Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 56

December 1, 2015

Ah, era uma provocação

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Ah, era uma provocação.


Pegadinha social do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Curitiba.


Uma jogada de marketing provocou debates intensos ontem.


Um jogada de gosto discutível, já que alimenta um clima já tenso de preconceito e intolerância que habita as redes sociais.


Muitos desconfiavam.


Hoje veio a prova. Eis o comunicado oficial:


 


Muita gente se revoltou e repercutiu negativamente a bandeira levantada pelo Movimento pela Reforma de Direitos: o fim dos privilégios para pessoas com deficiência.


E, mesmo assim, por que tantos ainda desrespeitam?


  Essa é a discussão que nós, do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, queríamos levantar. E conseguimos.


É fundamental que a sociedade fale abertamente sobre isso: somos 24% da população, mais de 45 milhões de brasileiros com deficiência; só em Curitiba, somos mais de 300 mil pessoas com algum tipo de deficiência. SOMOS MUITOS! Somos pessoas com deficiência auditiva, visual, intelectual, deficiências múltiplas, surdez, transtorno do espectro autista e deficiências físicas. É preciso reconhecer e respeitar a nossa diversidade.


  Temos alguns direitos diferentes porque temos necessidades diferentes. Eles foram conquistados para igualar as oportunidades e reduzir as desvantagens. Por exemplo:


  TEMOS DIREITO A VAGA EXCLUSIVA DE ESTACIONAMENTO porque temos dificuldade de locomoção, e também para evitar riscos de acidentes que possamos causar ou sofrer.


  TEMOS DIREITO A LEI DE COTAS PARA O TRABALHO, pois sem elas dificilmente seríamos contratados. Apesar das nossas competências e currículo, a sociedade ainda nos considera incapazes.


  TEMOS DIREITO A ISENÇÕES E DESCONTOS porque temos despesas extras que elevam muito o nosso custo de vida. Além disso, temos menos oportunidades de trabalho e de educação.


  TEMOS DIREITO A FILAS E ASSENTOS PREFERENCIAIS porque é uma questão de respeito, segurança e conforto para quem enfrenta mais dificuldades todos os dias.


  TEMOS DIREITO A COTAS EM CONCURSOS PÚBLICOS porque, além dos desafios que enfrentamos para conseguir empregos, temos dificuldades também para estudar e disputar as vagas em condições iguais.


  ISSO TUDO NÃO É PRIVILÉGIO. É DIREITO.


  E serve para garantir a igualdade de oportunidades entre a pessoa COM e SEM deficiência.


  Apesar disso, a maior barreira ainda é o desrespeito. Os nossos direitos são frequentemente ignorados, seja por falta de conhecimento ou de educação. Lembrando: discriminar pessoas com deficiência é crime previsto por lei.


  Por tudo isso, não podemos ficar apenas na revolta. Vamos exigir respeito e, mais do que isso, vamos defender esses direitos.


  Alie-se a esta causa, curta a página Curitiba Mais Inclusiva: www.facebook.com/sedpcd/?fref=ts

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Published on December 01, 2015 10:11

November 30, 2015

Movimento quer fim de “privilégios” para deficientes

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Democracia prova que tem núcleos com ideias exóticas entre nós.


Aliás, só uma democracia proporciona a experiência de ver refletida uma face da estupidez humana.


E da falta o que fazer.


Como o movimento que quer o fim dos “privilégios” para deficiente.


É piada?Marketing. A verdade é que pessoas têm assinado à petição proposta pelo grupo:


Ao Governo Federal


Olá. Nós somos o Movimento pela Reforma de Direito.


>> Objetivos do Movimento


O Movimento pela Reforma de Direito tem objetivos muito claros. Queremos parar de ser prejudicados por leis que privilegiam uma minoria e esquecem a maioria. Estas são nossas reivindicações.


>> Redução em 50% das vagas exclusivas pra deficientes


Quem já ficou horas atrás de uma vaga para estacionar, e sempre olhava para aquelas vagas de deficientes vazias, sabe como isso é importante. É para o bem-estar de muita gente.


