Cristina Torrão's Blog, page 44
January 28, 2017
Miss Buncle’s Book
Diverti-me a ler este
livro, publicado, pela primeira vez, em 1934, por Dorothy Emily Stevenson (entre
nós desconhecida). Atualmente, não há versão portuguesa, nem sei se alguma vez
houve. Não sendo uma obra muito literária, este livro vale pela ironia, pela
capacidade de a autora retratar o ser humano e pelas questões que coloca quanto
à atividade do escritor (sendo a principal: é legítimo que usemos pessoas que
conhecemos como personagens?).
Numa pequena e pacata
localidade inglesa, nos arredores de Londres, instala-se o caos, quando se
descobre a publicação de um livro que retrata essa mesma localidade e os seus
habitantes. Enquanto uns acham piada e se divertem imenso, outros indignam-se
de se verem tão bem retratados, como se olhassem para um espelho e não
gostassem da imagem refletida.
A questão que passa a
preencher a vida da localidade é: quem é o autor? Este naturalmente assina com
pseudónimo. Instala-se a desconfiança e até se organizam reuniões para discutir
a melhor maneira de descobrir quem está por detrás do projeto e como se poderá castigá-lo!
Tenta-se processar o
editor, exigindo-se-lhe que retire o livro do mercado, empresa condenada ao
fracasso, pois é impossível provar que o autor tentou atingir propositadamente determinadas
pessoas - o facto de alguém se reconhecer num livro não quer dizer que seja ele
o referenciado. Também achei interessante que algumas pessoas não se reconhecessem
na personagem a elas correspondente, mas acabarem por modificar a sua vida, precisamente
de acordo com essa personagem. O livro não descreve apenas a vida da localidade,
dá soluções para vidas, digamos, encalhadas, boas soluções para pessoas com
quem o autor simpatiza.
Pelo meio, temos a
questão de alguém, que nunca escreveu, meter mãos à obra e conseguir que o
primeiro editor a quem manda o original o publique, enquanto um outro escritor,
conhecido na localidade, se farta de enviar, anos a fio, originais a editoras,
sem sucesso. No início, até se desconfia que seja ele o autor, possibilidade
que logo se descarta, pois a personagem a ele correspondente é tão intragável,
que até a mulher o abandona.
A certa altura,
alguém lembra que o livro pode muito bem ter sido escrito por uma mulher!
Suspeita-se da esposa do médico, senhora culta e com tempo para tal atividade,
pois, apesar de ter dois filhos, não exerce atividade profissional e tem
criada. Além disso, conhece a história da vida de muita gente, através do
marido, e… não é mencionada no romance!
Tomam-se medidas para
a obrigar a assinar um documento, em que declara desejar retirar o livro do
mercado. Da verdadeira autora, a solteirona Miss Buncle, tímida e sem jeito para
se vestir, pentear e conversar, ninguém desconfia…
Nota: li a versão alemã, Stich
ins Wespennest, republicada em 2013.
Published on January 28, 2017 03:02
January 25, 2017
Construção de mentalidades, aqui e na China
Segundo uma notícia
do The Guardian, o governo chinês decidiu reescrever a História nos
livros escolares, aumentando a guerra sino-japonesa em seis anos. Receia-se que
a alteração possa irritar o Japão e piorar a relação entre os dois países.
É comummente aceite
pelos historiadores que a segunda guerra sino-japonesa se iniciou em 1937, com
o designado incidente da Ponte Marco Polo, em que tropas japonesas e chinesas
se combateram ao longo de uma linha férrea, a sudoeste de Pequim. O governo
chinês quer agora impor a invasão japonesa da Manchúria, iniciada no Outono de
1931, como o ponto de partida desta guerra. No entanto, só a partir de 1937, os
comunistas chineses se juntaram aos nacionalistas, a fim de combaterem o Japão.
Até aí, os dois partidos estiveram envolvidos numa guerra civil.
