M. Barreto Condado's Blog, page 7

September 14, 2019

in "FAMÍLIA IDEAL - DIA CINCO - REFEIÇÕES GOURMET", de MBarreto Condado


Dia Cinco
O cavalheirismo morreu.
Ou talvez seja somente o tempo a passar demasiadamente depressa.
Não nos dando o tempo necessário para nos apercebermos das suas alterações.
A verdade é que não nos habituamos. Adaptamo-nos.
Devido à educação que nos é incutida desde o berço, acreditamos cegamente que as pessoas com a mesma criação não mudam.
Infelizmente! A vida mostra-nos uma realidade totalmente diferente, avisando-nos subtilmente que se nos mantivermos iludidos acabamos esbofeteados de luva branca por quem julgávamos conhecer e, que não é outra senão a nossa venerada família.
A custo aprendemos a aceitar a sinistra metamorfose das nossas melhores memórias, pelos seus piores vícios. E se em crianças nos avisam para termos cuidado com as companhias, nunca nos preparam para encontrarmos as piores nos nossos.
O cavalheirismo morreu e, sem nos apercebermos foi substituído pelo interesse, a desconfiança, a apatia.
E as pessoas são o que são!
Por esse motivo, naquele jantar como em todos os outros programados por uma das mentes mais iluminada da família. E, no final de mais uma sumptuosa refeição, num dos melhores restaurantes do Algarve. No momento em que o empregado colocava a conta no centro da mesa, quase tão comprida como a própria, para os treze comensais, ninguém fez menção de puxar da carteira. Protelando ao máximo aquele desagradável momento.
Os mais velhos queriam despachar-se, levantar-se, ir-se embora, regressar ao sossego do casebre alugado a peso de ouro. Porém, as conversas continuavam animadamente no canto oposto da mesa, ignorando propositadamente a conta.
As crianças. Uma cópia em modelos pequenos dos irritantes pais, comiam em quantidade o que os progenitores absorviam em cervejas. Saltando da mesa tão malcriadamente como se tinham comportado durante toda a refeição, arrastando as cadeiras, atirando ao chão guardanapos e talheres, perante o sorriso complacente e orgulhoso dos papás. Afinal o empregado tinha que fazer alguma coisa quando se fossem embora.
O cavalheirismo pode ter morrido, mas a falta de educação…infelizmente, passou a ser justificada como hiperactividade.
A conta permanecia no centro da mesa, sem que ninguém lhe tocasse. Possivelmente, com receio de que se o fizessem pudessem ser transportados para uma estranha dimensão.
Finalmente! E, para gáudio dos mais velhos, alguém estende uma mão agarrando-o, mantendo na outra a aplicação da calculadora do telemóvel preparada.
Ao valor final, depois de acrescentada a gorjeta e, sem que ninguém tenha tempo de se aperceber do que aconteceu, racha-se a conta por casais. Ficando de imediato esclarecido que as crianças não pagam!
O cavalheirismo morreu e, já nem é pó. Mas o cinismo, o oportunismo, a cara de lata, tomaram robustamente e na perfeição o seu lugar.
Dos treze comensais só dois são casais e, obviamente não pagarão a conta de todos. É nesse momento que a mente iluminada da mesa, a mesma que faz as contas minuciosamente possivelmente com o cérebro mirrado pelo excesso de sol e de álcool. 
Ela, o marido e o filho pagam como casal.
A cunhada, o marido, o filho e o sobrinho, que coitado só consegue manter no estômago “gambas al ajillo” pagam como casal.
O pai que é viúvo, paga como casal.
A tia que é viúva paga como casal.
A prima mais nova que é divorciada e que levou com ela os três filhos, simplesmente não paga porque não é um casal.
Está decidido! O valor total fica em cinquenta e quatro euros a dividir pelos quatro casais.
Ninguém reclama. Ninguém diz nada. Não existem palavras suficientes para descrever o absurdo da situação.
Levantam-se da mesa, uns com alguma dificuldade devido aos vapores do álcool. Outros com a carteira estranhamente mais leve tal como os estômagos.
Dois casais, que não o são, começam a sentir os primeiros sintomas de azia e possivelmente uma colossal indigestão.
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Published on September 14, 2019 02:00

September 11, 2019

LUA DO LOBO, IRMANDADE DA CRUZ


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Published on September 11, 2019 02:00

September 10, 2019

September 9, 2019

CITAÇÃO

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Published on September 09, 2019 02:00

