucrativo) mundo do chamado “empreendedorismo de palco”. A mulher é uma fraude, insistiam alguns, e quando ouviram seu nome saindo de minha boca, eles esperavam que o foco do meu vídeo seria desmantelar a fachada de sucesso que a garota montou à base de palestras de auto-ajuda vazia salpicada com clichês requentados do tipo “acredite no seu sonho” e “cada derrota é uma lição aprendida”.


Esses detratores fizeram a moça soar como um Robert Kiyosaki de saias, isso é: um suposto empreendedor que é referenciado e reverenciado exclusivamente por gente iludida com promessas de riqueza e glória através de esquemas furados. Da mesma forma como o Kiyosaki é um profeta da galera das pirâmides financeiras, a Pesce seria da turminha com gana de “empreender”.


Incerto de qual dessas versões de Bel Pesce seria mais fiel à realidade (e já antecipando que a verdade estaria mais ou menos na intersecção das duas, o que é geralmente o caso), fiz o que fui ensinado a fazer dois mil anos atrás nas minhas aulas de Metodologia Científica na UFMA — observei sistematicamente, verifiquei a veracidade dos fatos propostos, e elaborei uma hipótese passiva da revisão por pares.


E a hipótese em que cheguei, lastreada nos fatos que discutirei nesse texto, é a terceira etapa do processo. Sejam meus pares e digam-me aí vocês o que pensam.


valley


Então. Pra entender melhor a biografia da moça, fiz o mesmo que faço quando a solução de um puzzle num videogame me escapa: recorri ao Google.


Fui levado ao seu site em inglês, onde é declarado que:


She studied at the Massachusetts Institute of Technology (MIT), where she got Majors in Electrical Engineering & Computer Science and Management Science, and got Minors in Economics and Mathematics. 


Eu franzi a testa. É uma forma particularmente curiosa falar qual a sua formação acadêmica dizendo que tem “majors em X” e “minors em Y”, e pra entender porque, preciso explicar como funciona a educação superior gringa.


Nos EUA/Canadá, o processo de formação acadêmica  permite que as disciplinas eletivas (ou seja, aquelas que não são diretamente fundamentais para o seu diploma) se agreguem de forma que você pode ser dito um mini-especialista num determinado assunto que foge da sua área principal, mas é também do seu interesse. Por exemplo: tenho um amigo que é formado em Biologia (ou seja, esse é o seu “major”; ele é biólogo, essa é a área de enfoque da sua carreira acadêmica e seu título), com um “minor” em Psicologia. Ele não é um psicólogo e nem pode se meter a diagosticar ninguém; ele tem apenas conhecimento superficial dos fundamentos da psicologia.


Que fique claro: o objetivo do minor é puramente saciar um interesse leve duma disciplina. Academicamente falando, é pouca coisa acima de ler artigos na Wikipédia sobre um assunto. Não é vantagem que se conte.


Além disso, dentro da cultura norte-americana, a linguagem do “tenho um major em X” é típica de alguém que cursou algo, não completou, mas quer ainda usar este fato para imbuir-se de autoridade acadêmica num determinado assunto, levando o interlocutor a concluir que está falando com um especialista formado naquela area.


Seria como eu querer usar o fato de que “cursei Física!” pra soar erudito e detentor da razão num assunto científico, omitindo o fato de que não me formei e que foi há tanto tempo atrás que não lembro mais de quase nada do curso.


Isso talvez se deva, naturalmente, a uma certa de falta de familiaridade da garota com a cultura e a língua (ou não, já que ela morou lá por sete anos), mas me deixou com várias pulgas atrás da orelha. A sintaxe mais comum seria dizer algo como “I have a degree in X”; informar major e minor é desnecessário.


…exceto, é claro, caso você queira pintar-se como um super-especialista que domina inúmeros campos diferentes.  Ao longo da minha “investigação”, descobri que parece recorrente o hábito da empreendedora de exagerar seus feitos usando palavreado vago.


A impressão que acabei tendo da Bel Pesce é, talvez mais do que os “Electrical Engineering & Computer Science and Management Science, Economics and Mathematics” que seu site enumera, a área em que ela é realmente expert é aumentar seu capital social aparente inflando seus feitos através de uma linguagem cirurgicamente específica que, embora evite entrar descaradamente na mentira, tem um claro design de induzir o interlocutor ao engano em relação às suas realizações.


Sabe o cara que descreve seu trabalho de caixa no McDonalds como “analista responsável pelo fluxo de capital operacional de uma grande empresa multinacional”? É nesse território em que estamos, e eu acho que posso provar isso de forma inegável.


Foi por isso que a moça parecia ter diplomas de Schrodinger — o número de canudos dela sempre variava entre 4 e 6 dependendo de quem estava escrevendo a matéria em português, um sintoma perceptível da dificuldade brasileira em compreender o que diabo seriam os “majors” e “minors”. “Bota aí que ela tem seis ‘diplomas’ mesmo, porra”, consigo ouvir mentalmente o redator preguiçoso ordenando alguém a simplificar a coisa.


