Izzy Nobre's Blog, page 46

February 4, 2014

[ Vergonha Alheia da Semana ] Crianças, conheçam (e pratiquem) o “abraço lateral cristão”!



christian side hug


Já que aparentemente o tema da semana aqui na HBD Media & Aluguel De Veículos para Frete é “a suposta superioridade moral cristã”, penso que encontrei este vídeo na hora certa. O vídeo é antigo mas foda-se mano.


Gimme Dat Christian Side Hug“, ou “Me dê aquele abraço lateral cristão” no nosso bom português Brasil brasileiro, é uma apresentação de um grupo rapper evangélico americano. O rap é levado na batida da Marcha Imperial de Star Wars, o tema do imperador Palpatine. Porque afinal de contas quando eu penso em uma bússola moral apontada firmemente para o Bem, a Verdade e os Bons Costumes, a linda face do Darth Sidious me vem à mente.


sidious


Cooptando hilariamente da cultura hip hop pra passar mensagem de castidade (outra junção bastante inapropriada; assista este vídeo e preste atenção na sua letra pra entender o tipo de mensagem mais tipicamente associada ao estilo), os trinta rappers no palco exortam a congregação a evitar os abraços tradicionais, ou “de frente” — ou não-retardados — pois esse tipo de abraço coloca os genitais frente a frente e são um convite à fornicação.


Agora, tem o seguinte.


O hábito do abraço lateral é realmente praticado e incentivado nas congregações como aquela em que o grupo se apresentava. Fui membro de igrejas evangélicas por anos e a doutrina vigente essencialmente pede que os jovens se comportem como seres absolutamente assexuados; sexo e masturbação são pecados gravíssimos, alguns condenam até mesmo beijos “de língua” entre namorados, e os mais radicais chegam a pedir que jovens amantes se sentem em assentos separados na igreja, pra que não fiquem de mãos dadas durante o culto inteiro.


Pois bem. Apesar diso, após o vídeo atingir proporções meméticas na internet o autor da música falou que era tudo uma grande brinks com a prática.


Eu não engulo essa. Redutos cristãos não são conhecidos por essa irreverência declarada com práticas que os membros em geral levam a sério; além disso, relatos no reddit indicam que o grupo apresentou a música bem a sério, com o pastor finalizando a apresentação com a recomendação de que os jovens considerem bem o que o grupo cantou.


E como na letra não há nenhum elemento de zoação com a prática, eu concluo irreversivelmente que a música era séria.


Mas é normal a reação do maluco. Se até EU fiquei com vergonha vendo o vídeo, imagina a cara dele quando ficou sabendo que uma mensagem tão importante virou chacota generalizada na internet…?


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Published on February 04, 2014 04:00

February 3, 2014

[ Resenha Cinematográfica ] A Vila



Quando criança, eu adorava o meu Super Nintendo. O Snes era o fusquinha dos videogames: bom e barato (e às vezes só pegava nos trancos). Quando ouvi o boato de que a Nintendo lançaria um super console de nova geração, experimentei meu primeiro orgasmo. Mal podia esperar para ver o novo videogame da empresa que era praticamente uma divindade para mim e meus amigos.Aí saiu o Nintendo 64.


Com o advento do IRC lá no finzinho dos anos 90, ficou muito fácil arrumar um par pra pegar um cineminha naquela noite de domingo logo após o Faustão que é a realização da palavra “tédio”. Opções femininas não faltavam. Resolvi tentar a sorte com a ^_GaToSa_16^, uma amiga virtual cujas características físicas fariam inveja a uma modelo internacional. Cometi o erro de não pedir uma foto para que pudesse reconhecê-la com mais facilidade na entrada do cinema mas, pensei, “com um corpo tal qual descrito por ela no IRC, não será difícil encontrá-la“. E realmente encontrei-a.


^_GaToSa_16^ pesava três vezes o que eu pesaria se tivesse comido um caminhão de mudanças, tinha mais óleo na cara do que normalmente se gasta no McDonalds pra produzir trinta quilos de batatas fritas e era tão bonita quanto um acidente envolvendo um ônibus escolar e um trem cheio de grávidas num campo minado.


Como fã de Matrix, eu contava os dias para o lançamento da última parte da série. Coincidentemente, o capítulo final da saga do hacker broxa (quem mandou não tomar a “pílula azul”?) foi lançada no Brasil no dia do meu aniversário. A excitação era palpável. Achei que assistiria o melhor filme da história da cinematografia.


Ao invés disso, passaram Matrix Revolutions.


Como vocês podem ver, a vida me presenteou com terríveis decepções. Por pior que fosse o fracasso da realidade em atingir minhas expectativas, jamais imaginei que algo me faria olhar para o N64, pra ^_GaToSa_16^ e pro ingresso de Matrix Revolutions e dizer, entre lágrimas “Eu era feliz e não sabia!“. Isso, claro, foi antes de eu ter assistido A Vila, o que provou de uma vez por todas que não importa quantas coisas terríveis tenham acontecido com você, um dia lançarão um filme pior do que tudo isso elevado ao cubo.


E quando você se der conta disso, já terá pago pra assistí-lo.




Antes de mais nada, um disclaimer: informo de antemão que, no momento que a namorada pôs o DVD no aparelho, voltou pro sofá chutando minha canela acidentalmente, roubou minha pipoca e disse que assistiríamos um filme muito bom, eu já conhecia o final da película.


Como é de conhecimento popular, o senhor M. Night Shyamalamalemolejo tem como marca registrada escrever/produzir/dirigir/dançar/cantar/fazer strips em filme cujo carro-chefe é a surpresa no final. Assim como em Sexto Sentido, Corpo Fechado e Sinais (mas nem tanto neste último), A Vila aposta suas fichas na grande reviravolta que só é revelada nos momentos finais do filme.


Uma vez que eu já conhecia este final, assistir o filme — assim como o nome de seu diretor — não fazia muito sentido. Eu já esperava que o filme não seria assim tão divertido, ao menos pra mim.


Porém, muito otimista, achei que a produção seria divertida (ao menos “assistível”) por si só, sem o seu “espetacular” desfecho. Ou seja, mesmo sabendo que eu muito provavelmente estaria perdendo meu tempo assistindo A Vila, dei um crédito ao senhor Shymashumalagueta pelas seus prévias criações hollywoodianas.


The joke was on me. A Vila distorceu meu conceito de quão ruim as coisas podem ser, ainda que você não esteja esperando pelo melhor.


