C.N. Gil's Blog, page 87

January 19, 2015

Há muitos anos atrás...

...e ao contrario do que se passa hoje em dia, era muito díficil encontrar uma guitarra decente por um preço acessível.
Não que os preços das guitarras decentes tenha variado muito de há uns trinta anos para cá, mas 100 contos há 30 anos era dinheiro...
...€500 ainda o é, mas muito menos!

Posto isto, se uma guitarra decente era cara, uma guitarra como deve de ser era um abuso em termos de preço e uma guitarra personalizada custava tanto como um carro novo!

Precisamente por isso, por volta de meados dos anos 90, dediquei-me a fazer a Deméter! Não que lhe tenha dado nome nesta altura, aliás, só foi baptizada recentemente!


Seis meses depois tinha a Deméter a tocar. E tocou ainda durante algum tempo. Infelizmente aquilo que eu sabia acerca de madeiras era bastante rudimentar e ela chegou a um ponto em que ficou intocável.
Mais tarde dediquei-me a fazer uma "Explorer" cujas fotos andam por aqui, que dá pelo nome de Rusty. A Rusty foi feita, deu ainda bastantes concertos até que me fartei de guitarras ponteagudas e foi arrumada, tendo estado quieta dentro da caixa durante seis anos. Quando me lembrei que não era mau voltar a ter uma guitarra ponteaguda lembrei-me dela e refi-la.
Após tê-la refeito (e ela ter um som capaz de fazer babar qualquer guitarrista) o resto da banda olhou para a demeter na parede e perguntou:
-Porque é que não fazes o mesmo a esta?
...e na minha cabeça ficou plantada a sementinha. Ia recuperar esta guitarra.No entanto, depois de a inspeccionar bem, achei que mais valia mantê-la como está, mesmo sem tocar, e refazer todo o conceito que me levou a fazê-la em primeiro lugar!
E a Perséphone, filha de Deméter, está quase pronta e mais bonita a cada dia que passa.



Se, no mínimo, soar como a "mãe" soava, vai ser algo de babar......mas acredito que soará ainda melhor!

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Published on January 19, 2015 03:28

January 14, 2015

Excerto de Treta de Cabos II - Os cabos contra atacam

Com um fortíssimo abraço para o Grupo Motard de Beja
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Há uma anedota que conta a história de um Alentejano que vai parar ao inferno.
Depois de já lá estar há um bom bocado, começa a limpar a testa do suor. Ao fim de duas ou três horas está já tão agastado do calor que desaperta, finalmente, o primeiro botão da samarra e diz de si para si:
-Porra, se isto por aqui tá assim, como é que nã tará em Beja!
Pois isto pode até aproximar-se bastante da verdade. No entanto, e precisamente por esta história se aproximar bastante da verdade, talvez o que vai ser relatado a seguir possa aparecer como uma surpresa para os mais desconhecedores da geografia deste canteiro à beira mar plantado.
A concentração do Grupo Motard de Beja é em Dezembro e, naquele ano, os Chop Suey foram lá actuar.
Chegaram a meio da tarde ao pavilhão da Ovibeja, local da concentração. Para quem não conhece o pavilhão da Ovibeja, pode-se dizer que é um local de dimensões bastante avantajadas e que apenas têm as paredes de topo, sendo que as laterais não existem. Quando querem “fechar” o pavilhão, são colocadas umas lonas que, como é óbvio, não fecham as laterais de forma estanque, haven-do sempre frestas entre os pilares e as ditas lonas!
Pode-se dizer que o clima estava fresco…
…muito fresco,…
…aliás, estava tão fresco que o vento que passava pelas frestas entre as lonas e os pila-res não assobiava,…
…espirrava!
Havia por todo o lado bidões com lenha a queimar, mas as correntes de ar teimavam em fazer desaparecer todo o calor do ambiente, pelo que se pode dizer que estava frio. Mas ainda assim, não estava assim tão mau enquanto eles se dedicavam a montar as tra-lhas no palco e a fazer som.
Já à noite, o caso mudou de figura! Estava tanto frio, mas tanto frio que Ninguém pela primeira e única vez na sua vida, subiu para cima do palco com um sobretudo acolchoado e, ainda assim, passou o concerto encostado aos projectores de luz, dos quais costuma fugir por causa do calor. Aliás, o frio era tan-to que só conseguia fazer um formato de acorde na guitarra, uma vez que a mão tinha congelado e ele não a conseguia mexer!
Acabada a actuação, os cinco reuniram-se na lateral do palco. Como era tradicional ia haver “danças exóticas”, e, conhecendo eles (apenas de vista, apesar de saberem todos as medidas de cor) uma das dançarinas que ia actuar, estavam curiosos não só em relação à actuação mas também em ver até que ponto elas levariam a “dança”.
Mas elas eram profissionais, e comporta-ram-se como tal…
…pelo menos até descerem as escadas late-rais (com a ajuda deles, visto que não havia por ali mais ninguém e elas arriscavam-se a cair ao descer as escadas ingremes com aque-les enormes saltos agulha transparentes), por-que assim que se apanhavam em chão seguro disparavam a correr em direcção ao camarim, completamente encolhidas.
Mas o nível máximo de profissionalismo revelou-se no número da última dançarina, rapariga bonita e esguia, de proporções muito equilibradas e peito pequeno, tendo no entan-to uns mamilos proeminentes e espetados, quando esta, aproveitando a ocasião e após tirar o soutien e a tanguinha, pendurou cada uma delas nos seus mamilos, ficando as peças lá dependuradas tal qual como num cabide, para gaudio dos espectadores que tinham relutância em afastar-se dos bidões onde ardia lenha.
Após ela ter saído do palco, todos eles comentaram o nível de profissionalismo da rapariga enquanto a observavam a ir para o camarim…

