Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 55
January 20, 2016
Bloco Augusta vem aí
December 29, 2015
RETROSPECTIVA 2015
RETROSPECTIVA 2015
Se série boa é aquela que você vara a madrugada e vê até 4 episódios numa tacada, NETFLIX deixou o melhor pro final, a série MAKING A MURDERER.
Série web-documentário sobre um julgamento mal feito que levou o cara errado, Steve Avery, jovem encrenqueiro da cidadezinha Manitowoc, de Wisconsin, para a prisão, acusado de estupro.
Ficou 18 anos em cana, foi reconhecido arte pela vítima, e sempre alegou inocência.
Com a sofisticação dos exames de DNA, descobriu-se que o criminoso era outro. O cara foi solto, virou símbolo da reforma da justiça, decidiu processar aqueles que o prenderam até… Ser acusado de outro crime pior, o de assassinato de uma fotógrafa.
Uma aula de DIREITO e JORNALISMO, série feita por duas estudantes de cinema de Columbia-NY bombou e acompanhou por dez anos as investigações e os julgamentos.
Está desde o dia 18 na NETFLIX.
São dez episódios amarrado de tal maneira que, acabou um, queremos ver o outro.
O primeiro episódio está de graça no YOUTUBE, Eighteen Years Lost.
Prepare-se para perder ao menos duas noites assistindo.
Ou ganhar.
Enquanto isso, lá vai. Eu elejo:
MELHOR FINAL DE SÉRIE: Mad Men
MELHOR COMEÇO DE SÉRIE: The Leftovers
MELHOR SÉRIE: The Leftovers
SÉRIE MAIS MALUCA: The Leftovers
SÉRIE QUE VOCÊ ACHA QUE NÃO ESTÁ ENTENDENDO NADA, MAS TUDO SE EXPLICA NO FINAL: The Leftovers
MELHOR SÉRIE BRASILEIRA: Narco, que não é brasileira, mas poderia ser
SÉRIE MAIS ENGRAÇADA: Veep
PIOR SEGUNDA TEMPORADA DE SÉRIE TODOS OS TEMPOS: True Detective, uma unanimidade
SÉRIE COM A ATRIZ MAIS GATA DE TODOS OS TEMPOS: The Knick [Eve Ewson, filha do Bono Vox]
SÉRIE COM A MELHOR CENA DE SEXO: The Knick, em que a enfermeirinha Eve Ewson faz amor com o dono do hospital, depois de embebedar o membro dele com cocaína, truque que aprendeu na temporada anterior com o médico Clive Owen
SÉRIE QUE DEU PINTA DE NÃO TER CONTINUAÇÃO: The Knick
SÉRIE MILAGRES ACONTECEM: Ray Donovan, cujo personagem de Eddie MARSAN, que estava preso, foi solto para continuar a temporada.
SÉRIE SÓ MELHORA A CADA TEMPORADA: Ray Donovan
SÉRIE ESTAVA NA CARA QUE O FINAL ERA UM CAÔ: Game of Thrones (Jon Snow ressuscitará)
SÉRIE QUE VOCÊ ACHA QUE ACABOU, MAS CONTINUA TÃO BOA QUANTO: Homeland
SÉRIE QUE DEMORAM TANTO PARA PASSAR, QUE MUITOS RECORREM À PIRATARIA: The Americans (terceira temporada)
MELHOR FILME: Qualquer argentino, como O CLÃ
MELHOR FILME BRASILEIRO: Casa Grande (parece filme argentino)
MELHOR LIVRO BRASILEIRO: Não falo, para não me trazer problemas no bar
PIOR LIVRO: Qualquer um para colorir
PIOR LIVRO DE TODOS OS TEMPOS: Qualquer um para colorir feito por um padre
MELHOR PORTA DO FUNDO DO ANO: Escuta
FRASE MAIS DITA EM REDES SOCIAIS: “Vai ler história”
PAÍS MAIS INDICADO PARA TURISMO: “Vai pra Cuba!”