Vocês que ainda não assistiram e planejam gastar uns 5 reais alugando o DVD, dois conselhos: em primeiro lugar, não alugue. Sério. Faça qualquer outra coisa com esse dinheiro. Saia e compre chocolates, rasgue as notas, use-as como papel higiênico, use a criatividade. Qualquer finalidade dada a estes cinco reais — incluindo rasgar as notas, queimar os pedacinhos e cheirar as cinzas — será mais proveitosa. Queria eu ter rasgado, queimado e cheirado os 3 dólares que gastei alugando o DVD. Eu teria morrido por intoxicação, ao invés de ter passado 108 minutos assistindo a maior decepção hollywoodiana desde que George Lucas decidiu que não era milionário o bastante e que podia lançar cinco jogos de videogame baseados na franquia Star Wars se gravasse Episódio I – A Ameaça Fantasma.


O segundo conselho, caso você prefira gastar o dinheiro alugando o filme que inalando-o, é este: não pense que você estará alugando um filme legal de terror/suspense. Ao invés disso, encare A Vila como uma comédia romântica européia dos anos 70, filmada toda em câmera lenta, que alguém alugou antes de você e gravou de sacanagem, por cima da fita, três ou quatro imagens de monstros.


Não estou de putaria com vocês. As quase duas horas do filme não passam de um romancezinho mela-cueca do personagem vivido pelo Joaquim Phoenix, o padeiro português da vila, e uma menina qualquer cuja irmã levou um fora do seu Joaquim, ora pois. Do nada, quando você menos espera, a sombra do reflexo da silhueta do monstro aparece para tirar nosso sossego. Nesse momento, a súbita mudança da música acaba fazendo você acordar, ou chutar a namorada como reflexo. Enquanto você esfrega os olhos e limpa a baba da almofada do sofá, o bicho já montou em sua motocicleta invisível e desapareceu de vista.


Isso não é tudo. Aliás, isso é só o começo. Há muito mais coisas horrorosas nesse filminho de merda, dentre as quais posso citar a atuação – ou algo mais notável, a falta dela.


A Academia deveria estabelecer uma regra que impedisse vencedores do Oscar de receber cachês nos filmes seguintes à sua premiação. Isso certamente impediria que atores que no ano anterior foram considerados os mais talentosos de “atuar” (e uso o verbo irresponsavelmente aqui) em lixos como A Vila em troca de alguns trocadinhos para comprar uma Ferrari nova.Encarem isso como uma medida preventiva de suicídio profissional. Aposto que isso evitaria uns três A Vila‘s por ano, jogando por baixo. Adrien Brody deveria ter sua estatueta enfiada no reto e retirada pela orelha esquerda com alicates industriais, e isso não seria nem metade do que ele merecia por ter aceitado sujar o currículo com esse pedaço de merda que é A Vila.


Mas ver um ganhador do prêmio máximo da cinematografia interpretando um mongol com menos de quatro frases em seu repertório é apenas um pedacinho de milho não-digerido nesse tolete úmido e fumegante que é A Vila. Mas esse não é um cocô comum. Estamos falando aqui de um tipo muito especial de cocô, aquele que faz sua mãe abrir todas as janelas da casa e exige pelo menos três descargas para que sua existência hedionda saia de uma vez por todas de nossas vidas. E ainda assim, as marcas que este bolo fecal deixa para trás são irremovíveis. Esfregue com aquela escovinha branca o quanto quiser, nem assim você removerá os resíduos completamente.


E a menina cega?! Como posso escrever uma resenha sobre A Vila e não citar a menina cega?!


Não me levem a mal, não quero desmerecer a desesperada tentativa da atriz em nos convencer que ela estava ao menos tentando atuar. Tenho certeza que Bryce Dallas Howard deve ter pesquisado muito pro seu papel; aliás, sua pesquisa foi tão intensiva e consumiu tanto tempo da garota que ela não teve tempo de aprender o básico sobre pessoas cegas: elas não enxergam.


Justamente por isso é que elas não encaram as pessoas com quem conversam, ou movimentam os olhos na direção de ruídos, ou piscam com frequência, ou conseguem enganar monstros fazendo-os caírem em buracos logo a sua frente, ou seja, coisas que Bryce faz o tempo todo durante o filme. Seria impossível concluir que essa menina era cega se não tivessem deixado isso explícito. Em um momento eu achei que a grande surpresa do filme é que ela passaria uma rasteira no Joaquim, jogaria a bengala na cabeça dele e diria “Aê mané, eu não sou cega não! Sacaneei!” Provavelmente, teria sido um final melhor.


O monstro é uma palhaçada à parte — digo “o monstro”, porque não sei se apareceram mais de um no filme. Vou alugá-lo novamente para tirar a dúvida, mas tenho que lembrar de durex nas pálpebras dessa vez. Quando vi pela primeira vez aquela mistura de Sonic the Hedgehog e Papai Noel corcunda, achei que a intenção do diretor era deixar os espectadores sem fôlego de tanto rir, provocando um coma induzido por falta de oxigenação no cérebro, que nos faria acreditar, quando voltássemos a consciência, que assistimos um bom filme.


Infelizmente, não funcionou comigo. O suposto monstro é muitíssimo obviamente alguém usando nada mais que um traje de monstro-porco-espinho, que na folga do Natal deixou o saco de presentes na floresta e foi assustar aquela gente legal da vila. As pessoas da produção que reasseguraram o diretor de que aquela porcaria seria assustadora devem ser aquele tipo de gente que sempre dormem de luz acesa e se mijam de medo quando vêem borboletas.


Mas não posso julgar o senhor Shyamleiohaqlqwo; se eu fosse lançar um filme ruim com um monstro que só aparece durante cinco minutos em quase duas horas, eu também teria economizado nos efeitos especiais e contratado os melhores marketeiros do mercado pra vender a idéia.


Agora, à parte que todos esperavam: o final.


O filme é bem velho, então acho que todos já assistiram-no e assim ninguém se chateará se eu contar que o(s) monstro(s) na verdade não existem, e que foram criados pelos tais anciões para impedir que os mais novos se arriscassem a atravessar a floresta e descobrissem que na verdade não é ano 1897 porra nenhuma, e que os anciões são uns bundas-moles que, cansados de lidar com a dureza da realidade, recriaram uma vila do século passado pra se esconder nela.


(Se você ainda não assistiu o filme, não leia o parágrafo acima.)


Vou ter que dar o braço a torcer aqui: a história é muito interessante, se não fosse esculhambadamente mal contada. Acontece que o senhor Shyamlashuiwjsdqamnn, que deve ter deixado o sucesso subir a cabeça, resolveu desafiar as próprias habilidades como diretor. Ao invés de contar a história como se faz normalmente, ou seja, início, desenvolvimento com conversas chatas, clímax e GRANDE SURPRESA, ele resolveu inovar com início, desenvolvimento com conversas chatas, desenvolvimento com conversas chatas, desenvolvimento com conversas chatas, desenvolvimento com conversas chatas, desenvolvimento com conversas chatas, GRANDE SURPRESA e clímax.


