Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 4

November 23, 2019

Em debate o retrocesso dos Direitos Humanos

O que aconteceu com o Brasil?

É um fenômeno global? Como chegamos ao ponto em que criamos uma sociedade tão desigual, em que cada um perde a empatia pelo outro?

Como o preconceito, racismo, a homofobia e a xenofobia se espalham tal qual uma sociopatia epidêmica?

Por que sentamos em cima da nossa vocação tolerante e, como apontou Hegel, essência altruísta?

Em foco, a ameaça à convivência e instituições democráticas.

O Dia Internacional dos Direitos Humanos vem aí (10/12), e o Pacto pela Democracia convida ativistas, pesquisadores e lideranças para refletir sobre os rumos da democracia e fortalecer o compromisso de todas e todos com a defesa das liberdades e do Estado de Direito.

Junto com Keitchele Lima (Educafro), Oscar Vilhena (FGV), Zé Álvaro Moisés (USP), Karla Recife (Frente Favela Brasil), Iago Montalvão (UNE), Nicole Verillo (Transparência Internacional Brasil), Samuel Emílio (Acredito), Oded Grajew (Programa Cidades Sustentáveis), Katia Maia (Oxfam Brasil), Rogério Sotilli (Instituto Vladimir Herzog) e a mediação de Raul Santiago (Coletivo Papo Reto).

Será no dia 02 de dezembro, das 8h às 22h, no Teatro Fecap (Av. da Liberdade, 532,  São Paulo).

A inscrição é gratuita pelo site:

https://www.emfrentepelademocracia.org/#participe

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Published on November 23, 2019 05:39

November 21, 2019

Polanski acumula seis acusações de abuso sexual

Em 8 de novembro, a fotógrafa Valentine Monnier acusou Roman Polanski, que acaba de estrear J’Accuse, filme baseado no Caso Dreyfus, de a violentar quanto tinha 18 anos em 1975. E a condescendência dos franceses com os abusos do cineasta começa a se dissipar. Especialmente depois que Adele Haenel (atriz francesa) fez um depoimento na semana anterior à estreia do filme, revelando que foi abusada sexualmente quando adolescente pelo diretor Christophe Ruggia. O que gerou um escândalo imenso numa sociedade tolerante com seu colega Polanski.

Já é a sexta acusação de abuso sexual e estupro contra adolescentes:

Samantha Gailey, abusada sexualmente em 1977 em LA aos 13 anos, que o perdoou em 2003 [acima].

Charlotte Lewis, atriz inglesa, que o acusa de ter sido forçada a ter relações sexuais aos 16 anos no apartamento dele em Paris em 1983.

Robin M. o acusa de ter sido agredida sexualmente aos 16 anos em 1973. Não queria que o pai se envolvesse, por isso não falou nada na época.

Renate Langer foi agredida sexualmente por ele quando tinha 15 anos, em 1972, na casa dele em Gstaad, na Suiça, com detalhes revelados pelo New York Times.

Marianne Barnard, atriz americana. Aos dez anos, Polanski tirou fotos dela nua em 1975 em Malibu. E depois a violentou. Ela postou a acusação no Twitter, durante o escândalo Weinstein, e confirmou ao The Sun.

Ele segue contestando firmemente as acusações.

O protagonista de J’Accuse, Jean Dujardin (Oscar de melhor ator por O Artista), evita falar sobre o assunto na divulgação do filme, acusado de ser uma tentativa do próprio diretor de livrar a sua barra, ao se comparar com o caso emblemático de injustiça cometida no julgamento fraudulento de traição do oficial Alfred Dreyfus, de origem judaica.

Dujardin não aguentou a pressão e cancelou uma entrevista ao Journal de 20h de TF1, o mais importante da TV francesa.

Polanski é persona non grata nos EUA, por ter fugido durante o julgamento do estupro de Samantha Gailey.

Dá para separar o homem do artista?

A cineasta Lucrécia Martel, presidente do júri do festival de Veneza, não participou da sessão de gala do filme em respeito às vítimas sexuais do diretor franco-polonês.

