M. Barreto Condado's Blog, page 2
April 2, 2020
in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 17
DEZASSETE- Grávida! – Maria olhava com ar assustado para todos os MacCumhaill sentados à volta da mesa da cozinha em silêncio - Não posso estar! Posso?- Permite que te explique como é que isso funciona. - Fionn olhava para os presentes com ar circunspecto reclinando-se na cadeira - Estás a ver aquilo que fazes sonoramente de manhã, à tarde e à noite? É normalmente isso que leva a termos mais barulho passados nove meses. Maria corou envergonhada pedindo ajuda com o olhar a Rhenan. - A verdade é que não temos sido assim tão cuidadosos mo ghrá. - sorria-lhe feliz e confuso.- Eu adorava ter bebés nesta casa. - Maeve soava animada. Maria sentia-se novamente indisposta, será que não percebiam o que implicava.- Bebés? - Esqueceste-te que o Rhenan e o Lochan são gémeos? - Não digas mais nada Maeve, não estás a ajudar. – Maria perdera o apetite. - Mo ghrá, fazes um teste de gravidez e se o resultado for positivo decidimos o que fazer. - puxou-a para perto dele.- Não pensem que não quero encher esta casa de crianças, - Maria olhava directamente para Fionn - nem que seja para te moerem a cabeça e a tua pouca sanidade mental. Fionn ria-se divertido com a pronta resposta de Maria.- Mas esta não é a melhor altura pelos mais diversos motivos. - Maria apertou a mão de Rhenan.Sabiam que tinha razão. Maeve disse-lhe que passariam numa farmácia no final das aulas e comprariam um teste. Ficou decidido sem hipótese a reclamações, que a partir daquele dia as mulheres almoçavam num restaurante, acabavam-se as sandes e bolos. Maria sentia os olhos de Rhenan fixos nela.
Foi um dia perfeito. Não tiveram a última aula da manhã permitindo-lhes um almoço prolongado, na companhia de Sergiu, Pedro e Rita. A indisposição do dia anterior desaparecera por completo, o problema de Maria tinha sido andar a alimentar-se mal e manter segredos de Rhenan. Regressaram ao final do dia com Maeve a conduzir. Maria entrou em casa decidida a tirar a dúvida que a atormentava desde aquela manhã.Ainda não vira Lochan nesse dia e sentia a sua falta, já se habituara a tê-lo sempre por perto. Quando olhou para o topo da escadaria deparou-se com ele, parecia que lhe lera o pensamento, estava à sua espera sorrindo-lhe.- O que fizeste durante o dia?- Maria, achei que hoje precisavas de tudo menos da minha presença a rondar-te.- Senti a tua falta.Lochan olhava-a com amor. - Obrigado por dizeres isso.- É verdade. Começou a subir.- Sinto como se fosse a caminho do cadafalso.- Ouvi a conversa ao pequeno-almoço. Vais fazer o teste?- Vou!- O Rhenan saiu.- Onde foi?- Está lá fora sentado na relva, preocupado contigo.- De manhã fiquei em pânico e quando falei não tive a sensibilidade necessária. A verdade é que nem pensei nos sentimentos dele.- Mas tens razão em tudo o que disseste. Esta não é realmente a melhor altura para termos crianças. Iriamos colocá-las num risco desnecessário e ficaríamos certamente mais vulneráveis, o que não é de todo aconselhável tendo em conta o que nos cerca.- Se o teste der positivo, - Maria ficou de frente para ele - vou querer ter este filho. Lochan segurou-lhe nas mãos.- A Deusa vai ajudar-te. Se alguém o merece és tu. Quero que saibas que no dia que me deres sobrinhos serei como um pai para eles, para os mimar e proteger. Mas gostaria de o fazer desse lado.- Eu sei! – Maria afastou-se na direcção do quarto. Lochan ficou parado até a ver entrar e fechar a porta. Desceu a escadaria aproveitando a entrada da prima para sair. Faria companhia ao irmão. Podia não o conseguir abraçar, mas estaria ao seu lado. Maria encostou-se à porta. Quando mais pensava, contar aos pais deixara de ser o seu maior problema, a verdade é que não queria saber a resposta e a coragem começava a faltar-lhe. Olhou para a embalagem que apertava na mão. Sabia que independentemente do resultado ficariam sempre magoados. Pousou a mala no chão entrando na casa de banho.Seguia as instruções, lendo e relendo tentando ganhar algum tempo. Esperou um pouco mais do que os três minutos recomendados, pegou na tira respirando fundo, suspirou ao ver o resultado. Deixou-o em cima do papel das instruções antes de sair do quarto, ia ao encontro de Rhenan. Eoghan na sala e Maeve na cozinha viram-na passar. Percebiam pela sua postura que já tinha uma resposta. Trocaram um olhar silencioso entre si quando ouviram a porta da rua fechar.
Published on April 02, 2020 02:00
April 1, 2020
in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 16
DEZASSEISNessa manhã Rhenan e Eoghan tinham-nas deixado à porta da universidade e seguido o seu caminho. O irmão estava realmente muito calado, talvez um dia afastados de Yggdrasilfizesse bem aos dois.Regressar ao ritmo imposto pelos professores deixara-a exausta. Na pausa do almoço Maria engoliu a sandes que trouxera de casa enquanto fazia o percurso entre a sala de aulas e a biblioteca. Maeve tinha saído para almoçar com Sergiu e o resto do grupo.Requisitou os livros de que necessitava à mesma mulher de expressão parada. Um autêntico “rato de biblioteca”, coque no alto da cabeça sem um único cabelo fora do lugar, sapatos de verniz rasos, saia plissada de um axadrezado castanho escuro, camisa branca com gola pontiaguda apertada até ao último botão, colete da mesma cor da saia e óculos de aros grossos. Agradeceu quando lhe entregou os livros, levando-os para uma mesa vazia, o mais perto da luz que ainda entrava pelas janelas. Colocou a mala na cadeira, espalhando os livros de forma a que ninguém tentasse ocupar os lugares vazios ao seu lado. Necessitava de silêncio para se concentrar, dispensava a curiosidade de desconhecidos a espreitar ou comentar as suas escolhas literárias.Estava absorta na leitura quando foi interrompida. Sentia alguém parado atrás de si. - Quem quer que sejas estás a perturbar-me o sossego de que necessito. - Sou eu Maria.Voltou-se ao reconhecer a voz.- Sergiu? Onde está a Maeve?- Nas aulas. Onde pensei que também estivesses.- Que horas são? – olhou para o pulso, lembrando-se que se esquecera do relógio no quarto.- É impressão minha, ou andas um pouco perdida com o tempo? - sentou-se, colocando-lhe a mala em cima da mesa. Maria segurou-lhe no braço olhando para o seu relógio.- Não é possível. Voltei a faltar às aulas da tarde? - Está tudo bem contigo?- Aparentemente não! - Queres ir comer?O tom da voz de Sergiu aguçou-lhe a curiosidade conseguindo afastá-la dos livros voltando-se para ele.- Já que perdi as aulas, – arrumou o que deixara espalhado sobre a mesa tendo o cuidado de esconder o bloco de notas - Vamos. - Ajudo-te. –empilhou os livros segurando-os.Maria guardou o caderno dentro da mala colocando-a sob o ombro. Seguia atrás de Sergiu que pousou os livros no carrinho para esse mesmo efeito, perto da bibliotecária.Saíram para o frio da tarde.Maria apertou o casaco, o vento era cortante.- Reparei que passas muito tempo na biblioteca. Se alguma vez precisares de ajuda podes contar comigo.Sentia que lhe queria dizer algo e não sabia como começar.- Não querendo soar ingrata relembro-te que só temos uma cadeira em comum. Além de que também deves ter muito que fazer. Como te estão a correr as aulas?- Bem! Os meus profs são mais contidos do que os vossos.- Que sorte a tua. Sem se aperceber, Sergiu conduzia-a por um caminho por ele escolhido.- Não querendo parecer intrometida, como estão as coisas entre ti e a Maeve?- Dou a minha vida por ela. Acabara de lhe responder o que esperava ouvir.- Os primos têm sido uma grande dor de cabeça.- Só nos dias que durmo em Yggdrasil. Tenho sempre um de plantão à porta do quarto. – ria-se divertido – Parecem a minha guarda pessoal.- Desculpa-os. Têm boas intenções e gostam de ti, caso contrário nem colocavas um pé dentro da casa. Se precisarem, podem contar comigo.- Agradeço-te. Mas não foi por esse motivo que te convidei.Algo na sua voz deixara-a curiosa, não o interromperia.- Preciso de te confidenciar algo, mas tens de me prometer não contar a ninguém até chegar o momento.- O momento? – Maria estucou o passo segurando-o por um braço obrigando-o a virar-se e encará-la - Do que falas?- Vamos sair da rua. – Sergiu perscrutava atentamente à sua volta com os olhos semicerrados. Notara que eram seguidos de perto por homens dos MacCumhaill desde que tinham saído do campus.Maria observava-o com curiosidade pelo canto do olho. Algo lhe dizia que gostaria do que Sergiu lhe queria transmitir. Fizeram o resto do caminho até à rua Dawson em silêncio, caminhavam na direcção do Tri D Café. Entraram, sentando-se numa mesa perto da porta, Sergiu ficara de frente para poder ver quem entrava e saía. Pediram dois cafés com natas e um muffinde nozes.- O que tenho para te dizer poderá parecer estranho, – Sergiu falava calmamente sem desviar o olhar - mas vais ter de me escutar e acreditar no que te vou contar.- Ultimamente essa parece a história da minha vida. - já não sabia se tinha sido boa ideia afastar-se da universidade, felizmente o café estava cheio e se tentasse alguma coisa tinha demasiadas testemunhas.- Maria, não tens nada a temer de mim. - Sergiu parecia compreender a sua hesitação. A empregada aproximou-se colocando o pedido na mesa, Sergiu esperou que se afastasse antes de voltar a falar.- A minha escolha de palavras talvez não tenha sido a melhor para início de conversa. – sorria-lhe calorosamente - Faz-me um favor e come. Podia jurar que perdes peso a cada dia que passa, não podes enfraquecer, pois dependemos todos de ti.- Do que estás a falar? – Maria arregalou os olhos.- Come e eu digo-te o motivo pelo qual preciso de contar-te o meu segredo.Maria anuiu com a cabeça começando a mordiscar o muffin, subitamente perdera o apetite.- Independentemente de tudo o que te vou dizer quero que saibas que o meu amor pela Maeve é sincero. A minha obrigação é proteger os MacCumhaill e a ti. Nunca pensei apaixonar-me.Maria absorvia as suas palavras, escutando atentamente o que lhe dizia. Olhando de relance para o relógio na parede à sua frente, não tinham muito tempo até as aulas terminarem. Tinha de regressar ao campus antes de Maeve, Rhenan e Eoghan.Sergiu apercebera-se que o tempo era o seu pior inimigo, deixando-se de rodeios. - O meu nome é Sergiu Mihaiescu, sou Romeno, nasci na Transilvânia. O meu pai Mihai, é general e o melhor amigo de Vlad Tepes, tio dos MacCumhaill. Maria abria os olhos de espanto, já nada a devia surpreender, mas ali estava uma vez mais o seu discernimento a ser colocado à prova. - Fui enviado pelo meu pai a pedido do imperador para vos proteger, mas sem dar a conhecer a minha verdadeira identidade. Sei agora que era por ti que esperávamos. Sergiu bebeu o café de um sorvo sem tirar os olhos dela.- A Profecia começou contigo assim que entraste no avião. Temos muito que fazer, o caminho não será fácil, não existem mapas para nos guiarem, porém serás tu a indicar-nos o rumo a tomar. Maria esmigalhava o muffin com os dedos escutando-o atentamente.Sergiu respirou fundo, não podia parar.- Não sei qual será a minha função. Mas estou aqui para te proteger e ajudar, sou o guerreiro de sangue da Ordem de Draculia, do qual fala a Profecia. Observava aquele homem atentamente pela primeira vez. Parecia mais velho, as linhas duras da sua cara diziam-lhe que já vira muito e passara por demasiado sofrimento.- Neste preciso momento, o meu pai está com as irmãs MacCumhaill, a oferecer-lhes os seus préstimos e a contar-lhes do meu envolvimento. Até que nos autorizem não devemos dizer a ninguém quem sou. - Que idade tens?- Que idade tenho? Depois de tudo o que te contei é o que queres perguntar? – Sergiu sorria-lhe divertido - Vinte e sete anos.- Mais quantos séculos?- Seis! - reagira melhor do que esperara, sentia que aquele não era o único segredo que guardava.- Temos de ir Maria – Sergiu olhava para o relógio de parede – A Maeve sai das aulas daqui a dez minutos e é bom que lá estejas. Levantou-se, afastando-lhe a cadeira, ajudando-a.- Tu ficas bem? Como é que te proteges daquilo que nos persegue? - segurou-o pelo braço obrigando a encará-la.- Fica descansada, - apertou-lhe a mão para a assegurar - enquanto não souberem quem sou, fico bem. Não passo de mais um aluno que por acaso namora com uma MacCumhaill, ainda não sou um alvo. Mas tu sim, devias redobrar a tua segurança, mal se apercebam que é contigo que têm de se preocupar passarás a ser a sua prioridade.- Também as vês?- Sinto-as. – deixou o dinheiro em cima da mesa abrindo-lhe a porta.Caminhavam em silêncio, absortos nos seus pensamentos.Pensava no que Sergiu lhe dissera. Saber que era o guerreiro da Profeciadava-lhe um novo ânimo, parecia que as peças se começavam a encaixar.Tinham chegado à universidade.- A Maeve não desconfia?- Não! E espero que quando descobrir não me odeie. – Sergiu ficou de semblante carregado.- Já viste como olha para ti? Acredita que nada a fará mudar o que sente.- Espero que tenhas razão. – fez-lhe uma discreta vénia – Parabéns, soube que ficaste noiva. – sorria. Depois de se certificar que estaria em segurança até a família chegar. Reparou que os homens do Clã continuavam por perto – Até amanhã Maria.- Obrigada e por favor tem cuidado.Sergiu afastou-se sem olhar para trás. Maria admirava o anel. Odiava ter de manter segredos de Rhenan. Encostou-se à estátua enquanto esperava por Maeve.- Com que então a manter segredos do mano?- Lochan! - saltou assustada - Como chegaste aqui? Perdeste o receio de voltares a desaparecer?- Achei que hoje era um bom dia para experimentar. Tinha de saber se conseguia acompanhar-te a casa e proteger-te. - Como é que aqui chegaste?- Vim de camioneta. – ria-se divertido com a sua pequena aventura – Vais contar ao meu irmão o que te disse?- Não posso! Prometi.- Olha que o Eoghan já anda desconfiado.- Achas que está a tentar descobrir que te escondemos?- Sim e devo avisar-te que o teu querido marido não aguenta muito tempo a pressão do Eoghan e vai confessar-lhe tudo.- Não me deixes nervosa.- Conheço o Eoghan, ele não vai acreditar na história do Fionn, de que estás a enlouquecer e vai querer saber a verdade.- Olha que se ainda não enlouqueci já deve faltar pouco.- Considera-te avisada e permite-me um conselho, não pressiones o Rhenan, não lhe perguntes nada, acredita que até ao final do dia te conta toda a conversa que teve com o nosso irmão.Teria de aguardar para saber o que levara Rhenan e Eoghan a Dublin naquele dia. Podia ser que Lochan estivesse enganado.- Ouviste a minha conversa com o Sergiu, o que achas?- É fantástico contarmos com aliados, que a ajuda começa a aparecer, mas é mau que ande por Dublin sozinho quando devia estar protegido.- O que podemos fazer para o ajudar?- Neste momento temos de juntar forças, não nos podemos dar ao luxo de perder guerreiros.- A falar sozinha Maria? - Maeve aproximara-se sem que a ouvisse - Devo ficar preocupada?Não sabia o que lhe responder.- Onde te meteste toda a tarde?Lochan parecia divertido. Vira a prima aproximar-se e não dissera nada, queria ver como Maria resolveria a situação.- Estive na biblioteca e uma vez mais esqueci-me de ir às aulas. Estou a começar bem o semestre! Têm sido mais as vezes que falto, o professor disse alguma coisa?- O homem parece um morcego, não vê um palmo à frente da cara, nem se apercebeu que a meio da aula metade dos alunos já saíra. No fim eramos só três.- Coitado.- Coitadas de nós porque nos enviou mais um trabalho. Por acaso almoçaste? Pareces transparente. Sentes-te bem?- A verdade é que estou um pouco agoniada. Deve ter sido do muffin que comi.- Deve ser é do que não comes. Vou fazer queixas ao meu primo.Maria deitou-lhe a língua de fora. Caminharam para o local de encontro.Lochan seguia a seu lado. Tinha prometido ao irmão protegê-la e cumpriria com a sua palavra.
Antes de entrar no carro, Maria deixara a porta aberta o tempo suficiente para que Lochan entrasse sem que desconfiassem. Agradeceu-lhe apertando-lhe a mão. Foi uma viagem longa e silenciosa. Cada um absorto nos seus próprios pensamentos.Maria sentia-se estranhamente cansada e agoniada. Só podia estar a adoecer e aquela não era a melhor altura.Quando o carro parou, para espanto de todos, saiu a correr. Subindo a escadaria, entrou na casa de banho do quarto a tempo de levantar o tampo da sanita e vomitar. Os irmãos e a prima continuaram sentados no carro, espantados, sem reacção. Rhenan voltou-se para trás olhando interrogador para Maeve que lhe levantou os ombros abanando a cabeça. Ninguém percebia o que se passava com Maria. A Rhenan parecera-lhe cansada.- Talvez tenha sido do muffin. – Maeve lembrou-se de Maria lhe ter dito que não se sentia bem - A tua mulher quase não come ou ainda não te tinhas apercebido disso?Rhenan saiu do carro levando a mala de Maria. Abriu a porta do quarto a tempo de a ouvir vomitar, largou tudo em cima da cómoda. Entrou na casa de banho, molhou uma toalha com água fria, ajoelhando-se a seu lado, segurou-lhe na testa passando-lhe a toalha pelo pescoço. Maria estava muito fraca. Ajudou-a a despir-se, lavou-a, deitando-a na cama.- O que comeste hoje?- Uma sandes e um muffin.- Se não começares a alimentar-te, morres.- Sou imortal, não posso morrer. – Maria tentava sorrir.- Espertinha. Vou fazer-te chá. Queres que te traga alguma coisa especial?- Tu!Rhenan sorriu-lhe.- Mo ghrá, estás transparente. Se te tocasse desmaiavas. - És capaz de ter razão.- Volto já.Abriu a porta quando Eoghan se preparava para bater. Rhenan afastou-se para que o irmão entrasse, deixando-o com Maria.Sentou-se na beira da cama, segurando-lhe na mão.- Sentes-te melhor?- Nem por isso, mas vou ficar. Agradeço-vos muito a vossa preocupação, mas não têm de tomar conta de mim.- Claro que temos. – Eoghan beijou-lhe a mão - Somos uma família, contamos uns com os outros. Queria que soubesses que obriguei o meu irmão a contar-me porque andavas a falar sozinha. Temi que estivesses à beira de um esgotamento. Sabia que não estavas a ficar louca como o Fionn sugeriu, o único louco nesta família é ele. - Também acho. - Maria sorriu-lhe. - Podes ficar descansada que não conto a ninguém. - Eoghan continuava a segurar-lhe a mão - Não te aborreças com o Rhenan porque praticamente o obriguei a falar. Eoghan levantou-se quando o irmão entrou com um tabuleiro de comida, beijando-a na testa. - Quando o vires diz-lhe que tenho saudades dele.- Fica descansado. - Maria estava-lhe agradecida.Ao passar por Rhenan tocou-lhe no ombro. Saiu, fechando a porta. Maria precisava de descansar. Rhenan ajudou-a a sentar-se colocando-lhe o tabuleiro ao colo. - Nem penses que vou comer isto.- Come só um pedaço de carne e bebe o chá.Maria fez um esforço, afinal Rhenan tivera todo aquele trabalho. Ainda se sentia enjoada, mas mal colocou a primeira garfada na boca o estômago acalmou. - O meu irmão contou-te o que aconteceu hoje? Desculpa, mas não fui capaz de lhe mentir.- Não faz mal - passou-lhe a mão pela cara.- Não quero que existam segredos entre nós, ia contar-te.- Eu sei. - Rhenan pedia-lhe que o perdoasse por algo insignificante e ela escondia-lhe algo muito mais importante. Em sua defesa como o segredo não era seu devia ser Sergiu a fazê-lo - Sabes que te amo?- E não me canso de te ouvir repetir. Agora come tudo. - És um déspota. - fez beicinho. Comeu com prazer. O mal dela era mesmo fome. Tinha de começar a alimentar-se. Estava destinada a ajudá-los e não a criar-lhes preocupações.Rhenan retirou-lhe o tabuleiro visivelmente satisfeito por ter comido tudo. Ajudando-a a deitar-se. - Mo ghrá! Queres que te traga mais alguma coisa?- Só tu! - Regresso num instante. – voltou-se para a porta de separação falando para o ar - Mano se estiveres por aqui fica de olho na minha mulher, obrigado.E estava. Lochan sorria-lhe sentado no cadeirão.Extenuada, virou-se para o lado adormecendo de imediato. Com eles sentia-se protegida. - Dorme descansada Maria que eu velo por ti. Queria poder voltar a abraçar a sua família, dizer-lhes: “Estou vivo! Estou aqui!”. Levantou-se caminhando na penumbra, olhou pela janela para o jardim, sentia as Sombras rondarem.Quando Rhenan entrou, regressou ao seu quarto fechando a porta de separação. Ouviu o irmão agradecer-lhe. De todos, era dele que sentia mais saudades, era a parte que o completava para ser feliz. Deitou-se em cima da cama pensando em tudo o que acontecera e que o levara à situação em que se encontrava.