>> Fim das cotas para deficientes em empresas


Você tem ideia do quanto uma empresa precisa gastar para se adaptar para um funcionário deficiente? Esse dinheiro poderia ser investido em salários melhores, em condições de trabalho para quem leva o negócio pra frente, não é? Quem for bom vai ser contratado, sendo deficiente ou não. É por isso que queremos o fim das cotas para deficientes em empresas com mais de 100 funcionários.


>> Redução em 50% de filas e assentos exclusivos para deficientes


Todo mundo sofre com ônibus lotado e filas gigantes em bancos, não só os deficientes. Por isso, queremos que dediquem mais assentos e atendentes para todos. Chega de lugar vazio com gente em pé. Chega de atendente esperando com gente precisando ser atendida.


>> Pelo fim da isenção de impostos na compra de carro zero


As marcas de automóvel e o governo não vão pagar por esse desconto. Sabe quem vai? Eu, você e todo mundo que não tem culpa nenhuma de não ter deficiência. Carro já é caro demais pra gente ainda ter que ficar sustentando descontos para os outros. Querem ser tratados com igualdade? Então paguem o mesmo que qualquer um.


>>Pelo fim das cotas em concurso público


Você estuda por anos, dedica-se, vai bem na prova. Aí chega a lista e você perdeu seu futuro profissional por causa de uma cota. Coloque-se no lugar de quem passa por isso e pense: é justo?


>> Pelo fim à gratuidade para deficientes


É ótimo incentivar a cultura, mas para todos. Você, que gosta de ir a shows, acha certo que cobrem um preço pesado, que faz falta no seu mês, para que outras pessoas paguem menos? Acha certo pagar por eles? Porque é isto que acontece: os descontos para deficientes são pagos por você. E se você deixa de ir naquele show que tanto queria porque está muito caro, pode ser que um deficiente vá, pagando o que seria justo para todos.


Se você concorda, una-se a nós. Assine agora!


Até agora ninguém é capaz de confirmar se esta petição, publicada no site Petição Pública (http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR86739) é séria.


O fato é que o movimento tem página no Face (https://www.facebook.com/reformadedireitos), já instalou um outdoor em Curitiba com os dizeres PELO FIM DOS PRIVILÉGIOS PARA DEFICIENTES, e convoca uma coletiva para amanhã em Curitiba.


O MRD afirma que respeita todas as opiniões e acreditamos que também temos o direito de expor os nossos pensamentos.


“Todas as ideias que já estão na página e que serão publicadas aqui, serão encaminhadas para a Assembléia Legislativa e iremos lutar apenas para ter uma sociedade mais justa.”


Acabou de postar em sua página: “MRD CONVOCA: O nosso movimento recebeu muitas críticas e gerou diversas dúvidas. Mas não vamos nos calar nem nos intimidar com isso. Somos um movimento organizado, temos nossos objetivos bem claros e gostaríamos de explicá-los a todos. Por isso, convocamos os interessados para uma coletiva amanhã, em Curitiba. Para endereço e horário, por favor, mandem inbox. Obrigado.”


Pode ser uma brincadeira, uma “pegadinha social”.


Se não for…


Bem, não são os primeiros nem os últimos malucos da política mundial.


Leia essa pérola:


As marcas de automóvel e o governo não vão pagar por esses descontos. Sabe quem vai? Eu, você e todo mundo que não tem culpa nenhuma de não ter deficiência. Carro já é caro demais pra gente ainda ter que ficar sustentando desconto para os outros. Querem ser tratados com igualdade?


Então paguem o mesmo que qualquer um


 


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Published on November 30, 2015 11:36

November 26, 2015

Chega ao Netflix a mais instigante de todas as séries

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Black Mirror é considerada pela indústria, profissionais do ramo e público a melhor série de TV feita recentemente.


Que não chega a ser uma série nos padrões convencionais, já que cada episódio tem um plot diferente. O que lembra Além da Imaginação, em que declaradamente foi inspirada.


Na China foi um mega sucesso. Os poucos fãs brasileiros só tinham acesso quando viajavam ou [lamentamos] através da pirataria.


Agora é uma das novas atrações do Netflix, legendada, que promete novas temporadas como parceira.


Produzida pela Endemol, proprietária de várias franquias de TV, como, você sabe, Big Brother, a série inglesa tem o suspense, as esquisitices e o humor-negro de Hitchcock.


