C.N. Gil's Blog, page 35

April 19, 2016

-Para sempre sejam elevados os três sábios! Que nunca vos...

-Para sempre sejam elevados os três sábios! Que nunca vos faltem tremoços nem o produto da fermentação da cevada. – disse Matatturru, com a sua voz sonante e límpida quebrando o silêncio quase religioso do templo dos três sábios, estilhaçando-o mesmo, parecendo que repente que o silêncio tinha caído ao chão e se tinha desfeito em mil pedaços, como se o próprio silêncio naquele espaço estivesse tão congelado como congelada estava a noite que durava já há quatro longos meses por aquelas palavras.

Os olhares que o encararam, olhos azuis e frios em rostos pálidos e angulosos, ao mesmo tempo inquiridores e cheios de desprezo por alguém que certamente não era daquelas paragens.
-Que os teus recipientes de sílica derretida sempre se encontrem cheios. – Rosnou-lhe o que estava mais próximo dele, devolvendo a saudação ancestral de uma forma áspera e seca.
Todos os que estavam no Templo se aproximaram de repente, com os olhares duros e frios, rodeando-o, com caras de poucos amigos, deixando-lhe apenas como via de fuga a porta que dava para a cidade gelada atrás de si.

Nunca Matatturru tinha sido recebido assim em lugar algum. Começava a desconfiar que aquela viagem até Polo podia afinal não ter sido tão boa ideia como lhe parecera quando sufocava de calor em Ashtram, na orla do escaldante deserto de Shamar, o sítio que é tão quente, mas tão quente que se pode estrelar um ovo à sombra, um sítio tão quente que quando um homem vai mictar a urina se evapora antes de tocar no chão, um sítio tão quente que para beber água nos raros poços que há tem de se descer ao poço, porque se se lançar um balde para apanhar água ela evapora antes de chegar à superfície, tão quente que para ferver água para um café depois do jantar basta levantar uma pedra e pôr uma chaleira lá debaixo por dez minutos, e tão desolado, mas tão desolado que nem areia tinha, só pedras escaldantes onde nada, mas mesmo nada crescia! Sair dali para ir para um sítio mais fresco parecera-lhe uma excelente ideia, se bem que quando ainda estava longe de Polo estivesse já a pôr em causa a ideia, mas agora, aqui rodeado por estes vigorosos gigantes pouco amistoso, por pouco não lhe passavam pensamentos pela cabeça. Graças aos três sábios que assim não era!

-Sois um dos Absolutistas?
Pareceu a Matatturru que havia ali alguma animosidade em relação aos Absolutistas. Matutou um pouco e respondeu:
-Mas claro que não! A minha verdadeira fé é o mandamento único do qual homem algum se deve desviar: Não pensarás!

As faces fechadas abriram-se de repente num sorriso largo, e a atitude dos presentes mudou repentinamente e trouxeram-lhe produto da fermentação da cevada em canecas, cujo o nome ele estranhou, visto que nunca lhe passara pela cabeça chamar-lhe outra coisa que recipiente de sílica derretida, o que era normal, visto que não pensava, mas explicaram-lhe que um estrangeiro que por ali tinha passado tinha chamado caneca aos recipientes de sílica derretida e eles acharam muito mais prático chamar áquilo caneca, ao invés de recipiente de sílica derretida e ele gostou do nome e foi recebido como um irmão que chega de longe e se junta ao resto da família que o esperava já há muito, e deram-lhe tremoços e guardanapos de papel e convidaram-no e juntar-se a eles e a contar novas histórias de terras longínquas que eles já estavam fartos sempre das mesmas e já tinham ouvido a história do urso de estimação de Olgaf, o Hirsuto e já não o podiam ouvir mais e celebraram como já não se celebrava há muito.

Muito mais tarde, conversava Matatturru com Olgaf, o Hirsuto, depois de ouvir a história do urso de estimação umas duas vezes quando este lhe disse com genuína alegria no olhar:
-Estou mesmo feliz que sejas um verdadeiro crente! Nós odiamos os Absolutistas!
Matatturru sabia que havia animosidades, mas eram aliados. Era raro um sentimento destes.

-Mas porquê, irmão?
-Porque nos governam! E nos roubam a maior parte daquilo que tanto nos custa a ganhar, a taxa de utilização do Polo!
-Pois! Mas eles são assim tantos para vos dominar desta maneira?
-Não, são um punhado deles!
-Então porque não vos revoltais?
-E porque havíamos de fazê-lo? Vivemos, afinal, numa democracia…
-Numa democracia?
-Então mas não me havíeis dito que eles são poucos…
-De facto são…
-Então quem vota neles?
-Nós, quem mais?
-Mas isso quer dizer que os podíeis substituir em qualquer altura…
Olgaf olhou para ele, estupefacto! Depois de alguns segundos a olhá-lo acabou por dizer:
-Não percebi!
-Então, se é uma democracia, se sois vós que votais, porque os elegeis a eles?
-Porque se não os elegermos e votarmos neles ainda acabamos por votar em alguém pior.
-Então porque os odiais, se sois vós quem lhes dá o poder?

Runlaf, o Bisonte, assim conhecido porque era tão grande como um, ouvia a conversa da mesa ao lado, pousou a sua caneca e encarou Matatturru.
-Irmão, aquilo que fazeis… Essas perguntas… - levantou-se e inclinou-se por cima de Mataturru que se encolheu na cadeira tremendo – Acaso sois vós um espião Absolutista? Não estareis vós a raciocinar?
Outros olhos olharam-no inquiridores.
-Pelos três sábios, acusais-me de tal acto que nem a palavra ouso pronunciar? Pondes em causa a minha palavra? Pela maldição do Grande Olho na Muralha de Stix que assim não é!
-Então porquê as perguntas?
-Sou de fora! Quero saber os costumes locais! Não pretendo ofender algum dos meus irmãos inadvertidamente…
A explicação parecia razoável e os ânimos serenaram!

