M. Barreto Condado's Blog, page 9

August 11, 2019

ENTREVISTA a Angela Saini autora do livro, INFERIOR / Edições Desassossego


      "Temos que nos esforçar permanentemente para alcançarmos o mesmo estatuto dos homens"

Angela Saini nasceu em Londres em 1980. Possui dois mestrados em Engenharia pela Universidade de Oxford e, em Ciência e Segurança pela King's College de Londres. Trabalhou como repórter da BBC. Em 2008 tornou-se escritora freelancer. Em 2009 foi nomeada Jovem Escritora Europeia de Ciências.
Publicou os livros:2011 – Nação Geek: Como a ciência indiana está a dominar o mundo.2018 - Inferior: como a ciência sempre desvalorizou a Mulher e os novos estudos que estão a corrigir esse erro. 2019 - Superior: o retorno da ciência racial.

Foi acerca do seu livro “Inferior: como a ciência sempre desvalorizou a Mulher e os novos estudos que estão a corrigir esse erro” publicado este ano pela Desassossego uma das chancelas da Editora Saída de Emergência que conversámos com a autora.
MBC – O que a levou a escrever este livro?
AS – Pura coincidência. Foi-me pedido por um grande jornal do Reino Unido um artigo sobre a menopausa, um assunto sobre o qual confesso nunca ter pensado até esse momento. Por esse motivo tornou-se num estimulante fazê-lo. Independentemente de ter aceite este desafio, decidi abordar o tema sob uma perspectiva mais científica, começando pela explicação evolutiva. O motivo pela qual a mulher experimenta a menopausa. O que descobri é que a menopausa é extremamente rara na maior parte das espécies animais. Além dos seres humanos e das Orcas, são poucas as espécies que passam por este processo. O mais bizarro foi descobrir que a menopausa não é comum a nenhuma espécie de primatas. Após intensa pesquisa deparei-me com diversas teorias. Por exemplo, a teoria da avó que diz que as mulheres à medida que envelhecem são tão cruciais para a sobrevivência de filhos e netos que aumentam a sua longevidade ao ponto de se tornarem estéreis. Uma outra teoria publicada por três canadianos dizia que as mulheres se tornam inférteis porque com a idade deixam de fazer sexo. É evidente que mesmo na altura da sua publicação foi refutada por estar pobremente fundamentada. Não existia nenhuma base evolutiva nesta concepção, nada do que diziam fazia sentido por não existirem dados que comprovassem as suas afirmações. Contudo, fascinou-me ver que com base no género, as pessoas têm opiniões diferentes sobre este fenómeno biológico. O que me levou a explorar o que mais existe na biologia humana, o que nos diz entre as diferenças entre homens e mulheres, particularmente sobre as nossas mentes e corpos. Mas, principalmente como mulher queria factos, saber o que a ciência realmente diz sobre quem sou, quem é a minha mãe, as minhas irmãs, as minhas amigas. Queria respostas para mim e, entendi que essa seria a minha jornada de descoberta.
MBC – Escrever este livro alterou em algum aspecto a sua visão sobre a ciência?AS – Muita da minha pesquisa como jornalista científica é olhar para os problemas dentro da ciência. A minha função não é trair a ciência, mas descobrir erros, entender as agendas dos cientistas sejam elas pessoais ou políticas, os financiamentos que recebem, tudo o que possa perturbar o processo científico que leva a ciência a não ser confiável aos olhos do público. Tento selar pela acuidade da ciência, nesse sentido não me surpreendeu saber que existiam graves problemas dentro da comunidade científica. Porém, como ser humano e vivendo inserida na sociedade utilizo a minha escrita para expressar a maneira como penso. O porquê da existência de todos esses estereótipos? As suposições sobre quem somos?Devido à teoria da Avó deixei de pensar da mesma forma sobre a maternidade ou o envelhecimento. Embora sempre tenha sido feminista, de ter sempre lutado pelos direitos das mulheres, toda a minha pesquisa deu-me uma nova dimensão, reafirmando o meu feminismo.
MBC – Sendo jovem, mulher, brilhante e bonita não encontrou oposição por parte dos cientistas? AS – Ainda é um problema. Qualquer mulher que escreva na área das ciências enfrenta barreiras porque não somos levadas a sério no nosso trabalho. Mesmo hoje quando entro numa livraria reparo que existem inúmeras escritoras publicadas na área da ciência, mas, por alguma razão, os escritores têm maior relevo na divulgação do seu trabalho. O que confesso me deixa extremamente frustrada porque existem brilhantes escritoras e no fundo acabamos por ser tratadas quase como se o nosso trabalho se limitasse a ser uma continuação do trabalho dos homens. Espero ansiosamente que isto mude e, acredito que aconteça se pressionarmos o sistema imposto.
MBC – Em geral, os homens ainda pensam que as mulheres têm corpos e mentes fundamentalmente diferentes?AS - Ainda há pessoas que pensam dessa forma. Existem obviamente algumas diferenças entre homens e mulheres. Nos nossos sistemas reprodutivos, diferenças médias na altura, mas muitas destas diferenças são tidas em média, por isso existem muitas mulheres que são mais fortes do que alguns homens, outras que são mais altas. Psicologicamente, quase não existem diferenças. Acho que essa foi para mim a maior revelação. Quando olhamos para estudos psicológicos, dificilmente encontramos diferenças. Limitamo-nos a acreditar quando nos afirmam que existem grandes lacunas entre os géneros, em assuntos como a matemática ou o raciocínio verbal. Na realidade essas lacunas não existem. É nesse momento que nos devemos interrogar porque nos dizem que existem. E rapidamente concluímos que se deve à sociedade e à cultura na qual vivemos que ainda não mudou o suficiente para contrariar estes dogmas.