September 8, 2019

in "FAMÍLIA IDEAL - DIA QUATRO - FÉRIAS DE VERÃO", de MBarreto Condado


Dia Quatro
O calor sufoca!
O Verão chegou finalmente!
Fechamos os olhos permitindo que a nossa mente se dirija para o mar salgado. O seu sussurro desperta-nos os sentidos. Conseguimos sentir o seu cheiro, escutar o seu dengoso enrolar na areia, arrastando consigo pedras e conchas vazias que vai depositando suavemente no areal.
De olhos fechados, sentimos a brisa fresca com que nos bafeja, com os pés imersos nas águas aquecidas pelo sol. Perdidos na imensidão que se abre à nossa frente vislumbramos velas brancas no horizonte.
Quando voltamos a abrir os olhos e nos afastamos das memórias das férias, o calor ainda asfixia! Mas a decisão está tomada.
Vamos de férias!
Com tantos locais por onde escolher a maioria dos portugueses ainda prefere o Algarve.
Os motivos são os mais diversos. Há quem diga que o faz por as águas serem mais quentes, porque o sol aquece mais, porque as noites são animadas com festas, feiras, música, jet-set (oito ou nove. dependendo do local), bronzeados dourados, desportos náuticos e, tanto, tanto mais…
Mas os tempos mudam, o clima também e, a verdade é que continua a ser de bom tom dizer que as férias de Verão foram passadas no Algarve. Quem de lá regressa até assobia e bate os dentes de excitação quando fala de tudo o que fez.
A realidade, porém, nunca é contada na sua totalidade.
Os dias são passados a tentar arranjar no meio de um mar de gente, um lugar onde estender as toalhas, evitando a sombra do guarda-sol das famílias circundantes. O som estridente dos gritos das crianças que nos entopem os ouvidos, entorpecendo os sentidos e, impedindo-nos de escutar o tão desejado som do mar. Areia projectada com o sacudir de tolhas na nossa direcção, inadvertidamente ou não, obrigando-nos a cuspir a que nos entra pela boca e a lavar os olhos com a única garrafa de água que levamos para beber. Uma bola desencabrestada que nos vem acertar em cheio na cara, deixando-nos num estado semicomatoso, olhando em volta tentando descobrir o dono de tamanha proeza.
Férias!
Descanso!
Mês de Agosto!
Combinação perigosa mesmo para os mais audaciosos.
Porém, os tempos mudam, as vontades também e as modas, …as modas, …essas acabam por ser a perdição de muitos.
Nos recentes anos, tornou-se muito jet-dez rumar ao Algarve para um qualquer aldeamento, preferencialmente com piscina e bar.
E, é no difícil momento da escolha, que temos a obrigação de dar graças pelas iluminadas almas caridosas que ainda existem na família. Aquelas de que dependemos no momento da escolha.
O que seriamos sem elas?
O auge da nossa felicidade é alcançado, quando nos arranjam um apartamento que supera todas as nossas iniciais expectativas. Três assoalhadas, kitchenette, casa de banho, pequena varanda relvada com abertura para a área da piscina, praticamente encostado à praia.
E, por este pequeno pedaço de paraíso a modesta quantia de quatrocentos e cinquenta euros (duzentos e vinte e cinco euros se conseguirmos convidar alguém para rachar a estadia durante dezassete dias). Com boa vontade ainda convidamos um amigo, que não se importe de dormir na sala.
Maravilhoso! Os milagres acontecem! E, bendita a família que tanto nos acarinha.
Arranjar quem nos acompanhe nas férias torna-se uma tarefa fácil. A dificuldade é rejeitar os inúmeros pretendentes. Afinal são só dois quartos e uma sala.
Já só temos que nos preocupar com as refeições.
E então acontece um novo milagre.
Um dos membros da nossa família ideal faz questão de tomar a seu cargo todas as nossas refeições.
Respiramos de alívio. Até porque cozinhar em férias, ou em qualquer outro momento, é enfadonho e cansativo. E afinal, férias são férias.
Menos gastos…tudo corre de feição.
Seguimos pela A1 para o nosso destino no Algarve, sem nos apercebermos que só em portagens e gasolina, gastamos o suficiente para alimentar uma família durante uma semana e, ainda nem estamos a pensar no regresso.
CHOQUE!
Afinal o apartamento não tem três assoalhadas, kitchenette, casa de banho, pequena varanda relvada com abertura para a área da piscina. O tão almejado palácio não passa de uma sala dividida ao meio por um biombo. A piscina nem se vislumbra. Para chegarmos à praia andamos pelo menos duas horas, onde com o calor começamos passados poucos minutos a ver miragens. Sem falar que ainda temos que regressar.
As refeições diárias, passam de faustosas, a bolachas de água e sal com um copinho de leite frio. Felizmente o minúsculo frigorifico funciona. Apesar dos estranhos ruídos que lembram uma velha locomotiva a carvão, o som que nos embala durante todo o dia e noite.
Quem se responsabiliza por nos encher o bucho, desaparece misteriosamente por motivo de trabalho. Porque como todos sabemos o maior problema das férias é exactamente o excesso de responsabilidade patronal que levamos na bagagem.
E, como com a promessa do paraíso, vem sempre a maçã envenenada. Ao sétimo dia, numa estranha analogia com a criação do Mundo. É-nos apresentada à laia de merceeiro, de lápis gasto e guardanapo de papel, numa das mesas da famosa piscina do aldeamento, a quantia de quatrocentos euros a pagar por cabeça. E, ninguém melhor para fazer a bendita conta com os devidos acertos a pessoa cujo trabalho não lhe dá descanso.
As Férias chegam ao fim. Felizmente, enquanto ainda temos dinheiro para regressar, para as portagens e a gasolina.
Voltamos com o nariz queimado pelo excesso de cloro da piscina. Meios surdos com os gritos das crianças. Com dores em partes que desconhecíamos do nosso próprio corpo, pelas raras vezes que tivemos a felicidade de encontrar cadeiras para nos sentarmos durante o tempo que ali passámos.
O calor sufoca!
Mas nada sufoca tanto como a honestidade e presteza da nossa família ideal.
Bem-haja!
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Published on September 08, 2019 02:00