Mas muitos o apoiam. Bernard-Henri Levy disse à New Yorker que foi um “desvio da juventude” do cineasta genial. Apesar dos fatos rolarem quando Polanski já tinha mais de 40 anos.

Tarantino disse recentemente ao radialista Howard Stern que Samantha não teria sido violentada, pois tinha um relacionamento afetivo com o cineasta que retratou no seu filme mais recente, Era Uma Vez em Hollywood.

O polêmico filósofo francês Alain Finkielkraut declarou em 2009 que Samantha “não era uma pequena menina, mas uma adolescente que fazia fotos nuas”. Até o cineasta Costa-Garvas o defendeu, ao lembrar que a vítima o perdoara.

Catherine Deneuve também o defendeu ao dizer que a menina era já uma adolescente, que não parecia ter 13 anos, e que a palavra “estupro“ é excessivamente forte.

Nomes de peso, nem a obra rica e marcante, não apagam o passado pedófilo condenável do cineasta. E os depoimentos das vítimas trazidos à baila ainda hoje mostram que a violência, lógico, nunca foi superada.

Ele é considerado fugitivo pela Justiça americana. Mas, por ter cidadania francesa, é um homem livre.

Nota-se que existe uma diferença entre o Wikipédia americano e o francês sobre Polanski.

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Published on November 21, 2019 05:49

November 18, 2019

Nazismo no Brasil

Os nazistas estiveram por aqui nos anos 1930. E suas ideias nunca nos deixaram.

Se foram em busca de tesouros perdidos no Egito, não deixariam escapar a chance de xeretar a Amazônia. Aportaram no Amapá, quando ainda era território, e se aliaram aos Aparais.

Num pequeno cemitério, existe a prova da sua visita: um monumento com quase três metros de altura com uma suástica [acima].

O marco é visível do rio. É o legado de uma expedição da Alemanha nazista à Floresta Amazônica. A inscrição nele indica, em alemão: “Joseph Greiner morreu aqui de febre amarela em 02 de janeiro de 1936 a serviço da pesquisa alemã “.

Greiner era do grupo de pesquisadores alemães que, por dois anos, instalou uma colônia nazista. O plano era subir e se espalhar pela Guiana Francesa, Holandesa (atual Suriname e Guiana). O cemitério continuou a ser usado pelos indígenas por muito tempo: na cachoeira de Santo Antônio, da usina hidrelétrica do mesmo nome.

Segundo o historiador Edivaldo Nunes, da Universidade Federal do Amapá, a expedição que foi organizada pelo número dois do reich, Hermann Göering, desembarcou em Belém no verão de 1935.

Declararam às autoridades de imigração que vieram em missão de paz estudar a geografia, a fauna e os povos da região amazônica.

Saiu até em jornais do Rio de Janeiro: um dos líderes da expedição, Otto Schulz-Kampfhenkel, chegou a ir à capital pedir uma autorização especial do governo brasileiro do dúbio Getúlio Vargas.

O fascismo esteve organizado por aqui no Movimento Integralista, tinha uma simbologia própria, marchava saudando seu líder, Plínio Salgado, e foram caçados por Getúlio, quando o Brasil, enfim, estrou na aliança que combateu o nazifascismo na Segunda Guerra, em troca de dinheiro, uma siderúrgica (CSN), equipamento e aeroportos (como os de Belém, Natal, Recife e Fernando de Noronha, a ponte aérea para combater na África e Itália).

Depois da guerra, criminosos nazistas notórios se instalaram por aqui. Como o médico Josef Mengele.

Durante a ditadura, entre 1967-68, o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) foi atuante no tiroteio da Maria Antônia, contra estudantes de USP, e em invadir teatros e espancar atores da peça Roda Viva.

A antropóloga Adriana Abreu Magalhães Dias (Unicamp) pesquisa a ascensão da extrema-direita desde 2002.

