Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 2
April 23, 2020
Os países que não se isolaram pagam caro
A Suécia foi dos poucos países a ignorarem o isolamento.
Enquanto os vizinhos aderiam, alguns até de forma radical, como a Dinamarca, o primeiro a fechar as fronteiras, tudo rolava normalmente como se não houvesse epidemia, no fim do inverno escandinavo.
Os primeiros raios de sol da primavera lotaram os parques e praças.
Muitos se perguntavam se os suecos, povo de uma cultura e escolaridade elevadas, sede do Prêmio Nobel, é que não estariam certos.
Não estavam.
A experiência sueca, como a japonesa, fracassou.
Agora, pagam um preço alto.
Recado dado a quem ainda tem dúvidas de seguir as recomendações da OMS.
April 18, 2020
Rubem Fonseca e o Golpe de 64
Amigos meus e de Rubem Fonseca ficaram indignados, quando lembrei que ele trabalhou no Ipês (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais), instituto anticomunista financiado por empresários brasileiros e o governo americano, para achincalhar o Governo Jango.
Eu não sabia que lembrar disso no Twitter deixaria amigos ofendidos. Imaginei que era fato consumado, afinal o próprio assumira em 1990. Peço desculpas por ter levantado sua biografia polêmica no momento de luto. Errei.
Fui indelicado, insensível com o momento (e apaguei os comentários).
Sou dos maiores fãs de Rubem Fonseca, li de tudo, até romances, e meu livro Feliz Ano Velho, frase repetida por mim quando estava na UTI, é também uma homenagem ao seu Feliz Ano Novo.
Sempre dizia que fora influenciado por ele, e nunca tive rancor em relação ao seu passado, como também não tive em relação a posições políticas de outros escritores. Tomamos um café juntos, ao nos encontrarmos casualmente no Leblon, e falamos disso.
Eu sempre soube que ele teve um papel relevante no Ipês, que desgraçou a vida do país, especialmente da minha família; meu pai era o relator da CPI Ipês/Ibade, que descobriu a enxurrada de dólares americanos em contas de deputados, militares, jornalistas, para acender o duvidoso alerta de uma suposta ditadura comunista, e acelerar o Golpe de 64.
Por conta disso, meu pai foi cassado em 1964, exilado, morto e torturado em 1971.
O instituto foi fundado pelo conspirador-mor, general Golbery do Couto e Silva, em 1962.
Produzia peças de propaganda, filmetes, anúncios e artigos em jornais, assustando a sociedade conservadora brasileira com as ideias socialistas do novo governo.
Fazia propaganda exibida em cinemas e na TV, como:
Fonseca trabalhara como assessor de Antônio Galotti, ex-presidente da Light de 1956 até o final dos anos de 1970, um dos muitos empresários próximos dos militares, conhecido como o braço civil da ditadura. Foi quem o teria recrutado e o apresentado a Golbery.
Ele colaborou no Ipês desde o começo, em 1962.
Amigos me mandaram mensagens dizendo que ele saiu antes do golpe, ao descobrir o real sentido do instituto.
E que, apesar de décadas de silêncio, era absolutamente contra a ditadura militar; Feliz Ano Novo, livro de contos lançado em 1975, obra-prima do autor, foi censurado e recolhido das livrarias pelo governo militar; não sofreu censura política, mas de costumes, de um regime que o perseguiu.
Silêncio quebrado em 27 março 1994, quando escreveu para a Folha de S. Paulo [a carta toda, no final do post]:
“Eu atuava na área de estudos e divulgação de projetos. Foram preparados e enviados ao governo e ao parlamento, projetos de reforma agrária, tributária, bancária e administrativa, pelo que recordo, tendo sido dada aos mesmos ampla publicidade. À medida em que crescia a rejeição ao governo João Goulart na classe média, em setores empresariais, eclesiásticos, militares e também na mídia, no Ipês se desenvolveram duas tendências. Uma, fiel aos princípios que haviam inspirado a fundação do Instituto, manteve-se favorável a que as reformas de base por ele defendidas fossem implantadas através de ampla discussão com a sociedade civil, o governo e o parlamento; a outra passou a julgar a derrubada do governo João Goulart como única solução para os problemas políticos, econômicos e sociais que o país enfrentava.”
