Joel Neto's Blog, page 86
July 15, 2012
Ora, escolham lá isso com um bocadinho mais de critério
Eu, se fosse à Referida Fonte, até propunha a 14 de Outubro, que era para ficar ainda mais em cima da discussão do Orçamento de Estado. Assim como assim, o Partido Socialista não tem responsabilidades na crise económica portuguesa, não tem responsabilidades na forma como ela impactou nos Açores e nem sequer subscreveu o memorando de entendimento com a Troika – pois não?
Fim-de-semana em Ponta Delgada
Optimismo com abundância, ontem, na Cimeira Para a Juventude, que encheu o belíssimo espaço da Academia das Artes de Ponta Delgada. A mudança tornou-se inevitável.
July 9, 2012
TERRA CHÃ, 9 DE JULHO DE 2012
Alguma razão haverá para que toda a gente que me visita na Terra Chã seja em algum momento assaltada pelo desejo de ficar para sempre. Creio que as razões estarão para além da beleza da paisagem da ilha, mesmo da tranquilidade deste jardim em particular. Tenho, inclusive, uma teoria. A crise económica produz em Lisboa um impacto que, apesar de todas as dificuldades que aqui se vivem, não produz nos Açores. Primeiro porque, numa cidade como Lisboa, é preciso ganhar quatro vezes mais dinheiro para replicar a qualidade de vida que se pode obter na província. Depois porque um lisboeta põe-se à janela, à espera do desemprego, e simplesmente não alcança com a vista um pedaço de terra onde pudesse plantar umas couves, uma rocha sobre a qual conseguisse pescar um robalo efectivamente vivo ou sequer um matagal onde lograsse cortar um pau para se defender das pilhagens colectivas. É uma cidade sem esperança, Lisboa. São lugares deprimidos, as grandes cidades. Neste momento, são.
Depois de Lisboa, Porto, Braga, Guimarães, Funchal, Lourinhã, Ponta Delgada e Angra do Heroísmo
E, pronto: depois de um encantador serão no 90º aniversário do SC Lusitânia, a digressão de apresentação de "Os Sítios Sem Resposta" encerra esta quarta-feira, dia 11, na Venda do Francisquinho, em São Bartolomeu dos Regatos. A partir das 21.00, há sessão de leitura, há cantoria regional com José Eliseu Costa e João Ângelo (que, como São Bartolomeu e a própria Venda do Francisquinho, aparece no livro), há petiscos e há também um suspiro fundo, que a correria já vinha longa. Entrada livre, recepção calorosa e abraços em barda. Venham daí.
July 8, 2012
TERRA CHÃ, 8 DE JULHO DE 2012
Uma avaria no conversor automático Lince obrigou-me a fazer o esforço de, enfim, começar a tentar apreender o famigerado Acordo Ortográfico, que prometi respeitar nos textos escritos para os jornais. Até aqui, era acabar o artigo, passar-lhe o corrector e enviá-lo aos editores; agora, tenho de passá-lo por um filtro e introduzir as correcções a dedo. E, de súbito, dou-me conta do mais absurdo de tudo: as regras até podem ser ridículas, mas as excepções são muito mais ridículas ainda. Afinal, os burocratas fizeram questão de levar a sua avante, mas cederam em tudo o que achavam que podiam ceder para que a insistência não lhes explodisse na cara. O Acordo não é apenas um atentado ao bom gosto, um desrespeito por décadas de tradição literária e uma fragilização estúpida da Língua num contexto de voragem cultural global. É absolutamente incoerente – e, pior, é-o por cobardia. Retrato mais fiel da geração que levou os últimos 20 anos a discuti-lo, abandoná-lo e, enfim, implantá-lo não poderia haver. Muitos parabéns.
July 7, 2012
Hoje, às 20.00, na sede do Lusitânia: sessão de leitura de "Os Sítios Sem Resposta"
«Nesse primeiro dia, ganhámos por dois a zero a uma equipa do Alentejo, no que mais tarde viria a ser recordado como o passo inaugural na gloriosa aventura que levaria pela primeira vez uma equipa de futebol açoriana à segunda divisão nacional. E, no entanto, não se esgotava ali, entre as quatro linhas, o que aquela partida e aquele extraordinário jogo que eu então descobria tinham de interesse. Do portão principal à bancada, do peão à cabeceira – cada recanto, cada pequeno colóquio e cada urro colectivo contavam a sua própria história. E, embora tenha de início tentado chamar-me a atenção para o desafio, contrariado com a dispersão das minhas atenções, mesmo o meu pai, posso garanti-lo, acabou por dar-se conta de cada uma dessas histórias, no que para sempre guardarei como o primeiro dia em que, afinal, nos percebemos um pouco um ao outro.»
July 5, 2012
Bricolage nocturna II
Faia da terra
Faia do terra
July 4, 2012
TERRA CHÃ, 4 DE JULHO DE 2012
Renovação do cartão de cidadão na Loja da RIAC (espécie de Loja do Cidadão à açoriana) da freguesia de Santa Bárbara. Corrijo: tentativa de renovação do cartão de cidadão na Loja da RIAC do Posto Santo, frustrada por via de uma arreliadora avaria "na máquina" – e então, sim, deslocação à loja alternativa de Santa Bárbara (por sinal um trajecto que me agrada sempre fazer, porque São Bartolomeu, Cinco Ribeiras e Santa Bárbara são freguesias agrícolas, mas prezadas, que se caiam de fresco nesta fase do ano, para receber o seus emigrantes). A funcionária, sem outra alternativa durante as férias, levara o filho para o trabalho. Em volta, a freguesia como que bocejava, uma harmónica ecoando no horizonte, Charles Bronson apeando-se do Opel Corsa. A repartição vazia. Cheguei e disse: "Venho renovar o cartão do cidadão" – e logo a senhora aperaltando a secretária, abrindo alas, como o comerciante que se dá conta da chegada súbita de um freguês. Na secretária ao lado, por detrás do computador, uma vozinha: "Posso ligar a máquina?" Era o miúdo, suspendendo o desenho. Oito/nove anos, talvez – olhos pretos, vivos, esgares de traquinice. Vários ralhetes à impertinência do gaiato. Algumas piadas na minha direcção, mais ralhetes ainda. Depois, a burocracia. Nomes, moradas: essas coisas. Ao fim de dez minutos de mais perguntas, mais ralhetes e outras peripécias ainda, incluindo uma baixa de corrente eléctrica que quase nos obrigava a recomeçar o processo do início, levantei-me para a fotografia, a assinatura e as impressões digitais – e logo a senhora levantando-se também, de maneira a afastar com o pé, pachorrentamente, dois sacos plásticos cheios de cebolas que algum utente lhe deixara e assim permitir-me passar em direcção "à máquina". O miúdo rindo, orgulhoso, porque na verdade fora ele quem ligara "a máquina" – o miúdo rindo sempre, mesmo quando medroso dos ralhetes. Resultado final: cartão feito em vinte minutos, com competência, simpatia e até algum carinho. Demorei-me tudo o que pude e saí ao fim de vinte e cinco. Há nisto um resto de humanidade que é quase tudo o que me importa na espécie. Tiro o meu chapéu a quem for capaz de não amar um lugar assim.