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Published on January 14, 2015 08:32

January 13, 2015

A música e a literatura são artes.

Antes de tudo o mais, há que lembrar que a música é a primeira arte e a literatura a sexta. E isto é algo de que muita gente se esquece.

Mas o que é, afinal, uma arte?
Em traços gerais eu diria que arte é uma actividade que dá estética às emoções.
Qualquer ser criativo e inteligente será capaz de criar arte se reinterpretar as suas emoções. Se essa manifestação artística terá alguma validade para outros ou não é indiferente. A arte é por si só sem mais nenhum objectivo que ela própria.
Uma cadeira ou um carro não podem ser obras de arte pelo facto de serem objectos criados com um objectivo e, por mais esteticamente apelativos que possam ser, nunca serão uma expressão de emoções.
Já uma reinterpretação da cadeira e do carro de um ponto de vista pessoal é uma manifestação artística.

Mas depois, quando uma obra de arte está pronta, acabada e existe por si só, acaba por só fazer sentido quando é partilhada. Um livro que nunca foi lido, uma escultura que nunca foi vista, uma música que nunca foi ouvida podem ser o culminar do génio humano mas não ecoarão nos espíritos de quem as poderia ter admirado e a expressão perde-se.

É aqui que entra na equação o negócio que é a arte. Para este negócio não interessa a expressão artística mas sim a possível quantidade de pessoas que poderão admirar essa expressão e até adquirir cópias da mesma.

No caso da música e da literatura, as artes por onde eu navego, isto faz-se através de editoras.

O objectivos de uma editora deveriam ser:

-avaliar a viabilidade da obra (que seja para um publico mais alargado ou para um determinado nicho de mercado)
-Disponibilizar a obra ao público alvo e promove-la de modo a viabilizar o seu investimento na produção de cópias da obra pagando ao autor uma quantia acordada por cada venda e que viabilizará a produção de futuras obras pelo mesmo autor

Olhando para o primeiro ponto, não é difícil entender que a editora deve ser um filtro daquilo que é editado. Uma obra, por mais perfeita que o esteja para o autor (e, convenhamos, ainda que o autor tenha consciência das imperfeições da sua obra, é sempre um “filho” seu) pode não ter qualquer valor em termos comerciais. A partir do momento em que se tenta vender arte esta passa a ser um bem de consumo como qualquer outro, sujeita a leis de mercado e, se não houver interesse de alguém na obra, é normal uma editora não ter interesse em distribuí-la no mercado.
Um dos grandes exemplos disto é o romance “mau tempo no canal”, obra-prima da língua Portuguesa que é hoje em dia editado pela Imprensa Nacional depois de a editora ter abdicado dos direitos de publicação, uma vez que não vendeu! Não deixa de ser uma obra-prima. No entanto não despertou interesse e, em termos editoriais foi “um tiro no pé”.
Mas cabe ao editor, a pessoa que decide ou não a publicação, ter em atenção a qualidade da obra (algo que não é fácil uma vez que, muitas vezes, há que pôr de lado gostos pessoais) e a capacidade que a mesma terá de vir a ser rentável.

