in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 14


CATORZE

A noite ia adiantada quando recolheram aos quartos. Maria sentia-se amada. As suas inibições desapareciam quando estava nos braços de Rhenan. A almofada dele tinha o seu cheiro. Conseguia ouvir a água, a ideia dele nu aguçou-lhe o desejo, empurrou os lençóis para trás e de um salto saiu do conforto da cama entrando na casa de banho. Daquela vez seria ela a fazer amor com ele.
Eoghan bateu à porta. - Bom dia Maria. – piscou-lhe o olho - A mãe está à nossa espera.- Desço já. – Rhenan sentou-se na cama apertando os sapatos.- Vais a Dublin com a tua mãe?- Acho que quer passar um tempo a sós com os filhos. Vai fazer-nos bem a todos. – levantou-se puxando-a para os seus braços encostando a cara ao seu cabelo.- Almoçam lá?- Não te importas?- É uma excelente ideia. A Maeve e a Deirdre também têm planos. Vai ser bom ficar sozinha para ver se organizo as ideias. - Quando regressarmos temos de decidir a melhor forma de vocês as duas se deslocarem para as aulas. - Eu e a Maeve já tratámos de tudo.- Acredito! - Rhenan sorria divertido – Conta lá esse plano.- Tens tempo?- Para isto tenho.- Nos dias em que acabamos as aulas ainda com luz do dia, levamos o carro, estacionamos à porta da minha casa e vamos de autocarro. Nos outros precisamos que nos vão buscar. - Parece-me um excelente plano. - Rhenan estava realmente impressionado. Maria sorriu-lhe orgulhosa.- Sabes que cheiras muito bem? – abraçou-o. Rhenan beijou-a até a deixar sem fôlego. - Gostei muito da surpresa desta manhã go raibh maith agatFreya deixara-lhe comida. Estava mais magra e o motivo para a sua perda de peso devia-se unicamente às noites com Rhenan.Tomou o pequeno-almoço, colocando a loiça dentro da máquina. Pegou no tupperware, em talheres, guardanapos, numa garrafa de água e no telemóvel. Tinha tudo o que necessitava.A porta da cave não tinha trinco e o cheiro era inconfundível, já o sentira no dia anterior, sabia que era incenso de arruda, a sua avó também o costumava queimar, servia como protecção. Nos últimos anos começara a interessar-se pela crença Wiccan, considerada por muitos como bruxaria quando na realidade era um sinal de apreço pela Deusa. Sem o saber, iniciara a sua aprendizagem e as tatuagens eram a confirmação da sua ligação ao Clã. Estava feliz por saber que fazia parte de um superior desígnio, só esperava estar à altura do que acreditavam ser capaz.Pousou o que trouxera em cima da mesa. Na lareira ardia um acolhedor fogo e estava uma manta dobrada no sofá. Eram fantásticos, parecia terem-lhe lido o pensamento. Ainda lhe custava acreditar que aquela era a sua vida e era real.Começou a descoberta da cave. Iniciando a aventura pela parede da direita, demorando o tempo necessário para ler as lombadas. Eram livros antigos, tinha receio de lhes tocar e danificá-los. Mas queria descobrir o que conseguisse sobre os Tuatha Dé Danann, a sua Rainha Danu, as Sombras e com sorte descobriria um modo de resolver toda aquela confusão. Sobre os Tuatha muito tinha sido escrito. Eram a Tribo das Fadas, Danu a sua rainha, que já tivera a infelicidade de conhecer. Tinha três maridos, mas quem escrevera aquele texto afirmava que no seu reino Lug era o seu preferido. Para ela não passava de um perseguidor, a Fada podia ser realmente linda de morrer, mas não passava disso. A beleza podia ser enganadora, mas as palavras de Danu ecoavam-lhe na cabeça, Lug protegera-a durante o tempo que estivera em Lisboa. Possivelmente ainda teria de lhe agradecer. – suspirou desanimada, apesar de saber que era o mais correcto, a ideia não lhe agradava. Teve o cuidado de se manter afastada da parede onde estava a árvore. Quando lá voltasse a colocar as mãos seria para devolver as chaves.Estava um diário pousado em cima da mesa, não percebia como ainda não reparara nele. Abriu-o, a letra era parecida com a de Rhenan, ao lê-lo percebeu que pertencia a Lochan. Mentalmente pedia-lhe desculpas por estar a invadir a sua privacidade, mas toda a ajuda que lhe pudesse dar era bem-vinda.Não se sentia bem por estar a ler algo tão pessoal, mas não conseguia parar, algo lhe dizia que ali encontraria respostas. Tinha