Mais tarde Mataturru ficou a saber que não tinham limões por ali e, não podendo fazer nada com as Baterias de Bagdad, acabou por rumar a paragens mais quentes…

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Published on April 19, 2016 12:24

A cidade de Polo

Conta-se que a cidade mais distante e longínqua que se conhecia no mundo era um sítio tão a norte, mas tão a norte, mas mesmo tão, tão a norte que quem lá entrava só podia sair para sul! Aliás estava tão perfeitamente a norte que, quando se estava na praça central ia-se sempre para sul.

Era uma cidade aborrecida, por estar sempre gelada. O único sítio que costumava ter alguma animação era o templo dos três sábios, igual a todos os outros templos das outras cidades do mundo, uma replica mais ou menos parecida com o local original onde se dizia que os três tinham tido a epífania, sendo apenas diferente porque tiveram de os fazer maiores, para caber lá mais gente, e mesmo assim só aos sábados à tarde, durante o dia, que eram seis meses, e ainda mais animado durante a noite, os outros seis meses em que nada havia para fazer senão beber o produto da fermentação da cevada a partir de recipientes de sílica derretida a que alguém dera o nome de caneca, vá-se lá saber porquê, acompanhados por tremoços enquanto não se pensava!

Talvez por isso, porque os habitantes passavam grande parte do ano sem pensar, fosse uma cidade absolutamente radical na sua génese. Por ali não só não se pensava como não se raciocinava, meditava, reflectia ou cogitava.

Apesar disso, resolveram adoptar uma democracia como forma de governo. No entanto cedo se aperceberam que o governo da cidade não era famoso. Sobretudo porque nada se decidia. Absolutamente nada! Logo, nada era feito. A cidade esteve muito perto de acabar.
Mas, sendo um local importante, porque era o lugar mais a norte, sendo que se partia sempre de lá para sul, a cidade recebia comissões pelo uso do ponto cardeal. Cada vez que alguém procurava a estrela polar no céu, aparecia um tipo da Sociedade Nmista do Norte e cobrava uma taxa! Cada vez que alguém fazia uma rosa-dos-ventos num mapa, lá aparecia o tipo da SNN…
…e à conta disto a cidade vivia prosperamente embora nada fosse feito lá, nem nada fosse decidido!

Ainda assim o caos reinante, a mais perfeita Anarquia Democrática, tornava cada vez mais chata a já de si chata vida destes habitantes desta cidade tão a norte que tudo lhe ficava a sul!

Esta cidade, que tinha o original nome de Polo, acabou por ter uma ajuda dos aliados dos Radicais, os Absolutistas, que foram apenas para resolver alguns problemas, mas acabaram por ser eleitos, acabando por formar numa elite governante que lá pôs ordem no caos, permitindo assim aos radicais não pensar à vontade! Apesar disto, os radicais odiavam os Absolutistas, uma vez não eram verdadeiros seguidores do mandamento único.
Mas mesmo dentro desta elite, visões diferentes de como o governo devia ser dirigido, o que levou a que aparecessem várias facções que competiam nas eleições umas com as outras e formavam o parlamento. A mais votada das facções elegia um presidente do parlamento que por sua vez se fazia auxiliar de secretários que tratavam de assuntos específicos na cidade. Por exemplo, havia o secretário da importação de produto de fermentação de cevada, o secretário das tremoceiras, o secretário das limpezas de neve…

Foi neste clima que Matatturru, filho de Matturro o grande rei da Lupulónia e responsável pelo nome das baterias de Bagdad chegou a Polo, levando consigo um carregamento de baterias que, por esta altura se haviam tornado imensamente populares por causa da impressão que faziam na língua quando se bebia um sumo de laranja, ou de limão, com o objectivo de espalhar ainda mais a grande obra de Uruk, o pequeno, para além de tentar ganhar algumas moedas com isso, uma vez que por aquelas bandas o preço do produto da fermentação da cevada era exorbitante, e aos tremoços nem se lhes conseguia chegar…

(continua)

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Published on April 19, 2016 00:00

Conta-se que a cidade mais distante e longínqua que se co...

Conta-se que a cidade mais distante e longínqua que se conhecia no mundo era um sítio tão a norte, mas tão a norte, mas mesmo tão, tão a norte que quem lá entrava só podia sair para sul! Aliás estava tão perfeitamente a norte que, quando se estava na praça central ia-se sempre para sul.

Era uma cidade aborrecida, por estar sempre gelada. O único sítio que costumava ter alguma animação era o templo dos três sábios, igual a todos os outros templos das outras cidades do mundo, uma replica mais ou menos parecida com o local original onde se dizia que os três tinham tido a epífania, sendo apenas diferente porque tiveram de os fazer maiores, para caber lá mais gente, e mesmo assim só aos sábados à tarde, durante o dia, que eram seis meses, e ainda mais animado durante a noite, os outros seis meses em que nada havia para fazer senão beber o produto da fermentação da cevada a partir de recipientes de sílica derretida a que alguém dera o nome de caneca, vá-se lá saber porquê, acompanhados por tremoços enquanto não se pensava!