Este assunto que, em princípio, não nos diz respeito, fez-me lembrar que o
influenciar das mentalidades nos bancos de escola funcionou muito bem entre nós,
durante a ditadura do Estado Novo. Funcionou tão bem, que, segundo o Professor Moisés de Lemos Martins, da Universidade
do Minho, o
imaginário salazarista permanece no imaginário contemporâneo, através das
ideias de portugalidade e lusofonia.
De facto, desde que comecei a pesquisar sobre a nossa
História Medieval, baseando-me nas fontes mais atuais possíveis, constatei que
o nosso imaginário ainda está cheio de lendas e outras narrativas, cultivadas
pelo Estado Novo e que enchiam os livros escolares da altura, dando-nos uma
ideia errada de certos acontecimentos.
Mas o imaginário salazarista não se faz
sentir apenas na História. Na tese de doutoramento defendida por Moisés de
Lemos Martins na Universidade de Ciências Humanas de Estrasburgo, em 1984, o
agora Professor Catedrático chama a atenção para o Portugal criado por Salazar:
um país que vivia modestamente, gerindo bem os seus recursos, mas que
simultaneamente era um
império que ia “do Minho a Timor, e se mais mundos houvera”.
Os discursos salazaristas serviam-se de
duas figuras: a da “boa dona de casa”, que vive modestamente, mas que sabe
gerir bem os pequenos recursos e as suas poupanças, e a do “navegador-guerreiro
das caravelas”, que exalta o império.
A mentalidade criada por estas duas
figuras continua tão atual, que a
editora Afrontamento resolveu publicar a 2.ª edição do livro O Olho de Deus no Discurso Salazarista,
que reproduz a tese de doutoramento referida.
Published on January 25, 2017 02:55
January 21, 2017
Bons escritores + bons livros = citações bombásticas?
Já tenho reproduzido aqui
excertos de livros que leio e de que gosto particularmente. Porém, nessa minha
procura de citações, tenho verificado algo interessante.
Muitas vezes, num
livro que me agrada, não encontro citações fortes, que causem impacto e que
falem por si. Penso que isso se deve ao facto de que tudo o que está escrito
nesse livro vale pelo seu conjunto, ou seja, o livro é excelente, mas as passagens,
retiradas do seu contexto, perdem a sua força.
Por outro lado, encontro
passagens que me impressionam, no bom sentido, em livros que, no seu conjunto,
não me cativam, ou que me parecem mal estruturados.
Também já verifiquei,
no Facebook (a única rede social que
frequento), que há escritores que publicam frases curtas e muito assertivas,
enquanto outros se limitam a textos banais. O mais curioso é que isso nada diz
acerca da qualidade dos seus livros. Entre os primeiros, há quem escreva livros
que são um bocejo constante e entre os segundos encontram-se obras empolgantes,
que não queremos largar.
O que quer isto
dizer? Que os bons escritores não se notam à primeira vista? E qual é o melhor
escritor? Aquele que escreve frases que nos ficam na memória, ou aquele que
escreve histórias que nos ficam na memória? Ou só é bom escritor quem conjuga
estes dois fatores?
Não posso deixar de
recordar uma passagem da entrevista que António Mota deu à “escritores.online”:
-
E o que faz de um escritor um bom escritor?
- Se eu soubesse, respondia, mas não sei. E duvido de quem sabe.
Published on January 21, 2017 09:43
January 14, 2017
As Altas Montanhas de Portugal
Estava muito curiosa em relação a este
livro (que li na versão alemã Die hohen
Berge Portugals) por duas razões. Em primeiro lugar, foi escrito por Yann
Martel, o autor do fantástico A Vida de
Pi, vencedor do Man Booker Prize
2002 e que deu origem a um filme. Em segundo lugar,
interessa-me sempre ler sobre o nosso país, quando descrito por alguém de fora,
acho que temos imenso a ganhar com a mudança de perspetiva.