E se a Bel Pesce se incomodava em publicarem erroneamente que ela era uma multi-profissional especialista em tudo e um pouco mais, ela não fez grandes esforços pra esclarecer isso.


Foi justo esse detalhe de “major/minors” (ao mesmo tempo que parce deliberadamente evitar se identificar como formada) foi o proverbial “onde tem fumaça, tem fogo” que desencadeou meu interesse em verificar as supostas conquistas da moça. Se a moça tivesse dito desde o começo “sou formada em X e Y, ponto”, eu não precisaria ter que escrever 10 parágrafos explicando isso, porque ninguém estaria pensando que a mulher tem um número surreal de formações e usando isso como argumento de que ela não pode estar errada. Como falei, fazer acreditarem que ela é uma profissional com múltiplas áreas de expertise não foi acidente — foi por desígnio.


Olha até a porra da UNICAMP falando que a mulher “se formou simultaneamente em cinco faculdades: engenharia elétrica, ciência da Computação, administração, matemática e economia“.


Em seu site em português, ela diz com todas as letras que se formou em cinco disciplinas. Ela também omite, mas é óbvio, que “Electrical Engineering and Computer Science” é um curso só no MIT,e não dois como ela obviamente tenta fazer parecer.



Diga-se de passagem, através do link aí do OpenCourseWare você pode literalmente assistir todas as aulas, acompanhar todos os exercícios do curso, fazer as provas e tudo. Espantoso!


Voltando às lorotas da Bel. Essa forma estranhamente inflada de descrever sua formação, somado a sites gringos dizendo explicitamente que ela “dropped out of MIT” (ou seja, “largou o MIT”), me faz pensar que nem formada ela é. Não estou dizendo que ela não é — estou dizendo que ela usa linguagem típica de quem não é, e que isso é… estranho. Uma formanda do MIT não deveria precisar desse tipo de palavreado pra inflar seu currículo.


O que ela está tentando esconder…?




Em seguida, voltei minha atenção à Lemon, uma (finada) empresa de planejamento financeiro que a mídia brasileira reportou que Pesce teria fundado. A página de Economia do UOL diz explicitamente que a brasileira fundou a Lemon, adicionando o floreio poético de que a empresa “nasceu das idéias dela”. A IstoÉ confirma que a autoria da Lemon é de Pesce, dizendo que a moça “montou sua própria empresa”. Nesta outra matéria, o UOL dá crédito de fundadora da empresa à Pesce (além de martelar novamente as supostas 5 formações da garota, num exemplo prático da máxima da “mentira contada mil vezes que se torna verdade”).


A fonte disso, evidentemente, são afirmações da própria Pesce — visto que nada no registro histórico da empresa confirma isso. De acordo com a Wikipédia, o fundador da compania é um empresário chamado Wences Casares.


A propósito, Casares deu em 2012 ao The Next Web esta entevista falando sobre a adição de Bel Pesce ao time. Por que um outro maluco estaria apresentando a suposta fundadora da parada como “uma adição ao time”, eu não sei. Ela não é citada como co-criadora ou nada assim.


Literalmente todas as matérias escritas sobre a Lemon que falam sobre um fundador (que não sejam brasileiras, e portanto usando como fonte a própria Bel) identificam Casares como tal. Aí estão algumas:


http://www.bizjournals.com/phoenix/blog/techflash/2015/08/lifelock-lemon-founder-locked-in-dueling-lawsuits.html


http://www.coindesk.com/lemon-wallet-acquired-lifelock-42-6m/


http://mashable.com/2013/12/12/lifelock-acquires-lemon/#YLeyy1Qj4mqf


http://www.recode.net/2014/3/13/11624538/lemon-digital-wallet-founder-wences-casares-gets-20-million-in


https://aerolab.co/lemon


http://latino.foxnews.com/latino/money/2013/12/20/son-sheep-ranchers-lemon-wallet-co-founder-wences-casares-is-serial/


http://www.forbes.com/sites/brucerogers/2012/08/23/will-wences-casaress-lemon-com-replace-your-wallet/#697a181d43cc


É claro e inegável — A única pessoa alegando que Bel Pesce fundou a Lemon é Bel Pesce. Curiosamente, ela jamais corrigiu os repórteres que atribuiram a empresa a ela (de onde você acha que veio a versão em que ela é a criadora da parada, afinal de contas…?).


Ela trabalhou na empresa, sim, mas exagerou os detalhes de sua atuação, o que é bem similar ao exagero dos quatro ou cinco ou seis diplomas.


Veremos que isso é um padrão no currículo da “empreendedora”.




Antes da Lemon, a Bel já era conhecida como uma história de sucesso por “ter trabalhado no Google, Microsoft, e Deutsche Bank”.


