Cristina Torrão's Blog, page 42

June 7, 2017

O papa Francisco e o bispo de branco








Traduzo, do alemão, o intrigante texto do jornalista Burkhard Jürgens,
correspondente em Roma do jornal católico KirchenZeitung e que
acompanhou o papa Francisco a Fátima. O texto foi publicado na edição nº 21 daquele
jornal, com a data de 28 de Março de 2017:




«O conteúdo dos discursos oficiais do papa nunca são encarados de ânimo
leve. Por isso, nós jornalistas ficámos intrigados, quando ele, em Fátima,
falou de si próprio como “o bispo vestido de branco”.

Foi uma escolha de palavras eletrizante: tem origem no assustador “terceiro
segredo” de Fátima - a tenebrosa imagem de um bispo a ser abatido por soldados.
João Paulo II relacionou-o com o atentado por ele sofrido em 1981.

Mas então onde queria chegar o papa Francisco, ao referir-se a isso, na
Capela das Aparições? Relativizava a interpretação do seu antecessor? Via-se
ele próprio em perigo?

Prosseguindo a oração, Francisco revelou querer “louvar o Senhor para toda
a eternidade… rodeado de luz”. Um prenúncio de morte?, perguntou um colega.
Estará o papa doente?

No voo de regresso a Roma, quisemos saber: “Santidade, o que queria dizer
com o bispo de branco?” A sua resposta espantou-nos: “A oração… isso não foi
escrito por mim, foi pelo Santuário. Eu próprio igualmente me perguntei o que
queriam eles dizer com aquilo”.

Ainda bem que nós jornalistas não estávamos sozinhos na tentativa de resolver
o enigma».




E agora pergunto-me eu sobre o significado de tudo isto. Pelos vistos,
Fátima insiste na imagem do “bispo de branco”, mesmo depois de ter sido
identificada com João Paulo II. Porquê?




Pelos vistos, nem o próprio papa sabe…
 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on June 07, 2017 02:13

June 3, 2017

As Árvores Com Que Crescemos



















Rapaziada e
pastorinhos


Uns para
ninhos


Os outros
para alimentar o gado


Todos
precisámos da tua abundante folhagem. Lembras-te





Que também
vieram numa tarde de agosto mães e filhas


Que se
sentaram afogueadas à tua sombra


Umas a fazer
meia


E as outras
a dobar meadas?





Este excerto do poema Romance do
Velho Freixo
é representativo do intuito da autora: mostrar, nos dias de
hoje, como as árvores faziam parte da vida das pessoas, sempre presentes no seu
quotidiano, mesmo nas manifestações religiosas:




Com o
raminho de oliveira


Respingou a
água benzida o Padre


E abençoou
depois os quatro cantos da casa.





(In Um Raminho de Oliveira e Um Copo
de Água Benta
)




Ao recordar as cenas da sua infância, os poemas de Isabel Maria Fidalgo
Mateus, acompanhados das lindíssimas ilustrações de Cristina Borges Rocha (como se vê pela capa),
apelam igualmente ao preservar da Natureza, tão esquecida e, muitas vezes,
maltratada.




O zimbro não
é uma árvore qualquer…


Agora, já
não cresce abundante, entre fragas,


Já ninguém
lhe leva lanternas de azeite


Para lhe
iluminar os ramos e anunciar as festas luminosas do Menino


Agora, já
não fica com os pregos para lhe pendurarem luz no próximo ano


E perdeu a
vez na hierarquia natalícia…


Mas, talvez,
tenha ganho esperança no Futuro


Enquanto não
vier fogo


Que lhe
chamusque o toucado altaneiro


Ou lhe
tragam os humanos outras e mais desavenças


E o consumam
por inteiro,


Ao pinheiro de
Natal.





(In Zimbro, o Pinheiro de Natal)




Esta preocupação ecológica está aliás patente no prefácio de Miguel
Geraldes*, com o título Imaginário de
Tempos Idos
: «o interesse destes textos transcende largamente o âmbito
literário, pois servem o propósito também nobre da sensibilização ambiental da
realidade social portuguesa no início deste século XXI».




