Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 59
September 10, 2015
O brasileiro pilantra
Para o cinema americano, o Brasil é onde se escondem grandes criminosos, com a nobre inclusão de nazistas, lava-se dinheiro impunemente, paraíso sem lei que foi eleito um dos refúgio da bandidagem internacional, que consegue anonimato em praias paradisíacas, sob asas de araras, papagaios e armações de guarda-sol de coquetel de frutas, pendurada em redes amarradas em coqueiros, enrolada em braços e pernas de morenas cheias de curvas e poucas perguntas. Se lhe derem pimpolhos, a bandidagem se livra da extradição.
Na literatura americana do pós-guerra e em Hollywood, compõe-se a psique do brasileiro rico que passeia por lá.
Tem sangue fervente, é um charmoso sedutor e bon-vivant, bronzeado, misterioso, como personagem de La Dolce Vita: aristocrata sem castelo, de fortuna incalculável e sem procedência declarada.
Na novela Breakfast at Tiffany’s (Bonequinha de Luxo), de 1958, de Truman Capote e que retrata os anos 1940, talvez um dos livros mais instigantes do seu tempo, o brasileiro em Nova York é um diplomata que se chama José Ybarra-Jaegar e fica noivo de Holly, a bipolar protagonista “call girl”.
No filme Bonequinha de Luxo, de 1961, adaptado por Blake Edwards, com Audrey Hepburn, ele se chama José da Silva Pereira e foi vivido pelo escritor e ator espanhol, o nobre José Luis de Villalonga.
É apenas rico.
Aparece nas festinhas regadas à bebida que Holly dá no seu apê em NY. Mas foge de soslaio quando a polícia é chamada pela vizinhança. Promete se casar com a garota de reputação duvidosa e trazê-la ao Rio de Janeiro.
Ela treina português num disco que ensina português de Portugal, veste-se como uma latino-americana. Muda a decoração da casa para motivos brasileiros. Pendura a cabeça de um touro nelore, revelando a confusão entre carioquice e gauchice, e tem a esperança de ter cinco filhos brasileirinhos.
Leva um fora, quando José da Silva descobre o envolvimento dela com um mafioso italiano preso, Sally Tomato. Ele não pode ter problemas com a lei. Deixou um presente ou veio falar pessoalmente? Nada disso. Deixou apenas um bilhete, dizendo que não podia manchar seu nome, e picou a mula.
Norman Mailer dizia que Capote “é o mais perfeito escritor da minha geração” e que não mudaria duas palavras em Breakfast at Tiffany’s.
Me pergunto se foi o playboy Jorge Guingle, o Jorginho, cuja autobiografia se chama Um século de Boa Vida, herdeiro milionário que frequentou Hollywood e o leito de atrizes como Marilyn Monroe (que depois desmentiu), Hedy Lamarr, torrou uma fortuna de US$ 2 bilhões pelo câmbio de hoje em festas e mimos a Rita Hayworth, Kim Novak, Ava Gardner, Romy Schneider, Jayne Mansfield, Marlene Dietrich, Janet Leigh, nunca trabalhou, morou no Copacabana Palace, hotel da família, quem apesar da renda declarada deu vida ao arquétipo do brasileiro enrolado com a contabilidade.
Ou será que este brasileiro arquetípico é fruto da economia do País: uma ex-monarquia decadente, rica, mas sem saber quanto, gastona, sem cumprir com suas obrigações, envolvida em tramoias e escambos não declarados, platônica, que pode perder tudo da noite pro dia, mas jamais a soberba, a pose de “sou o futuro”, uma falsa autoconfiança que se desmancha quando posta à prova e são reveladas as pedaladas.
Em quem Capote se inspirou?
Quem é Holly e como ganha a vida é um dos maiores mistérios da literatura.
E, o que mais intriga: por que José quer se casar justamente com a garota de reputação duvidosa? Identificação?
Ela mora sozinha, sai com homens ricos, janta e dança com eles, ganha joias, presentes, e os seduz. Ganha UR$ 50 dólares por uma “ida ao toalete”, sem nunca ficar claro o que significa. É uma escort, uma acompanhante.
