Denise Bottmann's Blog, page 106
June 21, 2011
nova tradução de flores do mal?
vejo que a editora martin claret cadastrou recentemente no isbn/fbn uma nova edição das flores do mal de baudelaire, agora com tradução de ninguém menos que mário laranjeira.
imagino que a nova edição da martin claret (isbn 978-85-7232-817-3) provavelmente vem para substituir sua edição anterior, de 2001 (isbn 85-7232-405-4, imagem da capa abaixo). essa edição de 2001, que a editora ainda divulga em seu site ( veja aqui ), foi um escândalo: tratava-se de uma cópia atamancada da tradução de jamil almansur haddad, que a editora tinha publicado atribuindo-a a "pietro nassetti" - quem denunciou a fraude foi o poeta, crítico literário e tradutor ivo barroso, desde 2002, no artigo "flores roubadas do jardim alheio" publicado na revista agulha. o artigo de ivo barroso é excelente: mostra com vários exemplos a apropriação feita e os toscos disfarces estropiando os poemas, na tentativa de mascarar o plágio. veja aqui .
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resta ainda que a editora martin claret retire rapidamente de circulação e catálogo as sobras dessa edição espúria e lance logo a nova tradução, agora de mário laranjeira. não seria mau de todo se a editora também se prontificasse a ressarcir os leitores que foram ludibriados com a velha edição, trocando-a pela edição de 2011 já cadastrada na fbn..
ISBN: 978-85-7232-817-3mário laranjeira é um dos grandes tradutores atuais do brasil, mestre no ofício - procurei essa nova edição da claret em alguns sites de livrarias para comprar, mas pelo jeito ainda não saiu.
TÍTULO: As flores do mal
COLEÇÃO: A obra-prima de cada autor
VOLUME DA COLEÇÃO: 52
AUTOR: Charles Baudelaire
TRADUTOR: Mário Laranjeira
EDIÇÃO: 1
ANO DE EDIÇÃO: 2011
LOCAL DE EDIÇÃO: SÃO PAULO
TIPO DE SUPORTE: PAPEL
PÁGINAS: 272
EDITORA: MARTIN CLARET
imagino que a nova edição da martin claret (isbn 978-85-7232-817-3) provavelmente vem para substituir sua edição anterior, de 2001 (isbn 85-7232-405-4, imagem da capa abaixo). essa edição de 2001, que a editora ainda divulga em seu site ( veja aqui ), foi um escândalo: tratava-se de uma cópia atamancada da tradução de jamil almansur haddad, que a editora tinha publicado atribuindo-a a "pietro nassetti" - quem denunciou a fraude foi o poeta, crítico literário e tradutor ivo barroso, desde 2002, no artigo "flores roubadas do jardim alheio" publicado na revista agulha. o artigo de ivo barroso é excelente: mostra com vários exemplos a apropriação feita e os toscos disfarces estropiando os poemas, na tentativa de mascarar o plágio. veja aqui .
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resta ainda que a editora martin claret retire rapidamente de circulação e catálogo as sobras dessa edição espúria e lance logo a nova tradução, agora de mário laranjeira. não seria mau de todo se a editora também se prontificasse a ressarcir os leitores que foram ludibriados com a velha edição, trocando-a pela edição de 2011 já cadastrada na fbn..
Published on June 21, 2011 20:35
nova tradução de flores do mal
vejo que a editora martin claret cadastrou recentemente no isbn/fbn uma nova edição das flores do mal de baudelaire, agora com tradução de ninguém menos que mário laranjeira!
imagino que a nova edição da martin claret (isbn 978-85-7232-817-3) provavelmente vem para substituir sua edição anterior, de 2001 (isbn 85-7232-405-4, imagem da capa abaixo). essa edição de 2001, que a editora ainda divulga em seu site ( veja aqui ), foi um escândalo: tratava-se de uma cópia atamancada da tradução de jamil almansur haddad, que a editora tinha publicado atribuindo-a a "pietro nassetti" - quem denunciou a fraude foi o poeta, crítico literário e tradutor ivo barroso, desde 2002, no artigo "flores roubadas do jardim alheio" publicado na revista agulha. o artigo de ivo barroso é excelente: mostra com vários exemplos a apropriação feita e os toscos disfarces estropiando os poemas, na tentativa de mascarar o plágio. veja aqui .
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resta ainda que a editora martin claret retire rapidamente de circulação e catálogo as sobras dessa edição espúria e lance logo a nova tradução, agora de mário laranjeira. não seria mau de todo se a editora também se prontificasse a ressarcir os leitores que foram ludibriados com a velha edição, trocando-a pela edição de 2011 já cadastrada na fbn..
ISBN: 978-85-7232-817-3mário laranjeira está entre os maiores tradutores atuais do brasil, grande mestre do ofício que aliás traduziu o estudo de théophile gautier, baudelaire, publicado pela boitempo. procurei essa nova edição da claret em alguns sites de livrarias para comprar, mas pelo jeito ainda não saiu - o que talvez explique a falta de notícias na imprensa sobre um lançamento tão notável.
TÍTULO: As flores do mal
COLEÇÃO: A obra-prima de cada autor
VOLUME DA COLEÇÃO: 52
AUTOR: Charles Baudelaire
TRADUTOR: Mário Laranjeira
EDIÇÃO: 1
ANO DE EDIÇÃO: 2011
LOCAL DE EDIÇÃO: SÃO PAULO
TIPO DE SUPORTE: PAPEL
PÁGINAS: 272
EDITORA: MARTIN CLARET
imagino que a nova edição da martin claret (isbn 978-85-7232-817-3) provavelmente vem para substituir sua edição anterior, de 2001 (isbn 85-7232-405-4, imagem da capa abaixo). essa edição de 2001, que a editora ainda divulga em seu site ( veja aqui ), foi um escândalo: tratava-se de uma cópia atamancada da tradução de jamil almansur haddad, que a editora tinha publicado atribuindo-a a "pietro nassetti" - quem denunciou a fraude foi o poeta, crítico literário e tradutor ivo barroso, desde 2002, no artigo "flores roubadas do jardim alheio" publicado na revista agulha. o artigo de ivo barroso é excelente: mostra com vários exemplos a apropriação feita e os toscos disfarces estropiando os poemas, na tentativa de mascarar o plágio. veja aqui .