Criada por Charlie Brooker, cada episódio tem um set e cenário próprio, sempre com Kubrick como referência, feito por elenco diferente, dirigido por um diferente diretor.


Estreou em 2011 com The National Anthem, um episódio chocante escrito por Brooker [que escreveu a maioria deles]: o primeiro Ministro inglês é acordado no meio da noite com a notícia de que sequestraram uma garota da família real; como resgate, querem que ele fornique uma porca, bizarrice que deve ser transmitida ao vivo pela TV, como num grotesco e humilhante reality show, o que leva a Nação a um debate acalorado.


 


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No segundo episódio, Fifteen Million Merits, outro em formato de reality, mostra que o único trabalho do ser humano no futuro é pedalar, como numa academia high tec, para gerar energia e ganhar créditos com o que obtem comida e prazer. O amor está proibido. Ou melhor, é desnecessário.


 


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Ela ganhou logo de cara (em 2012) o Emmy Internacional de Melhor Série de TV.


Em 2013, Robert Downey Jr. fez o episódio The Entire History of You, que pode virar filme: a maioria dos humanos tem um chip atrás da orelha com o qual consegue rever (e reviver) o passado, controlado por um controle remoto que lembra o da Apple TV.


 


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Até o formado dela foge do padrão. Foram duas temporadas de apenas 3 episódios cada.


A chamada ‘terceira temporada”, exibida no final do ano passado, White Christmas, foi um especial de Natal de 90 minutos com ninguém menos que Jon Hamm [Mad Men] e Oona Chaplin, neta do próprio.


 


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Esbalde-se.

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Published on November 26, 2015 05:12

November 24, 2015

O outro

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Minha mulher não sabe pregar quadros na parede.


Não consegue entender a técnica precisa para que um prego se fixe perpendicularmente numa parede de tijolos.


Para ela, a Terceira Lei de Newton, o princípio da ação e reação (interação em forma de força que um corpo aplica sobre outro resulta numa força com mesma direção, intensidade e sentido oposto), não se aplica quando o corpo martelo interage com o corpo prego que ela segura.


Como defendo que, num lar contemporâneo, as tarefas não devem ser divididas por gêneros (lavar louça, dar de mamar ao filho, fazer supermercado e consertos elétricos), sugeri dar um Google e aprender como se prega um prego.


Não se falou mais nisso.


No dia seguinte, enquanto levava nosso filho para escola, ela viu parada num farol uma pequena van com o telefone de um serviço chamado Maridos da Aluguel. E anotou. Já tinha ouvido falar.


Ligou na mesma tarde.


Riu quando a atendente disse na maior naturalidade: “Maridos de aluguel, boa-tarde.”


Só na sexta-feira ela me anunciou que tinha agendado, e “seu” marido de aluguel viria sábado às 10h. Quem? Me explicou do que se tratava e perguntou se tudo bem começarem a martelar pela casa. Começarem, no plural?


Eu não podia insinuar nenhum sentimento de contrariedade, já que causara aquela traição.


A ofensa foi trocada pelo incômodo de saber que eu seria acordado num sábado, justamente num sábado, pela presença de um desconhecido martelando pela casa, que poderia se gabar de ser mais atencioso com a minha mulher do que eu, o legítimo segundo as leis do matrimônio.


Se meu filho sorrisse pra ele, pegasse na sua mão e o levasse para ver seus brinquedos, como faz com todos que nos visitam, seria a humilhação completa, e só me restaria fazer as malas e ir embora como um marido ineficiente e incapaz, levando minha caixa de ferramentas.


Ou lutar em defesa da minha família e arrancar aquele bárbaro invasor para fora.


Minha sorte é que sou gente-boa com os porteiros. Sábado tocou o interfone, informando que eram proibidas reformas no prédio. Impediram a entrada do marido freelancer.


Minha mulher ficou numa decepção, como a de uma mulher traída, que deu pena. Mas logo relaxou, quando foi avisada que o sujeito tinha a quarta-feira livre.