Published on April 01, 2020 02:00
March 31, 2020
in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 15
QUINZE- Lochan, sai! – Maria gritou. Rhenan saiu de cima dela, rindo. Se ainda subsistia alguma dúvida acabara de ter a confirmação que era o irmão. - Meu! Um pouco de privacidade. – Rhenan tentava sem sucesso soar irritado. - Desculpem. – Lochan sorria divertido – Eu bati, como não responderam entrei.- Podias ter esperado antes de abrires a porta. – Maria tapava-se o melhor que conseguia - Consigo ver tantas parecenças com o Fionn que começa a tornar-se assustador. Aviso já, que não aguento dois loucos.Encostado à ombreira da porta, observava divertido enquanto o irmão se levantava da cama nu, pegando em Maria ao colo levando-a com ele.Maria ainda se tentou tapar com o lençol, mas não foi a tempo.Rhenan empurrou com o pé a porta da casa de banho, avisando o irmão.- Se vejo esta porta abrir-se, mesmo sem te conseguir tocar, acredita que não me esqueço e dou-te uma surra mais tarde.Lochan ria-se divertido com a caricata situação. Estava radiante por voltar a dormir no seu quarto e por Maria o conseguir ver. Tinham decidido manter o seu estranho aparecimento em segredo do resto da família até perceberem o que acontecera.
Freya e Deirdre tinham regressado a Praga, confiantes que as faculdades de Maria apareceriam com o tempo. Só teria de aprender a controlá-las.Conforme planeado Maeve e Maria retomaram as aulas com uma pequena alteração aos planos iniciais. Quando acabassem mais tarde, Sergiu ia com elas para Yggdrasil e dormia lá. Nos restantes dias, Maeve conduzia-as no carro de Rhenan. Enquanto estacionava, Maria entrou para se certificar que estava tudo em ordem, aproveitou para deixar a sua contribuição para as despesas. Apesar de Pedro lá viver, para todos os efeitos nada se alterara. Foi ao seu quarto, tinha de levar todos os livros, faziam-lhe falta. Só lá deixava o que praticamente não utilizava. Desde o aparecimento de Lochan, passavam a maior parte do tempo juntos na cave, o único local onde conseguiam conversar sem receio que a escutassem e pensassem que não aguentara a pressão e enlouquecera. Era excelente contar com a sua silenciosa companhia, enquanto ele lia aproveitava para estudar. Esperava-a todos os dias sentado no sofá com o seu caloroso sorriso. Não se cansava de o observar porque apesar de fisicamente idêntico a Rhenan, os temperamentos eram opostos. Pesquisavam juntos livros e manuscritos na esperança de que algo o lembrasse do local onde guardara as chaves. Infelizmente não tinham feito progressos, sentiam-se abatidos, como se tivessem esbarrado contra uma parede. Num dos livros, Maria encontrara a definição do submundo, também conhecido como o outro mundo, Terra das Almas, Annwan. A entrada era uma porta invisível, só podia ser encontrada por sidhs a quem por tempo limitado era permitida a entrada. Lochan dizia-lhe constantemente para seguir os seus instintos porque seriam eles a orientá-la. Quanto mais sabia maior era o seu receio de falhar. E se estivessem enganados e os colocasse em perigo? Até que ponto podiam confiar nela? - Como explicas que te consiga ver, falar e tocar? - Possivelmente por seres como eu.- Sidhe? - E guerreira.Maria sorriu-lhe divertida.- Eu! Guerreira? Espera até me veres cortar pão e falar ao mesmo tempo.Escutava-a divertido.- Quando os teus sentidos despertarem e começares a treinar vais perceber que és capaz de muito mais do que pensas.- Ver para crer. - Maria fez uma pausa inclinando-se para a frente – Quando desapareceste…- Quando morri! – interrompia-a com a voz praticamente inaudível.- Tu não morreste, senão como conseguíamos estar aqui a falar? Lochan sorriu-lhe agradecido.- Para onde foste levado?- O veneno que me fez morr…desaparecer, – ficou de semblante pesado – deixou-me preso numa espécie de limbo entre vidas. - Porque a tua alma é pura. - Não sou assim tão puro Maria, já tive a minha quota parte de mortes.- Mas essas não contam, lutavas pela tua família, os tempos eram outros. Fazias o que tinha de ser feito.- Onde andaste durante todos estes séculos? – beijou-lhe a mão agradecido.Maria sentia-se emocionada com o seu carinho.- Nunca saí daqui. Via a minha família sem conseguir comunicar com eles, esse foi o meu maior castigo. – suspirou audivelmente, recostando-se. - Mas algo mudou. – Maria levantou-se, sentando-se ao seu lado - Tenho a certeza de que encontraremos uma maneira de te trazer.Lochan mantinha a mão de Maria entre as suas, necessitava de sentir o seu calor. As suas palavras aqueciam-lhe o coração, dando-lhe esperança. Maria deitou-se no sofá observando o tecto.- Como descobrimos a porta do submundo? - Nunca a utilizei, não te sei dizer. A única coisa de que tenho a certeza é que devemos evitar Annwan. Ficou a pensar no que Lochan lhe dizia.- Como é que as portas de Tara e Annwan se abriram? - Ao retirar as chaves quebrei o equilíbrio. Algumas almas desterradas no submundo conseguiram escapar e é com essas que nos devemos preocupar. São as que uivam lá fora, desejosas de entrar.- E as Fadas?- Recomeçaram a fazer o que mais gostam, caçar humanos para utilizarem como escravos.- Isso é horrível! Lochan anuiu com a cabeça, cerrando os olhos.Maria apertou-lhe a mão, necessitava que continuasse.- Naquele dia… - fez uma pausa, custava-lhe relembrar o seu último dia - não me recordava se dissera a Hel onde as guardava, não quis correr o risco que as descobrisse e entregasse a quem não devia.- A porta de Annwan continua aberta?- Gosto de pensar que ao contrário de Tara, está encostada. - Então as Sombras continuam a sair?- Por esta altura Annwan está controlada. Acredito que saíram muitas e provavelmente aquelas com que não nos queremos cruzar. Não te esqueças que quem anda lá fora não vive e, no entanto, continua a poder fazer-nos muito mal.- Eu sei! Já o senti na carne.- Eu lembro-me desse dia. Tentei avisar-te para não saíres, mas não me conseguiste ouvir. Voltou-se de frente para Lochan passando-lhe a mão na face.- Não fiz nada e foste ferida.- Mas tentaste e estás aqui comigo. - Não podes ser real. – os olhos brilhavam emocionados.- Achas que devemos falar com Annwan?- Ainda não.- E com as Fadas?- Definitivamente não! Primeiro temos de perceber o que sabem, com elas os favores são sempre pagos.- E se as enganarmos? Prometemos e não damos?- Vinhas fazer-me companhia. Não te esqueças do que te digo, nunca confies nelas nem as tentes enganar.- Estamos novamente num impasse, vou enlouquecer.- Pois eu tenho a certeza de que estás louca. Agora falas sozinha? - Fionn observava-a com ar de gozo do cimo das escadas – Não foi por falta de avisos. Está cientificamente provado que muito sexo e livros fundem os miolos. Coitadinha!Lochan ria-se, o irmão mais novo continuava o mesmo. Em tempos tinham dito que eram parecidos, gostava de pensar que era um pouco menos louco do que ele. Maria olhou para Lochan com o mesmo ar ameaçador com que encarava Fionn. - Enquanto não enlouqueces de vez, talvez queiras subir e jantar com a parte normal da família. É capaz de te fazer bem.- Estás a dizer que temos convidados?Fionn sorriu-lhe trocista olhando em volta.- Então muito prazer em conhecê-lo, aconselho-o a ter cuidado que o marido dela é temperamental. – voltou a olhar para Maria divertido – Podes ficar descansada que comigo o teu segredo está seguro. - piscou-lhe o olho saindo da cave a rir-se. - Este meu irmão é um espectáculo. Não há como não gostar dele.- Nem te vou responder.- Vai, antes que regresse com uma camisa de forças. E Maria, obrigado por me fazeres companhia. Contigo sinto-me vivo.- Amanhã continuamos - beijou-o ao levantar-se.- Estarei à tua espera.- Promete-me que não voltas a entrar no quarto até seres convidado.Lochan ria divertido.- Não vos volto a interromper. - levantou-se, beijando-a. - Queres que deixe a luz acesa? Lochan sorria-lhe feliz.- Subo contigo. Vou para o meu quarto. - as refeições da família eram os seus momentos mais penosos.Ficou a vê-lo subir a escadaria, antes de entrar na sala onde a esperavam para jantar.- Sentes-te melhor? - Nunca estive mal, Fionn. - Devias beber mais água. Falar sozinha deve dar muita sede.- Não me aborreças. Ninguém falou sobre os disparates que Fionn contara, mas Maria não deixara de reparar que Eoghan parecia desconfiado. Teria de ser mais cuidadosa. Rhenan apertou-lhe a perna debaixo da mesa, só ele sabia o que se passava.
No quarto quando se preparava para se deitar o telemóvel tocou. Maria fez sinal a Rhenan para que não falasse.- Estou?- Querida, está tudo bem?- Mãe! Que bom ouvir-te aconteceu alguma coisa?- Estava com saudades. - A estas horas pensei o pior.- Tanto dramatismo. Era só para te informar que decidimos passar uns dias contigo. Não conseguiu responder de imediato.Rhenan observava-a, não entendia o que dizia, mas pela sua expressão percebeu que falava com a mãe. Deitou-se, adorava ouvi-la falar português.- Excelente ideia! Quando?- Ainda não sabemos, depende do horário do teu pai.- Pergunto porque estou em fase de exames e os trabalhos são mais que muitos. – uma pequena mentira não magoava.- Se o teu pai conseguir uns dias vamos aí dar-te um beijinho.- Avisem-me com alguma antecedência para que me consiga organizar.- Combinado. A voz animadíssima da mãe significava que acreditara em tudo que lhe dissera. - Agora vai descansar que já é tarde.- E amanhã tenho aulas bem cedo. Dá um beijinho a todos. - desligou deixando-se cair de costas na cama.- Está tudo bem Maria? Falavas com a tua mãe? - Quer visitar-me.- Ah! Percebi. Mais uma situação para contornarmos.- Isso significa que tenho de voltar para casa e não quero, tenho aqui tudo o que preciso. – abraçou-o.- Estão a pensar ficar muito tempo?- A minha mãe falou em dois dias, mas tem por hábito prolongar as estadias.- Se forem mais dias vou falar com eles e trago-te de volta. - Só se estiveres louco.- Estou! Por ti.- Não lhes posso dizer que vivo aqui. - Será difícil proteger-te longe de Yggdrasil. - Como lhes digo que estou praticamente casada aos dezassete anos?Rhenan apertou-a beijando-a na cabeça.- Quase dezoito e para mim já estamos casados.- Tu sabes o que quero dizer.- O que me preocupa é eles quererem sair à noite e tu os acompanhares.- Nem tinha pensado nisso! – sentou-se de frente para ele - Isso será um enorme problema.- Amanhã conversamos com os meus irmãos. Os nossos homens e mulheres em Dublin podem seguir-vos e se for caso disso defender-vos.- O que queres dizer com os vossos homens e mulheres?- Gentes do Clã. – sorriu-lhe – Temos muita ajuda.Maria suspirou, aquelas palavras traziam-lhe algum conforto.- A minha mãe ficou de confirmar. Rhenan, não os posso colocar em perigo nem contar-lhes as loucuras que nos rodeiam. - Vamos manter-nos calmos. Se confirmarem a viagem organizamo-nos.- Tenho de fazer mais uma chamada. – agarrou no telemóvel sem mudar de posição.- Para quem?- Tenho de avisar a Rita. Se os meus pais me querem visitar, o mais provável é que os dela estejam a pensar no mesmo. E não me apetece andar de um lado para o outro. Voltou a abraçá-lo enquanto esperava que a amiga atendesse.- Beija-me. - Os teus desejos são uma ordem. – Rhenan beijou-a provocando-a com a língua.Sentia-se atacada por todos os flancos e estar na segurança dos seus braços dava-lhe a confiança de que necessitava. - Maria! – Lochan falava através da porta- Diz Lochan. - Mesmo onde estás és um empata. Não voltas a entrar no meu quarto até seres convidado principalmente quando estiver com a minha mulher. - Ouvi a conversa e só quero dizer que sou capaz de ter uma solução. Por isso informa o ciumento do teu marido que te protejo.- Como? – levantou-se da cama abrindo a porta de separação mesmo antes de Rhenan a conseguir segurar.- O que te disse? – Rhenan sentara-se na cama olhando para o vazio onde devia estar Lochan.- Se tiveres de regressar temporariamente a casa eu vou contigo.- Nunca saíste de Yggdrasil com receio de desapareceres e agora queres arriscar tudo?- Por ti, faço o que for necessário.Maria abraçou-o.- Então! As mãozinhas bem afastadas. O que te disse o meu irmão?- Que se os meus pais me visitarem ele vai comigo para me defender, afinal ninguém o consegue ver.- Se chegarmos a isso não te esqueças que dormes na sala. - Tenta um irmão ajudar e é tratado com esta frieza. - Lochan olhava divertido para Rhenan.- Obrigada Lochan. – Maria voltou a fechar a porta.- Já foi?Confirmou com um menear de cabeça.- Então volta para aqui!- A Rita não atendeu, vou tentar uma última vez.- Aqueço-te o lugar. – despiu-se passeando-se nu à sua frente, deitando-se em cima da cama com as mãos atrás da cabeça observando-a. Maria evitava olhar na sua direcção, cada vez que o fazia não se lembrava do motivo pelo qual ainda segurava no telemóvel. Ao segundo toque Rita atendia. Como suspeitava os pais da amiga também a queriam visitar. Nenhuma delas estava na disposição de alterar as suas rotinas. Combinaram telefonar no dia seguinte aos respectivos pais com a sugestão de fazerem a viagem juntos. Despediu-se da amiga desligando. Rhenan fez-lhe sinal para se juntar a ele. Não se despiu gostava que fosse ele a fazê-lo, nos seus braços não pensava em nada, o tempo pertencia-lhes, sentia-se segura. Adormeceram embalados no calor do seu amor e como em tantas ocasiões os seus corpos procuraram-se durante a noite. Virou-se dando as costas a Rhenan que se encaixou beijando-lhe o lóbulo da orelha até a sentir adormecer, tê-la nos seus braços avivava-lhe os instintos de guerreiro. Acordou abraçada a Rhenan que a observava com os olhos semicerrados.- Bom dia! - beijou-lhe o pescoço, a barba picava - Que horas são?- Ainda é cedo. Só temos de sair daqui a mais ou menos duas horas. - És tu que nos levas? - Eu e o Eoghan.- Também vai?- Suspeito que precisa de falar comigo.- O que te faz pensar isso?- Conheço-o muito bem e ontem durante o jantar estava mais calado do que o habitual, algo o preocupa.- Tenham cuidado.- Preocupada comigo?- Com os dois. As coisas têm andado demasiado calmas, não te parece?- Eu e o Eoghan reparámos que durante a noite algo se movimenta no escuro, tentando aproximar-se. Só podem ser as Sombras, parecem mais activas, mas limitam-se a observar-nos.- Achas que vão tentar atacar-nos?- Não tenho dúvidas. - Então é melhor não facilitarmos. - Algo não está bem, parecem confusas. Também as tens ouvido?- Ouço-as lamuriarem-se durante a noite. Parecem esperar que as luzes se apaguem.- São criaturas do mal. O que ouves é ódio.- Tenho medo Rhenan.- Mo ghrá! Estamos juntos. - apertou-a mais - Não permitirei que nada te aconteça.- Tenho medo por ti, não te posso perder.- O que estamos é a perder tempo precioso. - puxou-a para cima de si. O tempo parava quando se amavam, todos os problemas desapareciam e era o poder desse amor que aumentava as barreiras que os protegiam.
Hel aproximava-se com os olhos fixos na casa. As memórias eram difusas, mas lembrava-se do dia em que fora assassinada pelo líder do Clã naquele mesmo local. Odiava-o, a sua hora para se vingar chegaria. Olhava atentamente para as janelas, existia algo dentro daquela casa observando-lhe os movimentos, assustava-a. A sensação que tinha é que fazia parte do seu passado e a poderia destruir. Uivou de raiva. Tivera a oportunidade de matar a fêmea do Clã, mas aparecera aquela mulherzinha intrometida que se colocara à sua frente protegendo-a com o seu corpo. Enlouquecida pelo ódio, o sentimento que lhe alimentava a sede de sangue e morte, sentia a sua força aumentar do rancor das Sombrasque a rodeavam.Sabia que Goll a julgava submissa e que a tentaria usar, porém ambos se limitavam a aguardar pela altura certa. Enquanto as chaves não fossem encontradas, as portas não seriam encerradas e Annwan não lhe reclamaria uma vez mais a sua alma. O sol despontava por detrás de uma nuvem queimando-a, refugiou-se para a protecção que a escuridão lhe dava, gritando de raiva e dor. Continuaria a rondar a casa, enquanto o portal se mantivesse aberto.
Published on March 31, 2020 02:00
March 30, 2020
in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 14
CATORZE
A noite ia adiantada quando recolheram aos quartos. Maria sentia-se amada. As suas inibições desapareciam quando estava nos braços de Rhenan. A almofada dele tinha o seu cheiro. Conseguia ouvir a água, a ideia dele nu aguçou-lhe o desejo, empurrou os lençóis para trás e de um salto saiu do conforto da cama entrando na casa de banho. Daquela vez seria ela a fazer amor com ele.