Talvez por isso, porque os habitantes passavam grande parte do ano sem pensar, fosse uma cidade absolutamente radical na sua génese. Por ali não só não se pensava como não se raciocinava, meditava, reflectia ou cogitava.

Apesar disso, resolveram adoptar uma democracia como forma de governo. No entanto cedo se aperceberam que o governo da cidade não era famoso. Sobretudo porque nada se decidia. Absolutamente nada! Logo, nada era feito. A cidade esteve muito perto de acabar.
Mas, sendo um local importante, porque era o lugar mais a norte, sendo que se partia sempre de lá para sul, a cidade recebia comissões pelo uso do ponto cardeal. Cada vez que alguém procurava a estrela polar no céu, aparecia um tipo da Sociedade Nmista do Norte e cobrava uma taxa! Cada vez que alguém fazia uma rosa-dos-ventos num mapa, lá aparecia o tipo da SNN…
…e à conta disto a cidade vivia prosperamente embora nada fosse feito lá, nem nada fosse decidido!

Ainda assim o caos reinante, a mais perfeita Anarquia Democrática, tornava cada vez mais chata a já de si chata vida destes habitantes desta cidade tão a norte que tudo lhe ficava a sul!

Esta cidade, que tinha o original nome de Polo, acabou por ter uma ajuda dos aliados dos Radicais, os Absolutistas, que foram apenas para resolver alguns problemas, mas acabaram por ser eleitos, acabando por formar numa elite governante que lá pôs ordem no caos, permitindo assim aos radicais não pensar à vontade! Apesar disto, os radicais odiavam os Absolutistas, uma vez não eram verdadeiros seguidores do mandamento único.
Mas mesmo dentro desta elite, visões diferentes de como o governo devia ser dirigido, o que levou a que aparecessem várias facções que competiam nas eleições umas com as outras e formavam o parlamento. A mais votada das facções elegia um presidente do parlamento que por sua vez se fazia auxiliar de secretários que tratavam de assuntos específicos na cidade. Por exemplo, havia o secretário da importação de produto de fermentação de cevada, o secretário das tremoceiras, o secretário das limpezas de neve…

Foi neste clima que Matatturru, filho de Matturro o grande rei da Lupulónia e responsável pelo nome das baterias de Bagdad chegou a Polo, levando consigo um carregamento de baterias que, por esta altura se haviam tornado imensamente populares por causa da impressão que faziam na língua quando se bebia um sumo de laranja, ou de limão, com o objectivo de espalhar ainda mais a grande obra de Uruk, o pequeno, para além de tentar ganhar algumas moedas com isso, uma vez que por aquelas bandas o preço do produto da fermentação da cevada era exorbitante, e aos tremoços nem se lhes conseguia chegar…

(continua)

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Published on April 19, 2016 00:00

April 18, 2016

Continuação da Parábola do Grande Olho na Muralha



Entretanto, no cimo da muralha apareceu um outro homem. Assim que ele apareceu, a multidão deixou de dar atenção enquanto o homem gritava, a plenos pulmões:
-Esta diversão é-vos oferecida por Blbaaq, o fermentador de cevada real… - e começou a enumerar virtudes da cevada fermentada pelo mesmo.
A multidão ou ignorava-o por completo ou vaiavam-no e diziam para ele se despachar.
Aproveitando o momento, Uruk, o pequeno, voltou-se para uma outra pessoa que estava por ali e perguntou:
-Irmão, sou de fora e não compreendo. Podíeis esclarecer-me acerca dos eventos que presencio?
-De onde vindes, irmão? – perguntou o outro curioso.
-Dar terras para além das montanhas e vales, planaltos e desertos e para lá dos mares.
-Sois, pois um Nmista?
-Graças aos três sábios assim é.
-Para sempre sejam elevados os três sábios! Que nunca te faltem tremoços nem o produto da fermentação da cevada.
-Que os teus recipientes de sílica derretida sempre se encontrem cheios.
-Sois um dos Radicais?
Uruk ficou nervoso, não sabendo ao certo onde se encontrava. Respondeu simplesmente:
-Não!
-Presumo então que sejais um dos Absolutistas, visto que os cães Cientologistas são proscritos…
-Claro, irmão!
-Pois que haveis chegado à riquíssima cidade de Stix, a cidade do fim-do-mundo!
-Riquíssima?
-Sim!
-Mas os vossos campos só têm pó e ervas daninhas, o vosso gado passa fome, a cidade parece deserta…
-…mas isso apenas porque estamos a meio da segunda temporada de “o Grande olho na muralha”
-O grande olho na muralha?
-Sim! Todos os anos são escolhidos seis homens e seis mulheres que são fechados numa casa dentro das muralhas. Depois, os vigias relatam dia a noite os acontecimentos lá de dentro.
-Mas o que é que isso tem de tão interessante?
-Tudo! Vamos seguindo as interacções a cada instante do dia ou da noite para, ao fim de sete dias, decidirmos por votação qual das pessoas ainda la presentes tem de sair. Isto faz com que durante três meses vão saindo pessoas até que sobre apenas uma.
-E o que acontece às que saem?
-Normalmente recebem grandes presentes e honrarias durante o dia da saída, mas depois mais ninguém se lembra delas.
-E qual é o objectivo afinal?
-Bem, o ultimo que lá ficar ganha um suprimento vitalício de produto da fermentação da cevada e de tremoços! Algo que não se pode desprezar, não é verdade?
-Mas, quando chega ao fim dos três meses o que acontece?
-Faz-se uma festa com a saída do último e escolhem-se outros doze para ir para lá para dentro!
-E a cidade?
-Bem, essa ainda está no mesmo sítio, não está?