Não sabemos se é uma prostituta assumida, apesar da cena numa festinha em que seu amigo-agente (ou gigolô) pergunta insistentemente: “Você sabe o que ela é, não sabe?”
Holly se encontra com os caras em lavabos. É livre, dorme com quem quiser. É um tipo comum da cena americana da época, como Oona O’Neill, amiga de Capote, que de bar em bar namorou Orson Welles, Salinger e se casou com Chaplin.
No livro, ela é uma adolescente livre e independente, bissexual, que fuma maconha e desaparece no final. Aparentemente foi vista na África, numa foto desfocada, como Rimbaud.
No filme, é a namoradinha da América, Audrey, até hoje eternizada em camisetas, pôsteres e cartazes vendidos nas ruas de Nova York, papel antes oferecido a Marilyn Monroe, que não o fez porque filmava em Paris.
No filme, Holly tem um final feliz.
No livro, some.
Numa entrevista à Playboy, perguntado se sua personagem era uma prostituta, Capote enfim esclareceu que era o protótipo de uma mulher livre, do tipo que seduz homens, mas não se prostituem, uma versão americana de “geisha girl”.
“Holly Golightly não era exatamente uma garota de programa. Ela não tinha emprego, mas acompanhava homens nos melhores restaurantes e clubes, que sabiam que sua companhia deveria ser recompensada com presentes, talvez uma joia ou uma grana. E que ela os acompanharia a noite toda e poderia dormir com eles, mas não necessariamente, tipo de garota muito prevalecente nos anos 1943 ou 1944.”
Ele conta que Holly existiu e foi sua vizinha. Numa época em que as mulheres não conseguiam trabalhar, frequentar bares sozinhas, serem independentes, ser uma Holly era ir atrás de desejos de consumo e sexo, a expressão de uma libertária que têm os homens a seus pés. Mas não rompia com as algemas do xis da questão: a emancipação feminina.
Por mais linda, cativante e moderna, Andrey “Holly” Hepburn que estampa as camisetas é uma mulher ultrapassada, que duvido que inspire outras.
Já o brasileiro com problemas com o contador e a polícia…
Este estigma perdura.
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September 9, 2015
Aprenda a fazer cinema e TV
Na era em que todos carregam no bolso uma câmera de áudio-visual com definição até que razoável…
Semana no Itaú Cultural “ensina” fazer cinema e televisão.
E tem mais: é grátis!
De hoje, dia 9, a 13 de setembro, o Itaú Cultural organiza mais um dos Encontros de Cinema.
Em cinco dias, profissionais das diferentes áreas do cinema e TV, como Anna Muylaert e Luiz Bolognesi, debatem e realizam workshops sobre a produção de roteiros.
De hoje, quarta-feria, a sexta-feira, os debates abordarão a polarização entre comédias populares e “filmes de autor”, além da relevância das regras dos manuais de storytelling.
Em debate os manuais de roteiros questionáveis que seguem o pós-aristotelismo, como os de Syd Field e o o popular STORY de Robert McKee, que costumam dar cursos também no Brasil, como para autores da Globo.
Atenção no que Anna tem a dizer: ela é especialista em timing de cinema e leu de tudo sobre o tema.
No fim de semana, trabalho prático: permitirão aos inscritos aprimorar suas habilidades de elaboração e apresentação de um projeto audiovisual.
Quarta-Feira – 20h
O CINEMA NA ERA DA TV
com Anna Muylaert e Luiz Bolognesi
mediação Maria Camargo
Quinta-Feira – 18h
MESA AS CRIANÇAS, OS ADOLESCENTES E AS HISTÓRIAS
com Beth Carmona, Tatiana Nequete e Índigo
mediação Andréa Midori Simão
Quinta-Feira – 20h
MESA ENTRE A REALIZAÇÃO AUTORAL E O GRANDE PÚBLICO
com Fellipe Barbosa, Paulo Cursino e Juliana Rojas
mediação Marcelo Starobinas
Sexta-Feira – 18h
MESA NARRATIVAS REAIS
Até onde podemos roteirizar a realidade? A mesa discute as especificidades do roteiro de reality show e qual é o lugar do roteirista nesse formato, criticado por muitos e consumido à exaustão por tantos outros, sendo hoje o gênero mais produzido na TV paga brasileira.
com Roberto d’Avila, Flavio Queiroz e Carolina Kotscho
mediação Gabriel Priolli
Sexta-Feira – 20h
MESA MANUAL DE ROTEIRO: ENTENDER PARA SUBVERTER?