Exceto que ela não “trabalhou no Google, Microsoft e Deutsche Bank” da forma que vem em mente quando lê esse currículo, e essa ilusão é mais uma vez intencional.  No seu LinkedIn, ela é atipicamente franca — na realidade, ela fez apenas curtos estágios facilitados por um programa do MIT que envia estudantes pra trabalhar em grandes empresas. A realidade é que não há nada de muito glamuroso nesses estágios — os estudantes geralmente fazem afazeres triviais ao redor do escritório e participam em modo “read only” (ou seja, só observando, sem muito input ou autonomia) de alguns projetos paralelos das empresas. Basicamente, pra ver como é que é trabalhar no Vale do Silício.


Diga-se de passagem, o MIT manda aluno a rodo pra ser escraviário em empresa de tecnologia. Não é algo particularmente excepcional ou prestigioso. Vários destes estágios sequer são remunerados.


Somando todo o tempo que ela passou nessas três empresas, dá pouco mais de um ano — 4 meses no Google, 4 no Deutsche Bank, e outros 8 na Microsoft (embora neste vídeo ela diga que só passou 3 meses lá…?). E, novamente, o registro histórico não confirma suas alegações de que ela participou de projetos das empresas.


Por exemplo. No LinkedIn, Pesce diz sobre sua atuação na Microsoft:



[Bel Pesce] was part of a project to develop software that uses a webcam to track users’ actions. The main goal was to create a Multi-Touch interface that would let people interact with computers by only using a webcam and colored objects. The project also included a Software Developer Kit (SDK) that would allow other users to create their own Multi-Touch applications. Bel was part of the day-to-day of the project, documented the SDK, produced a demo to show the power of the SDK, recorded walkthrough videos to teach how to use the SDK.



Só tem um probleminha. Aqui está a lista de coordenadores e desenvolvedores do projeto. Aqui há uma página onde o grupo responsável pelo Touchless presta agradecimentos a membros da comunidade que também os ajudaram. Repare a distinta ausência do nome da Menina do Vale nas duas.


E este é o vídeo da apresentação do SDK do Touchless:



A empreendedora brasileira também não se faz presente nessa apresentação. O que é muitíssimo provável é que em sua curta curta passagem na Microsoft, ela fez nada além de auxiliar o grupo em tarefas triviais de escritório — ou seja: coisa de estagiário mesmo.


Isso não a impediu de, aos 24 minutos deste vídeo, se caraterizar como líder/organizadora do projeto. Michael Wasserman, o real idealizador do Touchless, talvez não gostaria de saber que uma autora brasileira de livro de auto-ajuda está tomando crédito por sua invenção.


Quando fala de seus dois meses no Google, Bel diz que…


Developed a tool that help find bottlenecks in the machine translation code. The tool puts together CPU, RAM and disk usage information, along with periodic code profiles.


Mas que “tool” foi essa? Cadê o nome da ferramenta? Por que omiti-lo…? E a documentação? Referência em algum lugar qualquer? Confirmação externa de seu envolvimento com tal ferramenta?


Não existe.


Em sua outra passagem pela Microsoft, ela atribui a si mesma…



Development of software for Smartphones

Fully experienced Program Manager, Developer and Tester roles during the project:

Program Manager: organize the project as a whole – write specifications, negotiate features, drive meetings, research technologies, design project website

Developer: Write clean and efficient code, making use of the newest technologies to improve coding solutions

Tester: Create smart test cases and debug the software



Que software ela desenvolveu pra smartphones? Estagiária program manager? Como assim? Aliás, é curioso que esta prolífica programadora e “fully experienced program manager” não tem uma página no github, ou uma linha de código sequer atribuída a ela. Como alguém frequentou uma das maiores faculdades de tecnologia e se formou em Ciência da Computação sem ter literalmente UMA LINHA DE CÓDIGO PUBLICADA chega a ser fantástico.


Já na Ooyala, uma plataforma de vídeo online que ninguém nunca ouviu falar na vida, ela teria “liderado três times de engenheiros”. Aliás a citação é perniciosamente recorrente:



Eu te desafio aqui e agora a achar QUALQUER menção da moça trabalhando na Ooyala, qualquer documentação, e liderando os tais “três times de engenheiros” que não seja um texto citando isso como seus atributos de palestrante. Vai lá.


Ela só diz que fez e aconteceu, e a mídia acreditou sem pestanejar. Além de aumentar sua contribuição em projetos, essa é a outra marca registrada de Bel Pesce — a estranha ingenuidade que a mídia brasileira tem perante suas alegações facilmente refutáveis.




Além dessas conhecidas empresas em que Bel Pesce teve uma brilhante participação [citation needed], a inovadora também iniciou inúmeras empresas próprias. Quando eu digo “inúmeras” é literalmente porque não consigo enumera-las; quando mais eu pesquisava, mais empresas supostamente criadas pela Bel Pesce apareciam. A garota é uma boneca russa de empreendimento, você abre uma e tem outra empresa dentro.


Por exemplo. Neste artigo, aparentemente escrito por algum tipo de fanboy da garota, aparece a menção do Talenj, uma empresa co-fundada e comandada pela Bel. O site descreve o Talenj como “a company that makes and designs websites”. No Twitter, ela diz que a proposta da Talenj era “conectar consumidores a marcas por meio de competições“. A UNICAMP descreveu o Talenj como uma empresa que “promove aprendizagem por meio de desafios on lines“.