Custa-me muito dizer que o livro me
desiludiu. O enredo podia acontecer num outro país qualquer, não
necessariamente Portugal, perdendo-se o encanto de nos vermos com olhos
estrangeiros. Além disso, ao descrever a paisagem do nordeste transmontano, Yann
Martel diz que em Portugal não existem montanhas a sério, apenas colinas
pintadas de verde!
Colinas pintadas de verde, na terra de
Torga?
O romance está dividido em três partes.
Na primeira, passada em 1904, o jovem Tomás, a fim de superar o desgosto
causado pela morte da namorada e do filho pequeno, pega no carro do tio rico e
parte para as altas montanhas de Portugal, à procura de um crucifixo esquecido,
mas que ele desconfia ser grande obra de arte. Depois de ler o diário de um
Padre Ulisses, missionário em África no século XVII, Tomás chega à conclusão de
que o crucifixo se encontra na igreja de alguma aldeia do distrito de Bragança.
Este ponto de partida é aliciante, mas é
confrangedor constatar que Yann Martel pouco sabe sobre o nosso país. Para
começar, temos uma volta pela cidade de Lisboa com o tio de Tomás, que pretende
ensinar o sobrinho a guiar (naquela altura, ainda não havia carta de condução).
Yann Martel nomeia ruas, descrevendo um percurso que eu, com poucos
conhecimentos de Lisboa, não posso avaliar, mas sei que ele comete um grande
erro ao situar a estátua do Marquês de Pombal na Praça do Comércio!
Tomás inicia a sua viagem e o autor
prova ter pesquisado, apresentando nomes de localidades: Póvoa de Santa Iria,
Alverca do Ribatejo, Alhandra, Porto Alto (apesar de sabermos que o eixo
Lisboa-Santarém-Coimbra-Porto se usa desde a era romana, pelo que deduzo que
houvesse, já em 1904, alguma espécie de estrada, ou caminho, Tomás embrenha-se
pelo interior do país), Ponte de Sor, Rosmaninhal, Atalaia, etc. Os habitantes
das localidades por onde passa maldizem a máquina barulhenta, alguns tornam-se
mesmo violentos. Além disso, Tomás vê-se aflito para guiar (vai aprendendo à
medida que avança) e para arranjar o combustível nafta, que encontra nas
farmácias, mas em quantidades pequenas (ainda não há bombas de gasolina). O
leitor segue divertido estas peripécias. O problema é que o cenário podia ser
outro qualquer! Como já referi, não há nada que se possa definir como
exclusivamente português, além do nome das terras.
Tomás chega a Castelo Branco e aí a
narrativa torna-se desastrosa, pois, num ápice, o jovem alcança Macedo de
Cavaleiros, como se estas duas cidades ficassem ao lado uma da outra! Chegado a
Trás-os-Montes, admira-se por as montanhas não serem tão altas assim. Não
passam de colinas verdes! O jovem, que nunca tinha saído de Lisboa, chega à
conclusão de que em Portugal não há montanhas altas, o que se torna ainda mais ridículo,
se pensarmos que ele, para ir de Castelo Branco a Macedo de Cavaleiros, teria
forçosamente de passar pela Serra da Estrela!
A segunda parte do romance passa-se em
1939, em Bragança, um episódio surreal à volta de um médico legista, a quem
surge uma senhora a pedir que autopsie o cadáver do marido (já haveria médico
legista, nesta altura, em Bragança?). A senhora é oriunda de uma aldeia daquele
distrito, da qual o médico legista nunca ouviu falar! A sério? No único
hospital da região? Quando ele pergunta onde fica a aldeia, ela responde: «nas altas
montanhas de Portugal», admirando o médico, que diz já ter ouvido falar desse
sítio - como se Bragança não fizesse parte desse cenário!