Há um número cada vez maior de livros que ensinam a escrita e a estrutura da narrativa de ficção audiovisual por meio de conceitos e fórmulas. Em que medida esses manuais contribuem para a criação de boas histórias? Há certo ou errado na forma de escrever um roteiro? Quando acatar as regras e quando subvertê-las?
com Elena Soarez, Adirley Queirós e Daniel Tubau
mediação Thiago Dottori
Todas as mesas têm duração aproximada de 90 minutos e é livre para todos os públicos
Sala Itaú Cultural (249 lugares)
E WORKSHOPS:
12/9 – Workshop Direitos Autorais (com Guilherme Carbone), às 9h30
12/9 – Workshop Conteúdo e Apresentação (com Julia Priolli), às 14h
13/9 – Workshop Pitching (com Fernanda de Capuá), às 9h30
13/9 – Workshop Formatação de Projetos (com Mariana Brasil), às 14h
Workshops – Sala Vermelha (70 lugares)
http://novo.itaucultural.org.br/progr...
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September 8, 2015
Fábio Jr. se exalta em NY
Desabafo de Fábio Júnior em Nova York, transmitido ao vivo pelo Multishow, surpreende no Brazilian Day.
E lembra aquele brasileiro de quem não temos muito orgulho: generalizador e mal-educado, que fala palavrão onde não deve.
No show que comemora todos os anos o nosso Dia da Independência, costuma arregimentar artistas populares para uma massa de brasileiros e gringos, documentados ou não, na 6a. Avenida, matar as saudades.
A festa há muito não toca novidades nem o que tem de melhor na MPB.
Mas, com patrocínio da Globo, mobiliza a cidade.
O cantor resolveu dar uma aula de política, confessou ter vergonha: “Todo mundo roubando, metendo a mão”.
O coro “Ei Dilma vai tomar no c…” foi puxado, e ele mirou o microfone para a plateia.
Seguiu a grosseria: “Onde tá o dedinho que o Lula perdeu, onde ele enfiou, no nosso… E dói para caramba.”
Ao vivo.
https://www.youtube.com/watch?v=BEr5tGNWMtM
No País em que já foi tratado como “o cara”, o ex-presidente é vítima de uma piada de muito mau gosto.
Desnecessária.
Tá todo mundo exaltado…
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September 3, 2015
Bonfá e Dado farão mais do que uma turnê
Depois do auê e muita especulação, ao se anunciar que a dupla de legionários ensaiava com ANDRÉ FRATESCHI e se preparava para uma turnê com músicas da LEGIÃO, DADO VILLA-LOBOS e MARCELO BONFÁ, anunciaram o projeto que virá.
Será muito mais do que uma turnê:
Dizem que não será a “volta” da Legião: “Como já dissemos inúmeras vezes, a Legião – como banda – acabou junto com a morte do Renato, em 1996. E, ninguém pode substituí-lo. Único e insubstituível.”
Virá o projeto “LEGIÃO URBANA – 30 ANOS”, edição especial que trará o disco original LEGIÃO URBANA, o primeiro da banda, remasterizado, e um outro disco contendo algumas pérolas e raridades guardadas nos cofres da gravadora, como três músicas que a EMI os convidou para gravar no Rio de Janeiro em 1983, ainda com o Renato tocando baixo e cantando!
O lançamento da EMI/Universal está previsto para final de 2015.
O projeto se chamará: DADO VILLA-LOBOS e MARCELO BONFÁ em LEGIÃO URBANA – 30 ANOS.
E neste domingo dia 6, no Fantástico, a dupla vai surpreender os fãs com um convite.
“Se as músicas da Legião Urbana têm um lugar especial no seu coração, então o lugar, na frente do microfone, pode ser seu”, anuncia a emissora.
Bonfá conta: “Neste domingo dia 6 no @Fantástico (o show da vida!) @Rede Globo. Inaugurando os vocais desta nova fase Legiônica, Paulo Miklos! Não percam… E participem. Novidades no programa!”
