C.N. Gil's Blog, page 49

December 5, 2015

Resolvi partilhar esta pérola,...

...uma pergunta que está na ficha de avaliação mensal nº 2 da disciplina de estudo do meio do 2º ano.
Está bem que é estudo do meio, não é Português, mas, caramba, convinha que quem elabora os livros saiba ler e escrever...
...pelo menos eu penso que daria jeito!
E quem faz a revisão dos livros também tem aqui um excelente exemplo de um bom trabalho, de uma competência à prova de bala!
Como é que podemos esperar muito do ensino quando os manuais escolares vêm escritos assim?


Depois, imaginem exames nacionais com perguntas destas...
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Published on December 05, 2015 02:42

December 4, 2015

Não há volta a dar! Às vezes caio em "evil ways"!



Musica: Evil ways - Blues Saraceno
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Published on December 04, 2015 06:18

Amodos que é isto mesmo!

xilre: Direita e esquerda: cá vamos andando.: Um português nunca está verdadeiramente bem. Vai andando. Um dia de cada vez. Uma perna atrás da outra. Mas também nunca está mal. Para pio...
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Published on December 04, 2015 02:07

December 3, 2015

...e volta-se a minha colega para mim e diz:

-Isto não é normal! Não me consigo livrar disto! Eu devia tár no armazém a aviar o pessoal e não consigo sair daqui...
-Pá, tu não digas isso muito alto, porque isso retirado do contexto fica um bocado estranho! Devias estar no armazém a preparar os pedidos do pessoal, mas a aviar o pessoal...

E ela, corada que nem um tomate maduro, escangalhou-se a rir!
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Published on December 03, 2015 07:34

Ontem, hoje (...e, muito provávelmente amanhã também...)

Aqui há alguns anos atrás, a Catarina Furtado apareceu numa das galas da operação triunfo com um decote abismal!
No dia seguinte, entro no gabinete de uma das doutoras cá do sítio para resolver um gravíssimo problema informático (o teclado tinha o Cpas Lock ligado e ela não conseguia fazer login em aplicação nenhuma) e está ela a falar com uma amiga:
-…mas tu viste ontem o decote da Catarina? Francamente!
-Pois vi. Realmente…
-Caramba, um decote daqueles ficava-me bem era a mim. Afinal tenho umas mamas melhores que a dela… - e volta-se de repente para mim - …não acha que as minhas mamas são melhores que as da Catarina?
E eu, que não fazia puto de ideia do que é que elas estavam a falar respondi:
-Não sei quem é a Catarina, mas em relação às suas, aparentemente não são más, se bem que eu nesse aspecto devo ter ascendência espanhola, porque gosto de ver com as mãos…
Ela corou e a amiga desmanchou-se a rir…

Hoje, vou a sair da chafarica para me cafézar e esfumaçar quando me cruzo com uma moça que já não via há bastante tempo! Nem a reconheci, de cabelo pintado e penteado diferente. Ela estava a falar com o vigilante cá do sítio e eu, que precisava de lhe dar um recado aproximei-me para falar com ele, e eis que reparo em quem ela é:
-Olha! Olá, miúda, tudo bem?
-Tudo óptimo, e contigo?
-Tudo bem, também. Nem te reconhecia pá, com o cabelo assim pintado e com esse penteado… Tás girá, páh!
-Obrigada! Tu também! Emagreceste um bocado…
-Ya, mas não tou mais giro por isso!
-Tás pois…
E eis que a dita doutora vinha a passar, topa a conversa e diz logo:
-Você tá sempre no engate, páh! Cada vez que o vejo… E mesmo nas minhas barbas!
-Atão, a doutora insinua-se mas nunca me dá uma abébia, tenho de ir engatando as outras…

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Published on December 03, 2015 05:53

…e óspois havia o Puto!