A trama ganhava contornos de um romance da Jane Auster. Fiquei na minha. Queria ver onde aquilo ia dar. Queria ficar frente a frente com meu adversário. Se ele me olhasse com aquele ar “você não sabe o que tem em mãos, não valoriza, não é carinhoso…”, talvez eu o chamasse para um duelo. Mas pensei melhor. Usaria na técnica do falso corno-manso. Violência só gera violência. Seduzirei o cara. Ficarei brother dele. Utilizarei todos os truques da confraria masculina de como conquistar uma nova amizade. O amante será meu melhor amigo. Iremos disputa-lo na quarta-feira.


Não chegou no horário marcado. Ha-ha-ha, me gabei. Mas ao menos ligou avisando antes que atrasaria. Que educado… Chegou, e meu filho já estava na escola. Um a zero. Não fui correndo atender. Fui blasé. Como se eu estivesse em casa.


Ouvi a barulheira sem sair do computador. Ouvi a voz da minha mulher levando-o pela casa, toda feliz. Quando decidi dar uma checada no meu inimigo, veja uma cena arrebatadora: ele furava a parede, com sua furadeira, ela limpava a sujeira com nosso aspirador. Para aumentar meu ódio, o cara me pergunta se eu tinha a ferramenta xis, que eu não sabia do que se tratava, e minha mulher me explicou com aquele ar de “perdão a ignorância dele”: a ferramenta que aperta a broca numa furadeira. Então o corno manso se prenunciou: “Usa a minha furadeira.”


O sujeito não estava de macacão jeans, sem camisa, com graxas e tinta nos braços, um martelo pendurada de um lado e uma enorme chave de fenda do outro. Mal assessorado, perdeu a chance de causar mais impacto com um figurino estiloso. Estava com uma camisa polo de listinhas. Bem cafona.


Foi com satisfação que só depois der uma hora minha mulher perguntou: “Como é mesmo seu nome?” Mostrou um desprezo que me deixou apaixonado. E fez isso na minha frente. Eu sabia que ela me amava. Não tinha todas as ferramentas, e usou as minhas. Logo nos esquecemos de seu nome.


Mas minha humilhação voltou à tona quando perguntei se ele podia arrumar uma tomada minha. Perguntei para a minha mulher, afinal era dela o marido contratado por hora. Ela fez uma cara tipo vou pensar no assunto, me deu uma esnobada e, feliz da vida, ficou de ver se ele estaria disponível. Arrumou a minha tomada. Desisti de ser seu amigo.


Em vingança, tomei um banho e circulei pela casa enrolado numa toalha, exibindo meus braços torneados. Só faltou eu urinar pelos cantos, para demarcar território. Foram duas horas de disputa territorial.


Completou o serviço.


E a surpresa no final.


Não aceitava cartões.


Quem tinha cheque em casa? O corno-manso fez um cheque.


E não foi barato.


Ando pela cidade louco para encontrar uma van com os dizeres Esposa de Aluguel.


Nestes tempos em que estamos todos tão ocupados com nossas carreiras, terceirizar os papeis do casamento clássico é uma mina de ouro.


Já bolaram um APP?


“Ubernizaremos” as obrigações maritais.

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Published on November 24, 2015 14:53

November 22, 2015

Pra que tanto feriado?

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O feriado de sexta-feira, Dia da Consciência Negra, é mais que bem-vindo.


Uma dívida história a ser paga no último país a abolir a escravidão de quase 4 séculos.


E que erroneamente chegou a ser comemorado em 13 de maio, o da Abolição.


Mas entra um feriado, não deveria sair outro?


Feriados tornam-se obsoletos. Quer ver um exemplo?


9 de Julho. Foi o dia de 1932 em que estourou a revolução na qual paulistas defenderam a constituinte que o iminente ditador Getúlio Vargas postergou.


Seria um grito contra o autoritarismo, um aviso de que precisamos estar sempre alertas em defesa da democracia.


Mas os próprios paulistas se mobilizaram em massa em 1964 para rasgar outra constituição e defender um golpe que deu numa ditadura.


15 de novembro é um feriado pátrio duvidoso. Até porque sua proclamação trocou um monarca por um general autoritário. Depois, o país passou a ser governado por dois feudos, um que produzia café, outro, leite.


O 1 de maio enfraqueceu o sentido. Não só pelo colapso da URSS, mas porque hoje o trabalhador é terceirizado, empreendedor, dá nota fiscal, tem CNPJ, é cooperativado e, se bobear, tem empregados.