desenhos de locais e seres que reconhecia, Yggdrasil, as Fadas, esboços dos irmãos, da prima, da mãe, da tia e de duas desconhecidas, uma devia ser Hel, o mais estranho é que a outra lhe era estranhamente familiar.Olhava para o que só poderiam ser a Fivela de Aker e o Colar de Brisingamen. Porém nenhuma pista quanto ao local onde as colocara? Ficou a saber que para entrar em Tara teria de ser sempre transportada por uma das Fadas e que naquele local o tempo passava lentamente. Dez minutos na Terra podiam corresponder a trinta anos ou até séculos. Com diversos avisos quanto às suas manhas, as Fadas eram traiçoeiras.Se decidisse falar com Danu teria de o fazer em território neutro e com Lug sempre no campus. Sobre as Sombras, ficou a saber que eram seres aprisionados em Annwan.Em vida tinham sido pessoas más e vingativas que por sua vontade entregaram as almas em troca de poder, beleza, riqueza, todos os vícios inerentes à natureza humana. Desconfiava que o último desejo de Goll MacMorna, teria sido acabar com o único Clã que sempre lhe fizera frente, os MacCumhaill. E a maldita, Hel, devia ser uma das muitas que circundavam a casa. Podia ter sido ela a atacá-la. Com essa ainda teria contas a ajustar. Tocou no braço onde sentia a cicatriz, mas que Freya tratara tão bem que mal se notava. Aquela cabra seria sua e que nem se tentasse aproximar de Rhenan ou de algum deles.No diário existiam ainda passagens demasiado descritivas do que ele e Hel faziam durante o tempo que passavam juntos, começava a suar com algumas das descrições. Concluiu que aquele capítulo era demasiado pessoal e não a esclareceria sobre os assuntos realmente importantes. Colocou um marcador com a indicação de não ler.Fazia inúmeras referências a assuntos que o atormentavam. Chegara novamente a um beco sem saída o pior é que nem sabia por onde começar a procurar.Colocou o diário junto dos seus apontamentos na mesa de apoio, marcando a página onde ficara, voltou a guardar os pesados volumes de onde os retirara. Estava espantada por não ter encontrado pó. Quem limparia a casa? Estava sempre imaculada mesmo na cave. Sentou-se no cadeirão tapando-se com a manta. Bebeu um pouco de água deixando a garrafa fechada no chão ao seu lado. Lochan nunca mais a procurara em sonhos ou visões o que lhe quisessem chamar. Esperava que estivesse bem, dentro dos possíveis, no local onde se encontrava.Descalçou-se, colocando os pés para cima, fechou os olhos lembrando-se da conversa que tivera com Freya no dia anterior. Confessara-lhe que o corpo do filho estava numa cripta na casa onde viviam, protegido por feitiços e gentes do Clã. E era para estar perto dele que queria regressar. Maria sabia a falta que Lochan fazia a Rhenan e que o sentimento não fora atenuado com o passar dos séculos.  Embalada pelo cansaço e tranquilidade que ali se respirava adormeceu… uma vez mais, não sonhou. Acordou completamente relaxada, não sabia quanto tempo passara, mas estava deitada na sua cama. Na mesa de cabeceira estava o seu bloco de apontamentos e o diário de Lochan. Rhenan levara-a para o quarto. Nem se apercebera do seu regresso, ou de ter sido transportada. andava tão estafada que apagara. Devia ter visto o diário do irmão, devia-lhe uma explicação por o ter lido.Levantou-se, afastando a manta para o lado, continuava vestida, calçou-se, ia à sua procura. O seu estômago reclamava, esquecera-se uma vez mais de comer. Ainda ficava tuberculosa.A família estava na sala, a mesa preparada para o jantar. Os homens falavam descontraídos perto da janela cada um com o seu copo de Jameson. Rhenan de costas para a porta conversava animadamente com os irmãos. Maeve falava ao telemóvel, fez-lhe sinal com a mão quando a viu descer, pelo seu rubor percebeu que falava com Sergiu. Espreitou para a cozinha, viu Freya a cobrir um bolo com um aspecto delicioso. Deirdre saía transportando um tabuleiro de carne, fez-lhe sinal para que a ajudasse a levar o que faltava.Maria pegou nas batatas e salada, Freya sorriu-lhe agradecida.- Já cheira! Estou esfomeado. - Fionn foi o primeiro a sentar-se à mesa.- Menino, então essas maneiras? - Eoghan deu-lhe um pontapé na perna para que se voltasse a levantar.