É quase como se ninguém soubesse que porra afinal é o tal Talenj, né?


Hoje eu farei algo que ninguém da mídia fez: vou te mostrar o que é realmente o Talenj.



É disso aí que a garota é CEO. Ou nem isso, já que de acordo com a política de privacidade da “empresa”, o responsável pelo site é um tal de “Alex”.


Voltando ao LinkedIn da moça, vemos que ela foi responsável pelo “business development” de um tal de Krowder.com. A página é defunta, e até o Wayback Machine tem dificuldade de catar seus elementos. Por que ela está clamando atuação com nome glamuroso numa “empresa” morta, que ninguém jamais ouviu falar, supostamente num estado onde a Bel Pesce nunca morou.


Ela é também a CEO e fundadora do WhatIf, um site com design que eu esperaria de um adolescente em 1999 e não de uma graduada em ciência da computação pelo MIT. Novamente — página quebrada, defunta, sem qualquer referência a ela como fundadora, e que muito evidentemente não rendeu um centavo qualquer.


Entre 2007 e 2008, Bel também diz ser a CEO e co-fundadora do “WaterAfrica”, engajada no “Development of a solar-powered piping system that enables better water distribution in Africa“.


Achei duas WaterAfrica na internet inteira. Uma foi fundada em 2006 por alguém chamado Bill Savage, e a outra existe desde 2001. Lembre-se disso da próxima vez que um fanboy da empreendedora disser que a menina “gastou tanto de seu tempo com ONGs beneficentes”, como foi o caso nos comentários do meu vídeo. Talvez ele ache que ela DE FATO fundou tais empresas, quando a realidade é que eram devaneios esparsos de uma garota imaginativa.


Eu paro pra pensar que esse texto seria bem menor e mais fácil de escrever se a Bel não tivesse inventado TANTA história.




Eis a minha hipótese. O mérito real da Bel resume-se a ser aceita e formar-se (?) no MIT. Lá ela tentou entrar na indústria da tecnologia, e aparentemente não obteve muito êxito, porque tudo que ela conseguiu fazer foi estágios curtos e sites mal-acabados sem muito propósito ou sequer usuários. A empresa que ela supostamente fundou foi vendida por US$ 42 milhões e a menina não recebeu um centavo sequer, aparentemente não manteve equidade na empresa, nadica de nada.


Com o visto de estudante expirando e nenhum prospecto trabalhístico concreto que a permitisse estender sua estadia na gringa (em um vídeo que agora não encontro, ela deixa esse detalhe escapar, chegando a brincar que cogitou casar com um americano pra permanecer nos EUA), o jeito foi voltar ao Brasil. Foi aí que ela decidiu reinventar a “Bel Pesce que se formou numa das mais prestigiosas instituições de ensino tecnológico do mundo e que não conseguiu transformar esse diploma em NADA rentável e sequer permanecer nos EUA” pra “Bel Pesce prodígio com cinco formações, quarenta startups de sucesso, posições prestitiosas no Google e na Microsoft, autora de inúmeros produtos e serviços”.


Não importa quão absurda seja a sua lorota — alguém vai cair nela. Tem gente que acredita no Inri Cristo, afinal de contas. Eu não esperava é que a porra do jornalismo brasileiro (sempre sedento por histórias de brasileiros vencedores) deixasse a peteca cair tão lamentavelmente, repetindo feito papagaio o suposto sucesso da mulher, inquestionavelmente dando respaldo a “empresas” como a Talenj, sem excercer o mínimo de ceticismo responsável, e assim sendo cúmplice em seu processo de finalmente abrir uma empresa de verdade:



Uma empresa que ensina os outros a fundarem as próprias empresas — com cursos ministrados por alguém que nunca fundou uma própria empresa.


Uma ouroboros do empreendimento. Um loop recursivo de “inovação”. E como não falta trouxa nesse mundo, um moto-perpétuo de dinheiro.


Se a história parece inacreditável, se a despeito de todas as provas que você mesmo pode verificar você ainda acha que a mulher DEVE ser tudo que alega ser “porque apareceu na TV, saiu na IstoÉ…”, eu tenho que te informar que você é muito novinho, ou tem memória curta. Não é a primeira vez que um suposto intelectual com mais títulos universitário do que a maioria das pessoas tem bonés foi à TV relatar seus feitos fabulosos, salpicando suas abobrinhas travestidas de sabedoria. Lembram do Omar Khayyám?


Diga-se de passagem, esse negócio de empreendedorismo de palco lembra muito o esoterismo de rituais religiosos. O culto de personalidade em volta dos”líderes” dos quais não se pode falar mal, lendas passadas de boca a boca sobre seus feitos magnânimos, essa histeria de SIGA SEU SONHO REALIZE SEU POTENCIAL… agora tem até videoclipe chifrim semi-gospel declamando as virtudes do estilo de vida empreendedor:




Que negócio brega do caralho. Troque uma ou duas palavras e você pode passar esse vídeo numa reunião de Herbalife ou em culto evangélico.