Acho que começaram a chamar Puto ao Puto por o Puto era,…
…bem,…
…um puto!
Por contraste com o resto da malta já todos qua… trintões altos, o Puto estava na pujança máxima da idade, do alto dos seus dezoito anos!
O Puto sentiu-se intimidado num primeiro embate! Pudera… Afinal o Puto é um bom rapaz, escuteiro, menino do coro (literalmente), bom estudante, ar limpinho e arrumadinho… Um puro contraste com o resto dos qua… trintões altos que compunham a banda, gajos habituados à santíssima trindade do sexo (quando se pode, coisa cada vez mais rara, uma vez que são quase todos casados, à excepção de um, e como sabemos sexo e casamento é algo que não liga bem), drogas (escusam de fazer um olhar reprovador, que depois dos qua… trinta e muitos as drogas são mais os ben-u-rons e os ibuprofenos) e rock’n’roll!
Ainda assim, Peles, Gadelhas, Especiaria e mais Ninguém gostaram logo do Puto!
Ninguém viu o Puto a tocar no coro! E pensou de imediato:
-Este puto precisa é de tocar músicas mais elevadas, como por exemplo “O teu Pipi”!
E, se bem o pensou melhor o fez, e dirigiu-se ao chefe (dos escuteiros) do Puto, conhecido de longa data:
-Olha lá, quem é o puto?
O outro olhou para Ninguém, adivinhando-lhe os pensamentos e respondeu com outra pergunta:
-O Puto toca bem, né?
-Ya! E eu tou a precisar de um teclista!
-Pérai que eu apresento-vos! – e chega-se ao pé do Puto – Puto, Ninguém quer falar contigo!
-Mas porquê? Fiz mal a alguém?
-Se fizeste mal a alguém? Sei lá… Que eu saiba não, pelo menos a mim não fizeste!
-Mas então porque é que ninguém quer falar comigo?
-Deve querer que vás tocar com ele…
-Ele quem?
-Bem, Ninguém!
-OK!  - Disse ele com um ar resignado – Se ninguém que que eu toque, eu não toco!
-Fazes mal!
-Faço? Mas se ninguém quer que eu toque…
-Exacto! Se eu fosse a ti, pelo menos experimentava!
-Não tocar?
-Precisamente o contrário!
-Atão, mas se ninguém quer que eu toque…
-Devias tocar!
-Mas isso não é um contra-censo?
Já cansado daquele ping-pong de argumentos, Ninguém chegou-se à frente e apresentou-se:
-Olá, eu sou Ninguém!
A cara do Puto ficou estranha! Como se tivesse sido apanhado num paradoxo, abrindo-se depois num sorriso luminoso quando percebeu e se voltou para o chefe:
-Ah! Ninguém quer que eu toque!
-Ya! – respondeu o chefe.
-Com ele!
-Sim! Com os XXL Blues!
-Como é, Puto? Tás nessa? – Ninguém perguntou.
-Sim, acho que podemos experimentar…


E foi assim,  um mero acaso que juntou o Puto aos outros e os outros ao Puto!
Mas, porque há acasos felizes, foi assim que o Puto se juntou aos XXL Blues!



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Published on December 03, 2015 02:29

December 2, 2015

tenho descoberto nos últimos dias,

...por força de uma aplicação que tive de fazer (embora não me paguem para isso, mas enquanto me entretenho a programar tretas, pelo menos, não me chateiam com outras coisas...) que não sei falar Português!
Depois cheguei à conclusão que é natural! Afinal só vivo aqui há uns quarenta e quantos anos, tendo nascido cá, mais precisamente em Lisboa, embora não goste particularmente deste raio desta cidade para onde tenho de me deslocar todos os dias (mas não levem a mal, que eu sou rapaz do campo e não gosto de cidade nenhuma, assim como assim...), e o Português é uma língua muito difícil!

Já a prevenir isso fiz um manual para a dita aplicação cheio de bonecos e com setas para os botões que dizem o que fazem!
Ainda assim, apesar da aplicação ter apenas três quadros de menu e três quadros funcionais, continuam a surpreender-me as perguntas que me são feitas! Constantemente!

Eu sei que o Português é uma língua difícil, tanto que eu duvido que a saiba falar (escrever não sei, como se farta o processador de texto de me afirmar quando escrevo qualquer coisa, desde que se tornou obrigatório o raio do (des)acordo ortográfico, mas falar ainda pensava que sim!

Mas afinal não!

A última que me adentrou pelos olhos adentro foi o facto de onde, num dos três formulários, onde se pede a identificação do funcionário(a) que faz a requisição, me ter aparecido um número mecanográfico, uns singelos quatro dígitos que identificam a pessoa, caso se tenha acesso à base de dados dos recursos humanos cá do sítio!

Ficando eu sem saber quem era a criatura, enviei um e-mail nestes termos:

"Caro(a) **** (interpretar os asteriscos como nº), estranhei a falta de apelido, pelo peço que corrija a situação! Obrigado!"

Mas não sei se a pessoa em questão conseguirá entender...
...uma vez que eu, claramente, não sei Português!


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Published on December 02, 2015 06:59

December 1, 2015

FATiferando...: Ontem acabei de ler… XVII

FATiferando...: Ontem acabei de ler… XVII: Gostei do livro e das ideias apresentadas. Recomendo a leitura. A tradução está boa, embora seja inevitável apercebermo-nos que o origi...
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Published on December 01, 2015 00:39

November 30, 2015

Atão é assim:

Não me choca ver um Cigano no governo! E não me choca porque é apenas mais um...
...o que não tem faltado na política em Portugal são "ciganos"!