Eoghan bateu à porta. - Bom dia Maria. – piscou-lhe o olho - A mãe está à nossa espera.- Desço já. – Rhenan sentou-se na cama apertando os sapatos.- Vais a Dublin com a tua mãe?- Acho que quer passar um tempo a sós com os filhos. Vai fazer-nos bem a todos. – levantou-se puxando-a para os seus braços encostando a cara ao seu cabelo.- Almoçam lá?- Não te importas?- É uma excelente ideia. A Maeve e a Deirdre também têm planos. Vai ser bom ficar sozinha para ver se organizo as ideias. - Quando regressarmos temos de decidir a melhor forma de vocês as duas se deslocarem para as aulas. - Eu e a Maeve já tratámos de tudo.- Acredito! - Rhenan sorria divertido – Conta lá esse plano.- Tens tempo?- Para isto tenho.- Nos dias em que acabamos as aulas ainda com luz do dia, levamos o carro, estacionamos à porta da minha casa e vamos de autocarro. Nos outros precisamos que nos vão buscar. - Parece-me um excelente plano. - Rhenan estava realmente impressionado. Maria sorriu-lhe orgulhosa.- Sabes que cheiras muito bem? – abraçou-o. Rhenan beijou-a até a deixar sem fôlego. - Gostei muito da surpresa desta manhã go raibh maith agatFreya deixara-lhe comida. Estava mais magra e o motivo para a sua perda de peso devia-se unicamente às noites com Rhenan.Tomou o pequeno-almoço, colocando a loiça dentro da máquina. Pegou no tupperware, em talheres, guardanapos, numa garrafa de água e no telemóvel. Tinha tudo o que necessitava.A porta da cave não tinha trinco e o cheiro era inconfundível, já o sentira no dia anterior, sabia que era incenso de arruda, a sua avó também o costumava queimar, servia como protecção. Nos últimos anos começara a interessar-se pela crença Wiccan, considerada por muitos como bruxaria quando na realidade era um sinal de apreço pela Deusa. Sem o saber, iniciara a sua aprendizagem e as tatuagens eram a confirmação da sua ligação ao Clã. Estava feliz por saber que fazia parte de um superior desígnio, só esperava estar à altura do que acreditavam ser capaz.Pousou o que trouxera em cima da mesa. Na lareira ardia um acolhedor fogo e estava uma manta dobrada no sofá. Eram fantásticos, parecia terem-lhe lido o pensamento. Ainda lhe custava acreditar que aquela era a sua vida e era real.Começou a descoberta da cave. Iniciando a aventura pela parede da direita, demorando o tempo necessário para ler as lombadas. Eram livros antigos, tinha receio de lhes tocar e danificá-los. Mas queria descobrir o que conseguisse sobre os Tuatha Dé Danann, a sua Rainha Danu, as Sombras e com sorte descobriria um modo de resolver toda aquela confusão. Sobre os Tuatha muito tinha sido escrito. Eram a Tribo das Fadas, Danu a sua rainha, que já tivera a infelicidade de conhecer. Tinha três maridos, mas quem escrevera aquele texto afirmava que no seu reino Lug era o seu preferido. Para ela não passava de um perseguidor, a Fada podia ser realmente linda de morrer, mas não passava disso. A beleza podia ser enganadora, mas as palavras de Danu ecoavam-lhe na cabeça, Lug protegera-a durante o tempo que estivera em Lisboa. Possivelmente ainda teria de lhe agradecer. – suspirou desanimada, apesar de saber que era o mais correcto, a ideia não lhe agradava. Teve o cuidado de se manter afastada da parede onde estava a árvore. Quando lá voltasse a colocar as mãos seria para devolver as chaves.Estava um diário pousado em cima da mesa, não percebia como ainda não reparara nele. Abriu-o, a letra era parecida com a de Rhenan, ao lê-lo percebeu que pertencia a Lochan. Mentalmente pedia-lhe desculpas por estar a invadir a sua privacidade, mas toda a ajuda que lhe pudesse dar era bem-vinda.Não se sentia bem por estar a ler algo tão pessoal, mas não conseguia parar, algo lhe dizia que ali encontraria respostas. Tinha desenhos de locais e seres que reconhecia, Yggdrasil, as Fadas, esboços dos irmãos, da prima, da mãe, da tia e de duas desconhecidas, uma devia ser Hel, o mais estranho é que a outra lhe era estranhamente familiar.Olhava para o que só poderiam ser a Fivela de Aker e o Colar de Brisingamen. Porém nenhuma pista quanto ao local onde as colocara? Ficou a saber que para entrar em Tara teria de ser sempre transportada por uma das Fadas e que naquele local o tempo passava lentamente. Dez minutos na Terra podiam corresponder a trinta anos ou até séculos. Com diversos avisos quanto às suas manhas, as Fadas eram traiçoeiras.Se decidisse falar com Danu teria de o fazer em território neutro e com Lug sempre no campus. Sobre as Sombras, ficou a saber que eram seres aprisionados em Annwan.Em vida tinham sido pessoas más e vingativas que por sua vontade entregaram as almas em troca de poder, beleza, riqueza, todos os vícios inerentes à natureza humana. Desconfiava que o último desejo de Goll MacMorna, teria sido acabar com o único Clã que sempre lhe fizera frente, os MacCumhaill. E a maldita, Hel, devia ser uma das muitas que circundavam a casa. Podia ter sido ela a atacá-la. Com essa ainda teria contas a ajustar. Tocou no braço onde sentia a cicatriz, mas que Freya tratara tão bem que mal se notava. Aquela cabra seria sua e que nem se tentasse aproximar de Rhenan ou de algum deles.No diário existiam ainda passagens demasiado descritivas do que ele e Hel faziam durante o tempo que passavam juntos, começava a suar com algumas das descrições. Concluiu que aquele capítulo era demasiado pessoal e não a esclareceria sobre os assuntos realmente importantes. Colocou um marcador com a indicação de não ler.Fazia inúmeras referências a assuntos que o atormentavam. Chegara novamente a um beco sem saída o pior é que nem sabia por onde começar a procurar.Colocou o diário junto dos seus apontamentos na mesa de apoio, marcando a página onde ficara, voltou a guardar os pesados volumes de onde os retirara. Estava espantada por não ter encontrado pó. Quem limparia a casa? Estava sempre imaculada mesmo na cave. Sentou-se no cadeirão tapando-se com a manta. Bebeu um pouco de água deixando a garrafa fechada no chão ao seu lado. Lochan nunca mais a procurara em sonhos ou visões o que lhe quisessem chamar. Esperava que estivesse bem, dentro dos possíveis, no local onde se encontrava.Descalçou-se, colocando os pés para cima, fechou os olhos lembrando-se da conversa que tivera com Freya no dia anterior. Confessara-lhe que o corpo do filho estava numa cripta na casa onde viviam, protegido por feitiços e gentes do Clã. E era para estar perto dele que queria regressar. Maria sabia a falta que Lochan fazia a Rhenan e que o sentimento não fora atenuado com o passar dos séculos. Embalada pelo cansaço e tranquilidade que ali se respirava adormeceu… uma vez mais, não sonhou. Acordou completamente relaxada, não sabia quanto tempo passara, mas estava deitada na sua cama. Na mesa de cabeceira estava o seu bloco de apontamentos e o diário de Lochan. Rhenan levara-a para o quarto. Nem se apercebera do seu regresso, ou de ter sido transportada. andava tão estafada que apagara. Devia ter visto o diário do irmão, devia-lhe uma explicação por o ter lido.Levantou-se, afastando a manta para o lado, continuava vestida, calçou-se, ia à sua procura. O seu estômago reclamava, esquecera-se uma vez mais de comer. Ainda ficava tuberculosa.A família estava na sala, a mesa preparada para o jantar. Os homens falavam descontraídos perto da janela cada um com o seu copo de Jameson. Rhenan de costas para a porta conversava animadamente com os irmãos. Maeve falava ao telemóvel, fez-lhe sinal com a mão quando a viu descer, pelo seu rubor percebeu que falava com Sergiu. Espreitou para a cozinha, viu Freya a cobrir um bolo com um aspecto delicioso. Deirdre saía transportando um tabuleiro de carne, fez-lhe sinal para que a ajudasse a levar o que faltava.Maria pegou nas batatas e salada, Freya sorriu-lhe agradecida.- Já cheira! Estou esfomeado. - Fionn foi o primeiro a sentar-se à mesa.- Menino, então essas maneiras? - Eoghan deu-lhe um pontapé na perna para que se voltasse a levantar.- Isso pergunto eu, mas sou algum animal a quem se dê um pontapé?- Nem te vou responder como mereces. Para tua informação nunca daria um pontapé num animal já a ti minha besta, se não te levantas vais ao chão. Rhenan passou pelos irmãos quando viu Maria aparecer.- Dormiste bem?- Pelos vistos, profundamente. Nem me apercebi que já não estava na cave. Não te ouvi chegar, desculpa.- Se descansaste, as hipóteses de ficarmos acordados durante a noite são promissoras. – os olhos brilhavam na expectativa enquanto lhe tirava os tabuleiros das mãos.- Comecei a ler o diário do teu irmão, sei que não o devia ter feito, mas pensei que talvez me pudesse ajudar. Desculpa. - segurava-lhe no braço, sussurrando.- Se alguém o deve ler, és tu.- Não tens curiosidade?- Já sinto demasiadas saudades dele.- O teu irmão é um nostálgico, um sonhador e ama-vos. - Falaste dele como se estivesse vivo.- Sei que está! Só temos de nos abstrair de um capítulo que marquei e que não devia ter lido.- É assim tão mau? - perguntava curioso.- Demasiado descritivo. - Não percebo!- Digamos que o homem devia escrever um novo Kamasutra.Rhenan deu uma gargalhada com gosto apertando-a de encontro a si.Freya entrava na sala observando-os emocionada. Os irmãos e a tia sorriam. Ninguém se lembrava do som de felicidade na voz de Rhenan até Maria aparecer.Rhenan afastou-lhe a cadeira para que se sentasse.- É típico dele.- Tens a certeza que o Fionn nunca o leu?- Tenho! Todos sabíamos que o tinha, mas mantinha-o escondido. Nunca ninguém o encontrou, aparentemente até hoje.- A sério? Eu não o procurei, estava pousado em cima da mesa. - Gosto de pensar que foi o espírito dele a deixá-lo ali, para que o encontrasses. Não consigo explicar, mas sinto-o connosco e se existir uma hipótese de o trazer de volta serás tu a fazê-lo mo ghrá!Contaram-lhe o seu dia em Dublin. Freya e os filhos tinham ido ao banco, almoçado com velhos amigos com quem tinham passado o resto da tarde, também eles do Clã. Maria ficou surpresa ao saber que eram os donos do Temple Bar. Maeve largou a bomba comunicando que namorava Sergiu, que tinham almoçado os três juntos e Deirdre aprovara a relação. Os primos não conseguiam evitar o espanto. Sentada à sua frente Maria piscou-lhe o olho em sinal de aprovação. Gostava de Sergiu e de os ver juntos. Inspirava-lhe segurança, sentia que se necessitassem dele, as protegeria. Era esquisito pensar aquilo, mas seria fantástico se fosse ele o guerreiro da antiga Ordem do sangue.
Quando entraram no quarto Rhenan puxou-a para si, beijando-a apaixonadamente, enterrando a cara no seu pescoço. - Mo ghrá! Tive saudades tuas, passei o dia todo a pensar em ti. Sem ti a meu lado enlouqueço. Rhenan sentou-a na cama prostrando-se à sua frente com um joelho no chão. - Sabes o quanto te amo? - falava com a voz mais grave do que o habitual – Desejo-te para a eternidade e peço-te que tenhas paciência comigo se alguma vez não corresponder às tuas expectativas. Não sabia o que Rhenan lhe tentava dizer? Sentia as mãos geladas.- Desejo que me aceites como teu marido e que esse momento seja testemunhado por todos. Desejo que ouçam a minha promessa, que saibam que és minha, que te pertenço. - abriu uma pequena caixa retirando um anel, com uma mão segurou-lhe na cara olhando-a no fundo da alma – Aceitas-me? Olhava para ele e para o anel que segurava.- Aceito! - não precisava de pensar, o seu coração dizia-lhe que sim. Os olhos de Rhenan brilhavam de felicidade. Colocou-lhe o anel no dedo anelar da mão esquerda, beijando-a nos dedos e nos lábios.- Tá grá agam ort! Póg mé, mo ghrá.Lochan movia-se pela casa, via-os sem ser visto. Sentira a felicidade do irmão, queria poder abraçá-lo e dizer-lhe que aprovava a sua escolha. Se algum dia regressasse, desejava encontrar alguém para amar e ser amado com a mesma intensidade.Fora traído pela vida, amara e morrera por esse falso amor. Quando sentira a vida abandoná-lo e por não se lembrar se nas noites de loucura nos braços de Hel lhe dissera quem era ou onde guardava as chaves, tivera forças e o discernimento necessários para fazer o que devia ser feito, escondê-las. A derradeira lembrança dela era o ar de ódio com que o encarara rindo-se quando o veneno começara a fazer efeito. Queria poder ajudar a família, mas com o tempo passado naquele purgatório em que se encontrava, os lapsos de memória começavam a ser parte integrante da sua não existência. Sabia que as chaves estavam protegidas, mas não se lembrava onde as colocara. Protegeria Maria contra o mal que se multiplicava à volta deles. As almas que tinham conseguido escapar de Annwanobtinham a sua força da infelicidade de quem os rodeava e Maria acabara de alargar o círculo de protecção da família, com a sua vida, alegria e amor. Por esse motivo passara a ser o alvo principal das Sombras, tinha de arranjar um meio de os avisar que ela estava em perigo.Da janela da sala observava as movimentações dos vultos negros tentando aproximar-se.Maria era curiosa o que era uma característica admirável. Por esse motivo lhe deixara o diário na cave, talvez descobrisse algo que lhe escapara. Ainda que invisível aos olhos de todos, faria o que fosse possível para a manter protegida até que as portas de Annwan se voltassem a fechar e as Sombrasdesaparecessem. Antes de ser projectado para aquele limbo onde se encontrava, a Deusa dera-lhe a possibilidade de ver as pessoas de quem a Profecia falava. Porém o tempo fizera com que as suas lembranças se desvanecessem. Uma vez mais teria de ser a pequena e corajosa sidhe a desvendar esse mistério. Tinha de encontrar uma maneira de a informar que devia confiar nos seus instintos, seriam eles que a ajudariam.Encostou a testa ao vidro da janela da sala, seria tão bom poder estar ali fisicamente. Sentia falta de lhes tocar, beijar, abraçar. Sentia falta da sua família. Mantinha-se estático com o olhar fixo na escuridão.Maria vagueava imersa nos seus pensamentos através dos silenciosos corredores. Adorava aquela casa. Sorria ao lembrar-se como entrara no quarto de todos para comunicar a sua decisão e mostrar o anel. Tinha sido abraçada e beijada, conseguira sentir o amor nas suas mais diversas formas, até mesmo de Fionn. A casa mantinha-se na penumbra. Reparou na parca luz que vinha da sala, onde ainda ardia turfa na lareira conferindo-lhe um ambiente reconfortante e acolhedor. Estava demasiado excitada para conseguir dormir, ia à cozinha beber um copo de água. Desceu a escadaria e quando se voltou, parou especada, estava um vulto parado perto da janela da sala e havia algo nele que lhe era demasiado familiar.- Lochan? A voz de Maria retirou-o do seu torpor de autocomiseração, voltando-se surpreso.- Consegues ver-me?- Estou a dormir?- Maria, sou eu! - avançou a passos largos na sua direcção. Maria recuou assustada se não era uma visão, nem um sonho, como podia estar ali?- Não tenhas medo, cunhada. - Lochan estendeu a mão voltando a recolhê-la, sabia que não lhe conseguiria tocar, mas por alguma estranha forma de magia conseguia vê-lo.Maria avançou sem medo, era como se estivesse a olhar para Rhenan. - Como é possível?- Não sei! - Lochan abanava a cabeça incrédulo.- Era suposto não te ver. Será que os outros também conseguem ver-te?- Estou tão confuso como tu. Mas até sabermos o que nos está a acontecer não lhes podes contar. Não quero que a minha mãe e os meus irmãos voltem a sofrer.- Fica descansado. Não lhes vou dar falsas esperanças até termos certezas. Tens estado sempre aqui?- Sim!A tristeza na voz dele partiu-lhe o coração. Maria estendeu a mão para que visse o anel.Lochan aproximou-se para o apreciar.- Fico muito feliz pelos dois. – os olhos de Lochan voltavam a brilhar de felicidade pelo seu gémeo. Queria beijar-lhe a mão, mas lembrando-se de que não o sentiria voltou a retirá-la, mais depressa do que pretendia batendo-lhe com os dedos no braço.- Lochan, consigo sentir-te!Parecia mais surpreso do que ela.- Lochan?- Posso segurar-te na mão?Maria estendeu-lhe os braços que agarrou com satisfação.- Como é possível? Consigo sentir-te!- E eu a ti. Lochan pegou nela rodando pela sala rindo-se de prazer. - É maravilhoso voltar a sentir. Maria estava emocionada. - Estas coisas não acontecem Lochan. Os hospitais psiquiátricos têm lá pessoas internadas por muito menos. Isto é tudo uma loucura. Lochan não a queria largar e Maria ria-se divertida. Os seus pés não tocavam no chão, continuava a rodopiar através da sala até a voz de Rhenan se ouvir, parado à porta da sala.- Mas que raio! - olhava incrédulo - Maria podes explicar? - Lochan, coloca-me no chão.- Lochan? – a voz de Rhenan tremeu. - O teu irmão está aqui.Rhenan olhava à volta sem ver nada. Acreditava no que Maria lhe dizia, apesar de não compreender o que significava.- O que dizes?- Que nunca vos abandonou.Lochan colocara-se ao lado do irmão tentando tocar-lhe sem sucesso. Voltava a sentir-se frustrado. - Queres sentar-te para que te explique?- Sentar-me? Achas que consigo? Entro aqui e tu estás a voar pela sala!Maria ria-se divertida.- Acredita que não enlouqueceste, nem eu ganhei poderes, é mesmo o teu irmão que aqui está.- Está com ciúmes! – Lochan voltava para o lado dela - Já devia saber que não toco em nenhuma mulher de um irmão meu. Maria limitou-se a sorrir-lhe, mas não repetiu o que dissera. - Então fica onde estás e escuta-me.De olhos semicerrados, Rhenan olhava à volta desconfiado.- Desci para beber água, quando o vi parado na sala. Ainda pensei que estava a sonhar ou a ter uma visão, mas ele confirmou-me que estava realmente aqui. – Maria continuava parada, Lochan aproximara-se do irmão.- Estavas ao colo dele?- Lá está o ciúme. Explica-lhe que estava contente com a notícia do vosso noivado que o homem acalma logo.Maria voltou a ignorá-lo. Ia esclarecer toda aquela surreal situação à sua maneira.- Quando lhe mostrei o anel, por acidente tocou-me no braço, foi quando percebemos que conseguíamos sentir-nos. Ficámos tão entusiasmados que andámos a rodopiar pela sala. – ria-se divertida.Rhenan olhava para ela e para o vazio.- Onde está?- Ao teu lado. Já te tentou tocar e não conseguiu.- Acredito no que me acabaste de contar.Maria e Lochan sorriram.- Mano, nada de andares com as mãos em cima da minha mulher. - apesar de não conseguir ver Lochan sabia que Maria não lhe mentia.Lochan e Maria riram-se ao mesmo tempo.- O teu irmão disse que podes ficar descansado, pois não tem por hábito tocar nas mulheres dos irmãos e que está muito feliz por nós. – Maria avançou para Rhenan abraçando-o - Tem imensas saudades das vossas conversas. - Eu também mano. – Rhenan apertou Maria de encontro ao peito.- O teu irmão pede que o perdoes. – Que o perdoe?- Por vos ter traído.- Não nos traíste mano, pensaste com a cabeça errada, só isso.Maria deu-lhe uma cotovelada.- O teu irmão está a pedir que o voltes a perdoar. – Maria sorria divertida.- Porquê? - Está a dizer que me vai arrancar dos teus braços e dançar comigo, pelo menos enquanto se conseguir livrar dos teus murros.Rhenan ria divertido, ainda Maria não terminara a frase e já voava novamente pela sala. Era bom saber que não estava morto e que podiam conversar, ainda que fosse através dela. Conversaram sentados no conforto da sala. Rhenan não se queria afastar do irmão, mas Maria tinha de descansar, o dia já estava a nascer e percebia como estava estafada.- Rhenan, o teu irmão quer pedir-te um último favor.- Qual?- Quer levar-me para a cama.- Meu, isso não tem graça. Olha que quando te vir parto-te a cara.- Quer levar-me para a nossa cama. Tem medo que tudo isto desapareça e quer aproveitar enquanto pode.- Ok. Mas é bom que não se habitue. Lochan pegou em Maria que o abraçou encostando a cabeça ao seu ombro, enquanto subiam a escadaria. - Obrigado por tudo Maria.- Ainda teremos muitas oportunidades para conversar. – beijou-o. Rhenan abriu a porta para que passassem, Lochan colocou Maria delicadamente em cima da cama. Sorria-lhe agradecida deixando-se cair para trás, fechando os olhos adormeceu.Lochan decidiu que a partir daquela noite ocuparia o seu quarto. Rhenan viu a porta abrir-se aproveitando para se despedir.- Fico feliz que estejas aqui. – não eram necessárias mais palavras entre eles.Lochan fechou a porta de separação deitando-se em cima da sua cama vendo o dia nascer. Sentia que com Maria tinham o poder necessário para lutarem contra tudo.- Boa escolha mano, boa escolha.