- Isso pergunto eu, mas sou algum animal a quem se dê um pontapé?- Nem te vou responder como mereces. Para tua informação nunca daria um pontapé num animal já a ti minha besta, se não te levantas vais ao chão. Rhenan passou pelos irmãos quando viu Maria aparecer.- Dormiste bem?- Pelos vistos, profundamente. Nem me apercebi que já não estava na cave. Não te ouvi chegar, desculpa.- Se descansaste, as hipóteses de ficarmos acordados durante a noite são promissoras. – os olhos brilhavam na expectativa enquanto lhe tirava os tabuleiros das mãos.- Comecei a ler o diário do teu irmão, sei que não o devia ter feito, mas pensei que talvez me pudesse ajudar. Desculpa. - segurava-lhe no braço, sussurrando.- Se alguém o deve ler, és tu.- Não tens curiosidade?- Já sinto demasiadas saudades dele.- O teu irmão é um nostálgico, um sonhador e ama-vos. - Falaste dele como se estivesse vivo.- Sei que está! Só temos de nos abstrair de um capítulo que marquei e que não devia ter lido.- É assim tão mau? - perguntava curioso.- Demasiado descritivo. - Não percebo!- Digamos que o homem devia escrever um novo Kamasutra.Rhenan deu uma gargalhada com gosto apertando-a de encontro a si.Freya entrava na sala observando-os emocionada. Os irmãos e a tia sorriam. Ninguém se lembrava do som de felicidade na voz de Rhenan até Maria aparecer.Rhenan afastou-lhe a cadeira para que se sentasse.- É típico dele.- Tens a certeza que o Fionn nunca o leu?- Tenho! Todos sabíamos que o tinha, mas mantinha-o escondido. Nunca ninguém o encontrou, aparentemente até hoje.- A sério? Eu não o procurei, estava pousado em cima da mesa. - Gosto de pensar que foi o espírito dele a deixá-lo ali, para que o encontrasses. Não consigo explicar, mas sinto-o connosco e se existir uma hipótese de o trazer de volta serás tu a fazê-lo mo ghrá!Contaram-lhe o seu dia em Dublin. Freya e os filhos tinham ido ao banco, almoçado com velhos amigos com quem tinham passado o resto da tarde, também eles do Clã. Maria ficou surpresa ao saber que eram os donos do Temple Bar. Maeve largou a bomba comunicando que namorava Sergiu, que tinham almoçado os três juntos e Deirdre aprovara a relação. Os primos não conseguiam evitar o espanto. Sentada à sua frente Maria piscou-lhe o olho em sinal de aprovação. Gostava de Sergiu e de os ver juntos. Inspirava-lhe segurança, sentia que se necessitassem dele, as protegeria. Era esquisito pensar aquilo, mas seria fantástico se fosse ele o guerreiro da antiga Ordem do sangue.
Quando entraram no quarto Rhenan puxou-a para si, beijando-a apaixonadamente, enterrando a cara no seu pescoço. - Mo ghrá! Tive saudades tuas, passei o dia todo a pensar em ti. Sem ti a meu lado enlouqueço. Rhenan sentou-a na cama prostrando-se à sua frente com um joelho no chão. - Sabes o quanto te amo? - falava com a voz mais grave do que o habitual – Desejo-te para a eternidade e peço-te que tenhas paciência comigo se alguma vez não corresponder às tuas expectativas. Não sabia o que Rhenan lhe tentava dizer? Sentia as mãos geladas.- Desejo que me aceites como teu marido e que esse momento seja testemunhado por todos. Desejo que ouçam a minha promessa, que saibam que és minha, que te pertenço. - abriu uma pequena caixa retirando um anel, com uma mão segurou-lhe na cara olhando-a no fundo da alma – Aceitas-me? Olhava para ele e para o anel que segurava.- Aceito! - não precisava de pensar, o seu coração dizia-lhe que sim. Os olhos de Rhenan brilhavam de felicidade. Colocou-lhe o anel no dedo anelar da mão esquerda, beijando-a nos dedos e nos lábios.- Tá grá agam ort! Póg mé, mo ghrá.Lochan movia-se pela casa, via-os sem ser visto. Sentira a felicidade do irmão, queria poder abraçá-lo e dizer-lhe que aprovava a sua escolha. Se algum dia regressasse, desejava encontrar alguém para amar e ser amado com a mesma intensidade.Fora traído pela vida, amara e morrera por esse falso amor. Quando sentira a vida abandoná-lo e por não se lembrar se nas noites de loucura nos braços de Hel lhe dissera quem era ou onde guardava as chaves, tivera forças e o discernimento necessários para fazer o que devia ser feito, escondê-las. A derradeira lembrança dela era o ar de ódio com que o encarara rindo-se quando o veneno começara a fazer efeito.  