COMUNICADO de DADO VILLA-LOBOS e MARCELO BONFÁ
Em 2014, enquanto atravessávamos o difícil processo judicial pelos nossos direitos sobre o nome da banda, acabamos encontrando – em comunicados como este – uma ferramenta clara de nos comunicarmos em forma direta com a imprensa e, principalmente, com os fãs da Legião Urbana.
Nesses comunicados dizíamos que, enquanto essa questão não fosse resolvida, não haveria nenhum lançamento da banda. Foi assim que, depois de termos nossos direitos reconhecidos pela Justiça, recebemos da EMI – hoje parte da Universal Music – a proposta de lançar uma Edição Especial do nosso primeiro disco, também chamado de “Legião Urbana”, e originalmente lançado em 1985.
Surgia então o projeto “LEGIÃO URBANA – 30 ANOS”. Uma Edição Especial que, além de trazer o disco original remasterizado, trará um outro disco contendo algumas pérolas e raridades cuidadosamente guardadas nos cofres da gravadora. Entre elas estão, por exemplo, as três músicas que a EMI nos convidou para gravar no Rio de Janeiro em 1983, quando éramos um trio de rapazes vindo de Brasília – ainda com o Renato tocando baixo e cantando! Este lançamento da EMI/Universal está previsto para final de 2015.
O processo de mexer com todas essas fitas, de ver aquelas fotos, de ler aqueles textos e, principalmente, de ouvir aquelas primeiras versões das nossas músicas, exatamente como elas foram criadas, foi realmente emocionante. Tanto que acabou despertando a vontade de estarmos juntos tocando de novo.
Dessa vontade surgia uma segunda ideia: a de chamar alguns amigos e montar um show para tocar o nosso primeiro disco na íntegra. Mas, para evitar erros ou mal-entendidos, sentimos a necessidade de deixar bem claro que não existe possibilidade alguma de “volta” da Legião Urbana. Como já dissemos inúmeras vezes, a Legião – como banda – acabou junto com a morte do Renato, em 1996. E, ninguém pode substituí-lo. Único e insubstituível.
Esse encontro onde vamos comemorar os 30 anos do nosso primeiro disco – tocando ele na íntegra – vai levar o nome do próprio disco, e será divulgado da seguinte forma:
DADO VILLA-LOBOS e MARCELO BONFÁ
em
“LEGIÃO URBANA – 30 ANOS”
Como o Renato sempre dizia nos nossos shows: “A gente está aquí no palco, mas a verdadeira Legião Urbana são vocês”. Só que, desta vez, alguns de vocês vão estar no palco junto conosco!
URBANA LEGIO OMNIA VINCIT
Rio de Janeiro | 02 | Setembro | 2015
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August 31, 2015
Narcos não é apenas sobre narcotráfico
A série NARCOS da Netflix [em parceria com a Gaumont] estreou quinta-feira.
Teve gente que ficou grudada.
E teve aquele que precisou se controlar, para não ver os dez capítulos de uma tacada e perder a pizza com a família. Como eu.
Escrita por um timaço liderado por Chris Brancato, é sensacional. Gruda.
Talvez seja a melhor série brasileira já feita [que não é brasileira].
Wagner Moura pode começar a fazer planos e mudar seu endereço, já que entrou de vez para o mainstream dos grandes atores do cinema e da TV.
O diretor geral, JOSÉ PADILHA, utiliza a técnica narrativa de CIDADE DE DEUS e TROPA DE ELITE, da escola SCORSESE de cinema [GOODFELLAS, CASINO], que embaralha didatismo com a ação dramática, sempre com um OFF coloquial.
E fala de História num contexto maior que o aparente.
Não é apenas sobre PABLO ESCOBAR e a guerra do tráfico.
Fala dos decisivos anos 1980, em que se viu a Queda do Muro, o colapso da luta revolucionária, a onda de moralização da era Reagan e a absurda associação entre grupos de esquerda [Sandinistas, Farc], separatistas [ETA] e o tráfico de cocaína.
Quem viveu naquele período se lembra.
Saíamos dos deslumbrantes anos 1970. Podia-se fumar maconha livremente em parques americanos.
