Denise Bottmann's Blog, page 103
July 28, 2011
poe XL, o conto fantasma
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Como se vê na foto do índice do volume, aqui , "Berenice" se iniciaria à p. 148. Sendo o único conto cuja tradução não é atribuída a Sandro Pivatto, a Berenice Xavier ou a Luisa Lobo
na página dos créditos, imaginar-se-ia que finalmente seria a tradução de Brenno Silveira, que consta com destaque na página de rosto. No entanto, o livro termina na p. 147. Não sei se a foto consegue mostrar o que está na sequência, e que seria a p. 148:
a propaganda do lançamento de O exorcista. E, depois de mais algumas páginas de divulgação das obras publicadas pela editora, termina o livro.
A meu ver, essa edição da Edibolso, com traduções licenciadas
da Cedibra, lamentavelmente integra o capítulo das infâmias editoriais na história de Edgar Allan Poe no Brasil.
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Como se vê na foto do índice do volume, aqui , "Berenice" se iniciaria à p. 148. Sendo o único conto cuja tradução não é atribuída a Sandro Pivatto, a Berenice Xavier ou a Luisa Lobo
na página dos créditos, imaginar-se-ia que finalmente seria a tradução de Brenno Silveira, que consta com destaque na página de rosto. No entanto, o livro termina na p. 147. Não sei se a foto consegue mostrar o que está na sequência, e que seria a p. 148:
a propaganda do lançamento de O exorcista. E, depois de mais algumas páginas de divulgação das obras publicadas pela editora, termina o livro.
A meu ver, essa edição da Edibolso, com traduções licenciadas
da Cedibra, lamentavelmente integra o capítulo das infâmias editoriais na história de Edgar Allan Poe no Brasil.
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Published on July 28, 2011 12:31
poe XXXIX, absurdidades editoriais
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Continuação:
imagem: google images
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Continuação:
O gato preto, Brenno Silveira:Como a tradução de Brenno Silveira saiu originalmente em 1959, e essa em nome de Luísa Lobo em 1975, não resta dúvida sobre a anterioridade. Para tornar as coisas ainda mais absurdas, tanto Brenno Silveira quanto Luísa Lobo são tradutores renomados, com trabalhos de qualidade, e é um absurdo supor que um se apropriasse da tradução do outro. Acontece que tais são os créditos constantes no livro, que, prima facie, têm valor documental. Como a Edibolso fechou, a Cedibra fechou, Brenno Silveira morreu, a meu ver seria importante que Luísa Lobo contribuísse para dirimir qualquer dúvida que possa vir a pairar sobre a legítima autoria dessa tradução.
Não espero nem peço que se dê crédito à história sumamente extraordinária e, no entanto, bastante doméstica que vou narrar. Louco seria eu se esperasse tal coisa, tratando-se de um caso que os meus próprios sentidos se negam a aceitar. Não obstante, não estou louco e, com toda a certeza, não sonho. Mas amanhã morro e, por isso, gostaria, hoje, de aliviar o meu espírito. Meu propósito imediato é apresentar ao mundo, clara e sucintamente, mas sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos. Devido a suas conseqüências, tais acontecimentos me aterrorizaram, torturaram e destruíram. No entanto, não tentarei esclarecê-los. Em mim, quase não produziram outra coisa senão horror — mas, em muitas pessoas, talvez lhes pareçam menos terríveis que grotesco. Talvez, mais tarde, haja alguma inteligência que reduza o meu fantasma a algo comum — uma inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitável do que, a minha, que perceba, nas circunstâncias a que me refiro com terror, nada mais do que uma sucessão comum de causas e efeitos muito naturais.