MBC – Nos nossos tempos não acha estranho que alguns homens ainda se sintam superiores?AS – A meu ver o problema reside nas mulheres que continuam a pensar que existem diferenças. Mas isso é o que a cultura nos faz crer quando nos diz que a mulher tem um lugar específico, um papel a desempenhar na sociedade. E é claro que para muitos homens beneficia-os manterem esse status quo.
MBC – Mesmo no mundo moderno?AS - Mesmo no mundo moderno! É triste dizer, mas até em muitas mulheres da minha idade. Uma das melhores mensagens que recebi quando "Inferior" foi publicado, veio de uma menina na Índia que leu o livro e o deu à mãe para o ler. O pai era muito patriarcal, dominante. O que me disse foi que após a mãe o ler começou a enfrentar o pai. Esta mensagem foi a mais importante que já recebi. Se as mulheres se conseguem sentir fortes ao lerem “Inferior” sinto que atingi o meu objectivo.
MBC – No fundo é essa a mensagem que quer passar no seu livro? AS – Sim. Espero que as pessoas o leiam e que desafiem as suas bases. Quer sejam homens ou mulheres. Mas adorava que as mulheres se sentissem particularmente fortes com o que a ciência realmente diz sobre quem somos. Não somos aquelas criaturas fracas que durante décadas, séculos nos levaram a acreditar. Podemos fazer o que quisermos, ter uma sociedade mais igualitária e tudo o que necessitamos é tão simples como trabalhar em conjunto, lutar por esses direitos, quebrar de uma vez as barreiras políticas e culturais.
MBC – Mas concorda que em 2019, ainda temos que trabalhar o dobro dos homens para provar o nosso valor? AS - As dificuldades que eu e outras mulheres cientistas ainda sentimos, não nos obriga somente a trabalhar duro para chegar onde estamos, temos que provar ao mundo que somos capazes de fazer o mesmo que os homens mostrando que é possível, normal. Provar que podemos ser as pessoas que pensam que não conseguimos ser. Existem camadas de barreiras com as quais lutamos o tempo todo. Temos que nos esforçar permanentemente para alcançarmos o mesmo estatuto dos homens. Para algumas mulheres, é mais fácil para outras mais difícil.
MBC – Durante a gravidez sentiu-se de alguma forma posta de lado?AS - Antes de ter filhos trabalhava como repórter e tive que desistir porque me ocupava todos os dias em qualquer horário. Sabia que meu marido não iria desistir do trabalho dele, por isso quando tomei conscientemente a decisão de ter filhos, desisti desse trabalho e, foi nesse período que comecei a escrever. Não me arrependi da minha escolha, até porque tive que aprender a conciliar o meu trabalho com ser mãe. Mas gostava que a sociedade fosse estruturada de maneira a que as mulheres não tivessem que fazer estas escolhas o tempo todo. Penso que a maioria das indústrias ainda opera com base no princípio de que haverá sempre alguém em casa e, isso é realmente algo que precisamos alterar. Se não ficar ninguém em casa com as crianças como podemos dar o nosso melhor no nosso trabalho? E não falamos apenas das crianças. Falamos do trabalho doméstico, cozinhar, limpar, fazer compras e todas as outras coisas que necessitam de ser feitas. Uma casa tem que ser governada e isso também é trabalho.
MBC – No entanto na maior parte dos casos os melhores e mais bem remunerados empregos continuam a ser entregues a homens. AS - No Reino Unido, existe uma enorme diferença salarial. Penso que isso ainda é um problema e, que se deve a diversas razões. Em parte, o sexismo. Temos vencimentos inferiores fazendo exactamente o mesmo trabalho. Em parte, a própria história. Afinal o homem tem estado na força de trabalho há mais tempo e as mulheres desistem de trabalhar para terem filhos. Mas ainda temos um outro aspecto que a meu ver é muito mais complicado, quando as mulheres começam a fazer um trabalho são desvalorizadas, dou-lhe o exemplo da programação informática costumava ser um trabalho feito exclusivamente por mulheres por ser um trabalho enfadonho logo só uma mulher gostaria de o fazer. Mas de um momento para o outro a indústria tornou-se numa profissão altamente valorizada e as mulheres foram sendo lentamente excluídas e, agora os homens dizem que as mulheres não percebem de programação. Necessitamos de continuar a lutar para que uma mulher que faça exactamente o mesmo trabalho que um homem receba o mesmo. Ao mesmo tempo que damos mais valor a todo o outro trabalho que tradicionalmente fazemos.
MBC - O que pensa dos homens que ainda mantêm os melhores cargos de liderança?AS - Acho que em posições de grande poder, damos ao homem muito mais espaço para fracassar do que damos às mulheres. Quando uma mulher falha, causa impacto em todas as mulheres, automaticamente está a prejudicar-nos a todas. Mas se um homem falhar, é aceitável. Ele é um indivíduo que teve o azar de falhar e nós perdoamos. Por isso sim, continuam a existir padrões diferentes.
MBC - Aos nossos leitores em Portugal que ainda não a conhecem porque ainda não leram os seus livros, como gostaria de apresentar “Inferior”?AS - Gostaria de dizer a todas as pessoas que nos dizem que a igualdade é impossível porque somos naturalmente diferentes, que não há nada na biologia que diga que a igualdade não pode vencer. Antes pelo contrário devemos sentir-nos fortalecidas com essa constatação. Como disse, esta jornada mudou a minha vida e espero que mude vidas.










