Joel Neto's Blog, page 85
August 25, 2012
Isto muito claramente
Dar aos beneficiários do Rendimento Social de Inserção em idade activa, e salvas todas as justíssimas excepções previstas na nova lei, a oportunidade de retribuírem a ajuda que lhes é prestada pela comunidade constitui, não um ajuste de contas, muito menos um castigo, mas o mais elementar acto de dignificação da vida humana.
“Tu ainda podes fazer. Tu ainda és válido. Tu ainda vais vencer este momento. A tua vida não acaba aqui” – eis aquilo que, doravante, o Estado diz a estas pessoas. Não o dizer, sim, era um gesto de desrespeito para com elas e para com as suas expectativas. Para com a sua esperança.
A medida anunciada esta semana por Pedro Mota Soares é, na verdade, a mais solidária de todas as regulamentações e correcções de trajectória operadas em torno do RSI desde a sua criação (então como “Rendimento Mínimo Garantido”). E, numa altura em que nos esforçamos tanto por responsabilizar Lisboa pelo estado calamitoso dos indicadores sociais dos Açores, vale a pena creditar ao Governo da República esta humanização do sistema.
O Rendimento Social de Inserção é um importante instrumento de protecção dos cidadãos e, em consequência disso, de coesão social. Mas deve ser aplicado com critério, com fiscalização, com um prazo claramente determinado e, sobretudo, com o intuito primordial de ajudar as pessoas a, dentro dos possíveis, recuperarem a sua autonomia.
É aqui que entram estas 15 horas semanais de serviços à comunidade. Em suma, não se trata de a comunidade defender-se de qualquer aproveitamento ou abuso da parte dos beneficiários do RSI, mas de promover uma valorização do indivíduo, de proteger os seus sentimentos de utilidade e validade. Sem eles, simplesmente deixará de ser possível a inserção prevista no próprio nome da prestação.
Pelo contrário, a maneira como o expediente foi aplicado até aqui ia contra todos os princípios que devem orientar a relação do Estado com os seus cidadãos. Até este momento, aquilo que estávamos a fazer era simplesmente pagar aos pobres para nos desaparecerem da vista. A partir daqui, ajudamo-los, como sempre (e como é nossa obrigação), e ainda lhes dizemos que, apesar disso, eles continuam a fazer parte de nós.
De resto, noutra altura da vida poderemos estar nós no lugar deles. Ninguém está livre. E a última coisa que quereremos, nesse infeliz caso, será que os ricos peguem nas suas migalhas, no-las enfiem no bolso, batam no peito e depois nos mandem para os cafés e os botequins, beber, jogar ao dominó, fazer as contas aos dias que faltam para a chegada do próximo cheque e pedir fiado para compensar a escassez.
Porque – não nos enganemos – é esse o entendimento que o PS/Açores faz da ideia de obra social. Ao fim de 16 anos de poder do partido que mais solidário se reclama, os Açores (não, eu não vou deixar que este desastre continue ausente do discurso político) lideram ou disputam a liderança nacional em todos os piores rankings do desenvolvimento humano: o consumo de álcool e a violência doméstica, a gravidez precoce e o abuso sexual, o analfabetismo, a pobreza persistente e (retumbante entrada nova em 2011/2012) o ritmo do crescimento do desemprego.
Nenhuma verdadeira obra social poderia ter resultado nisto. E, seguramente, não ficará na História quem quer que, ao fim de 16 anos de poder ininterrupto, não tenha conseguido atacar estes indicadores, preferindo antes continuar a comprar a simpatia primária de pessoas já de si arrasadas pelos desmandos da vida, e utilizadas agora como meros instrumentos para a perpetuação do poder.
Textos políticos, Diário Insular, 25-8-12
August 10, 2012
Manobras de diversão
Bastou-me ver a insistência do PS/Açores na marcação das eleições Regionais para 21 ou 28 de Outubro, mesmo em cima da delicada discussão do Orçamento de Estado, para perceber a estratégia de campanha de Vasco Cordeiro. Muito claramente, o Partido Socialista prepara-se para passar o mês de Setembro a chantagear os açorianos com a situação nacional, vitimizando-se pelas restrições orçamentais que o resgate do país às garras da bancarrota exigiu e atribuindo ao Governo PSD/CDS, com pouco mais de um ano de exercício, a responsabilidade de uma crise económica nascida, desenvolvida e espoletada muito antes da sua existência.