Já no fim, nas Notas Para o Novel
Naturalista
, Manuel Geraldes refere, uma a uma, todas as árvores que
inspiraram os poemas com o seu nome científico, acompanhado de um curto texto
informativo, na esperança de que «esta obra poderá, quem sabe, despertar a
vontade de conhecer um pouco mais».




Trata-se, por isso, de um livro precioso, que merecia constar do Plano
Nacional de Leitura, ao lado de um outro livro desta autora (que dele já consta):
O Trigo dos Pardais .




Apesar de ser indicado para todas as idades, seria, na minha opinião, excelente
material de trabalho escolar, por aliar a literatura à consciência ambiental. Por
a edição em papel ter sido limitada, a autora pôs o livro à disposição, para
descarregamento gratuito, em:




http://www.isabelmateus.com/main.php?title=01_PT&area=1





Não queria terminar sem deixar de referir o poema Ai amoras, ai amoras da amoreira velha, inspirado na cantiga de
amigo de Dom Dinis, Ai flores, ai flores
do verde pino
, do qual deixo aqui as primeiras quatro estrofes:




- Ai amoras,
ai amoras da amoreira velha,


Se sabeis
onde encontrar a pintura da infância!


                        Ai Deus, onde está ela?




Ai amoras,
ai amoras da amoreira antiga,


Se sabeis
onde encontrar a pintura da meninice!


                        Ai Deus, onde está ela?




Se sabeis
onde encontrar a pintura da infância,


Aquela que
desbotou e perdeu a fragrância!


                        Ai Deus, onde está ela?




Se sabeis
onde encontrar a pintura da meninice


Aquela que
desbotou e ganhou o perfume da velhice!


                        Ai Deus, onde está ela?










*Investigador Associado do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de
Lisboa e Vice-presidente da Liga para a Proteção da Natureza





 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on June 03, 2017 08:56

May 26, 2017

Pela Vida?








Os movimentos que clamam ser “Pela Vida” condenam o aborto, seja em que
fase for, já que alegam pretender preservar a vida indefesa que se inicia com a
fecundação do óvulo.




O aborto sempre foi muito condenado, ao longo da História. Porém, por trás
desta condenação, parece-me haver, ainda hoje, muitos resquícios da sociedade patriarcal
machista, sendo o seu principal objetivo criminalizar apenas a mulher. Nos
países em que há leis muito severas contra o aborto, nomeadamente na América
do Sul, os homens costumam ser isentos de qualquer responsabilidade, o que
denota muita cobardia e hipocrisia.




Por outro lado, há, desde 1976, um grande consentimento social em relação à
fertilização in vitro, os chamados
bebés-proveta. Porquê esta disparidade?




As razões parecem óbvias. Ao praticar o aborto, uma mãe rejeita a vida que
cresce dentro de si; por outro lado, subsiste como que uma intenção nobre na fertilização in vitro:
casais, ou mulheres, que não conseguem ter filhos, são ajudados a criar nova
vida. As famílias aplaudem, mesmo as mais conservadoras.




Na minha opinião, este é um dos indícios mais gritantes da sociedade
hipócrita em que vivemos. Quem rejeita o aborto, seja em que circunstâncias
for, devia rejeitar os bebés-proveta com a mesma convicção! A fertilização
artificial cria sempre vários embriões, ou seja, várias vidas humanas. Na
mulher que deseja ser mãe, são implantados até três desses embriões. Só em
cerca de 20% dos casos essa implantação conduz a uma gravidez, a grande maioria
desses embriões é rejeitada pelo corpo ou seja, são abortados. E, mesmo que a
gravidez resulte, há sempre algo que é rejeitado, na pior das hipóteses, duas
crianças. Dir-me-ão que são abortos espontâneos e eu digo que dificilmente se
pode falar em tal, já que a fecundação não se deu por meio natural.




Este não é porém o único problema. Normalmente, são fecundados mais óvulos
do que aqueles que podem ser implantados e ninguém sabe bem qual o destino a dar
a esses embriões. Deixemo-nos então de paninhos quentes: milhões de bebés
aguardam congelados que se lhes dê um destino e este é, normalmente, o caixote
do lixo! Se isto é preservar a vida indefesa, eu sou a próxima rainha de
Inglaterra!