O DEA corria atrás de pequenos traficantes hippies que usam chinelos para apreender uma pacoteira de maconha. Cocaína era cara, proveniente do Peru e Bolívia.
A CIA e o FBI tinham a prioridade [e a obsessão] de combater o comunismo.
Viu a pauta do narcotráfico entrar na agenda, quando descobriram que atentados na Colômbia eram patrocinados pelo Cartel de Medellin, que o novo governo sandinista revolucionário da Nicarágua e o ditador do Panamá, Manuel Noriega, cediam pistas de pouso e o espaço aéreo para o tráfico, em troca de grana e armas.
O Cartel contratou químicos alemães, encontrou a camuflagem da selva e de um governo corrupto para montar um processo de refinaria e de distribuição de proporções industriais, que levou seu faturamento a níveis de montadoras de carros.
Até enfim os americanos se mobilizarem.
No Brasil, a cocaína barata invadiu os morros, atraiu facções criminosas e trouxe uma violência urbana que mais lembra uma guerra civil.
Nancy Reagan com o marido elegeu a droga o inimigo 1 da América.
A AIDS, que passava de seringa em seringa, alimentou o pânico que a opinião pública precisava para a nova onda conservadora americana.
O fim das ilusões utópicas do marxismo e de uma sociedade justa alimentou a febre individualista do yuppismo narcisista fútil e consumista.
PADILHA conta tudo isso e mais.
Lamenta um Continente absorvido pela corrupção e envolto numa guerra sem fim.
A grande ironia: Pablo sonhava em libertar a Colômbia como Simon Bolívar.
Ganha a sua espada. Entra para a política. É expulso pela elite política. E se vinga.
Popular, encontra num Estado ausente a chance de formar seu próprio estado, com exército próprio e um PIB suficiente para pagar a dívida externa da Colômbia, o que chega a oferecer.
Tinha um projeto de Nação.
Não era apenas um bandido, mas um patriota psicopata.
Mais do que muitos que governavam países ao seu redor.
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August 28, 2015
A Legião voltou
A Legião voltou.
Não sei se esta acima é a nova formação.
Mas são as fotos que o amigo MARCELO BONFÁ publica fazendo suspense na sua página do FACE.
Logo depois de enterrar RENATO RUSSO, numa cerimônia discreta em 11 de outubro de 1996, seu amigo e parceiro de longa data, o guitarrista DADO VILLA-LOBOS, nos braços de quem Renato morreu, recebeu um telefonema de um advogado.
Em nome da família, anunciava que tanto ele quanto o baterista BONFÁ estavam proibidos de tocar e usar a marca que ajudaram a fundar: LEGIÃO URBANA.
A batalha pelo direito de tocar as músicas durou quase 20 anos.
O litígio com o filho de Renato, GIULIANO MANFREDINI, em nada lembrava os ideais do pai, que consideravas a banda, amigos e fãs uma legião em luta por um mundo platônico, idealizado e sem preconceitos.
Em 2014, o conflito se acirrou.
A página que ocupa o endereço legiaourbana.com.br, foi feita pela empresa Legião Urbana Produções Artísticas, controlada por Manfredini e detentora da marca Legião Urbana, sem o consentimento de Dado e Bonfá.
Enfim, a 7ª vara empresarial do Rio de Janeiro deu ganho de causa aos músicos: em 28 de outubro de 2014 foram autorizados judicialmente a utilizar comercialmente a marca Legião Urbana.
Estabeleceu que os ex-integrantes “foram fundamentais na consolidação do sucesso alcançado pelo grupo e que, portanto, devem gozar dos mesmos benefícios do herdeiro de Renato”: “Por certo, os autores são ex-integrantes da banda e contribuíram durante toda a sua existência, em nível de igualdade com Renato Russo, para todo o sucesso alcançado. Assim sendo, não parece minimamente razoável que não possam fazer uso de algo que representa a consolidação de um longo e bem sucedido trabalho conjunto – reconhecido por milhões de fãs…”
Caso Giuliano descumpra a sentença estará sujeito a uma multa de R$50 mil reais.