“A eclosão do movimento militar solucionou, no que me concernia, a controvérsia existente entre as duas tendências dentro do Instituto. Eu afastei-me completamente do Ipês e nunca me aproximei do novo governo, nem daqueles que o sucederam. Não era, como homem de empresa, nem sou agora, como escritor, favorável à ruptura da ordem constitucional em nosso país através de revoluções ou golpes de estado, militares ou civis. O grupo favorável à solução de força, em entrevistas e declarações, procurou destacar sua irrelevante e indireta participação nos acontecimentos políticos de março. Alguns, dessa tendência radical, e outros da corrente democrática, foram nomeados para cargos no governo Castello Branco e deram sua contribuição a mudanças administrativas e políticas que se realizaram, todos acreditando no patriotismo do seu engajamento.”
Foi o historiador uruguaio René Dreifuss quem revelou que Fonseca supervisionava a unificação de materiais de divulgação do Ipês.
Teria feito parte da equipe do Grupo de Opinião Pública encarregado de fazer doutrinação política elaborando linhas de análise para editoriais de jornais. A tarefa da unidade editorial era inserir comentários e opiniões na imprensa e divulgar artigos.
Segundo a jornalista Denise Assis (Globo, JB, Veja, IstoÉ, assessora-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de Propaganda e Cinema a Serviço do Golpe – 1962/1964), Fonseca teria também roteirizado alguns filmes do IPES.
Escreveu para o 247:
“Ali, José Rubem Fonseca exerceu todo o seu talento com a escrita e a sua objetividade para coordenar o Grupo de Opinião Pública. Cabia a ele não só redigir textos de propaganda a serviço do golpe, como também manter contato através de cartas com as empresas e instituições que pudessem colaborar financeiramente com o núcleo de conspiração. Escrevia a sindicatos – que quisessem contratar cursos para a formação de quadros com viés de direita – e artigos para serem distribuídos na imprensa, assinados por figuras de proa do empresariado. Sim, eles estavam ‘pari passu’ com os militares na preparação da derrubada do presidente eleito, João Goulart.”
Ao pesquisar a documentação do general Golbery, para uma reportagem para o Jornal do Brasil, ela descobriu que, num conjunto de 14 filmes de curta-metragem, eram de José Rubem Fonseca os roteiros concisos, ágeis e bem elaborados.
“Terminada a reportagem dediquei-me a escrever o livro: Propaganda e Cinema a Serviço do Golpe – 1962/1964, a fim de contextualizar toda esta engrenagem montada pelo Ipês de propaganda e mídia. Ali o foco era convencer a opinião pública a, não só a aceitar o golpe, como a torcer por ele”, afirma.
Continuo fã dele, e peço desculpas aos leitores e amigos que ficaram ofendidos. História e verdade, para mim, são visceralmente sagradas. Estarei sempre em busca delas.
Carta à Folha publicada em 27 março 1994:
Decidi escrever estes breves apontamentos para satisfazer a curiosidade de algumas pessoas que me perguntam por que teria eu participado, há mais de 30 anos, como escritor, da agremiação empresarial conhecida pela sigla Ipês. Em 1962 eu não havia ainda publicado meu primeiro livro, e sequer imaginava que, um dia, escrever seria a minha profissão. Era diretor de uma empresa privada e como tal fui convidado por um grupo de colegas e amigos empresários, dirigentes das principais associações representativas do comércio e da indústria do Rio de Janeiro e de São Paulo, para participar da organização de um instituto inspirado nos princípios contidos na encíclica “Mater et Magistra” e baseado na ata da “Aliança para o Progresso”, documento conhecido como Declaração da Punta del Este, elaborado em 1881 pelos países das Américas, entre eles o Brasil.
O Ipês (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) tinha como finalidade, “por meio de pesquisa objetiva e livre discussão, chegar a conclusões e recomendações quanto às diretrizes das atividades econômicas, no sentido de contribuir para o fortalecimento da democracia brasileira, de modo a acelerar o desenvolvimento do país, assegurar uma melhor distribuição da renda nacional, elevar o padrão de vida do povo e preservar a unidade nacional mediante a integração das regiões menos desenvolvidas”. A conclusão e recomendações do Instituto seriam levadas a todas as camadas do povo brasileiro, a começar pelos empresários, e também ao governo, “a fim de que todos se tornassem conscientes e solidários na obtenção de soluções democráticas para os problemas do país”.