Esquecemos do Luiz Almeida Marins Filho, outra estrela do circuito de palestras motivacionais, com passagens por liderança de empresas gringas e inúmeras formações (até DOUTOR ele era!) — até o dia em que alguém olhou a fundo e descobriu que boa parte do currículo era aumentado. Já esquecemos do Bernard Madoff, um dos maiores charlatões que o mundo já viu, que abusou de sua influência no mundo finnaceiro pra fraudar investidores por mais de 18 BILHÕES de dólares?


Há uns cinco anos atrás, certamente alguém que tentasse alertar um amigo admirador do Madoff ouviria um “afff mano, ele é bilionário, tá lá em Wall Street e o caralho, apareceu em mil matérias sobre empreendimento, você acha que sabe mais que ele?” Hoje Madoff, que atende por “Prisioneiro #61727-054”, anseia pela data de sua liberação do chilindró: 14 de novembro de 2139 (sério, ele pegou 150 anos de cadeia. Os gringos não passam a mão na cabeça dos 171).


Algumas pessoas obtém reconhecimento (merecido ou não) e usam isso pra vender o ilusório. Parece exatamente ser o caso da Bel Pesce — foi aos EUA, frequentou uma instituição prestigiosa, passou (rapidamente) por várias empresas, apareceu em algumas matérias na gringa, o que a conferiu o verniz da legitimidade, e pronto: mesmo sem jamais ter empreendido na vida, faz pose e fala como especialista.


E pior, vende como especialista. Ela não fala muito sobre isso porque talvez ainda esteja explorando a validade do modelo de negócios, mas aparentemente a Bel planeja em breve iniciar franquias da FazINOVA, sua escolinha de empreendimento/auto-ajuda, prevendo tiers de investimento superior a cem mil reais.


Bel Pesce não tem literalmente conteúdo algum. Esta é a verdade inconveniente. Ela é basicamente um equivalente feminino do Tai “Here in my garage in Beverly Hills” Lopez: tem dinheiro, é supostamente um famoso empreendedor, já falou no TED também… mas todo mundo sabe que o cara é um charlatão do caralho, e ele é zoado abertamente por isso.


Ela tentou enturmar-se no Vale do Silício, mas nem a formação no MIT ajudou. Sem sucesso, voltou ao Brasil enaltecendo os próprios feitos na Meca Tecnológica tipo o Alfaiate Valente que anuncia “matei sete!”, omitindo que foram na verdade sete moscas — e como o protagonista da fábula, uma vez que a patuléia acreditou no homicídio séptuplo, manter a fama foi só uma questão de malandragem.


Seus livros são repletos de anedotas que, a julgar pelo sua característica de falta de compromisso com a verdade, tem o valor histórico das estorinhas do Sítio do Picapau Amarelo. Os conselhos de “empreendimento” não chegam nem a ser rebuscados como os dos outros autores de auto-ajuda venerados por piramideiros e outras amebas intelectuais. Eu te digo pra “acreditar nos seus sonhos” e “continuar perseverando” de graça.


As “empresas” atuais de Pesce citadas em suas biografias são a tal FazINOVA, que como mencionei é um cursinho de auto-ajuda que ela tem aspirações de transformar em franquia; a Enkla, uma editora que só publica livros dela, A “Figurinhas”, uma agência de publicidade que nem site tem, e o BeDream, com um site tão vago e piramidesco que eu te DESAFIO a me explicar do que se trata.


A moça não fez nem metade do que é atribuído a ela, e seus “empreendimentos” são transparentemente um veículo pra reafirmar sua habilidade de empreendedora. Empreendedorismo vindo do nada e servindo pra alimentar o próprio empreendedorismo: há algo quase termodinamicamente errado com essa equação.


E nem precisei ir pro MIT pra perceber isso.






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Published on August 29, 2016 02:37

August 24, 2016

[ Vergonha Alheia DO ANO ] Casamento temático de Pokemon

Rapaz, eu me amarro em vídeos de vergonha alheia.


Parte disso é porque ver gente muito desajustada e sem jeito faz com que eu me sinta um pouquinho melhor em relação a mim mesmo (“porra, eu sou tosco, mas não sou TÃO tosco assim pelo menos…”). Outro fator que contribui pra esse hobby de voluntariamente me expor a doses cavalares de vergonha alheia é porque provavelmente existe em mim alguma glândula que libera endorfinas quando ativada quando assisto cenas lamentáveis.


É por isso, provavelmente, que eu assisti The Office de cabo a rabo três vezes — mesmo que a saída do Steve Carell tenha reduzido muito os momentos na série em que você faz essa cara:


cringe

O Andy Bernard tentou, pelo menos.


Pois bem.


Mesmo eu sendo um connoisseur de vergonha alheia, um entusiasta do schadenfreude, um hobbysta da tosqueira, eu conheci essa semana um vídeo que praticamente me quebrou. Eu nunca vi uma concentração de vergonha alheia tão grande num vídeo só.