Descobriram depois que era impossível arranjar acomodações, visto que todos os estalajadeiros estavam na arena, bem como todos os comerciantes…
…bem, a bem da verdade toda a cidade, excepto o guarda do portão, que era rendido de 12 em doze horas.
Acabaram por sair da cidade e procuraram refúgio numa aldeia já algo distante, onde puderam beber produto da fermentação da cevada e comer tremoços em paz, retemperando as forças para seguirem para outros lugares.
Anos mais tarde ouviram falar de Stix, a cidade fantasma em que todos os habitantes haviam sido descobertos mortos de fome numa arena em volta de muros altos. Dizia-se que a cidade tinha sido amaldiçoada por um grande olho numa muralha…

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Published on April 18, 2016 05:18

(continuação da parábola anterior)Entretanto, no cimo da ...

(continuação da parábola anterior)

Entretanto, no cimo da muralha apareceu um outro homem. Assim que ele apareceu, a multidão deixou de dar atenção enquanto o homem gritava, a plenos pulmões:
-Esta diversão é-vos oferecida por Blbaaq, o fermentador de cevada real… - e começou a enumerar virtudes da cevada fermentada pelo mesmo.
A multidão ou ignorava-o por completo ou vaiavam-no e diziam para ele se despachar.
Aproveitando o momento, Uruk, o pequeno, voltou-se para uma outra pessoa que estava por ali e perguntou:
-Irmão, sou de fora e não compreendo. Podíeis esclarecer-me acerca dos eventos que presencio?
-De onde vindes, irmão? – perguntou o outro curioso.
-Dar terras para além das montanhas e vales, planaltos e desertos e para lá dos mares.
-Sois, pois um Nmista?
-Graças aos três sábios assim é.
-Para sempre sejam elevados os três sábios! Que nunca te faltem tremoços nem o produto da fermentação da cevada.
-Que os teus recipientes de sílica derretida sempre se encontrem cheios.
-Sois um dos Radicais?
Uruk ficou nervoso, não sabendo ao certo onde se encontrava. Respondeu simplesmente:
-Não!
-Presumo então que sejais um dos Absolutistas, visto que os cães Cientologistas são proscritos…
-Claro, irmão!
-Pois que haveis chegado à riquíssima cidade de Stix, a cidade do fim-do-mundo!
-Riquíssima?
-Sim!
-Mas os vossos campos só têm pó e ervas daninhas, o vosso gado passa fome, a cidade parece deserta…
-…mas isso apenas porque estamos a meio da segunda temporada de “o Grande olho na muralha”
-O grande olho na muralha?
-Sim! Todos os anos são escolhidos seis homens e seis mulheres que são fechados numa casa dentro das muralhas. Depois, os vigias relatam dia a noite os acontecimentos lá de dentro.
-Mas o que é que isso tem de tão interessante?
-Tudo! Vamos seguindo as interacções a cada instante do dia ou da noite para, ao fim de sete dias, decidirmos por votação qual das pessoas ainda la presentes tem de sair. Isto faz com que durante três meses vão saindo pessoas até que sobre apenas uma.
-E o que acontece às que saem?
-Normalmente recebem grandes presentes e honrarias durante o dia da saída, mas depois mais ninguém se lembra delas.
-E qual é o objectivo afinal?
-Bem, o ultimo que lá ficar ganha um suprimento vitalício de produto da fermentação da cevada e de tremoços! Algo que não se pode desprezar, não é verdade?
-Mas, quando chega ao fim dos três meses o que acontece?
-Faz-se uma festa com a saída do último e escolhem-se outros doze para ir para lá para dentro!
-E a cidade?
-Bem, essa ainda está no mesmo sítio, não está?


Descobriram depois que era impossível arranjar acomodações, visto que todos os estalajadeiros estavam na arena, bem como todos os comerciantes…
…bem, a bem da verdade toda a cidade, excepto o guarda do portão, que era rendido de 12 em doze horas.
Acabaram por sair da cidade e procuraram refúgio numa aldeia já algo distante, onde puderam beber produto da fermentação da cevada e comer tremoços em paz, retemperando as forças para seguirem para outros lugares.
Anos mais tarde ouviram falar de Stix, a cidade fantasma em que todos os habitantes haviam sido descobertos mortos de fome numa arena em volta de muros altos. Dizia-se que a cidade tinha sido amaldiçoada por um grande olho numa muralha…

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Published on April 18, 2016 05:18

Parábola do Grande Olho na Muralha

Se hoje em dia há algum conhecimento quer de Uruk, o pequeno, assim chamado pela sua extrema humildade perante os outros e o mundo, e não por causa de ter dois metros e cinco e ter a constituição de um touro, foi por causa da descoberta dos manuscritos do mar morto, que faziam referencias claras a figuras importantes do Nmismo, bem como a figuras de civilizações muito mais recentes, como a Suméria ou a Egípcia.

Um dos textos conta uma história, considerada mais uma alegoria ou uma parábola do que uma realidade concreta, que se passa quando, após os Nmistas Absolutistas, com a ajuda dos Nmistas radicais, terem conseguido tornar proscrita a corrente Cientologista, Uruk se viu forçado a viajar incógnito junto com o seu ajudante, Matatturru, filho do grande rei Matturru.