O gato preto, Luísa Lobo, segundo atribuição feita na edição Edibolso, com copirraite e licença da Cedibra:
Não espero nem peço que se dê crédito à história sumamente extraordinária e, no entanto, bastante doméstica que vou narrar. Louco seria eu se esperasse tal coisa, tratando-se de um caso que os meus próprios sentidos se negam a aceitar. Não obstante, não estou louco e, com toda a certeza, não sonho. Mas amanhã morro e, por isso, gostaria, hoje, de aliviar o meu espírito. Meu propósito imediato é apresentar ao mundo, clara e sucintamente, mas sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos. Devido a suas conseqüências, tais acontecimentos me aterrorizaram, torturaram e destruíram. No entanto, não tentarei esclarecê-los. Em mim, quase não produziram outra coisa senão horror — mas, em muitas pessoas, talvez lhes pareçam menos terríveis que grotesco. Talvez, mais tarde, haja alguma inteligência que reduza o meu fantasma a algo comum — uma inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitável do que, a minha, que perceba, nas circunstâncias a que me refiro com terror, nada mais do que uma sucessão comum de causas e efeitos muito naturais.
imagem: google images
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Published on July 28, 2011 11:30
poe XXXVIII, o poço da irresponsabilidade
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Prosseguindo, o segundo conto do volume, "O poço e o pêndulo", tem sua tradução atribuída a Sandro Pivatto. O nome não me é muito familiar, mas vejo várias referências a traduções suas para a Bruguera e a Cedibra entre os anos 60 e 70. Transcrevo as frases iniciais do conto na edição Edibolso, com licença da Cedibra:
imagem: o poço e o pêndulo
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Prosseguindo, o segundo conto do volume, "O poço e o pêndulo", tem sua tradução atribuída a Sandro Pivatto. O nome não me é muito familiar, mas vejo várias referências a traduções suas para a Bruguera e a Cedibra entre os anos 60 e 70. Transcrevo as frases iniciais do conto na edição Edibolso, com licença da Cedibra:
Estava exausto, mortalmente exausto com aquela longa agonia - e, quando por fim me desamarraram e pude sentar-me, senti que perdia os sentidos. A sentença - a terrível sentença de morte - foi a última frase que chegou, claramente, aos meus ouvidos. Depois, o som das vozes dos inquisidores pareceu apagar-se naquele zumbido indefinido de sonho.Veja-se a tradução de Brenno Silveira:
Estava exausto, mortalmente exausto com aquela longa agonia - e, quando por fim me desamarraram e pude sentar-me, senti que perdia os sentidos. A sentença - a terrível sentença de morte - foi a última frase que chegou, claramente, aos meus ouvidos. Depois, o som das vozes dos inquisidores pareceu apagar-se naquele zumbido indefinido de sonho.Para a argumentação geral sobre o tema, ver o post anterior. Sobre a importância de uma manifestação pública de Sandro Pivatto desautorizando essa barbaridade da Edibolso/ Cedibra, idem. Se alguém se interessar pelo original e outras traduções do mesmo trecho, é só avisar.
imagem: o poço e o pêndulo
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Published on July 28, 2011 11:05
poe XXXVII, irresponsabilidade
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Passo à apresentação dos motivos de minha perplexidade e irritação com irresponsabilidades editoriais que mencionei no post anterior, poe XXXVI . Seguirei o índice.
O grande risco, a meu ver, tal como ocorreu no caso da editora Itatiaia, atribuindo a Galeão Coutinho uma tradução de Mário Quintana, e no caso da editora Martin Claret, atribuindo a Isa Silveira Leal traduções de Ruth Guimarães, é que o nome do segundo tradutor, vitimado pela incúria da editora, fique conspurcado, ou pelo menos sob suspeita. No mínimo instaura-se uma confusão em nossa história lítero-tradutória. O que dirá um pesquisador daqui a cinquenta anos, perante a materialidade dos fatos?
Como a Edibolso fechou, a Cedibra fechou, Brenno Silveira morreu, a meu ver seria muito proveitoso que a profa. Luísa Lobo legasse para nossa memória documental um depoimento a respeito, a fim de esclarecer antecipadamente qualquer dúvida que possa vir a surgir no futuro sobre a legítima autoria dessa tradução.
imagem: a queda da casa de usher
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Passo à apresentação dos motivos de minha perplexidade e irritação com irresponsabilidades editoriais que mencionei no post anterior, poe XXXVI . Seguirei o índice.