É algo realmente fantástico; o número de coisas que precisou dar errado na vida de todas as pessoas envolvidas no vídeo abaixo pra que o evento registrado acontecesse desafia a probabilidade. Mesmo sabendo que existem provavelmente infinitos universos paralelos eu duvido que as circunstâncias necessárias pra esse vídeo se alinhem novamente. Vamos lá.



Logo de cara, É UM CASAMENTO POKEMON. Não apenas isso, mas um casamento pokemon low budget. Vamos abordar separadamente ambas parcelas dessa soma. Ou seja lá qual é o nome das partes de uma soma. É “parte” mesmo? Finalmente surge o dia em que eu preciso lembrar de algo da minha segunda série e meu cérebro me deixa na mão.


Primeiro, casamento pokemon. Mano, eu curto joguinhos em geral e pokemon em particular. Eu tenho uma tatuagem de pokemon. Eu não sou o tipo de gente que fala que “videogame é coisa pra criança”, até porque não estamos em 1996.


Só que como dizia meu professor de cálculo diferencial na faculdade, TUDO TEM UM LIMITE.


Eu não sou o cara mais tradicional do mundo (como mencionei, tatuagem de pokemon…) mas porra, casamento é uma instituição social milenar, até citada na bíblia essa porra é. É uma das poucas ocasiões em que a sua família extendida e a da sua esposa vão interagir — por “interagir”, entenda-se “comer e beber às suas custas, possivelmente reclamando ao mesmo tempo”. De fato, é nesse dia em que as duas famílias se tornam uma amálgama. Talvez esse seja um bom dia pra agir como um membro produtivo da sociedade.


Não é apenas inortodoxo dar a esse dia uma temática que se encaixaria melhor no aniversário de criança de 5 anos, é realmente vergonhoso; é o tipo de coisa que dá a gamers aquela má fama de serem um bando de manchild autista.


Dar um ou outro detalhe nerd e que represente a personalidade do casal no casamento, vá lá. Por exemplo, tem umas fotos de bolo de casamento baseado em Mario bem bacana. É uma forma um pouco mais, digamos, discreta de injetar um pouco dos seus interesses na data especial. No casamento de um amigo nerd meu, o buquê de flores era feito de um arranjo de Fire Flowers do Mario, manja? Um detalhe pequeninho, uma espécie de aperto de mão secreto pros outros nerds na platéia.


Algo que não faça o seu casamento inteiro parecer que deveria ter acontecido dentro daqueles salões do McDonalds pra festinha de criança.


E tem o fator “casamento low budget”, que é uma fonte inesgotável de vergonha alheia também. Olha, eu sei que soa babaca falar isso, mas seja honesto consigo mesmo — você SABE que casamento de baixo orçamento é um negócio tragicômico.


Quando eu me casei em 2012, minha situação financeira era beeeeeem diferente. Eu trabalhava numa porra duma sex shop, e esse negócio de contar piadinha na internet não rendia nada. Eu e minha esposa planejamos um casamento beeeem “simples” (eufemismo pra “de pobre”, sejamos francos): uns 20 convidados só, num centro comunitário na cidade natal dela. Nenhuma decoração (“ah, pra que gastar dinheiro só pra enfeitar o local…”), sem fotógrafo, sem comida, sem DJ… pra ser mais “humilde” que isso (nosso povo adora um eufemismo pra “pobre”, né?), só se eu levasse a menina de ônibus pro cartório vestida de noiva.


Uns dois meses antes do meu casamento, um velho conhecido meu lá da cidade da minha esposa se casou no mesmo local que escolhemos. As fotos resultantes do evento, que tinha as mesmas proporções modestas que tínhamos em mente, me CHOCOU. O noivo de camisa de botão com manga curta e gravata parando no meio da barriga, o local totalmente desguarnecido, os padrinhos sem sequer usar roupas combinando, não tinha comida, nem fotógrafo tinha — as fotos “oficiais” do casamento foram tiradas com um iPhone.


Decidi que minha futura esposa merecia uma memória melhor que essa, então resolvi tirar o escorpião do bolso e gastar um pouco mais pra ter algo um pouquinho melhor que aquilo.


Se endividar pra pagar uma festa de casamento é OBJETIVAMENTE uma má idéia. Só que é igual comer um Big Mac de café da manhã — uma péssima idéia que na hora me pareceu a coisa certa a fazer, e eu não me arrependo.