September 7, 2019

In "FAMÍLIA IDEAL - DIA TRÊS - INÍCIO", de MBarreto Condado


Dia Três
Esquecemos diariamente de agradecer a maior dádiva que nos foi oferecida.
A Vida!
A nossa maior preocupação continua a ser sentirmos que não temos o suficiente, que devíamos, merecíamos ter mais.
Só pelo facto de acordarmos e respirarmos num novo dia devíamos estar gratos. Aproveitar para honrar a memória de quem nos agraciou com tão grande oferta. Mesmo que já não esteja entre nós, sem nos esquecermos de quem ainda está. Com quem felizmente ainda podemos conversar, gritar, rir, chorar, tocar.
O nosso obrigada a quem partiu. Independentemente dos mais dispares sentimentos que ficaram, das mágoas, de tudo o que ficou por dizer, por fazer.
A quem fica devemos-lhes tudo, a verdade é que também não sabemos quanto tempo ainda nos resta.
Dizem que não pedimos para nascer.
Mas felizmente para nós, foi-nos permitido respirar e, começar a vida que nos está reservada. Com todos os seus altos e baixos. E, independentemente dos solavancos que encontraremos, devemos fazê-lo sempre de cabeça erguida.
Iremos cair! Levantar-nos! Voltar a cair! Porém, voltaremos uma vez mais a erguer-nos. Sacudindo após cada queda, com maior ligeireza o pó que já não se agarra a nós como o fazia no início.
Cada pedra que encontrarmos a tapar-nos a passagem, com maior ou menor esforço afastamo-la sem a deitamos fora porque todas fazem, parte do caminho que nos estar reservado. Pontuado aqui e ali com as marcas das nossas mãos. As lembranças que deixaremos a quem nos conheceu e foi permitido percorrer parte desse caminho na nossa companhia.
Será um número restrito de pessoas? Só depende de nós e das nossas escolhas.
A nossa estrada será sulcada de obstáculos, buracos de desespero, montes de felicidade, rios de tristeza, vales de amor, e serão só nossos.
Não escolhemos a família que temos!
Mas se o pudéssemos fazer, escolheríamos melhor?
Reencarnamos numa tentativa de nos reencontrarmos e corrigir o mal que fizemos em vidas passadas?
Mas e se nesta vida fizermos exactamente o mesmo?
Ser-nos-á dada uma última oportunidade? Seremos castigados ou recompensados?
O que é certo? O que é errado?
Os nossos sentimentos, as nossas acções estão correctas ou estaremos tão convencidos da nossa perfeição que não prestamos a devida atenção ao que nos rodeia?
O tempo que temos é curto para respondermos a todas estas questões, para fazermos o que ainda não fizemos, lermos os livros que ainda não foram escritos, viajar para aquele local cuja existência desconhecemos.
A família é-nos imposta pelo sangue?
NÃO!
Família é quem nos quer bem, quem desejamos ter ao nosso lado para sempre.
E nunca é tarde demais para dizer…BASTA!
Chegou a altura de afastarmos os vórtices que nos sugam a energia e, deixarmos de ser meros capachos de caprichosos ignóbeis.
Na nossa família partilhamos parte do nosso ADN, mas a pessoa em que nos tornamos depende somente das nossas decisões. As mesmas com as quais teremos que viver.
Arrependemo-nos de muitas? Sim.
Mudaríamos outras tantas? Certamente.
Iria isso alterar de alguma forma no que nos tornámos? Possivelmente.
Uma família ideal tem que ser o local onde se fala de tudo. Onde não existem segredos. Onde se ama incondicionalmente. Onde nos defendemos. Onde encontramos o nosso porto seguro. Onde quem nos ajudou a dar os primeiros passos sinta que no final do seu percurso tem o apoio de que necessita, sem ter que o mendigar.
Será que existem famílias ideais?
Gosto de pensar que alguns de nós chegam perto da desejada perfeição nas suas acções.
Será a minha alargada família a ideal?
Longe disso!
Será a minha restrita família a ideal?
Ainda não!
A cada suspiro continuo a afastar as pedras do meu caminho, cada vez com menor dificuldade. Felizmente aprendi com as inúmeras quedas a limpar o pó com maior facilidade.
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Published on September 07, 2019 02:00

September 6, 2019

CITAÇÃO

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Published on September 06, 2019 02:00

September 5, 2019

CITAÇÃO

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Published on September 05, 2019 02:00

September 4, 2019

September 3, 2019