No essencial, trata-se de replicar um modelo de intervenção já utilizado nesta pré-campanha, nomeadamente através do envio aos utentes do Rendimento Social de Inserção de um “esclarecimento” sobre a quem supostamente caberia a responsabilidade da redução de determinadas prestações. Agora, porém, estará em causa mais ainda do que a “simples” utilização da correspondência oficial da Região para fins eleitorais. Estará em causa uma mega operação de desinformação, destinada a aproveitar os terrenos férteis de uma comunicação social esvaziada de seniores, do crescente divórcio entre determinadas faixas da população e a coisa pública e, naturalmente, das habilidades retóricas acumuladas em tantos e tantos anos de populismo.
Naturalmente, eu podia limitar-me a recordar aqui que a coincidência de cores políticas entre os Açores e o continente, do ponto de vista operacional tanto quanto da sensibilidade de Lisboa para com as nossas necessidades e os nossos projectos, não teria uma só desvantagem (como, de resto, não teve no passado). E, porém, não me interessa esse jogo político pueril e frívolo da vaga frase de efeito e da imediata recontagem de apoios, como se cada açoriano fosse apenas um número de eleitor. Tenho demasiados anos de independência e de liberdade de espírito para me limitar agora a mimetizar os velhos discursos partidários alimentados a maniqueísmos, a carreirismos e a todos os outros “ismos” em que se fundou a degradação das elites lusas.
Mas sempre quero perguntar: então, mas o Partido Socialista não tem responsabilidades no estado do País? E o Partido Socialista açoriano não tem responsabilidades na maneira como a crise nacional impactou nos Açores? Mesmo se, depois de anos a gabarmo-nos de um suposto pleno emprego, somos agora a região de Portugal com pior desempenho a nível laboral, com 43% por cento de aumento no número de desempregados em doze meses apenas?
E Vasco Cordeiro, um dos homens que mais pastas ocuparam no executivo de Carlos César, não tem responsabilidades neste fracasso? Nem sequer no facto de lideramos ou disputarmos a liderança dos rankings nacionais no consumo de álcool, na violência doméstica, na gravidez precoce, no abuso sexual e no analfabetismo? Nem na evidência de a nossa ruralidade estar a ser tomada de assalto pelo consumo e pelo tráfico de droga? Nem na circunstância de nenhum destes desastrosos indicadores ter um lugar no discurso político, quer como socorro aos açorianos em agonia, quer como estratégia de desenvolvimento humano da Região?
Quer-me parecer que encontrei, enfim, aquilo que há tantos anos procurava: a prometida reencarnação do Cristo Redentor. Um homem sem culpa. Pelo sim, pelo não, vou ficar atento ao seu – como é que se diz? – ministério. Cá estarei, com toda a frequência que me for possível, para relatar os feitos e os milagres, qual diligente evangelista. Bem sei que já há aí um monte deles. Mas talvez dê jeito um que não tenha já o texto escrito ainda antes de conferir as proezas.
Textos políticos, Diário Insular, 10-8-12
August 5, 2012
A luta como estética (um desafio à juventude açoriana)
* discurso proferido na abertura da Cimeira para a Juventude,
organizada pelo PSD/Açores (Ponta Delgada, Julho de 2012)
Alguma razão haverá para que toda a gente que me visita na Terra Chã seja, em algum momento da semana, assaltada pelo desejo de ficar para sempre. Por esta altura, passo já cerca de metade do ano na minha freguesia natal. E as pessoas visitam-me: familiares e amigos, gente de Lisboa e do Porto, até de Paris e de Londres. Pois uns 80% – a estatística é grosseira, mas na verdade nem sequer me lembro da última pessoa que não o fez – começam logo ao segundo dia a fazer planos para instalar-se na Terceira. Ou pelo menos a cultivar esse sonho, o que como sabemos é metade do prazer.