Mas voltando ao vídeo. Ele é repleto de elementos sensacionais; a vergonha alheia vai acumulando e acumulando como uma bola de neve de humilhação. A saber:



O supracitado tema de pokemon, completo com noivo vestido de membro da Equipe Rocket e o caralho;
Um sujeito usando uma porra de uma máscara de cavalo NUM CASAMENTO, o que te diz tudo que você precisa saber sobre a (falta de) noção dos envolvidos;
Encenação de batalha pokemon por parte dos convidados;
O nível cospóbrico das fantasias dos mesmos;
A noiva que tem o dobro do tamanho do noivo, fazendo-a parecer babá dele;
A guriazinha que sai cantando a música do Jigglypuff. Cercada de adultos mal ajustados, essaí vai estar escrevendo fanfic no Tumblr e pintando o cabelo de azul em breve;
A paródia da canção de abertura do desenho, com uma letra “romântica” e backvocals fora de sincronia;
Caralho, a noiva tá usando um fedora mano;
A encenação da Equipe Rocket;
O fato de que a noiva e o noivo DÃO UM HIGH FIVE quando o… padre…? os pronuncia oficialmente casados;
A coitada de peruca roxa cantando “All of Me” do John Legend de uma forma meio… psicopata. Agora que paro pra pensar, ela é provavelmente a conhecida que “canta bem”. Se pá tem vídeo dela no YouTube chacinando outros clássicos da música conteporânea;
Esta garota no canto inferior direito desse frame, personificando tudo que eu sinto vendo o vídeo:

“O que diabos eu estou fazendo aqui?”



A proposta de casamento que aconteceu em seguida (não pode haver nada mais cafona que pedir alguém em casamento DURANTE UM CASAMENTO);
No final do vídeo, a noiva falando “perfect!”, quando o casamento teria que melhorar MUITO pra chegar a medíocre.

Sério, esse é o vídeo mais vergonhoso que eu já vi na vida. O fato de que eles decidiram colocar isso na internet me diz muito sobre o que essa galera considera socialmente aceito.


Sinto que preciso de um banho depois de ver esse vídeo de novo, e espero que você compartilhe desse sentimento.


“Cause aaaaaaaaaaaaaaaaaaaall of me loves aaaaaaaaaaaaaaall of you…”


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Published on August 24, 2016 08:42

August 23, 2016

Episódio 14: Especial Olimpíadas

Foram bonitas nossas olimpíadas, diz aí!


episodio14


Mas rolaram alguns percalços, claro. Teve o Engenhão, cujo portão precisou ser arrombado pelos bombeiros; o japonês que deu uma pirocada durante o salto com vara, o técnico perdedor que culpou nossos candomblecistas, e a presepada dos nadadores americanos que foram “assaltados”.



►Notícias comentadas


Trancaram um estádio e esqueceram a chave (enviado por Paulo Barquinha)


Japa mete a piroca na trave. Creio ter doído (enviado por Grenny Souza)


Francês culpa nossos praticantes de afroreligiões pela derrota  (Enviado de novo por Paulo Barquinha)


As mentiras do time de natação americano (enviado por Izzy Nobre. Sim, eu mesmo)


►Vídeos e imagens comentadas


O stream da “Paula Vado”


Eric a Enguia:



Evandro me mandando screenshot:


olha como o evandro me manda um link pelo skype pic.twitter.com/Vq5j0JyKpd


— Izzy Nobre (@izzynobre) August 18, 2016



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Published on August 23, 2016 09:44

August 15, 2016

Não jogar Pokemon Go não faz de você um ser humano superior

nao jogar


Não podemos exatamente alegar surpresa, né?


Como toda outra onda popular, o sucesso de Pokemon Go resultou em uma penca de postagens mimimisticamente reacionárias ao sucesso do jogo. A propósito, podíamos despir o termo “reacionário” desse tom obrigatoriamente político que a palavra adquiriu nos últimos anos, por obséquio? “Reacionário” não é apenas quem vota no Aécio ou pede a saída da Dilma; reacionário é simplesmente qualquer pessoa que se opõe de forma bem enérgica a algo que geralmente representa uma mudança na ordem social das coisas.


Eu queria poder usar o termo sem ter que sempre dar esse disclaimer chato. Ajudem aí, por favor.


Então. Após o sucesso de Pokemon Go, surgiu em inúmeras pessoas o desejo irresistível de ser o contrariador diferentão hipster que só gosta de coisas rebuscadas (mas que por algum motivo ainda frequentam assiduamente justamente a porra do Facebook).


pika

Antes de Pokemon Go, ninguém andava por aí olhando pros celulares


Eu teria uma certa dificuldade em entender por que tanta gente criou uma antipatia gratuita contra o jogo, se eu já não estivesse acostumado com esse hábito que as pessoas tem de desdenhar as coisas à toa. Só que ainda assim, me parece um gasto de energia totalmente incompatível com a coisa da qual estão reclamando.


Se pusermos Pokemon Go na ponta do lápis, perceberemos o seguinte. É nada senão um joguinho gratuito que:



Está tornando as pessoas mais ativas, e sem qualquer gasto monetário ou as usuais promessas ilusórias da indústria fitness. É, possivelmente, o mais eficiente incentivo pras pessoas saírem por aí se exercitando. Vagabundo não levanta do sofá pra ficar menos gordo e quiçá pegar aquela amiguinha da faculdade, mas pra pegar um Bulbassauro maluco vai correndo até a cidade vizinha se for preciso;
Está ajudando crianças com deficiências psicológicas a se socializarem com suas famílias, como foi o caso aqui;
Está fazendo pessoas explorarem e apreciarem mais as suas próprias cidades, irem a locais que normalmente não iriam, e por consequência acabar movimentando a economia local;
Falando em economia, Pokemon Go está despertando um inesperado sentimento empreendedor. Estão pipocando por todo canto nano-empresários que servem à comunidade de jogadores, provendo amenidades, transporte, recarga de celular, entre outros. Considerando que somos de um país onde ser funcionário público concursado é um objetivo de vida nacional, eu considero esse surto de empreendedorismo muito bem vindo.