Quando é que os movimentos “Pela Vida” se deixam de hipocrisias e começam a
condenar a fertilização in vitro? É uma questão de coerência!





 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on May 26, 2017 02:58

May 24, 2017

Quatro Novelas













Esta obra, publicada pela primeira vez em 1908 e que descarreguei
gratuitamente no Projecto
Adamastor
(caso contrário, dificilmente entraria em contacto com ela), foi
uma excelente surpresa. Não tanto pela qualidade literária, que não é fora do
comum, mas pela importância que tem na História da nossa literatura.






Infelizmente, a literatura escrita por mulheres só começou a ter mais
significado nas últimas décadas. Ana de Castro Osório viveu de 1872 a 1935, um
período de tempo em que só se costuma destacar uma escritora portuguesa: a
poetisa Florbela Espanca. E, no entanto, quão importante é conhecer o que
produziu a pena guiada por mão feminina; conhecer os dramas das mulheres numa
civilização pensada quase só para os homens!




Na novela A Feiticeira, Ana de
Castro Osório mostra-nos como a sociedade do seu tempo castigava as mulheres
alegres e sensuais. O jovem Manuel, dividido entre duas moças, a Teresinha recatada e
a Maria extrovertida, embora mais inclinado por esta última, acaba por se
decidir pela primeira, influenciado pelas intrigas da sua aldeia, que o fazem
acreditar que Maria é feiticeira. Ana de Castro Osório não condena nem uma rapariga
nem outra, limita-se a apresentá-las, porque, afinal, ambas são vítimas da
sociedade. E, enquanto Teresinha é recompensada, fazendo-se esposa do rapaz
mais cobiçado da terra, o desgosto e as intrigas destroem Maria, que se torna
precisamente naquilo em que a fazem acreditar:




«A Maria, agora feiticeira conhecida e apontada por todos, já não canta nem
vai às romarias.

Nos trabalhos do campo, as mulheres e as crianças afastam-se dela
apavoradas, e os homens lamentando-a, não têm coragem de vencer esse pavor.

Um brilho ardente de febre queima sempre os seus lindos olhos negros, que
vagueiam inquietos, num medo doentio e trágico.

Atormentada de visões, mordida de maus-olhados, meses inteiros presa de
delírios histéricos, sente-se, na verdade, transportada nas asas do vento para
sítios ermos [onde] (…) olharapos, duendes, lémures e trasgos povoam as noites
horríficas de sabbat».




Em Diário de uma Criança,
conta-se como mais uma menina extrovertida e alegre, que até se atreve a montar
a mula como os rapazes, é, a partir de certa altura, submetida a uma disciplina
de ferro, longe dos pais, que se deixam levar por quem diz que
a filha não se comporta convenientemente. A criança passa anos de amargura numa
casa em que é tiranizada.




A novela que mais me impressionou, porém, foi Sacrificada, em que Manuela, uma jovem de boa família, engravida
solteira e é banida pela própria mãe. Dá à luz uma filha num casebre abandonado
e vê-se depois obrigada a separar-se da bebé, a fim de entrar num convento,
pois a família quer anular aquele membro vergonhoso. O
sofrimento de Manuela torna-se palpável, na escrita de Ana de Castro Osório,
que nos põe em contacto com a vida das outras freiras, quase todas igualmente
sacrificadas:




«Foi Soror Cláudia a última a deixar a vida, que tão dolorida lhe fora; foi
ela, a pobre louca, quem fechou, como um ponto final simbólico, mais um período
de história feminina, tecida de sacrifícios e servidões e ilusões profundas, e
sem um fecundo e nobre e belo ideal de vida!

Ali ou na família pouco diferia, pouco mais era que esse decorrer estirado
de anos partilhados entre pequenos deveres, insignificantes trabalhos, apagadas
alegrias e supliciantes sacrifícios a que ninguém prestava atenção, tão
naturais são aos servos e aos inferiores».




