C.N. Gil's Blog, page 51
November 23, 2015
Homenagem ao Marco Paulo

Uma é loira e acontece
Entre nós amor, ternura
Tão loira que até parece
O sol da minha loucura
Mas a outra tão morena
É tal qual um homem quer
Porque embora mais pequena
Ela é muito mais mulher
Published on November 23, 2015 07:36
Na Sexta-Feira,…

…logo depois de sair do local onde sou obrigado a passar boa parte da minha vida (da forma mais produtiva possível), entrei no Metro e comecei a ler “O Marciano”!Para quem não o sabe, “O Marciano” é o título original de “Perdido em Marte”! Ou seja, mais uma fantástica tradução de quem tem de traduzir títulos! Mas por esta altura a malta já vai estando habituada……mas adiante!Estava para ver o filme… eventualmente… quando calhasse… se calhasse!Mas, entretanto, o Especiaria chega ao ensaio e diz-me “Páh, tu tens de ler este livro”!E eu, como tenho confiança no gaijo, comecei a lê-lo na sexta-feira! E pareceu-me interessante. Bastante interessante. Infelizmente também é curto! Acabei-o no Sábado!A primeira coisa que achei foi que havia ali reminiscências de “Red Planet”. Se bem que “Red Planet” é uma banhada ao lado deste! Em “Red planet” até conseguiram pôr uma atmosfera em Marte! Aqui deixaram Marte com está, ou seja, não é um sítio com perspectivas imediatas animadoras. Mas a vizinhança é sossegada, tirando um ou outro fenómenos atmosféricos estranhos, mas também, em quase todo o lado tem de se lidar com a meteorologia, portanto…Depois, nota-se que o livro foi escrito por um gajo de ciências e que se deu ao trabalho de investigar seriamente aquilo que desconhecia! Creio que o livro está tão cientificamente correcto quanto é possível, visto que é um bocado difícil visitar o sítio. Afinal, embora toda a gente possa ver o sítio, ainda ninguém lá foi…O livro centra-se num gajo bem disposto e sarcástico! Mas mais importante que isso, centra-se no facto de, quando não desistimos, embora todas as probabilidades estejam contra nós, embora o Universo nos esteja a mostrar o dedo do meio, e nos focamos em resolver os problemas de forma sequencial, às vezes consegue-se algo que parece impossível!Neste caso parte-se de um “Ok, pronto, eu vou morrer!”, para um, “OK mas vou morrer porquê?” e vai-se respondendo à pergunta passo a passo, aprendendo com os fracassos e aproveitando as vitórias não para comemorar mas para ganhar mais tempo para responder à pergunta!O livro está fabuloso!
Claro que, tendo acabado de ler o livro no Sábado, a curiosidade ganhou e vi o filme ontem!O filme está bom! O Matt Damon fez um excelente papel! Mas está a milhas de distância do livro! Está tão longe que, tendo o argumento cortado algumas situações, a meu ver, fundamentais (e sem revelar nada da história falo da tempestade durante a viagem, o acidente quase no final e o incidente com o berbequim e as repercussões que o mesmo tem) há depois diálogos que são praticamente decalcados do livro mas deixam de ter sentido!Ainda assim, para quem não ler o livro, o filme é talvez o mais realista feito até agora acerca do ser humano na superfície de Marte!
Em resumo! Vejam o Filme!E a seguir, mais importante ainda, leiam o livro!
Published on November 23, 2015 01:02
November 20, 2015
Descobri hoje...
...que pelos vistos é mais fácil aterrar um avião no meio do nevoeiro do que conduzir um barco num rio...
...é que, num percurso de 20 minutos o atraso já ultrapassava o 5...
(não deixa de ser curioso...)
:)
...é que, num percurso de 20 minutos o atraso já ultrapassava o 5...
(não deixa de ser curioso...)
:)
Published on November 20, 2015 01:17
November 19, 2015
reflexão que merece ser lida!