Alguma razão haverá para isso – e eu tenho uma teoria. Creio que as razões estão para além da beleza da paisagem da ilha. A crise económica produz numa grande cidade um impacto sensível que, apesar de todas as dificuldades que aqui se vivem, não produz nos Açores. Primeiro porque, numa cidade como Lisboa (por exemplo), é preciso ganhar quatro vezes mais dinheiro para reproduzir a qualidade de vida que se pode obter nas ilhas. Depois porque um lisboeta põe-se à janela, à espera do desemprego, e simplesmente não alcança com a vista um pedaço de terra onde pudesse plantar umas couves, uma rocha sobre a qual conseguisse pescar um robalo efectivamente vivo ou sequer um matagal onde lograsse cortar um pau para se defender das pilhagens colectivas.
É uma cidade sem esperança, Lisboa. Lisboa, Porto, Paris, Londres: são lugares deprimidos, todas elas. São-no muito claramente, neste momento – e são-no mais claramente ainda para quem, como eu, reparte o seu ano entre uma delas e uma ilha açoriana.
Pois as pessoas que habitam essas cidades dão de repente por si a querer viver como nós. Lisboetas, portuenses, parisienses, londrinos: todos eles gostariam agora de viver como nós. Por que raio, então, quereremos nós viver como eles? Penso que é essa a primeira reflexão que temos de fazer se somos jovens ou, pelo contrário, nos dispomos a pensar um pouco sobre os dilemas com que a juventude açoriana se depara neste momento: porque é que, se as pessoas das grande cidades gostavam tanto de viver como nós, nesta paisagem, neste lugar repleto de história, neste espaço honesto e solidário, nesta atmosfera onde de repente se pode reencontrar a esperança – porque é que nós temos de continuar a imitar acriticamente o modo de vida delas? Porque é que nós temos de continuar a imitar a cultura delas, as idiossincrasias e as manias e até os modelos económicos delas?
Caramba: eles têm o Postiga e nós temos o Pauleta. Nós temos nome de pássaro e eles nome de supermercado. Piores é que não somos, de certeza.
Há muitas coisas, portanto, que nós podemos aprender com esta crise. E uma delas é a tomar atenção ao que temos à nossa volta e às suas muitas potencialidades. Dizia Tolstói: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. Um lugar grande não tem mais mundo do que um lugar pequenino. Quem tem mundo somos nós. Nós, as pessoas. Nós, os açorianos. E nós, os açorianos, que caçámos baleias na América, que fundámos colónias no Brasil, que rechaçámos armadas inimigas, que resistimos a vulcões e a terramotos – nós teríamos mundividência mesmo que estivéssemos fechados dentro de uma caixinha de ferramentas, quanto mais a teremos se deixados à solta nestes nove maravilhosos (maravilhosos, repito) pedaços de paisagem e de possibilidades
A mensagem que aqui trago é, portanto, uma mensagem de esperança. Apesar da crise económica nacional, há esperança. E a esperança, porque está dentro de nós, está também dentro destas ilhas.
Não: não se trata de uma conversa esotérica, bem-aventurada e fundamentalmente tonta. Na verdade, aquilo de que falo não podia ser mais positivista, mais cientificamente comprovável. Falo, acima de tudo, de um modo açoriano de fazer as coisas. Falo da diferença. Do culto da diferença. Falo de diferenciação, como se diz na economia. Falo de um modo açoriano de estar.
Falo, por exemplo, de um modo açoriano de fazer cultura, que é a área em que, como se sabe, tenho desenvolvido a maior parte da minha actividade: um modo açoriano de escrever e de pintar e de cantar e de dançar com intimismo, com espessura, com dimensão poética, com dimensão humana. Falo, por exemplo, de um modo açoriano de gerir o turismo, com hospitalidade, com bom gosto, com (cá está de novo) cultura. Falo de um modo açoriano de estar na economia em geral, com tenacidade, com capacidade inventiva e, sobretudo, com resiliência – com uma enorme resiliência. E falo, naturalmente, de um modo açoriano de praticar a obra social, com solidariedade, com persistência e, muita atenção, com capacidade de estimular o outro, de desafiá-lo, de valorizá-lo, na esperança de que um dia as pessoas que ajudamos possam elas próprias ajudar outras ainda.