Dado e Bonfá conseguiram os direitos de tocar LEGIÃO e vão se apresentar a partir de outubro, em turnê, num show dirigido pelo grande diretor teatral, FELIPE HIRSCH.
A banda LEGIÃO já ensaia em estúdios do RIO, por onde começa a turnê.
A dúvida era: quem cantaria? Barbada.
A decisão não podia ser outra: André Frateschi, o Andrezinho [acima no meio dos 5, de camisa vermelha], filho da grande atriz Denise Del Vecchio.
André, ator que trabalhou no teatro com Monique Gardenberg, em filmes, novelas e séries, há muito toca com a mulher MIRANDA KASSIN em shows pelo circuito alternativo e do grupo S [Sesc, Sesi].
Ela lotava o saudoso Studio SP cantando Amy Winehouse, e ele lotava com o show HERO cantando Bowie.
Ambos, considerados o “casal hit”, têm o projeto MIRANDA KASSIN & ANDRE FRATESCHI:
http://www.mirandaeandre.com.br/site/
Já lançaram disco próprio e em shows interpretam Tom Waits, Lou Reed, Neil Young, Etta James, Nancy Sinatra, Rita Lee e Robert Cray, além de Amy e Bowie.
ANDRÉ promete surpreender.
Me disse que não vai “macaquear” (imitar) RENATO, que conheceu quando criança – junto com a mãe, que fez minha mãe EUNICE na peça FELIZ ANO VELHO, vivia com violão nos camarins do teatro, que Renato, meu amigo, também frequentava.
Uma vez em Campinas, LEGIÃO e a peça FELIZ ANO VELHO se apresentaram juntas na abertura do ginásio da UNICAMP.
Mas ANDRÉ, que redescobre a banda que ama e amou, especialmente as músicas dos últimos discos, sabe que para ser RENATO no palco precisa ir além.
E promete ir.
A Banda ganha o suingue do baixista do PLANET HEMP.
Força, queridos.
Estarei no gargarejo, como no passado. Matando as saudades.
August 24, 2015
Jonathan Franzen lança enfim seu novo romance
Para mim e para muitos, JONATHAN FRANZEN é o melhor e mais completo autor americano vivo.
Lança enfim nos EUA seu novo romance, PURITY [Pureza], pela Farrar, Straus and Giroux.
Na vida real, é um chato de galocha. Tímido, implicante e mal-humorado, nega ser um misantropo, mas é, e aparenta gostar mais de pássaros.
Decepcionou quanto veio à FLIP. Fez uma palestra boba, não circulou, nem falou com ninguém.
Foi grosso com Ivan Finotti, da Folha, que o entrevistou em sua residência em Nova York.
É acusado de elitista, intolerante e até sexista, o que eu acho uma bobagem, já que seu forte é justamente o numeroso repertório de personagens femininas.
Para o The Guardian, que o entrevistou agora em San Diego, Califórnia, onde agora mora com a mulher, a editora Kathryn Chetkovich, numa mansão com vista para o Pacífico, confirmou que detesta internet e mídias sociais e não gosta de ser enquadrado em nenhum estilo geracional.
É um romancista de primeira, criador de grandes personagens e tramas sempre em torno de uma família complexa, como todas. Política, discussão ambiental, humor, debate sobre a decadência do sonho americano [e da classe média] e tecnologia são temas recorrentes.
Dos mais conhecidos, é difícil saber qual é o melhor: CORREÇÕES ou LIBERDADE, tijolos de mais de 500 páginas com a mesma curva dramática. Quem lê um lê o outro.
PURITY tem 563 páginas [a US$ 28].
A história passa pela Queda do Muro de Berlim, tem arquivos da Stasi roubados e uma ogiva termonuclear que falta no Texas.
Tem como protagonista uma garota de 20 anos da Califórnia, Pip, que busca por seu pai, que Andreas Wolf, uma espécie de Julian Assange, fica louco para contratar para trabalhar com ele na América do Sul.
Andreas, um alemão do Leste, provocador e sedutor, foge das autoridades e se escala como cabeça do Sunlight Project, um tipo de WikiLeaks, com o que ganha fama internacional.
PURITY continua centrado em famílias disfuncionais e em crise.