"A queda da Casa de Usher", pela Edibolso/Cedibra, em nome de Luísa Lobo:
Durante um dia inteiro de outono, escuro, sombrio, silencioso, em que as nuvens pairavam, baixas e opressoras, nos céus, passava eu a cavalo, sozinho, por uma região singularmente monótona - e, quando as sombras da noite se estendiam, finalmente me encontrei diante da melancólica Casa de Usher.
"A queda da Casa de Usher", pela Civilização Brasileira, em nome de Brenno Silveira:Poderia prosseguir até o final do conto, mas, para fins ilustrativos, creio que basta esta primeira frase. Para mostrar claramente como é impossível encontrar duas traduções iguais feitas por dois tradutores diferentes, veja-se como José Paulo Paes, Oscar Mendes/ Milton Amado e Aurélio Lacerda vertem o mesmo original:
Durante um dia inteiro de outono, escuro, sombrio, silencioso, em que as nuvens pairavam, baixas e opressoras, nos céus, passava eu a cavalo, sozinho, por uma região singularmente monótona - e, quando as sombras da noite se estendiam, finalmente me encontrei diante da melancólica Casa de Usher.
A queda da Casa de Usher, pela Cultrix (Companhia das Letras), José Paulo Paes:Eis o original:
Durante todo um dia pesado, escuro e mudo de outono, em que nuvens baixas amontoavam-se opressivamente no céu, eu percorri a cavalo um trecho de campo de tristeza singular, e finamente me encontrei, quando as sombras da noite se avizinhavam, à vista da melancólica Casa de Usher.
A queda do Solar de Usher, pela Globo (Nova Aguilar), Oscar Mendes e Milton Amado:
Durante todo um pesado, sombrio e silente dia outonal, em que as nuvens pairavam opressivamente baixas no céu, estive eu passeando, sozinho, a cavalo, através de uma região do interior, singularmente tristonha, e afinal me encontrei, ao caírem as sombras da tarde, perto do melancólico Solar de Usher.
A queda da casa de Usher, pela Pinguim, Aurélio Lacerda:
Por todo o correr de um dia escuro, lúgubre e silencioso de outono, quando as nuvens, baixas, se acumulavam opressivas no céu, atravessara sozinho, a cavalo, uma região de campanha singularmente triste e, afinal, quando já caíam as sombras da tarde, encontrava-me à vista da merencórea Casa de Usher.
During the whole of a dull, dark, and soundless day in the autumn of the year, when the clouds hung oppressively low in the heavens, I had been passing alone, on horseback, through a singularly dreary tract of country; and at length found myself, as the shades of the evening drew on, within view of the melancholy House of Usher.Como a tradução de Brenno Silveira saiu originalmente em 1959, e essa em nome de Luísa Lobo em 1975, não resta dúvida sobre a anterioridade. Para tornar as coisas ainda mais absurdas, tanto Brenno Silveira quanto Luísa Lobo são tradutores renomados, com trabalhos de qualidade, e não faria o menor sentido que um se apropriasse da tradução do outro. Acontece que assim estão os créditos no livro; assim está a atribuição de autoria; assim, em termos materiais, está criado um dado objetivo.
O grande risco, a meu ver, tal como ocorreu no caso da editora Itatiaia, atribuindo a Galeão Coutinho uma tradução de Mário Quintana, e no caso da editora Martin Claret, atribuindo a Isa Silveira Leal traduções de Ruth Guimarães, é que o nome do segundo tradutor, vitimado pela incúria da editora, fique conspurcado, ou pelo menos sob suspeita. No mínimo instaura-se uma confusão em nossa história lítero-tradutória. O que dirá um pesquisador daqui a cinquenta anos, perante a materialidade dos fatos?