No ato de fundação do Ipês a Assembleia Geral me escolheu como um dos diretores do Instituto. Toda a direção era composta de empresários que continuavam trabalhando em suas companhias e não recebiam remuneração pela sua colaboração. Havia também um quadro de funcionários distribuídos pelos vários setores do Instituto, que era financiado pela contribuição mensal ostensiva, e legalmente contabilizada, de associados, na grande maioria empresas de todo o país. O início de suas atividades teve uma extensa cobertura da imprensa. Eu atuava na área de estudos e divulgação de projetos. Foram preparados e enviados ao governo e ao parlamento, projetos de reforma agrária, tributária, bancária e administrativa, pelo que recordo, tendo sido dada aos mesmos ampla publicidade. À medida em que crescia a rejeição ao governo João Goulart na classe média, em setores empresariais, eclesiásticos, militares e também na mídia, no Ipês se desenvolveram duas tendências. Uma, fiel aos princípios que haviam inspirado a fundação do Instituto, manteve-se favorável a que as reformas de base por ele defendidas fossem implantadas através de ampla discussão com a sociedade civil, o governo e o parlamento; a outra passou a julgar a derrubada do governo João Goulart como única solução para os problemas políticos, econômicos e sociais que o país enfrentava. O governo Goulart, que se sentia, com motivo, cercado e pressionado, decidiu atacar. Uma CPI, envolvendo o Ipês, foi instaurada por parlamentares governistas para avaliar a influência do poder econômico nas eleições; constantes ameaças de punições fiscais e de outra natureza passaram a ser feitas aos dirigentes e associados do Instituto.
A eclosão do movimento militar solucionou, no que me concernia, a controvérsia existente entre as duas tendências dentro do Instituto. Eu afastei-me completamente do Ipês e nunca me aproximei do novo governo, nem daqueles que o sucederam. Não era, como homem de empresa, nem sou agora, como escritor, favorável à ruptura da ordem constitucional em nosso país através de revoluções ou golpes de estado, militares ou civis.
O grupo favorável à solução de força, em entrevistas e declarações, procurou destacar sua irrelevante e indireta participação nos acontecimentos políticos de março. Alguns, dessa tendência radical, e outros da corrente democrática, foram nomeados para cargos no governo Castello Branco e deram sua contribuição a mudanças administrativas e políticas que se realizaram, todos acreditando no patriotismo do seu engajamento.
Mais tarde, quando já começava a me dedicar ao ofício de escritor, meu livro “Feliz Ano Novo”, sob o pretexto de ser “pornográfico e contrário à moral e aos bons costumes”, foi proibido, por um dos governos militares, de circular em todo o território nacional. Junto com a proibição, veio a ordem de que todos os exemplares existentes nas livrarias e no depósito da editora fossem apreendidos. Acusaram-me de fazer a “apologia do crime” em minha literatura; influentes políticos e autoridades do go- verno militar declararam publicamente que, além de ter meu livro proibido, eu devia ser preso por minhas “atividades imorais, subversivas e criminosas.” Isso me levou a manter uma longa e dispendiosa ação judicial contra a União. Fui condenado em primeira instância. Só consegui ganhar a causa nos tribunais superiores, depois de 13 desgastantes anos de uma prolongada batalha jurídica, graças ao extraordinário empenho e competência dos meus advogados.
April 11, 2020
Pandemia no Brasil pode ser catastrófica
A falta de senso coletivo faz do direito de ir e ir sobrepor o dever de não colocar a saúde de outros em risco.
Quando o chefe da Nação, o único líder do mundo a não seguir regras de distanciamento social, sai às ruas, cumprimenta as pessoas e diz que tem o direito de ir e vir, quem segue as regras e teme a extensão do covid-19 entra em pânico.
Pois a fuga do isolamento dele, incentivando outros a fazerem o mesmo, implica em mais tempo de isolamento nosso, mais gente nos hospitais e mais demora para retomarmos as atividades.
Tudo leva a crer que o Brasil pode ter um dos piores cenários da pandemia. O embaixador da Alemanha, Georg Witschel, pede retorno imediato de cidadãos no Brasil por causa da covid-19. “Há temores de que a situação aqui se agrave rapidamente”, alertou.
O otimismo que havia, por termos sido um dos primeiros a adotar a quarentena, por estarmos no verão e termos um SUS forte e experiência com epidemias virais, se desfaz.