Texto e Fotos: MBarreto Condadoin Jornal Nova Gazeta, 11 Agosto 2019
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Published on August 11, 2019 06:05

August 5, 2019

August 3, 2019

Entrevista a Jack Lewis autor do livro, A CIÊNCIA DO PECADO / Edições Desassossego


“Para permanecermos nas boas graças das outras pessoas, devemos receber elogios com aparente humildade – mesmo que o nosso coração esteja pleno de arrogância, fel e orgulho”


(Orgulho, Gula, Luxúria, Preguiça, Avareza, Inveja, Ira)

Quisemos conhecer melhor Jack Lewis, o neurobiólogo e apresentador de televisão. Agnóstico confesso, que em criança adorava cantar no coro da Igreja. E foi numa conversa descontraída que nos explicou o que o motiva, a razão que o levou a escrever este livro e, porque o devemos ler.


MBC - Todos os dias enfrentamos uma batalha interna para nos mantermos afastados das tentações. Na sua opinião quais são as consequências se cedermos a algum dos sete pecados mortais? JL - Sabendo que em última análise leva a consequências anti-sociais. Se alguém é muito orgulhoso, preguiçoso, zangado, invejoso, as pessoas ao seu redor acabam por se sentir entediadas e simplesmente afastam-se por não quererem perder o seu tempo com uma pessoa assim.
MBC – Algum dos sete pecados mortais se sobrepõe aos demais? JL – Não! São todos preocupantes e a melhor maneira de os manter sob controle é lembrarmo-nos que as conexões sociais não são apenas agradáveis de ter, mas também vitais para a nossa saúde física e mental.
MBC – É possível encontrarmos esse equilíbrio? JL – Sim se forem levados em moderação.
MBC – É possível fazê-lo sem cairmos em tentação em alguma parte do caminho?JL - A tentação é boa para o nosso bem-estar, mas levada aos extremos torna-se anti-social, e se nos deixarmos arrastar por qualquer uma delas corremos o risco de perder as nossas conexões sociais.
MBC - Na Gula em particular pensa existir uma solução para controlarmos os nossos impulsos?JL – Em relação à comida, resistir à tentação torna-se mais difícil. Durante milhares de anos os humanos viveram numa situação em que não sabiam quando conseguiriam arranjar comida e, se a mesma seria suficiente. Muitos morriam de fome. Mas é evidente que agora o ambiente mudou, há o suficiente para todos e, como temos comida em abundância. adoptámos uma abordagem um pouco diferente.
MBC – É verdade que existe abundância, mas isso também não traz forçosamente benefícios e, estou a pensar nas diversas doenças associadas aos excessos.JL – É verdade que para quem sofre de Gula, existem uma série de inflamações associadas não só ao corpo, mas também ao cérebro. Temos as alterações de humor, o colesterol elevado, só para falar de alguns problemas. A nível do cérebro a inflamação começa a limitar as capacidades cognitivas, começamos a pensar mais lentamente, torna-se difícil solucionar problemas e, na meia-idade o cérebro será o de alguém com pelo menos mais dez anos do que a sua idade real.
MBC – O que podemos fazer para conseguir controlar os nossos impulsos, concretamente em relação à Gula? JL – A melhor maneira de tentar refrear essa tentação é perceber que há uma enorme conspiração multinacional. As grandes empresas de alimentos publicitam anúncios de uma forma que faz com que o consumo pareça perfeitamente normal e com as campanhas que promovem aumentam-no substancialmente para obterem lucro. O problema é que os principais consumidores são cada vez mais jovens.
MBC – Concorda que se consume mais do que o necessário. O que podemos fazer para combater essas grandes companhias?JL – Esta é a nossa presente realidade. Para as grandes companhias, os consumidores fazem esse consumo numa quantidade que para eles é considerada perfeitamente normal. Mas, se perguntar a um médico, a maioria dos produtos são demasiado calóricos. Só para que veja a que nível já sofremos uma lavagem cerebral dou-lhe como exemplo uma lata de Coca-Cola, de Pepsi. Se tiver mais de onze anos uma só lata tem o açúcar necessário de que necessita para um dia inteiro.