Published on March 30, 2020 02:00
March 29, 2020
in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 13
TREZESentados na sala com a lareira acesa. Rhenan servia Jamesonaos irmãos enquanto a mãe entregava canecas de chá às mulheres.Deirdre certificou-se que estavam todos acomodados antes de começar, o que seria a última reunião familiar nos tempos mais próximos.- Meus queridos – Deirdre voltou-se para Maria - como a Maria ainda não está a par de alguns dos nossos assuntos vou explicar-lhe. Se tiveres alguma dúvida deves interromper-me. Maria anuiu com a cabeça levando o chá aos lábios. - O meu sobrinho disse-me que já conheces parte da nossa história, – Deirdre apertou a mão da irmã - por nos ser muito doloroso relembrar passarei à frente.- O que aconteceu a Morgaine?Deirdre falava directamente para Maria. - Quando chegou a sua hora partiu para Avalon na companhia da Deusa.- Não podia ter bebido o sangue?- Morgaine era uma Deusa de Avalon. Só nós e quem estivesse na disposição de nos servir o podia fazer. Por isso a sua companhia, sabedoria e ensinamentos teria o seu tempo.Deirdre bebeu um pouco do aromático chá que a irmã fizera. - Com a dádiva que nos foi oferecida só tínhamos uma responsabilidade, sermos os protectores das chaves que nos ajudam a manter o equilíbrio entre o nosso mundo, o mundo das Fadas e Annwan. Fechou os olhos ganhando coragem para falar no sobrinho.- Quando Lochan se apaixonou por uma traellnão se apercebeu que estava a ser enganado. Aquela mulher só queria o estatuto e dinheiro que lhe podia dar, mas o seu coração era negro como a noite. Quando nos apercebemos do perigo ainda o tentámos avisar, mas não nos ouviu. Num dia amaldiçoado, essa criatura envenenou-o. O silêncio reinava na sala.Rhenan escutava com o olhar vazio.Deirdre voltou-se para a irmã, apertando-lhe a mão, tentando transmitir-lhe a força que não sentia, mas ambas necessitavam.- O meu sobrinho deve-se ter apercebido do que lhe ia acontecer e nos seus últimos momentos decidiu esconder as chaves possivelmente pensando que nos protegeria. Ainda tentou avisar Rhenan mas não foi a tempo, o veneno actuou rapidamente e Lochan caiu morto nos braços do irmão pouco tempo depois de o ter ingerido.Maria conseguia sentir o desespero de Rhenan, de todos.- Rhenan matou-a aqui à nossa porta. - Deirdre olhava para o sobrinho com orgulho e angústia – Porém, antes de morrer as trevas reclamaram a sua alma. E é onde aguarda para regressar e acabar o que começou.- Como se chamava? – Maria tinha de saber o nome da maldita que matara o gémeo de Rhenan.- Hel! – Rhenan respondeu-lhe com a voz sussurrada.- Foi ela que me feriu naquele dia? – levantou-se aproximando-se dele necessitava de sentir o seu calor, Rhenan passou-lhe o braço pelos ombros.- Julgamos que sim! A finalidade desse ataque era atingir um de nós, neste caso a minha filha. – Deirdre tomava uma vez mais a palavra, Freya mantinha-se inerte a seu lado com o olhar perdido - Deve ter-vos confundido, sei que tinhas vestida uma camisola da Maeve.Maria assentiu com a cabeça. - Não quero com isto dizer que não te fará mal, se te apanhar tenho a certeza de que voltará a tentar. E quando se aperceber que estás unida ao meu sobrinho passarás a ser certamente o seu principal alvo. É a Rhenan que guarda maior aversão.Deirdre levantou-se para se servir de mais chá, relembrar aquele dia deixava-a extremamente nervosa.- A verdade é que procurámos as chaves durante todos estes séculos, quanto mais tempo demorarmos mais difícil será encerrar as portas de Tara e de Annwan. - regressava para perto da irmã que ainda não se mexera.Fez uma pausa bebericando o calmante chá que a irmã preparara, continuavam todos absortos nos seus próprios pensamentos e memórias desse dia.- Quando o meu sobrinho morreu ficámos sem um dos nossos guerreiros, o nosso sidh, mas mais importante, um dos nossos filhos. Passámos a contar somente com três guerreiros da nossa linhagem para nos defenderem independentemente dos muitos homens e mulheres ao nosso serviço.O que quereria Deirdre dizer com muitos homens e mulheres às suas ordens, se nunca via ninguém? Maria resolveu não interromper, precisava de escutar tudo o que lhe queria contar.- Para evitar sermos um alvo fácil decidimos separar-nos. Deixando para os nossos filhos a responsabilidade de procurarem as chaves.Freya mantinha o olhar fixo em Maria, registando todas as suas reacções ao que a irmã ia dizendo.- Sabíamos da existência da Profecia, mas somente quando o meu sobrinho morreu é que soubemos que era assim que começava. - Então Lochan estava predestinado a morrer para que a Profecia começasse? Não estou a perceber.- Teve o seu início quando as retirou da sua protecção sagrada. - Então a Profecia podia nunca vir a desencadear esta estranha sequência de eventos de Lochan não o tivesse feito?- Possivelmente! Mas essa será sempre uma dúvida que nos perseguirá. - Afinal, no que consiste a Profecia? Que chaves são essas?O silêncio na sala continuava. Maria sentia que estava sozinha com Deirdre.- A Profecia diz que: “Chegará uma guerreira sidhe vinda de um país de gentes do mar, a ela se juntará um guerreiro da antiga Ordem do sangue que pelo seu sangue vive, uma feiticeira para os proteger e uma sacerdotisa para os unir. Só assim será possível trazer o esquecido e encerrar o portal. Que assim seja.”- Portugal é um país de gentes do mar, isso significa que eu sou a guerreira sidhe?- És!- Como podem ter a certeza?- No dia da tua chegada a Dublin, Rhenan passou toda a manhã inquieto com a sensação de que algo estava para mudar e tinha razão.Rhenan beijou-a no ombro.- Quanto te viram, todos sem excepção, sentiram algo em ti.- Todos não. Não me lembro do Eoghan ter sentido isso e viajou sentado ao meu lado.- Porque estava a pensar noutra coisa. – Fionn piscou discretamente o olho a Maria enquanto Eoghan o fulminava com o olhar.- Tivemos a confirmação quando tu e o Rhenan se tocaram nesta sala. - Mas quando nos cumprimentámos no aeroporto também sentimos algo, uma espécie de descarga eléctrica. – Maria voltou-se para Rhenan.Rhenan anuiu com a cabeça olhando na direcção da tia.- Mas o selo invisível que de alguma forma ainda nos mantinha protegidos após a morte de Lochan, quebrou-se quando viste o fogo aparecer por detrás de Rhenan. Quando desmaiaste deste início à Era da Profecia. - Como sabe que vi fogo?- Mo ghrá eu e a minha mãe vimos o mesmo que tu. – Rhenan apertou-a mais nos seus braços.Maria observava-o, incrédula.- Também sentiste que já nos conhecíamos?- Sim! E aquele fogo era aqui, em Yggdrasil.- Tens a certeza?- Estávamos num Coven.- Nem vou perguntar o que isso significa.- Uma reunião de Bruxas. - Rhenan sorriu-lhe - Além disso, tens as marcas da Deusa.- Tenho?- As tuas tatuagens, - Maeve falava pela primeira vez - naquele dia quando te deitámos vimo-las.- Eu também já as tinha visto. - Fionn olhava para Maria com o olhar pesaroso - Esperávamos há demasiado tempo que tive medo de acreditar.Sentiam todos o mesmo que Fionn. - Contigo inicia-se uma nova fase das nossas vidas e no pouco tempo que te conhecemos aprendemos a amar-te. És uma de nós. – Fionn continuava a olhar-lhe directamente nos olhos enquanto falava.Maria nunca pensou ficar tão sensibilizada, mas também não esperava aquelas palavras vindas dele, sorriu-lhe em agradecimento.- Afinal não és uma besta tão grande como pensava. - Maeve sorria-lhe.Ficara, no entanto, curiosa com algo que Fionn acabara de dizer. - Como sabias que tinha tatuagens? Fionn pigarreou. - No dia em que a Fada amaricada te emboscou, eu e o Rhenan levámos-te a casa e fui eu que te despi e deitei.- Fizeste o quê?- Juro que não vi nada. – sorria provocador - Quer dizer vi o suficiente. - E a besta voltou! - Maeve revolvia os olhos.- Mo ghrá! Se sonhasse que ele olhava mais do que devia quem o matava era eu. – Rhenan apertava-a, beijando-lhe o pescoço.- Mas as tatuagens fui eu que as fiz às escondidas dos meus pais. Não me apareceram por artes mágicas.- Nós sabemos, - Deirdre sorria-lhe, gostava da sua perspicácia - mas confirma-me. Fizeste uma por ano desde os teus quinze anos?- Sim. Foram uma prenda de aniversário que ofereci a mim mesma. - Explica-nos como sabias o que querias tatuar? - Sonhava com os símbolos. Fiz o pentagrama das costas no dia do meu aniversário, quando fiz quinze anos. O triskle no interior do meu pulso esquerdo no dia do meu décimo sexto aniversário e o último no meu aniversário do ano passado.- E esse último símbolo que tatuaste sabes qual é o seu significado? Maria ficou com a voz sumida quando voltou a falar. - A árvore do Mundo. - Filha! Tudo tem um significado. A árvore do Mundo é um Freixo, também conhecida por Yggdrasil. Foi a Deusa que te guiou marcando-te como a escolhida, para que te reconhecêssemos. - Mas a Profecia fala em mais três pessoas além de mim. - Não sabemos quem são, mas estamos confiantes que irão aparecendo conforme formos necessitando delas e que serás tu a encontrá-las ou elas a ti. - Afinal o que são as chaves?- A Fivela de Aker e o Colar de Brisingamen. Mas a mais importante e a que as une a todas, tu! - Estou a lembrar-me de Lochan ter falado de Yggdrasil. – Maria falou sem saber porque o fizera.- Lochan? - Freya falava pela primeira vez, prestando atenção ao que Maria acabara de dizer, sentindo-se confusa.- Yggdrasil é a nossa casa. - Rhenan virou-a para que o encarasse, tentando desviar a atenção da mãe para a referência que fizera ao irmão.- Lochan falou contigo? – Freya insistia.- Em sonhos. – Maria sentiu que falara demais.- O que te disse? - Deirdre estava confusa.- Que Yggdrasil é uma árvore.- Ela tem razão mana - Freya levantou-se caminhando pela casa. - Yggdrasil é um Freixo.- Sim mãe, - Eoghan também se levantara - mas o que mais temos dentro e fora da propriedade são freixos.- Filha, Eoghan tem razão. Temos inúmeros freixos plantados em Yggdrasil. A qual te referes?- A nenhum em particular, só sei que o nome significa árvore da vida. Qual é o centro do vosso mundo como guardiões das chaves? – Maria começava a entender o que Lochan lhe quisera dizer.- A nossa família! – Maeve aproximara-se.- A casa e a família! - Rhenan levantou-se de um salto - Vivemos aqui desde sempre e na cave temos uma representação de Yggdrasil. Todos, menos Maria, seguiam o raciocínio de Rhenan.- E essa árvore só pode ser tocada por um guerreiro sidh. - Freya parecia ter-se esquecido da referência de Maria a Lochan - Eu não lhe posso tocar porque sou sidhe,mas não sou guerreira e os meus filhos são só guerreiros. - Mas o Lochan tal como a Maria, era sidh e guerreiro. - Fionn levantava-se, sentia que finalmente começavam a ter pistas para seguir. - Maria vem comigo! – Rhenan segurou-a pela mão encaminhando-se para as escadas da cave. A família seguia-os. Rhenan abriu uma porta na qual Maria ainda não reparara, situada atrás da escadaria. Acendeu a luz. Desceram as escadas de pedra. A cave era toda uma única sala da dimensão do andar superior, perfeitamente cuidada, com tapetes de pêlo que cobriam o chão de tijoleira, não tinha janelas e cheirava a incenso. As paredes estavam forradas de armários com livros. Menos a da esquerda onde estava embutida uma árvore branca. Maria largou a mão de Rhenan aproximando-se.Primorosamente trabalhada e escrita em Futhark, o alfabeto rúnico. Aproximou-se o suficiente para lhe tocar. - É maravilhosa! A árvore começara a brilhar e Maria viu o que nenhum conseguia ver, o local exacto onde guardar as chaves. Virou-se para lhes dizer e deu por si num verde prado rodeada de rios de prata, onde os animais passeavam calmamente. Parecia o paraíso.- Estás em Tara. – ouviu uma voz melódica, voltou a cabeça e viu uma belíssima mulher. O longo cabelo dourado caía-lhe ao longo das costas, olhos violeta, vestida com uma túnica cinza. Apesar de parecer inofensiva, sentia que tinha de estar alerta.- Tocaste na árvore sagrada. Ninguém tocava nela desde o último MacCumhaill. Só um sidh o pode fazer, isso significa que és aquela pela qual esperávamos. – Danu caminhava lentamente à sua volta.- Onde estou?- Nos meus domínios.- A Rainha dos Tuatha! Foste tu que mandaste aquele empecilho chatear-me.– Maria não se conteve apesar de algo dentro dela a avisar de que devia ter tento nas palavras.- Vê como falas de Lug. - a voz continuava amigável, porém os olhos tinham mudado - Fica sabendo que te protegeu durante a tua viagem.- Aceite as minhas desculpas. Mas porque me seguem?Danu parecia divertida.- Vou precisar de algo teu. – odiava ter de pedir, muito menos a uma humana.- O que posso ter que lhe interesse?- As chaves.- Chaves? – Maria tentava parecer surpresa, fingindo desconhecer o que dizia.- Sabes bem do que falo! – o tom suave mudara.- Para que as quer?- Vejamos. – recomeçou a andar à sua volta - Quero-as! É tudo o que precisas de saber.- Não me parece que raptar-me seja um bom começo de conversações. - gostava pouco que lhe dessem ordens.Danu ria-se, soando amigavelmente perigosa. - Gosto de ti humana, tens coragem.Maria respondeu-lhe com um esgar.- Vou deixar-te partir, mas pensa na nossa conversa. – Danu desaparecia. Regressava à cave ainda com a mão pousada na árvore, retirou-a, não fosse a Fada puxá-la uma vez mais para os seus domínios.- Maria! - Rhenan aproximara-se - O que aconteceu? - Não sei. – tremia.- Desapareceste! – Maeve observava-a incrédula.- Evaporaste-te e por magia voltaste a aparecer. - até Fionn a fitava de olhos esgazeados.- Foi a Fada rainha, desta vez não enviou o escravo veio pessoalmente.- Vamos para a sala. - Freya tirou-a dos braços do filho subindo as escadas, sem a largar. Tinham decidido que naquele dia nada ficaria por dizer, Maria devia saber com o que tinha de lidar e o que seria esperado dela. - Gostava de ter uns minutinhos com a cabra. – Fionn não queria que a mãe o ouvisse - Não pode entrar na nossa casa e levar um de nós só porque lhe apetece.- Claramente não entrou em nossa casa, a Maria é que entrou na casa dela. - Eoghan colocava uma tarte de porco na boca - Estou esfomeado.- Também eu. Falar nas Fadas, abre-me sempre o apetite. – Fionn servia-se. Rhenan colocava mais lenha na lareira, a temperatura voltara a baixar durante a tarde. O vento aumentava e recomeçara a chover. Todos sabiam que os uivos que escutavam não eram do vento. Os homens tinham-se certificado que a casa estava trancada. Enquanto comiam escutavam atentamente o que Maria lhes contava sobre Tara. Freya explicava a Maria, que a obrigação da família era manter as portas de Tara e Annwanfechadas, para que os seres que lá habitavam não circulassem livremente entre os mundos. Assegurando-lhe que nem mesmo Danu lhes poderia fazer mal. Maria ficara definitivamente mais tranquila.Contou-lhes que vira onde guardar as chaves, aproveitando para perguntar se Danu lhes teria acesso. Freya garantiu-lhe que nem mesmo a Rainha dos Tuatha podia tocar na árvore sagrada. Só um guerreiro sidh. Após o jantar e enquanto todos ajudavam a arrumar a mesa, Rhenan sentou-se no sofá puxando Maria para o seu colo. - Estás bem? É muita informação, se precisares de fazer uma pausa.Maria passou-lhe a mão pela cara, beijando-o.- Quero saber tudo e acabar o que Lochan começou. Continuo a não acreditar que o motivo que levou o teu irmão a retirar as chaves, esteja unicamente relacionado com aquela cabra.Rhenan suspirou triste.- Nenhum de nós sabe porque o fez. Conhecia o meu irmão como me conheço a mim e nada me faz aceitar a sua decisão.- Havemos de descobrir.- Espero que tenhas razão. - beijou-a.- Meus! Arranjem um quarto, não pagámos para ver isso.- Cala-te Fionn. – responderam os dois ao mesmo tempo.