O frio começa a chegar. Tudo que nos outros países deram certo, aqui não funciona:
Testar o maior número de pessoas. Aqui faltam testes.
Monitoramento dos casos positivos. Aqui, não rola.
Lockdown. Aqui não houve.
Ficar em casa. Aqui, relaxam.
Faltam máscaras e luvas para todos.
Sem contar que nos países que estão sendo bem-sucedidos no combate à epidemia, não existe uma população desassistida de rua, nem uma quantidade expressiva de habitantes vivendo na informalidade, sem água, esgoto ou em barracos amontoados, garimpeiros entrando em terras indígenas, madeireiros invadindo reservas. Estamos ferrados.
O texto da amiga jornalista Lorena Calabria, publicado no Insta, é um alerta:
@lorenacalabria “Tudo indica que sim”, disse o médico. POSSO TESTAR? “Como são poucos, os testes devem servir a profissionais da saúde e pacientes em estado grave.” Penso: alguém precisa mais do que eu, certo? QUANDO COMEÇOU? Dia 16/3: dor de garganta e tosse seca. Durante a semana, DORES INTENSAS pelo corpo. Fadiga extrema; não conseguia ficar em pé. Perdi olfato e paladar. Tive calafrios e FEBRE (38C), que oscilou por 5 dias
PIORA na 2a SEMANA: mais sintomas: tontura, dor no abdômen, enxaqueca no meio da madrugada. No 10°dia, começa FALTA DE AR. 12° dia, acordo ofegante, pressão no peito. Médico recomenda ir ao hospital. Nível de oxigênio no sangue normal, mas… tomografia mostra INFILTRAÇÃO no PULMÃO direito. Tive medo do que poderia vir depois. Respirador? Vou ser entubada? Coração e rins, vão aguentar? Me deram alta; fui pra casa. Decidi não ler mais sobre casos graves e óbitos. Já sabia o suficiente
PRESCRIÇÃO MÉDICA: antibiótico (para evitar infecção secundária), remédio pra tosse, além da dipirona que já tomava para diminuir as dores. Parti para dieta líquida. Era o que conseguia engolir.
April 6, 2020
Isolamento horizontal salva a economia
Situações de crise precisam de raciocínios contrários.
A queda de mortes na Itália, Espanha, França, a estabilidade dos índices na Alemanha, seguindo a queda dos países asiáticos, é uma notícia a ser comemorada, com uma lição a ser captada.
Os países que implementaram isolamento horizontal poderão voltar as atividades econômicas antes dos que não implementaram.
Se China e Europa voltam à normalidade, o mundo ganha, especialmente exportadores de commodities, como o Brasil.
Portando, diferentemente do que defendem o presidente, alguns aliados, o Gabinete de Ódio e sua holding de fake news, cujos robôs espalham a epidemia do caos, lockout temporário é a saída para a estagnação econômica (o temor dos governantes).
Se este isolamento for entre dois e três meses, pode-se retomar antes do fim do ano a normalidade no Brasil.
Lembra um paradoxo estatístico, que alguns falam que é lenda.
Durante a Segunda Guerra, um departamento de estatística analisava os aviões que voltavam das batalhas.
Destacavam as áreas com mais marcas de balas, onde a estrutura deveria ser reforçada (as marcas em vermelho dos desenhos).
Porém, o matemático Abraham Wald, austríaco que fugiu da ocupação nazista, destacou que, o contrário, não deveriam reforçar as áreas mais atingidas, mas sim as sem marca nenhuma, como os motores, por exemplo, pois os aviões que receberam tiros nas áreas destacadas voaram de volta, os que foram atingidos nas áreas sem marcas não voltaram.
Ninguém analisara as marcas de balas nos aviões que não voltaram.
O que prova que, por vezes, a resposta mais importante está na informação que falta.
April 2, 2020
A simetria dos aviões parados
O lockout por conta da pandemia do Covid-19 deu numa incrível simetria de aviões estacionados em aeroportos de todo planeta.
São fotos publicadas na Reuters, Business Insider, Forbes, de aeroportos espalhados pelo mundo.
Um retrato angustiante dos dias de hoje.
March 31, 2020
A série tosca e a genial
HBO colocou no ar duas séries premium (de orçamento alto) simultaneamente: a terceira temporada de Westworld e The Plot Against America.
A primeira tem um roteiro tosquíssimo. A segunda é absolutamente genial.