Como a Edibolso fechou, a Cedibra fechou, Brenno Silveira morreu, a meu ver seria muito proveitoso que a profa. Luísa Lobo legasse para nossa memória documental um depoimento a respeito, a fim de esclarecer antecipadamente qualquer dúvida que possa vir a surgir no futuro sobre a legítima autoria dessa tradução.
imagem: a queda da casa de usher
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Published on July 28, 2011 10:31
poe XXXVI, os torvelinhos da desmemória
como é difícil reconstituir coisas nem tão distantes em nossa história lítero-tradutória! e quantas surpresas desagradáveis!
explico-me: depois de ter feito um levantamento das primeiras edições de contos de poe no brasil, das várias traduções d' o gato preto e das diversas coletâneas enfeixadas sob o mesmo título de histórias extraordinárias - veja aqui -, retomei minha pesquisa, na intenção de cobrir todas as traduções brasileiras de poe no século XX e XXI.
e eis que me deparo com isso aqui:
como se vê, é um voluminho da edibolso, com traduções licenciadas pela cedibra, 1975.* a nos fiar pelos dados do livro, temos os seguintes responsáveis por elas:
sandro pivatto para "o poço e o pêndulo" e "a caixa quadrangular";
berenice xavier para "william wilson";
luisa lobo para "o enterro prematuro", "o barril de amontillado", "a queda da casa de usher", "o coração revelador", "o gato preto", "a máscara da peste vermelha", "o homem na multidão"
para brenno silveira, o único nominalmente anunciado na página de rosto, mas não citado na página de dados catalográficos, restaria "berenice"
se um paciente leitor ou um cuidadoso pesquisador tiver a curiosidade ou se der ao trabalho de comparar esses textos a outras traduções, provavelmente ficará em dúvida se o que norteou essa edição da edibolso (com licenciamento da cedibra) foi a ignorância, o desleixo, o acochambro ou a má fé - pois a transparência certamente não foi.
apresentarei os motivos de minha perplexidade e irritação nos próximos posts. reitero aqui minha indignação: enquanto este país e nossos editores se obstinarem em confundir, omitir, mascarar ou falsear os dados das obras tradutórias, continuaremos patinhando nessa patética rasura e ignorância em nossa formação cultural.
* esse volume me foi fornecido por joana canêdo, a quem agradeço novamente a gentileza.
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explico-me: depois de ter feito um levantamento das primeiras edições de contos de poe no brasil, das várias traduções d' o gato preto e das diversas coletâneas enfeixadas sob o mesmo título de histórias extraordinárias - veja aqui -, retomei minha pesquisa, na intenção de cobrir todas as traduções brasileiras de poe no século XX e XXI.
e eis que me deparo com isso aqui:
como se vê, é um voluminho da edibolso, com traduções licenciadas pela cedibra, 1975.* a nos fiar pelos dados do livro, temos os seguintes responsáveis por elas:
sandro pivatto para "o poço e o pêndulo" e "a caixa quadrangular";
berenice xavier para "william wilson";
luisa lobo para "o enterro prematuro", "o barril de amontillado", "a queda da casa de usher", "o coração revelador", "o gato preto", "a máscara da peste vermelha", "o homem na multidão"
para brenno silveira, o único nominalmente anunciado na página de rosto, mas não citado na página de dados catalográficos, restaria "berenice"
se um paciente leitor ou um cuidadoso pesquisador tiver a curiosidade ou se der ao trabalho de comparar esses textos a outras traduções, provavelmente ficará em dúvida se o que norteou essa edição da edibolso (com licenciamento da cedibra) foi a ignorância, o desleixo, o acochambro ou a má fé - pois a transparência certamente não foi.
apresentarei os motivos de minha perplexidade e irritação nos próximos posts. reitero aqui minha indignação: enquanto este país e nossos editores se obstinarem em confundir, omitir, mascarar ou falsear os dados das obras tradutórias, continuaremos patinhando nessa patética rasura e ignorância em nossa formação cultural.
* esse volume me foi fornecido por joana canêdo, a quem agradeço novamente a gentileza.
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Published on July 28, 2011 08:56
July 27, 2011
travalínguas, imperdível
Published on July 27, 2011 11:17
July 26, 2011
rastreando kafka no brasil
Retomo o precioso artigo de Ribeiro, Brito e Santos, "A recepção da obra de Franz Kafka no Brasil", publicado na revista Pandaemonium Germanicum 9/2005, pp. 227-53, que venho comentando em alguns posts - ver aqui.