Depois de muitos, muitos, muitos, muitos, muitos, mas mesmo muitos dias de viagem, em que atravessaram vales e montanhas, planícies, desertos, planaltos, glaciares e até um ou outro mar nunca de antes navegado, chegaram a uma zona em redor de uma cidade que parecia muito, muito antiga. Toda a zona era de uma devastação constrangedora, os campos abandonados, os animais magros e com fome, as ervas daninhas cresciam como ervas daninhas, no ar o pó dos campos ressequidos elevava-se como uma cortina que tornava o ar espesso.
A cidade, que quase parecia em ruínas, estava estranhamente quieta.
Uruk, o pequeno, entrou na cidade junto com o seu aprendiz. À excepção de um guarda nos portões que não parecia muito bem-disposto e que nem lhes ligou importância, estava completamente deserta.
As tavernas estavam abertas, mas não havia ninguém. No ferreiro um aprendiz com cara desconsolada mantinha o fogo vivo, mas não se via o ferreiro em lado nenhuma malhar o ferro. O mercado estava vazio. Parecia uma cidade fantasma.
Mas eis que ouvem um rumor de uma multidão, e dirigiram-se nessa direcção.
Lá chegados encontraram um cenário como nunca tinham visto.
Havia uma enorme arena circular que tinha no seu centro muralhas altas, muito altas, que tornavam impossível ver fosse o que fosse lá para dentro. Aparentemente toda a população da cidade se concentrava na arena em volta dos muros com uma atenção e fervor quase religiosos. No cimo das muralhas havia alguns homens que gritavam para a multidão que, ora recebia as notícias com enorme satisfação ou com um burburinho de desalento, mas ninguém arredava pé.
Intrigado, Uruk aproximou-se de um dos locais.
-Saudações irmão… - disse ele à pessoa mais próxima - …acabo de chegar de uma longa viagem em que atravessei montes e vales, planícies, desertos, glaciares e até mares nunca de antes navegados, procuro mesa e repouso…
-As tavernas e as hospedarias ficam lá atrás… - disse o outro apontando vagamente uma direcção e dando o assunto como encerrado logo ali, virando de imediato a sua atenção para um dos homens no alto da muralha que gritava tão alto como podia:
-Yoannus, o mestre das armas, acabou de se reconciliar com Sasha, a ruiva, e partilham agora o leito. Sahrah, a rival de Sasha, prometeu vingança!
-Ohhhhhhhhhh! - Disse a multidão, em uníssono.
-E bem feito para a Sahrah! – Gritou uma velhota de repente.
-Bem feito? - Gritou uma outra voz de mulher – A Sasha é que é uma autêntica prostituta. Mete-se debaixo de qualquer coisa que tenha olhos…
-Diz lá isso outra vez, se queres ver… - gritou a velha!
-A Sasha é uma prostituta babilónica sifilosa! – Respondeu a outra.
-Eu dou-te a prostituta babilónica sifilosa! – e com isto gerou-se ali uma confusão enorme entre a velhota e a outra, sendo que não só ninguém fez menção de separar as duas mulheres como se juntaram à volta delas até a fazer apostas enquanto ambas lutavam na lama da arena.*


Uruk estava estupefacto com aquilo a que assistia…



* Há quem diga que foi deste episódio que surgiram, eras mais tarde, as lutas de Wrestling feminino na lama




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Published on April 18, 2016 04:21

Se hoje em dia há algum conhecimento quer de Uruk, o pequ...

Se hoje em dia há algum conhecimento quer de Uruk, o pequeno, assim chamado pela sua extrema humildade perante os outros e o mundo, e não por causa de ter dois metros e cinco e ter a constituição de um touro, foi por causa da descoberta dos manuscritos do mar morto, que faziam referencias claras a figuras importantes do Nmismo, bem como a figuras de civilizações muito mais recentes, como a Suméria ou a Egípcia.

Um dos textos conta uma história, considerada mais uma alegoria ou uma parábola do que uma realidade concreta, que se passa quando, após os Nmistas Absolutistas, com a ajuda dos Nmistas radicais, terem conseguido tornar proscrita a corrente Cientologista, Uruk se viu forçado a viajar incógnito junto com o seu ajudante, Matatturru, filho do grande rei Matturru.

Depois de muitos, muitos, muitos, muitos, muitos, mas mesmo muitos dias de viagem, em que atravessaram vales e montanhas, planícies, desertos, planaltos, glaciares e até um ou outro mar nunca de antes navegado, chegaram a uma zona em redor de uma cidade que parecia muito, muito antiga. Toda a zona era de uma devastação constrangedora, os campos abandonados, os animais magros e com fome, as ervas daninhas cresciam como ervas daninhas, no ar o pó dos campos ressequidos elevava-se como uma cortina que tornava o ar espesso.
A cidade, que quase parecia em ruínas, estava estranhamente quieta.
Uruk, o pequeno, entrou na cidade junto com o seu aprendiz. À excepção de um guarda nos portões que não parecia muito bem-disposto e que nem lhes ligou importância, estava completamente deserta.
As tavernas estavam abertas, mas não havia ninguém. No ferreiro um aprendiz com cara desconsolada mantinha o fogo vivo, mas não se via o ferreiro em lado nenhuma malhar o ferro. O mercado estava vazio. Parecia uma cidade fantasma.
Mas eis que ouvem um rumor de uma multidão, e dirigiram-se nessa direcção.
Lá chegados encontraram um cenário como nunca tinham visto.
Havia uma enorme arena circular que tinha no seu centro muralhas altas, muito altas, que tornavam impossível ver fosse o que fosse lá para dentro. Aparentemente toda a população da cidade se concentrava na arena em volta dos muros com uma atenção e fervor quase religiosos. No cimo das muralhas havia alguns homens que gritavam para a multidão que, ora recebia as notícias com enorme satisfação ou com um burburinho de desalento, mas ninguém arredava pé.
Intrigado, Uruk aproximou-se de um dos locais.
-Saudações irmão… - disse ele à pessoa mais próxima - …acabo de chegar de uma longa viagem em que atravessei montes e vales, planícies, desertos, glaciares e até mares nunca de antes navegados, procuro mesa e repouso…
-As tavernas e as hospedarias ficam lá atrás… - disse o outro apontando vagamente uma direcção e dando o assunto como encerrado logo ali, virando de imediato a sua atenção para um dos homens no alto da muralha que gritava tão alto como podia:
-Yoannus, o mestre das armas, acabou de se reconciliar com Sasha, a ruiva, e partilham agora o leito. Sahrah, a rival de Sasha, prometeu vingança!
-Ohhhhhhhhhh! - Disse a multidão, em uníssono.
-E bem feito para a Sahrah! – Gritou uma velhota de repente.
-Bem feito? - Gritou uma outra voz de mulher – A Sasha é que é uma autêntica prostituta. Mete-se debaixo de qualquer coisa que tenha olhos…
-Diz lá isso outra vez, se queres ver… - gritou a velha!
-A Sasha é uma prostituta babilónica sifilosa! – Respondeu a outra.
-Eu dou-te a prostituta babilónica sifilosa! – e com isto gerou-se ali uma confusão enorme entre a velhota e a outra, sendo que não só ninguém fez menção de separar as duas mulheres como se juntaram à volta delas até a fazer apostas enquanto ambas lutavam na lama da arena.*