Observando o Ódio é o título da tese de doutorado, em que observou sites, blogs, fóruns e comunidades neonazistas

Ela que também é programadora trabalhou com muitas ferramentas, várias delas pouco conhecidas pela antropologia, como Gephi e N*Vivo, e principalmente a rede Thor, a fim de acessar a denominada Deep Web: “Sou muito exigente com meus dados e, na primeira vez que os vi, achei que estavam mentindo, que não era possível o fenômeno ser tão grande. Levantei números de sites, postagens, downloads em redes, inscritos e postagens em fóruns, integrantes em comunidades como Facebook e Twitter. Há uma postagem antissemita no Twitter a cada quatro segundos; uma postagem em português contra negros, pessoas com deficiência e LGBTs a cada 8 segundos.”

Para a Revista da Unicamp, disse em 2018: “Em 2002, quando comecei a pesquisar a extrema direita no Brasil e no mundo, as pessoas não viam sentido nesse esforço, porque não acreditavam na existência de um movimento neonazista. Infelizmente, os dados apontaram para um caminho que se mostrou verdadeiro… No meu mestrado em 2007, a situação já estava muito mais grave do que quando iniciei as pesquisas. E, hoje, vivemos o que considero um tsunami do movimento da direita.”

“Trabalhei com algoritmos que buscam palavras-chave e criei ferramentas que fornecem extratos numéricos que eu não teria como manipular. Utilizei quatro ferramentas de análise quantitativa (no mestrado foram duas), sendo que uma confirma o resultado da outra. Quem mais gostaria que esses dados não existissem sou eu, mas se trata do meu objeto de pesquisa.”

Recentemente, ela identificou 334 células de grupos nazistas em atividade no Brasil. A maioria nas regiões Sul e Sudeste. Saiu no Portal UOL.

Os grupos se dividem em até 17 alas: hitleristas, supremacistas separatistas, de negação do Holocausto. Tem ainda três grupos filiados à KKK (Ku Klux Klan), duas em Blumenau (SC) e uma em Niterói (RJ).

O estado com mais células é São Paulo (99 grupos, 28 na capital). Seguido por Santa Catarina (69 grupos), Paraná (66) e Rio Grande do Sul (47).

Ela crê que existam mais de 300 mil simpatizantes do nazismo no Brasil.

E aponta três razões:

Recorre a Peter Gay: “O ódio é cultivado sobre um tripé. Em primeiro lugar está a crença na meritocracia: a ideia – resultante da má interpretação da teoria darwiniana – de que estamos em evolução e alguns mais aptos têm direitos conquistados ‘meritocraticamente’. Isso é uma farsa, pois nem todos saem do mesmo lugar.”

E exemplifica: como todas as crianças vão sair do mesmo lugar, quando temos a que tomou café da manhã e a outra, não, a que tem pai com salário de 40 mil, e a outra com pai ganhando salário mínimo ou desempregado?

O segundo instrumento do ódio é a construção de um “outro” conveniente, para justificar porque brancos nem sempre conseguem conquistar o melhor lugar “naturalizado”.

O “outro” teria roubado o lugar do branco. Quem é o outro? O gay, o negro, o imigrante, o judeu, o deficiente, que são construídos como inimigos do branco que deveria ter o lugar natural.

No terceiro elemento como o ódio se sustenta: o culto à masculinidade, vendo-se a mulher apenas como a receptora da raça, que vai dar a criança para o homem construir um novo mundo.

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Published on November 18, 2019 06:50

November 14, 2019

Bacurau versus Vida Invisível

A indicação para representar o Brasil no Oscar gera uma polêmica infrutífera, mas divertida: por que Vida Invisível, e não Bacurau, no Oscar?

Começou na imprensa. Como os dois estão agora nas telas, ela se entende para o bar.

Anna Muylaert presidiu a comissão com Amir Labaki, Ilda Santiago, Walter Carvalho e outros da Academia Brasileira de Cinema que decidiu pelo filme de Karim Ainouz, numa votação apertada.

Já ouvi até um exibidor ironizar: é a guerra fria entre Ceará e Pernambuco. Terras de Karim e Kleber Mendonça, os diretores.