Sempre no intuito de contribuir para a reconstituição fidedigna da história de Kafka no Brasil, consolido aqui alguns dados e breves retificações, concentrando-me nas décadas 50 a 70. Os pesquisadores apresentam o seguinte levantamento das traduções e retraduções para este período, que complemento nas "Observações":
I. Anos 50
1. Metamorfose, Brenno Silveira, Civilização Brasileira, 1956
2. "O artista do trapézio", tradução anônima, Cultrix, 1958 (in Maravilhas do conto alemão, tradução dada como provavelmente a partir do inglês)
Observações:
1. Em 1956, temos também a publicação de Parábolas e fragmentos, em seleção e tradução de Geir Campos, pela Civilização Brasileira, em edição especial para sua coleção Maldoror. Assim, caberia colocá-la como pioneira, ao lado de Metamorfose.
2. Uma retificação rápida: o ano correto da primeira edição é 1957. Quanto à fonte dessa tradução, não é o inglês, de forma alguma, e merecerá um post à parte.
II. Anos 60
1. O castelo, Torrieri Guimarães, Tecnoprint, 1964 (supostamente do francês)
2. O processo, Torrieri Guimarães, Tema, 1964 (idem)
3. América, Torrieri Guimarães, Livraria Exposição do Livro, 1965 (idem)
4. Metamorfose em 3a. ed. (não cita a segunda), Brenno Silveira, BUP, teria ganhado prefácio de Ênio Silveira, 1965
5. A colônia penal, Torrieri Guimarães, Livraria Exposição do Livro, 1965 (idem, 39 títulos)*
6. Os melhores contos de Kafka, trad. A. Serra Leal, editora "paulista" Arcádia, 1966.
7. Parábolas e fragmentos, sel. e trad. Geir Campos, Ediouro, 1967
8. A muralha da China, Torrieri Guimarães, Clube do Livro, 1968 (30 contos)
9. A metamorfose; Na colônia penal; O artista da fome, trad. Brenno Silveira, Leandro Konder e Eunice Duarte (os 2 últimos pelo francês), Civilização Brasileira, 1969
Observações:
1. Em 1964, caberia ainda lembrar a publicação de Diário íntimo pela Livraria Exposição do Livro, em tradução de Torrieri Guimarães.
A Nova Época Editorial, concorrente direta da Exposição do Livro naquela mesma época, também publica Diário íntimo, em tradução de Osvaldo da Purificação, mas não consegui descobrir o ano exato de seu lançamento.
1a. A propósito de Torrieri Guimarães: as várias menções no ensaio apresentando o francês como suposta base para suas traduções a meu ver não procedem. Já demonstrei este ponto em relação a Metamorfose e Um artista da fome, aqui e aqui , e dedicarei mais alguns posts a respeito. As traduções de Torrieri eram visivelmente feitas a partir do espanhol, a despeito do que ele possa ter afirmado em entrevista aos pesquisadores.
1b. Quanto às traduções que inauguram o dito "boom" dos anos 60, ver observações ao item III, 3.
4. Uma rápida retificação: a primeira edição da Metamorfose pela BUP (Biblioteca Universitária Popular, pertencente a Ênio Silveira, irmão de Brenno Silveira) é de 1963, e já traz o prefácio citado.
5. A citação em asterisco, reproduzida abaixo, também mereceria alguns breves comentários e será objeto de um post à parte.
6. Aqui mais uma pequena retificação: a editora Arcádia não é paulista, mas portuguesa, sediada em Lisboa; assim, caberia excluí-la de um mapeamento das traduções brasileiras de Kafka. A primeira edição deste volume é de 1962.
7. Caberia eliminar essa obra desse bloco cronológico, visto que, cf. observação acima, a pioneira tradução de Geir Campos foi publicada originalmente em 1956.