Choca-me é vê-los a estacionar carros de €150.000 em garagens de casas dadas a famílias de baixo rendimento em bairros sociais...
Choca-me vê-los aos magotes na segurança social, mas nunca ter visto nenhum numa repartição de finanças...
Choca-me vê-los nos ditos Mercedes de 150.000 a ir buscar o cheque do rendimento social...

...mas o que me choca mesmo, mesmo, mesmo é ver que quem tenta pôr um bocadinho de justiça nisto ser apelidado de racista!

(o que não deixa de ser curioso, tendo em conta a maneira como insistem em não se integrar e tem desrespeito total pela lei)
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Published on November 30, 2015 06:31

November 27, 2015

Inundação - Continuação de "Chuva"

Pois é!
Depois de escrever "Chuva" fui confrontado por quase todos os que o leram com um facto chato da livro, para a maior parte dos leitores (não para mim)!
A história está cheia de pequenas histórias que se cruzam e de personagens que aparecem e desaparecem, sem se saber sequer de onde vieram e para onde foram!
Além disso, ficaram pontas soltas na história que deram azo a séries intermináveis de perguntas que tem, invariavelmente, a resposta de "Não sei"!
Ora, esta resposta causa espanto e curiosidade a quem fez as perguntas! Mas eu, realmente, não sei. Não pensei nisso! Não era relevante para a história que contava!
Ainda assim, algum tempo depois comecei eu também a sentir-me incomodado com essa falta de respostas e comecei a escrever uma continuação para a história, chamada apropriadamente de "Inundação"!
Entretanto já escrevi e foram publicados dois livros de crónicas (os "Treta de Cabos") e um romance ("Conscientização"), ando às voltas com uma coisita chamada "Crónicas do Paraíso", dediquei a minha parvoeira a "Como ser um garanhão (edição especial para marrões)" e isto está parado há já uns bons anos!
Mas deixo-vos aqui o prologo.
(e apenas o prologo!)

Espero que gostem :)




Inundação - Prologo

"Bendito seja o SENHOR, minha rocha, que ensina as minhas mãos para a peleja e os meus dedos para a guerra; Benignidade minha e fortaleza minha; alto retiro meu e meu libertador és tu; escudo meu, em quem eu confio, e que me sujeita o meu povo.
SENHOR, que é o homem, para que o conheças, e o filho do homem, para que o estimes?
O homem é semelhante à vaidade; os seus dias são como a sombra que passa.
Abaixa, ó SENHOR, os teus céus, e desce; toca os montes, e fumegarão. Vibra os teus raios e dissipa-os; envia as tuas flechas, e desbarata-os. Estende as tuas mãos desde o alto; livra-me, e arrebata-me das muitas águas e das mãos dos filhos estranhos, cuja boca fala vaidade, e a sua mão direita é a destra de falsidade.
 A ti, ó Deus, cantarei um cântico novo; com o saltério e instrumento de dez cordas te cantarei louvores; A ti, que dás a salvação aos reis, e que livras a David, teu servo, da espada maligna.
Livra-me, e tira-me das mãos dos filhos estranhos, cuja boca fala vaidade, e a sua mão direita é a destra de iniquidade, para que nossos filhos sejam como plantas crescidas na sua mocidade; para que as nossas filhas sejam como pedras de esquina lavradas à moda de palácio; para que as nossas dispensas se encham de todo provimento; para que os nossos rebanhos produzam a milhares e a dezenas de milhares nas nossas ruas. Para que os nossos bois sejam fortes para o trabalho; para que não haja nem assaltos, nem saídas, nem gritos nas nossas ruas.
Bem-aventurado o povo ao qual assim acontece; bem-aventurado é o povo cujo Deus é o SENHOR."