A primeira é escrita por um time enorme, inexperiente, cujo showrunner, J. J. Abrams, fez filmes de ação, com boa bilheteria, mas intelectualmente limitados.
A segunda é de David Simon, no time dos quatro maiores showrunners da TV mundial, que a mudaram para sempre e deram na Terceira Era de Ouro (com David Chase, de Sopranos, Mattew Weiner, de Mad Men, e Vince Gilligan, de Breaking Bad e Better Call Saul).
Simon é o autor da histórica The Wire. Dos quatro, é o mais inquieto e atuante. Emplacou ainda Generation Kill, Treme, Show me a Hero e The Deuce, todas da HBO, todas geniais.
Com o parceiro Ed Burns, adaptou o atualíssimo livro de Philip Roth, sobre a possibilidade dos EUA entrarem numa era de autoritarismo, com inspirações fascistas.
Segue a linha do “se”, criada por Philip Dick em O Homem do Castelo Alto: e se os americanos tivessem eleito em 1940 o antissemita Lindbergh, o herói aviador e antipolítico, ao invés de Roosevelt, e aderido a Hitler?
No país da liberdade, entra uma retórica autoritária de intolerância e ódio, antissemita, racista. Como aliás temos visto por aí.
Qual o problema de Westworld? A primeira temporada prometia. A premissa era genial: um parque temático em que humanos realizam fantasias das mais controversas no Velho Oeste americano lutando contra androides.
Os roteiros eram bons, a maioria da dupla Lisa Joy & Jonathan Nolan, a série suscitava discussões filosóficas, nos fazia pensar, imaginar, repensar.
Na segunda temporada começou a afundar. O que era boa ideia, virou um massacre sem sentido.
Agora, na terceira, saiu o parque e entrou uma Los Angeles futuristas muito bem retratada. E a vingança de uma androide.
Porém, já não se sabe mais quem é robô ou não, quem é humano ou holograma, o que verdadeiro ou falso. Uma quantidade enorme de frases feitas poluí o belo cenário. Tramas vazias, personagens sem camadas complementam a pobreza dos conflitos.
Bem, já não tinha ganho um prêmio de roteiro nas temporadas anteriores.
Por que, apesar do orçamento milionário, não contrataram bons roteiristas?!
Como escritor, me revolto!
March 26, 2020
Pinel do Planalto
Imagine o climão nas rampas, curvas, corredores e salas do Palácio do Planalto, desenhado por Oscar Niemeyer, aliás, comunista de carteirinha…
Generais cruzando burocratas, desviando-se de hackers fanáticos, do Gabinete do Ódio, que ocupa com destaque no terceiro andar, babando por novas fake news e memes que denigram opositores, neguem a ciência.
Todos evitando o contato próximo, o cumprimento, espremendo recipientes de álcool gel a cada cinco metros.
Generais, majores, capitães, quem é quem?
Alguns contraíram o novo Coronavírus no avião que voltou da Flórida com a comitiva presidencial, que mais parecia uma bomba biológica.
Outros contraíram desses.
Tem aqueles que testaram positivo saíram da quarentena bem antes do prazo determinado. E circulam sem máscaras.
E dois do ciclo íntimo estão com o vírus, mas seus nomes não são divulgados. Imagine a noia? É aquele ou este?
Apostam em quem está com o Covid-19?
No quarto andar, um líder possesso, comprando briga com governadores, prefeitos, líderes da Câmara e Senado, imprensa, negando dados científicos, berrando em lives, soltando palavrões, impropérios, descontrolado, prestes a entrar em colapso.
Grita sem parar: “Gripezinha! Gripezinha!”
Por vezes, aponta: “Você!” E convida para fazer flexões. Quem vai recusar. Deve-se ir até o chão? Mas ele só balança a cabeça…
Quem manda mais, o general ou o filho do homem?
Qual filho manda mais?
Num canto, religiosos puxam reza, a todo instante rogam pragas e clamam pela imunidade, pedem perdão por seus pecados, rezam sem se darem as mãos, repetem mantras bíblicos sem parar.
Secretárias não sabem se a vestimenta condiz com a norma da nova moral conservadora.
Se devem prender os cabelos.
Funcionários tiram brincos, adornos, qualquer elemento que deixa em dúvida a devoção pela família cristã e o gosto sexual.