Published on March 29, 2020 02:00
March 28, 2020
in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 12
DOZE
- Maria! – Maeve que os esperava à porta de casa gritou correndo na direcção do carro abrindo a porta. - Foram só duas semanas, – sorria feliz com a calorosa recepção - trago lembranças para todos.Rhenan observava divertido a prima arrancar Maria do carro arrastando-a para dentro de casa. - Quero que conheças a minha mãe.- Maeve, tenho de ajudar a levar as malas.- Com três homens cá em casa? - continuava a puxá-la para a sala - Alguma coisa que me queiras contar da vossa noite? – piscou-lhe o olho – Fica a saber que fomos proibidos pelo meu primo de vos incomodar. - Acho que o Fionn não ouviu.- O Fionn? – Maeve parou antes de entrarem na sala - O que fez aquele morcego malcheiroso desta vez?Maria contou-lhe sucintamente. - Ele fez isso? O homem endoideceu de vez. Claro que depois disso o clima desapareceu.- Nem por isso. Mas antes que me perguntes se fomos até ao fim a resposta é não.- Aquele atrofiado precisa mesmo que alguém o ponha na ordem.- Mas agora já aqui estou, pronta para matar saudades de todos.- Finalmente ficaremos juntos. – Maeve abraçou-a quando a mãe e a tia saíam da cozinha.- Chegaste minha querida, - Freya abraçou-a com amor - quero apresentar-te a minha irmã. - Bem-vinda filha. – Deirdre também a abraçou beijando-a –Quero conhecer a mulher que devolveu a vida ao meu sobrinho. Fionn aparecia com o saco dos presentes na mão. - Isto é tudo para nós? – os olhos de Fionn sorriam.Maria confirmou. - Tenho de ser eu a entregá-los porque não os marquei. - Para a sala então! - Fionn parecia uma criança a abrir caminho.Rhenan passou carregando as malas. - Não vens? – Fionn viu o irmão subir a escadaria.- Já volto. Vou ao quarto, comecem sem mim que eu já recebi a minha.- Duvido! Mas está bem. - Fionn encolheu os ombros.- Ó meu borrego bêbado, não ouviste o que ele disse? - Maeve tentava evitar que Fionn envergonhasse Maria, à frente da família - O que lhe deste?- Uma moldura digital com fotografias das pessoas e momentos importantes da minha vida, só lá faltam vocês. - estava agradecida a Maeve pela subtil mudança de assunto.- Depois quero ver. – Maeve piscou-lhe o olho com cumplicidade.- Tens de a pedir ao teu primo.Eoghan abraçou-a levantando-a no ar, beijando-a.- Tive saudades tuas.Maria sorria feliz. Também sentira a falta deles.Sentaram-se confortavelmente na sala, Fionn colocara o saco aos pés de Maria aguardando ansiosamente. Os vinhos foram os primeiros a ser entregues e os irmãos já trocavam impressões sobre que castas seriam melhores. Maeve rodopiava pela sala com o vestido à sua frente. Freya, ficara comovida com a capa, percebera o significado que Maria lhe atribuíra. Antes de entregar a Deirdre o que lhe comprara, ouviu-a pedir-lhe. - Gostava que me tratasses por tia. Maria sorria feliz. - Tia, - fez uma pausa, soava bem - como não sabia o que lhe oferecer comprei isto. - entregou-lhe uma caixa de madeira trabalhada.- Muito obrigada, mas não tinhas de me trazer nada. Maeve pendurou-se nas costas do sofá por detrás da mãe e da tia para ver melhor. Deirdre abriu a caixa tirando um pendente com a forma de um olho negro bordado a vermelho e amarelo num fundo azul, com um Dragão a protegê-lo. Deirdre olhou para a magnífica peça que tinha na mão agradecendo emocionada. - É lindíssimo! Um olho de Dragão, vou estimá-lo sempre.Também Maeve e a tia se entreolharam, se tivesse sido uma delas a escolher certamente não teria sido um presente tão adequado.Rhenan entrava na sala quando a tia emocionada o colocava mostrando-o orgulhosa. Sorrindo feliz juntou-se aos irmãos, com o olhar fixo em Maria.Todos sabiam que necessitavam de estar sozinhos, infelizmente tinham assuntos importantes para resolver e pouco tempo para o fazerem, antes de Deirdre e Freya regressarem. Deirdre fez sinal à irmã para que a seguisse. As visões de Freya tinham recomeçado com o aparecimento de Maria. Havia muito a ser feito até estar preparada, mas todos dependiam dela. Era a sidhe pela qual tinham esperado, devia ser treinada como guerreira. Pelo sangue de Rhenan já era imortal.Almoçaram estufado irlandês, contaram-se histórias de quando eram pequenos e das dores de cabeça que deram às mães durante a adolescência. Freya confessara que fora nesse período que ela e a irmã tinham decidido regressar à casa dos arredores de Praga, por necessitarem de paz e silêncio. Todos se riram descontraidamente ao relembrar esses tempos.Maria era filha única apesar de ter crescido junto das primas e terem uma relação extraordinária não era em nada parecida com a dos MacCumhaill. Maeve tirara a moldura digital a Rhenan e estavam todos na sala ao seu redor a ver as fotografias. Rhenan e Maria resolveram dar um passeio perto do lago. Caminhava feliz com o longo casaco castanho escuro, forrado com pêlo, que Rhenan lhe comprara. O sol brilhava, o céu estava limpo, mas o vento frio que vinha das montanhas parecia entranhar-se como um aviso de que aquela paz não duraria muito tempo.Lembrou-se do conteúdo da carta que Rhenan lhe escrevera e não conseguia deixar de pensar com tristeza na infância de Freya e Deirdre. A força daquelas mulheres era incrível. Apesar de tanta tragédia tinham conseguido manter a família unida proporcionando-lhes boas recordações. - Regressamos? – Rhenan sentira-a tremer – Está a ficar frio, é capaz de nevar. – não esperou que Maria lhe respondesse, deu-lhe a mão caminhando para casa.Voltou-se de frente para Rhenan beijando-o apaixonadamente, não queria que aquele momento acabasse. Rhenan intensificou o beijo brincando com a língua na sua boca. Maria não sentia as pernas de tão excitada que estava quando Rhenan lhe pegou ao colo entrando em casa. - Já esperámos muito tempo. - Mas… a tua família. A tua mãe? O que vai pensar?Sorriu-lhe sedutoramente sem lhe responder.Maria não viu ninguém enquanto Rhenan subia a escadaria atravessando o longo corredor. Abrindo a porta com uma mão e fechando-a lentamente com o pé. Pousou Maria delicadamente em cima da sua cama, despiu-lhe o pesado casaco e as botas. Não falavam, mas de cada vez que os seus olhos se cruzavam diziam tudo. - Esperei muito tempo por este momento mo ghrá! - a voz rouca contra o seu pescoço enquanto a beijava quebrava as últimas resistências que ainda tinha. Estavam ali os dois e isso bastava, fez menção de se despir, mas com uma mão Rhenan impediu-a.- Não Maria! Eu é que te dispo. - tudo o que dizia deixava-a mais excitada. Queria que continuasse a beijá-la, sentir as suas mãos percorrerem-lhe o corpo…tudo! Rhenan tirou-lhe as calças lentamente passando-lhe as mãos pela parte interior das coxas, queria que sentisse cada toque seu, cada beijo, desejava-a enlouquecida. Despiu-lhe a blusa passando-lhe os dedos ao de leve pelos mamilos intumescidos. Afastou-se para a observar, deitada na sua cama em roupa interior, os olhos semicerrados de prazer. Como a desejava! Despiu-se deixando a roupa caída no chão. Maria gemeu de prazer ao observá-lo. A luz que entrava pela janela, permitia vê-lo e a sua nudez era embriagante. Parado à sua frente, estava muito excitado, sabia o quanto a desejava. Não conseguia olhar para aquele corpo perfeito sem lhe tocar. Sentou-se, acariciando-o, com a mão a subir pelo seu tronco, beijando-o no baixo-ventre. Não a impedia, observando-a com uma intensidade que a deixava a tremer com a perspectiva do que viria a seguir. Levantou-se encostando-se a ele, pegou-lhe nas mãos colocando-as sobre os seus seios. Não queria que parasse. Rhenan arrancou-lhe o resto da roupa que ainda a tapava, deitando o seu corpo nu no tapete de pele que tinha perto da lareira, beijando-a nos olhos, nos lábios, nos seios, as mãos abrindo caminho pelo seu corpo. Apertando-lhe suavemente os seios, mordiscando-os, sentia-se perdido, queria tudo ao mesmo tempo, nos braços dela era novamente um adolescente. Passou-lhe a língua pela barriga afastando-lhe as pernas com as suas, os seus dedos deixando-a enlouquecida de prazer. A língua fazia círculos perfeitos à volta do umbigo, o corpo de Maria arqueando-se de encontro ao seu, pedindo-lhe que não parasse. - Por favor, Rhenan. – Com os olhos vidrados de prazer Maria gemeu o seu nome, não aguentava esperar mais. Suplicando-lhe que não parasse.Deitou-se sobre ela, possuindo-a lentamente sem nunca tirar os olhos dos seus, queria sentir o vibrar de cada fibra do seu corpo, ouvi-la pedir mais. Enterrou a cara no seu pescoço, beijando-o. Continuava a contorcer-se debaixo dele com o coração a bater descompassadamente. - Póg mé, a ghrá!Maria acordou, continuava deitada no chão tapada com a manta. O lume ardia com intensidade, espreguiçou-se, sentia-se dorida, mas feliz. Onde estaria Rhenan? O lugar dele ainda estava quente pelo que não podia ter saído dali há muito tempo, olhou para as janelas, escurecera. Tinham passado a tarde toda no quarto dele. A família ia provavelmente pensar que as portuguesas eram todas taradas. A Rita andava nua pelos corredores a tentar entrar no quarto de um irmão e ela estava a ter sexo no quarto do outro, enquanto a família andava pela casa. Enrubesceu. A porta abriu-se e Rhenan entrou com um tabuleiro numa mão e uma garrafa de vinho debaixo do braço.- Acordaste preguiçosa. - fez-lhe um sorriso que a voltou a aquecer. Rhenan não conseguiu deixar de notar que estava radiosa. - O que trazes?- Não te podemos deixar morrer de fome. - pousou o tabuleiro em cima da mesa, foi até perto dela ajoelhou-se beijando-a.Maria enlaçou-o pelo pescoço, a manta escorregou mostrando a sua nudez. - Não me provoques mo ghrá! Comemos primeiro e depois levo-te para a nossa cama. - passou-lhe um dedo pelos lábios inchados, puxando-a para si - Adoro saborear-te, mas se não te vestires não comemos.Maria levantou-se embrulhada na manta, a perspectiva da sobremesa agradava-lhe.- Assim não tapas muito. - Rhenan sorria-lhe.Passou por ele caminhando na direcção da porta de separação dos quartos, deixando cair a manta propositadamente. Rhenan deu-lhe uma palmada. - Não me provoques. - começou a abrir a garrafa de vinho, não podia olhar para Maria senão voltariam a cair nos braços um do outro.- A porta está fechada? Preciso da minha roupa?- Tudo o que necessitas está aqui, no nosso quarto.- Estás a dizer que passo a dormir contigo?- Sempre que me quiseres. – sorria-lhe feliz - Quero ter-te a meu lado, dormir abraçado a ti e amar-te sempre que me apetecer.- Parece-me bem. - o coração saltava de alegria - Mas onde colocaste as minhas coisas?- No armário e nas gavetas de cima o resto é meu, se necessitares de mais espaço arranjamos.- É mais do que suficiente. - aproximou-se dele beijando-o apaixonadamente. - Pronto, estragaste tudo já não comemos vamos tomar banho juntos. - empurrou-a à sua frente para a casa de banho. Maria ria-se nervosamente, ansiosa pelo que aconteceria.A comida que Rhenan trouxera ainda quente já arrefecera. Porém estavam esfomeados, comendo tudo com verdadeiro prazer. Lavou os dentes, apagando a luz da casa de banho, deixando a porta encostada. Rhenan já estava deitado, afastando os cobertores para que se juntasse a ele. Decidiu despir a t-shirtque vestira, não fazia sentido dormir vestida com ele nu a seu lado. Com um olhar aprovador abraçou-a. - Muito bem pensado, não vamos nós ter ideias durante a noite. Maria encostou a cara ao seu peito.- Estou muito feliz, não quero que este momento acabe.- Não acabará. Esperei por ti muito tempo, farei tudo o que estiver ao meu alcance para seres feliz.- Já sou! Estou contigo.Embalados nos braços um do outro acabaram por cair num profundo sono. Durante a noite procuraram-se, o desejo que sentiam não se esgotava até saciarem a sua paixão.Maria não sentira Rhenan sair da cama, mas conseguia ouvir a água correr. Rebolou para o lado dele, abraçando a sua almofada, sentindo o seu odor. Abriu os olhos ao ouvir a porta. Enrolado numa toalha, com o cabelo a pingar, não era um homem, era um deus e não se cansava de o admirar. Percebeu que acordara, atirou a toalha para cima do cadeirão, sentando-se na cama, passou-lhe a mão pela cara.- Deixa-te ficar deitada, não descansaste muito. – sorria-lhe apaixonado, com os olhos azuis a brilhar de felicidade.Maria sentou-se, abraçando-o, beijando-o apaixonadamente. O lençol que a tapava escorregara deixando-lhe os seios à mostra. Rhenan apertou-os entre as mãos beijando-os. - Se não pararmos, não saímos do quarto.Beijou-o uma última vez afastando-o com as mãos. - Veste-te. Preciso de tomar banho. Mais tarde quem sabe podemos dar mais uma escapadinha sem que dêem pela nossa falta. – piscou os olhos sedutoramente.- És uma provocadora. – levantou-se caminhando nu até ao armário.Maria voltou a deitar-se observando-o enquanto se vestia.Rhenan aproximou-se para a beijar. - Vou descer, estou esfomeado. Queres que te traga alguma coisa?- Não obrigada. Vou tomar banho e desço de seguida. O que irá pensar a tua família? – Maria começava a pensar na vergonha que ia sentir quando os enfrentasse. Todos sabiam perfeitamente o que tinham feito.- Que estamos apaixonados e merecemos este tempo para nós.- A sério Rhenan, o que irá pensar a tua mãe? Estou no teu quarto, passámos o dia de ontem a fazer amor. – sentou-se tapando-se com o lençol - Sinto-me envergonhada. Rhenan voltou a sentar-se na beira da cama passando-lhe a mão pelos ombros, com os olhos a brilharem de felicidade.- Maria! Estamos a falar da minha mãe e das pessoas que me conhecem desde sempre. Posso ter tido a minha quota-parte de mulheres ao longo destes séculos, mas nunca amei. Amo-te a ti! Até te encontrar nunca me senti completo, nunca trouxe uma mulher para esta casa. Além do mais a minha mãe sabe que tu estás no nosso quarto porque foi ela que me aconselhou a fazê-lo. E posso garantir-te que só o fez por conhecer os meus verdadeiros sentimentos por ti. - beijou-a - És a minha mulher e é perto de mim que vais ficar. Vou beijar-te e amar-te sempre que tiver necessidade de ti, não quero saber o que os outros pensam, quero saber o que tu pensas e desejo fazer-te tão feliz como me fazes.Sentia-se emocionada com as suas palavras, nunca sonhara encontrar um homem que lhe professasse o seu amor como Rhenan acabara de fazer. - Sou muito feliz e devo-o a ti. - olhava para ele com os olhos brilhantes. - Mo ghrá!Beijaram-se com mil promessas. - Daqui a pouco vou ter contigo. - Maria sorria-lhe.Levantou-se da cama empurrando-o à sua frente para fora do quarto. Rhenan gemeu contrariado, a imagem dela nua, marcada pela paixão daquela noite ameaçava quebrar-lhe as suas últimas defesas. Ainda conseguiu reclamar antes que Maria lhe fechasse a porta na cara. - Isto é tortura! És a primeira mulher nua que me coloca fora do quarto e eu obedientemente vou, devo ter enlouquecido.
Quando saiu do quarto conseguia ouvi-los. Parou quando descia a escadaria, ao ouvir o som da voz de Rhenan, era uma sensação fabulosa saber que estava feliz e que era a responsável. Respirou fundo, tinha de os enfrentar a todos mais cedo ou mais tarde e aquele momento era tão bom como qualquer outro.- Dormiste bem? - Freya foi a primeira a vê-la, beijando-a. Maria sentia a cara a arder, mas resolveu agir como se sentia, correspondendo ao beijo. - Muito bem mãe, mas estou cheia de fome. Só se apercebeu que tratara Freya por mãe, quando pararam todos de comer observando-a. Rhenan e Eoghan sorriram-lhe em sincero agradecimento, voltando à conversa. - Obrigada querida. – Freya apertou-lhe as mãos com gratidão. Rhenan apontou o lugar vazio ao seu lado, pegou numa caneca que encheu de café e leite quente, entregando-lha. Maria sentou-se, abrindo um pão e colocando-lhe uma dose generosa de queijo dentro. Rhenan apertou-lhe a perna ao de leve deixando lá ficar a mão. Freya e Deirdre saíram pouco depois avisando que iam a Dublin, apetecia-lhes fazer compras. Da porta da cozinha Fionn despediu-se da mãe e da tia sentando-se perto de Eoghan, provocando Maria. - Então conta lá, ontem à noite fizeste alguma coisa de especial? Devias estar estafada, dormiste o dia todo.Eoghan ainda lhe deu um pontapé debaixo da mesa para que se calasse, mas Fionn encolhera as pernas a tempo.- Não me lembro de ter dormido muito. – Maria dava uma dentada no pão olhando para Rhenan – Tu dormiste?Eoghan sorria.- Então o que fizeste? – Fionn insistia, mais uma tentativa de Eoghan o pontapear e uma vez mais sem sucesso.- Já que estás tão interessado, posso dizer-te que passámos todo o dia e parte da noite enrolados. – levantou a cara olhando-o nos olhos sorrindo-lhe – Entenda-se, muito sexo. Rhenan olhou-a divertido, Eoghan engasgou-se e Maeve ria-se que nem uma perdida. - Bem-feita morcego velho, é para ver se aprendes.- O que lhe fizeste mano? – Fionn piscou o olho a Maria – Numa noite conseguiste estragar a doce Maria transformando-a em mim. – notara que Rhenan voltara a ser o mesmo que era antes da morte de Lochan. Passara tanto tempo, que já nem se lembrava de o ver sorrir e Maria conseguira-o.Todos se riam com o que Fionn dissera.
Na sala, Rhenan sentou-se no sofá puxando Maria para o seu colo. Maeve estivera parte da noite a actualizar a moldura digital do primo aproveitando para colocar fotografias deles. Entusiasmada por Maria poder ver como eram. Rhenan beijava Maria, com o desejo a crescer entre eles, a vontade que tinham de voltar para o quarto trancar a porta e esquecerem-se do mundo, enlouquecia-os. Sabiam que se o fizessem não desceriam tão cedo e Deirdre e Freya contavam com a sua presença.
Published on March 28, 2020 03:00
March 27, 2020
in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 11
ONZENo aeroporto em Dublin não tinha ninguém à sua espera. Maria esperava que Rhenan ali estivesse conforme lhe prometera. Pegou na mala caminhando para a paragem de táxis, estava cansada e não lhe apetecia apanhar a camioneta. Olhando para Rita parecera-lhe que ficara aliviada por não encontrar ninguém daquela família.Pedro despediu-se, apanhando a camioneta que o deixaria no centro de Dublin perto da sua residência.Maria não sabia o que sentir, estava extasiada por ter regressado e ao mesmo tempo triste por se terem esquecido dela.Quando o táxi parou à frente da casa, reparou no carro de Eoghan estacionado à porta. Rita paralisara ansiosa. Maria sabia que de todos, ele seria certamente aquele que não desejava reencontrar.O taxista saiu abrindo-lhes a porta, tirando as malas, colocando-as no passeio. Maria pagou agradecendo-lhe com um sorriso, enquanto Rita continuava indecisa se devia entrar ou regressar para Dublin e ficar no alojamento de Pedro. Maria deixara-lhes uma chave, o mais certo era estarem à sua espera dentro de casa. Os olhos sorriam-lhe. Pegou como conseguiu na mala e no computador avançando com a velocidade que as pernas lhe permitiam, tentando não tropeçar. A porta abriu-se e Rhenan apareceu sorridente, com desejo no olhar avançou a passos largos na sua direcção tirando-lhe a mala das mãos enlaçando-a. Perdidos num abraço sem palavras durante o tempo suficiente para Rita passar por eles e desaparecer dentro de casa. - Mo ghrá! – apertou-a nos braços beijando-a. Era a primeira vez que o fazia. Maria ficou sem fôlego, o coração batia descompassadamente, sentia-se zonza, não o queria largar, não queria que aquele momento acabasse. Rhenan afastou-se com as mãos a segurar-lhe a cara olhando no fundo daqueles olhos castanhos onde se queria perder. Estava ali, não a voltaria a deixar. Os seus lábios cheios, ainda húmidos do seu beijo, sorrindo-lhe feliz. Apertou-a na protecção dos seus braços. Chegara a temer pela sua sanidade até conversar com a tia, tinha de perceber o porquê de não poder estar perto de Maria e a resposta chegara com uma gargalhada. Não existia nenhum significado mágico ou oculto a mãe simplesmente o afastara com medo de o perder. Tinha sido o que necessitara ouvir para regressar de imediato a casa.Saíra de Yggdrasil decidido a passar as próximas vinte e quatro horas sozinho com Maria, a última coisa que queria era a família por perto, aquele tempo pertencia-lhes. Voltou a beijá-la encostando a testa à sua. Tinham de conversar sobre o que acontecera, mas acima de tudo queria que Maria esclarecesse todas as dúvidas que tivesse. Desejava-a, mas prometera à mãe manter-se firme perante a tentação. Quando a tivesse nos seus braços pela primeira vez queria que fosse na sua casa, na sua cama.Com Maria encostada ao seu tronco, enlaçada pelo seu forte braço, caminharam na direcção da casa, empurrou a porta entreaberta, com um pé. Sem nunca a largar. Rita via como Rhenan e Maria se observavam. Decidira que o melhor a fazer naquela noite seria dar-lhes a privacidade de que necessitavam. Telefonou a Pedro, ficaria com ele, preparou um saco com alguma roupa e saiu sem que se apercebessem da sua súbita partida.
Rhenan chegara cedo nessa manhã, confirmando que a casa estava segura. Abrira a porta do quarto sentindo-a. Deitou-se em cima da cama enquanto a esperava ficando com os pés de fora, era pequena para ele. A mãe ainda o tentara demover, mas a tia aparecera e de forma jovial avisara-a de que não se devia intrometer na vida sexual do filho mais velho. Freya limitara-se a aconselhá-lo a estar atento e a manter-se em segurança. Rhenan beijara-a assegurando-lhe saber o que fazia. Tinha sido assertivo quando obrigara os irmãos e a prima a não lhes ligarem ou aparecerem. Necessitava ficar sozinho com Maria, mereciam-no. Maeve prometera fazer-lhe a vontade, com a condição de Maria regressar a Yggdrasil no dia seguinte, bem cedo.Lembrava-se da breve conversa que tivera com Fionn antes de sair de casa. “- Amanhã cedo regressamos. Desta vez a Maria vem para ficar. - Como reagiu a mãe?- Melhor do que esperava!- Vê lá se dás com a língua nos dentes e lhe falas sobre a foto. - O teu segredo está seguro. Ajudou-me a colmatar as saudades. Mas ainda vais ter de me explicar o que fazias no meu quarto, à noite.A resposta nunca chegaria.”Tinha o seu carro na garagem para mudar os pneus, mas mesmo antes de pedir o carro emprestado ao irmão, já Eoghan lhe colocava as chaves na mão sorrindo-lhe.Maria parou hesitante na base das escadas.Rhenan percebeu o seu nervosismo virando-a para si sem nunca lhe largar a mão. - Mo ghrá! Só eu sei como te desejo. Não te garanto que aguente ficar muito mais tempo sem te ter, mas hoje não vai acontecer nada. - passou-lhe o polegar pelos lábios - Temos muito que conversar e é exactamente o que faremos. Vamos comer e quando subirmos quero que durmas nos meus braços. O coração de Maria batia descompassadamente. Tudo o que Rhenan acabara de dizer deixara-a excitada. Colocando-se em bicos dos pés beijou-o ao de leve, nos lábios. Rhenan passou-lhe a mão pelas costas arrepiando-a.- Trouxe-te uma lembrança, queres ver? - sentia as pernas fracas. - Agora fiquei curioso. – sorria feliz fazendo-lhe uma pequena vénia com a cabeça - Minha senhora suba que eu sigo-a. Tinham conseguido aliviar a tensão que ambos sentiam. Resolveu não desmanchar as malas, se regressava a Yggdrasillevava as roupas novas. Juntou tudo o que necessitava para a universidade. Rhenan colocou tudo o que levariam com eles no dia seguinte à porta da entrada. Desta forma conseguiam ganhar espaço dentro do quarto, assim que entrara com ela parecera imediatamente mais pequeno. Aquele homem era enorme. Se pensasse bem, todos os quartos daquela casa juntos eram do tamanho daquele que ocupava actualmente em Yggdrasil. Rhenan estava exultante, julgara que seria difícil convencê-la a acompanhá-lo, porém Maria acabara por aceitar a sugestão com inegável prazer. Desceu esperando que se juntasse a ele na sala. Conseguia ouvi-la ao telemóvel e pelo tom falava com os pais, possivelmente avisando-os da sua chegada.