Uruk estava estupefacto com aquilo a que assistia…



* Há quem diga que foi deste episódio que surgiram, eras mais tarde, as lutas de Wrestling feminino na lama




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Published on April 18, 2016 04:21

April 15, 2016

As correntes Nmistas

O começo do Nmismo, ao contrário do que seria de esperar, porque normalmente há alguma resistência a novas ideias por parte dos que não estão preparados para as abraçar ou seja, por todos quantos não as tiveram, foi auspicioso!
Os muito poucos ao longo da História que se debruçaram sobre este fenómeno nunca encontraram uma explicação para este facto. No entanto muito sempre suspeitaram que isso se deveu ao facto de os Nmistas, por norma, passarem as tardes de sábado reunidos a beber o produto da fermentação da cevada a partir de pequenos recipientes de sílica derretida e a comer tremoços, sem pensarem! Esta tradição manteve-se até aos dias de hoje, embora o Nmismo tenha já desaparecido há muito. Ainda hoje, durante os sábados e os domingos à tarde, milhares se reúnem com o propósito de beber o produto da fermentação da cevada e a comer tremoços sem pensar. O problema é que na altura os lugares de reunião não tinham ainda TV´s de grande formato e o futebol ainda não tinha sido inventado pelo que, ao fim de algum tempo as reuniões começaram a ficar aborrecidas.
Foi nesta altura que o Nmismo acabou por se dividir em duas correntes distintas:

-O Nmismo radical, que impunha a obrigatoriedade de beber o produto da fermentação da cevada de recipientes de sílica derretida sem pensar, mas que era tão aborrecido que não demorou muito a ganhar um certo cunho religioso

-O Nmismo racional, que advogava que o mandamento único “Não pensarás” não implicava que não se pudesse raciocinar, meditar, cogitar ou até mesmo reflectir sobre um assunto

O Nmismo racional acabou por ganhar muitos mais adeptos, simplesmente porque não era tão chato, mas o seu sugimento pôs logo em causa o facto de ninguém saber ao certo o que era um electrocardiografo nem um electrencefalografo, problema este que nunca se tinha posto antes nem se punha à corrente radical, simplesmente porque não pensavam nisso!

Os racionais chegaram à conclusão que tais coisas não existiam nem nunca tinham existido o que punha em causa toda a fundação desta filosofia existencialista.

Foi Oratestes de Pua, talvez o mais brilhante Racionalista daquele tempo o primeiro a tentar conciliar esta questão, afirmando que a criação seja do que for está na sua conceptualização e não na sua manufactura, pelo que o electrocardiografo e o electroencefalografo tinham sido criados de facto pelos três sábios cujo nome se tinha perdido já por aquela altura, o que foi pena, pois graças a esta linha de pensamento ainda hoje os seus descendentes teriam direito a "royalties" pela patente!
No entanto, isto veio a criar duas novas correntes no Nmismo Racional:

-O Nmismo Racionalista Absoluto, que afirmava que, uma vez que o conceito estava criado, o electrocardiografo e o electroencefalografo haviam de aparecer quando o mundo estivesse preparado para eles

-O Nmismo Racionalista Cientológico, que afirmava que se ainda não existiam, nem se sabia quando ou se existiriam, o melhor era inventarem eles próprios o electrocardiografo e o elecroencefalografo.

Os Absolutistas afirmavam categoricamente que nunca se poderia ter a certeza de que um electrocardiografo ou um electroencefalografo produzido pelos cientologistas seriam de facto um electrocardiografo ou um electroencefalografo de acordo com o que tinha sido definido pelos antigos. Afirmavam mesmo ser uma blasfémia tentar criar tais coisas. Começaram até a acusar o Cientologistas de pensar, o que não caiu bem!

Já os Cientologistas achavam os Absolutistas uns patetas enquanto gastavam tudo o que podiam reunir em mansões para os seus líderes e também usavam uma pequena parte para financiar o desenvolvimento do electrocardiografo e do electroencefalografo. No entanto viam constantemente os seus esforços frustrados pelo simples facto de ainda não ter sido inventada a electricidade, e começaram a ficar ressentidos pelo ar de gozo com que eram encarados pelos Absolutistas. Este ressentimento, a par com a cada vez maior influência monetária e política dos Cientologistas, levou-os a tentar controlar toda a cevada, limitando assim o acesso quer aos Absolutistas, quer aos Radicais.