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resta ainda que a editora martin claret retire rapidamente de circulação e catálogo as sobras dessa edição espúria e lance logo a nova tradução, agora de mário laranjeira. não seria mau de todo se a editora também se prontificasse a ressarcir os leitores que foram ludibriados com a velha edição, trocando-a pela edição de 2011 já cadastrada na fbn..
Published on June 21, 2011 20:35
June 17, 2011
tradução vira original
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L'arte di scrivere i libri degli altri, ovvero i furbi dell' editoria : impressionante! a tradução italiana do romance de patrick süskind, il profumo, feita por giovanna agabio, vira um livro italiano chamado sí no, de autoria de um tal "alberto canetto", mudando um nominho aqui, outro nominho ali.
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agradeço o toque de tamara barile, via facebook.
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L'arte di scrivere i libri degli altri, ovvero i furbi dell' editoria : impressionante! a tradução italiana do romance de patrick süskind, il profumo, feita por giovanna agabio, vira um livro italiano chamado sí no, de autoria de um tal "alberto canetto", mudando um nominho aqui, outro nominho ali.
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agradeço o toque de tamara barile, via facebook.
Published on June 17, 2011 12:10
June 16, 2011
prêmio abl de tradução 2011: ufa!
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a abl não deu vexame no prêmio de tradução 2011: ganha sergio flaksman com sua tradução o amante de lady chatterley, de david herbert lawrence. parabéns ao sergio, tradutor com extensa relação de obras publicadas, todas de alto nível.
aqui a lista completa dos prêmios literários da abl em 2011, com meus votos para que a abl, pelo menos nos prêmios de tradução, não se extravie mais pelas sendas escusas do compadrio.
aqui o arquivo abl, prêmio de tradução 2010.
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.a abl não deu vexame no prêmio de tradução 2011: ganha sergio flaksman com sua tradução o amante de lady chatterley, de david herbert lawrence. parabéns ao sergio, tradutor com extensa relação de obras publicadas, todas de alto nível.
aqui a lista completa dos prêmios literários da abl em 2011, com meus votos para que a abl, pelo menos nos prêmios de tradução, não se extravie mais pelas sendas escusas do compadrio.
aqui o arquivo abl, prêmio de tradução 2010.
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Published on June 16, 2011 16:08
June 6, 2011
por que quero premiações de verdade
aproxima-se a data do prêmio de tradução da abl para obras literárias publicadas em 2010.
gostaria de explicar por que acho importante que esse prêmio de fato premie boas traduções.
em primeiro lugar, creio ser inegável que as obras de tradução têm um peso considerável no brasil. se - segundo dados que vejo na internet - nos estados unidos as traduções literárias correspondem a menos de 4% da produção editorial e, na europa, a cerca de 12-14%, no brasil alguns pesquisadores como heloísa barbosa e lia wyler estimam uma proporção que chega aos 80%.
apesar dessa presença significativa de obras traduzidas no país, o reconhecimento do ofício de tradução está muito aquém do que se poderia esperar. uma das formas de reconhecimento público, em todo o mundo, é a outorga de prêmios a obras de destacada qualidade. no brasil, porém, conta-se nos dedos de uma das mãos o número de prêmios de tradução. e refiro-me apenas à tradução literária, pois a tradução não literária é ainda menos reconhecida.
veja-se como está a situação dos prêmios de tradução literária no brasil:
o prêmio açorianos deixou de existir desde o ano retrasado;
agora em 2011, a cbl eliminou uma das duas categorias de tradução no prêmio jabuti;
com isso, restam apenas o jabuti (em apenas uma categoria, câmara brasileira do livro), o paulo rónai (fundação biblioteca nacional) e o da abl (academia brasileira de letras). a fundação nacional de literatura infanto-juvenil mantém o monteiro lobato tradução criança e o monteiro lobato tradução jovem.
em tradução não literária, temos apenas um prêmio, o da união latina, a cada três anos!
é por isso que acho que temos tanto mais razão em esperar que esses poucos, minguados, rarefeitos prêmios de tradução de fato premiem os praticantes de um ofício que responde por grande parte das publicações e das leituras do país.
e é por isso que acho uma pena enorme que a abl tenha descarrilado totalmente no ano passado, ao conceder um desses raríssimos prêmios a uma obra que não tinha as qualidades mínimas necessárias para ser sequer indicada.
ademais, não podemos esquecer que, antes desse triste episódio na abl em 2010, seu histórico de premiações era digno e louvável. veja-se:
então, a quem considera tola e inglória essa minha briga para se ter uma premiação legítima na abl, eu respondo: não, muito pelo contrário! temos é de torcer para que a abl volte a reconhecer devidamente a importância das boas traduções.
a quem afirma que essa minha esperança na verdade seria uma cruzada em proveito próprio, só posso lembrar que não costumo fazer tradução literária e me sinto bastante tranquila para defender desinteressadamente prêmios para traduções literárias meritórias.
e por fim, a quem pensa que eu não deveria criticar premiações francamente equivocadas porque estaria ferindo colegas de ofício, bom, só posso dizer que o corporativismo nunca foi uma coisa muito saudável em qualquer ofício que seja.
atualização: ao que parece, a comissão de tradução da abl já se reuniu e já tem suas indicações para este ano. seria legal se divulgassem.
quem quiser se informar sobre os descaminhos da abl em sua premiação de 2010, ver aqui .
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gostaria de explicar por que acho importante que esse prêmio de fato premie boas traduções.
em primeiro lugar, creio ser inegável que as obras de tradução têm um peso considerável no brasil. se - segundo dados que vejo na internet - nos estados unidos as traduções literárias correspondem a menos de 4% da produção editorial e, na europa, a cerca de 12-14%, no brasil alguns pesquisadores como heloísa barbosa e lia wyler estimam uma proporção que chega aos 80%.
apesar dessa presença significativa de obras traduzidas no país, o reconhecimento do ofício de tradução está muito aquém do que se poderia esperar. uma das formas de reconhecimento público, em todo o mundo, é a outorga de prêmios a obras de destacada qualidade. no brasil, porém, conta-se nos dedos de uma das mãos o número de prêmios de tradução. e refiro-me apenas à tradução literária, pois a tradução não literária é ainda menos reconhecida.
veja-se como está a situação dos prêmios de tradução literária no brasil:
o prêmio açorianos deixou de existir desde o ano retrasado;
agora em 2011, a cbl eliminou uma das duas categorias de tradução no prêmio jabuti;
com isso, restam apenas o jabuti (em apenas uma categoria, câmara brasileira do livro), o paulo rónai (fundação biblioteca nacional) e o da abl (academia brasileira de letras). a fundação nacional de literatura infanto-juvenil mantém o monteiro lobato tradução criança e o monteiro lobato tradução jovem.
em tradução não literária, temos apenas um prêmio, o da união latina, a cada três anos!