Quando Manuela finalmente conhece a filha, já adulta, algo que ela pensa
ser uma consolação final para o sacrifício que levou a cabo, constata que as
duas, separadas uma da outra, não passam de desconhecidas, com feitios
totalmente opostos e inconciliáveis. Manuela apenas encontra a paz na morte.




Nesta novela, Ana de Castro Osório critica igualmente a educação dada às
meninas, com o objetivo de as deixar mal informadas, julgando-se ser esse o
melhor remédio para seguirem o caminho que se lhes destina. O contacto com a
realidade é, porém, doloroso:




«as horas que passara ali sozinha, idealizando um futuro de poesia e de
romance, como o idealizam sempre as mulheres que uma educação racional não
preparou para entrar na vida pela porta ampla e sem mentidos encantos da
realidade».




Ana de Castro Osório mostra também sensibilidade para as agruras da
infância:




«nesses tão magoados desgostos infantis que todos desprezam e são talvez os
mais violentos e os mais desesperadores de toda a vida» (em A Vinha).




«Ah, como se sofre quando se é criança, quando ninguém respeita a nossa dor
e a nossa vontade, quando decidem do nosso querer como se fôssemos títeres
animados por maquinismo industrial» (em Diário
de uma Criança
).




Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco e outros escritores escreveram igualmente
sobre o sofrimento feminino. Porém, os
excertos que aqui publiquei provam, na minha opinião, que faz falta a visão feminina, a fim de conhecermos os dilemas humanos em toda a sua
amplitude. Um homem dificilmente escreveria, principalmente em 1908, sobre a «indulgência da sociedade
para com as leviandades do homem transformadas em crimes para as mulheres» (em Sacrificada).




Não me admira que a Ana de Castro Osório não fosse dado um destaque igual
ao de outros escritores, pois, como feminista,
pioneira em Portugal na luta pela igualdade de direitos entre homem e mulher
,
deveria ser muito incomodativa no início do século XX.




Descubramos as escritoras que foram mantidas num quase anonimato! Há
muitas, infelizmente. E depois vêm homens, ainda no nosso século XXI, como um
tal eurodeputado polaco, dizer que a prova de que os homens são mais
inteligentes do que as mulheres é haver muitos mais homens escritores, cientistas,
inventores, etc.!




Quanta ignorância! Quanto ainda há por fazer…





 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on May 24, 2017 02:46

May 20, 2017

«Uma vitória na Eurovisão não serve para nada»



São palavras do Professor
Marco Neves
e eu concordo com elas. Mas vamos por partes!







Uma vitória portuguesa num palco internacional serve sempre para alguma
coisa, quanto mais não seja, para que uma data de outros países tomem, por
momentos, consciência de que existimos o que, convenhamos, já não é nada mau.
Também serve, e isso será o mais importante, para nos aumentar a autoestima
durante um determinado tempo.




O problema é que temos uma enorme tendência para exagerar. Dizemos
logo que demos uma grande lição aos outros países e que esta vitória foi muito
importante para a música portuguesa. Nem uma coisa nem outra é verdade!




Não demos lição nenhuma a ninguém! Salvador Sobral não foi o primeiro
concorrente a cantar sozinho, na língua materna, sem efeitos de luzes e de sons.
Quase todos os anos surge, pelo menos, uma participação desse género, que
normalmente fica bem classificada. E, muitas vezes, o/a vencedor/a destaca-se precisamente
pela simplicidade (não tanta como a dele, mas indubitavelmente mais simples do que os outros). Quem acompanha o Eurofestival todos os anos, como eu, sabe
bem que assim é.




Achei aliás a atitude de Salvador Sobral, no fim, um pouco arrogante, ao
dizer: «a música não é fogo de artifício, é sentimento». O apresentador tinha-lhe
passado o microfone perguntando-lhe se ele queria dizer alguma coisa à Europa.
Penso que estava a pensar em agradecimentos, ou algo do género. Salvador
saiu-se com essas palavras pouco elegantes, desprezando a participação dos
outros concorrentes. Foi a mesma coisa que dizer: “os outros não prestaram para
nada, eu é que trouxe aqui uma canção de jeito”. Foi pouco elegante, admitamos!
Se o tivesse dito no nosso país, numa qualquer entrevista… Mas disse-o a um microfone
ligado a centenas de milhões de pessoas, na cara dos "colegas" de percurso!