Published on November 19, 2015 01:05
November 18, 2015
In "Chuva"
Pensar num significado profundo e religioso? Porquê?Deus?Mas o que é que Deus tem a ver com a religião?Compreendo a dúvida. Na prática aquilo que eu tinha tido seria uma revelação……mas não apareceu em sonhos, nem me foi soprada no vento. Apareceu-me de factos concretos. É verdade que a própria intencionalidade me levou a pensar em Deus. Mas chamo-lhe Deus à falta de melhor vocábulo. E não, não pensei minimamente em termos religiosos.Se o fizesse estaria à partida num beco sem saída. Em que Deus é que teria de pensar? No dos Católicos? No dos Protestantes e Ortodoxos? No dos Judeus? No dos Muçulmanos? Num dos milhares dos Hindus? Ou vou mais atrás ainda e vou aos panteões Romanos, Gregos, ou até, quem sabe, Egípcios?É-me impossível pensar em termos religiosos. Se o fizer estou sempre condenado ao inferno, de uma maneira ou de outra. Para não estar teria de acreditar nos Deuses todos, e uma vez que eles se contradizem seria impossível fazê-lo.Pensei sim em Deus enquanto matriz do Universo. O tal que me parece promover o equilíbrio e fá-lo através desta intencionalidade que eu experimentei. Mas eu vi algo de concreto, tangível, comprovável.Portanto não me perguntes por religiões…
Published on November 18, 2015 02:51
November 17, 2015
Os dias mais estranhos - 49. Fecho (remate, acabamento encerramento, conclusão) + Epílogo
Durante as duas semanas seguintes fui-lhe tentando ligar. Ela tinha sempre o telefone desligado ou desligava-me a chamada. Nas raras vezes que atendia apenas me dizia que não podias falar e desligava. Com a minha cabeça cheia de incertezas, as palavras do Zeca ganhavam cada vez mais poder e significado.A sensação que eu tivera naquela noite levava-me à conclusão que a nossa relação estava no fim. Eu nunca a faria feliz. O que ela queria estava muito para além de mim, para além de tudo o que eu lhe poderia dar.As minhas incertezas iam sendo substituídas por certezas. Finalmente, o final daquele tempo sem ela veio com um telefonema.-Queres vir cá amanhã? – Foi a pergunta. A resposta foi afirmativa.Era sexta-feira. Cheguei a casa dela. Ela recebeu-me à porta com um beijo. Não um beijo esfuziante de quem não vê alguém que ama há já um tempo, mas um beijo algo contido, um bocado a medo. Um beijo sem abandono.Sentei-me na sala. Ela sentou-se ao meu lado.- Precisamos falar. – Chutei eu.Ela ficou a olhar para mim. De alguma maneira a minha expressão deve-lhe ter transmitido algo. Limitou-se a acenar em assentimento.-Posso perguntar-te uma coisa? – Tomei o seu silêncio por um “sim” – Porque é que nunca quiseste que ninguém soubesse de nós, ou quase ninguém? Porque é que nós tínhamos um segredo?-Já te tinha explicado…-Yá, mas a tua filha já sabe. Portanto, agora qual é o problema? O Francisco?-Não…-Então explica-me, porque eu neste momento preciso mesmo de saber…Ela limitou-se a olhar para mim. Parecia querer encontrar uma resposta, mas esta não existia. Acho que para ela nunca tinha sido algo de consciente a forma como a nossa relação era tratada por ela a partir de determinado ponto. Eu esperei algum tempo e depois continuei.-Acho que nem tu sabes, não é? Sabes, para mim há coisas que começam a ser demasiado óbvias. Mesmo muito óbvias. Eu não quero ter uma relação assim. Eu queria poder ter orgulho de estar contigo. Queria partilhar muita coisa contigo. Mas estas insegura e a tua insegurança faz-me perceber as coisas.