Na terceira parte, início dos anos 1980,
tomamos conhecimento com um senador canadiano à beira da reforma, descendente
de portugueses. Depois de enviuvar e desiludido com a vida, resolve regressar à
terra de origem da sua família, uma aldeia perdida… «nas altas montanhas de
Portugal». Faz-se acompanhar por um chimpanzé, que salva de um laboratório de
experiências. Uma atitude nobre, não há dúvida, mas convenhamos: o homem, sem
saber uma palavra de Português, instala-se numa aldeia perdida nos montes
transmontanos, acompanhado de um chimpanzé e toda a gente acha imensa piada? Os
habitantes são caracterizados como hospitaleiros, mas eu sinceramente não
consigo imaginar que gente dessa se dê bem com um chimpanzé andando livre pelas
ruas da sua aldeia! Um chimpanzé que pertence a um estrangeiro que eles nunca
viram mais gordo e ninguém sabe que os pais dele eram oriundos da sua
terra. Os aldeãos transmontanos são hospitaleiros, sim, mas tudo o que fuja à
ordem que eles conhecem é olhado com desconfiança. Sei isso por experiência
própria. Além disso, a paisagem é caracterizada com as tais colinas verdes,
cobertas de pinhais, onde surgem, de repente, grandes rochas. Pode ser muito
bonito, mas não é o nordeste transmontano!
Yann Martel corre o
risco de se perder nas imagens e simbologias que constrói na sua cabeça,
tornando-se muito difícil compreender onde quer chegar. Será que é sua ambição
escrever apenas para ele próprio? Os temas centrais deste romance são a fé
religiosa, a maneira como cada pessoa reage à perda e o questionar sobre
o sentido da vida (que implica uma reaproximação aos outros animais). Na minha
opinião, porém, o autor foi longe demais em certos momentos surrealistas.
Além disso, não considero bem sucedida, neste caso, a mistura entre fantasia e
realidade. Numa entrevista de Yann Martel à revista alemã Bücher Magazin, ele diz que as
montanhas aqui descritas são produto da sua fantasia, que tal lugar não existe
em Portugal. Valha-nos isso! Mas será legítimo usar o nosso país tão abusivamente, não dizendo
nada de jeito sobre ele, dando informações falsas? As pessoas que não conhecem
Portugal (e Yann Martel tem leitores em todo o mundo e em todas as línguas) não
sabem fazer essa distinção. E, se é fantasia, porque se deu o autor ao trabalho
de pesquisar tantos nomes?
Published on January 14, 2017 02:46
January 11, 2017
Tu És a Única Pessoa (13)
«Estava-se no Verão de 1976. Mário Soares acabara de tomar posse como Primeiro-Ministro, depois de ganhar as primeiras eleições legislativas. Um conhecido de Leonel tornara-se Secretário de Estado do governo minoritário do PS e, sabendo que ele acabara de se formar, ofereceu-lhe um lugar de assessor.
Leonel não pensara em seguir a carreira política. Se o fizesse, aliás, via-se mais nas fileiras de um partido como a UDP, já que o partido que se formara a partir das Brigadas Revolucionárias se tinha ficado por uma votação irrisória.
(...)
Na verdade, também a integração do amigo no governo PS o surpreendia, um amigo que igualmente andara metido em organizações marxistas-leninistas. O Secretário de Estado cozido de fresco lembrou-lhe, porém, que os tempos revolucionários já tinham passado à História. O futuro estava com Mário Soares e os Socialistas, seria essa a esquerda portuguesa! O PCP jamais alcançaria votação suficiente para ser alternativa de governo, para já não falar da UDP e quejandos.
- Leonelzinho, isto, daqui prá frente, vai ser assim: ou o PS, ou a direita!»
Leonel não pensara em seguir a carreira política. Se o fizesse, aliás, via-se mais nas fileiras de um partido como a UDP, já que o partido que se formara a partir das Brigadas Revolucionárias se tinha ficado por uma votação irrisória.
(...)
Na verdade, também a integração do amigo no governo PS o surpreendia, um amigo que igualmente andara metido em organizações marxistas-leninistas. O Secretário de Estado cozido de fresco lembrou-lhe, porém, que os tempos revolucionários já tinham passado à História. O futuro estava com Mário Soares e os Socialistas, seria essa a esquerda portuguesa! O PCP jamais alcançaria votação suficiente para ser alternativa de governo, para já não falar da UDP e quejandos.