MBC – Mas o açúcar também nos faz falta. Em que medida podemos medir o que consumimos?JL - Se praticar muito desporto pode ingerir essas quantidades de açúcar. Além do mais é verdade que o nosso cérebro necessita de muito açúcar quer esteja em repouso ou a pensar. Mas, mesmo assim não consegue queimar todo o açúcar contido em quatro latas de refrigerante. Sem falarmos que rotineiramente as pessoas adicionam açúcar ao chá, ao café, e não nos podemos esquecer de que na maior parte das vezes ainda acompanham estas bebidas com uma sobremesa. Com cada café um pastel de nata.
MBC – Possivelmente a maioria das pessoas não tem noção do que me acabou de dizer.JL - Garanto-lhe que as pessoas ficam atordoadas quando são confrontadas com esta realidade.
MBC – Achei interessante que falasse do café com o Pastel de Nata. Até porque a maioria dos portugueses tem realmente esse hábito. O Jack das vezes que esteve no nosso país já se terá convertido à nossa doçaria?JL – A verdade é que em Londres temos uma excelente pastelaria portuguesa. E sim confesso ser um grande apreciador do Pastel de Nata.
MBC – Ainda existirá alguma maneira de reverter o controle que as grandes companhias exercem sobre nós?JL – Neste momento só uma revolução poderia alterar esta situação.
MBC – O que pensa em relação a fast-foode, aos suplementos alimentares?JL – Como em tudo na nossa vida o segredo está na moderação, nada em excesso.
MBC – Algum destes pecados se aplica particularmente a si?JL – Todos! Mas com a moderação de que tenho falado tento sempre evitar ao máximo os excessos.
MBC – Mas terá certamente algum que se destaque?JL – O que sempre mais me preocupou foi o Orgulho. Sempre fui muito inteligente em todo o meu percurso escolar, um bom desportista. Recebia regularmente elogios que me enchiam o ego e, chegou uma altura na minha vida em que fiquei preocupado. Temia que os meus feitos me pudessem transformar em alguém arrogante, que me considerasse melhor do que todos. Isto fez com que lutasse arduamente para não seguir por esse caminho. Cheguei inclusive a fazer um teste para ver se teria uma personalidade narcisista e, confesso que fiquei espantado por os resultados terem apresentado valores inferiores. Mas, também sofro de Gula. Como a maioria das pessoas encontro um enorme prazer na comida. No entanto comecei recentemente a fazer muito exercício pelo que consegui encontrar um equilíbrio para compensar tudo o que ingiro.
MBC – Disse que praticou desporto durante o seu percurso escolar, no entanto vi um vídeo que colocou no seu site em que está numa sessão de exercícios de cansar qualquer um.JL – Sempre pratiquei enquanto estive na escola depois parei. Mas em Janeiro deste ano estive na Tailândia, fui convidado a ficar em casa de um conhecido que como está desempregado está permanentemente a fazer exercício, principalmente de manhã e, sempre durante mais de uma hora seguida. A única condição que me impôs para ficar na sua casa, como seu convidado, era que fizesse exercício com ele. O pior ao início é que se tentasse colocar açúcar no meu café ele contrariava afirmando que dessa forma destruía a capacidade do meu corpo queimar gordura. Por isso durante esse período o meu pequeno-almoço passou a ser só café preto. Mas, a verdade é que o meu corpo mudou e perdi toda a gordura que tinha acumulada. Quando regressei a casa continuei a seguir os mesmos métodos e, agora não preciso de café da manhã até depois do meio-dia.
MBC – Sei que pratica Surf. Como consegue ter energia fazendo jejum?JL – Estranhamente nunca pensei que fosse possível, mas a verdade é que me basta café simples e forte sem açúcar. O nosso corpo num período de doze horas sem ser alimentado, nas primeiras dez horas já perdeu todos os carboidratos de reposição e então começa a queimar gordura nas duas horas seguintes. É uma excelente forma de manter o corpo regenerado. Isto significa apenas que continuo a comer a mesma comida, mas em vez de o fazer em dezasseis horas, como num espaço de doze horas.
MBC – Neste momento da sua vida escreve livros e faz programas de televisão. Abandonou definitivamente a investigação na sua área da Neurociência?JL – A verdade é que já não faço pesquisa, neste momento limito-me a ler as pesquisas dos meus colegas. Escrevo livros e faço televisão porque é algo que me satisfaz, mas como pagam pouco sou ainda Consultor e Orador motivacional, o que me permite viajar regularmente através de Inglaterra.