-Que é que queres dizer com isso tudo? – Acabou ela por me interromper.-Quero dizer que me vai custar imenso dizer-te isto, mas acho que devíamos acabar.Conforme disse isto senti as lágrimas nos meus olhos. Nunca me custara tanto dizer algo na minha vida. Mas da mesma forma, naquele momento, senti-me livre de todos os sentimentos que me atormentavam. Dissiparam-se as dúvidas. No fundo, desde o primeiro momento em que estivéramos juntos, desde o primeiro beijo apaixonado, eu sabia que este seria o fim. Deixara-me entretanto iludir pela promessa de um amor que existia mas que seria sempre insuficiente para anular tudo o que nos separava.As lágrimas vieram-lhe também aos olhos enquanto olhava nos meus.-Porquê? – Perguntou.-Consegues ver futuro em nós? Nós nunca daríamos certo. Nós nunca faríamos o outro feliz. Haveria sempre questões entre nós. Eu não quero que isso aconteça. – Depois olhei-a nos olhos e disse-lhe uma verdade – Eu quero, acima de tudo e sempre, que sejas feliz.Com isto abraçámo-nos. Choramos assim durante um longo tempo, confortando-nos um ao outro. Abraçámo-nos como duas pessoas feitas uma para a outra. Acabamos entregues em beijos um ao outro. Beijos que não tinham já uma paixão exacerbada, mas sim um amor genuíno. Beijámo-nos com toda a honestidade e naquele beijo, em toda a sua essência, fizemos amor de verdade. Quando o beijo acabou, ficamos agarrados um ao outro. Depois eu larguei-a.-É melhor eu ir andando… – e levantei-me e dirigi-me à porta. Saí com os olhos rasos de lágrimas. Deixei-a deitada, encolhida quase em posição fetal a chorar baixinho mas convulsivamente. Saí de casa dela com a cabeça erguida. Não olhei para trás. Fiquei quase uma hora sentado no carro, com as mãos no volante e completamente apático. Depois o mundo refez-se à minha frente e eu rumei a casa.Chegava quase a casa quando o telemóvel tocou. Era ela. Encostei o carro e atendi. Ela chorava ainda.-Sim?-Pedro, volta…-Porquê?-Volta… eu amo-te…-Tu não me amas. Tu amas uma imagem do que eu poderia ser, não me amas a mim. Eu não sou essa pessoa. Eu não posso lidar com o teu mundo.-Não é isso… – dizia ela entre soluços – …nem sei se é. Volta… Eu posso mudar…-Tu nunca vais mudar, e eu também não. Não resulta. Nós não ligamos.-Eu amo-te, - gritou ela – eu amo-te, eu amo-te, eu amo-te…-E eu a ti… – as lágrimas corriam-me pela face e eu soluçava. As palavras saíam já entrecortadas pelo meu choro - …mas como tu disseste, isso não é tudo…-Não faças isto. – Gritava ela, implorando do outro lado – Não.-Tchau Mónica. – Tive a coragem para lhe dizer. A seguir disse-lhe a única verdade absoluta no meu universo. – Amo-te.Ainda a ouvi a gritar “Não” antes de premir o botão para desligar a chamada. Com uma raiva que nunca tinha sentido atirei o telemóvel contra a porta do lado oposto do carro, partindo-o.Não sei quanto tempo estive ali, chorando e gritando com uma dor que nunca tinha sentido antes. Sentia-me como se alguém me estivesse a arrancar uma parte tangível de mim.Mas ao mesmo tempo, nascia daquele conjunto de sentimentos vividos na reclusão do carro uma afirmação e uma fé em mim que nunca tinha sentido. Foi o momento em que mudei. Foi o momento em que me consegui ver completamente a nu, reflectido num espelho, sem subterfúgios, sem mascaras. Naquele momento perdi-a e ganhei-me a mim, ganhei toda a minha vida. Quando finalmente me recompus, senti-me renascido. Continuei até casa.