Quanto ao efeito desta vitória na música portuguesa… É nulo! Valerá talvez
apenas para consumo interno, pois, a nível internacional, não haverá mudanças.
O júri alemão deu doze pontos ao Salvador Sobral e, no programa que acompanhou a
transmissão do festival, elogiou o nosso cantor. Isso, porém, não quer dizer
que na Alemanha (o caso que conheço melhor) o interesse pela música portuguesa
irá aumentar, pelo menos, não significativamente. Ainda não ouvi a canção na
rádio alemã, nem me apercebi que andasse alguém à procura dela. Por isso, muito
me admira que um músico experiente como Tozé Brito vá dizer ao Telejornal que a
vitória foi muito importante para a música portuguesa. Mas ele acredita mesmo
nisso?




Parafraseando Marco Neves, mais uma vez, «esta
vitória foi como um sonho vindo das profundezas da nossa infância»
. Para
mim foi realmente o seu aspeto mais importante. Tantas vezes, desde miúda,
invejei os países que se fartavam de ter votos, perguntando-me a mim mesma que
sensação tal nos provocaria. Agora já sei, graças ao Salvador.




Obrigada, Salvador Sobral!





http://www.tsf.pt/cultura/interior/primeiro-concerto-de-salvador-sobral-desde-a-eurovisao-8491226.html






 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on May 20, 2017 09:37

May 12, 2017

O Poder da Memória

Não conheço os livros de Filipa Martins, mas li, há
dias, uma reportagem da escritores.online
sobre esta escritora, inserida na série “Um dia com…”.





A propósito do seu quarto livro, que chegará em breve
às livrarias, a autora afirma:




«É um livro que existe muito à volta do conceito de
memória, mas aqui o postulado é inverso àquele que consideramos como válido,
porque o que está no livro não é tanto lembrar, é mais esquecer. Ou seja, como
é que devemos esquecer para conseguir viver. Isto é trabalhado do ponto de
vista filosófico – porque é que devemos esquecer determinados momentos da nossa
vida para seguir em frente, quase como se os pudéssemos aspirar ou deitar fora
– e é trabalhado do ponto de vista científico— de que forma é que podemos
interferir no cérebro humano para apagar determinadas memórias que são
traumatizantes e paralisantes, que funcionam quase como uma doença, para que
uma pessoa consiga ser funcional».




É difícil comentar sem ter lido o livro, mas uma coisa
é certa: ninguém consegue «aspirar ou deitar fora» momentos da sua vida, isso é
impossível. Boas ou más, traumatizantes ou motivadoras, as vivências estão registadas
no nosso subconsciente e, mesmo que não nos lembremos delas (no caso de amnésia,
por exemplo, temporária ou permanente), parece cientificamente seguro que elas
continuam a influenciar-nos.




É humanamente impossível «apagar determinadas memórias
que são traumatizantes e paralisantes, que funcionam quase como uma doença,
para que uma pessoa consiga ser funcional». Esta hipótese não é de todo
saudável. Muitas memórias funcionam realmente como uma doença (e não «quase»).
A solução, porém, não está em apagá-las! As pessoas que o tentam fazer passam a
vida numa fuga constante e angustiante, em busca de coisas que as distraiam, com
pânico de parar para pensar. Este tipo de vida, desgastante, torna-se muito
propício à depressão.




Por mais traumatizantes que sejam as memórias, só conseguimos
ser funcionais se aprendermos a viver com elas; se as trouxermos à superfície e
nos deixarmos envolver por elas, aceitando-as. Elas fazem parte do nosso ser,
da nossa identidade. Nós não somos máquinas. Nós somos as nossas memórias!
Apagá-las significa deixar de sermos quem somos, desistir da nossa identidade
para passarmos a ser outra pessoa.