Os Absolutistas, por sua vez, tomaram conta de toda a produção de tremoços, criando assim um braço de ferro entre as duas facções que durou algumas gerações.

Mas no fim tudo se precipitou quando os Radicais declararam uma guerra contra todos os falsos Nmistas afirmando que todos deviam ter acesso ao produto da cevada fermentada, bem como aos tremoços, visto que a situação tornava incrivelmente aborrecias as reuniões semanais em que se limitavam a não pensar!

Os Absolutistas, por conveniência, puseram-se do lado dos Radicais, uma vez que eram estes que continuavam a produzir os recipientes de sílica derretida e deu-se assim a primeira guerra Nmista, que culminou com a prisão dos líderes Racionalistas Cientologistas bem como a proibição daquela corrente.
Ainda assim,  foi Uruk, o pequeno, um dos poucos líderes que conseguiu escapar ao cruel destino de todos os outros (ser encerrado dentro das próprias mansões com todas as mordomias mas proibidos de falar a toda a imprensa excepto às revistas Vidas e Caras e à CMTV desde que não tocassem nunca em assuntos Nmistas ou relacionados) que, fugido para as bandas da Babilónia fez uma descoberta notável:

Se pegasse num vaso de barro, o enchesse de sumo de limão e depois pusesse lá dentro um cilindro de cobre e por dentro deste pusesse uma barra de ferro e depois fizesse a língua tocar no cilindro de cobre e na barra de ferro sentiria umas comichões esquisitas na ponta da língua.
Quando mostrou esta sua invenção ao seu aprendiz, Matatturru, o filho de Matturro, o rei do grande reino de Lupulónia, reino abastadíssimo por ser o único sítio no mundo onde se produzia o Lúpulo necessário para manter o produto da fermentação da cevada fresco, após a fermentação, este sorriu e afirmou:

-Eina, man, isto é memo p'ra lá de Bagdad... - e foi assim que a invenção se tornou conhecida como a Bateria de Bagdad!

Mal ele sabia as implicações que esta descoberta teria no futuro…


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Published on April 15, 2016 03:24

O começo do Nmismo, ao contrário do que seria de esperar,...

O começo do Nmismo, ao contrário do que seria de esperar, porque normalmente há alguma resistência a novas ideias por parte dos que não estão preparados para as abraçar ou seja, por todos quantos não as tiveram, foi auspicioso!
Os muito poucos ao longo da História que se debruçaram sobre este fenómeno nunca encontraram uma explicação para este facto. No entanto muito sempre suspeitaram que isso se deveu ao facto de os Nmistas, por norma, passarem as tardes de sábado reunidos a beber o produto da fermentação da cevada a partir de pequenos recipientes de sílica derretida e a comer tremoços, sem pensarem! Esta tradição manteve-se até aos dias de hoje, embora o Nmismo tenha já desaparecido há muito. Ainda hoje, durante os sábados e os domingos à tarde, milhares se reúnem com o propósito de beber o produto da fermentação da cevada e a comer tremoços sem pensar. O problema é que na altura os lugares de reunião não tinham ainda TV´s de grande formato e o futebol ainda não tinha sido inventado pelo que, ao fim de algum tempo as reuniões começaram a ficar aborrecidas.
Foi nesta altura que o Nmismo acabou por se dividir em duas correntes distintas:

-O Nmismo radical, que impunha a obrigatoriedade de beber o produto da fermentação da cevada de recipientes de sílica derretida sem pensar, mas que era tão aborrecido que não demorou muito a ganhar um certo cunho religioso

-O Nmismo racional, que advogava que o mandamento único “Não pensarás” não implicava que não se pudesse raciocinar, meditar, cogitar ou até mesmo reflectir sobre um assunto

O Nmismo racional acabou por ganhar muitos mais adeptos, simplesmente porque não era tão chato, mas o seu sugimento pôs logo em causa o facto de ninguém saber ao certo o que era um electrocardiografo nem um electrencefalografo, problema este que nunca se tinha posto antes nem se punha à corrente radical, simplesmente porque não pensavam nisso!

Os racionais chegaram à conclusão que tais coisas não existiam nem nunca tinham existido o que punha em causa toda a fundação desta filosofia existencialista.

Foi Oratestes de Pua, talvez o mais brilhante nacionalizador daquele tempo o primeiro a tentar conciliar esta questão, afirmando que a criação seja do que for está na sua conceptualização e não na sua manufactura, pelo que o electrocardiografo e o electroencefalografo tinham sido criados de facto pelos três sábios cujo nome se tinha perdido já por aquela altura, o que foi pena, pois graças a esta linha de pensamento ainda hoje os seus descendentes teriam direito a "royalties" pela patente!
No entanto, isto veio a criar duas novas correntes no Nmismo Racional:

-O Nmismo Racionalista Absoluto, que afirmava que, uma vez que o conceito estava criado, o electrocardiografo e o electroencefalografo haviam de aparecer quando o mundo estivesse preparado para eles

-O Nmismo Racionalista Cientológico, que afirmava que se ainda não existiam, nem se sabia quando ou se existiriam, o melhor era inventarem eles próprios o electrocardiografo e o elecroencefalografo.