EpílogoTinha passado um ano desde aquele dia. Tinha voltado a organizar a minha vida sem a presença da Mónica. Tinha de novo uma banda.Fui tocar a um bar a Cascais. No fim do concerto estava ao balcão para pedir uma bebida quando ouvi uma voz familiar atrás de mim.-Que bons olhos vejam quem já não se deixa ver há muito tempo…Voltei-me e encarei-a. Ora ai estava alguém em quem eu não pensava há já muito tempo.-Olá Andreia.-Então piqueno, tá tudo bem contigo?-Tudo. E contigo? Que andas fazendo?-Olha vim, vim cá e acabei por te ver. Vocês tocam fixe…-Obrigado. Gostaste do concerto?-Bastante. Vocês dão-lhe…Agradeci-lhe mais uma vez. Não inquiri muito mais acerca da sua vida. Soube que ela estava ali com um grupo de amigas. Confirmamos os números de telefone que tínhamos um do outro e prometemos falar-nos em breve.Eu não perdi tempo e liguei-lhe ao princípio da tarde do dia a seguir. Concordamos lanchar os dois num café perto da Praia do Guincho.Quando lá cheguei ela esperava já por mim. Cumprimentámo-nos, pedimos e fomos falando. Fiquei a saber ali que tinha acabado com o namorado já há bastante tempo. -Mas o que é que se passou? – Perguntei-lhe.-Demorei mais tempo a ver, mas afinal ele não era diferente de tantos outros que eu procurei evitar…-Tou a ver. Era menos óbvio, não…-Sim, disfarçava mais…Rimo-nos os dois.-Então e tu? – Perguntou-me.-Olha, cá vou andando na vidinha do costume. Vou tocando, como viste, e vou levando tudo na calma.-Então e uma namorada?-Não tou com ninguém… - curiosamente, acho que conforme disse isto o meu olhar vagueou nostalgicamente para o Oceano que se estendia à nossa frente. Ao fim de um curto silêncio ela perguntou-me:-Porque é que acabaste com a Mónica? - Olhei-a algo admirado – Não fiques surpreendido, eu sei de tudo. Só não percebi o porquê…Pensei um bocado antes de lhe dar a resposta. Não era simples verbalizar tudo o que tinha sentido naqueles que foram os dias mais estranhos da minha vida. Dei-lha quando achei que tinha escolhido as palavras certas.-Acho que a determinada altura eu tinha uma escolha, ou ela vivia e eu vivia ou então acho que nenhum de nós dois, em conjunto, o faria. Optei por mim e por ela. -Achas que tomaste a opção certa?Mais uma vez hesitei antes de lhe responder. Um ano de distância dava uma nova perspectiva das coisas.-Acho que sim, que fiz a escolha certa. A outra opção só faria com que nos magoássemos mais cedo ou mais tarde… mas porquê tanta pergunta?-Porque me pareces algo diferente.-Mais gordo? – Brinquei eu com ela. Ela riu-se.-Não, tolo. Mais seguro de ti, mais convicto. Tenho a certeza que te custou horrores, mas saíste mais forte. Já esqueceste a Mónica?-Sendo-te sincero, acho que nunca a esquecerei, nem aquilo porque passei com ela. Foi muito intenso. Mas acho que aquilo que queres saber é se eu ainda penso nela de uma determinada maneira, e a isso a resposta é; não.Ela olhou para mim com um olhar que eu já conhecia, a um tempo sedutor e carregado de admiração.-Foi uma boa resposta… – disse-me.-Foi uma boa pergunta… – Respondi-lhe.O lanche transformou-se em jantar, e este em ceia, e esta em pequeno-almoço, e os dias foram continuando na sua cadência, alheios a mim e a tudo…
F I M