- Leonelzinho, isto, daqui prá frente, vai ser assim: ou o PS, ou a direita!»
Published on January 11, 2017 02:57
January 9, 2017
Tu És a Única Pessoa (12)
E porque vem a propósito:
"- Eu estive lá!
- Onde?
- Em Londres.
- Na manifestação? Contra o Presidente do Conselho?
Fora medonho! Marcelo Caetano havia sido recebido com gritos, vaias,
assobios e apupos em Português e em Inglês. Os jovens britânicos
tinham-se juntado a portugueses residentes em Londres, mas também
outros, vindos principalmente de França e da Bélgica.
- E alguns de Portugal, como eu - concluiu, com um sorriso satisfeito. - Até conheci o Mário Soares!
- Conheceste quem?
Leonel sorria cada vez mais, satisfeito no seu papel de esclarecedor. E
Helena deliciava-se com aquela intimidade, a falarem baixo, muito
chegados.
Mário Soares era um advogado no exílio, secretário-geral
do Partido Socialista Português, recentemente criado na Alemanha.
Reunira-se, depois, em França, com os dirigentes comunistas portugueses,
considerando urgente a liquidação da «ditadura fascista»."
"- Eu estive lá!
- Onde?
- Em Londres.
- Na manifestação? Contra o Presidente do Conselho?
Fora medonho! Marcelo Caetano havia sido recebido com gritos, vaias,
assobios e apupos em Português e em Inglês. Os jovens britânicos
tinham-se juntado a portugueses residentes em Londres, mas também
outros, vindos principalmente de França e da Bélgica.
- E alguns de Portugal, como eu - concluiu, com um sorriso satisfeito. - Até conheci o Mário Soares!
- Conheceste quem?
Leonel sorria cada vez mais, satisfeito no seu papel de esclarecedor. E
Helena deliciava-se com aquela intimidade, a falarem baixo, muito
chegados.
Mário Soares era um advogado no exílio, secretário-geral
do Partido Socialista Português, recentemente criado na Alemanha.
Reunira-se, depois, em França, com os dirigentes comunistas portugueses,
considerando urgente a liquidação da «ditadura fascista»."
Published on January 09, 2017 03:55
January 6, 2017
Quando queremos um filho à nossa imagem
Sou grande admiradora de Cristiano
Ronaldo. Apesar de, muitas vezes, se pensar que o carácter dele deixa algo a
desejar, ou de se ter chegado a um ponto em que não se consegue distinguir o
que é autêntico, ou mero golpe de marketing,
não há dúvida de que Ronaldo é a maior estrela que Portugal jamais deu ao
mundo. Nem sequer vale a pena comparar com Eusébio ou Amália, por mais respeito
que devamos a estas duas pessoas, que tanto fizeram pelo nosso país. Nem sequer
com Camões! Cristiano Ronaldo é um símbolo planetário, conhecido nas aldeias
mais remotas das regiões mais inóspitas, sejam os seus habitantes ricos ou
pobres, cultos ou ignorantes.
Confesso, porém, que fiquei um pouco desiludida, ao ler um
artigo baseado numa entrevista que Ronaldo deu a um canal egípcio,
nomeadamente, quando fala na educação do seu filho. «Digo-lhe
sempre que tem de ser forte para lidar com a adversidade». Tenho sérias
dúvidas se se consegue que uma criança fique forte, ao repetir-lhe
constantemente que ela tem de ser forte. As crianças esforçam-se muito para não
desiludir os pais, por isso, acho contraproducente carregá-las de exigências. Corre-se
o risco de as esmagar, desenvolver nelas o medo de falhar, de desiludir, o que desemboca
numa grande insegurança.