Telefonara à família avisando-os que chegara a Dublin e que já estava em casa. Lembrando-se da grande conquista que ela e Rita tinham alcançado naquelas miniférias, o telefone fixo tinha sido finalmente desligado. Ainda tinha de fazer mais um telefonema. Ligou para a amiga explicando-lhe que passaria a viver em Yggdrasil, Rita achou a ideia fantástica porque ia de encontro à decisão que tomara com Pedro, passariam a viver juntos, naquela casa. Saber que Rita não ficava sozinha tirava-lhe um enorme peso de cima. Combinaram o que dizer se os pais telefonassem e o que fazer na eventualidade de uma visita repentina das respectivas famílias.Olhava à sua volta, não ia sentir falta daquele espaço porque estaria rodeada de pessoas que amava.Desceu as escadas a cantarolar. Rhenan sorria-lhe apaixonado ao vê-la feliz, gostava de pensar que tinha algo a ver com isso. - Tens! Olhou-a espantado. - Como fizeste isso?- Isso o quê?- Saber o que estava a pensar.- Porque te ouvi dizê-lo.Rhenan segurou-lhe nas mãos. - Maria eu não falei, limitei-me a pensar.Olhava-o com os olhos abertos de espanto. - Estás a dizer que consegui ouvir-te o pensamento?- Parece que sim, tenta outra vez. No que estou a pensar neste momento?- Não sei.Rhenan olhava desconfiado para ela.- A sério que não sei.- Talvez só resulte às vezes. Já tinha ouvido falar dessas capacidades das sidhes. Amanhã perguntamos à minha mãe. - Queres o teu presente?- Claro que sim!- Cuidado que se parte. – esticou-lhe um embrulho que trazia escondido atrás das costas.Viu a satisfação de Rhenan ao sentar-se no sofá, puxando-a para o seu colo antes de o abrir. Era uma moldura digital.- Podes ligar, eu mesma a carreguei. Rhenan pressionou o botão começando a passar uma sequência de fotos de Maria em bebé, na adolescência e as mais recentes que tirara na noite de Natal com a família.- Assim ficas a saber como era, o que mudei. conheces a minha família e amigos. Rhenan sorria feliz, era o melhor presente que já recebera, cuidadosamente ia passando as fotos enquanto Maria entusiasmada lhe explicava quando e onde tinham sido tiradas, O nervosismo inicial por se encontrar sozinha com ele passara. Quando chegaram à última, Rhenan pousou a moldura beijando-a até perderem o fôlego.Era difícil manterem o controlo quando os seus corpos ganhavam vida própria, com os beijos a electrificarem-lhes todos os nervos do corpo.Maria empurrou-o gentilmente, com a mão pousada no seu peito tentando recuperar a respiração e acalmar o coração.- Tenho fome. – a voz rouca denotava o desejo que sentia.Rhenan sentia-se a ferver por dentro, tinha de se controlar.- Comprei a maior e mais condimentada pizza do Nico’s Italian. – afrouxou o abraço mantendo-a no colo. - Que fino! – Maria levantou-se. Rhenan gemeu a reclamar.- Como conseguiste uma pizza tão cedo?- Os donos são gentes do Clã. “Só podia. Ninguém no seu juízo perfeito tinha comida para venda pronta àquela hora”,não conseguiu deixar de sorrir-lhe.- Onde a escondeste? - Na cozinha. - Comemos aqui se acenderes a lareira, a casa está gelada. – Queres ajuda?- Felizmente tenho duas mãos e somos só nós, não me demoro.Rhenan afastou a grade da lareira colocando lenha e papel para o fogo atear mais depressa. Maria já colocara na mesa, pratos, copos e guardanapos.Rhenan olhava satisfeito para o seu trabalho voltando a colocar a grade.- Que me dizes a comermos no sofá?- Desde que estejas perto de mim. – Rhenan sentia que o tempo parara.Colocou a pizza na mesa de apoio, entregando-lhe um prato e guardanapos, Rhenan abriu uma cerveja bebendo-a de um trago. Maria descalçou-se colocando as pernas cruzadas em cima do sofá, percebia que Rhenan não tirava os olhos dela seguindo todos os seus movimentos, tinham de se alhear do que os corpos lhes mandavam fazer e concentrarem-se em coisas banais. Contou-lhe como tinha sido o seu Natal, falou das tradições da sua família e de como ela e as primas as tentavam modernizar, o que acabava por ser sempre um pesadelo para a mãe e tias que não suportavam nada que fugisse à rotina. Rhenan ria-se divertido, sentado no canto oposto do sofá, gostava de a ouvir.Maria explicava como com a ajuda das primas tinham conseguido que o pai e o tio deixassem de se vestir de Pai Natal e passassem a ser elas a entregar os presentes. Olhava para ele agradecida por não a pressionar, aquele tinha sido o melhor jantar de que se lembrava.Ajudou Maria a levantar a mesa. Antes de subir para o quarto com ela, queria ligar para Yggdrasil para garantir que tinham percebido o que lhes dissera sobre não os incomodarem. Certificar-se que a lareira ficava apagada e tudo trancado. Fechou a porta do quarto. O nervosismo voltava a tomar conta dela ameaçando a pizza no seu estômago. Ligou a água para ir aquecendo enquanto se despia. Pendurou a roupa na cadeira entrando no chuveiro. A sensação da água quente no seu corpo era calmante, não queria molhar o cabelo para não ter de o secar.Já escurecera, o dia passara rapidamente entre beijos e conversa. Nunca tinham estado tanto tempo sozinhos e adorara.Desligou a água, secou-se no felpudo toalhão, passou um creme hidratante pelo corpo, vestindo a comprida t-shirt com a cara do Pato Donald. Daquela maneira conseguiria manter Rhenan afastado dela toda a noite, funcionaria como um moderno cinto de castidade.Sorria divertida ao imaginar a cara dele quando a visse. Colocou a mão no puxador sem o conseguir rodar, a ansiedade aumentava, o seu único pensamento é que ia dormir com ele. Espreitou, o quarto continuava vazio. Sentou-se na cama colocando o telemóvel no silêncio em cima da mesa de cabeceira quando a porta se abriu. Rhenan certificara-se que estava tudo trancado antes de ligar o alarme. Não sairiam daquele quarto até à manhã seguinte. Ao olhar para ela percebia o seu nervosismo. Sozinhos naquele quarto. Não era ali que a queria ter, ia tomar um banho de água fria porque só de olhar para ela sentada na cama o coração disparara e o seu corpo reagira.- Mo ghrá! Arranja-me uma toalha, quero tomar banho. Levantou-se, retirando um toalhão branco da gaveta da cómoda estendendo-lho, quando se baixara a t-shirt deixara ver mais do que desejava, erguendo-se rapidamente como se tivesse levado um choque. Quando os seus dedos se tocaram reparou que os olhos de Rhenan brilhavam de excitação. - Vai, Rhenan! - Mo ghrá! Sei o que prometi, mas esta noite será uma árdua prova ao meu autocontrolo. - resmungou.Maria olhou para o relógio. Era cedo para se deitarem apesar de já estar escuro. Mas tinham combinado conversar e era o que pretendia fazer.Quando Rhenan saiu da casa de banho em tronco nu com a toalha enrolada à cintura e o cabelo ainda a pingar, Maria ficou especada a observá-lo, o homem era mesmo bonito. Instintivamente aproximou-se colocando-se à sua frente pousando-lhe as mãos no peito, sentindo os músculos contraírem-se, reparou nas cicatrizes que lhe marcavam o tronco e os braços. Rhenan respirava com dificuldade, o espanto inicial ao ver Maria aproximar-se transformara-se em desejo, mas não se mexia nem a tentava demover. Passava-lhe as mãos pelos braços sentindo a rigidez dos músculos, nas costas não havia um local onde não tivesse uma cicatriz, mas até isso o tornava mais sensual. Abraçou-o, encostando a cara às suas costas molhadas, ainda cheirava melhor do que se lembrava. Passou-lhe a mão pelo forte cabelo negro que lhe tocava nos ombros. Rhenan voltou-se agarrando-lhe nas mãos levando-as aos lábios. - Maria, se me tocas vai ser difícil ficar quieto. - os olhos azuis ardiam de paixão, a voz soava rouca. Conseguia ver o esforço que Rhenan fazia, não sabia o que se passava com ela, mas já nada importava a não ser ele. Queria continuar a senti-lo. Levantou a cabeça, agarrou-lhe a cara com ambas as mãos beijando-o, como se o mundo pudesse acabar. Encostou-se a ele sentindo-o. Rhenan pegou-lhe ao colo deitando-a na cama, já não pensava. - Maria... - Não quero que pares. As palavras dela acabavam com qualquer resistência que ainda tivesse, já não pensava, arrancou-lhe a t-shirt pela cabeça com uma mão começando a beijá-la. Os seus lábios percorriam-lhe o pescoço, o ombro a curva dos seios. Maria gemia de desejo. Rhenan levantou-se para a admirar, era linda, arrancou a toalha atirando-a para o chão. Começava a ouvir um alarme que ia aumentando, obrigando-o a sair do transe em que se encontrava. Apercebeu-se que não era na sua cabeça, mas na casa. Pôs-se em pé de um salto agarrou nas calças que vestiu com alguma dificuldade.- Não saias daqui Maria.Perdida na sua luxúria não percebia o que acontecera, num momento estavam quase a quebrar uma promessa, no outro, Rhenan corria porta fora como se estivessem a ser atacados. Agarrou na t-shirt vestindo-a, quando percebeu o que o assustara, conseguia ouvir o alarme, estava alguém dentro de casa. Encostou-se à porta entreaberta parecendo-lhe ouvir a voz de Rhenan discutir com outro homem. Rhenan subia as escadas, entrando no quarto como uma flecha agarrou no resto da sua roupa. - Não te preocupes Maria é só o anormal do Fionn.Maria não conseguiu evitar sorrir, só mesmo Fionn para atrapalhar o que podia ter sido uma noite fantástica. Seguiu-o descalça, pela sua expressão talvez Fionn viesse a necessitar da sua ajuda para que o irmão não o matasse.Fionn estava sentado na sala a comer os restos da pizza e a beber cerveja, absolutamente descontraído. - Põe-te à vontade minha grande besta. - Rhenan passou por ele, dando-lhe um pontapé nas pernas para que as tirasse de cima da mesa de apoio - O que te passou pela cabeça? Qual foi a parte de não querermos ser incomodados que não percebeste?- Interrompi alguma coisa? - falava com a boca cheia, olhando para o irmão com um ar inocente.Rhenan rosnava-lhe. Maria continuava encostada à porta da sala, aquela situação era demasiado divertida, mas não se atrevia a rir, não queria a fúria de Rhenan direccionada para ela. - Onde estavam? – Fionn continuava com o mesmo ar inocente falando com a boca cheia - Estavas deitada Maria? - olhou para o relógio - A estas horas? Estás doente?Maria não aguentou mais e riu. Rhenan, estava cada vez mais irritado. - Como conseguiste entrar se a chave estava comigo?- Fiz uma cópia, para uma eventualidade.- Tens menos de um minuto para te pores a andar, antes que te corra ao pontapé.Fionn levantou-se, bebeu o resto da cerveja agarrando na caixa da pizza. - Não te importas que leve o resto? Estou cheio de fome.- Sete, seis, cinco… - Rhenan contava o tempo para o irmão sair.- Estou a ir! Estou a ir! – conhecendo o irmão acelerou o passo na direcção da porta, piscando o olho a Maria - Tinha saudades tuas. - bateu a porta ao sair.Rhenan andava de um lado para o outro como um leão enjaulado.Maria avançou para ele abraçando-o. - Foi bom o teu irmão aparecer. Rhenan olhava-a perplexo. - A culpa foi minha, desculpa. – tentava explicar-se – A verdade é que para mim também se torna cada vez mais difícil estar perto de ti sem te tocar. Vamos ter todo o tempo de que necessitamos. E eu gostaria que a nossa primeira vez fosse em Yggdrasil, no teu quarto, na tua cama. - não sabia onde arranjara tanta coragem, mas as palavras pareciam jorrar da sua boca. Rhenan sorriu-lhe encantado com o que ouvia. - O Fionn funcionou melhor do que um balde de água fria. - Maria abraçou-o. – Vamos subir, prometo comportar-me. - Rhenan acalmara. Voltou a certificar-se que a porta da entrada ficara bem fechada, ligando o alarme. Subiu as escadas levando-a ao colo.
Fionn continuava parado à frente da casa, sorrindo. Conhecia o irmão melhor do que ele mesmo, sabia que quando estivesse com Maria pela primeira vez tinha de ser perfeito. Nunca o vira apaixonado, finalmente encontrara alguém para o completar. Vira-o definhar quando Lochan lhe morrera nos braços. Disfarçara os sentimentos numa névoa de indiferença. Em Maria reencontrara o motivo que lhe faltava para viver, amar e ser feliz. Eram novamente uma família e deviam-no a ela.Colocou o último bocado de pizza na boca ligando o carro. Quando era necessário sabia ser um verdadeiro parvalhão, porém era sempre eficaz. Sorriu enquanto mastigava, regressava a casa.
Maria sentara-se na cama recostada nas almofadas. Rhenan decidira que o melhor era manter as calças e sentar-se afastado dela. Tivera-a praticamente nua, deitada debaixo dele. Sacudiu a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos, tinha de se concentrar em qualquer outra coisa. Maria sentia a mesma tensão. - Rhenan, posso perguntar-te tudo? - O que quiseres. Era difícil olhar para aqueles olhos azuis sem ter vontade de o voltar a beijar.- Porque têm todos idades diferentes?Rhenan sorriu-lhe massajando-lhe os pés.- Deixamos de envelhecer quando encontramos o nosso verdadeiro amor. - Quer dizer que te apaixonaste aos vinte e sete anos? - não aguentava pensar em Rhenan nos braços de outra mulher. Rhenan não resistiu à sua cara triste, puxando-a para si, beijando-a.- Não fui eu. Foi o Lochan. - o semblante ficou carregado - Pela desgraçada que o matou.Maria enroscou-se nos seus braços, não queria relembrá-lo do irmão, mas tinha de saber.- Mas disseste que acontece quando se apaixonam.- No nosso caso foi diferente. Somos gémeos verdadeiros, - fez uma pausa – éramos…e o efeito reverteu para mim no momento da sua morte.Com os teus irmãos e com a Maeve. O que aconteceu aos companheiros deles?- Alguns envelheceram, outros…- fez nova pausa fechando os olhos – morreram todos.- O que me vai acontecer?Rhenan apertou-a de encontro ao peito.- Vais ficar exactamente como estás.- Não vou envelhecer? - Não, mo ghrá! Com o passar dos séculos a minha mãe percebeu que se encontrarmos o verdadeiro amor e lhe dermos o nosso sangue a beber passamos a estar ligados para sempre. E desta forma os nossos parceiros não morrem.- Foi o que me fizeram naquele dia?- Não te podia perder. - Quem tomou essa decisão?- Eu! A minha mãe só aceitou cumpri-la a meu pedido. - Quer dizer que vais ter de me aturar durante séculos? Sempre com dezassete anos?- Sim! - Tens a certeza de que não te vais cansar de mim?- Tenho! – Rhenan beijou-a no pescoço. - Isso quer dizer que me amas? - És a razão que me faltava para viver.Virou-se, beijando-o. – Mas necessito que me perdoes.Maria fixou o olhar no fundo daquele lago onde se queria perder. - Rhenan, não tenho de te perdoar, mas agradecer-te. Deste-me a maior prova de amor. É verdade que tenho dúvidas, mas conto contigo para me ajudares.- Estarei sempre ao teu lado.- Podemos ter filhos?- Todos os que queiras. - sorria com a perspectiva de uma família. - Explica-me porque é que a tua mãe e a tua tia são mais velhas? - Ainda eram crianças quando beberam o sangue. Deixaram de envelhecer quando perderam o seu grande amor, quando o meu pai e tio foram mortos. - Que idade têm?- A mãe quarenta e sete, a tia quarenta e nove.- Nunca mais tiveram ninguém?- Não!- É triste. Onde vivem quando não estão em Yggdrasil?- Na República Checa. - Espero que voltem a ser felizes. – Maria bocejou.- Sabes que me quero deitar contigo, - Rhenan olhou provocador – Estás cansada. Estava a pensar se conseguia dormir vestido, mas não me apetece. Durmo nu abraçado a ti.- Achas boa ideia? - Não! – sorriu-lhe mordiscando-lhe o lábio – Mas, amanhã será um novo dia e voltamos para casa. Ali não me escapas.Maria tremeu ansiosa com as promessas da sua resposta. - E se o Fionn decidir voltar?- Mato-o. Riu-se encostada ao seu peito.- Amanhã amarro-o na cave.- Têm cave?Anuiu com a cabeça.- Temos muitas coisas que devem ser do teu agrado. - Responde-me a uma última pergunta. – voltava a bocejar - Porque é que a tua mãe queria que esperássemos até ao meu aniversário para… - não conseguia proferir a palavra sexo.Rhenan riu-se.- Julgo que a palavra que procuras é quando nos amarmos. Não acontecerá nada. A mãe assustou-me ao ponto de me convencer que se não esperássemos pela tua maioridade o mundo acabava. Quando na realidade estava só a tentar proteger-nos.- Nessa altura já estava perdidamente apaixonada e nem sabia. - beijou-o no queixo. - Quando te segurei nos meus braços no dia que foste atacada deixaste-me louco.– Deixei?- Já tinhas bebido Jameson suficiente. – apertou-a com força nos seus braços.- Foi nesse dia que bebi o teu sangue. Essa é a parte assustadora, cheguei a pensar que me transformaria num vampiro.Rhenan soltou uma sonora gargalhada.- Ou pior num Dragão.Ria-se tanto como Maria nunca o ouvira.- Não me estava a ver a dormir num caixão ou a cuspir fogo. – sentia-se descontraída perto dele.Puxou-a para si.- Mulher, és deliciosa! E eu amo-te!Maria voltava a bocejar.Rhenan levantou-se afastando os lençóis para que se deitasse, tapando-a. Rapidamente sentiu a respiração dela alterar, adormecera. Despiu-se colocando as roupas dobradas em cima da cadeira deitando-se nu por trás dela utilizando a coberta para se tapar, abraçando-a.Tivera mulheres, mas nenhuma era Maria, esperara muito tempo por ela e agora que a tinha a seu lado nunca a deixaria. Seriam amantes, confidentes, amigos, marido e mulher. Teria de ser preparada para o que se aproximava, mas estaria sempre a seu lado para a amar e proteger. Lutaria por ela e com ela.