Queria poder ajudar a família, mas com o tempo passado naquele purgatório em que se encontrava, os lapsos de memória começavam a ser parte integrante da sua não existência. Sabia que as chaves estavam protegidas, mas não se lembrava onde as colocara. Protegeria Maria contra o mal que se multiplicava à volta deles. As almas que tinham conseguido escapar de Annwanobtinham a sua força da infelicidade de quem os rodeava e Maria acabara de alargar o círculo de protecção da família, com a sua vida, alegria e amor. Por esse motivo passara a ser o alvo principal das Sombras, tinha de arranjar um meio de os avisar que ela estava em perigo.Da janela da sala observava as movimentações dos vultos negros tentando aproximar-se.Maria era curiosa o que era uma característica admirável. Por esse motivo lhe deixara o diário na cave, talvez descobrisse algo que lhe escapara. Ainda que invisível aos olhos de todos, faria o que fosse possível para a manter protegida até que as portas de Annwan se voltassem a fechar e as Sombrasdesaparecessem. Antes de ser projectado para aquele limbo onde se encontrava, a Deusa dera-lhe a possibilidade de ver as pessoas de quem a Profecia falava. Porém o tempo fizera com que as suas lembranças se desvanecessem. Uma vez mais teria de ser a pequena e corajosa sidhe a desvendar esse mistério. Tinha de encontrar uma maneira de a informar que devia confiar nos seus instintos, seriam eles que a ajudariam.Encostou a testa ao vidro da janela da sala, seria tão bom poder estar ali fisicamente. Sentia falta de lhes tocar, beijar, abraçar. Sentia falta da sua família. Mantinha-se estático com o olhar fixo na escuridão.Maria vagueava imersa nos seus pensamentos através dos silenciosos corredores. Adorava aquela casa. Sorria ao lembrar-se como entrara no quarto de todos para comunicar a sua decisão e mostrar o anel. Tinha sido abraçada e beijada, conseguira sentir o amor nas suas mais diversas formas, até mesmo de Fionn. A casa mantinha-se na penumbra. Reparou na parca luz que vinha da sala, onde ainda ardia turfa na lareira conferindo-lhe um ambiente reconfortante e acolhedor. Estava demasiado excitada para conseguir dormir, ia à cozinha beber um copo de água. Desceu a escadaria e quando se voltou, parou especada, estava um vulto parado perto da janela da sala e havia algo nele que lhe era demasiado familiar.- Lochan? A voz de Maria retirou-o do seu torpor de autocomiseração, voltando-se surpreso.- Consegues ver-me?- Estou a dormir?- Maria, sou eu! - avançou a passos largos na sua direcção. Maria recuou assustada se não era uma visão, nem um sonho, como podia estar ali?- Não tenhas medo, cunhada. - Lochan estendeu a mão voltando a recolhê-la, sabia que não lhe conseguiria tocar, mas por alguma estranha forma de magia conseguia vê-lo.Maria avançou sem medo, era como se estivesse a olhar para Rhenan. - Como é possível?- Não sei! - Lochan abanava a cabeça incrédulo.- Era suposto não te ver. Será que os outros também conseguem ver-te?- Estou tão confuso como tu. Mas até sabermos o que nos está a acontecer não lhes podes contar. Não quero que a minha mãe e os meus irmãos voltem a sofrer.- Fica descansado. Não lhes vou dar falsas esperanças até termos certezas. Tens estado sempre aqui?- Sim!A tristeza na voz dele partiu-lhe o coração. Maria estendeu a mão para que visse o anel.Lochan aproximou-se para o apreciar.- Fico muito feliz pelos dois. – os olhos de Lochan voltavam a brilhar de felicidade pelo seu gémeo. Queria beijar-lhe a mão, mas lembrando-se de que não o sentiria voltou a retirá-la, mais depressa do que pretendia batendo-lhe com os dedos no braço.- Lochan, consigo sentir-te!Parecia mais surpreso do que ela.- Lochan?- Posso segurar-te na mão?Maria estendeu-lhe os braços que agarrou com satisfação.- Como é possível? Consigo sentir-te!- E eu a ti. Lochan pegou nela rodando pela sala rindo-se de prazer. - É maravilhoso voltar a sentir. Maria estava emocionada. - Estas coisas não acontecem Lochan. Os hospitais psiquiátricos têm lá pessoas internadas por muito menos. Isto é tudo uma loucura. Lochan não a queria largar e Maria ria-se divertida. Os seus pés não tocavam no chão, continuava a rodopiar através da sala até a voz de Rhenan se ouvir, parado à porta da sala.