é por isso que acho que temos tanto mais razão em esperar que esses poucos, minguados, rarefeitos prêmios de tradução de fato premiem os praticantes de um ofício que responde por grande parte das publicações e das leituras do país.
e é por isso que acho uma pena enorme que a abl tenha descarrilado totalmente no ano passado, ao conceder um desses raríssimos prêmios a uma obra que não tinha as qualidades mínimas necessárias para ser sequer indicada.
ademais, não podemos esquecer que, antes desse triste episódio na abl em 2010, seu histórico de premiações era digno e louvável. veja-se:
2003 – Boris Schnaidermanquanto ao velho argumento de que a abl, sendo uma fundação de direito privado, premia quem ela bem quiser, já expus longamente minha opinião: resumindo, por seu papel institucional, ela tem, sim senhor, de dar algum tipo de satisfação pública pelas escolhas culturais que faz.
2004 – Bruno Palma e Marcos Santarrita
2005 – Ivo Barroso e Eduardo Brandão
2006 – Geraldo de Holanda Cavalcanti
2007 – Bárbara Heliodora
2008 – Leonardo Fróes e Agenor Soares dos Santos
2009 – Paulo Bezerra
[2010: Milton Lins]
então, a quem considera tola e inglória essa minha briga para se ter uma premiação legítima na abl, eu respondo: não, muito pelo contrário! temos é de torcer para que a abl volte a reconhecer devidamente a importância das boas traduções.
a quem afirma que essa minha esperança na verdade seria uma cruzada em proveito próprio, só posso lembrar que não costumo fazer tradução literária e me sinto bastante tranquila para defender desinteressadamente prêmios para traduções literárias meritórias.
e por fim, a quem pensa que eu não deveria criticar premiações francamente equivocadas porque estaria ferindo colegas de ofício, bom, só posso dizer que o corporativismo nunca foi uma coisa muito saudável em qualquer ofício que seja.
atualização: ao que parece, a comissão de tradução da abl já se reuniu e já tem suas indicações para este ano. seria legal se divulgassem.
quem quiser se informar sobre os descaminhos da abl em sua premiação de 2010, ver aqui .
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Published on June 06, 2011 17:23
June 5, 2011
"se tirar nota zero, eu furo o céu": o shakespeare de milton lins
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o despropósito que é a tradução dos sonetos de shakespeare cometida por milton lins, aquele mesmo da acintosa premiação da abl em 2010, continua a espantar seus leitores. menos mau que esse crime de lesa-letras não passe em branco, como mostra uma lúcida resenha publicada recentemente: veja aqui .
entre maio e junho de 2010, este blog se manifestou longamente sobre o assunto: a bofetada pública que a abl desferiu simbolicamente contra o digno ofício de tradução ao premiar uma obra de tradução que apenas demonstrava a incompetência linguística de seu autor; o jogo de influências dentro da abl; o silêncio ou desconversa de vários imortais; a cobertura da imprensa sobre esse escândalo; a manifestação de muitos tradutores sérios e intelectuais probos, além de vários exemplos ilustrando os incríveis disparates perpetrados por milton lins. veja aqui os posts publicados a esse respeito.
imagem: voodoo pen-holder, google images
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o despropósito que é a tradução dos sonetos de shakespeare cometida por milton lins, aquele mesmo da acintosa premiação da abl em 2010, continua a espantar seus leitores. menos mau que esse crime de lesa-letras não passe em branco, como mostra uma lúcida resenha publicada recentemente: veja aqui .
entre maio e junho de 2010, este blog se manifestou longamente sobre o assunto: a bofetada pública que a abl desferiu simbolicamente contra o digno ofício de tradução ao premiar uma obra de tradução que apenas demonstrava a incompetência linguística de seu autor; o jogo de influências dentro da abl; o silêncio ou desconversa de vários imortais; a cobertura da imprensa sobre esse escândalo; a manifestação de muitos tradutores sérios e intelectuais probos, além de vários exemplos ilustrando os incríveis disparates perpetrados por milton lins. veja aqui os posts publicados a esse respeito.
imagem: voodoo pen-holder, google images
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Published on June 05, 2011 19:17
May 28, 2011
vasari
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fiquei encantada com a notícia de que as vidas de vasari vão sair em setembro pela wmf, em tradução de ivone benedetti, escritora, dicionarista e doutíssima tradutora de grandes clássicos como baltasar gracián e charles d'orléans. será a edição de 1550 (a primeira; em 1568, vasari publicou uma edição revista e bastante ampliada das vidas). sem dúvida é um trabalho de magnitude ímpar, e mal consigo esperar para me deleitar com ele.
outra excelente noticia é que luiz marques, historiador da arte, ex-curador do masp, docente da unicamp, terá publicada sua tradução da vida de michelangelo buonarroti, também de vasari, numa edição extensamente anotada, pela editora da unicamp.
alguns anos atrás, federico e eu brincamos um pouco com o vasari: detivemo-nos justamente no michelangelo, mas também em da vinci e mais uns dois ou três. segue uma amostra.