Alguns tiveram que se mover com cuidado, controlar gestos, mudar o tom de voz: homens falam grosso, mulheres falam maternalmente, para não gerar falatório.
No entra e sai, mais malucos chegam.
Ministros que bloqueiam bolsas, sugerem demissões de trabalhadores no período de crise, procuram formas de não aposentar quem deveria, fazem contas sem parar: Onde cortar? Onde cortar?
Que climão…
March 23, 2020
Bolsonaro não poderia assumir a doença
Existe a suspeita de que o presidente esteja contaminado pelo novo Coronavírus. Todos negam.
São muitos indícios: a contaminação revelada do seu ciclo íntimo (incluindo seguranças) que o acompanhou à Flórida, comeu no mesmo bufê, do mesmo resort, e se apertou num avião.
Porém, Jair Messias quer passar a imagem de super-humano: sobreviveu a uma facada, uma “gripezinha” não iria derrubá-lo.
O sobrevivente de um atentado, se contaminado, seria pego pela doença cujo poder de letalidade ele nega.
Seria responsabilizado, já que passaria a imagem de que ele e sua equipe foram alguns dos que trouxeram a doença para o país.
Pior, que espalhou pelos assessores e eleitores, com quem teve contato direto.
Seria uma derrota diante da ciência, que ele desqualifica.
Teria que abaixar a cabeça, escutar, ler relatórios e ouvir cientistas, tudo o que ele detesta.
Seria dar importância a universidades e institutos de que ele tira verbas, confiar em livros extensos, ver experiências praticadas em países adversários, como a China, assumir o desmonte do seu sistema de saúde pública e a incapacidade de gerar crises.
Seria uma derrota diante da imprensa alarmista, que ele desqualifica.
Seria dar espaço e poderes a governadores.
Para Jair Messias, se estiver mesmo doente, melhor continuar negando, escondendo laudos dos seus médicos militares.
Jamais se afastar do poder, a que ele se agarra com ameaças e protegido pelas Forças Armadas.
Bolsonaro, se estiver doente, negará sempre.
Se não estiver, de fato é um sobrevivente.
E daqui a uns anos, a verdade será revelada.
March 20, 2020
Casa de praia não é local de quarentena
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Caiçaras pedem para veranistas não viajarem
Muitos pensaram em sair de São Paulo e ir para a casa de praia da família ou uma pousada. Eu pensei. Seria bom para um isolamento saudável e ocupar a molecada.
Desistimos, pois os locais já têm problemas de sobra para receber visitas e vetores, portadores do vírus, lixo e nossos problemas.
Fizemos bem.
A SABU (Sociedade Amigos de Barra do Una), uma das entidades mais ativas e conscientes do Litoral Norte de SP, soltou uma nota a seus associados, que têm casa numa das praias mais preservadas e organizadas da região.
Primeiro, que lá a recomendação é evitarem as praias. Estão fechando hotéis, pousadas, bares, marinas. Ficam abertas as vendas, farmácias e supermercados para os próprios moradores.
Lembram que o hospital mais próximo fica a 60 quilômetros, e não tem leitos nem médicos para futuros atendimentos. Ou seja, servem aos locais, em torno de 85 mil habitantes.
Não tem medicamentos para todos.
Segundo a nota, tem cidades que pedem para as pessoas saírem das praias.
A própria sociedade de amigos vai dar licença a seus 14 funcionários.
De fato, eles têm toda razão:
Amigos e Associados. PREVENÇÃO É TER CONSCIÊNCIA.
Todos enfrentando um inimigo oculto e sem saber exatamente como fazer para combatê-lo. Mas uma coisa é certa. CONTATO COM PESSOAS E OBJETOS é o principal transmissor da doença. Resolveu vir passar a quarentena em Barra do Una ou outro bairro do litoral? Ok. É Seu direito. Mas vamos parar para pensar:
Não estamos em férias… Estamos em quarentena. Vai fazer a quarentena em sua casa de praia? Quem disse que sua casa de praia já não está contaminada com o vírus? De que maneira isso pode ocorrer? De todas as maneiras: seu (s) funcionário(s) normalmente trabalha(m) em outras casas além de ter família e amigos. Para ele sair de casa ou pegou um ônibus, ou veio com a bicicleta comunitária de sua família, ou veio de moto ou de carona… Veio a pé, mas deu a mão para seus amigos no caminho? Saiu de casa todo desinfetado? Entrou em sua casa e se desinfetou? Para entrar em sua casa ele colocou a mão na maçaneta, pegou em objetos vários incluindo móveis, usou seu banheiro, usou seu copo para tomar água, etc, etc, etc. O vírus pode estar lá.