SISTEMA POLÍTICO MAIS CRITICADO: Bolivarianismo
HOMEM MAIS RICO DO BRASIL: Filho do Lula
HOMEM MAIS INFLUENTE DO BRASIL: Filho do Lula
HOMEM MAIS PODEROSO DO BRASIL: Filho do Lula
FILHO MAIS RICO DO BRASIL: Do Lula
QUITUTE DO ANO: Coxinha
ELES ESTÃO PARA TOMAR O PODER NO BRASIL A QUALQUER MOMENTO: Os comunistas
PRÊMIO DJAVAN DE ‘ENTENDEU O QUE ESTÁ FALANDO?’: Dilma
FRASE EXCELÊNCIA PIROU: “O importante é que o STF não se converta numa corte bolivariana” (Gilmar Mendes)
FRASE EXCELÊNCIA TEM CERTEZA?: “Não tenho conta na Suíça” (Eduardo Cunha)
O MICO DO ANO: O pato da Fiesp
O PATO DO ANO: Playboy paulista que xingou Chico Buarque na Dias Ferreira
O TRAÍRA DO ANO: Michel Temer, Guerrero , delatores da Lava Jato ou Ximbinha da banda Calypso?
December 20, 2015
Juiz absolve usuário que plantava maconha
Juiz da 43ª Vara Criminal RJ absolveu usuário que plantava a própria maconha.
Num caso que tem se espalhado pelo Brasil, o de usuários-maconheiros que importam sementes, plantam em suas casas em estufas improvisadas, para fugirem da engrenagem do tráfico de drogas, e que é enquadrado como tráfico se pego pela polícia, mesmo que não ocorra a comercialização, dessa vez o réu RAFAEL preso em flagrante com 19 pés de maconha foi absolvido.
Jurisprudência?
A sorte do réu começou quando o caso caiu na 43ª Vara, do juiz titular, Rubens Roberto Rebello Casara.
Ele é um especialista e coordena a revista da EMERJ [Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro], cuja edição de outubro/novembro/dezembro de 2013 promoveu o seminário “Drogas – dos Perigos da Proibição à Necessidade de Legalização”.
Nela, Casara publicou sua palestra, um artigo de oito páginas: Convenções da ONU e Leis Internas sobre Drogas Ilícitas: Violações à Razão e às Normas Fundamentais.
Que começa com: “O proibicionismo [das drogas] atenta contra o ideal de vida digna para todos, na medida em que amplia a violência do sistema penal, reforça a crença no uso da força e da repressão para resolver os mais variados problemas sociais, propicia a corrupção de agentes estatais e não reduz os danos do consumo abusivo de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas.”
Em sentença histórica, o juiz da 43ª Vara Criminal decidiu, na semana passada, segundo emporiododireito.com.br:
Encerrada a instrução criminal, não há qualquer elemento probatório sério a apontar que o material encontrado na casa do réu era destinado ao comércio ilícito de drogas (nesse sentido, o depoimento de Francisco, porteiro do prédio em que a droga foi encontrada, é importante: não só pelo que relatou como também pela ausência de menção à presença de potenciais compradores no apartamento de Rafael). Aliás, para além de algumas conjecturas (apresentadas sem suporte firme em dados concretos) e dos “discursos de fundamentação prévia” (chavões e elementos discursivos marcados pelo “senso comum”, que demoniza qualquer acontecimento ligado às drogas etiquetadas de ilícitas), incompatíveis com a dimensão probatória que se extrai do princípio da presunção de inocência (retratada na máxima in dubio pro reo: ou seja, que diante da ausência de elementos probatórios firmes, deve-se sempre optar pela versão mais favorável ao réu), nada está a indicar que os exemplares vegetais cultivados por Rafael (que, desde a fase preliminar, sempre afirmou que o cultivo era destinado ao seu próprio consumo, inclusive com finalidade terapêutica) e apreendidos pelos agentes da persecução penal eram voltados (ou mesmo aptos) ao comércio de drogas ilícitas (frise-se, aqui, o caráter arbitrário da divisão entre droga “lícitas” e “ilícitas”, ambas prejudiciais à saúde individual daqueles que optam por consumir essas substâncias).
Dito isso, impõe-se reconhecer, desse já, que não há prova adequada ao reconhecimento da hipótese descrita na denúncia. Importante lembrar, ainda, que a única parcela do material apreendido própria para o consumo não ultrapassava 41, 60 gramas de “maconha”, quantidade insuficiente para sugerir que essa droga era destinada ao comércio ou à obtenção de lucro. De igual sorte, ao contrário do argumentado pelo Ministério Público, a existência de um “tecnológico maquinário destinado à fabricação de entorpecentes” (fl. 171) não é indicativo de comércio, mas tão-somente de cultivo e produção. Em matéria penal, por evidente, não se pode presumir contra o indivíduo.
Mas, não é só.
