Cristina Torrão's Blog, page 38

December 13, 2017

Escrita




Extrato de uma entrevista dada à Joana Dias do Páginas com Memória, nos idos de 2012:



Que conselho daria a quem decida enveredar pela área da escrita?



Se não consegue conceber a sua vida sem escrever, não desista! É preciso insistir muito para se conseguir publicar, não se deixando abater pelas recusas.



Seja disciplinado e exigente. Enquanto não estiver satisfeito com o texto, corrija-o, nem que sejam mil vezes! Se não gosta de alguma passagem, ou de alguma cena, mas pensa: «não faz mal, vai mesmo assim, no conjunto mal se nota», está a seguir o caminho errado!



Se não lhe ocorre melhor solução para a passagem, ou a cena, problemática, apague-a! Não tenha problemas em apagar, mesmo que doa. Li, uma vez, que o melhor amigo do escritor é o cesto dos papéis.



Não espere enriquecer com a escrita! Um número ínfimo de escritores consegue viver da escrita, os que enriquecem são ainda menos.






 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on December 13, 2017 03:12

December 11, 2017

A Citação da Semana (125)

«Quem não tem um lar interior, não o encontrará no exterior».



Stephanie Stahl (psicóloga alemã), no seu livro Das Kind in dir muss Heimat finden

(tradução livre)




 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on December 11, 2017 03:39

December 10, 2017

Tigres de Papel






 

Paul Krugman - Wikipedia






«Mas parece-me que se passa qualquer coisa na nossa
sociedade: muitos americanos parecem ter deixado de entender o que um líder
deve ser, confundindo voz grossa e beligerância com firmeza. Porquê? Será a
cultura das celebridades? Será desespero da classe trabalhadora, canalizado
para o desejo de slogans fáceis? Não sei».




São palavras de Paul Krugman, economista
norte-americano, Nobel de Economia em 2008, originalmente publicadas no The New York Times, traduzidas e
publicadas na revista Visão (6 de
Abril de 2017).




Paul Krugman diz que não sabe. Pois eu arrisco dizer
que este não é um problema exclusivo dos Estados Unidos, nem sequer atual. Os
humanos, em geral, sempre confundiram «voz grossa e beligerância com firmeza».
Vivemos de aparências, daquilo que impressiona à primeira vista. Somos muito
manipuláveis e, de vez em quando, aparece alguém capaz de usar na perfeição os artifícios necessários. Dá a ilusão de segurança e de que sabe o que quer.




Adoramos tigres de papel. Mas o problema não é novo e
não aprendemos nada com a História.





 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on December 10, 2017 02:25

December 7, 2017

Sociedade Patriarcal (pormenores)











O número da revista Visão publicado no passado dia 6 de Abril dedicava várias páginas a
pequenos e curiosos museus, situados fora dos grandes centros e que merecem uma
visita, como o Museu do Sabão, em Belver, ou o Museu do Brinquedo Português, em
Ponte de Lima.




Em Tomar, existe o Museu dos Fósforos. Neste caso,
porém, não foi só a originalidade que
me chamou a atenção. Num destaque, o artigo informa que, em 1980, o colecionador
Aquiles da Mota Lima doou, ao município de Tomar, cerca de 43 mil caixas de
fósforos, reunidas ao longo de 27 anos. Contudo, quando começamos a ler o
pequeno artigo, deparamos com o seguinte:




«”Quando era mais nova, corria tudo desde cafés,
tabernas, restaurantes, hotéis, fábricas e lojas à procura de caixas de
fósforos”, diz Maria Helena Lima, 90 anos, filha do músico, maestro,
realizador, jornalista e colecionador Aquiles da Mota Lima. “Cheguei a ir com a
minha mãe a Madrid de propósito só para comprar caixas de fósforos”, recorda
Maria Helena, diretora benemérita do Museu dos Fósforos, aberto em 1989, no
Convento de São Francisco, em Tomar».




É certo que a seguir se diz que a coleção «começou a
ser alimentada por Aquiles de Lima, em 1953, durante uma viagem a Londres para
assistir à coroação de Isabel II». Mas uma pessoa fica com a impressão de que
quem realmente contribuiu para que se reunissem tantas caixas de fósforos foram
a filha e a esposa do ilustre cidadão. E, no entanto, o museu perpetuará apenas
o nome do pai de família.





 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on December 07, 2017 02:18

December 5, 2017













Não sou a melhor pessoa para falar de poesia. Por vezes, leio
um poema que me encanta e me põe a pensar. Mas é raro. Li esta obra por
curiosidade em relação ao autor, que só conhecia de nome, e também numa
tentativa de me forçar a ler poesia, de vez em quando. Não sabendo discutir o impacto que a obra
de António Nobre teve nos poetas que se lhe seguiram, limito-me a descrever as
minhas impressões deste livro.