Educa-se mais com exemplos do que com palavras. Se Ronaldo
quer que o filho seja forte, tem, acima de tudo, de dar o exemplo, não só na
sua vida pública, como na familiar. Além disso, o mais importante é que ele
acompanhe o filho nos seus problemas diários, escutando-o, levando-o a sério,
por mais insignificantes que as suas queixas lhe pareçam. E, mais do que
repetir: «tens de ser forte», deve apoiá-lo. Fazer uma criança forte não é “largá-la
aos bichos”, mas mostrar-lhe que se está do lado dela.
«Claro
que gostaria [que ele fosse futebolista], mas
não vou pressionar. Vou empurrá-lo um pouco para ser futebolista, mas não quero
que seja guarda-redes. Quero que seja avançado. Mas ele será o que quiser. Isso
não me preocupa».
Mas então vai pressioná-lo, ou não? Por um lado, diz que não,
por outro, diz que sim, um pouco… E porque não há de o miúdo de ser
guarda-redes? Que tem Ronaldo contra guarda-redes? Não há grandes exemplos a
seguir? Que dizer de Vítor Damas, Michel Preud’Homme, Gianluigi Buffon e outros
fantásticos profissionais?
Os filhos não são uma segunda versão nossa, mas sim pessoas
autónomas. Cristiano Ronaldo não precisa de «empurrar um pouco» para que o
filho seja futebolista, sendo ele próprio um. Os filhos guiam-se pelos pais.
Mas é importante que não se sintam pressionados, pois só serão verdadeiramente
felizes se seguirem a sua vocação. Os pais podem dar sugestões, orientações, mas
não devem nunca pressionar. Devem, sim, dar competências aos filhos para que
possam decidir livremente.
O verdadeiro amor não conhece preferências. Ama-se um filho
independentemente do que ele vier a ser.
Published on January 06, 2017 10:54
January 1, 2017
Começar o ano com uma boa notícia!
Embora seja uma notícia antiga, relativa a um artigo publicado no Outono de 2012, só agora dele tomei conhecimento, através do Dr. Barroso da Fonte.
A percepção do milagre de Ourique no Romance Histórico Português é o título de um artigo publicado nos Cadernos do CEIL - Revista interdisciplinar de Estudos sobre o Imaginário, assinado por
Maria Ève Letízia, da Universidade Stendhal Grenoble e CRI.
A autora
disserta sobre o milagre de Ourique, analisando como o acontecimento foi
tratado em três romances históricos portugueses: Afonso O Conquistador, de Maria Helena Ventura, Afonso Henriques, o Homem, de minha autoria e O Segredo de D. Afonso Henriques, de Jorge Laiginhas.
E aqui vai mais uma vez o link para quem estiver interessado em ler o artigo e/ou fazer o download:
https://ielt.fcsh.unl.pt/…/fic…/n2/14_CCEIL2_2012_MELmar.pdf
Já agora, as referências ao meu romance (ou seja, a minha versão do
milagre de Ourique), começam no fim da página 11
e vão até à página 14.
Nota: os Cadernos do CEIL - Revista Multidisciplinar de Estudos sobre o
Imaginário são uma publicação anual electrónica do Grupo de Estudos
Interdisciplinares sobre o Imaginário (IELT | RG-657-4837) do Instituto
de Estudos de Literatura e Tradição sediado na Faculdade de Ciências
Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
A percepção do milagre de Ourique no Romance Histórico Português é o título de um artigo publicado nos Cadernos do CEIL - Revista interdisciplinar de Estudos sobre o Imaginário, assinado por
Maria Ève Letízia, da Universidade Stendhal Grenoble e CRI.
A autora
disserta sobre o milagre de Ourique, analisando como o acontecimento foi
tratado em três romances históricos portugueses: Afonso O Conquistador, de Maria Helena Ventura, Afonso Henriques, o Homem, de minha autoria e O Segredo de D. Afonso Henriques, de Jorge Laiginhas.