Se você não sabe o que isso quis dizer, explico (porque tou com preguiça de fazer um GIF animado). Lá pelo finalzinho do filme, a menina cega decide atravessar a floresta para buscar remédios e salvar a vida de Joaquim, que levou facadas do outro gajo. Somos levados a pensar que esse será O MOMENTO do filme, que toda aquela chatice a que fomos submetidos nas últimas trinta horas de romancezinho chove-não-molha foi o prelúdio para os grandes sustos que levaremos agora.


Aí o diretor decide que talvez nós ficaremos mais assustados se já soubermos de antemão que os monstros não são reais. Ou seja, minutos antes do que seria os sustos de nossas vidas, o diretor vai e conta o final precipitadamente. Qual a graça de ver a menina cega fugindo de algo que já sabemos (nós e ela) não ser uma ameaça, e sim um engraçadinho usando uma roupa de Papai Noel com palitos de dentes espetados nas costas?


Não sei.


Mas M. Night Shayfjklawhpdanjkq achou que seria o maior barato.


Essa foi a grande surpresa de A Vila. Todos foram ao cinema motivados pela sensacionalística campanha publicitária que implorava para que aqueles que já tivessem assistido o filme não contassem o final pro seus amigos. No fim das contas, o próprio diretor estragou o final, contando a surpresa antes da hora.


Má atuação, história arrastadíssima, final tão espetacular quanto um prego torto e, como se isso não fosse o bastante, ainda foi estragado pelo próprio contador da história. A Vila é um fracasso retumbante em qualquer nível concebível pelo sentido da palavra “fracasso”.


Sou um homem humilde e consciente das minhas limitações. Tenho plena convicção de que mesmo que eu fosse pago horrores, quisesse ardentemente e me esforçasse muito, jamais conseguiria fazer um filme pior que esse. O senhor Shyajlandoqiueq merece meu respeito por ter atingido o nível máximo de escrotice que foi permitido enfiar num rolo de filme, coisa que os diretores de Power Rangers, Spice World e Debi & Lóide apenas sonharam.


A Vila é, concluindo este post, A maior decepção que alguém pode ter na vida. Nunca na história da cinematografia um diretor conseguiu capturar com tanta perfeição a sensação de abrir um presente de Natal e encontrar um par de meias.


Seria melhor que eu tivesse comprado um Nintendo 64, casado com a ^_GaToSa_16^ e viajado pra Los Angeles pra assistir a World Premiere de Matrix Revolutions. O risco de que o “efeito borboleta” dessas atitudes resultariam em que eu jamais assistisse A Vila faria valer a pena jogar Nintendo 64 pro resto da vida.


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Published on February 03, 2014 04:00

February 2, 2014

BEIJO GAY NO MEIO DA SUA TV!

Olhaí um vlog novo, turma! Vamos assistir juntinhos aí:



Como sempre, imploro: deixe joinhas, favorite, espalhe o vídeo entre seus amiguinhos pra ajudar essa porra a crescer. Quanto mais feedback um vídeo recebe, mais empolgado eu fico pra criar mais. Não te custa nada, porra! :D


Caso você prefira assistir no youtube, basta clicar aqui!


Grato e tenha um belo dia.


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Published on February 02, 2014 19:56

January 30, 2014

English Daily Vlog: What do I do on the Internet, after all?

Olhaí um vlog novo, turma! Vamos assistir juntinhos aí:



Como sempre, imploro: deixe joinhas, favorite, espalhe o vídeo entre seus amiguinhos pra ajudar essa porra a crescer. Quanto mais feedback um vídeo recebe, mais empolgado eu fico pra criar mais. Não te custa nada, porra! :D


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Grato e tenha um belo dia.


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Published on January 30, 2014 19:02

Bíblia, doutrinação de crianças, e o mito da moral cristã

biblia


Um dos argumentos mais perenes usados pela comunidade cristã em defesa de sua doutrina é o argumento da moralidade. Especificamente, eles alegam que a bíblia contém importantes lições morais, e que um mundo completamente ateu e secular (ou seja, sem nenhuma influência bíblica) seria um total antro de perdição e imoralidade.


Existem inúmeras maneiras de provar o quão hilariantemente errônea essa proposição é; entretanto, eu gostaria de usar um exemplo que vem diretamente dos confins da minha querida infância.


Como já mencionei aqui neste site diversas vezes, nasci em lar cristão. O meu próprio nome (“Israel”, possivelmente o nome mais significativo em toda a cultura cristã depois de “Jesus”) reflete essa inclinação religiosa da família, inclusive. E como tal, eu fui doutrinado nos princípios cristãos (pelo menos, de acordo com a interpretação da nossa congregação, evidentemente — não há muito consenso no cristianismo se você parar e prestar atenção) desde criança.


E um dos métodos que famílias cristãs empregam pra catequizar as crianças é isto aqui:


noé


Livrinhos bíblicos infantis. Eu tinha inúmeros, mas muitos MESMO. Sabe aquela anedota de que nos tempos medievais, tantas igrejas alegavam ter pedaços da cruz de Jesus que se juntassem todos, dava pra montar um navio? Então, eu tinha TANTO livrinho infantil bíblico que se você batesse o olho, julgaria que dá mais história do que contém a própria bíblia.


Eu tinha todo tipo de livro — um novo testamento ilustrado que eu adorava (e que mencionei aqui), livros com desenhos bem cartunescos, livros com ilustrações mais foto-realistas… toda a literatura com a qual entrei em contato entre minha alfabetização e meus 7 ou 8 anos consistia nesses livrinhos cristãos. E eu tinha livros de todas as histórias que você pode imaginar: das mais populares (como a Arca de Noé aí em cima) até as mais obscuras (o encontro de Jesus com Zaqueu, por exemplo, que não recebeu marketing similar e é conhecido mesmo só pelos true aficcionados).


Então, porque estou falando dos livrinhos infantis e da doutrinação que crianças recebem desde cedo em lares cristãos? Bom, pra ilustrar isso, usemos o mesmo livro sobre a Arca de Noé aí em cima.


Você conhece a história de Noé, né? Todos conhecemos. Deus tava revoltado porque a humanidade estava tocando o puteiro, se arrependeu de criar o homem, e resolveu dar fim naquela porra toda. Mas antes de detonar a parada ele informou Noé, o único homem de bem no planeta inteiro, que começasse a construir um barco imenso porque ele estava prestes a afogar todo mundo, num dos raríssimos usos da expressão “TODO MUNDO” que não é hiperbólico.