EpílogoTinha passado um ano desde aquele dia. Tinha voltado a organizar a minha vida sem a presença da Mónica. Tinha de novo uma banda.Fui tocar a um bar a Cascais. No fim do concerto estava ao balcão para pedir uma bebida quando ouvi uma voz familiar atrás de mim.-Que bons olhos vejam quem já não se deixa ver há muito tempo…Voltei-me e encarei-a. Ora ai estava alguém em quem eu não pensava há já muito tempo.-Olá Andreia.-Então piqueno, tá tudo bem contigo?-Tudo. E contigo? Que andas fazendo?-Olha vim, vim cá e acabei por te ver. Vocês tocam fixe…-Obrigado. Gostaste do concerto?-Bastante. Vocês dão-lhe…Agradeci-lhe mais uma vez. Não inquiri muito mais acerca da sua vida. Soube que ela estava ali com um grupo de amigas. Confirmamos os números de telefone que tínhamos um do outro e prometemos falar-nos em breve.Eu não perdi tempo e liguei-lhe ao princípio da tarde do dia a seguir. Concordamos lanchar os dois num café perto da Praia do Guincho.Quando lá cheguei ela esperava já por mim. Cumprimentámo-nos, pedimos e fomos falando. Fiquei a saber ali que tinha acabado com o namorado já há bastante tempo. -Mas o que é que se passou? – Perguntei-lhe.-Demorei mais tempo a ver, mas afinal ele não era diferente de tantos outros que eu procurei evitar…-Tou a ver. Era menos óbvio, não…-Sim, disfarçava mais…Rimo-nos os dois.-Então e tu? – Perguntou-me.-Olha, cá vou andando na vidinha do costume. Vou tocando, como viste, e vou levando tudo na calma.-Então e uma namorada?-Não tou com ninguém… - curiosamente, acho que conforme disse isto o meu olhar vagueou nostalgicamente para o Oceano que se estendia à nossa frente. Ao fim de um curto silêncio ela perguntou-me:-Porque é que acabaste com a Mónica? - Olhei-a algo admirado – Não fiques surpreendido, eu sei de tudo. Só não percebi o porquê…Pensei um bocado antes de lhe dar a resposta. Não era simples verbalizar tudo o que tinha sentido naqueles que foram os dias mais estranhos da minha vida. Dei-lha quando achei que tinha escolhido as palavras certas.-Acho que a determinada altura eu tinha uma escolha, ou ela vivia e eu vivia ou então acho que nenhum de nós dois, em conjunto, o faria. Optei por mim e por ela. -Achas que tomaste a opção certa?Mais uma vez hesitei antes de lhe responder. Um ano de distância dava uma nova perspectiva das coisas.-Acho que sim, que fiz a escolha certa. A outra opção só faria com que nos magoássemos mais cedo ou mais tarde… mas porquê tanta pergunta?-Porque me pareces algo diferente.-Mais gordo? – Brinquei eu com ela. Ela riu-se.-Não, tolo. Mais seguro de ti, mais convicto. Tenho a certeza que te custou horrores, mas saíste mais forte. Já esqueceste a Mónica?-Sendo-te sincero, acho que nunca a esquecerei, nem aquilo porque passei com ela. Foi muito intenso. Mas acho que aquilo que queres saber é se eu ainda penso nela de uma determinada maneira, e a isso a resposta é; não.Ela olhou para mim com um olhar que eu já conhecia, a um tempo sedutor e carregado de admiração.-Foi uma boa resposta… – disse-me.-Foi uma boa pergunta… – Respondi-lhe.O lanche transformou-se em jantar, e este em ceia, e esta em pequeno-almoço, e os dias foram continuando na sua cadência, alheios a mim e a tudo…
F I M
Published on November 17, 2015 07:25
Os dias mais estranhos - 48. Dúvida (hesitar, temer, descrer, vacilar)
Passamos a semana a seguir quase sem nos falarmos. Liguei-lhe na quinta-feira para combinar qualquer coisa para o fim-de-semana. Ela disse-me que não dava para fazermos nada pois o seu Ex-marido ia passar duas semanas em casa dela. Se a minha cabeça andava já complicada, nessa altura ficou bem pior. Já não sabia em que pensar e a pouco e pouco comecei a deixar aflorar sentimentos que nem sabia que tinha. Dei um toque ao Zeca e arranquei para Évora. Queria espairecer.Jantamos, saímos, demos uma volta à noite, mas eu falei muito pouco. Ele bem se metia comigo, tentava fazer-me sorrir, mas eu estava demasiado virado para mim mesmo.Ao chegarmos a casa dele sentamo-nos na sala. Ele serviu um whisky para cada um. Ficamos ali em silencio a olhar um para o outro. Às tantas ele não se conteve.-Ouve lá, vais-me contar o que se passa contigo ou tenho que te dar chapada e pontapés na boca para saber?Esbocei um sorriso.-Ena, o gajo vive. Atão mano, diz-me lá o que é que se passa.