De fato, como alerta a combativa defesa técnica, os órgãos encarregados da persecução penal fracassaram no ônus de demonstrar (alguns diriam, “carga probatória” atribuída à acusação) que os exemplares vegetais apreendidos (dezenove pés crescidos e quarenta e cinco mudas) possuíam tetrahidrocanabinol ou que fossem viáveis ao consumo (aptos a produzir o efeito entorpecente). Assim, diante dos elementos trazidos aos autos, não há como afirmar a violação do bem jurídico protegido pela norma penal que se extrai do artigo 33 da Lei no 11.343/06.
Impossível, diante da ausência de prova técnica adequada, excluir a incidência do artigo 28, § 1o, da Lei no 11.343/06 no caso em exame. Dito de outra forma: em razão da ausência de prova técnica, impossível afirmar que, no caso em exame, o acusado produziria “pequena” ou “grande” quantidade de drogas etiquetadas de ilícitas.
Registre-se, também, a inadequação da afirmação contida na denúncia de que as plantas apreendidas eram “matéria-prima para preparação de drogas”, uma vez que “matéria prima”, por definição, são, além dos bens que se integram ao produto novo, aqueles que sofrem desgaste ou perda de propriedade, em função de ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação, ou proveniente de ação exercida diretamente pelo bem em industrialização e desde que não correspondam a bens do ativo permanente. Assim, se é verdade que a folha de coca é matéria-prima para a fabricação de cocaína, a planta Cannabis Sativa não é matéria-prima à fabricação da droga vulgarmente conhecida como “maconha”.
Ademais, viola o princípio da proporcionalidade punir com pena privativa de liberdade um indivíduo que, para fugir dos riscos gerados tanto pela “indústria da ilegalidade” quanto pela opção política que aposta no modelo bélico de enfrentamento de um problema que é, na realidade, de saúde pública, opta por cultivar a substância que pretende usar.
Por todo o exposto, e também por força do princípio da correlação/congruência entre acusação e sentença, que impede a inovação judicial acerca dos fatos descritos na denúncia, julgo improcedente o pedido contido na denúncia para absolver RAFAEL com fulcro no artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal.
Sem custas.
Após o trânsito em julgado, proceda-se à destruição a substância apreendida, dê-se baixa na distribuição e arquivem-se os autos.
P.R.I.
Rio de Janeiro, 15/12/2015.
Rubens Roberto Rebello Casara – Juiz Titular
Empresas que oferecem estufas personalizadas:
December 17, 2015
A volta da dupla Sócrates & Casagrande. Em livro
Magros, altos, cabeludos, velozes, com jogadas e tabelas inteligentes e desconcertantes.
Ambos incrivelmente habilidosos.
Completavam-se.
Sócrates & Casagrande era mais do que uma dupla de atacantes que jogava junta.
Faziam gols e davam espetáculos.
Era uma dupla de excessos.
Eram parceiros de farra. Do ideal da Democracia Corintiana.
Era uma dupla de militantes. Pelas Diretas Já!
De espelhos. De semelhanças e opostos.
De militância e arte.
Era edipiana, quase uma relação pai & filho.
Era poesia.
Torna-se shakespeariana: o fantasma do pai, como Hamlet, pede atitude ao filho perdido.
Num livro escrito em conjunto com Gilvan Ribeiro, seu parceiro da biografia CASAGRANDE E SEUS DEMÔNIOS [GloboLivros], Casão resolve dialogar com Sócrates, ou melhor, com o fantasma dele.
Sócrates morreu em 4 de dezembro de 2011, dias depois de ter reatada uma relação com Casagrande ao vivo, num programa lendário, emocionante, do Arena SPORTV, só com os dois, que não se viam há anos: Sócrates doente em idas e vindas a hospitais, e Casão em reabilitação [chegou a passar um ano numa clínica].
O livro sai agora em 2016 pela Globo.
Relembrará feitos da dupla e trará desabafos que não deram tempo de ser feitos.
December 15, 2015
O pato e o paradoxo da Fiesp
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo representa o setor produtivo de maneira setorial.
São 131 sindicatos patronais filiados divididos em 23 setores produtivos, que representam aproximadamente 150 mil empresas de todos os portes e das mais diferentes cadeias produtivas de SP.
São sindicatos patronais como da Construção Civil, Adubos, Cerâmica, Indústria de Carnes, Louça, Energia, Álcool, Milho e Soja, Mandioca, Mobiliário, Parafusos, Porcas e Rebites, Tratores, Caminhões, Componente para Veículos, o forte SINDIPEÇAS,
Alguns sofrem com a concorrência desleal dos importados, como de Brinquedos e Calçados.
Alguns são saborosos, como SICAB, Sindicato da Indústria de Produtos de Cacau, Chocolates, Balas e Derivados do Estado de São Paulo.