(Vamos ignorar por um instante o fato de que a menos que Deus executasse uma vasectomia mágica em Noé e seus filhos, o problema “humanos tocando o puteiro no planeta” se repetiria muito em breve, e que este bug no projeto deveria ter sido notado por uma entidade onisciente)


(Vamos também rapidamente ignorar o fato de que o mito da arca existe em diversas outras culturas, em datas ANTERIORES ao relato do Gênesis, e que muitíssimo provavelmente era uma lenda mesopotâmica antiga que foi simplesmente cooptada por Moisés quando este escreveu o Pentateuco — um esquema tipo “vocês ouviram essa história né? Bom, NA REAL foi o nosso Deus que fez as paradas, e foi assim…”)


Então. Quando criança, eu e meus irmãos aprendemos que Deus decidiu salvar uma única família, e chacinar o resto do planeta inteiro — até mesmo animais inocentes que não ganharam a loteria de entrar na arca. Parece um dano colateral absurdo pra um ser onipotente que poderia, se quisesse, executar sua matança de forma mais precisa, mas vamos ignorar isso também.


Se algum de nós questionasse “mas mãe/pai, Deus matou MILHARES de pessoas assim do nada…?”, a resposta inevitavelmente era “ah, mas eles eram pecadores/seguiam outra religião, eles mereceram”. Vamos, novamente, ignorar o fato de que até esse ponto na história dos judeus não existiam regras específicas de conduta — e mesmo quando elas surgiram, eram cheios de mandamentos sem sentido como não comer porco, não usar roupas que misturassem lã com linho, ou não cortar o cabelo.


E note que há gente que defende que a bíblia contém importantíssimos conceitos de moral, ein.


Então. A morte de centenas de milhares de pessoas era relativizada com pouca importância (quase descaso, mesmo): eram pecadores, seguiam outra religião, mereceram morrer. Uma fatalidade global era tratada com um gesto apatético de ombros, como quem diz “ahh, isso aí? Nem dá nada, relaxa”.


Talvez seja mais fácil relativizar a morte de centenas de milhares quando o fato aconteceu milhares de anos antes de você existir. Pra compreender o que o dilúvio de Noé significa em termos mais tangíveis, vamos contextualizar com algo que aconteceu quase 10 anos atrás.


050102-N-9593M-040


No dia 26 de dezembro de 2004, um tsunami no Oceano Índico atingiu 14 países naquela região da Ásia com ondas do tamanho de prédios de 9 andares.


Imagina uma onda desse tamanho indo pra cima de você.


onda


Talvez não seja surpresa que o desastre causou 230 MIL mortes.


Poise bem. O tsunami de 2004 seja talvez o mais próximo que nós passaremos de presenciar um cataclisma nas proporções do dilúvio descrito na bíblia.


Você seria capaz de dizer “ahhh, mas aqueles caras lá da Ásia adoram outros deuses e/ou eram tudo pecadores. Eles mereceram isso aí”…? Você conhece alguém que seria capaz de raciocinar assim…?


Se sim, eu recomendaria ficar longe dessa pessoa. Essa completa falta de empatia com outros seres humanos, a ponto de justificar ou até mesmo trivializar a morte de centenas de milhares (incluindo aí, não esqueça, crianças, idosos, e outros indivíduos de em condições de fragilidade, como pessoas com deficiências mentais), está muito longe de ser uma evidência de “moral elevada”.


Na realidade, essa total apatia com sofrimento e morte humana é uma característica de serial killers. É completamente impensável que se racionalize uma fatalidade de tamanha magnitude, e no entanto, é isso que a bíblia nos ensina.


Pior, é isso que pais cristãos ensinam a seus filhos! A morte indiscriminada de centenas de milhares não é causa pra preocupação ou questionamento da real moral da história; ademais, o cara que CAUSOU essa matança homérica não apenas é o mocinho da história — ele é a mesma entidade que adoramos, em honra da qual escolhemos o seu nome até!


É completamente ABSURDO que se ensine essa história pra crianças usando “ahhhh mas esses caras aí mereceram mesmo, nem se preocupe com isso” como justificativa ou moral da história.


Tendo tudo isso que eu te falei em mente, me diz se o vídeo abaixo não é literalmente ASSUSTADOR:



http://www.youtube.com/watch?v=r8_ZCPnGjog



Não estou usando de hipérbole aqui não. Ver um bando de crianças cantando alegremente que “quem pecar vai morrer” — uma punição que muitos debatemos se é válida em casos extremos, que dirá então quando “pecar” pode simplesmente ser “comer carne de porco” — me causa um arrepio. Chega a ser cartunesco esse total descaso pela vida humana.


Não sei se você reparou, mas o nome da música é DEUS NOS AMOU. Ele criou um lugar pra onde enviará pessoas que não acreditaram nele pra sofrerem eternamente (independente de terem sido boas pessoas ou não), mas ele nos ama. O nível de lavagem cerebral necessário pra conciliar essas duas idéias claramente contraditórias é incalculável — e não é diferente do que acontece com habitantes de países ultra-autoritários, reparem. O regime dos Kim na Coréia do Norte matou, direta e indiretamente, uma multidão incontável. Apesar disso, olha como a galera lá reagiu com a morte do Kim Jong-il:



http://www.youtube.com/watch?v=mSLJYbhXCkE



Dissonância cognitiva é isso aí.


Agora me responde: ISSO AÍ é a filosofia de vida provida de maiores valores morais…?


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Published on January 30, 2014 03:00

January 29, 2014

O triste porém inevitável futuro que aguarda fãs malucas do Justin Bieber

jb


Há alguns dias, eu gravei um vlog onde me expresso sobre a recente prisão do ícone pop Justin Bieber. Não é novidade pra ninguém que o Justin Bieber, que teve origens relativamente inocentes mas que está aparentemente se “relançando” como bad boy leite com pêra, continua tendo um séquito de fãs prepubescentes apesar das inúmeras cagadas envolvendo drogas, prostitutas, e vandalismo, só pra citar as mais recentes.


É natural que garotinhas imberbes continuem venerando celebridades do mundo pop a despeito (ou talvez em função) dessas maloqueiragens. Pô. em minha adolescência eu curtia Marilyn Manson em boa parte porque ele era mó “subversivo” e tal, quem sou eu pra julgar.


(Curiosamente, descobri em tempos recentes que eu só realmente curtia os poucos singles do Manson que eram comerciais o bastante pra aparecer na MTV. Baixei a discografia dele e 90% é um pseudo industrial/experimental chatíssimo que me causou até raiva.)