MBC – Apenas em Inglaterra?JL – Já fui solicitado na Europa, mas ainda é raro. Numa média faço duas palestras na Europa e vinte em Inglaterra. Ainda na semana passada estive em Brighton, depois na costa sul, depois em Norwich na costa leste, na semana anterior em Yorkshire, depois na Escócia, e na semana anterior no País de Gales. Estou permanentemente em movimento com uma mala preparada para embarcar no próximo comboio.
MBC – O que o faz vibrar?JL – Adoro particularmente o trabalho que faço com os professores, que por sua vez trabalham com crianças problemáticas. Crianças, que vivem em situações de miséria extrema, um pai com uma doença mental, alcoolismo, entre tantos outros problemas, tornando-as vulneráveis. Eu falo com os professores sobre neurociência, resiliência, da diferença entre uma criança que pode passar por enormes quantidades de stress e que não acaba por desenvolver nenhuma doença mental comparando-as àquelas que desenvolvem e, o que podemos fazer. No fundo em conjunto com eles, ajudamos estas crianças a desenvolverem essa capacidade. Explicando aos professores como o cérebro funciona em termos de resiliência, dando-lhes algumas sugestões de coisas que podem fazer para ajudar as crianças a desenvolver essas aptidões. Se estão preocupadas com coisas que aconteceram no passado, ou se estão preocupadas com o futuro, ou se quando chegarem a casa ao final do dia o pai lhes vai bater de novo. Conseguimos ensinar-lhes pequenos truques que os impeçam de pensar no passado, no futuro e simplesmente viver no presente. Seja concentrando-se na sua respiração, focando-se numa parte de corpo ou até mesmo numa árvore que consigam ver através da janela.
MBC – Já teve algum retorno dos professores com os quais trabalhou? Se viram progressos nas crianças após a aplicação dos métodos que lhes transmitiu?JL – Felizmente, sim. E o que me disseram foi simplesmente fantástico. Confessaram-me que antes de falarem comigo já tinham começado a perder o interesse no trabalho que faziam, que era muito difícil, cansativo, o que não ajudava a escassez de recursos. Mas que felizmente os ajudei a relembrar o motivo pelo qual o tinham começado a fazer. Em primeiro lugar e pela primeira vez em anos estavam ansiosos por regressar à escola. Esta é realmente a prova do melhor uso do meu tempo.
MBC – Então o que faz é colocar a pesquisa dos seus colegas em campo. JL – Basicamente. O que é óptimo para mim que não gosto muito de fazer pesquisa.
MBC - Está a dizer-me que pega na informação deles, reúne os resultados e leva-os de volta para que os seus colegas possam analisar os dados que recolheu, publicar artigos e trocar informações sobre esses mesmos resultados com outros cientistas em conferências.JL - É melhor para mim porque não sou o melhor pesquisador do mundo. Mas sou muito bom a ler as pessoas, a reunir informações. É como o que faço quando escrevo. Pego em tudo o que faço tentando ter uma visão de helicóptero sobre a situação em questão e apenas reúno as informações mais relevantes para contar a história.
MBC – Como consegue tempo para fazer tudo o que faz?JL – Não tenho um emprego com horários, um escritório para o qual tenha que ir todos os dias. Sou eu que organizo o meu tempo e durmo todas as noites oito horas seguidas o que também ajuda.
MBC - Para aqueles leitores que olham para o seu livro e não sabem o que esperar, qual é o conselho que deixaria para que o lessem?JL – O livro é uma espécie de aventura entre tudo o que a religião e a ciência dizem sobre a melhor maneira de podermos viver com os sete pecados mortais, fazemos as coisas com a moderação necessária para que sejam bons para nós. Avisando-nos, no entanto, que se forem levados aos extremos causam graves problemas. É um livro escrito de maneira acessível e interessante, sem a densidade da ciência nem a profundidade da religião. Aproveitando a melhor aprendizagem e as melhores evidências que ambas conseguem produzir, pegando no melhor das duas, juntando-as de maneira a tornar-nos melhores.