Vida de Michelangelo Buonarotti
Florentino
Pintor, escultor e arquiteto
Enquanto os industriosos e insignes espíritos iluminados pelo famosíssimo Giotto e seus seguidores esforçavam-se em apresentar ao mundo o valor que a benevolência das estrelas e a harmoniosa mescla dos humores haviam dado a seus engenhos e, desejosos de imitar com a excelência da arte a grandeza da natureza, debalde penavam universalmente para se acercar ao máximo daquele sumo saber que muitos chamam de inteligência, o mui benigno Senhor dos céus volveu clemente os olhos para a terra e, vendo a vã infinidade de tantas labutas, os estrênues estudos sem fruto algum e a opinião pretensiosa dos homens, muito mais distante da verdade do que as trevas da luz, para libertar-nos de tantos erros decidiu enviar à terra um espírito que fosse hábil em todas as artes e todos os ofícios, dedicando-se sozinho a mostrar a perfeição da arte do desenho no traço, no contorno, na sombra e na luz para dar relevo às coisas da pintura, a trabalhar com reto discernimento na escultura, e a tornar as residências cômodas e seguras, salubres, alegres, harmoniosas e ricamente adornadas na arquitetura. Quis também dotá-lo da verdadeira filosofia moral, com o ornamento da doce poesia, para que o mundo o elegesse e admirasse como seu excelso espelho na vida, nas obras, na pureza dos costumes e em todas as ações humanas, e para que o denominássemos como ser mais celestial do que terreno. E como viu que no exercício desses ofícios e nestas singularíssimas artes, isto é, a pintura, a escultura e a arquitetura, os engenhos toscanos sempre foram, dentre os outros, sumamente grandes e elevados, por serem eles muito observantes da prática e do estudo de todas as faculdades, mais do que qualquer outro povo da Itália, quis dar-lhe como pátria Florença, digníssima entre as demais cidades, para completar merecidamente sua perfeição em todas as virtudes por meio de um cidadão seu.
Portanto, em Casentino, sob fatídica e feliz estrela nasceu de nobre e honesta mulher, no ano de 1474, um filho de Lodovico di Lionardo Buonarotti Simoni, descendente, ao que consta, da nobilíssima e antiquíssima família dos condes de Canossa. A Lodovico, que naquele ano era o encarregado do castelo de Chiusi e Caprese, próximo a Sasso della Vernia, onde são Francisco recebeu os estigmas, na diocese de Arezzo, nasceu pois um filho no sexto dia de março, um domingo, por volta das oito horas da noite, ao qual deu o nome de Michelangelo, pois, sem se deter para pensar e por inspiração do alto, entendeu ser ele coisa celeste e divina, além do comum dos mortais, como mais tarde se viu nas figuras de seu nascimento, estando Mercúrio e ingressando Vênus na casa de Júpiter em posição propícia, o que mostrava que de suas realizações, por arte da mão e do engenho, iriam resultar obras maravilhosas e esplêndidas. Encerrado o mandato, Lodovico retornou a Florença, e no vilarejo de Settignano, a três milhas da cidade, onde ele possuía uma herdade de seus antepassados (lugar cheio de pedras e repleto de cantarias de arenito, continuamente exploradas por canteiros e escultores, que em sua maioria nascem naquele local), Lodovico confiou Michelangelo aos cuidados da esposa de um canteiro. Por isso, certa vez conversando com Vasari, Michelangelo disse de brincadeira: "Giorgio, se tenho algo de bom em meu engenho, foi por ter nascido no ar penetrante de sua região de Arezzo, e também porque extraí do leite de minha ama o malho e os cinzéis com que faço as figuras".
Com o tempo, o número de filhos de Lodovico aumentou bastante; sendo modesto e com poucas rendas, ele foi encaminhando os filhos para a Arte da Lã e da Seda, e Michelangelo, já crescido, foi enviado à escola de gramática com o mestre Francesco da Urbino; como seu engenho o levava a gostar de desenho, ele aproveitava todo o tempo que tirava às escondidas para desenhar, por isso levando repreensões e às vezes palmadas do pai e de seus superiores, os quais talvez considerassem que dedicar-se a esse dom que lhes era desconhecido seria coisa baixa e indigna de sua antiga família. Naquela época Michelangelo tinha travado amizade com Francesco Granacci, também jovem, que se instalara com Domenico del Ghirlandaio para aprender a arte da pintura; assim, como Granacci gostava muito de Michelangelo e via seu grande talento para o desenho, trazia-lhe diariamente desenhos de Ghirlandaio, o qual tinha a fama, não só em Florença, mas em toda a Itália, de ser um dos melhores mestres existentes. Com isso, a cada dia aumentando a vontade de Michelangelo, e não podendo Lodovico impedir que o rapaz se dedicasse ao desenho, e não havendo remédio, ele resolveu a conselho de amigos, para obter algum fruto e para que o filho aprendesse aquela arte, colocá-lo na oficina de Domenico Ghirlandaio.
aqui o original na edição giuntina (1568)
VITA DI MICHELAGNOLO BUONARRUOTI
FIORENTINO
PITTORE, SCULTORE ET ARCHITETTO
Mentre gl'industriosi et egregii spiriti col lume del famosissimo Giotto e de' seguaci suoi si sforzavano dar saggio al mondo del valore che la benignità delle stelle e la proporzionata mistione degli umori aveva dato agli ingegni loro, e desiderosi di imitare con la eccellenza dell'arte la grandezza della natura, per venire il più che potevano a quella somma cognizione che molti chiamano intelligenza, universalmente, ancora che indarno, si affaticavano, il benignissimo Rettore del cielo volse clemente gli occhi alla terra, e veduta la vana infinità di tante fatiche, gli ardentissimi studii senza alcun frutto e la opinione prosuntuosa degli uomini, assai più lontana dal vero che le tenebre dalla luce, per cavarci di tanti errori si dispose mandare in terra uno spirito, che universalmente in ciascheduna arte et in ogni professione fusse abile, operando per sé solo a mostrare che cosa sia la perfezzione dell'arte del disegno nel lineare, dintornare, ombrare e lumeggiare, per dare rilievo alle cose della pittura, e con retto giudizio operare nella scultura, e rendere le abitazioni commode e sicure, sane, allegre, proporzionate e ricche di varii ornamenti nell'architettura. Volle oltra ciò accompagnarlo della vera filosofia morale, con l'ornamento della dolce poesia, acciò che il mondo lo eleggesse et ammirasse per suo singularissimo specchio nella vita, nell'opere, nella santità dei costumi et in tutte l'azzioni umane, e perché da noi più tosto celeste che terrena cosa si nominasse. E perché vide che nelle azzioni di tali esercizii et in queste arti singularissime, cioè nella pittura, nella scultura e nell'architettura, gli ingegni toscani sempre sono stati fra gli altri sommamente elevati e grandi, per essere eglino molto osservanti alle fatiche et agli studii di tutte le facultà, sopra qualsivoglia gente di Italia, volse dargli Fiorenza, dignissima fra l'altre città, per patria, per colmare al fine la perfezzione in lei meritamente di tutte le virtù per mezzo d'un suo cittadino.