Salmo 144


O poder do perdão é algo de incomensurável.
De tal forma que é a única coisa no universo que é verdadeiramente redentora.
Poucos temos a capacidade de perdoar verdadeiramente. Relevamos, deixamos para trás, seguimos em frente, mas isso não é perdoar. Perdoar é passar uma esponja e esfregá-la para que não sobrem vestígios. Aquele que perdoa não releva, mas nunca voltará a pensar no assunto de uma forma negativa e triste, mas sim como algo de bom.
Isto é extraordinariamente difícil. Mais ainda quando nos culpamos por algo.
Mas o perdão chega e transforma um momento mau num momento marcante.
Todos temos momentos marcantes, sejam eles quais forem. Mas estes momentos são os extremos: ou são bons, ou maus. E não coincidem minimamente nas diversas apreciações. Um momento vivido por dois indivíduos em comum pode ser marcante para um e completamente indiferente para o outro, o que faz com que esse momento, na mente do segundo dificilmente venha a ser registado. Mas para o primeiro foi algo que será lembrado a vida inteira.
O primeiro beijo, por exemplo, é sempre lembrado. Mas se o primeiro beijo não o for para um dos dois, aquele para quem não o é, se calhar, no futuro nem se lembrará desse momento. E um primeiro beijo pode ser bom, ou mau, mas nunca, nunca será esquecido.
A vida é feita destes momentos marcantes a pontuar o relativo tédio e monotonia que são os intervalos. Mas, são estes momentos que tem repercussão em nós e nos outros. E se essas repercussões são negativas, então surge a necessidade de perdão e se esse perdão é genuíno, verdadeiro, é tão precioso e raro que se dá a redenção da pessoa e tudo o que podia haver de negativo passa a ser positivo e a incorporar de forma definitiva o que nós somos. São momentos que definem de forma única a nossa humanidade.
Há que procurar a redenção em cada momento.
Há vinte e cinco anos que a humanidade procura a redenção…
…mas não há redentor. Logo o perdão não pode vir. E o sentimento de culpa está instalado de tal forma que toma proporções religiosas.
Há vinte e cinco anos um homem anunciou que o mundo iria mudar. E o mundo acreditou. E todos se tentaram prevenir como podiam em relação à mudança. E o mundo colapsou, mas não como o homem dissera, e todos o culparam por causar o colapso ao instigar o pânico.
O mundo culpou-o, mas não o conseguiu condenar. Afinal, que culpa tinha ele que o mundo tivesse acreditado. Pior ainda, ele não tentara convencer ninguém, não disse que era detentor da verdade, não quis ser um profeta, não gritou “ACREDITEM EM MIM”… Limitou-se a falar. E quem acreditou nele? Todos.
Não havia ninguém a quem culpar do colapso a não ser a cada um dos que acreditaram, ou seja, todos. Mas havia que encontrar um culpado, um bode expiatório, e ele estava a jeito. Mas quando ninguém o conseguiu culpar, a culpa caiu de repente em todos nós, o que tornou o momento marcante a nível global. E esta era uma culpa difícil, pois implicava que cada um de nós teria de se perdoar a si próprio. Mas o pior não foi aí.
De repente ele desapareceu, e a esperança de um pouco de redenção vinda dele esfumou-se. Mas o tempo passou, o mundo não parou, foi-se reorganizando. E com o tempo, as palavras que ele tinha dito provaram ser acertadas. Apenas tinham sido vistas de outro prisma. Afinal ele estava certo, e a culpa foi substituída por outra e cresceu ainda mais. Afinal, cada um de nós tinha sido uma peça na engrenagem que provocara a mudança. O colapso não fora a mudança, provocara-a. E ele sabia, e ainda assim foi acusado, e criticado. Éramos todos culpados perante aquele que, ao provocar o colapso criou a mudança. Todos quisemos perdão porque o mundo estava bastante diferente de há vinte e cinco anos atrás, e para melhor. Todos procurámos a redenção… Mas o único redentor possível tinha já desaparecido.
O Mundo que existe hoje é filho da culpa que cada um de nós partilha, e essa culpa cria tantos pontos de contacto que é impossível não estarmos todos solidários.
E o facto de procurarmos o perdão diariamente dá-nos a humildade para percebermos os outros.
Claro que continua a haver divergências, confrontos de ideias, de visões, de opiniões, mas a procura de perdão é de facto unificadora. Finalmente a humanidade tinha-se unido em torno de algo que não era um lugar-comum, como o sempre antes utilizado “Somos todos humanos…”, como se o facto de nos proclamarmos mamíferos nos impedisse de matar outros mamíferos para comer, por exemplo. Finalmente havia algo de concreto, por mais intangível que fosse.
Mas a culpa começa a atingir proporções religiosas. Não deixa de ser irónico que o homem que afinal era tão indiferente à humanidade, que, nas suas palavras, foi apenas um veículo para as mensagens e que não as revelou para salvar alguém, mudar a vida de alguém ou fosse qual fosse o motivo altruísta, mas antes por estar empenhado numa procura pessoal, seja hoje louvado como um redentor. Porque a culpa está lá.
E, apesar de a culpa não ser ainda um lugar-comum, ameaça tornar-se num…
Mas deixa-me ir um pouco atrás.
A verdade é que a ultima mensagem de Gabriel Guerra causou uma comoção no mundo inteiro. As palavras dele ressoaram a uma ameaça consumada.