O veterano crítico e professor de cinema, Inácio Araujo, é um defensor quase militante de Bacurau. Cita Glauber Rocha e entra em réplicas e tréplicas no jornal (Folha de S. Paulo).

Num surto nacionalista, chamou o colunista e colega, Demétrio Magnoli, de “direita civilizada”.

“… Bacurau é um filme sobre resistência e de resistência. Contra entrega do Brasil a estrangeiros (assassinos ou não), contra o neorracismo, contra a supremacia suposta das pessoas do Sudeste sobre as do Nordeste, pela vontade de viver contra a vontade de matar. É um filme direto, feito para ser compreendido por qualquer pessoa. É um cinema que busca se aproximar do público. De um público que aplaude a violência reativa ali representada, talvez porque a esquerda (e os democratas em geral) se sintam tão indefesos, tão incapazes de articular uma resposta à cotidiana barbárie instalada no país”, escreveu.

Outro crítico, Pedro Butcher, entrou no debate, e gostei de como começou: “E cá estamos nós de novo, discutindo o Oscar como se fosse uma coisa séria. Mas o pior é que é —especialmente nas circunstâncias atuais.”

É?

Virou obsessão nacional ganhar um. Especialmente porque a Argentina fez 7 x 0 – os hermanos ganharam com A História Oficial, O Segredo dos Seus Olhos, mais dois com o músico e produtor Gustavo Santaolalla e os roteiristas de Birdman, os argentinos Nicolás Giacobone e Armando Bó.

Glauber ignorava Hollywood e Oscar. Se recusava a dirigir produções “amé-ricanas”. No auto-exílio, foi para Itália, França, Cuba, Congo, não para LA.

Quanto contei para o roteirista Guilherme Arriaga que fiz faculdade de Radio e TV (hoje Audiovisual) na melhor universidade brasileira (USP), e que meu curso de roteiro durava quatro meses, ele quase caiu para trás. Em qualquer faculdade, o curso de roteiro costuma ser dois anos.

A falta de um Oscar enaltece nossos complexos.

Vamos ser felizes. Temos uma indústria forte, que precisa e pode ser sustentável: nossa BROLYWOOD.

E um mercado de 210 milhões de brasileiros, mais latinos e países de língua portuguesa.

E mais. Quem é obcecado pelo Oscar quer ganhar com um filme cujo bandido é um grupo de americanos invasores, e o ápice é quando um brasileiro estoura a cabeça do gringo? Tá doido?

Concordo com Butcher: “Dois elementos, a meu ver, tornavam as chances de Bacurau mais remotas: a violência gráfica (basta checar a lista dos indicados para ver a ausência de filmes violentos na categoria) e, sobretudo, a crítica aberta aos modos de dominação americanos. O liberalismo de Hollywood tem limites muito claros, e o mais gritante deles é o olho torto em relação a posicionamentos críticos explícitos às políticas do país.”

Como diria Caetano: “Viva Cacilda Becker!”

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Published on November 14, 2019 07:22

November 10, 2019

Meu caro Lula

Nos dias em que você ficou preso, as coisas aqui fora pioraram.

Na economia, política, natureza, relações pessoais e, sobretudo, na democracia.

Que é frágil e incompleta. Agora, até voltou a censura, que chamam de filtro.

Tudo do que precisamos é de um estadista que nos pacifique. O ódio que era exceção virou norma.

Ouvi com preocupações o discurso que você deu quando saiu da prisão.

Minutos antes, Gerson Camarote dizia na Globo News que fontes do PT afirmavam que seu discurso iria ser o do Lulinha Paz&Amor. Pelo visto, ouviu as fontes erradas. Ou você mudou de ideia.

Você tem muitos motivos para expor sua ira. A família sofreu. Perdeu esposa, um neto e o irmão no curto período entre acusação, julgamento, condenação e soltura.

Muitos viram através dos vazamentos da Intercept Br que seu processo foi manipulado por má-fé.

Até pessoas que não votaram no PT se enojaram quando o juiz que o condenou virou ministro logo depois exatamente do seu opositor. E do como ele se cala agora diante de tantos escândalos. O partido do presidente se esfacela. Até a direita rachou.