Entretanto, o nível de devoção que essas garotas nutrem pelo rapaz é assustador ao mesmo tempo que dá indícios de um futuro deprimente.


Por fazer aquele vídeo — e, admito, antagonizar diretamente as fãs do rapaz no tuíter. Era um dia de folga e eu estava entediado –, fui por alguns instantes persona non grata nos círculos de acólitas do cantor canadense. Além do tipo de resposta que eu já esperava ouvir (“grandes merdas, você é só um nerd escroto e ele é milionário”, “essas histórias aí são tudo mentira”, e o particularmente irônico “vai estudar porque ficar fazendo vídeo pra internet é coisa de loser” — eu já estudo, e o Bieber começou sua carreira fazendo adivinha o que?), um tipo de comportamento se sobressaiu e me surpreendeu.


que bosta

Repare que eu entitulei o arquivo “que bosta.jpg” porque é a forma mais concisa de sintetizar o conteúdo dela


No screenshot acima, a garota postou 9 imagens de momentos do cantor que, por insinuação própria dela, são lamentáveis ou reprováveis. A postagem foi pra responder a crítica de que “Beliebers se acham fortes demais”; o argumento da garota é que ela é forte sim, porque aturar esse tipo de comportamento do ídolo e se manter imutável em sua admiração por ele é sinônimo de força.


Essa curiosa filosofia de inversão de valores — dispensar o senso crítico e continuar admirando alguém por mais que esta pessoa exiba sinais claros de que não é alguém que se deva admirar — é o que me dá mais pena nessas beliebers. Existe algo muito errado com a psiquê da pessoa que equivale “permanecer ao lado de alguém que dá motivos evidentes pra que que você repense sua simpatia por ela” a “virtude louvável e até mesmo motivo de soberba”.


Esse tipo de comportamento deprimente é bastante comum com garotas em relacionamentos abusivos. Já tive amigas próximas que eram abusadas verbalmente e até mesmo fisicamente por namorados — em uma ocasião, o sujeito tirou onda porque a menina começou a chorar no meio de uma briga, tomou o lenço de papel dela e tentou enfiar na boca da coitada — e eu reparava nelas esta mesma mentalidade meio Síndrome de Estocolmo, que descreve o sentimento de empatia que algumas pessoas nutrem por seus atormentadores.


Em outras palavras: o abuso pelo qual elas sofriam galvanizava, na cabeça delas, a paixão que elas sentiam pelo cara. Elas carimbavam o relacionamento como “é amor de verdade”, porque se não fosse, como ela teria a “força” pra continuar com o cara…? Algumas até relevavam os abusos que sofriam, indo na máxima de “um dia a gente vai rir disso” — uma postura que você JAMAIS deveria ter quando o assunto é relacionamento abusivo.


Esse tipo de passividade e permissividade com atitudes escrotas e que as magoam é uma marca registrada nos tweets como os que eu postei aí em cima.


E é por isso que tenho pena das beliebers. Se nessa idade (e por um cara que nem sabe que elas existem) elas já consideram “virtuoso” aguentar tudo que o malandro faz… como esperar que elas se comportem de forma diferente com um homem de quem elas REALMENTE gostam…? O que elas aturariam vindo de um namorado, então? Na melhor das hipóteses, se prostrariam a todas as vontades do cara de forma completamente submissa, o que é extremamente doentio.


Esse é o tipo de mulher que toma soco na cara e a maior preocupação é como esconder das amigas no dia seguinte.


Confiem em mim. O sistema operacional de alguém que julga “aturar canalhices sem jamais sequer questionar a índole do canalha” como um atributo positivo tá totalmente fragmentado.


Essas meninas precisam de ajuda.


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Published on January 29, 2014 03:00

January 28, 2014

[ Dica de Documentário ] DPRK: The Land of Whispers

korea


A Coréia do Norte me fascina. Um fóssil vivo do estilo de vida e governo comunista clássico, um live action do 1984 de George Orwell, é um país irreparavelmente fodido, lar de uma gente sofrida e completamente alienada em relação ao mundo. Eu sou absolutamente obcecado com o país (pelo menos até semana que vem, é assim que meu cérebro funciona).


Embora seja quase impossível pra um norte-coreano sair do seu país, é surpreendentemente fácil pra um Ocidental ir lá visitar a terra do dos Amados Líderes Kims. E este riponga com drealocks e sotaque que não consigo localizar não apenas foi lá — o que convido-os abertamente a considerar uma puta loucura — como também filmou um excelente (embora em alguns aspectos bem amador) documentário entitulado DPRK: The Land of Whispers.


Com pouco menos de uma hora de duração, o documentário é absolutamente hipnotizante se você, como eu, tem uma curiosidade quase mórbida sobre o povo e o estilo de vida num país com tão poucas liberdades.


Os pontos altos do documentário pra mim foram o autoritarismo dos “guias” que acompanharam o cinegrafista (em alguns momentos eles impediam o sujeito de filmar, e um deles se gabou na frente dos turistas de ter destruído a câmera de um jornalista), a total lavagem cerebral que os habitantes de lá sofrem, e o quão atrasado o país realmente é. Em um momento, um dos turistas mostra um tablet pra uma garota local lá, e a menina fica completamente mesmerizada pelo aparelho. E olha que era um tablet Android!


Extremamente recomendado — especialmente porque tem legenda em português e tudo!


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Published on January 28, 2014 03:00

January 27, 2014

Daily Drive feat. a voz do meu GPS: Magic The Gathering

Olhaí um vlog novo, turma! Vamos assistir juntinhos aí:


Como sempre, imploro: deixe joinhas, favorite, espalhe o vídeo entre seus amiguinhos pra ajudar essa porra a crescer. Quanto mais feedback um vídeo recebe, mais empolgado eu fico pra criar mais. Não te custa nada, porra! :D


Caso você prefira assistir no youtube, basta clicar aqui!


Grato e tenha um belo dia.


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Published on January 27, 2014 17:32

[ Pergunta do Dia ] Você já experimentou um “bug na Matrix”?

Matrix foi um filme legal pra caralho. Lembram desta cena?



http://www.youtube.com/watch?v=z_KmNZNT5xw



Essa cena imortalizou um conceito na cabeça da molecada — quando você vê algo inexplicável ou fora da ordem natural das coisas (como um deja vu usado como exemplo), isso significa um glitch na simulação em que vivemos (causada, neste caso, porque os Agentes alteraram a Matrix pra foder com os “heróis”). Uso “heróis” entre aspas porque quero faz tempo escrever um artigo falando sobre protagonistas que o filme enquadra como heróis, mas não estão na realidade ajudando porra nenhuma. Me cobrem isso, porque eu estou com essa idéia desde 2009 e até agora não escrevi UMA LINHA SEQUER.