Na empresa moderna, o burguês é invisível, é o mercado, pulverizou-se em ações, muitas delas nas mãos dos próprios empregados, o proletariado.


A quantidade de feriado religioso no Brasil, cujo ano já começa com um feriado, é uma afronta ao estado democrático, laico, que abriga TODAS as religiões.


São eles: Natal, Páscoa, Corpus Christi, Dia de Nossa Senhora de Aparecida, Finados e Dia de São João.


Cada cidade tem seu feriado. O Rio de Janeiro comemora o 20 de janeiro. Sem contar que no dia do funcionário público eles param.


Por que 21 de abril é feriado, Dia de Tiradentes, se já temos 7 de setembro?


Feriado demais.


Feriado que atrapalha.


São em torno de 20 (contando Carnaval). Se caem na sexta ou segunda, sábado morre.


Quem paga a conta?


Minha proposta: reduzir o número para feriados realmente relevantes.


Ficam:


1 de Janeiro – Dia da Ressaca, da Esperança.


Fevereiro de Carnaval – Em Festa Pagã não se mexe!


Abril da Páscoa – Pela beleza da mensagem do cristianismo e do chocolate.


7 de setembro – Nosso grande aniversário patriótico


20 de novembro – Dia da Consciência Negra


25 de dezembro – Natal


Talvez fique 1 de Maio. Pelos heróis tombados em defesa dos direitos dos trabalhadores.


E só.


Bancada da Bíblia vai chiar.


Donos de pousadas então…

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Published on November 22, 2015 15:04

November 18, 2015

Chatô e a carnavalização da política brasileira

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Neste ponto, concordo com Laurentino Gomes, quando diz que (em se tratando da Proclamação da Independência) existe heroísmo na história brasileira.


Curioso como de Machado a Lima Barreto, de Oswald a Mário de Andrade, a política brasileira é no fundo uma piada.


Não é a forma equivocada de se tratar do tema, porque atrai público e nos isenta da responsabilidade de nos posicionarmos ideologicamente num Estado que sempre perseguiu com ferro em brasa adversários políticos.


Mas nossa tendência de evitarmos falar a sério no cinema até de temas sérios merece uma temporada num divã.


Carlota Joaquina, uma sátira da família real, talvez seja o melhor filme de história já feito sobre o período.


Chatô segue a mesma correnteza: seria o filme Carlota Joaquina do Estado Novo.


O homem visionário que, do nada, montou um império de comunicações e o melhor museu de arte moderna do continente é retratado como a versão industrial de Macunaíma.


Não fizemos o filme Chatô como Cidadão Kane, não o levamos a sério.


Carnavalizamos a política como sempre.


O filme é surpreendentemente bom e provocativo.


Tem cenas sensacionais, como a abertura em que Chatô faz um churrasco antropofágico.


Os atores Marco Ricca, Paulo Betti, Andrea Beltrão, Eliane Giardini, Leandra Leal, Letícia Sabatella, estão ótimos.


Bem melhor que a aura John Wayne no personagem Dom Pedro I no filme Independência ou Morte dos anos 1970.


E que o dramalhão mexicano Olga.


Só me pergunto se um dia levaremos a sério e faremos filmes de personagens da nossa história sem a inspiração de Teatro de Revista.


Se retrataremos a Proclamação da República, a luta entre Deodoro e Floriano, Intentona Comunista, Integralismo, a fraude de Washington Luiz, JK, Jânio, Jango, o Golpe de 1964, a reunião do AI-5, Lacerda, a luta de Ulisses contra a ditadura, Herzog, Dom Paulo Evaristo Arns, o sequestro do bispo brasileiro, Rio Centro, a morte de Tancredo, tantos eventos e personagens políticos fascinantes e que mudaram o rumo da nossa história, sem o tom de uma comédia.


O cinema brasileiro foge da política, mas não foge da piada.


Tem uma dívida enorme com a nossa história.


E viva Glauber Rocha!

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Published on November 18, 2015 05:27

November 16, 2015

Hackers declaram guerra contra ISIS

Hackers declaram guerra contra ISIS


Um aliado inusitado na guerra contra o terrorismo se pronunciou ontem.