Published on March 27, 2020 03:00
March 26, 2020
in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 10
DEZ
Antes de deixar Yggdrasil, Freya telefonara garantindo-lhe que podia viajar descansada, tanto ela como a sua família estavam protegidas. Não sabia o que pensar, mas acreditava nela e era quanto bastava. Para sua surpresa, Rhenan quisera falar-lhe. A voz rouca deixara-a ansiosa, desejava que a abraçasse, a beijasse, mas tinha de se contentar com a sua promessa de que em breve estariam juntos. Estacionaram no aeroporto de Dublin perto da área das partidas. Fionn abriu a bagageira retirando a mala de Maria transportando-lha. Enquanto caminhavam lado a lado, no mesmo silêncio que os acompanhava desde Glendalough, Maria pensava que não passara muito tempo desde que os conhecera precisamente naquele local. Odiava despedidas. Fionn esticou-lhe a mala, sem falar beijou-os caminhando na direcção do balcão de check-in sem se voltar. Tinha receio de que se o fizesse não conseguisse partir.Os MacCumhaill observavam-na enquanto se afastava. Já se tinham habituado a tê-la por perto e a sua partida ainda que por pouco tempo deixava-lhes um vazio. Rita e Pedro tinham chegado mais cedo, já a esperavam na sala de embarque, Maria sentou-se perto deles. Sabia que Maeve, Eoghan e Fionn ainda ali estavam, só abandonariam o aeroporto quando o avião descolasse. Não tiveram de esperar muito, Pedro fez-lhe sinal apontando para o placard, iam começar o embarque. O avião saía à hora prevista. Sentou-se num lugar à janela. Pedro e Rita duas filas à sua frente. Tirou o livro que pretendia ler durante a viagem colocando a mala debaixo do banco à sua frente.Não conseguia concentrar-se na leitura, fechou os olhos dormitando, sem se aperceber de o tempo passar até ouvir a voz da chefe de cabine através do altifalante. “Senhoras e senhores passageiros, começámos a descida final, agradecemos que se sentem, recolham os tabuleiros à vossa frente, coloquem as cadeiras na posição vertical e apertem os cintos de segurança”.Maria fez o que diziam, guardando o livro. As comissárias de bordo avançavam ao longo das filas certificando-se que as indicações transmitidas estavam a ser cumpridas.O avião tocou no chão, deslizando suavemente pela pista, dirigindo-se para o terminal que lhe tinha sido destinado.“Senhores passageiros mantenham os cintos até o avião estar imobilizado. Agradecemos a preferência pela nossa companhia”. Voltava a casa por um curto período, mas Yggdrasil passara a ser o seu lar.O sinal para manterem os cintos continuava ligado, o que não impedia os mais apressados de se levantarem começando a tirar malas. Ainda antes das portas se abrirem já se formara um pequeno engarrafamento ao longo do estreito corredor. Maria achou melhor continuar sentada até passar a confusão. As comissárias de bordo com o sorriso mecanizado despediam-se dos passageiros. A porta do cockpitestava aberta, permitindo ver o capitão e o co-piloto sentados a preencherem o registo de voo. As malas eram retiradas do avião, carregadas no carro que as transportaria para o interior do aeroporto e posteriormente colocadas nas respectivas passadeiras. Levantaram-se ao mesmo tempo quando já restavam poucos passageiros saindo juntos, desceram as escadas entrando no autocarro que os conduziria ao terminal das chegadas. Na passadeira rolante já as malas esperavam para ser recolhidas. Talvez por serem as férias de Natal o serviço funcionava como uma máquina bem oleada. Quando as portas automáticas se abriram, Maria viu os pais. A mãe como sempre muito elegante e com um lindo bronzeado das recentes férias. Ainda não chegara ao final da rampa e o pai já a abraçava, a mãe juntou-se-lhes. Com Pedro e Rita passava-se o mesmo, faziam-se apresentações e despedidas. Pedro optara pelo mesmo voo delas em vez de seguir directamente para o Porto. Os pais de Rita davam-lhe boleia até à estação de comboios de Entrecampos. O amor realmente fazia milagres e obrigava-o a mais algumas horas de viagem.O pai fez-lhes sinal para que o seguissem transportando-lhe a mala. O carro estava estacionado no primeiro piso. Saíram do aeroporto com a via verde evitando perder tempo. - Estás muito magra! O dinheiro que te enviamos não chega? Devias ter pedido mais. Já vi que a vida em Dublin não te está a fazer bem.E lá estava o que mais temia, a recriminação da mãe. - Deixa a miúda. Mal chegou e já começa o interrogatório.A mãe olhou para as unhas bem arranjadas. Até a filha regressar recuperaria o peso perdido, nem que lhe tivesse de dar a comida à boca.- Amanhã vamos às compras! Não gosto nada de te ver com essas roupas.Claro que a mãe tinha de dizer mal da sua camisola e calças de ganga preferidas, as únicas que ainda lhe serviam desde que usasse o cinto bem apertado. - Desde que não me obrigues a comprar saias!- E se for um vestido?- Também não. - o seu olhar cruzou-se com o do pai através do espelho retrovisor. Sorria-lhe complacente pedindo-lhe que tivesse paciência com a mãe. A viagem foi rápida, os pais viviam no Campo Grande não muito longe do aeroporto. Maria saiu do carro. A avó Lena já a esperava à porta de braços abertos, Maria correu ao encontro da segurança que lhe ofereciam, beijando-a. Era a sua confidente, a mãe que a escutava e aconselhava sem censuras ou julgamentos. - Vamos entrar, fiz tudo o que gostas. Temos muito que conversar. - passou-lhe a mão pelo cabelo - Estás muito bonita, mas pareces cansada. Maria percebia que a sua magreza a deixara preocupada, mas ao contrário da mãe, reagira sem censuras.Aproveitou quando se encontrava sozinha no quarto para enviar uma mensagem a Maeve avisando que chegara bem e já tinha saudades deles. Os dias passavam. Dormia e comia com prazer. Na companhia da mãe e da tia comprara quase um guarda-fatos, felizmente e apesar de muitas reclamações tinham-na deixado escolher a roupa que queria. Naquele dia a saída tinha um programa mais ao seu gosto, almoçaria com as amigas no Centro Comercial Colombo onde faria as últimas compras de Natal. Não se esquecera dos MacCumhaill. Comprara uma mala em cortiça e um belíssimo colar em lápis-lazúli com pulseira e anel a condizer para oferecer a Maeve. Estava a sair da loja quando reparara num vestido da mesma cor. Quando Sergiu a visse o coração do rapaz era capaz de não aguentar. Para Freya levava uma capa alentejana, lembrava-a do dia que a conhecera e da forma maternal como a tapara com a sua própria capa. Para Fionn e Eoghan, tinha sido fácil, vinho. Queria levar algo para a mãe de Maeve. Contudo não sabia o que oferecer a alguém que não conhecia. Maria e as amigas sentaram-se num quiosque perto da FNAC a comer gelados e a beber café. Aquele era o momento certo para ligar a Maeve e pedir-lhe ajuda. O telemóvel chamava, o coração começou a bater acelerado, sentia as palmas das mãos suadas. - Dia duit!O Natal era sempre na sua casa, a avó insistia em preparar tudo sozinha. Os tios e primos chegavam ao final da tarde munidos de presentes. Era uma celebração tipicamente portuguesa. Camarão cozido, bacalhau cozido, pasteis de bacalhau, rissóis de camarão, croquetes de carne, chamuças, sonhos, tronco de natal, lampreia de ovos, pudim molotoff e não podiam faltar bilharacos, doces típicos de Ílhavo a terra onde a avó nascera. Os presentes só podiam ser abertos ao bater da meia-noite do dia vinte e quatro para vinte e cinco de Dezembro, felizmente para todos nem o pai ou o tio se continuavam a vestir de Pai Natal. Agora tiravam à sorte entre ela e os primos quem lia os cartões e entregava os embrulhos. Sempre com a mãe a relembrar, que antes de passarem ao próximo tinham de esperar que a pessoa abrisse o seu e agradecesse a quem lho oferecera. Era um processo moroso, numa família alargada como a sua. Eram duas horas da manhã quando o tio, sempre o último a sair, se despediu. Ajudou a avó a levantar a mesa, a lavar e arrumar a loiça. - Adoro-te vovó.A avó deu-lhe uma palmadinha carinhosa nas mãos.- Também gosto muito de ti, és a minha menina. Mas tu sabes disso.- Posso dormir contigo?- Nem precisas perguntar. – a avó segurou-lhe a cara com ambas as mãos, beijando-a na testa como fazia sempre.O mais importante naquela noite era sentir o amor da avó.O pai acabara de deitar o papel no contentor da reciclagem. Maria levou os seus presentes para o quarto deixando-os a um canto, guardá-los-ia mais tarde.No dia seguinte voltavam a reunir-se todos para jantar lá em casa. Nessa ocasião a avó servia Peru recheado, com puré de maçã, batatas cozidas, castanhas cozidas e novamente uma abissal quantidade de bolos e doces. Era garantido que quando regressasse a Dublin ia mais gorda, devia ser o suficiente para deixar a mãe feliz.
Os dias voaram. Faltava um dia para regressar à sua outra vida. Maria arrumou com calma na mala tudo o que ia levar. Passar o último dia com a avó era a sua prioridade. Sentia necessidade de lhe contar sobre tudo o que lhe acontecera. Pegou na sua Moleskinepara admirar a fotografia de Rhenan, faltava pouco para o reencontrar. A carta caiu. Com tudo o que acontecera esquecera-se dela. Fechou a porta do quarto sentando-se no canapé colocado por baixo da janela. O envelope tinha o seu nome escrito com a caligrafia dele. Abriu com cuidado tentando não rasgar, retirou a carta desdobrando-a. Leu e releu, custava-lhe acreditar no que lhe dizia. Esperava uma declaração do seu amor por ela, mas o que lia era uma sucinta explicação da história do Clã e do que lhe acontecera no dia do ataque que sofrera em Yggdrasil.“Quero que saibas por mim toda a história da minha família que também é tua.”Com a curiosidade aguçada Maria continuou a ler. “A minha mãe e tia eram crianças quando o seu Clã foi atacado por um Clã rival, os MacMorna. Queimaram homens, mulheres e crianças. Os que conseguiram escapar refugiaram-se nas montanhas, observando a chacina que se desenrolava no vale. Viram a sua rainha, a minha avó ser violada e empalada. O meu avô tinha morrido meses antes, de um ferimento provocado pelo líder dos MacMorna.Quando a ama da minha mãe e da tia viu os primeiros homens entrarem pelos portões do acampamento, escondeu-as no meio do denso mato. Morgaine era uma feiticeira Wiccan, colocou-as sobre um feitiço protector que as impediu de ouvir os gritos de aflição dos que eram mortos e de ver o que acontecia com a mãe delas. Ficaram escondidas durante horas até os últimos homens abandonarem o acampamento levando com eles todo o espólio que conseguiam transportar. Morgaine enterrou a minha avó debaixo de um Freixo para que a sua alma tivesse descanso. A partir desse dia criou a minha mãe e tia como suas filhas.Quando chegou a hora de reunirem o que restava do Clã, Morgaine pediu a ajuda da Deusa e ela mandou-a ir ter com Surt que vivia nos vulcões da Ilha do Fogo, na Islândia. Este entregou-lhe uma poção que as protegeria. Morgaine voltou e obrigou-as a tomá-la, essa poção era o próprio sangue de Surt, Sangue de Dragão.A minha mãe e tia cresceram, casaram-se e começaram as suas próprias famílias sob a protecção dos homens e mulheres do Clã que tinham jurando protegê-las. Muitas tribos nómadas acabaram por se juntar ao Clã jurando-lhes lealdade. Foi assim que voltámos a crescer e a reagrupar-nos, a sermos o Clã familiar que ainda hoje somos. Ao beberem o sangue de Surt ficaram a saber que passavam a ser as fiéis depositárias das chaves que ligam os três mundos, a sua única obrigação era mantê-las em segurança.O meu pai Cumball foi morto ao lado do meu tio, apanhados numa emboscada orquestrada uma vez mais pelo Clã MacMorna. Goll o seu líder queria a todo o custo acabar connosco, concluir o que os seus antepassados tinham começado. Com o seu ódio de morte ancestral fez um pacto com as trevas e com uma poderosa Bruxa. As Sombras que te atacaram naquela tarde, são almas caídas em desgraça, que conseguiram escapar do submundo. Julgamos que queriam apanhar a Maeve, mas confundiram-vos por trazeres a camisola dela vestida. Morgaine sabia que ao beberem o sangue de Surt tinham um preço a pagar. A minha tia Deirdre nunca teria filhos homens e só daria à luz uma filha que seria a sua herdeira. E a minha mãe, teria os filhos necessários para a protegerem. A Maeve é a herdeira da Ordem de Dracul. Eu e os meus irmãos somos guerreiros da Ordem de Drakkar. Damos a vida pelos nossos se for necessário. Temos vida eterna, bem como todos os nossos descendentes e só morremos às mãos de forças sobrenaturais. Quando Lochan o nosso irmão foi traído ficámos com um guerreiro sidhe a menos, mas nunca sentimos as trevas por perto até apareceres. No dia da tua chegada a Dublin, senti que algo ia mudar. Prometo, nunca te esconder nada. Quero que saibas que a tua presença é muito forte, és uma guerreira sidhe como o meu irmão Lochan, tens o poder de comunicar com os outros mundos. Ao juntares-te a nós irás ter várias forças que atentarão contra a tua vida.A minha mãe descobriu após beber o sangue de Surt que tinha poderes de sidhe, mas confessou-me que os dela não são tão fortes como os teus.Preciso que me perdoes quando te disser que tomei uma decisão por amor, apesar de saber que não tinha esse direito. A minha mãe disse-me que para ficarmos juntos teria de o fazer. Não pensei duas vezes. No dia que te feriram, dei-te o meu sangue. Perdoa-me por ter feito o que fiz sem te dar a hipótese de escolheres.Perdoa-me se estou a ser egoísta ao querer ter-te para mim pelos séculos que se avizinham.Perdoa-me se já não posso viver sem ti.Perdoa-me por amar-te mais do que à minha própria vida.Perdoa-me por te querer.Para sempre teu,Rhenan.” Maria continuava a segurar na carta. Custava-lhe acreditar em tudo o que lera, tentando compreender o que as palavras significavam.Sentia-se no mundo de Stephanie Meyer, mas estava bem acordada e não enlouquecera. Rhenan dizia-lhe que ficara imortal depois de beber o seu sangue e só conseguia pensar com repugnância no que fizera. Lembrava-se vagamente de ter engolido o líquido que Freya lhe dera a beber como se fosse xarope, nunca lhe passara pela cabeça que … não queria pensar naquilo. Só esperava não começar a morder jugulares. Sentia a cabeça latejar. Não percebia porque Rhenan lhe pedia perdão. Mas ia necessitar de respostas. E a primeira pergunta que lhe queria fazer era por que motivo tinham todos idades diferentes sendo imortais, quando é que o crescimento parara e começara a sua imortalidade?Fechou a carta voltando a colocá-la dentro do Moleskine junto da fotografia, longe de olhares indiscretos. Ligou o computador, ia enviar um email a Maeve. Esperava que o lesse e lhe respondesse, necessitava de desabafar sobre o que Rhenan escrevera.Tinha várias mensagens, uma delas da universidade. Eram as suas notas, a mãe ia ficar satisfeita e não podia voltar a reclamar sobre o seu regresso a Dublin. Começou a imprimi-las reparando que Rhenan lhe enviara uma mensagem dias após ter partido com a mãe. Abriu e o que leu deixou-a com a certeza que o amava como nunca amaria ninguém:“Agora que caí, só tu me podes levantar, mo ghrá.”Seria digna de tanto amor? Não sabia, mas estava decidida a lutar para lhe provar ser digna dele e não o contrário. A avó bateu à porta, abrindo-a sem entrar. - Acabei de fazer um bolo de chocolate e sumo de groselha. Vens?- Nem precisas perguntar duas vezes, - levantou-se baixando a tampa do computador, agarrou nas folhas impressas com os resultados do primeiro semestre - acho que vais gostar de ver isto.Sorria feliz ao entregar a pauta com as notas. Conseguia vislumbrar o orgulho da avó, se ao menos lhe pudesse contar tudo. Seguiu-a até à sala onde o inconfundível aroma a chamava.
Maria passou o último dia na companhia da avó. Como adivinhara a mãe ficara muito satisfeita com os resultados e prometera não a incomodar com coisas banais, mas não resistira e perguntara-lhe se tinha namorado. - Deixa a miúda em paz, não a estejas sempre a importunar com assuntos que não te dizem respeito. – uma vez mais a avó defendia-a como uma leoa. Discretamente apertou-lhe a mão debaixo da mesa em sinal de agradecimento.Perto da avó sentia-se segura. Se havia alguém que gostaria de ter a seu lado pelos séculos que se avizinhavam era ela. Queria que a visitasse, sabia que adoraria os MacCumhaill.
Como lhe fora ordenado, estivera todo o tempo perto da sidhe para a proteger caso necessitasse da sua ajuda e tinha sido o período mais aborrecido de toda a sua longa existência. Os humanos eram demasiado previsíveis e enfadonhos, tinham conseguido passar duas semanas a comer, beber e a comprar trapos desnecessários para se cobrirem. O que na sua opinião não os favorecia tanto quanto deveriam. A sidhe regressava a Yggdrasil em segurança. As Sombras estavam mais activas desde a reunião da família. Era a primeira vez em muitos séculos que Deirdre regressava a casa. Lug vira o espectro de Goll rondar a casa. Mas a protecção do Clã era muito forte, já nem ele lá conseguia entrar a menos que fosse convidado. Maria passara a ser um alvo e os Tuatha não podiam permitir que algo lhe acontecesse, era a única com a capacidade de encontrar o Colar de Brisingamen. Chegara a hora de regressar a Tara. Entre os Tuatha também existiam inveja e ódio, Danu tinha três maridos, três reis, porém preferia-o. Tinha o seu coração, o seu corpo e em contrapartida dava-lhe toda a liberdade. Se queria continuar a caminhar entre os mundos não podia perder a sua independência e ficar preso em Tara para toda a eternidade.Olhou para trás, para a névoa que separava os mundos e se fechava. Seria para sempre se não encontrassem o Colar de Brisingamen.