- Mas que raio! - olhava incrédulo - Maria podes explicar?  - Lochan, coloca-me no chão.- Lochan? – a voz de Rhenan tremeu. - O teu irmão está aqui.Rhenan olhava à volta sem ver nada. Acreditava no que Maria lhe dizia, apesar de não compreender o que significava.- O que dizes?- Que nunca vos abandonou.Lochan colocara-se ao lado do irmão tentando tocar-lhe sem sucesso. Voltava a sentir-se frustrado. - Queres sentar-te para que te explique?- Sentar-me? Achas que consigo? Entro aqui e tu estás a voar pela sala!Maria ria-se divertida.- Acredita que não enlouqueceste, nem eu ganhei poderes, é mesmo o teu irmão que aqui está.- Está com ciúmes! – Lochan voltava para o lado dela - Já devia saber que não toco em nenhuma mulher de um irmão meu. Maria limitou-se a sorrir-lhe, mas não repetiu o que dissera. - Então fica onde estás e escuta-me.De olhos semicerrados, Rhenan olhava à volta desconfiado.- Desci para beber água, quando o vi parado na sala. Ainda pensei que estava a sonhar ou a ter uma visão, mas ele confirmou-me que estava realmente aqui. – Maria continuava parada, Lochan aproximara-se do irmão.- Estavas ao colo dele?- Lá está o ciúme. Explica-lhe que estava contente com a notícia do vosso noivado que o homem acalma logo.Maria voltou a ignorá-lo. Ia esclarecer toda aquela surreal situação à sua maneira.- Quando lhe mostrei o anel, por acidente tocou-me no braço, foi quando percebemos que conseguíamos sentir-nos. Ficámos tão entusiasmados que andámos a rodopiar pela sala. – ria-se divertida.Rhenan olhava para ela e para o vazio.- Onde está?- Ao teu lado. Já te tentou tocar e não conseguiu.- Acredito no que me acabaste de contar.Maria e Lochan sorriram.- Mano, nada de andares com as mãos em cima da minha mulher. - apesar de não conseguir ver Lochan sabia que Maria não lhe mentia.Lochan e Maria riram-se ao mesmo tempo.- O teu irmão disse que podes ficar descansado, pois não tem por hábito tocar nas mulheres dos irmãos e que está muito feliz por nós. – Maria avançou para Rhenan abraçando-o - Tem imensas saudades das vossas conversas. - Eu também mano.  – Rhenan apertou Maria de encontro ao peito.- O teu irmão pede que o perdoes. – Que o perdoe?- Por vos ter traído.- Não nos traíste mano, pensaste com a cabeça errada, só isso.Maria deu-lhe uma cotovelada.- O teu irmão está a pedir que o voltes a perdoar. – Maria sorria divertida.- Porquê? - Está a dizer que me vai arrancar dos teus braços e dançar comigo, pelo menos enquanto se conseguir livrar dos teus murros.Rhenan ria divertido, ainda Maria não terminara a frase e já voava novamente pela sala. Era bom saber que não estava morto e que podiam conversar, ainda que fosse através dela. Conversaram sentados no conforto da sala. Rhenan não se queria afastar do irmão, mas Maria tinha de descansar, o dia já estava a nascer e percebia como estava estafada.- Rhenan, o teu irmão quer pedir-te um último favor.- Qual?- Quer levar-me para a cama.- Meu, isso não tem graça. Olha que quando te vir parto-te a cara.- Quer levar-me para a nossa cama. Tem medo que tudo isto desapareça e quer aproveitar enquanto pode.- Ok. Mas é bom que não se habitue. Lochan pegou em Maria que o abraçou encostando a cabeça ao seu ombro, enquanto subiam a escadaria. - Obrigado por tudo Maria.- Ainda teremos muitas oportunidades para conversar. – beijou-o. Rhenan abriu a porta para que passassem, Lochan colocou Maria delicadamente em cima da cama. Sorria-lhe agradecida deixando-se cair para trás, fechando os olhos adormeceu.Lochan decidiu que a partir daquela noite ocuparia o seu quarto. Rhenan viu a porta abrir-se aproveitando para se despedir.- Fico feliz que estejas aqui. – não eram necessárias mais palavras entre eles.Lochan fechou a porta de separação deitando-se em cima da sua cama vendo o dia nascer. Sentia que com Maria tinham o poder necessário para lutarem contra tudo.- Boa escolha mano, boa escolha.




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Published on March 30, 2020 02:00
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