O notório grupo de hackers Anonymous declarou “guerra total” ao Estado Islâmico e conclamou todos os seus parceiros e aliados a atacar virtualmente a organização.


Com a máscara do personagem Guy Fawkes, o símbolo do grupo, um membro com a voz distorcida declarou, pelo Youtube:


“A guerra está desencadeada. Estes ataques não podem ficar impunes. Sim, vocês, parasitas que matam inocentes. Vamos caçar-vos, como temos feito desde os ataques ao Charlie Hebdo. Esperamos uma reação maciça de Anonymous. Vamos lançar a maior operação jamais realizada contra vocês, podem esperar um enorme número de ataques cibernéticos”


 



 


No vídeo, o membro do grupo apresenta condolências às famílias das vítimas do ataque em Paris.


A autenticidade foi confirmada pela Newsweek.


Anonymous é um grupo anarquista composto de usuários de múltiplos fóruns da internet, que atacam desde 2006 pedófilos a seitas como Cientologia.


Ninguém sabe precisar quantos membros tem, espalhados pelo mundo.


Em agosto de 2012, o Anonymous hackeaou o site do Ministério da Defesa da Síria, substituiu com uma imagem da bandeira pré-Bath, um símbolo do movimento a favor da democracia no país, assim como uma mensagem de apoio à Revolta na Síria.


Uma “livre coalizão de habitantes da internet”, o grupo se juntou através de sites como 4chan, Encyclopædia Dramatica e até o próprio YouTube, redes sociais. Não tem líder.


“Qualquer um pode se tornar Anonymous e trabalhar em direção a um certo objetivo…”, disse  um membro ao jornal Baltimore City Paper. “Nós temos essa agenda, na qual todos concordamos, coordenamos e seguimos, mas todos andam independentemente em sua direção, sem nenhum desejo de reconhecimento. Queremos apenas fazer algo que sentimos que é importante que seja feito.”

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Published on November 16, 2015 06:44

November 13, 2015

O mundo sem Love Story

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Filme Love Story não seria possível hoje.


“Love means never having to say you’re sorry”.


A frase é citada duas vezes. Foi traduzida por: “Amar é jamais ter que pedir perdão”.


Eu tinha 11 anos quando o filme foi lançado em 1970 nos EUA e veio para cá logo depois.


Vi no Drive-In da Lagoa, Rio de Janeiro, em que iam todos os amigos, o programa mais popular dos fins de semana carioca, e minha irmã mais velha, já com namorado, colocava eu e minhas irmãs no teto do carro, para ela namorar em paz, já que meu pai só a deixava sair se levasse os irmãos.


Passei a infância brincando de Love Story com minhas irmãs.


Depois de trocas de socos, sustos, perseguições pela casa, dizia ironicamente: “Amar é jamais ter que pedir perdão”.


Frase que na verdade deveria ser, se a tradução fosse literal: Amar significa nunca precisar dizer que se sente arrependido.


Ou culpado?


Em português, curiosamente, não existe uma tradução exata para o you’re sorry.


Love Story reprisa no Canal Cult.


É um filme lindo.


Graças ao genial roteirista Erich Segal, que estranhamente nunca emplacou outro grande roteiro.


Se tem uma hora e meia, a gente começa a chorar aos 40 minutos de filme, no começo do “segundo ato”, e não para mais.


Oliver Barrett IV (Ryan O’Neal), estudante bilionário de Harvard, que não sabe o que quer da vida, e tem uma relação tensa com o pai a quem chama de “senhor”, na verdade é um chato.


É Jeniffer Cavalleri (Ali Mac Graw), estudante pobre de música, de uma família ítalo-americana católica, quem carrega o filme (e a relação) nas costas.


Se conhecem na biblioteca.


Ela quem diz para ele, depois de um ataque do mimado: “Love means never having to say you’re sorry”.


O que ele diz para o pai na última frase do filme.


Ela é irônica, chama o namorado de “esnobe”, responde às crises existenciais do namorado com sarcasmo, é linda de morrer.


A relação (rico e pobre) não é aceita pela família dele. O pai o deserda, ele não tem como pagar as mensalidades da iniversidade mais cara dos EUA, ela vai trabalhar numa escola de crianças para sustenta-lo.