Achei interessante que muitos poemas fossem narrativos, principalmente, com recordações da infância e da juventude, assim como hábitos, festejos e paisagens portugueses. Aliás, a
saudade da pátria é notória neste poeta, que viveu em Paris, embora, por
vezes, se torne sentimental e dramático em demasia, servindo o cliché de que não
há nada como o nosso Portugal, nomeadamente, no que diz respeito às mulheres,
tão lindas e modestas, a rezarem as suas novenas. Enfim, sentimentalismos à
parte, António Nobre dá-nos uma excelente imagem do nosso país, em fins do
século XIX.




Uma grande tristeza perpassa todo o livro, o próprio
autor o definiu como «o livro mais
triste que há em Portugal
». Mas António Nobre também consegue ser irónico,
como no poema À Toa, um dos meus
preferidos, quando os mortos falam:




Séculos
tombam uns sobre os outros, como blocos,


E nós
dormindo sempre, eternos dorminhocos.





Ou no poema A
Vida
:




Olha
o artista a ler, soluçando, uma crítica…


Olha
esse que não tem talento e o julga ter


E
aquele outro que o tem… mas não sabe escrever!





Nota-se também uma atração pela morte, por cemitérios,
pelo lúgubre, enfim, uma marca romântica, mas dir-se-ia que António Nobre sabia
que não viveria muito tempo.




Já que a secção de que mais gostei foi a dos Sonetos,
numerados de 1 a 18, passo a transcrever o número 2, em que o poeta, por uma vez, critica o país que normalmente
elogia:




Em
certo Reino, à esquina do Planeta,


Onde
nasceram meus Avós, meus Pais,



quatro lustres, viu a luz um poeta


Que
melhor fora não a ver jamais.





Mal
despontava para a vida inquieta,


Logo
ao nascer, mataram-lhe os ideais,


À
falsa-fé, numa traição abjecta,


Como
os bandidos nas estradas reais!





E,
embora eu seja descendente, um ramo


Dessa
árvore de Heróis que, entre perigos


E
guerras, se esforçaram pelo Ideal:





Nada
me importas, País! seja meu Amo


O
Carlos ou o Zé da T’resa… Amigos,


Que
desgraça nascer em Portugal!








Nota: li a versão ebook,
gratuita, publicada pelo Projecto Adamastor.





 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on December 05, 2017 02:26

December 3, 2017

A ambulância que realiza desejos

A Ordem de Malta, no estado alemão da Baixa Saxónia, criou, há cerca de um ano, o projeto Herzenswunsch-Krankenwagen, o que, traduzido, dá mais ou menos: a "ambulância dos desejos". Este projeto trabalha em conjunto com hospitais especializados em cuidados paliativos, a fim de realizar um último desejo aos doentes terminais. Foi assim que uma paciente terminal conseguiu satisfazer o desejo de se despedir do seu cavalo, adquirido no longínquo ano de 1994, seu companheiro inseparável de inúmeras cavalgadas (a foto que se segue foi publicada no jornal católico alemão KirchenZeitung).











As ambulâncias possuem o equipamento necessário para este tipo de doentes, que são ainda acompanhados por enfermeiros e psicólogos e/ou assistentes sociais. O transporte é gratuito, o projeto vive de voluntários e donativos.



Adenda: Entretanto, constatei que há mais instituições que oferecem este tipo de serviço.


 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on December 03, 2017 03:44

November 30, 2017

As Cantigas de Amor e a Realidade




Sem pôr em causa o valor literário e cultural das cantigas de amor, elas funcionavam como uma espécie de armadilha para as mulheres. Elevavam-nas,
mas cultivando uma imagem criada
pelos homens: a da mulher perfeita, educada,
casta, pura. Elogiavam um
ideal que não existia, nem existe, influenciado pela
imagem da Virgem Maria, divulgada pela
igreja. Tanto assim era, que Afonso X de Castela criou as Cantigas de
Santa Maria
, de louvor à Virgem, baseadas no modelo das cantigas de
amor. 











A Idade Média foi uma época de grande discrepância entre a teoria e
a prática, em vários aspetos. O
papel da mulher era notoriamente submisso. Na vida quotidiana, era mais maltratada do que elevada e nem este tipo de poesia serviu para lhe conceder um estatuto mais considerado. Mesmo as mulheres da alta nobreza estavam
sujeitas a serem raptadas, presas, rejeitadas, postas de lado, se os
pais e/ou maridos assim o entendessem. Metiam-se em conventos ou, pura e simplesmente, se encarceravam, isoladas do mundo e dadas como loucas ou incapazes, para que os seus maridos pudessem tornar a casar.