Pois bem, a idéia do bug na Matrix é perene nos círculos nerds, e rendeu até este subreddit. E eu tenho certeza que vocês já experimentaram seus próprios bugs.


Hoje contarei a história do meu mais recente.


Estava eu no trabalho indo ver um paciente num quarto em isolamento. Não sei se a terminologia usada no cenário médico brasileiro é este, mas aqui é assim que chamamos pacientes infectados com MRSA, VRE, tuberculose, catapora, entre outros.


E isolamento é um saco porque, além de significar um risco extra pra gente, torna o processo de visitar um paciente mais complicado. Tenho que tirar o jaleco, lavar as mãos, colocar uma bata por cima do pijama cirúrgico, pôr uma máscara, luvas, um protetor facial, separar alguns poucos instrumentos pra entrar no quarto do indivíduo (por via de regra tudo que entra num quarto em isolamento deveria ficar lá, então tentamos limitar o que entra)… No final desse processo todo eu fico assim:


ppe


Pois bem. Nestes dias eu fui ver um paciente em isolamento, e enquanto fazia todo esse procedimento descrito acima e escaneava o ambiente, vi uma enfermeira entrando no quarto vizinho…


…E menos de 2 segundos depois, ela saia de um quarto do outro lado do corredor, a PELO MENOS uns 40-50 metros de distância. Nesse exato instante eu parei no meio da tarefa de põr as luvas e fiquei lá, com a luva semi-penetrada pela mão esquerda, boquiaberto, como se eu fosse um filme e alguém tivesse me dado pause. Olhei pra um quarto, e depois pro outro, não conseguindo entender a parada.


Foi uma sensação tão surreal que eu duvidei meus próprios olhos. Pra mulher ter percorrido aquela distância, ela teria que correr desesperadamente e ter acesso aos laboratórios da Aperture Sciences, já que não há conexões entre os quartos.


Peraí, eu pensei, e tive que resistir a tentação de coçar a cabeça porque já estava de luvas. Eu a vi mesmo entrando aqui do lado…? Eu “sei” que eu vi, mas devo estar enganado. Como ela poderia ter saído LÁ DO OUTRO LADO, CARALHO?! Em dois segundos?!?!


Olhei pro meu pager, me sentindo confuso e já esquecendo até o que diabos eu estava fazendo ali. O plantão tinha começado apenas a umas 3 ou 4 horas; eu não podia estar tão cansado assim que começava a não compreender mais o mundo ao meu redor. Tô ficando louco…? O QUE DIABOS?!


E logo em seguida a mesma enfermeira, que estava sentada a uma mesa olhando uns papéis, sai de novo daquele primeiro quarto. E aí eu entendi.


Eram gêmeas. E, pelo jeito, devem se divertir confundindo pacientes e colegas de trabalho, porque elas se vestem EXATAMENTE IGUAL, e inclusive prendendo o cabelo da mesma maneira. A segunda irmã foi perguntar algo pra primeira, e nisso ela olhou de soslaio pra mim. Eu devia ainda estar com um semblante de confusão ou incredulidade — ou talvez esboçando aquele “ahhh…” de alguém que finalmente entende um problema complicado de matemática — porque ao olhar pra mim ela sorriu, provavelmente entendendo por que eu estava questionando minha sanidade.


Ou de repente ela até pensou “hahahaha, deixamos mais um louco!”


Você já experimentou algum “bug na Matrix” desse jeito? O meu teve explicação no final, mas por uns 3 ou 4 segundos eu tive plena convicção de que nosso mundo é uma realidade virtual controlada por máquinas que podem ou não ser os vilões da história. Juro que vou escrever aquele post lá.


Conte aí suas experiências de má interpretação da realidade física que nos rodeia, quer a confusão tenha sido solucionada depois ou não.


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Published on January 27, 2014 03:00

January 26, 2014

[ Resenha Cinematográfica ] Wishmaster (1997)

Como qualquer um que já tenha se aventurado pelos longos arquivos do HBD deve saber, este site é bastante antigo. Em sua versão “mais recente”, o HBD começou em fevereiro de 2004; No entanto, o site foi na verdade criado 2 anos antes. E nesses anos todos, há vários formatos de posts com os quais experimentei aqui.


E um post que eu adorava fazer anos atrás eram resenhas. Eu resenhava tudo: games, seriados, tech toys, e principalmente filmes. E como é um conteúdo que eu acredito que muitos de vocês gostariam mas nunca encontraram nos arquivos do site, resolvi repostar alguns deles. 


Esta resenha é do filme Wishmaster, e foi postada no HBD originalmente em 2005. Era da época em que eu usava a iconografia do Mario e tal, o que explica o grafico abaixo que ilustrava meus textos sobre cinema.


Eis o texto. Melhorei um pouco a redação, incluí imagens e vídeos do youtube pra ilustrar as cenas descritas — algo que eu não pude fazer na época, visto que o YouTube na época mal existia.




Esta é provavelmente a resenha cinematográfica mais longa que já escrevi. Isso se deve ao fato de que o filme aqui revisionado é tão ruim, mas tão ruim, que se torna fenomenal. Logo, há muito para se escrever sobre ele.


No último sábado, reuní-me com meus camaradas canadenses ruins em matemática para um “get together“, que são encontros semanais que temos por aqui. Por definição, get togethers consistem numa reunião de pessoas não em número suficiente para ser considerada uma festa, mas o bastante para constar como um evento social, como uma convenção de Star Trek ou uma suruba.


Acrescentando à agenda da noite (que já incluía uma sessão de Vampiro, um mini-campeonato de Halo 2 e a certeza de que eu seria humilhado neste último — sim, somos todos nerds felizes –, Adam trouxe à sala o DVD de Wishmaster, creio eu lançado no Brasil como “Mestre dos Desejos” ou algo similarmente óbvio.


Após eu ter levado uma formidável sova em Halo, por motivos que envolvem o fato de que a porra daquele controle me odeia, nosso anfitrão desligou o videogame (um tanto quanto para meu alívio) e meteu o filme no aparelho de DVD. Como meu sonho de salvar a Terra a base de tiros já havia sido destruído pela minha falta de habilidade em FPSs de console, restava a esperança de que assistiríamos a um bom filme.