-Passa-se muita coisa, puto.-Atão conta…-Pá, nem sei por onde hei-de começar…-Que tal pelo começo? Sempre me pareceu um bom sítio…-Já conheces o começo. Acho que vou começar pelo meio.-É justo. Queres outro? – Perguntou referindo-se ao meu copo que acabara. -Pode ser… - respondi-lhe eu dando-lhe o meu copo.-Podes ir falando que eu não ouço com as mãos nem com os olhos. – disse ele enquanto se levantava e ia à cozinha para ir buscar as bebidas.-Pá, passei uma semana de férias com a Mónica.-E então?-Pá, então que fomos para casa de uma amiga dela no Porto.-E a amiga era jeitosa? -Perguntou-me ele da cozinha.-Deixa-te de tretas, pá, queres ouvir isto ou não?-Claro que sim, - disse ele enquanto voltava à sala com as bebidas – só tava curioso…-Ok, já percebi. Era, era jeitosa.-Fixe. Já estabelecemos essa parte. E depois?-Pá, depois, no último dia em que lá ficamos acabamos os três na cama.O cigarro que ele tinha ao canto da boca caiu devido ao facto de ele ter ficado completamente de boca aberta. Dei-lhe um tempo para ele organizar os pensamentos enquanto acendia eu próprio um cigarro.-Explica lá isso outra vez, – acabou por dizer – que eu acho que não percebi bem. Foste para a cama com as duas?-Yá!-Tou a ver. Isso, meu amigo, é um problema do caraças, sem dúvida. Como é que isso aconteceu?Expliquei-lhe a história do jogo e de tudo o que se tinha passado em seguida. Ele ouviu-me avidamente.-Realmente, – comentou ele quando eu acabei de lhe contar essa noite – és um gajo infeliz. Não queres partilhar a tua miséria aqui com o amigo, não?-Vai-te lixar, pá. Isto foi só o começo.-Então continua…Contei-lhe então o que se tinha passado e Vila Velha de Ródão. Aí ele limitou-se a manter o silêncio. Acabei por lhe contar também o fim-de-semana anterior. A expressão dele foi mudando à medida que eu lhe expunha os factos. Quando acabei calei-me e fiquei à espera do seu comentário. Ele limitou-se a olhar para mim, pensativo, enquanto tentava encontrar algo para me dizer.-Isso é o que tu viste e presenciaste, certo?-Certo.-Mas aquilo que não me disseste é o que pensas e sentes acerca disso tudo.-É aí que reside o problema, meu velho. Eu neste momento já nem sei em que pensar, para te ser franco. Põe-te no meu lugar, mano. Como é que achas que estavas neste momento?-Se tivesse no teu lugar estava como tu estás. Deves tar com a cabeça toda lixada, não?Nem lhe respondi. O meu silêncio foi o sublinhar do óbvio.-Pois é pá. Não sei que te diga…-Nem sei o que fazer, meu. Tou buéda confuso.-Ouve, gostas mesmo da bacana? -Acho que sim.-E ela gosta mesmo de ti? Pensa bem, o não querer assumir a vossa relação é muito mau. Achas normal? E achas normal ela ir para a cama contigo e com outra gaja? Se ela gostasse assim tanto de ti partilhava-te com outra gaja? Não terás sido antes uma boa desculpa para o que ela queria? Até tu pensaste nisso, não?-Yá, pensei nisso tudo. Mas não sei o que te dizer. O que mais me dói são os ciúmes que sinto dela. Ela diz que neste momento tem lá o ex-marido em casa. Quem é que me diz que é verdade? E quem é que me diz que ela e a Guida não se enrolaram uma com a outra. Não aguento o ciúme, meu. Precisava de falar com ela e estar com ela para poder falar e ter certezas…-Mas olha, puto. Tá-me cá a parecer que desta vez tens que descobrir as certezas por ti. Vocês são de dois planetas diferentes, pá. Podem gostar muito um do outro, mas no fim a ligação não funciona. Pensa nisso.Ora ali estava algo para eu pensar muito seriamente. Falamos pouco mais acerca do assunto. Ainda o inquiri acerca da Magdalena, e fiquei a saber que a relação deles ia andando. Fiquei feliz por eles. Eram duas pessoas que se mereciam.
Published on November 17, 2015 06:05