III. Anos 70
1. O processo, Marques Rebelo, Ediouro, 1971
2. Metamorfose, Marques Rebelo, Ediouro, 1971
3. O processo, Manoel Ferreira Pinto e Syomara Cajado, Círculo do Livro, 1977
Observações:
3. A tradução de Syomara Cajado (pelo inglês) foi publicada originalmente pela editora Nova Época em 1963, e seria ela, portanto, a inaugurar o dito "primeiro boom" de Kafka no Brasil, antes das traduções de Torrieri Guimarães pelo espanhol.
Quanto aos anos 80 em diante, chamou-me a atenção um apontamento dos articulistas: em 1985, haveria "uma nova tradução realizada também a partir do inglês por Enio Silveira e Marques Ribeiro Calouro, cuja publicação fica a encargo da editora Tecnoprint". (p. 239) Não consegui localizar nenhuma referência a esta edição e teria muita curiosidade em conhecê-la. Por outro lado, encontrei menção a um volume publicado pela Civilização Brasileira em 1983 (e mais numerosas para o ano de 1993), com o título de Contos, fábulas e aforismos, com seleção, introdução e tradução de Ênio Silveira.
* Comentam os autores quanto a esta edição: "Um problema a ser levantado é o fato de Torrieri Guimarães referir-se à antologia como se fosse do próprio Kafka. Em nenhum momento, é esclarecido ao leitor que os textos não foram reunidos e dispostos daquela forma pelo autor (fato relevante, uma vez que se conhece a preocupação de Kafka com essa questão). Também não são indicados os critérios para a seleção dos textos." (p. 234)
Quanto à fortuna de Metamorfose no Brasil, recomendo vivamente o livro de Celso Cruz, Metamorfoses de Kafka. São Paulo: Fapesp/ Annablume, 2007.
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Sempre no intuito de contribuir para a reconstituição fidedigna da história de Kafka no Brasil, consolido aqui alguns dados e breves retificações, concentrando-me nas décadas 50 a 70. Os pesquisadores apresentam o seguinte levantamento das traduções e retraduções para este período, que complemento nas "Observações":
I. Anos 50
1. Metamorfose, Brenno Silveira, Civilização Brasileira, 1956
2. "O artista do trapézio", tradução anônima, Cultrix, 1958 (in Maravilhas do conto alemão, tradução dada como provavelmente a partir do inglês)
Observações:
1. Em 1956, temos também a publicação de Parábolas e fragmentos, em seleção e tradução de Geir Campos, pela Civilização Brasileira, em edição especial para sua coleção Maldoror. Assim, caberia colocá-la como pioneira, ao lado de Metamorfose.
2. Uma retificação rápida: o ano correto da primeira edição é 1957. Quanto à fonte dessa tradução, não é o inglês, de forma alguma, e merecerá um post à parte.
II. Anos 60
1. O castelo, Torrieri Guimarães, Tecnoprint, 1964 (supostamente do francês)
2. O processo, Torrieri Guimarães, Tema, 1964 (idem)
3. América, Torrieri Guimarães, Livraria Exposição do Livro, 1965 (idem)
4. Metamorfose em 3a. ed. (não cita a segunda), Brenno Silveira, BUP, teria ganhado prefácio de Ênio Silveira, 1965
5. A colônia penal, Torrieri Guimarães, Livraria Exposição do Livro, 1965 (idem, 39 títulos)*
6. Os melhores contos de Kafka, trad. A. Serra Leal, editora "paulista" Arcádia, 1966.
7. Parábolas e fragmentos, sel. e trad. Geir Campos, Ediouro, 1967
8. A muralha da China, Torrieri Guimarães, Clube do Livro, 1968 (30 contos)
9. A metamorfose; Na colônia penal; O artista da fome, trad. Brenno Silveira, Leandro Konder e Eunice Duarte (os 2 últimos pelo francês), Civilização Brasileira, 1969
Observações:
1. Em 1964, caberia ainda lembrar a publicação de Diário íntimo pela Livraria Exposição do Livro, em tradução de Torrieri Guimarães.