Published on March 26, 2020 03:00
March 25, 2020
in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 9
NOVEMaria acordara com pouco mais de cinco horas de sono, preparada para enfrentar o dia como se fosse para uma batalha. Quando a acordara Maeve avisara-a que os primos tinham decidido que naquela quarta-feira no final das aulas seguiam para Yggdrasil. Não confessava, mas preferia estar onde sentia a presença de Rhenan, a sua casa passara a ser somente um ponto de passagem. - Muito cedo para pensares nele. – sacudia a cabeça falando para o ar - Hum que cheirinho bom de café. Mas esta malta não dorme? – sorria animada enquanto descia as escadas.A porta da cozinha estava aberta, Fionn fritava bacon.- Bom dia, - Maria estendeu-lhe a mão para o cumprimentar - parece-me que ainda não fomos apresentados, é o novo cozinheiro?Observava-a atónito. - Cozinheiro? Estás a falar comigo?Tirou-lhe o prato das mãos sentando-se no banco corrido perto da janela, começando a comer. - Mulher! Não sou cozinheiro de ninguém e esse bacon é meu.- Era! Se me passasses uma caneca com café e leite ficava-te muito agradecida.Fionn estava divertido por ver que a disposição de Maria melhorara, resolvendo entrar no jogo. - A senhora deseja mais alguma coisa? - Duas fatias de pão barradas com manteiga.- Mais alguma coisa?- Para já não. Fionn entregou-lhe a caneca e o pão sem reclamar, puxando uma cadeira para perto dela. - Sabes, o meu irmão não está cá e a vingança é tramada. – enquanto falava tentava roubar-lhe bacon, sem sucesso.- Pois, pois. - já não lhe chegava ter de andar com os olhos bem abertos com as Fadas e as Sombras, ainda tinha aquele ancião desbocado com que se preocupar.Fionn recostara-se para trás bebericando o café sem tirar os olhos de Maria que o olhava desconfiada.- Bom dia Maria! Bom dia sapo! – Maeve entrava na cozinha a apanhar o cabelo.- Não é decididamente o meu dia. – Fionn levantou-se para fritar mais bacon e ovos.- Pronta para as aulas?- Não me posso esquecer de passar na biblioteca para fazer uma consulta, penso lá ficar no máximo duas horas, onde nos encontramos?- Na estátua do Lecky às quatro horas.- Onde vais almoçar?- Vou com o Sergiu, ainda não sabemos onde. - piscou-lhe o olho. Fionn escutava com muita atenção o que diziam - Mas lá estarei, à hora combinada.Continuaram a fazer conversa fiada sobre os professores. Estavam de acordo no que respeitava a terem enlouquecido enviando trabalhos com pesquisa para quase todas as cadeiras. O que implicava muito trabalho e pouco tempo. Maria levantou-se colocando a loiça suja na máquina. Preparou uma sandes para levar, tinha tempo para a comer no percurso entre a sala de aulas e a biblioteca. Andava a comer pouco e mal. Perdera peso desde a partida de Rhenan, já notava na roupa, tinha de os recuperar antes de regressar. Se aparecesse em Lisboa tão magra, a mãe interrogá-la-ia e desconfiada como era ainda regressava com ela. E isso é que não podia acontecer.Pensava se Rhenan, voltaria a tempo de se despedir. - Vamos? – Eoghan espreitou para o interior da cozinha sorrindo-lhes.Fionn engoliu o que acabara de colocar no prato empurrando com café.- Tens razão, não pareces um sapo, pareces mais um hamster, limpa a boca que estás cheio de ovo. – Maeve não poupava o primo.Maria sentia-se culpada por lhe ter roubado o prato obrigando-o a engolir o segundo pequeno-almoço que preparara. Fionn ameaçava-a com o dedo lembrando-a que a culpa era dela. - Não tenho medo de ti Fionn. – esticava-lhe um guardanapo de papel. Saíram de casa com Fionn a accionar o alarme e a trancar a porta. Maria foi a primeira a sair da sala, despedindo-se de Sergiu que já esperava Maeve. Gostava dele apesar de saber muito pouco a seu respeito. Não podia perder tempo, fizera uma lista do que necessitava acelerando o passo enquanto mordiscava a sandes. O pior seria tirar cópias, demorava sempre uma eternidade. Não se podia atrasar ou Maeve entrava em pânico e não a podia censurar.Não conseguia deixar de pensar na importância dos dragões na vida dos MacCumhaill, mas não queria perguntar-lhes sem ter nenhum motivo concreto para o fazer, para além da sua curiosidade. Na biblioteca necessitaria da ajuda de alguém que estivesse habituado a lidar com aqueles livros e lhe indicasse o local onde encontrar a informação que procurava.Ali encontrava-se a mais antiga harpa da Irlanda, que diziam ter o poder de acalmar monstros. Talvez fosse um bom começo se a pudesse levar emprestada, depois só tinha de aprender a tocar e em vez de manejar armas como a Buffy tornava o Clã numa renovada versão da família Von Trapp.Felizmente, a bibliotecária não estranhara o pedido. Aparentemente não era a única louca a fazer requisições estranhas. Aliás, num país tão místico, qualquer pedido como o dela devia ser muito bem acatado.A mulher encaminhou-a para uma secção de onde retirou alguns livros empoeirados, pelo aspecto não deviam ser manuseados há bastantes anos, possivelmente desde que os autores os tinham escrito. Dragões não deviam ser um dos temas mais requisitados.Não tinha tempo para os ler todos e não convinha distrair-se com as horas, ou ainda matava os MacCumhaill do coração. Infelizmente não podia levar aqueles exemplares com ela. Tirou apontamentos de algumas passagens que considerou poderem vir a ser uteis, apesar de não saber concretamente o que procurava. Felizmente não se esquecera de levar o computador, mais tarde faria uma pesquisa mais vasta na internet. Ficara a saber que os Dragões eram guardiões de tesouros enterrados, depositários do conhecimento esotérico, governados por uma mulher, ressuscitavam os mortos desde que os seus ossos estivessem intactos e quem bebesse do seu sangue criava um laço com o Dragão tornando-se imortal. Olhou para o relógio, já não tinha muito tempo, felizmente a fila para as fotocópias não estava demorada pelo que decidiu esperar. Antes de sair entregou os livros à bibliotecária que de tão imóvel, parecia um dos inúmeros bustos dispersos ao longo do corredor. Saiu a correr. Levava material suficiente para os trabalhos de casa. Chegara antes de Maeve, tirou o resto da sandes comendo-a enquanto esperava.- Vais para casa? - Rita aproximara-se e vinha sozinha. Maria decidira nunca falar sobre o que acontecera com a amiga em Yggdrasil, agia como se não soubesse de nada. Havia coisas sobre as quais não necessitavam conversar e aquela era uma delas. Rita procedia da mesma maneira, nunca lhe perguntando porque passava mais tempo em Yggdrasil do que em casa. Apesar dos pais optarem por ligar-lhes para os telemóveis, na eventualidade de telefonarem para o número fixo, encobrir-se-iam. - Vou para Yggdrasil.- Ficas lá o resto da semana?- E no fim-de-semana. Precisas de alguma coisa?- Não! Mas estava a pensar levar o Pedro e um casal nosso amigo lá para casa. Vês algum inconveniente? - Nenhum, desde que não durmam no meu quarto ou no da Maeve. - Podes ficar descansada.- Antes que me esqueça, deixei-te dinheiro debaixo do telefone. Esta semana é a tua vez de ires às compras. Se te lembrares, compra-me mais gel de banho e queijo. Podes telefonar-me a qualquer hora, o meu telemóvel fica sempre ligado.- Não te preocupes. E em relação à comida ainda temos muita.- O Eoghan e o Fionn dormiram lá a noite passada e acabámos a lasanha. Deixei tudo arrumado, só não lavei a loiça, ficou dentro da máquina.- Então não te importas?- Claro que não! - Estamos à espera da Maeve? - Rita sorriu-lhe agradecida. - Sim. - Estou a vê-la. - Onde? – Maria tinha a certeza que não se enganara, tinham combinado encontrar-se naquele local.- Está a acenar-nos da porta principal. Vamos.Aceleraram o passo não queriam perder a camioneta senão teriam de esperar quinze minutos até passar outra. Saíram duas paragens antes para comprar bolos para o lanche.Quando entraram em casa Eoghan e Fionn ainda não tinham chegado, sentaram-se no sofá colocando os pés em cima da mesa enquanto comiam. Já tinham deixado as malas à porta, Maria decidira levar mais roupas. Pedro tocou à campainha ao mesmo tempo que Fionn parava à porta buzinando. Observando atentamente o homem que entrava, sabia que era um colega, possivelmente o novo companheiro de Rita. Sorria divertido ao recordar a pouca sorte do irmão.Maeve e Maria saíram de casa carregando as pesadas malas.- Podias dar uma ajudinha ou estás cansado de não fazer nada? – Maeve fulminava-o com o olhar.Fionn sorriu-lhe continuando sentado, limitando-se a pressionar o botão que abria o porta-bagagens. Maria observava-o divertida, sabia que Fionn fazia de propósito para irritar a prima.– Lesma! – Maeve atirou com força a mala para dentro do carro.- Com jeitinho princesa, se o Eoghan sabe como tratas o carro dele é capaz de não gostar.- Importas-te que vá à frente com o Fionn? - Maria tentou acalmar os ânimos.- Até te agradeço, antes que mate esta besta.Fionn divertido piscou o olho a Maria enquanto Maeve se sentava no banco de trás, olhando através da janela. Maria mal conseguia conter a felicidade que sentia por regressar a Yggdrasil. Se lhe dissessem que no dia que Rita a arrastara contra a sua vontade para aquela casa a sua vida mudaria, não acreditaria. A verdade é que o seu coração já morava naquele lugar.Na rádio tocava “Demons” dos Imagine Dragons, parecia que lhe tinham lido o pensamento.As férias de Natal aproximavam-se a passos largos. O pai até já lhe enviara o bilhete electrónico para o email. Continuava com a esperança de ver Rhenan antes de partir.Ficaria duas longas semanas em Lisboa, o tempo suficiente para matar saudades dos amigos, da família e da comida da sua avó Lena.Sentia saudades de coisas básicas como pastéis de bacalhau, croquetes, pastéis de nata, bolas de Berlim, pataniscas, o bacalhau com natas da mãe, entre tantas outras iguarias tradicionais do Natal em sua casa. Lembrar-se, abria-lhe o apetite, mas mesmo que começasse a comer mais já não tinha tempo para recuperar o peso que perdera. A mãe repararia mal colocasse os olhos nela e não deixaria passar.Tinha mesmo de comprar roupas novas, as calças já nem com o cinto bem apertado se aguentavam. Fionn trauteava as músicas que iam passando na rádio, com Maeve a resmungar entredentes no banco de trás. Maria encostou a cabeça admirando a paisagem que a continuava a fascinar como se aquele lugar tivesse sempre feito parte da sua vida.
Published on March 25, 2020 03:00
March 24, 2020
in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 8
OITO
Acaminho de Dublin passaram por sua casa onde deixaram as malas de Maeve no quarto contiguo ao seu. Rita já saíra. Maria desconfiava que depois da imagem que a amiga deixara em Yggdrasil e até que o assunto caísse no esquecimento evitaria ficar sozinha com ela. Arrumou dentro da mala os livros que necessitaria, perdera três dias e tinha de entregar diversos trabalhos naquele semestre. Os homens percorriam a casa certificando-se que estava tudo trancado, era o momento ideal para ligar aos pais. Estava mentalmente preparada para ouvir um sermão da mãe por não ter telefonado, porém depois de tudo o que passara aquela era a sua menor preocupação.Regressar para aquela casa deprimia-a, em Yggdrasil sentia-se perto de Rhenan. Andava com a carta e uma fotografia dele, que Maeve lhe dera, no bolso do casaco. Guardou-os na segurança da sua Moleskine.Respirou fundo enquanto esperava que a mãe atendesse, foi para a caixa de mensagens. Tentou o número do pai, também estava desligado. O pânico ameaçava tomar conta dela, temia que já estivessem dentro de um avião a caminho de Dublin. Com as mãos a tremer ligou para o número fixo da casa. Atendeu a empregada, os pais estavam de férias no Brasil, mas tinham-lhe enviado uma mensagem para o correio electrónico. Agradeceu, desligando com o coração a bater descompassadamente. A verdade é que já não lia o email desde quinta-feira. Abriu o computador que continuava na mesa da sala onde o deixara, viu a mensagem da mãe a informá-la que tinham ido para Fortaleza com os tios e o habitual grupo de amigos. Deixara o contacto do hotel e o número do quarto, enviou-lhes uma mensagem de resposta. Sabia que a mãe só a iria ler quando regressasse a Lisboa e enquanto andasse ocupada não se lembraria de lhe ligar. Respirou de alívio. Preparava-se para desligar o computador quando chegou uma nova mensagem, de Rhenan. O coração disparou. Hipnotizada olhava para o ecrã sem saber se a devia abrir. Sentia-se triste desde que partira sem se despedir e naquele momento ler o que lhe escrevera não ajudaria a melhorar a sua disposição. Concentrar-se-ia no que tinha de fazer e afastaria os pensamentos dele. Olhou uma última vez para a mensagem antes de desligar o computador. Maeve ambientava-se ao seu novo espaço.Maria dera-lhe o quarto que os pais tinham escolhido para eles quando a visitassem. Tinha uma cama de casal e era bem maior do que o dela. A casa começava a parecer-se com uma república.- Adorei o meu quarto. - rodopiava feliz, sentia-se como uma rapariga da sua idade. Ia frequentar a universidade, conhecer pessoas, fazer amigos, ser normal durante o tempo que lhe fosse permitido. Maria sorria-lhe divertida.- Maeve não nos podemos esquecer que a Rita também aqui vive, temos de ter muito cuidado com o que dizemos.- Fica descansada, vou estudar, comer, beber, dormir e namorar. Vou portar-me muito bem.- O que pensam os teus primos da parte do namoro? - Não lhes disse, – piscou-lhe o olho animada - mas também não precisam de saber tudo.- Se depender da tua segurança têm de saber o que fazes e por onde andas.- Para isso tenho-te a ti.- Sim, até porque eu sou uma grande protecção. - Já foste. – aproximou-se abraçando-a.- Desconfio que vamos ter muitos segredos. - Já estou a adorar a vida universitária. - suspirava de pura alegria.Maria sorriu-lhe, era difícil não ser contagiada pela felicidade de Maeve.- Tens tudo? Maeve anuiu com a cabeça pegando na mala que comprara propositadamente para as aulas. - Temos de ir. Não queres chegar atrasada no teu primeiro dia.Maria agarrou na mala seguida de Maeve com a escolta de Eoghan e Fionn que trancou a porta guardando a chave no bolso. Combinaram que nos dias em que as aulas acabassem ainda com a luz do dia seguiam para casa de camioneta, nos outros, eles estariam à sua espera para as levar em segurança para casa.Aos fins-de-semana ficariam em Yggdrasil.Maria queria começar a ler tudo que lhes dizia respeito, os costumes antigos. Os homens já a tinham avisado que tinha de aprender a lutar. Começava a ter visões recorrentes com Lochan, apesar de ainda não lhe ter visto o rosto sabia que era ele, o timbre da sua voz era igual à de Rhenan.Tentara provocar uma visão, mas a única coisa que conseguira fora uma valente dor de cabeça e um sonho atribulado, onde Rhenan, a amava apaixonadamente. Tinha sido um sonho tão real que acordara nua na cama dele, com o coração a saltar-lhe do peito, a respiração ofegante. Como ali chegara continuaria a ser um mistério, nessa noite decidira dormir na cama dele, queria senti-lo. Quando a excitação abrandara caíra num sono profundo e sonhara que dormia nos seus braços.
Os dias passavam normalmente, nem Fadasnem seres ainda mais esquisitos, apesar de os escutarem mal caía a noite.Eoghan tirara-lhe os pontos e quase nem se notava cicatriz. - Estou pronta para outra.Olhou para ela espantado.- Podes ficar descansado, não estou a falar a sério. – riu-se divertida com o olhar que lhe deitou. Eoghan era muito cuidadoso, voltando a desinfectar-lhe o braço. – Sabes que também te adoro. – esticou-se dando-lhe um beijo de agradecimento.Eoghan sorriu-lhe.- Também te amo. Abraçou-o, beijando-o.Eoghan apertou-a num forte abraço.- O meu irmão tem muita sorte por te ter encontrado, nunca pensei voltar a ver-lhe vida no olhar.Fionn parado à porta do quarto de Maria apreciava.- Que lindo! Se o Rhenan te vê abraçado e aos beijos à mulher dele a coisa pode ficar feia.- E se não saíres daqui depressa pode ser que fique ainda pior para o teu lado. - Eoghan piscou o olho a Maria enquanto ameaçava Fionn.- Considera-te avisado. – afastou-se a sorrir, reparara que a ferida cicatrizara bem, mal se notando. A pequena sidhe era forte e isso agradava-lhe.
Tal como a estupidez de Fionn se mantinha inalterada, a alegria de Maeve era contagiante e como seria de esperar o grupo aceitara-a de imediato. Entre Sergiu e Maeve existia algo mais, o homem bebia os ares por ela e aparentemente era correspondido. Maria dava-lhes espaço acabando por ter mais tempo para si. Sergiu inspirava-lhe confiança, parecia-lhe tão protector como os irmãos MacCumhaill nunca se apercebera disso até o ver com Maeve. Algo lhe dizia que se necessitassem da sua ajuda saberia o que fazer para as defender.Lug continuava a segui-la a uma distância segura sabendo que os irmãos andavam por perto. Maria habituara-se a cumprimentá-lo sempre que o via, dava-lhe um prazer especial saber que irritava aquela Fadametediça. Tinha vontade de o chamar e perguntar-lhe porque continuava a segui-la, mas Maeve assustara-a tanto com a má fama das Fadasque mudara de ideias. Maeve explicara-lhe que o ataque fora com toda a certeza perpetrado pelas Sombras, almas do submundo, as mesmas que ouviam lamuriar-se todas as noites. Tinha de se informar sobre elas antes de regressar a Lisboa, não queria levar na bagagem toda aquela loucura sabendo que colocaria a sua família em perigo. Já sabia quem era Lug, que respondia somente à sua Rainha Danu e que com as Fadastudo tinha um preço. Comprou uma sandes de ovo, uma garrafa de água e sentou-se no seu banco de eleição no campusdo Trinity College. O longo banco de madeira tinha gravado no encosto, que fora oferecido em memória do professor F. Sleith, pela sua mulher. Em todos os bancos espalhados pelo campusestava gravado o nome de alguém, imortalizando-os. Passou a mão ao longo da inscrição, era agradável poder ser recordado de uma maneira tão simples por quem os amara. Colocou a mala no chão, passara muito tempo desde que tivera um momento sozinha, fechou os olhos reclinando-se. O sol aquecia o suficiente para não querer sair dali para se fechar numa sala fria e impessoal. Permitiu que a mente viajasse. Estava deitada num campo verde perto de um lago de águas escuras, ovelhas pastavam não muito afastadas do local onde se encontrava. Ouvia a voz de um homem, chamava-a, levantou a cabeça na sua direcção, sentia os olhos pesados, não os conseguia abrir, mas soube quem era. - Lochan?- Dia duit! Conas tá tu!Rhenan caminhava pelo quarto. Angustiado por estar afastado de Maria. Sabia que podia contar com os irmãos para a protegerem, que tinha sido bruto quando falara com Eoghan, contudo, quando vira a mãe caída no chão do quarto a tremer e a gritar para que Maria acordasse, desesperara. Tentara ligar-lhe diversas vezes sem sucesso. Percebera que necessitava de ajuda e nunca chegaria a tempo de a salvar do que se aproximava. Fora o seu telefonema para o irmão a indicar-lhe que Maria talvez ainda estivesse dentro do campus, que fizera com que Eoghan chegasse tão depressa. Eoghan acabara de os colocar ao corrente sobre o novo e estranho encontro entre Maria e Lochan. Escutara com atenção como o irmão a protegera apesar de se encontrar preso num limbo até então desconhecido para todos. Deixara-lhe uma carta, não sabia se a lera. Maria fazia-lhe falta. Tentara convencer a mãe a deixá-lo regressar, sem sucesso, continuava irredutível na sua decisão. Talvez tivesse razão, não conseguia garantir manter-se afastado dela, queria-a na sua vida, na sua cama. Sonhava constantemente com ela e a última vez que o fizera tinha sido intenso. Maria procurara-o, deitando-se a seu lado, podia jurar que a sentira, mas ansiava por mais. Acordara com a sensação de vazio por estar sozinho na enorme cama. Não sabia o que a sidhe lhe fizera, mas nunca em todos os seus anos se sentira tão submisso. Noutras condições, num mundo ideal podiam ser felizes, para já tinham de se contentar com o que conseguissem e tentar manter-se vivos.Afastou os lençóis, caminhando descalço, agarrou no telemóvel pousado em cima da cómoda olhando para a fotografia que guardava de Maria, a mesma que Fionn lhe enviara. Conhecia o irmão para saber que o fizera unicamente para o provocar, deixando-o ainda mais desvairado do que já se encontrava. Quando voltasse teria umas contas a ajustar com ele sobre aquela foto. Maria dormia nua na sua cama. Chegava a ser ridículo estar refém da mãe quando podia estar com ela. Voltou a olhar para a imagem passando-lhe o dedo, acariciando-a, era assim que se recordava dela no sonho. O facto de saber que Maria sentia a sua falta, ao ponto de se deitar na sua cama para estar perto dele, fazia-o tremer de desejo. Falaria com a tia, tinha de o ajudar a convencer a mãe a deixá-lo regressar ou enlouquecia. Queria construir o seu lar ao lado de Maria.Voltou a pousar o telemóvel olhando para o relógio, passava pouco das cinco da manhã em Dublin menos uma hora do local onde se encontrava. O seu último pensamento foi para ela. - Tá grá agam ort Maria! Mais do que a vida.
Na protecção que o escuro lhe conferia, Goll não estava satisfeito. Tivera a oportunidade de apanhar a sidhe dos MacCumhaill, mas quando se aproximara, escapara-lhe. Hel devia ter ajudado, mas o ódio que sentia pelo líder do Clã era tão grande que quando não o encontrara nos limites da propriedade começara a vaguear sem rumo à sua procura. Era difícil controlar as criaturas das trevas quando se alimentavam exclusivamente do ódio, da última lembrança terrena que tinham. Hel tentara matar, sem sucesso, a jovem fêmea do Clã, porém a estranha que os acompanhava atravessara-se no seu caminho utilizando o corpo como escudo para a proteger. Fora o suficiente para perceber que para atingir o Clã, tinha de começar por se livrar daquela criaturinha intrometida. Hel rodopiava à sua volta, perdera toda a beleza que tivera em vida, os farrapos que trazia agarrados ao corpo eram reminiscências das roupas com que morrera. Sentia nojo da traell, nem em vida permitiria que se aproximasse dele. As outras Sombras sabiam quem era e temiam-no, ninguém ousava pronunciar o seu nome. Goll MacMorna.Atraído para a morte pelos filhos dos seus inimigos, assassinado por lacaios dos MacCumhaill, o corpo abandonado a apodrecer. Odiava-os, mas a sua oportunidade de se vingar chegaria. Tinha de encontrar as chaves se queria voltar a caminhar no mundo dos vivos e acabar definitivamente com o Clã, infligindo-lhes todo o sofrimento que conseguisse. Manteria Hel por perto, ainda podia vir a ter alguma utilidade, quando não precisasse mais dela destrui-la-ia, a sua presença enojava-o. Porém tinham um inimigo comum e era neles que se tinham de concentrar, nada mais importava. Gol tinha conseguido com o auxílio da Bruxa que já o ajudara em vida e a pedido da Deusa caída em desgraça uma forma de se vingar dos MacCumhaill e esse dia estava a chegar.Afastou-se das almas que continuavam a mover-se sem destino. Conseguia caminhar livremente no interior da propriedade apesar de a entrada lhes estar vedada. Tinha uma poderosa protecção, a luz azul brilhava ao seu redor ferindo-o.
Published on March 24, 2020 03:00