“Em sete dias as casas do poder que foram feitas de palha ruirão sob o seu próprio peso. A palavra é revolução.”

Foram sete dias de caos. Estas palavras tinham o peso de tudo o que se tinha passado antes, todas as mensagens que se concretizaram.
O problema é que as casas do poder permaneceram intactas ao fim dos sete dias. Mas a corrida aos bancos, aos supermercados, provocou o colapso do sistema. O sistema financeiro ruiu, a inflação disparou, houve escassez de tudo, mas no fim os governos conseguiram aguentar a ordem, conseguiram tomar medidas que contiveram os estragos rapidamente.
No fim dos sete dias milhares estavam no desemprego, empresas tinham falido e estavam nacionalizadas, numa tentativa de conter o desemprego e a ruína financeira. E no fim, para nada. Nada aconteceu. Não houve uma mudança, não houve a revolução, o mundo não explodiu em chamas. Mas os estragos foram enormes.
Havia que encontrar um culpado, e o culpado era óbvio. Foi constituído um processo, foi acusado, preso, levado a julgamento. Mas foi esse o primeiro momento.
-Acusam-me de quê, afinal? – perguntou ele em plena sala de audiências – Acusam-me de acreditarem em mim? Eu alguma vez prometi alguma coisa? Eu disse que tinha a verdade? Eu disse que esta era a verdade? Todos vocês assumiram que a verdade era esta, mas eu nunca o afirmei, nunca esperei que fizessem fosse o que fosse. Apenas recebi uma mensagem e passei à frente tal como me foi entregue. A interpretação foi vossa de palavras que nem eram minhas. O caos não foi criado por mim.
E esta era a verdade que ninguém conseguiu rebater.
O julgamento acabou. Gabriel foi libertado.
No dia seguinte desapareceu. Nunca ninguém encontrou um corpo ou voltou a saber do paradeiro dele. Pura e simplesmente esfumou-se da face da terra depois de ter sido baleado à porta de um café.
E o tempo passou. O equilíbrio voltou mas o mundo estava diferente. Curiosamente, estava muito mais próximo de uma utopia socialista do que anteriormente se julgara possível. O facto de os lucros do capital começarem a reverter directamente para os estados fez com que os países desenvolvidos tivessem um “superavit” nas suas economias, provocando uma distribuição de riqueza sem precedentes. A riqueza acumulada chegou mesmo aos países mais pobres e os desequilíbrios entre hemisférios esbateram-se.
Foi nessa altura que as palavras de Gabriel voltaram a ressoar.

“…as casas do poder que foram feitas de palha ruirão sob o seu próprio peso…”

O verdadeiro poder sobre o mundo não estava nos governos. Estava no capital, na pressão do consumismo, da produção em massa a custos reduzidos, no lucro. As casas de palha eram afinal aqueles que lidavam com a especulação e que construíram impérios de nada. E foram estas casas que ao ruir criaram a revolução.
Primeiro foram apenas algumas vozes tímidas a falar. Mas a voz da razão tinha força e vieram mais e mais. E foi nesta altura, quando se atingiu uma massa crítica de gente que Gabriel foi finalmente posto no seu lugar.
E foi então que apareceu o livro. Ninguém sabe quem foi o seu autor, mas começou a circular em fotocópias encadernadas e foi passando, até ser, finalmente editado.
Muitos disseram que tudo aquilo era mera especulação. Diziam que Gabriel jamais poderia ser tão “amargo”. Não depois de tudo o que fizera.
Foi precisamente o Fernandes que desfez as dúvidas acerca da veracidade do que lá estava escrito, afirmando que estavam lá descritas coisas que apenas ele próprio e o Gabriel podiam saber.
Surgiram logo teorias de que Gabriel estava vivo algures e que fora ele o autor, mas a verdade é que nunca nada disso foi confirmado. Ainda assim, apesar da “amargura” das palavras, Gabriel foi sendo conduzido cada vez mais para um lugar central na sociedade. Tanto quanto se sabe, começam a haver seitas espalhadas e esporádicas que criam religiões baseadas na crença de que Gabriel era um profeta.
O mundo mudou, de facto. Está mais justo. Mas não deixa de ser tão estranho como sempre foi. Apenas vivemos uma estranheza diferente.
E com isto chego ao começo da história, que não é a minha, mas que me vou dedicar a relatar o mais fielmente possível, para que saibas o que na realidade aconteceu.
Não presenciei a maior parte dos factos, mas aquilo que te vou contar vem de relatos em primeira mão.

Comecemos então…

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Published on November 27, 2015 03:24