Traça um retrato engraçado de um escritor, Charles, que faz de tudo para estar no primeiro time da moderna literatura e acredita ter potencial para escrever outro O Som e a Fúria [Faulkner] ou O Sol Também se Levanta [Hemingway]. Ele vive com Leila Helou, ganhadora do Pulitzer, repórter dentro de um triângulo amoroso, que trata Pip como sua “protégée”.
O The New York Times chamou de “dynamic new novel”: Certamente, há uma abundância de personagens fracionados em PURITY, que contêm a características de pessoas em famílias nocivas como nos livros anteriores, além de raiva, alta octanagem de inveja, lotes de narcisismo agressivo e sarcasmo.
Louco pra ler.
August 21, 2015
OAB pirou?
OAB é a voz da sensatez, num país em que é difícil escutá-la.
Sempre foi, sempre será. Mas dessa vez cometeu um deslize.
Foi a grande entidade que pediu o fim da ditadura, o impeachment de Collor. É a vanguarda do que conhecemos como “sociedade civil”.
Ontem, pronunciou-se em dois momentos chaves da política nacional:
1. Assinou com a CNI a chamada Carta à Nação, que pede correções de rumo e ações imediatas pela normalidade democrática e caminho do crescimento.
2. Anunciou que ingressará com uma ação no Supremo para garantir o sigilo de fonte de um jornalista do Diário da Região, de São José do Rio Preto, que apurou um esquema de corrupção na cidade.
Uma ação recente da OAB-SP ninguém entendeu: a de lutar contra a redução da velocidade das Marginais de São Paulo.
Em 2014, 25 morreram atropelados nas Marginais.
Se está provado que a redução diminui acidentes e atropelamentos [um balanço publicado pela Prefeitura apontou uma queda de 29% de ocorrências com mortos e feridos], se em Nova York a velocidade máxima permitida é de 45 km/h, em Paris, 50 km/h nas ruas e 70 km/h na Periferia, a Marginal de lá, faria sentido numa via expressa que passa pelo centro urbano paulista e causa tantas vítimas a velocidade ser de 90 km/h?
O argumento da OAB-SP na ação é um paradoxo filosófico:
“Não é possível que milhões de paulistas e paulistanos sejam responsabilizados pela morte de pedestres irresponsáveis que desafiam o direito e manifestam o desejo de perder a vida voluntariamente.”
“O direito lamenta o suicídio, mas não tem como puni-lo”, completou na réplica que move no processo contra redução de velocidade.
A pérola jurídica foi assinada pelo presidente da OAB-SP, Marcos da Costa, pelos presidentes da Comissão do Direito Viário, Maurício Januzzi, e da Comissão de Direito Constitucional, Marcelo Figueiredo, segundo a Folha de S. Paulo.
E foi entregue na instância errada.
OK, não podemos punir um suicida. É um direito se matar.
Passa-se por cima deles, mas o trânsito não pode ser afetado.
E o direito de se matar deve ser garantido, mesmo que envolva outros em acidentes de trânsito de proporções inimagináveis a 90 km/h.
Para o juiz Anderson Suzuki, a ação da OAB não pode ser julgada pela Justiça Estadual e deu ganho de causa [temporário] à Prefeitura.
O escritor-filósofo Albert Camus, teórico do dilema do suicídio, que aliás foi atropelado, continua em paz no túmulo.
August 20, 2015
Netflix versus HBO e governo brasileiro
Uma guerra fria é declarada entre as melhores empresas de conteúdo da TV on demand, Netflix versus HBO [correndo por fora, a AMAZON, que já anunciou a contratação de WODDY ALLEN].
Ambas anunciam investimentos milionários no gênero que domina o mercado, a série.
Fazem parcerias, produzem conteúdo próprio, emprestam a frequência para exibir produções de outras empresas, contratam os melhores do mercado, criam escola.
E anunciam coproduções com o mercado brasileiro.
HBO está há anos na frente, inclusive com parcerias no Brasil.
Erra e acerta a cada temporada.
Se errou feio na segunda temporada de TRUE DETECTIVE, decepcionante thriller sem o mesmo apelo psicológico e charme da primeira e sensacional temporada, volta a acertar com a estreia neste fim de semana de SHOW ME A HERO, do criador de The Wire e Treme, David Simon, com o diretor Paul Haggis, de Crash.