Resta acrescentar: felizes daqueles que sabem quais são as suas memórias traumatizantes. Anda tanta gente traumatizada por aí, sem fazer ideia... Na melhor das hipóteses, acham que têm mau feitio, ou que há algo de ruim dentro deles.


 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on May 12, 2017 03:32

May 10, 2017

O Ano da Morte de Ricardo Reis
















Depois de mais de um mês de ausência, aqui estou de novo, com uma opinião de
leitura. As razões para ter estado afastada do blogue têm a ver com
falta de tempo. Sim, o Facebook também é corresponsável, mas o motivo principal
foram as minhas férias em Portugal. Entre encontros de família e outros
compromissos, os dias passaram numa correria.




Planeara escrever sobre esta obra em Portugal, até levei o livro comigo,
pois tinha passagens sublinhadas para citar. Acabei por não arranjar ocasião e
o livro por lá ficou, pelo que a minha opinião vai ser mais pobre, até porque
já acabei a leitura em inícios de Abril, ou seja, o texto já não está fresco na
minha memória.




Por outro lado, que se pode dizer de Saramago que outros não disseram já?
Que ele é bom escritor? Que esta obra é das melhores que ele escreveu? Que toda
a gente devia ler? Enfim, apenas tenho a acrescentar (além dos erros para os quais chamei a atenção) que achei o início interessante,
mas um pouco enfadonho. Não vale, porém, desistir! Quem lê Saramago, é
recompensado. E não são de perder as conversas entre Fernando Pessoa (já morto)
e o seu heterónimo Ricardo Reis, que regressa do Brasil, precisamente na altura
do funeral do seu criador literário. Ricardo Reis é assim uma personagem de
fantasia movimentando-se num mundo real: a Lisboa dos anos 1930, dos inícios da ditadura e que, ainda por cima, o recebe com uma chuva que teima em passar.




Mas leiam, se querem saber mais!





 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on May 10, 2017 03:55

April 6, 2017

Convite!



Helena Tavares conhece Leonel Moreira, membro das Brigadas
Revolucionárias, no efervescente meio estudantil de 1973/74. Os dois envolvem-se
numa relação amorosa e acabam presos em Caxias, nas vésperas da revolução.



É deste livro que se vai falar, no dia 20 de Abril, pelas 18h 30m, na UNICEPE.






 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on April 06, 2017 03:30

April 3, 2017

Crónicas do Bar dos Canalhas

Participei, entre mais de vinte escritores de expressão portuguesa espalhados pelo mundo, nesta antologia de contos/crónicas, tendo por tema o Bar dos Canalhas, que cada um interpretou à sua maneira. Há crónicas (e bares) para todos os gostos e os direitos de autor revertem para a Associação do Porto de Paralisia Cerebral.



Por isso, se vir este livro nalguma livraria, leve-o consigo! Além de contribuir para uma boa causa, vai com certeza divertir-se, nuns casos, e ficar pensativo, noutros. Ficar indiferente é que é difícil.









A lista dos autores vem na contracapa, em jeito de menu:







Também se pode comprar o livro diretamente na Editora Colibri (clique no nome).




 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on April 03, 2017 03:21

March 31, 2017

Dentro da Noute: Contos Góticos

O Projecto Adamastor dedica-se à publicação de clássicos em língua portuguesa, em formato digital, permitindo descarregá-los gratuitamente. Já por várias vezes utilizei esse serviço, a fim de ler, ou reler, obras de, por exemplo, Eça de Queirós, Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco (encontram os links na minha lista de Leituras).



Recentemente, o Projecto Adamastor pôs à disposição uma antologia de contos góticos de autores portugueses e brasileiros. Dela fazem parte os três autores já citados, mas só conheço o excelente O Defunto , de Eça de Queirós. Esta é uma boa oportunidade para ler ainda Florbela Espanca, Raul Brandão, Bernardo Guimarães, Machado de Assis e muitos outros.



Tem-se acesso à lista de autores e seus contos antes de se fazer o download. Eu já fiz o meu!












http://projectoadamastor.org/antologia-dentro-da-noute-contos-goticos/





 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on March 31, 2017 11:25