Você foi solto numa votação apertada e democrática pelo Supremo, baseada numa interpretação da Constituição.

E ainda em Curitiba atacou o juiz, promotor, presidente, ministros, e mesmo na cadeia sempre atacava parte da imprensa…

Quem sou eu para pedir moderação? Nos vimos pessoalmente apenas três vezes. Nem filiado sou.

Mandela saiu da cadeia depois de 27 anos (de silêncio) e foi de carro para casa.

Cem mil pessoas o saudavam pelas estradas. Por vezes, o carro era parado, subiam sobre ele. Mandela se assustou. Em casa, refrescou-se, recebeu um telefonema do arcebispo Desmond Tutu. “As pessoas querem ouvi-lo”, disse o Prêmio Nobel da Paz de 1984.

Mandela ficou tenso, pois deixara os óculos de leitura na prisão.

Então, o futuro Nobel da Paz de 1993 disse diante de uma multidão: “Camaradas e colegas sul-africanos, saúdo a todos vocês em nome da paz, democracia e liberdade. Estou aqui diante de vocês não como profeta, mas como humilde servo de vocês, o povo. Hoje, a maioria dos sul-africanos, em preto e branco, reconhece que o apartheid não tem futuro. Isso deve ser encerrado por nossa ação decisiva em massa. Esperamos muito tempo por nossa liberdade.”

Falou por meia-hora. “Honestamente, quando eu vi a multidão, devo confessar que eu estava sem coragem, confiança para falar para eles. Fui pego de surpresa”, escreveu em sua biografia.

Apesar de riots por todo país, ele pediu paz. E ela veio. Retirou oxigênio da fogueira. Foi eleito presidente.

Lula, sabe que agora são os radicais de direita que atacam a Globo, Folha, Estadão, que você tanto quis controlar e atacou?

A esquerda gritava “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo.” Agora é a direita quem grita “Globo Lixo“.

Precisamos nos pacificar. Nos ajude, cada paulada que você dá, mais razão dá aos extremistas, a direita se une, mais perde o cento, centro-esquerda e principalmente esquerda, movimentos sociais.

Paradoxalmente, mais perde a democracia. Sei que é duro.  Mas seja grande, político, conciliador, superior.

Passei ontem casualmente na Avenida Paulista. Tinha uma multidão de preto (luto) e verde-amarelo.

Protestavam contra sua soltura, o que me deixou perplexo, pois fora uma ordem do Supremo, e mesmo se não fosse, você seria solto em breve por cumprimento de parte da pena.

No Brasil, duvidam do VAR, duvidam de tudo, da ciência, ONGs, imprensa, Justiça, até da Constituição.

Agora, da democracia.

Tinham pessoas com a camisa da Seleção gritando “glória a deus”, que Bolsonaro é o presidente mais honesto que já tivemos, e que o Brasil não é Venezuela.

Apontavam para qualquer helicóptero que passava e gritavam: “Globo lixo”.

Num dos carros de som, discursava Modesto Carvalhosa, lembra-se dele? Advogado, jurista, grande ativista contra a ditadura. Chamava juízes do STF de bandidos. Chamou-o de “criminoso mor“.

Nos ajude, Lula. Você consegue.

Cale esses loucos com um discurso pregando normalização democrática, respeito às instituições.

Salve-nos da insana bílis do radicalismo.

Olha ele aí:

https://youtu.be/sZZuiIXNmk0

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Published on November 10, 2019 12:05

November 7, 2019

Textos de Marighella são reeditados

Enquanto o filme sobre Marighella baseado na obra de Mário Magalhães não estreia, a editora UBU lembrou-se do cinquentenário da sua morte.

A Coleção Explosante, reúne livros que procuram “convulsões criadoras”. Organizada e apresentada pelo filósofo Vladimir Safatle, reedita ensaios, cartas, manifesto e poemas de Carlos Marighella.

Incluindo textos que só circularam clandestinamente entre dirigentes e membros da esquerda armada, escritos durante a ditadura pelo líder da maior organização, a ALN.