Falo, no fundo, de uma cultura de fusão. Chamemos-lhe assim, talvez: uma cultura de fusão. Falo de replicar, efectivamente, os modelos de sucesso da economia e da criatividade nacionais ou internacionais. Mas de replicá-los à açoriana. À nossa maneira. Com a nossa iconografia. Com respeito pela nossa história, pela nossa etnografia, pela nossa paisagem, pelo nossa ideia de bem-estar – e, no entanto, de fazê-los universais e de fazê-los competitivos.
Julgo que é isto que deve nortear o novo modelo de desenvolvimento dos Açores: a criatividade, a espessura e a diferenciação. Numa palavra: a qualidade. A nossa qualidade. E com mais ninguém os Açores podem contar como podem contar com os seus jovens. Mais ninguém, na nossa história, teve a formação e as competências e os cosmopolitismo que os jovens açorianos actuais têm. Portanto, é preciso que os nossos jovens sejam integrados no novo modelo de desenvolvimento dos Açores. E é preciso que os nossos jovens se deixem integrar nesse modelo de desenvolvimento.
É preciso, em primeiro lugar, que os jovens lutem por obter a formação necessária e adequada aos projectos profissionais e criativos e sociais – e até ambientais – que pretendem desenvolver. É sempre precisa formação, porque há que conhecer primeiro as regras para, depois, sim, se poder violá-las a todas com gosto e com requinte.
Naturalmente, é preciso também cultivar todas as virtudes que fizeram dos açorianos um povo absolutamente indomável. É preciso ser organizado. É preciso ser honesto. É preciso ter capacidade de trabalho – é preciso ter uma ética de trabalho, recuperar o entendimento do trabalho como um meio de valorização pessoal, tão tragicamente perdido nos últimos anos.
Depois, é preciso pensar de forma criativa. Pensar fora da caixa. Pensar out of the box. É preciso estar atento, desenvolver uma relação atenta com a coisa pública, conhecer a legislação e aproveitar as oportunidades que surgem. É preciso dominar os programas. E é preciso, já agora, estar preparado para, se nada mais funcionar, fazer tudo sozinho. É quando estamos preparados para fazer as coisas por nós próprios que nos encontramos verdadeiramente prontos para receber os apoios, os incentivos e as ajudas que se nos proporcionam. É quase sempre daí que vem o sucesso.
Às vezes ouço dizer: “São precisos mais projectos para os jovens!” Pois eu acho que se trata precisamente do contrário. O que é preciso é mais projectos “dos” jovens para o governo. Governo com “g” minúsculo. Governo no sentido de governação. E governação no sentido de desenvolvimento. De desenvolvimento dos Açores, de desenvolvimento do bem comum e de desenvolvimento da qualidade de vida – da qualidade das nossas vidas privadas.
Bem sei que vos dizem que isto está muito mau e que não há esperança e que o melhor que há a fazer é arranjarem um trabalhinho numa secretaria regional ou – melhor ainda – ficarem em casa e candidatarem-se ao rendimento mínimo. (Ou “Rendimento Social de Inserção”, como agora se chama, mesmo não estando em causa inserção nenhuma). É exactamente disso que se alimentam todos os populismos, todos os eleitoralismos, todos os laxismos: alimentam-se da desesperança e alimentam-se da inércia das pessoas. Mas não tenham dúvidas disto: nós, os açorianos e as açorianas da minha geração, um pouco mais velha do que a vossa, também tivemos as nossas dificuldades e os nossos obstáculos. Os nossos pais, os açorianos e as açorianas da geração dos nossos pais – como os açorianos e as açorianas da geração dos nossos avós, e dos nossos bisavós, e dos nossos trisavós – todos tiveram seus obstáculos também. E nenhum deles deixou agarrar no futuro com as suas próprias mãos.