Nacque dunque un figliuolo sotto fatale e felice stella nel Casentino, di onesta e nobile donna, l'anno 1474 a Lodovico di Lionardo Buonarruoti Simoni, disceso, secondo che si dice, della nobilissima et antichissima famiglia de' conti di Canossa. Al quale Lodovico, essendo podestà quell'anno del castello di Chiusi e Caprese, vicino al Sasso della Vernia, dove San Francesco ricevé le stimate, diocesi aretina, nacque dico un figliuolo il sesto dì di marzo, la domenica, intorno all'otto ore di notte, al quale pose nome Michelagnolo, perché non pensando più oltre, spirato da un che di sopra volse inferire costui essere cosa celeste e divina, oltre all'uso mortale, come si vidde poi nelle figure della natività sua, avendo Mercurio, e Venere in seconda, nella casa di Giove, con aspetto benigno ricevuto, il che mostrava che si doveva vedere ne' fatti di costui, per arte di mano e d'ingegno, opere maravigliose e stupende. Finito l'uffizio della podesteria, Lodovico se ne tornò a Fiorenza, e nella villa di Settignano, vicino alla città tre miglia, dove egli aveva un podere de' suoi passati (il qual luogo è copioso di sassi e per tutto pieno di cave di macigni, che son lavorati di continovo da scarpellini e scultori, che nascono in quel luogo la maggior parte), fu dato da Lodovico Michelagnolo a balia in quella villa alla moglie d'uno scarpellino. Onde Michelagnolo ragionando col Vasari una volta per ischerzo disse: "Giorgio, si' ho nulla di buono nell'ingegno, egli è venuto dal nascere nella sottilità dell'aria del vostro paese d'Arezzo, così come anche tirai dal latte della mia balia gli scarpegli e 'l mazzuolo con che io fo le figure".
Crebbe col tempo in figliuoli assai Lodovico, et essendo male agiato e con poche entrate, andò accomodando all'Arte della Lana e Seta i figliuoli, e Michelagnolo, che era già cresciuto, fu posto con maestro Francesco da Urbino alla scuola di gramatica; e perché l'ingegno suo lo tirava al dilettarsi del disegno, tutto il tempo che poteva mettere di nascoso lo consumava nel disegnare, essendo per ciò e dal padre e da' suoi maggiori gridato e tal volta battuto, stimando forse che lo attendere a quella virtù non conosciuta da loro, fussi cosa bassa e non degna della antica casa loro. Aveva in questo tempo preso Michelagnolo amicizia con Francesco Granacci, il quale anche egli giovane si era posto appresso a Domenico del Grillandaio per imparare l'arte della pittura, là dove amando il Granacci Michelagnolo e vedutolo molto atto al disegno, lo serviva giornalmente de' disegni del Grillandaio, il quale era allora reputato non solo in Fiorenza, ma per tutta Italia de' migliori maestri che ci fussero. Per lo che crescendo giornalmente più il desiderio di fare a Michelagnolo, e Lodovico non potento diviare che il giovane al disegno non attendesse, e che non ci era rimedio, si risolvé, per cavarne qualche frutto e perché egli imparasse quella virtù, consigliato da amici, di acconciarlo con Domenico Grillandaio.
aqui a edição Torrentino (1550, 131 vidas); aqui a edição Giunto (1568, 178 vidas).
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fiquei encantada com a notícia de que as vidas de vasari vão sair em setembro pela wmf, em tradução de ivone benedetti, escritora, dicionarista e doutíssima tradutora de grandes clássicos como baltasar gracián e charles d'orléans. será a edição de 1550 (a primeira; em 1568, vasari publicou uma edição revista e bastante ampliada das vidas). sem dúvida é um trabalho de magnitude ímpar, e mal consigo esperar para me deleitar com ele.
outra excelente noticia é que luiz marques, historiador da arte, ex-curador do masp, docente da unicamp, terá publicada sua tradução da vida de michelangelo buonarroti, também de vasari, numa edição extensamente anotada, pela editora da unicamp.
alguns anos atrás, federico e eu brincamos um pouco com o vasari: detivemo-nos justamente no michelangelo, mas também em da vinci e mais uns dois ou três. segue uma amostra.
Vida de Michelangelo Buonarotti
Florentino
Pintor, escultor e arquiteto
Enquanto os industriosos e insignes espíritos iluminados pelo famosíssimo Giotto e seus seguidores esforçavam-se em apresentar ao mundo o valor que a benevolência das estrelas e a harmoniosa mescla dos humores haviam dado a seus engenhos e, desejosos de imitar com a excelência da arte a grandeza da natureza, debalde penavam universalmente para se acercar ao máximo daquele sumo saber que muitos chamam de inteligência, o mui benigno Senhor dos céus volveu clemente os olhos para a terra e, vendo a vã infinidade de tantas labutas, os estrênues estudos sem fruto algum e a opinião pretensiosa dos homens, muito mais distante da verdade do que as trevas da luz, para libertar-nos de tantos erros decidiu enviar à terra um espírito que fosse hábil em todas as artes e todos os ofícios, dedicando-se sozinho a mostrar a perfeição da arte do desenho no traço, no contorno, na sombra e na luz para dar relevo às coisas da pintura, a trabalhar com reto discernimento na escultura, e a tornar as residências cômodas e seguras, salubres, alegres, harmoniosas e ricamente adornadas na arquitetura. Quis também dotá-lo da verdadeira filosofia moral, com o ornamento da doce poesia, para que o mundo o elegesse e admirasse como seu excelso espelho na vida, nas obras, na pureza dos costumes e em todas as ações humanas, e para que o denominássemos como ser mais celestial do que terreno. E como viu que no exercício desses ofícios e nestas singularíssimas artes, isto é, a pintura, a escultura e a arquitetura, os engenhos toscanos sempre foram, dentre os outros, sumamente grandes e elevados, por serem eles muito observantes da prática e do estudo de todas as faculdades, mais do que qualquer outro povo da Itália, quis dar-lhe como pátria Florença, digníssima entre as demais cidades, para completar merecidamente sua perfeição em todas as virtudes por meio de um cidadão seu.