Textos que eram tão perseguidos quanto o guerrilheiro, inimigo número um e exímio didático escritor, e que sobreviveram graças aos que enviaram exemplares para o exterior ou foram enterrados e bem escondidos por militantes sobreviventes.

O lançamento é parte do evento Chamamento ao Povo Brasileiro – 50 anos da morte de Marighella.

Será na terça-feira 12/11, 19h30, na Ocupação 9 de julho (Rua Álvaro de Carvalho, 427).

Com a presença da viúva, Clara Charf, do filho e sósia, Carlos A. Marighella, do ex-ministro Paulo Vannuchi e Maria Rita Kehl, Levante Popular da Juventude, Juçara Marçal e, claro, Vladimir Safatle.

Deputado Federal Constituinte pelo PCB, cassado logo sem seguida, rompeu com o Partidão depois do golpe de 1964, por considera-lo centralizado e omisso, e recebeu o aval de Fidel Castro em Cuba para iniciar a resistência armada no Brasil.

Sua obra, Manual do Guerrilheiro Urbano, foi best-seller em muitos países e inspirou as rebeliões juvenis pós-1968.

Para a luta, precisava de dinheiro. A ALN assaltou bancos, lojas de câmbio, que chamavam de “expropriação”, dinamites, armas, carros-fortes, trem-pagador, até o famoso sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, de que líder discordou.

A ALN era descentralizada, e GTAs (Grupo Tático Armado) independentes decidiam ações, cujo sequestro ousado, de terrível desfecho, resultou na prisão de muitos guerrilheiros.

O volume inclui seu livro integral Por Que Resisti à Prisão, de 1965, análise política do País, a ruptura com o PCB, escritos sobre a luta armada, incluindo Cartas de Havana, poemas e sátiras.

Sobre o livro, Safatle escreveu que “é digno de ser lido e admirado pela expressividade da escrita, a lógica da composição e a flama revolucionária de um lutador intemerato, mas tolerante, que era um marxista aberto, pronto para aceitar os matizes da realidade e a pluralidade das opiniões, dentro do pressuposto básico da aspiração a uma democracia popular, que abolisse a máscara dos regimes destinados a perpetuar o privilégio”.

“Para os que nos governam atualmente, este livro não deveria existir, ele não deveria estar entre suas mãos agora. Pois tudo está sendo feito, neste exato momento, para que Carlos Marighella seja um nome envolto em sombras, em silêncio e em mentiras. Tudo está sendo feito para que suas análises não sejam ouvidas, para que suas palavras não circulem, para que sua história desapareça. Um tempo histórico se define por aquilo que ele recalca e não quer saber. Há de se perguntar então porque os que procuram controlar nosso tempo querem que você nada saiba sobre Carlos Marighella”

A Explosante reúne livros como Petrogrado, Xangai, de Alan Badiou, Alienação e Liberdade, de Frantz Fanon, A Sociedade Ingovernável, de Grégoire Chamayou, Guerras e Capital, de Éric Alliez e Maurizio Lazzarato.

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Published on November 07, 2019 06:41

November 5, 2019

Quibi, o streaming para chacoalhar o mercado

Se uma plataforma consegue aporte de US$ 1 bilhão de gigantes como Sony, Disney, Warner Bros, Universal, MGM, Alibaba, PepsiCo, Walmart, P&G e outros, porque aí tem…

E tem, mesmo. A ideia do Quibi é genial e nasceu da observação de um usuário atento, Jeff Katzenberg.

O bilionário que produziu para a DreamWorks e a já presidiu a Disney, em que comprou a Pixar.

Sabe o tempo de espera do busão, voo, de uma corrida de Uber, ou a viagem de metrô, em que a imensa maioria fica na celular, especialmente na rede social?

Pode agora assistir a um conteúdo de cinco a dez minutos de um streaming especialista.

É a ideia do Quibi, que começará em 2020, com conteúdo das gigantes acima e próprio.

No primeiro ano, serão sete mil vídeos. O usuário que não quer pagar, vê anúncios. Se quiser pagar de UR$ 5 a US$ 8, vira premium, sem as interrupções de propaganda e com conteúdo maior.