Outros essenciais para fazer a nossa cabeça, como SIAESP, Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo.
De alguma maneira, a FIESP está envolvida na vida do brasileiro: no nosso faturamento, crescimento intelectual e consumo.
A sua divertida campanha Não Vou Pagar o Pato, contra a volta da CPMF e o aumento dos impostos, traz um enorme questionamento.
Há um paradoxo aí.
Nas administrações Lula e Dilma, a maioria das empresas filiadas à FIESP foi subsidiada.
Nunca neste país houve uma redução prolongada de impostos sobre produtos industriais.
Começou com a indústria de material de construção, estendeu-se para produtos de linha branca e automotivos. Foi ao combustível e energia.
A intenção dos petistas era crescer, garantir empregos, incentivar a indústria e dar a ilusão de que o consumo de eletrodomésticos era padrão de riqueza.
O BNDES passou a ser responsável por quase 15% do dinheiro investido na economia.
Pedaladas fiscais, as mesmas que podem impeachar a presidente Dilma, impeachment que a FIESP agora defende publicamente [e está garantido democraticamente seu direito de se posicionar], serviram para aquecer o parque industrial brasileiro e especialmente o paulista.
O Brasil quebrou porque se gastou mais do que se arrecadou.
Muitos culpam os programas sociais.
Outros, esta transferência astronômica de impostos que a indústria deixou de coletar.
Só a Zona Franca de Manaus tem a isenção anual de um programa Bolsa Família.
Sem contar o grau de corrupção que envolveu partidos políticos, campanhas eleitorais, propinas e Indústria da Construção, Empreiteiros, Petróleo, Naval, Frigoríficos, Bancos…
Se apontarmos os envolvidos na Operação Lava Jato, muitos ali têm ligações direta ou indiretamente com a FIESP.
Citando Elio Gaspari: “Uma parte do Ministério Público e do Judiciário dissociou-se da secular tradição que protegia os maus costumes oligarquia política e econômica… Ferida, a oligarquia está atemorizada. É comum ouvir-se a pergunta: ‘Onde é que isso vai parar?’ Em geral, ela significa outra coisa: ‘Será que vai chegar a mim?’”.
De quem exatamente é esse pato?
Num ponto a FIESP tem razão, não é meu, do meu filho, nem da minha família.
Me pergunto de o título propício deste post não deveria ser o pato e o mico da FIESP?
December 13, 2015
Protesto diminuiu e discurso não evoluiu

WS9 SÃO PAULO 13/12/2015 – ATO CONTRA GOVERNO DILMA – POLITICA – Manifestantes realizam protestos contra o governo de Dilma Rousseff na Avenida Paulista neste domingo (13). FOTO:WERTHER SANTANA/ESTADÃO
Os protestos pelo impeachment foram menores.
Se em 15 de março foram 210 mil pelo Datafolha e 1 milhão pela PM na PAULISTA, hoje o número gira entre 30 e 40 mil.
Os organizadores tinham um discurso fechado, caso as manifestações fracassassem: teria sido um evento teste para uma manifestação futura maior marcada para março.
Não fracassaram.
Eles estavam lá, de amarelo. Com as palavras de ordem de sempre.
Na Paulista contei quatro trios-elétricos. Revezavam-se nos discursos.
A FIESP entrou em peso com balões amarelos.
Hoje seu presidente, Paulo Skaf, filiado ao PMDB, num entrevista ao Estadão deu a entender que a federação empresarial é pró-impeachment.
O impeachment andou, está na Câmara, o STF julga na quarta se o rito é constitucional, mas o que se gritava na avenida ainda era fora regime bolivariano, fora comunistas, vai pra Cuba.
O impeachment andou, o discurso não.
Continua uma manifestação intolerante [bonés ou camisetas vermelhas eram barradas], com vivas a personas polêmicas da vida nacional, como deputado Bolsonaro, e com o cúpula tucana circulando mais à vontade.
Eu de camisa vermelha com símbolo do Grand Canyon a caminho do cinema ouvi: “Vai ter treta”. Ignorei.
Meu colega de letras Ronaldo Bressane de camisa bordô com a caricatura de um personagem do Breaking Bad foi barrado na ciclovia e expulso.
Vi até um casal gay de mãos dadas com um boneco de Lula com a camisa de presidiário subindo a Augusta. Mãos que se soltaram na Paulista.
Outra marca permanece e basta conferir nas fotos: é um protesto da família brasileira branca.