SHOW ME A HERO lembra The Wire, por tratar da segregação de negros e latinos em grandes centros urbanos.
Homenageia o simbólico sofá no meio de um condomínio popular de The Wire e aponta um dilema já no primeiro episódio capaz de viciar os fãs do gênero: um jovem prefeito destrona um velho cacique político graças a um mal-entendido do eleitorado.
HBO ainda exibe para os fãs babarem os anúncios de VINYL, para 2016, série sobre a indústria fonográfica de Nova York, de Scorsese com Mick Jagger, com roteiro de Terence Winter [Soprano, Boardwalk Empire], e da segunda temporada de THE LEFTOVERS.
E vem aí o genial THE KNICK, segunda temporada da série do Soderbergh [Cinemax].
Já no NETFLIX, vídeo por streaming, que começou bombando com HOUSE OF CARD, encontra-se escondida e sem a badalação no Brasil a série em 13 episódios BLOODLINE.
Já considerada por muitos como a série mais bem escrita em cartaz no NETFLIX, estreou em março de 2015.
Coproduzida pela SONY, ela aborda a conflituosa família Rayburn, dona de um resort paradisíaco em Key West, Flórida, cujo filho pródigo, um delegado de polícia, vê-se investigando o irmão e filho-problema, um traficante local.
Com elenco de primeira: SAM SHEPARD, SISSY SPACEK, KYLE CHANDLER, LINDA CARDELLINI [a Silvia, de MAD MEN] e a sumida CHLOË SERVIGNY, atriz que explodiu em KIDS e ganhou uma tranca na geladeira, depois de filmar uma cena de sexo oral com seu namorado, Vicent Gallo, no filme THE BROWN BUNNY.
Mas deu no caderno LINK que, por pressão de radiodifusoras, o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, quer enquadrar o Netflix com regras de regulações nacionais, exatamente quando o serviço de vídeo por streaming anuncia as primeiras produções brasileiras para 2016.
Para Berzoini, “o Netflix já ultrapassou em faturamento a Rede Bandeirantes e a RedeTV! e não gera praticamente nenhum emprego no País”.
“Se a lei da TV por assinatura gerou milhares de postos de trabalho, esse tipo de serviço subtrai empregos do País”.
Para o ESTADÃO a Netflix disse que está baseada no País e “paga todos os impostos devidos”.
Ainda aguarda decisão da Ancine sobre obrigatoriedade de serviços online terem que pagar a taxa Condecine, Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional.
Esperamos que se acertem logo.
August 18, 2015
Globo convida para reality tecnológico
Pode parecer a reunião do deque do Titanic, ou a orquestra, para salvar o navio que trombou com um iceberg (conhecido como Tecnologia da Informação).
Pode ser que há salvação para o aparelho dominante há oito décadas, a TV, mas que está a cada dia que passa mais encostada, em segundo plano.
Será no futuro jogada no depósito ao lado da secretária eletrônica e fax? A GLOBO quer saber.
E reúne em setembro na famosa casa do BBB um reality de nerds, o seu próprio HACKATON, maratona de 33 horas, dividida em 8 grupos, para criar soluções para o dilema:
“COMO A TECNOLOGIA PODE MUDAR A FORMA DE PRODUZIR E CONSUMIR CONTEÚDO?”
Qualquer um pode se inscrever:
A proposta:
“Todos os nerds, digo, engenheiros e desenvolvedores, vão ficar confinados na casa do BBB até sair alguma coisa que preste. (Não é brincadeira, é sério!)”
Apresentado por Felipe Andreoli, os “brodnerds” terão acesso a todas as tecnologias possíveis (incluindo um Super Nintendo) e algumas APIs.
Uma banca de jurados vai escolher os melhores projetos.
Os prêmios, além da fama fugaz:
1º. Três dias imersos dentro do MIT Media Lab em Boston
2º. Kit de desenvolvimento (Raspberry PI, sensores entre outras coisas)
3º. Par de ingressos para o “maior show de rock do país”.
A TV sobreviverá à revolução tecnológica [mídias sociais, conteúdo on demand, games interativos, web]?
Alguém pode salvá-la?
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