Portanto, em Casentino, sob fatídica e feliz estrela nasceu de nobre e honesta mulher, no ano de 1474, um filho de Lodovico di Lionardo Buonarotti Simoni, descendente, ao que consta, da nobilíssima e antiquíssima família dos condes de Canossa. A Lodovico, que naquele ano era o encarregado do castelo de Chiusi e Caprese, próximo a Sasso della Vernia, onde são Francisco recebeu os estigmas, na diocese de Arezzo, nasceu pois um filho no sexto dia de março, um domingo, por volta das oito horas da noite, ao qual deu o nome de Michelangelo, pois, sem se deter para pensar e por inspiração do alto, entendeu ser ele coisa celeste e divina, além do comum dos mortais, como mais tarde se viu nas figuras de seu nascimento, estando Mercúrio e ingressando Vênus na casa de Júpiter em posição propícia, o que mostrava que de suas realizações, por arte da mão e do engenho, iriam resultar obras maravilhosas e esplêndidas. Encerrado o mandato, Lodovico retornou a Florença, e no vilarejo de Settignano, a três milhas da cidade, onde ele possuía uma herdade de seus antepassados (lugar cheio de pedras e repleto de cantarias de arenito, continuamente exploradas por canteiros e escultores, que em sua maioria nascem naquele local), Lodovico confiou Michelangelo aos cuidados da esposa de um canteiro. Por isso, certa vez conversando com Vasari, Michelangelo disse de brincadeira: "Giorgio, se tenho algo de bom em meu engenho, foi por ter nascido no ar penetrante de sua região de Arezzo, e também porque extraí do leite de minha ama o malho e os cinzéis com que faço as figuras".
Com o tempo, o número de filhos de Lodovico aumentou bastante; sendo modesto e com poucas rendas, ele foi encaminhando os filhos para a Arte da Lã e da Seda, e Michelangelo, já crescido, foi enviado à escola de gramática com o mestre Francesco da Urbino; como seu engenho o levava a gostar de desenho, ele aproveitava todo o tempo que tirava às escondidas para desenhar, por isso levando repreensões e às vezes palmadas do pai e de seus superiores, os quais talvez considerassem que dedicar-se a esse dom que lhes era desconhecido seria coisa baixa e indigna de sua antiga família. Naquela época Michelangelo tinha travado amizade com Francesco Granacci, também jovem, que se instalara com Domenico del Ghirlandaio para aprender a arte da pintura; assim, como Granacci gostava muito de Michelangelo e via seu grande talento para o desenho, trazia-lhe diariamente desenhos de Ghirlandaio, o qual tinha a fama, não só em Florença, mas em toda a Itália, de ser um dos melhores mestres existentes. Com isso, a cada dia aumentando a vontade de Michelangelo, e não podendo Lodovico impedir que o rapaz se dedicasse ao desenho, e não havendo remédio, ele resolveu a conselho de amigos, para obter algum fruto e para que o filho aprendesse aquela arte, colocá-lo na oficina de Domenico Ghirlandaio.
aqui o original na edição giuntina (1568)
VITA DI MICHELAGNOLO BUONARRUOTI
FIORENTINO
PITTORE, SCULTORE ET ARCHITETTO
Mentre gl'industriosi et egregii spiriti col lume del famosissimo Giotto e de' seguaci suoi si sforzavano dar saggio al mondo del valore che la benignità delle stelle e la proporzionata mistione degli umori aveva dato agli ingegni loro, e desiderosi di imitare con la eccellenza dell'arte la grandezza della natura, per venire il più che potevano a quella somma cognizione che molti chiamano intelligenza, universalmente, ancora che indarno, si affaticavano, il benignissimo Rettore del cielo volse clemente gli occhi alla terra, e veduta la vana infinità di tante fatiche, gli ardentissimi studii senza alcun frutto e la opinione prosuntuosa degli uomini, assai più lontana dal vero che le tenebre dalla luce, per cavarci di tanti errori si dispose mandare in terra uno spirito, che universalmente in ciascheduna arte et in ogni professione fusse abile, operando per sé solo a mostrare che cosa sia la perfezzione dell'arte del disegno nel lineare, dintornare, ombrare e lumeggiare, per dare rilievo alle cose della pittura, e con retto giudizio operare nella scultura, e rendere le abitazioni commode e sicure, sane, allegre, proporzionate e ricche di varii ornamenti nell'architettura. Volle oltra ciò accompagnarlo della vera filosofia morale, con l'ornamento della dolce poesia, acciò che il mondo lo eleggesse et ammirasse per suo singularissimo specchio nella vita, nell'opere, nella santità dei costumi et in tutte l'azzioni umane, e perché da noi più tosto celeste che terrena cosa si nominasse. E perché vide che nelle azzioni di tali esercizii et in queste arti singularissime, cioè nella pittura, nella scultura e nell'architettura, gli ingegni toscani sempre sono stati fra gli altri sommamente elevati e grandi, per essere eglino molto osservanti alle fatiche et agli studii di tutte le facultà, sopra qualsivoglia gente di Italia, volse dargli Fiorenza, dignissima fra l'altre città, per patria, per colmare al fine la perfezzione in lei meritamente di tutte le virtù per mezzo d'un suo cittadino.