Texto: MBarreto Condado
Fotos: Mário Ramires
Entrevista in Jornal Nova Gazeta

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Published on August 03, 2019 01:00

July 31, 2019

PERDI-TE!



Não consigo pensar!
Sinto-me perdida naquele lugar escuro de onde sempre me mantiveste afastada.
Não consigo pensar!Neste vazio que me aperta a alma e me destroça o coração.
Não consigo pensar!Que em segundos tudo deixou de fazer sentido.


Não consigo pensar!Como conversávamos, riamos, relembrávamos felizes os momentos que mais nos marcaram.
Não consigo pensar!Na absência do timbre da tua voz.
Não consigo pensar!Em coisas tão simples como não poder voltar a olhar para ti.
Não consigo pensar!Que não sentirei o teu calor uma vez mais.
Não consigo pensar!Que não nos vamos voltar a rir juntos.
Não consigo pensar!Que nunca mais terei o teu ombro onde desabafei todas as minhas mágoas.
Não consigo pensar!Que não voltarei a ser reconfortada por ti.
Não consigo pensar!Nas últimas palavras que trocámos.
Não consigo pensar!Que ficou tanto por dizer, por fazer, tantos sítios onde nunca fomos, tantos planos que não realizámos.
Não consigo pensar!Que tudo que deixámos em suspenso deixou de fazer sentido.
Não consigo pensar!Que o tempo que nos foi concedido, simplesmente acabou!
Não consigo pensar!Que não voltaremos a caminhar lado a lado.
Não consigo pensar!Que me deixaste.
Não consigo pensar!SimplesmenteNão consigo pensar!
Mas quero acreditar que nos teus últimos momentos não sofreste.Acreditar que sempre soubeste como foste amado.Acreditar que passe o tempo que passar, a tua memória continuará presente.Acreditar que no local onde estás agora, olharás sempre por mim, por nós.
Acredito! Acredito que nos reencontraremos. E nesse dia o meu coração sairá do vazio onde se refugiou e voltará a bater com a mesma alegria. Uma vez mais tudo voltará a fazer sentido.Ouvirei o som da tua voz e, as memórias que julgava perdidas voltarão com o teu riso.Teremos novamente o tempo que não nos chegou nesta vida. E nesse dia nada nos voltará a separar.
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Published on July 31, 2019 02:00