Enfim, chegou a plataforma ideal para os MILLENIALS e a revolução já detonada por Porta dos Fundos e outros, que viram na internet a maior chance de visibilidade e, com isso, faturamento.

Programas de notícias ou aulas ao estilo TED entrarão no ar diariamente.

Detalhe de que não posso me esquecer: a plataforma será apenas para os celulares.

Quibi vem de quick (rápido) + bits.

Já vendeu mais de US$ 100 milhões em anúncios antes de ser lançado.

E tem nomes como Steven Spielberg preparando conteúdo para ele.

PS> não precisa ser um gênio TI para sacar que o grande concorrente é o menino de ouro do Google, Youtube.

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Published on November 05, 2019 03:47

October 30, 2019

O populismo autoritário de Médici e Bolsonaro

Hoje, faz 50 anos que Emílio Garrastazu Médici tomou posse, tornando-se o 28º. presidente do país.

Costuma ser imitado pelo atual, Jair Bolsonaro: patriotismo exacerbado, ambição, militarização do poder, falar do jeito que o povo entende e ir pessoalmente aos estádios de futebol.

Sob Médici, o Brasil viveu um paradoxo doloroso, já que cresceu a taxas invejáveis, graças à uma dívida externa que estourou em Figueiredo, obras ambiciosas de infraestrutura, do metrô de São Paulo, Itaipu, Ponte Rio-Niterói à Transamazônica, junto a uma repressão política sem dó.

Tortura, execuções, desaparecimentos políticos tornaram-se método.

O Exército tomou para si o controle da chamada subversão política em impiedosas agências espalhadas em seus quarteis, o DOI-Codi.

Na economia, com o Milagre Brasileiro, que já recebeu elogios até do ex-presidente Lula, o PIB crescia em média 11% ao ano. Mas a dívida externa, três vezes mais.

Médici era do “movimento”, como se referiam ao Golpe de 64. Teve papel no levante, quando se aliou às tropas revoltosas com sua poderosa e estratégica Academia Militar de Agulhas Negras, na tríplice fronteira SP-RJ-MG.

Na TV e rádios, uma enxurrada de jingles patrióticos. Dos americanos, copiou a ideia do lema BRASIL AME-O OU DEIXE-O, criado para os jovens que fugiam ao Canadá para não se aliarem durante a Guerra do Vietnã.

Intervenção na economia se intensificou. Criaram as gigantes estatais: Embraer, Infraero, Telebras, Embrapa, Embratel, Eletrobras, Itaipu, BNH. A guerrilha foi debelada. Porém, a que preço?

No seu governo, foi quando a sociedade civil começou a se reorganizar e articular um basta à censura, tortura, autoritarismo. A esmagadora vitória da oposição em 1974, no primeiro ano do sucessor, Geisel, foi humilhante.

Os militares recrudesceram a censura e baixaram a Lei Falcão, e depois o pacote de Abril, retomando o controle do Congresso.

No Governo Médici, Bolsonaro cresceu. O populismo autoritário é semelhante. A indisciplina e o apoio a ações violentas de combate ao inimigo e a militarização do governo, também.

Em ambos, a paranoia domava o humor presidencial.

Mas a verve, os olhos esbugalhados, o descontrole verbal, comprovados ontem no live de 23 minutos que fez no Facebook contra a Rede Globo, a quem acusou de “canalha”, “patifes”, socando a mesa, num discurso repetitivo, ameaçando cassar a licença da emissora, que vence em 2022, lembram outro presidente, que não terminou o mandato.

Vi o live até o fim.

Parece um pai à beira do colapso.

Não usa palavras histriônicas de Collor. Fala uma linguagem que seu eleitor entende.

Mas a guerra está declarada: será ele contra (quase) todos. Isso nunca acabou bem

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Published on October 30, 2019 07:27

October 28, 2019

Clonagem pode salvar um casamento?

Sabe aquela historinha de final de casamento, que um vira para o outro e diz:

– Estou há anos tentando fazer você mudar, mas não muda nunca!