Wishmaster começa preenchendo a tela com o pomposo anúncio de que foi escrito por ninguém menos que Wes Craven, cineasta responsável pela bem sucedida série de horror Pânico e por quatrocentos outros filmes não tão bem sucedidos. Chamar aquelas porcarias (que Craven deve ter filmado em 3 horas só pra pagar um aluguel atrasado) de “não bem sucedidas” é como dizer que o bombardeio de Hiroshima foi uma falta de educação da parte dos americanos. As outras películas são simplesmente vergonhosas, e me surpreende o fato de que Craven não mudou de nome ou faz uma cirurgia plástica para se desassociar à criação daquelas monstruosidades. Eu teria. Mas eu sou feio, então eu provavelmente faria uma plástica a despeito disso.


Mas então, Wishmaster.


wish


O filme começa ambientado no ano 238492742492 antes de Cristo, aparentemente na Pérsia ou em algum outro país do Oriente Médio que não existe mais. A câmera viaja até dentro de um palácio. Se você achava que os três segundos que a panorâmica demorou pra chegar ao palácio foram tediosos demais e não mostraram ninguém morrendo dramaticamente e que portanto este filme não é do Craven, se prepare pra surpresa!



http://www.youtube.com/watch?v=ZnbZQn6SE60



 


Coincidentemente enquanto alguém passeava com uma câmera dentro do palácio, uma desgraça de proporções estratosférica está acontecendo — e que nos dá a chance de verificar que os 17 dólares usados na produção desse filme foram bem empregados em maquiagem e má atuação. Sem nenhum aviso do que diabos está acontecendo, pessoas correm pra todos os lados do palácio, sangrando pela boca, nariz e outros variados orifícios, com os rostos ou corpos deformados.


Há nas proximidades um homem cuja metade do corpo foi transformada numa cobra. Segundos mais tarde, numa das cenas com o uso mais óbvio de bonecos de borracha na história do cinema, um bicho demoníaco explode da barriga de um infeliz (cof cof ALIENS cof cof) e MORDE O BRAÇO DE UM CARA QUE PASSAVA POR PERTO ENQUANTO AINDA PENDURADO DA BARRIGA DO FUTURO DEFUNTO.


caralho

Caralho!


Em meio a este show de horrores, percebemos que a câmera é o ponto de vista de um carinha que corre desesperado em direção ao centro do palácio, tentando desviar das mutações da natureza em sua volta. A estupefação é visível na cara do corredor, que aparentemente não apreciou ver monstros pulando de barrigas.


Antes que eu continue a resenha, devo deixar claro: a cena mais memorável de todo o filme é a sequência em que um carinha cai, agonizando, e em seguida seu esqueleto rasga sua pele e pula pra fora, como que dizendo “querida, cheguei!”, e logo depois corre pra estrangular um outro infeliz que teve a infeliz infelicidade de estar infelizmente passando por perto no momento pouco feliz.


É TENSA


O cara que corria e desviava das aberrações, que até aí entendemos ser uma espécie de conselheiro do rei do palácio das maravilhas, chega à sala do trono. E, surpresa, lá está o Wishmaster, o satânico demônio que emprestou seu nome a esta porcaria de filme.


Ao contrário de gênios bonzinhos como Einstein e aquele do Alladin, este aqui tem como trabalho integral e vitalício foder os pedidos que seus mestres fazem. O conselheiro pede ao seu rei que pare de fazer pedidos, uma vez que o gênio satânico irá apenas pensar numa maneira de perverte-los. Nesse instante, compreendemos que o baile dos infernos de segundos atrás foi causado por um desejo esculhambado pelo gênio.


No melhor momento “Programa do Ratinho” do filme, o gênio e o conselheiro travam uma espécie de debate, enquanto o rei assiste a comoção com um olhar de peixe morto.


Mas o conselheiro aparentemente não tem paciência pra discutir com seres das trevas, e assim tira do bolso sua fantástica pedrinha PRENDE-GÊNIOS-2000. Ele aponta-a em direção do ser maligno e assim ele e toda sua malignidade são presos dentro da pedra. Neste exato momento você pensa “eu aposto minhas cuecas que algum imbecil pegará essa pedra e soltará o gênio“.


E é o que acontece. Cinquenta bilhões de anos depois, há um barco trazendo pros EUA um carregamento de artefatos antigos do Oriente Médio (veja que feliz coincidência). A câmera dá um zoom numa caixa, apenas pra que você saiba que a tal pedra PRENDE-GÊNIOS-2000 está, de alguma forma e sem sombra de dúvidas, lá dentro. Um guindaste apanha a caixa do navio e a trás pro chão do porto.


Acontece que o operador do guindaste, veja só que palerma, se atrapalha nos controles e derrama seu café neles. Mas o problema é que este não é um café Nestlé qualquer, é um super CAFÉ-QUEIMA-TUDO-3001. Como resultado, o painel de controle emite fumaça e explode, fazendo o guindaste soltar a caixa. E bem em cima de um pobre coitado que caminhava tranquilamente lá embaixo, que se explodiu como uma melancia. Provavelmente era mesmo uma melancia, já que eles gastaram todos os 17 dólares do orçamento nas cenas iniciais, e fruta são mais baratas que estúdios de efeitos especiais.


Mas então. A caixa cai, mata uma melancia e a estátua que estava dentro se quebra, revelando a PRENDE-GÊNIOS-2000 encrustada em um dos fragmentos. O operador do guindaste viu o negócio, pegou-a e levou pra uma lojinha qualquer, pra faturar uma grana. Uma coisa leva a outra e eis que aparece a protagonista do filme, a doutora Alguma Coisa, que trabalha na lojinha e é especialista em detectar se pedras capturadoras de gênios são reais ou forjadas. E, sem querer querendo, acaba liberando o gênio!


Craven, inseguro dos próprios talentos como escrevedor de coisas assustadoras, achou melhor pôr algum tipo de garantia no seu filme. Eis que, sem mais nem essa nem outra, Freddy Krueger (no caso, o ator Robert Englund) é trazido para a trama, como uma forma do diretor lembrar-nos de que isto ainda é um filme de terror, a despeito dos hilários bonecos de borracha e dos copos de café que destróem guindastes.


Infelizmente, o fato de que o ator que interpreta Freddy não é o icônico assassino sobrenatural e sim algum tipo de empresário engomadinho apenas aumenta o já constrangedor humor não-intencional do filme. Se você achar qualquer coisa nesse filme remotamente assustadora, você também deve achar borboletas e flores assustadoras.