Os Absolutistas afirmavam categoricamente que nunca se poderia ter a certeza de que um electrocardiografo ou um electroencefalografo produzido pelos cientologistas seriam de facto um electrocardiografo ou um electroencefalografo de acordo com o que tinha sido definido pelos antigos. Afirmavam mesmo ser uma blasfémia tentar criar tais coisas. Começaram até a acusar o Cientologistas de pensar, o que não caiu bem!

Já os Cientologistas achavam os Absolutistas uns patetas enquanto gastavam tudo o que podiam reunir em mansões para os seus líderes e também usavam uma pequena parte para financiar o desenvolvimento do electrocardiografo e do electroencefalografo. No entanto viam constantemente os seus esforços frustrados pelo simples facto de ainda não ter sido inventada a electricidade, e começaram a ficar ressentidos pelo ar de gozo com que eram encarados pelos Absolutistas. Este ressentimento, a par com a cada vez maior influência monetária e política dos Cientologistas, levou-os a tentar controlar toda a cevada, limitando assim o acesso quer aos Absolutistas, quer aos Radicais.

Os Absolutistas, por sua vez, tomaram conta de toda a produção de tremoços, criando assim um braço de ferro entre as duas facções que durou algumas gerações.

Mas no fim tudo se precipitou quando os Radicais declararam uma guerra contra todos os falsos Nmistas afirmando que todos deviam ter acesso ao produto da cevada fermentada, bem como aos tremoços, visto que a situação tornava incrivelmente aborrecias as reuniões semanais em que se limitavam a não pensar!

Os Absolutistas, por conveniência, puseram-se do lado dos Radicais, uma vez que eram estes que continuavam a produzir os recipientes de sílica derretida e deu-se assim a primeira guerra Nmista, que culminou com a prisão dos líderes Racionalistas Cientologistas bem como a proibição daquela corrente.
Ainda assim,  foi Uruk, o pequeno, um dos poucos líderes que conseguiu escapar ao cruel destino de todos os outros (ser encerrado dentro das próprias mansões com todas as mordomias mas proibidos de falar a toda a imprensa excepto às revistas Vidas e Caras e à CMTV desde que não tocassem nunca em assuntos Nmistas ou relacionados) que, fugido para as bandas da Babilónia fez uma descoberta notável:

Se pegasse num vaso de barro, o enchesse de sumo de limão e depois pusesse lá dentro um cilindro de cobre e por dentro deste pusesse uma barra de ferro e depois fizesse a língua tocar no cilindro de cobre e na barra de ferro sentiria umas comichões esquisitas na ponta da língua.
Quando mostrou esta sua invenção ao seu aprendiz, Matatturru, o filho de Matturro, o rei do grande reino de Lupulónia, reino abastadíssimo por ser o único sítio no mundo onde se produzia o Lúpulo necessário para manter o produto da fermentação da cevada fresco, após a fermentação, este sorriu e afirmou:

-Eina, man, isto é memo p'ra lá de Bagdad... - e foi assim que a invenção se tornou conhecida como a Bateria de Bagdad!

Mal ele sabia as implicações que esta descoberta teria no futuro…


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Published on April 15, 2016 03:24

April 14, 2016

Uma das primeiras coisas que ocorreu aos três sábios logo...

Uma das primeiras coisas que ocorreu aos três sábios logo a seguir à criação do Necrofagismomacrobioticóexistencialismo, após se terem apercebido que se tinham apercebido que o Universo era absurdo porque evoluía sempre da simplicidade para a complexidade o que criava conjuntos inteiros de problemas que simplesmente não existiam antes da evolução, é que precisavam da simplificação mais absoluta por forma a encontrar a unicidade de tudo, pelo que resolveram beber mais algum do produto da fermentação da cevada a partir de pequenos recipientes de sílica fundida enquanto, meditavam, cogitavam e reflectiam, respectivamente cada um deles, acerca de como chegar a essa simplificação.

E ficaram muito tempo nisto! Não porque tivessem pressa em chegar a uma conclusão, porque na verdade não tinham e se o Universo já esperara tanto, bem que podia esperar mais um bocadinho, mas porque lhes estava a saber bem beber o produto da fermentação da cevada a partir dos pequenos recipientes de sílica fundida!

Foi quando viram que o produto da fermentação da cevada estava a acabar que resolveram deixar registados os principais mandamentos do Nmismo (para abreviar) e um deles tirou uma fina pena de ganso de dentro dos bolsos da toga e passou a outro, o único que ainda tinha o guardanapo de papel quase inteiramente por usar finamente dobrado debaixo do pires onde tinha empilhado as cascas dos tremoços, que usou a pena para escrever nesse mesmo guardanapo as fundações da nova corrente existencialista.

Após acesa discussão entre os três, o que tinha a pena acabou por escrever no papel:

-Não pensarás.

E depois disto não escreveu mais nada porque tudo o resto se tornou irrelevante.

Consta-se que este guardanapo de papel foi destruído junto com o restante conteúdo da biblioteca de Alexandria. Embora não haja certezas, há textos de um obscuro filosofo grego, Plucrates, o Obtuso, que afirmam que ele ouviu dizer que um conhecido de um amigo que tinha ido ao Egipto ver as pirâmides, não as achando nada de por aí além, tinha falado com um guia turístico que conhecia um sacerdote do templo que era intimo do director da biblioteca que tinha o papel emoldurado numa fina moldura de Oricalcum que mantinha em cima da sua secretária, o que prova de maneira inequívoca que:

-Os tremoços são já acompanhamento de produtos de fermentação da cevada desde templos imemoriais

-Os guardanapos de papel foram inventados muito antes do que se pensava
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Published on April 14, 2016 07:31