Repito: nenhum deles deixou agarrar no futuro com as suas próprias mãos.
Caramba: nós somos gente que faz xixi para cima da queimadura das águas vivas. E, se não fôssemos nós, quem mandava era o D. Duarte Pio.
Portanto, talvez hoje se viva de facto a adolescência até tarde de mais. Talvez hoje não haja tempo para o tédio, tantas são as actividades escolares e sociais e desportivas e culturais que os adolescentes e as crianças têm. E talvez nem sequer pareça haver muito espaço para a criatividade (sabendo nós, como sabemos, que é do tédio, e da necessidade, que nasce a invenção). Mas há, efectivamente, lugar para a criatividade. Ele está lá, para quem queira aproveitá-lo. É preciso agarrá-lo. E é preciso não desistir à primeira contrariedade.
“Fail, fail again, fail better”, dizia Samuel Beckett. “Falha, falha novamente, falha melhor.” Pois eu não vejo melhor lema de vida para um jovem, nomeadamente se nascido nestas ilhas.
O que hoje vos peço, portanto, é apenas isto: que tenham esperança e que tenham tenacidade. Que não copiem as festas de desempregados que hoje em dia se fazem em Lisboa. Um açoriano não atribui uma estética ao fracasso. O desemprego é um flagelo de que ninguém está livre, claro. Para além de tudo, toda a gente tem direito a momentos de fracasso na vida. Mas o desemprego não tem estilo nenhum. O fracasso não pode ser uma estética. E, quanto àqueles que infelizmente tenham sido apanhados nas malhas de tão infeliz situação – e são muitos, infelizmente são muitos – apenas posso insistir: por favor, não desistam. Por favor, tenham esperança. Por favor, lutem. Não tenham vergonha. Mas lutem. E transformem essa luta na vossa estética.
Lutar, sim, tem estilo. Nada tem mais estilo do que lutar.
Todas as grandes crises da história da humanidade coincidiram com momentos de grande criatividade. Todas as grandes crises da história dos Açores – crises económicas, crises vulcânicas, até crises culturais – foram combatidas com momentos de grande criatividade também. Os momentos de grande criatividade de que todos estamos à espera agora ainda não têm quem os conduza. E vocês, os jovens açorianos, parecem-me as pessoas ideais para conduzi-los.
Portanto, viva a juventude. Vivam os Açores. E viva o futuro.
July 31, 2012
Ai, se eu um dia apanho o jeito a este rough...
Ora, deixa lá ver: E, E, E, +2, +4, +4, +6, +8, +10, +10, +10, +11, +11, +11, +12, +12, +12, +11. Portanto, 47 no front nine e 36 no back nine. +11 com cinco duplos bogeys e dois bogeys apenas. Um tipo exibe números destes e arrisca-se a ouvir: "Faz-te discretinho, sequer!" E com razão.
July 28, 2012
A honra, a cidadania, os Açores e a esperança
Um serviço cívico que presto com honra e com sentido de cidadania. Uma batalha a que adiro por amor aos Açores e pelo resgate da esperança.
Do tantas vezes proclamado "pleno emprego" aos 17% de desempregados, foi um ápice. Abuso sexual, violência doméstica, gravidez precoce, analfabetismo, dependência do Rendimento Social de Inserção, pobreza persistente – a Região Autónoma dos Açores lidera ou disputa a liderança em quase todos os piores rankings nacionais. O Serviço Regional de Saúde está em ruptura iminente. O tráfico e o consumo de droga tomam a ruralidade de assalto. A máquina do Estado serve os mais descarados actos de propaganda eleitoral do partido no poder. A cultura está paralisada, incapaz de dialogar com a sociedade e impotente perante a sua própria missão de preservação da identidade. E eu jamais passaria a vida toda a assitir apenas.
Mãos à obra, pois.