Então, voltamos ao super laboratório onde estão testando a pedrinha vermelha. O gênio invariavelmente escapa, não sem causar uma explosão semi-inesperada. O técnico que estava no local é jogado pelo ar como uma meia velha, e se arrebenta todo na descida. O gênio (por algum motivo que desconheço, ignoro e simplesmente não me importo), aparece neste trecho como uma miniatura de si mesmo, um mini-gênio. O ser demoníaco das profundezas satânicas, por sua vez, pergunta ao técnico que agoniza se ele “deseja” que a dor pare. O coitado, previsivelmente, diz que sim. Oh, mas que burrinho! O gênio se aproveita do vacilo e mata o infeliz, embora pondo um fim a dor, não foi exatamente o que o cara queria.


Caso você não tenha nenhum problema neurológico que exija atenções especiais, neste momento você perceberá que toda essa enrolação anterior foi apenas para fazer o espectador pensar que isto tudo é um filme, quando na verdade é apenas um projeto paralelo de Craven, intitulado “formas violentas de matar pessoas que eu ainda não usei nos meus outros filmes“. A premissa do filme é simplesmente essa: pessoas fazendo desejos que o gênio dará um jeito de avacalhar. Daí em diante, a história se transforma num sensacional banho de sangue cinematográfico.


O gênio, não satisfeito em assassinar cruelmente um pobre técnico que foi burro o suficiente para aceitar um emprego onde as coisas explodem com tanta facilidade, sai à rua em busca de mais pessoas burras. A próxima cena mostra um mendigo tentando entrar numa farmácia e sendo logo em seguida impedido pelo dono dela, que o dispensa rudemente. O mendigo fica muito putinho, solta alguns palavrões aleatórios e continua andando. O gênio o aborda, e pergunta se ele gostaria de fazer alguma malvadeza com o farmacista mau-educado.


O bebum (não confundir com Bebum, comentador chato oficial do HBD) diz que queria que o dono da farmácia desenvolvesse algum câncer e morresse. O gênio assegura-o que o desejo será cumprido, ao mísero custo de 1 (uma) alma. Dele, claro.


A imagem volta para a farmácia. Dentro de poucos segundos, o desafeto do mendigo bêbado começa a ter espasmos violentos, como se alguém tivesse enfiado uma enguia elétrica em seu esfíncter. Como resultado do câncer mais estranho que já vi na vida, asquerosas e pustulentas brotoejas explodem na cara do infeliz. E ele, como você pode ter adivinhado, morre. :(


Por algum motivo, o gênio volta ao laboratório altamente inflamável. Ele decide a arrancar o rosto do técnico que ele matou previamente. Eis que de repente aparece um mané no local, que então demonstra sua incrível habilidade de se cagar de medo ao ver o gênio. Este, sadicamente, pergunta se o mané desejaria não ver mais aquela monstruosidade. Ignorando meus gritos desesperados de “Não, não deseje nada, porraaaaaa…“, o mané diz “sim”. E o gênio, mostrando falta de criatividade, arranca os olhos do coitado. Sacou? Ele não queria ver mais, então teve os olhos arrancados! Eu estava esperando algo mais elaborado, então me decepcionei com essa cena.


Ah, e o recém-cego morre também. :(



http://www.youtube.com/watch?v=dCMXxfZxvW0



O gênio volta à atividade de confeccionar uma máscara com o rosto do primeiro defunto. Por motivos que, novamente, ignoro e/ou não me importo, o gênio aparece numa loja de roupas (já com a cara do carinha que ele matou antes), e está procurando por alguém. Ele é atendido por uma funcionária da loja. O gênio elogia a beleza desta, e então faz a pergunta que antecipávamos:


– Aê princesa, você deseja ser bonita para sempre?


A mulé, indubitavelmente achando aquele papo muito estranho, diz que sim — ou seja, ela se fodeu. Passei dois segundos pensando “mas porra, como o gênio achará uma forma de foder este desejo?”. Não me entenda mal, respeito profundamente a capacidade satânica do bicho de esculhambar até mesmo os desejos mais inocentes, mas eu não conseguia imaginar sangue saindo daquele desejo. Então o suspense acaba: o gênio a transforma num manequim!



http://www.youtube.com/watch?v=fEcv039j6_M



Sem mais nem essa, o manequim revira os olhos, algo que meus anos assistindo Plantão Médico indicaram prontamente como um sinal clínico de que a mulher se fodeu.


A esta altura do campeonato, eu tenho certeza que havia alguma trama boboca envolvendo aquela doutora Alguma Coisa capturar o gênio novamente, ou talvez ETs e algo assim. Isso era extremamente irrelevante a este ponto. Um filme com pessoas explodindo como melancias, esqueletos saindo de corpos e esgoelando pessoas e FREDDY KRUEGER não necessita de uma trama para ser um sucesso trash. Assim, economizarei linhas nesse post, que já tá grande pra caralho, e omitirei detalhes sobre a tal trama.


Sim, prosseguindo com o banho de sangue, o gênio vai então pra uma delegacia. Após um animado bate papo com um sargento/capitão/alguma coisa no DP, o gênio pergunta se há algo que seu interlocutor deseja. O policial aponta para um meliante que está sentado atrás deles, esperando ser levado pro xadrez. O policial então fala que sabe que o cara é um assassino, mas não pode provar e que portanto, o cara provavelmente não seria preso. Em seguida, ele diz que gostaria de poder provar que o cara é, de fato, um criminoso.


É a deixa. Impulsionado pelos poderes malignos do gênio, o carinha dá um pulo pra frente, agarra a arma de um dos policiais que está custodiando e a delegacia se transforma num stand de tiro. Após muitas pessoas pegarem tiros com a cabeça (incluindo, previsivelmente, o policial que fez o desejo), o assassino vira a arma pra própria cabeça e vai se encontrar com Lúcifer.


Mais tarde, um cara (se não me engano, o chefe da doutora Alguma Coisa) pede ao gênio um milhão de dólares. O gênio apenas sorri. Eu estava esperando que um saco com um milhão de dólares em moedas de um centavo cairia sobre o carinha e esmagaria sua cabeça, mas ao invés disso, vemos apenas o sorriso malicioso do terrível gênio. A cena corta para o saguão de um aeroporto, onde uma idosa assina uma apólice de seguro no valor de, adivinhe, UM MILHÃO DE DÓLARES, e coloca como beneficiado seu filho. Adivinhem só quem é o filho da véia.


A cena corta e mostra um avião decolando. Sem o menor aviso prévio, o avião explode em pleno ar, segundos após ter saído do chão.


Há mais algumas mortes sensacionais, mas porra, esse texto tá grande demais. Conforme falei no comecinho do texto, esse filme é tão ruim, e tão horrendamente mal feito, que assisti-lo se torna de alguma forma uma atividade consideravelmente divertida.


Recomendo com força.


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Published on January 26, 2014 12:42

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Izzy Nobre
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