O joguinho que você acha “idiota” tá colocando comida na mesa de alguns



Está unindo pessoas de gerações diferentes num hobby em comum. Nessa atualidade hiperpolitizada que nos estratifica até dentro da própria família (quem aí não conhece um parente que se desentendeu com outro por causa de uma ideologia ou inclinação partidária?), é um pouco confortante até ver que existem algumas coisas que todos podemos apreciar juntos, sem precisar transformar o tempo todo em uma disputa política.
Está trazendo alívio a pessoas com saúde limitada, como pacientes de câncer em hospitais infantis. Debilitados e às vezes com poucas esperanças no horizonte, a pivetada se sente mais incluída e se distrai dessa desgraça inenarrável que é o câncer infantil brincando da mesma coisa que seus amigos saudáveis também estão — um luxo que eles raramente tem. E, novamente, sem custo adicional pra uma família que já está à beira de um colapso nervoso.

A rede pública de saúde da minha província espalhou esse cartaz em todos os hospitais aqui


Eu não consigo lembrar a última vez que um joguinho grátis de celular — algo totalmente inconsequente pra sua vida caso você não esteja interessado em participar, parece importante lembrar — teve tantos efeitos colaterais benéficos. Sim, existem histórias de retardado que bate o carro porque estava tentando pegar um Charmander e coisa assim, mas retardado dirigindo de forma imprudente não foi uma invenção de Pokemon Go.


Particularmente, eu não  gostei de Pokemon Go. Quase nada do que me atrai aos jogos da série está nessa versão pra celular; eu acho genial o incentivo de sair andando por aí, mas o processo de captura dos bicho é basicamente um joguinho de ficar passando o dedo na tela do celular.


E me sinto mal por isso. Vejo meus amigos curtindo pra caralho, comparando as capturas, planejando caminhadas pela cidade, apreciando um interesse em comum… e eu de fora.


Não consigo entender a mentalidade de se encher de prazer auto-congratulatório por ser excluído de algo. Não é possível que pagar de hipster do contra no Facebook seja tão bacana assim.


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Published on August 15, 2016 19:05

Episódio 13: Especial Pokemon Go!

LET’S DO THIS


pokemon


VOLTAMOS! Após um trágico deslocamento de ombro que é mais uma prova de que o universo me odeia, eu e Evandrinho of Fritas lemos algumas das notícias bizarras relacionadas a Pokemon Go. Diga-se de passagem, o episódio foi gravado semanas atrás, então a gente sabe que de lá pra cá já rolou inúmeras outras maluquices.



►Notícias comentadas


Reporter sem noção jogando Pokemon Go NUMA COLETIVA SOBRE TERRORISMO GLOBAL (Enviado pelo @zukovyper)


Muié fica presa em árvore e no final das contas provavelmente acabou pegando mais um Pidgey inútil (Enviado pelo @edsonmacields)


Mulher descobre chifre graças aos hábitos Pokemon Goísticos do namorado (Enviado por @rodrigobalero)


Imbecil dirige jogando Pokemon Go e bate logo numa VIATURA DA POLÍCIA (Enviado por @LeoLeonardo85)


 


►Vídeos comentados



 



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Published on August 15, 2016 07:00

July 24, 2016

Episódio 12: Catracas e Marmitas

VAMO.


episdio 12


Hoje temos uma presença ilustre no podcast: o senhor doutor rei dos escritores Affonso Solano, do MRG!


Desta vez cobrimos a estranha caminhada da paz (entre gangues?!) que resultou em inúmeras prisões, um jovem que foi xingado por uma catraca, o drama da criança mais gorda do mundo, e um pilantrinha juvenil que, mesmo tendo passagem pela polícia E mandado de prisão ativo em seu nome, resolveu ir entregar uma marmita numaa delegacia. Adivinha no que deu.



►Notícias comentadas


A caminhada pela paz que terminou com um monte de gente no chilindró  (Enviado por @eitaporralucas)


Jovem é chamado de “boiola” por uma catraca (Enviado por @vovofabio)


Eu tô gordo, mas pelo menos (ainda) não saiu matéria me apresentando como o MAIS GORDO do mundo (Enviado por @paulobarquinha)


Jovem inconsequente vai à delegacia entregar marmita mesmo sendo procurado pelos homi (Enviado por @cgazeredo)


►Minha participação no MRG!


MRG A Voz do Robô 24


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Published on July 24, 2016 19:46

Izzy Nobre's Blog

Izzy Nobre
Izzy Nobre isn't a Goodreads Author (yet), but they do have a blog, so here are some recent posts imported from their feed.
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