– Pois, em anos, você mudou demais, e eu queria a pessoa com quem me casei, que você não mudasse.

Talvez dessa premissa Timothy Greenberg teve a ideia para a série cômica Living With Yoursef, que acabou de estrear pela Netflix.

Porém, cuidado: com episódios curtos, de 20 a 25 minutos, e uma trama inteligente e viciante, é capaz que você veja todos de uma vez.

Greenberg era produtor e o principal roteirista de The Daily Show, de Jon Stewart, e com ele ganhou dois EMMYs.

Escalou Paul Rudd para ser Mike, um publicitário de NY que se muda para o subúrbio com a mulher arquiteta que tenta engravidar, Aisilin Bea, uma comediante irlandesa, ou Kate.

Ele está em baixa no trabalho, desanimado, e sonhava mesmo em fazer roteiro de cinema. Não tem ideias para um pitch crucial da agência.

Ouve falar de uma clínica que melhora a autoestima das pessoas e, com isso, a performance profissional. Está para desistir, mas vê Tom Brady, o maior quarterback do futebol americano, saindo dela renovado.

Mike sai de lá também renovado, faz a campanha do ano, seduz a mulher novamente, fica eufórico com a vida… Até descobrir que foi clonado.

E, pior, o clone está vivo.

A quantidade de conflitos e dilemas que ela gera é imensa. E, para se tornar mais atraente, o mesmo dia é narrado sob diferentes pontos de vistas, por diferentes personagens.

Acesse, se puder acordar tarde no dia seguinte. Prende.

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Published on October 28, 2019 07:47

October 23, 2019

Série aborda racismo num mundo distópico

Série aborda racismo num mundo distópico

Um episódio vergonhoso é pouco explorado por historiadores americanos: os distúrbios raciais de 1921 em Oklahoma.

Durante dois dias, brancos atacaram a bem-sucedida comunidade negra de Tulsa, até então a mais rica do país, conhecida como Black Wall Street.

Mais de 1.200 casas foram queimadas, dez mil negros desabrigados, em 30 quadras do condado de Greenwood.

Negros sobreviventes foram levados a campos de concentração. Muitos deles foram mortos e os corpos embarcados em trens.

Não se sabe o número de mortos, muitos por linchamento. Só em 2001, descendentes das vítimas foram indenizados. E apenas em 2010, um monumento foi erguido.

A tão aguardada série Watchman, da HBO, que estrou domingo, abre com o massacre de 1921. E pula para os dias atuais, em que racistas da Supremacia Branca retomam as ações violentas. Um descendente do massacre aparece numa cadeira de rodas.

Só que não se trata de um Estados Unidos como conhecemos hoje.

Eles ganharam a Guerra do Vietnã, que virou um novo estado, Nixon foi elevado à condição de herói nacional, ao ponto de ter o rosto esculpido no Monte de Rushmore, fazendo companhia aos já esculpidos presidentes George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln.

Ford sucedeu Nixon, e um tal de Reford veio em seguida, num mandato de 30 anos.

O regime é o “redfordismo”, e a polícia anda mascarada. Entendeu? Calma.

São as janelas abertas numa trama que muda a realidade, mas a utiliza para abordar conflitos contemporâneos, como o autoritarismo em voga, distopia e racismo.

“Por quase cem anos, a verdade do que aconteceu em Tulsa foi mantida fora dos livros didáticos e apenas sussurrada entre os sobreviventes. Watchmen será a primeira vez que muitas pessoas aprenderão sobre o tumulto”, escreveu DeNeen Brown, do Washington Post.

Existem traços de inspiração dos quadrinhos Watchman, que se passa na Guerra Fria, em que heróis mascarados investigam a morte de um agente do governo, Nixon ganhou a guerra, os carros são todos elétricos, e a identidade dos vigilantes é segredo.

Veremos até aonde vai a série. E se agrada.

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Published on October 23, 2019 08:18

Marcelo Rubens Paiva's Blog

Marcelo Rubens Paiva
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