Nacque dunque un figliuolo sotto fatale e felice stella nel Casentino, di onesta e nobile donna, l'anno 1474 a Lodovico di Lionardo Buonarruoti Simoni, disceso, secondo che si dice, della nobilissima et antichissima famiglia de' conti di Canossa. Al quale Lodovico, essendo podestà quell'anno del castello di Chiusi e Caprese, vicino al Sasso della Vernia, dove San Francesco ricevé le stimate, diocesi aretina, nacque dico un figliuolo il sesto dì di marzo, la domenica, intorno all'otto ore di notte, al quale pose nome Michelagnolo, perché non pensando più oltre, spirato da un che di sopra volse inferire costui essere cosa celeste e divina, oltre all'uso mortale, come si vidde poi nelle figure della natività sua, avendo Mercurio, e Venere in seconda, nella casa di Giove, con aspetto benigno ricevuto, il che mostrava che si doveva vedere ne' fatti di costui, per arte di mano e d'ingegno, opere maravigliose e stupende. Finito l'uffizio della podesteria, Lodovico se ne tornò a Fiorenza, e nella villa di Settignano, vicino alla città tre miglia, dove egli aveva un podere de' suoi passati (il qual luogo è copioso di sassi e per tutto pieno di cave di macigni, che son lavorati di continovo da scarpellini e scultori, che nascono in quel luogo la maggior parte), fu dato da Lodovico Michelagnolo a balia in quella villa alla moglie d'uno scarpellino. Onde Michelagnolo ragionando col Vasari una volta per ischerzo disse: "Giorgio, si' ho nulla di buono nell'ingegno, egli è venuto dal nascere nella sottilità dell'aria del vostro paese d'Arezzo, così come anche tirai dal latte della mia balia gli scarpegli e 'l mazzuolo con che io fo le figure".
Crebbe col tempo in figliuoli assai Lodovico, et essendo male agiato e con poche entrate, andò accomodando all'Arte della Lana e Seta i figliuoli, e Michelagnolo, che era già cresciuto, fu posto con maestro Francesco da Urbino alla scuola di gramatica; e perché l'ingegno suo lo tirava al dilettarsi del disegno, tutto il tempo che poteva mettere di nascoso lo consumava nel disegnare, essendo per ciò e dal padre e da' suoi maggiori gridato e tal volta battuto, stimando forse che lo attendere a quella virtù non conosciuta da loro, fussi cosa bassa e non degna della antica casa loro. Aveva in questo tempo preso Michelagnolo amicizia con Francesco Granacci, il quale anche egli giovane si era posto appresso a Domenico del Grillandaio per imparare l'arte della pittura, là dove amando il Granacci Michelagnolo e vedutolo molto atto al disegno, lo serviva giornalmente de' disegni del Grillandaio, il quale era allora reputato non solo in Fiorenza, ma per tutta Italia de' migliori maestri che ci fussero. Per lo che crescendo giornalmente più il desiderio di fare a Michelagnolo, e Lodovico non potento diviare che il giovane al disegno non attendesse, e che non ci era rimedio, si risolvé, per cavarne qualche frutto e perché egli imparasse quella virtù, consigliato da amici, di acconciarlo con Domenico Grillandaio.
aqui a edição Torrentino (1550, 131 vidas); aqui a edição Giunto (1568, 178 vidas).
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Published on May 28, 2011 14:38
May 17, 2011
sons do tempo II
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odilon redon, 1883
continuando a relação de traduções brasileiras de the tell-tale heart, há também as seguintes:
com o título de "o coração revelador"*:
renato guimarães, in os mais extraordinários contos de horror, org. rosamund morris (civilização brasileira, 1978)
com o título de "o coração delator":
celina portocarrero, in os melhores contos de loucura, org. flávio moreira da costa (ediouro, 2007)
rodrigo breunig, in o escaravelho de ouro & outras histórias (lpm, 2011)
ricardo gouveia (adapt.), in o gato preto e outras histórias (scipione, 2010)
como não as compulsei, não sei dizer quais foram as soluções adotadas para a nuclear frase hearkening to deathwatches in the wall, tema exposto em sons do tempo I . mas ficam aqui registradas.
*há ainda uma referência na revista fragmentos da ufsc (n. 17, 1999, p. 96), porém receio que talvez equivocada, à tradução de um certo "t. booker washington", in maravilhas do conto universal, org. diaulas riedel (cultrix, 1957). não localizei esta tradução em nenhum dos dois volumes dessa coleção que poderiam abrigá-la: maravilhas do conto norte-americano e maravilhas do conto fantástico. quanto a "t. booker washington", trata-se visivelmente de pseudônimo (tenho até um palpite de quem seria), que aparece em vários outros volumes da mesma coleção: "traduções revistas por t. booker washington" ou "revisão das traduções por t. booker washington". são: maravilhas do conto inglês, maravilhas do conto alemão, maravilhas do conto italiano, maravilhas do conto francês, maravilhas do conto russo, além do já citado maravilhas do conto norte-americano.
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odilon redon, 1883continuando a relação de traduções brasileiras de the tell-tale heart, há também as seguintes:
com o título de "o coração revelador"*:
renato guimarães, in os mais extraordinários contos de horror, org. rosamund morris (civilização brasileira, 1978)
com o título de "o coração delator":
celina portocarrero, in os melhores contos de loucura, org. flávio moreira da costa (ediouro, 2007)
rodrigo breunig, in o escaravelho de ouro & outras histórias (lpm, 2011)
ricardo gouveia (adapt.), in o gato preto e outras histórias (scipione, 2010)
como não as compulsei, não sei dizer quais foram as soluções adotadas para a nuclear frase hearkening to deathwatches in the wall, tema exposto em sons do tempo I . mas ficam aqui registradas.
*há ainda uma referência na revista fragmentos da ufsc (n. 17, 1999, p. 96), porém receio que talvez equivocada, à tradução de um certo "t. booker washington", in maravilhas do conto universal, org. diaulas riedel (cultrix, 1957). não localizei esta tradução em nenhum dos dois volumes dessa coleção que poderiam abrigá-la: maravilhas do conto norte-americano e maravilhas do conto fantástico. quanto a "t. booker washington", trata-se visivelmente de pseudônimo (tenho até um palpite de quem seria), que aparece em vários outros volumes da mesma coleção: "traduções revistas por t. booker washington" ou "revisão das traduções por t. booker washington". são: maravilhas do conto inglês, maravilhas do conto alemão, maravilhas do conto italiano, maravilhas do conto francês, maravilhas do conto russo, além do já citado maravilhas do conto norte-americano.