O amor dos dois é completo. É perfeito. É lindo. É possível?


Você já sabe o final. Ela tem 25 anos quando fica doente. Desabamos.


Love Story hoje em dia não seria feito.


Falta aquele toque de descrença nas relações dos novos tempos.


Faltaria a sacanagem, a intolerância. A ideia de que ninguém é perfeito, de que “casamento é assim mesmo”, “mulher é doida”, “homem é tudo igual”…


A utopia se extinguiu. O paraíso não existe.


Vivemos tempos do Tinder, da fugacidade do amor, do anti-herói, da busca do selfie perfeito, da autopromoção.


Faltaria Zygmunt Bauman no LS de hoje.


Hoje, um jovem não largaria a família bilionária, ostentaria.


Roubaria o carro mais caro da coleção do pai e sairia por aí a mil.


Uma garota não sacrificaria sua carreira em prol do namorado rico com problemas edipianos, mandaria relaxar com Rivotril 2,5 mg em gotas.


Falta sacanagem, dose de realidade, amigos e amigas dando conselhos errados.


Acabou o amor pleno.


Pena.


Sem contar que é um baita filme, é uma baita história, de um baita caso de amor. Que, como foi interrompido precocemente, não sabemos se o desamor chegaria futuramente.


Resta a nós um registro quase antropológico de como se via o amor, antes da era das ilusões perdidas.


E assisti-lo com lencinho na mão. Tem até a versão integral no Youtube. Dá pra assistir do celular.

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Published on November 13, 2015 07:06

November 11, 2015

A volta do inventor do “selfie-face”

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A dupla de modelos concorrentes, em que se encontram opostos arquetípicos e com diferenças complementares como Danton e Robespierre, Apolo e Dionísio, volta em 2016.


Derek Zoolander e Hansel, estrelas da sátira do mudo da moda, o filme Zoolander (2001), virão com a sequência Zoolander 2.


Hansel, Owen Wilson, anuncia que o filme prestará um tributo à banda Abba e aos grandes estilistas.


Enquanto Derek, Ben Stiller, lembra ao mundo que foi é ele o inventor “selfie face”, biquinho que se faz quando se tira um autorretrato.


E alguém discorda?


 


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Published on November 11, 2015 06:55

November 10, 2015

Por que homens não usam saia?

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O PL 5069, do controvertido presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que dificulta o aborto legal em caso de estupro e limita o atendimento das vítimas, foi aprovado graças à intervenção da bancada evangélica pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados, deu em manifestações nas ruas e no mundo virtual, em que se pediu um estado laico.

Cartazes com os dizeres “Útero Livre Já”, “Meu Útero É Laico”, “Meu Corpo Minhas Regras” se misturaram na Avenida Paulista e na Cinelândia aos que pediam “Fora Cunha! Fica Pílula”.

O movimento #AgoraÉQueSãoElas sugere que colunistas de jornais e da rede cedam seus espaços para vozes femininas ratificarem que o machismo brasileiro está enraizado nas nossas relações sociais, e que uma onda conservadora patrocinada por grupos religiosos estaria empurrando para trás avanços da sociedade.

Depois que uma menina de 12 anos, participante do programa Master Chef Júnior, da Band, recebeu mensagens de cunho sexual pelas redes, o coletivo Think Olga criou o movimento #meuprimeiroassedio, em que mulheres de todas as idades passaram a expor, com coragem e sem autocensura, experiências terríveis de assédio.

Ficamos horrorizados com relatos de amigas que nunca nos contaram histórias traumáticas que viveram na infância, adolescência, abusadas por primos, tios, amigos de pais, porteiros, desconhecidos, ou que viveram ontem. Um depoimento encorajou outros.

Detecta-se que existe uma cultura de desrespeito que vê a mulher como um objeto inferior. Homens que não conhecem limites abusam do poder e atacam impunimente, encoxam no trem, ônibus, metrô, acreditam que o corpo que a está à frente lhes pertence, não tem sentimentos, está à sua disposição.

Compartilhei dramas de amigas, me indignei com o atraso de um país que já deveria ter criado mecanismos de defesa para as mulheres não sofrerem constrangimentos e não serem vítimas da violência sexual (real ou virtual). Enquanto uma aluna da Geografia da USP, Luísa Cruz, um ano depois de ter sido atacada dentro do campus, volta a receber ameaças do perseguidor. Teve de recorrer às redes sociais, pois a universidade não colaborava com as investigações.