A mulher considerada "deusa" é uma cruel armadilha. Afinal, quem, entre nós, quer ficar lá nas alturas, intocável; admirada, mas isolada?



 
 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on November 30, 2017 03:25

November 28, 2017

Infância


Vladimir Vogelov





a infância

que súbita asa

me devolve esta alegria
casta

de senti-la?





longínquo eco a ressoar

na fascinação da lembrança





dispo as vestes deste
reino

para onde me transmigrei...

[ingénua utopia!]

e regresso

para poder abraçá-la

e merecê-la, por um dia.





sujar os bibes brunidos

desprezar os sapatos de
verniz

trepar às árvores, aos
muros

não ouvir o que avó diz.

esfolar um joelho no chão

perseguir gatos e pássaros

como fazia meu irmão

a gastar a infância

até ao último sopro da
ilusão.





mas tu
és menina


e
uma menina 
não… e
não…


e não… e não…





regresso,

para poder abraçá-la
para lhe pedir perdão.



Lídia Borges

(publicado em 15 de Fevereiro de 2015, no blogue Searas de Versos )

 


 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on November 28, 2017 02:56

November 21, 2017

Escrever e rever


Manuscrito de "O Ano da Morte de Ricardo Reis", José Saramago, visto neste blogue.





Um/a escritor/a passa mais tempo a rever aquilo que escreve do que propriamente a escrever. Claro que as editoras têm revisores profissionais, mas é impensável para um/a autor/a (ou devia ser) enviar um original para publicação sem lhe ter dado várias voltas. Eu dou imensas voltas aos meus textos. E por vezes penso que gosto mais de rever do que de escrever!



Escrever é bom, claro, alivia poder despejar as ideias que temos na cabeça, as ideias que temos medo de perder. Mas também é muito cansativo. Se há ideias que nos saem sem esforço (e até se atropelam, daí o medo de perder alguma), há coisas que dão imenso trabalho, como, por exemplo, encontrar ligações entre diferentes partes do enredo, ou encontrar maneira de tornar certa cena mais verosímil.



Rever, por outro lado, é mais relaxante. Ter o texto escrito à minha frente tira-me um grande peso dos ombros, imagino que estou a ler algo escrito por outra pessoa e a corrigir o que me parece mal, cenas infelizes, diálogos supérfluos, por aí fora. Sinto-me livre para criticar e torcer o nariz. E quantas vezes as melhores ideias me surgem na revisão, ao dar coerência àquilo que está mal alinhavado...



Talvez a maior dificuldade seja encontrar uma altura em que chega de revisões. Há quem ache que até se corre o perigo de estragar, em vez de melhorar. Quando essa dúvida nos surge em relação a uma frase, um parágrafo ou uma passagem, talvez seja melhor não lhe mexer, deixar passar algum tempo e tornar ao local. Por outro lado, se nos dá uma vontade espontânea de corrigir algo, é melhor fazê-lo!



Guardar o original durante uns meses, sem lhe tocar, também ajuda. Ganhamos-lhe distância e as fraquezas saltam-nos à vista com mais facilidade.






 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on November 21, 2017 02:38

November 8, 2017

A Paixão do Conde de Fróis













Trata-se de um romance histórico com a qualidade
literária a que Mário de Carvalho nos habituou.






No século XVIII, ao tempo do rei D. José e do Marquês de
Pombal, o jovem conde de Fróis envolve-se num crime, em Lisboa. O prestígio do
pai evita que vá para a cadeia, mas é desterrado para a longínqua praça de S.
Gens. O pai, que não vê o filho estouvado responsável por uma praça militar,
por mais pequena e insignificante que seja, pede ao capelão da família que o
acompanhe e olhe por ele, coisa que o clérigo faz muito contrariado.




A viagem é longa e desconfortável. E ainda mais
desconfortável é o local onde aterram. O capelão diz mal da sua vida. O
jovem conde, porém, surpreende tudo e todos, levando a sua missão muito a sério e
impondo disciplina naquele fim do mundo.




Contudo, se o clérigo, apesar do desconforto, julgava levar
ali vida pacata, engana-se, pois é declarada guerra entre Portugal e os
exércitos coligados de Espanha e França. E a insignificante fortaleza ganha uma
certa importância, devido à sua localização raiana, perto de Miranda do Douro. O
jovem conde tudo faz para a defender, indo muito para além do que lhe é
exigível, e instala-se uma guerra de cerco feroz e movimentada.




Mário de Carvalho, dono de fina ironia, é exímio na
narração dos acontecimentos e na criação de personagens com as suas virtudes,
fraquezas e contradições.





 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on November 08, 2017 03:26