July 29, 2019

July 26, 2019

Resenha - A MEDIDA DO HOMEM, de Marco Malvaldi


A Medida do Homem, escrito por Marco Malvaldi, é um livro histórico onde o romance e o suspense se misturam na dose certa. Devido aos inúmeros personagens e locais onde se irá desenrolar a acção o livro começa com a Dramatis Personæ, termo utilizado para descrever as personagens principais normalmente utilizado em peças teatrais, da qual temos forçosamente que nos recorrer no início da narrativa e, durante a leitura das suas quase 300 páginas.A acção decorre durante a segunda fase do Renascimento. Em Milão em pleno séc. XV, onde o Mouro (Ludovico Sforza), poderoso Duque e “Senhor” reina. Neste mesmo período Florença era governada pelos Médici. Fala-se detalhadamente da política da época dando especial relevo à aliança entre Milão e o rei Carlos VIII de França contra o Rei de Nápoles, acreditando que Leonardo Da Vinci teria uma arma invencível. Temos uma descrição precisa dos costumes da corte Milanesa que me levou a reconhecer o extenso trabalho de pesquisa feita pelo autor. Sabemos da protecção de Leonardo Da Vinci por ordens do Mouro, que lhe pediria entre outros trabalhos a pintura da “Última Ceia”. Desde o início do livro, na descrição das personagens, ficamos com uma ideia geral do tom de ironia e humor que o autor quer imprimir ao livro. Porém o enredo adensa-se quando é descoberto o cadáver de um homem no pátio do castelo e, embora o corpo não mostre sinais de violência a morte é altamente suspeita. De imediato começam a correr rumores de uma nova praga e superstições que necessitam de ser refutadas rapidamente, pedido que Leonardo Da Vinci não pode recusar. A partir deste momento temos Leonardo Da Vinci como o “detective” de serviço a tentar descobrir o responsável e o motivo. Numa mistura inventiva de crime, dinheiro e intrigas palacianas.Se no início do livro o leitor pode sentir dificuldade em entrar no ritmo da narrativa, Marco Malvaldi consegue imprimir originalidade a este romance histórico, criando uma ponte de curiosidade e antecipação. Onde existe um subentendido diálogo com o leitor, através de chamadas de atenção e confidências que tornam a leitura bastante agradável. Gostava, no entanto, que sendo Leonardo Da Vinci a personagem central tivesse sido mais bem descrita ao longo de toda a história, o que nunca aconteceu. No entanto, não deixa de ser uma boa lição de história onde a ironia torna em certos momentos a leitura hilariante.
MBarreto Condado
Marco Malvaldi nasceu e mora em Pisa, onde se doutorou em Química pela Universidade Normale. Os seus livros anteriores incluem a série BarLume — com Massimo the Barman e os quatro detetives idosos —, que é também uma série de televisão. Escritor reconhecido e querido, os seus romances policiais valeram-lhe o Prémio Isola d’Elba e o Prémio Castiglioncello.

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Published on July 26, 2019 00:00

July 25, 2019

27 DE JULHO DIA MAIS GEEK

Este Sábado, dia 27, estarei em Penacova no evento Mais Geek.

Ao meio-dia estarei com a fantástica autora R.C. Vicente num painel sobre "A Literatura Fantástica em Portugal" e com o autor Rafael Loureiro

O meu mais profundo agradecimento à organização do evento pelo convite e pelo seu excelente trabalho.


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Published on July 25, 2019 00:00

July 22, 2019

July 21, 2019

Excelente Domingo


Quando publicamos, o Facebook pergunta-nos no que estamos a pensar.Pendo que é excelente acordar todos os dias com frescas memórias de um passado que não vivi, preparada para continuar a empedrar o meu caminho e o modo como também serei recordada.

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Published on July 21, 2019 05:52

July 15, 2019