July 24, 2012
TERRA CHÃ, 24 DE JULHO DE 2012
Por outro lado, cada vez me custa mais perceber isso de que não se pode viver numa ilha porque não há lá nada para fazer. Há os livros. Há as pessoas que se juntam. E, quando tudo o mais falha, há ainda o nevoeiro. A interioridade. Simplesmente entrar no nevoeiro, a dois, a um só, e depois vogar ao longo dele, sem destino, encontrando e perdendo e de novo encontrando os limites da ilha - o que pode ser mais romântico e divertido e eterno do que isso?
July 23, 2012
A guerra vai acentuar-se – e este é o campo de batalha

Decididamente, o Benfica não acerta com o lado esquerdo da defesa. Depois de uma época de malabarismo, com o desastrado Emerson a servir de instrumento para Jorge Jesus mostrar à SAD que não tinha o direito de impor-lhe Capdevilla (nem Capdevilla nem ninguém, aparentemente), a fragilidade do flanco transita para esta temporada. Ou muito me engano ou, depois dos elogios do treinador a Melgarejo no final do trágico jogo com o PSV, ainda vai ser a administração a pedir a Jesus que escolha um novo lateral. Qualquer um, custe ele quanto custar, mas desde que completamente novo. O treinador, por si, já tem pouco a perder. Sabe que não é desejado, sabe que está em fim de ciclo e sabe que a perspetiva de novo tri portista é um suplício para o clube, do presidente ao mais anónimo adepto. Não há força negocial como aquela de que dispõe um homem sem nada a perder. E o melhor, se calhar, é Luís Filipe Vieira encaixar e ceder já./O JOGO
July 18, 2012
Caminhadas de final da tarde IV
July 17, 2012
Comandante Januário
No fundo, o senhor bispo do costume apenas vem confirmar a evidência com que já todos nos confrontámos, mas nem todos quisemos sistematizar: que, em regra, o bota-abaixismo é a melhor maneira de cultivar uma postura acrítica. Generalidades ditas de cátedra – eis aquilo de que se trata. Conversa de café transformada em manifesto libertário. A degradação da classe política portuguesa, como a degradação da classe política de todo o Ocidente, é evidente há muitos anos. E é até provável que este Governo, como o anterior, como aliás os cinco ou seis anteriores a esse, o tenha confirmado. Coisa muito diferente, porém, é isto de "dar voz à indignação do povo" dizendo exactamente aquilo que o dito povo quer ouvir, da maneira como o dito povo quer ouvi-lo. É demagogia, é cinismo, é irresponsabilidade – e, neste caso, ainda por cima, é crime. Quanto a mim, podem encomendar as t-shirts com a cara do sr. dr. bispo. Eu próprio, se alguém tiver paciência para musicá-lo, lhe escrevo o "Hasta Siempre Januário".
July 15, 2012
O programa que os portugueses, aliás, referendaram
A minha insistência no tema do RSI, e que resulta do enorme impacte social e político que o expediente tem nos Açores, vem dando azo a algumas confusões. Talvez seja normal, porque o tema se dispõe de facto a maniqueísmos e fundamentalismos. A ver se, agora, isto fica bem claro. O Rendimento Social de Inserção, do meu ponto de vista, pode ser um importante instrumento de protecção dos cidadãos e, em consequência disso, de coesão social. Mas deve ser aplicado com critério, com fiscalização, por tempo determinado e com o intuito primordial de ajudar as pessoas a, dentro dos possíveis, recuperarem a sua autonomia. Findo o prazo, aqueles que não o conseguirem deverão passar para os domínios das restantes prestações sociais, incluindo as pensões de invalidez, viuvez e reforma. Durante o dito, deverão ser todos chamados a prestar serviços à comunidade. E não porque a comunidade precise de defender-se de qualquer aproveitamento da sua parte, mas sim como meio de valorização do próprio indivíduo, de maneira a proteger os seus sentimentos de utilidade e validade. Isto, sim, será obra social – e isto, sim, será "inserção". E é por isso que o anúncio de Pedro Mota Soares, não sendo (para mim) uma regulamentação definitiva do expediente, me parece um primeiro passo no sentido certo.