E aqui vai mais uma vez o link para quem estiver interessado em ler o artigo e/ou fazer o download:
https://ielt.fcsh.unl.pt/…/fic…/n2/14_CCEIL2_2012_MELmar.pdf
Já agora, as referências ao meu romance (ou seja, a minha versão do
milagre de Ourique), começam no fim da página 11
e vão até à página 14.
Nota: os Cadernos do CEIL - Revista Multidisciplinar de Estudos sobre o
Imaginário são uma publicação anual electrónica do Grupo de Estudos
Interdisciplinares sobre o Imaginário (IELT | RG-657-4837) do Instituto
de Estudos de Literatura e Tradição sediado na Faculdade de Ciências
Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Published on January 01, 2017 04:31
December 28, 2016
Uma Parte Errada de Mim
«Sempre dissemos várias coisas, mas
raramente com empatia, ou com espontaneidade, ou somente com simplicidade.
Tivemos sempre uma relação amargurada com o que não conseguíamos ser. Tivemos
sempre uma relação forçada, exigente, artificial. E, naquela cama de hospital,
prestes a enfrentar um dos desafios mais duros da minha vida, decidi prescindir
desse desgaste adicional. Precisaria de concentrar a totalidade das minhas
forças no tratamento do cancro. E foi por isso que, por minha decisão
exclusiva, contrariando todos os pedidos e intenções da parte dele, nunca me
encontrei com o meu pai durante os tratamentos. Nem me encontrei depois. E,
neste meu radicalismo, talvez tenha, finalmente, aprendido a viver sem a
presença física de um pai e de uma mãe (p. 202)».
Esta passagem é emblemática deste livro
de Paulo M. Morais, ou seja, mais do que o relato de uma doença, trata-se de
uma reflexão sobre a vida. Há momentos em que, para sobreviver, temos de nos
libertar de cargas supérfluas, mesmo que isso signifique quebrar com aquilo que
a nossa sociedade considera sagrado. No nosso medo de magoar os outros, muitas
vezes, deixamos que nos magoem para lá do suportável, o que implica uma
subvalorização de nós próprios. Ninguém vai longe, nessa maneira de viver, normalmente
cai numa depressão profunda. Há alturas em que temos de impor um limite,
alturas em que temos de arranjar coragem para o impor.
Não se pense, porém, que Paulo M. Morais
aproveita a doença para se livrar de quem o incomoda. Noutros casos, acontece o
contrário: ele aproxima-se ainda mais de quem ama, porque amar é um bálsamo, em
qualquer situação da vida… Desde que se seja correspondido. O verdadeiro amor
traz alegria, motivação, vontade de viver, mesmo no enfrentar de dificuldades.
Quando as pessoas que pensamos que nos amam nos põem tristes e amargurados, é
claro que a relação nos prejudica mais do que ajuda. Não pode ser amor!
Gostei muito de ler este livro, embora
tenha encontrado passagens (poucas) menos interessantes. É um livro útil. Para
quem ainda não teve contacto com um cancro, ele põe-nos a par dessa faceta da
vida. Por outro lado, poderá ajudar quem se debata com a doença ou acompanhe
alguém que o faça. E, em qualquer dos casos, leva-nos a refletir sobre nós
próprios, sobre a própria vida.
Nesta altura emblemática, em que se está prestes a iniciar um novo ano, desejo ao autor a continuação do sucesso e que continue a escrever livros que nos façam pensar!
Published on December 28, 2016 03:19
December 22, 2016
Sugestões de Prenda de Natal (5)
«Várias vezes se perguntara se não seria melhor render-se a tão insistente e poderosa força, ficando ao lado de Helena. A sua vida, porém, parecia seguir um outro guião. Leonel sentia-se como um ator entre dois guiões, incapaz de se decidir por um e cumprindo o seu papel, ora num, ora noutro. Assustava-o aquela impotência, perguntava-se quem eram os autores que o obrigavam a tal espargata. E porque não conseguia ele escrever o seu próprio guião?»
Published on December 22, 2016 02:39