Para completar a semana de horrores, a atriz Taís Araújo foi atacada na web com comentários racistas e sexistas depois de postar uma foto no seu perfil, crime de injúria racial que já havia sido praticado contra a mulher do tempo do Jornal Nacional, Maria Júlia Coutinho, a Maju.

Sozinho, não posso fazer muito. Requisitado, farei o que precisam. Como ceder o espaço abaixo para a mulher que vive comigo, mãe do meu filho, filósofa Silvia Feola:


 


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Os deputados Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Marco Feliciano (PSC-SP) protestaram nas redes sociais contra pergunta do Enem que abordava o movimento feminista dos anos 1960. A questão pedia para o candidato relacionar um trecho extraído do livro O Segundo Sexo, da filósofa francesa Simone de Beauvoir, com movimentos sociais listados na prova. Para os deputados, a questão dizia respeito a uma doutrinação (partidária) sobre ideologia de gênero.

No Brasil, país que, como ex-colônia europeia, é fortemente influenciado pelas diretrizes do mundo Ocidental, a história do mundo sempre é contada a partir do prisma europeu. Simone de Beauvoir deveria soar como um nome familiar aos candidatos do Enem, dado que é uma das personalidades mais importantes do pensamento francês do século 20, e uma das raras mulheres que conseguiram ingressar no hall majoritariamente masculino da literatura. Para além disso, sua importância mundialmente reconhecida na luta da emancipação feminina deveria ser objeto de estudo aprofundado na educação brasileira: primeiro porque é um dos movimentos sociais recentes mais relevantes; segundo porque questionar o papel da mulher faria bem para o futuro de todos.

Mas “Simone é doutrinação”, pois gênero não existe, dizem. Será mesmo que somos todos iguais? Apenas alguém que nunca tenha se debruçado sobre as atividades chatas do dia-a-dia pode pensar que a relação mulher-lar não é socialmente imposta.

O machismo engoliu o movimento feminista e fez da luta pela emancipação da mulher uma luta pela aquisição de direitos iguais, leia-se, iguais aos dos homens. Mas devemos pensar na igualdade não somente como um conceito que abriga um bem em si, mas como um conceito que diz respeito a algo: igual a que e em quê. Simone e as conquistas do movimento feminista dos anos 60 nos deram a base para repensar a questão da igualdade não como uma igualdade sem mais, mas uma igualdade qualificada.

O fato de a mulher ser tratada como um igual, nos mesmos termos do homem, não significa que atingimos a igualdade necessária. Devemos comemorar que vencemos a barreira do mercado de trabalho. Mas ser feminista em 2015 é entender que o mesmo mercado de trabalho pelo qual lutamos é dirigido por homens, o que implica que não nos colocamos nele com as mesmas armas. O mercado de trabalho, tal como existe, é duro com a mulher. Por ele, sacrificamos nosso tempo com os filhos, com a casa, com a família. E se escolhermos sacrificar um pouco menos, descemos degraus profissionais.

Saudamos a revolução do terno como um direito do nosso guarda-roupa, mas não nos incomodamos com o fato de que em muitos lugares é proibido aos homens usarem saia e, até há pouco tempo, as mulheres amamentarem em público. As demarcações de gênero quase sempre recaem sobre os símbolos do gênero feminino, e nunca nos perguntamos seriamente por quê.

Ser feminista hoje é rever estruturas do mundo à nossa volta, para que possamos ser ao mesmo tempo mulher, trabalhar e cuidar dos filhos; ser mulher e ter plenos direitos sobre o corpo; ser mulher e escolher não ter filhos ou se casar; ser mulher e não ouvir bobagens na rua; ser mulher e poder ficar bêbada sem constrangimentos.

Nossa sociedade foi construída por todos com base na ordenação do mais forte, tanto no que diz respeito ao gênero como na hierarquia social. O caminho da mudança é buscar atender o que nos une: nosso gênero feminino. #AgoraÉQueSãoElas

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Published on November 10, 2015 05:27

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Marcelo Rubens Paiva
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