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Published on May 17, 2011 13:00
May 16, 2011
relações
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retomando um post anterior : naturalmente, a questão que se coloca é se poe conhecia o artigo de thoreau, publicado anonimamente em julho de 1842 na revista the dial, sobre a história natural de massachusetts, onde se encontra a analogia entre o canto do grilo, o tique do caruncho e o pulsar do coração, que reaparece tortuosamente em "o coração revelador".
sobre isso, robinson dá boas indicações: como resenhista literário, poe acompanhava as publicações de the dial, e aliás parecia considerar um tanto absurdos vários artigos publicados na revista dos transcendentalistas.
sobre thoreau ele nada comenta, nem thoreau nada comenta sobre poe. de emerson, poe publica em janeiro de 1842 uma análise grafológica , na qual aproveita para reiterar sua aversão ao farisaísmo do "sábio de concord". achei muito divertida e de bastante acuidade:
an emerson letter
certa vez, poe explicou que antipatizava não com a doutrina transcendentalista em si, mas com "os embusteiros e os sofistas". não especificou quem seriam. o engraçado é que, se apreciava profundamente nathaniel hawthorne, a proximidade entre este e o círculo transcendentalista - na verdade, o simples fato de morar em concord - foi motivo para poe investir contra ele.
(numa rabeira a propósito da presença bastante difundida de anacreonte naquela primeira metade do século XIX, ver também as traduções de thoreau de algumas odes do poeta grego da juventude de poe, in thoreau tradutor .)
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retomando um post anterior : naturalmente, a questão que se coloca é se poe conhecia o artigo de thoreau, publicado anonimamente em julho de 1842 na revista the dial, sobre a história natural de massachusetts, onde se encontra a analogia entre o canto do grilo, o tique do caruncho e o pulsar do coração, que reaparece tortuosamente em "o coração revelador".
sobre isso, robinson dá boas indicações: como resenhista literário, poe acompanhava as publicações de the dial, e aliás parecia considerar um tanto absurdos vários artigos publicados na revista dos transcendentalistas.
sobre thoreau ele nada comenta, nem thoreau nada comenta sobre poe. de emerson, poe publica em janeiro de 1842 uma análise grafológica , na qual aproveita para reiterar sua aversão ao farisaísmo do "sábio de concord". achei muito divertida e de bastante acuidade:
MR. RALPH WALDO EMERSON belongs to a class of gentlemen with whom we have no patience whatever — the mystics for mysticism's sake. Quintilian mentions a pedant who taught obscurity, and who once said to a pupil "this is excellent, for I do not understand it myself." How the good man would have chuckled over Mr. E. ! His present role seems to be the outCarlyling Carlyle. Lycophron Tenebrosus is a fool to him. The best answer to his twaddle is cui bono? — a very little Latin phrase very generally mistranslated and misunderstood — cui bono? — to whom is it a benefit ? If not to Mr. Emerson individually, then surely to no man living.
His love of the obscure does not prevent him, nevertheless, from the composition of occasional poems in which beauty is apparent by flashes. Several of his effusions appeared in the " Western Messenger" — more in the "Dial," of which he is the soul — or the sun — or the shadow. We remember the "Sphynx," the "Problem," the "Snow Storm," and some fine old-fashioned verses entitled "Oh fair and stately maid whose eye."
His MS. is bad, sprawling, illegible and irregular — although sufficiently bold. This latter trait may be, and no doubt is, only a portion of his general affectation.
an emerson lettercerta vez, poe explicou que antipatizava não com a doutrina transcendentalista em si, mas com "os embusteiros e os sofistas". não especificou quem seriam. o engraçado é que, se apreciava profundamente nathaniel hawthorne, a proximidade entre este e o círculo transcendentalista - na verdade, o simples fato de morar em concord - foi motivo para poe investir contra ele.
(numa rabeira a propósito da presença bastante difundida de anacreonte naquela primeira metade do século XIX, ver também as traduções de thoreau de algumas odes do poeta grego da juventude de poe, in thoreau tradutor .)
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Published on May 16, 2011 19:43
anacreonte em poe
embora eu não me sinta muito persuadida de uma possível filiação direta, aventada por claudio w. abramo,* de the raven
a anacreonte, é inegável a presença do poeta como símbolo de louco hedonismo juvenil em algumas peças de poe.
além de shadow - a parable, mencionada por abramo, lembro os versos da terceira estrofe de introduction (1831), reelaboração de preface (1829) e posteriormente trabalhada em diversas versões de romance, até a versão final de 1845.
interessante também notar que a estrofe de 1831, com sua referência a anacreonte, traz os elementos que reaparecerão refundidos em prosa na parábola shadow, desde sua versão inicial de 1835 ( aqui ).
desnecessário destacar a strange alchemy of brain, acima, descrevendo com tanta clareza o processo de intensificação e inversão (ou perversão, em sentido psicanalítico) das pulsões e afetos, que viria a caracterizar
grande parte de sua obra futura.
* o corvo (2011), pp. 15, 47-51.
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a anacreonte, é inegável a presença do poeta como símbolo de louco hedonismo juvenil em algumas peças de poe.
além de shadow - a parable, mencionada por abramo, lembro os versos da terceira estrofe de introduction (1831), reelaboração de preface (1829) e posteriormente trabalhada em diversas versões de romance, até a versão final de 1845.
For, being an idle boy lang syne,é interessante acompanhar a trajetória do poema entre sua formulação inicial, em 1829, até a versão final de 1845: aqui.
Who read Anacreon, and drank wine,
I early found Anacreon rhymes
Were almost passionate sometimes —
And by strange alchemy of brain
His pleasures always turn'd to pain —
His naivete to wild desire —
His wit to love — his wine to fire —
And so, being young and dipt in folly
I fell in love with melancholy,
And used to throw my earthly rest
And quiet all away in jest —
I could not love except where Death
Was mingling his with Beauty's breath —
Or Hymen, Time, and Destiny
Were stalking between her and me.
interessante também notar que a estrofe de 1831, com sua referência a anacreonte, traz os elementos que reaparecerão refundidos em prosa na parábola shadow, desde sua versão inicial de 1835 ( aqui ).
desnecessário destacar a strange alchemy of brain, acima, descrevendo com tanta clareza o processo de intensificação e inversão (ou perversão, em sentido psicanalítico) das pulsões e afetos, que viria a caracterizar
grande parte de sua obra futura.
* o corvo (2011), pp. 15, 47-51.
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Published on May 16, 2011 09:43
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