A Nova Época Editorial, concorrente direta da Exposição do Livro naquela mesma época, também publica Diário íntimo, em tradução de Osvaldo da Purificação, mas não consegui descobrir o ano exato de seu lançamento.
1a. A propósito de Torrieri Guimarães: as várias menções no ensaio apresentando o francês como suposta base para suas traduções a meu ver não procedem. Já demonstrei este ponto em relação a Metamorfose e Um artista da fome, aqui e aqui , e dedicarei mais alguns posts a respeito. As traduções de Torrieri eram visivelmente feitas a partir do espanhol, a despeito do que ele possa ter afirmado em entrevista aos pesquisadores.
1b. Quanto às traduções que inauguram o dito "boom" dos anos 60, ver observações ao item III, 3.
4. Uma rápida retificação: a primeira edição da Metamorfose pela BUP (Biblioteca Universitária Popular, pertencente a Ênio Silveira, irmão de Brenno Silveira) é de 1963, e já traz o prefácio citado.
5. A citação em asterisco, reproduzida abaixo, também mereceria alguns breves comentários e será objeto de um post à parte.
6. Aqui mais uma pequena retificação: a editora Arcádia não é paulista, mas portuguesa, sediada em Lisboa; assim, caberia excluí-la de um mapeamento das traduções brasileiras de Kafka. A primeira edição deste volume é de 1962.
7. Caberia eliminar essa obra desse bloco cronológico, visto que, cf. observação acima, a pioneira tradução de Geir Campos foi publicada originalmente em 1956.
III. Anos 70
1. O processo, Marques Rebelo, Ediouro, 1971
2. Metamorfose, Marques Rebelo, Ediouro, 1971
3. O processo, Manoel Ferreira Pinto e Syomara Cajado, Círculo do Livro, 1977
Observações:
3. A tradução de Syomara Cajado (pelo inglês) foi publicada originalmente pela editora Nova Época em 1963, e seria ela, portanto, a inaugurar o dito "primeiro boom" de Kafka no Brasil, antes das traduções de Torrieri Guimarães pelo espanhol.
Quanto aos anos 80 em diante, chamou-me a atenção um apontamento dos articulistas: em 1985, haveria "uma nova tradução realizada também a partir do inglês por Enio Silveira e Marques Ribeiro Calouro, cuja publicação fica a encargo da editora Tecnoprint". (p. 239) Não consegui localizar nenhuma referência a esta edição e teria muita curiosidade em conhecê-la. Por outro lado, encontrei menção a um volume publicado pela Civilização Brasileira em 1983 (e mais numerosas para o ano de 1993), com o título de Contos, fábulas e aforismos, com seleção, introdução e tradução de Ênio Silveira.
* Comentam os autores quanto a esta edição: "Um problema a ser levantado é o fato de Torrieri Guimarães referir-se à antologia como se fosse do próprio Kafka. Em nenhum momento, é esclarecido ao leitor que os textos não foram reunidos e dispostos daquela forma pelo autor (fato relevante, uma vez que se conhece a preocupação de Kafka com essa questão). Também não são indicados os critérios para a seleção dos textos." (p. 234)
Quanto à fortuna de Metamorfose no Brasil, recomendo vivamente o livro de Celso Cruz, Metamorfoses de Kafka. São Paulo: Fapesp/ Annablume, 2007.
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Published on July 26, 2011 12:07
July 23, 2011
os sons do tempo III
descubro que lúcio cardoso, um dos nossos raríssimos autores do século XX em quem consigo perceber alguma afinidade com o intenso espírito trágico-romântico que vemos em poe, também traduziu e fez a adaptação teatral de the tell-tale heart, com o título de "o coração delator", para o teatro de câmera, em 1947.
segundo enaura quixabeira rosa e silva, "por inexplicável escrúpulo, lúcio cardoso apresenta [a peça] como de autoria de graça mello" ( aqui , p. 147).
numa entrevista a sábato magaldi, porém, ele comenta:
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segundo enaura quixabeira rosa e silva, "por inexplicável escrúpulo, lúcio cardoso apresenta [a peça] como de autoria de graça mello" ( aqui , p. 147).