Passando ao segundo ponto, uma vez decidida a publicação há que disponibilizá-la e dá-la a conhecer, para que o mundo saiba que a mesma existe.

Ora, o mercado editorial Português, neste momento, subverte por completo os papeis da editora e do editor. A grande maioria das editoras Portuguesas não passa de casas de auto-edição disfarçadas. Quando se submete uma obra a resposta, quase invariavelmente, passa por um valor de edição, seja sob que formato for. No caso dos livros pedem ao autor para adquirir um determinado número de livros, fazem uma sessão de lançamento (normalmente a custo 0 ou perto disso), divulgam o livro em websites ou nas redes sociais. Algumas, mais cotadas um pouco, fazem uma distribuição decente, disponibilizando a obra a um público mais vasto, outras nem isso e ficam à espera que os potenciais compradores se dirijam a eles para adquirir a obra.
Claro que estas editoras podem dar-se a este luxo, uma vez que a compra que impõem ao autor viabiliza de imediato a edição e ainda deixa algum lucro. O problema é que deixam de agir como filtro de qualidade derramando no mercado quantidades enormes de coisas que em condições normais jamais veriam a luz do dia. Isto acaba por criar descrédito para aquilo que é bom, porque o joio é tanto que o trigo se perde no meio. Pior ainda, um autor, ao aceitar estas condições, nunca poderá ter a certeza se a sua obra é considerada viável ou não, porque para estas editoras todas as obras o são.
O caso da música é ainda mais paradoxal que o da literatura. Há Editoras que cobram uma fortuna para produzir os CD’s (que, caso não saibam, saem da fábrica a preços irrisórios quando são produzidos em grandes quantidades, podendo o custo variar conforme a embalagem) e fazer o agênciamento do artista sem que ofereçam qualquer garantia de retorno do valor investido e tendo o artista de fazer a gravação às suas próprias custas. Claro que o justo seria a empresa ganhar a percentagem devida pelo trabalho que arranja ao artista e se não arranjar, não ganha, ter de fazer por merecer esse dinheiro, bem como uma editora de livros deve ganhar pelo que consegue vender, ter de merecer esse dinheiro.
Mas não, garantem o lucro à partida.

E a pergunta é:
-Se não têm de se esforçar para merecer o lucro, porque haviam de o fazer?

Claro que eles sabem (ou se não o sabem deveriam saber) que o seu modelo de negócio tem os dias contados. Há, já hoje em dia, ferramentas de edição on-line que permitem a qualquer um ter o seu titulo disponível no mundo inteiro com apenas um clik. Ferramentas que não retiram os direitos de edição da obra ao autor, cobram ao autor pela produção de cada cópia, uma vez que usam a tecnologia “print-on-demand”, que quer dizer basicamente que um CD, livro ou seja o que for é produzido quando é encomendado e que colocam a obra à venda de imediato deixando o autor estabelecer o preço da mesma e cobrando, por venda, a disponibilização do título. Isto, claro, a custo 0 para o autor e sem qualquer impacto ecológico, uma vez que só são produzidas as unidades que são pedidas.
Basicamente fazem exactamente o mesmo que todas estas editoras…
…mas muito, muito mais barato!
Isto, claro, vai criar uma revolução no mercado editorial, uma vez que vai tornar todas estas pequenas “editoras” obsoletas. A vantagem é que dará mais força àquelas que estão na disposição de cumprir o papel que deveriam ter à partida.

E se o Zé Manel teve uma ideia de fazer um livro de poemas para oferecer aos amigos, poderá sempre fazê-lo, pagar pouco por isso (só paga o que encomendar sem quaisquer obrigações) e ainda têm a alegria de ver a sua obra espalhada pelo mundo inteiro e ao alcance de um clik de qualquer um…

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Published on January 13, 2015 08:55