Você para sair de sua casa fará as mesmas coisas, vai fazer compras no supermercado, padaria, parou para encher o tanque no posto de gasolina, foi ao banheiro, parou na estrada para comprar frutas, parou para tomar um café, etc. Chegou em sua casa de praia e tudo começa novamente.
São Sebastião tem SOMENTE 1 hospital situado a 60 km de distância de nosso bairro. Quantos leitos tem? Pouquíssimos. Quantos médicos tem? Pouquíssimos. Além do que não consegue dar conta de atender aos munícipes que são 85.000 pessoas que dirá aos turistas. Posto de Saúde com estoque de medicamentos que não sabemos se estão preparados para os primeiros atendimentos deste NOVO VÍRUS.
Podemos ficar falando e discutindo se devem ou não sair de suas casas e vir ao litoral, mas uma coisa é certa. HOJE NENHUM LUGAR É MAIS SEGURO DO QUE EM SUAS PRINCIPAIS CASAS, OU SEJA ONDE VOCÊS MORAM. No litoral, temos orientação de que NÃO devemos ir à praia. Não devemos sair de nossas casas. Outras cidades litorâneas já estão retirando frequentadores da areia. Em São Sebastião estão iniciando esta ação. São 14 praias só na Costa Sul. Outras cidades estão tomando atitudes mais drásticas. O mundo está fechando e parando. Barra do Una é pequena e não comporta as casas cheias de pessoas tentando fugir do vírus que pode vir junto com elas. Haja vista a temporada onde milhares de pessoas vem para Una e nos deixam o lixo todo além de tanto transtorno. Agora é vez de pensarmos mais na a saúde e menos no lixo.
Raou Cardinali Jr
Presidente Sabu
March 18, 2020
O timing errado de Bolsonaro
Aquele que muitos consideram um gênio inovador no marketing político, cuja estratégia de desacreditar as instituições é clara, cometeu um erro grave ao ignorar o pânico e a pandemia do novo Coronavírus.
Bolsonaro é transparente.
Com uma família encrenqueira, com suspeitas de envolvimento com milícias, emprego de funcionários fantasmas e enriquecimento ilícito, faz campanha diária para desacreditar a imprensa.
Em seu favor, uma militância digital paga e voluntária, na sala vizinha ao gabinete, para inundar as redes com a sua versão dos fatos.
Se a Justiça julga seus crimes, ele ameaça fechar os tribunais e promove manifestação contra ministros do STF. Sem contar o aliado forte no comando da Polícia Federal.
Se o Congresso atrapalha seus planos e investiga os filhos, grita AI-5, ato que o fechou em 1968 e 1977.
Com uma nítida inabilidade para lidar com assuntos econômicos e o contraditório, cerca-se de militares, que ganharam privilégios na Reforma da Previdência, como uma casta superior da sociedade brasileira.
Quem ousaria nivelar a aposentadoria de quem tem armas, tanques, aviões, submarinos e navios, e uma tropa disciplinada?
Porém, dessa vez, comentário geral, foi longe demais ao tratar a pandemia, sua segurança e a saúde dos outros (aliados) com desdém.
Às 22h de terça, dia 17/03, um panelaço espontâneo contra ele vibrou pelo centro expandido de São Paulo e zona sul carioca. Foi a primeira manifestação de peso contra seu regime.
Dos cinco assuntos mais discutidos no Twitter, nesse horário, estavam em primeiro #AcabouBolsonaro, #ForaBolsonaro e #BolsonaroNaoEmaisPresidente.
Dessa vez, não se pode culpar a imprensa “lixo”.
Para o dia seguinte, hoje, dia 18/03, está marcado outro, às 20h30. Panelaços, sabemos no que dá.
Aliados fieis jogam a toalha.
Os autores do impeachment de Dilma, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal, pedem o afastamento do presidente por razões psíquicas e físicas.
Dessa vez, os preceitos do guru Olavo de Carvalho, desacreditar o inimigo sempre, espalhar o ódio e o caos, não surtem efeito, diante de um país angustiado e assustado.
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