numa entrevista a sábato magaldi, porém, ele comenta:
... fundei com Agostinho Olavo e Gustavo Dória o "Teatro de Câmera", que marcou a primeira reação contra o gênero "grande espetáculo" que "Os Comediantes" vinham impondo como gênero absoluto e que deu nascimento a essa série de teatrinhos íntimos e espetáculos mais ou menos fechados, atualmente tão em voga. O "Teatro de Câmera" deu-me sessenta contos de prejuízo e inúmeros dissabores. Mesmo assim, montei, num espetáculo inteiramente organizado por mim, O Coração Delator, de Edgar Poe. Foram tais atropelos que jurei não voltar tão cedo ao teatro. (in Junia N. Neves, aqui, p.63)seria fascinante saber quais foram as soluções sonoras adotadas no palco para o deathwatch! aliás, lembrando a grandíssima amizade entre lúcio cardoso e clarice lispector, talvez não à toa a tradução e adaptação de the tell-tale heart feita por clarice, muitos anos depois, também se chame "o coração delator".
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Published on July 23, 2011 18:39
July 16, 2011
na oficina com mrs. dalloway
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comecei a traduzir mrs. dalloway, de virginia woolf, e criei uma espécie de diário de bordo: quem quiser acompanhar, o blog se chama traduzindo mrs. dalloway e está aqui .
imagem: manuscrito mrs. dalloway
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comecei a traduzir mrs. dalloway, de virginia woolf, e criei uma espécie de diário de bordo: quem quiser acompanhar, o blog se chama traduzindo mrs. dalloway e está aqui .
imagem: manuscrito mrs. dalloway
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Published on July 16, 2011 07:12
July 15, 2011
da translação à tradução
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saiu o número 9 da revista scientia traductionis, da pós-gradução em estudos da tradução da ufsc. está disponível aqui, com muitos artigos valiosos.
um dos que mais me despertaram interesse foi o de antoine berman, em edição bilíngue, com tradução de marie-hélène torres e marlova assef: de la translation à la traduction (da translação à tradução). um dos aspectos históricos significativos levantados por berman diz respeito à prática renascentista da tradução como maneira de desenvolver o domínio da própria língua*: en fait, on apprend à écrire en traduisant. o artigo traz um belo painel da atividade tradutória entre o renascimento e o início da era moderna, uma exploração bastante convincente das conotações do radical ducere da palavra, as razões para a preservação do termo translation em inglês, a importância específica de algumas obras (como a poemata) e vários outros aspectos histórico-culturais em torno dessa atividade intelectual tão singular que é a tradução.
o artigo de berman está disponível para leitura e download aqui .
* embora a competente tradução de marie-hélène e marlova traga maîtrise de la langue, maîtrise du français como "matriz da língua", "matriz do francês", pessoalmente prefiro "domínio da língua", "domínio do francês".
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saiu o número 9 da revista scientia traductionis, da pós-gradução em estudos da tradução da ufsc. está disponível aqui, com muitos artigos valiosos.
um dos que mais me despertaram interesse foi o de antoine berman, em edição bilíngue, com tradução de marie-hélène torres e marlova assef: de la translation à la traduction (da translação à tradução). um dos aspectos históricos significativos levantados por berman diz respeito à prática renascentista da tradução como maneira de desenvolver o domínio da própria língua*: en fait, on apprend à écrire en traduisant. o artigo traz um belo painel da atividade tradutória entre o renascimento e o início da era moderna, uma exploração bastante convincente das conotações do radical ducere da palavra, as razões para a preservação do termo translation em inglês, a importância específica de algumas obras (como a poemata) e vários outros aspectos histórico-culturais em torno dessa atividade intelectual tão singular que é a tradução.
o artigo de berman está disponível para leitura e download aqui .
* embora a competente tradução de marie-hélène e marlova traga maîtrise de la langue, maîtrise du français como "matriz da língua", "matriz do francês", pessoalmente prefiro "domínio da língua", "domínio do francês".
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Published on July 15, 2011 06:30
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