December 11, 2015
Pode tudo, menos tocar
Você me repeite
Você me respeite!
Você não é homem pra me tocar!
Você que me tocou.
Não me toque
Não te toquei
Moleque
Não sou moleque
Não me toque
Você é ladrão
O cara me tocando…
Não pode tocar.
Pode tudo, menos tocar.
Cena numa casa de suingue, numa sauna, na pista?
Recreio?
Nada.
Conselho de Ética da Câmara.
Veja e reveja.
Quem cuspiu primeiro?
Quem piscou primeiro?
Bagunceiro dá pra saber
Mas quem tocou em quem?
Todos suspensos.
Fim do recreio!
Problema é que não deu pra chamar o diretor da escola.
Ele estava sendo julgado.
Falando nisso, “pode tudo” o quê?
December 10, 2015
O homem-bomba brasileiro
Estado e violência
Sexta-feira, Avenida Paulista.
Ao sair do metrô para a manifestação de mulheres contra o PL5069 do deputado Eduardo Cunha, que modifica lei de atendimento às vítimas de violência sexual e do fornecimento de métodos abortivos, me deparei de três viaturas da PM sobre a calçada.
Um tenente carregava uma submetralhadora Famae Taurus MT 40, arma de 1.200 tiros por minuto de polímero e compacta, calibre 40, que com seu sistema Blowback tem mais precisão e alcance, porque o cano é mais longo, e mais “poder de parada” (paralisa antes do alvo ter reação).
Elogiei a arma pendurada numa alça, perguntei se era necessária. O oficial me ignorou.
Em torno de oito mil mulheres, crianças, bebês (a escolinha do meu filho foi em peso, inclusive sua jovem pediatra), maridos e amigos marcharam pela avenida. Nada de carro de som. A maioria pendurava cartazes feitos à mão com dizeres “Meu Útero É Laico”. Em quem aquela metralhadora seria descarregada? Em menos de sete minutos, o tenente poderia matar a todos com sua arma.
O despreparo das PMs é exibido diariamente em redes sociais, registrado por celulares. Causam indignação. O da PM paulista é uma aberração: a vemos desocupando escolas, armada até os dentes, sem qualquer piedade, arrastando professoras ou dando cacetadas em abdomens de meninos e meninas, covardia sem sentido em que se nota o olhar vidrado de um agente de Estado sem noção dos seus atos. Até o ouvidor da polícia, Julio Cesar Neves, reclama: “A PM não pode e não deve interceder em assuntos da pasta da Secretaria da Educação, e deve ater-se somente no que diz respeito à Segurança Pública.”
A polícia brasileira não tem treinamento responsável (comando), não sabe quem defender, não conhece seu papel na democracia: o de intermediar conflitos diários. A falha está na estrutura. Está no núcleo, na sua fundação. As polícias brasileiras parecem alimentar mais os conflitos para que foram chamadas. Atrapalha mais do que ajuda. E isso não é de hoje.
Na tarde do dia 30 de abril de 1981, garçons do Cabana da Serra, restaurante na estrada de Jacarepaguá, suspeitaram de dois clientes armados que consultavam mapas.
Anotaram a placa do carro deles, um Puma, e chamaram a polícia. Os estranhos se identificaram como agentes federais. No dia seguinte, estavam na capa de todos os jornais brasileiros.
O Puma dirigido pelo capitão Wilson Machado, com o sargento Guilherme Rosário ao lado, chegara ao estacionamento do Riocentro às 20h58. Ele pegou na cancela o bilhete e entrou. Às 21h07, João Ferreira Ramos estacionou seu Fusca ao lado do Puma. Desceu, cumprimentou os dois ocupantes. Não responderam. Estava atrasado para o showmício pelas eleições diretas organizado na véspera do Dia do Trabalho.
Às 21h15, capitão Machado engatou a ré e começou a sair da vaga. No pavilhão, Elba Ramalho cantava. Uma bomba explodiu no colo do passageiro, o sargento. Muita gente cercou o carro abismado com a cena. Fotógrafos de vários jornais registraram o interior. O corpo do sargento dividiu-se em dois. O motorista, o capitão, parecia vivo. Ninguém ousava se aproximar. Só 25 minutos depois, Andréa Neves da Cunha, neta de Tancredo Neves, rompeu o cordão, colocou o capitão moribundo no seu caro e o levou para o hospital Lourenço Jorge. Sobreviveu graças à iniciativa da neta de um líder das Diretas Já.
Depois que militares anunciaram a abertura “lenta e gradual” e levantaram a censura em jornais e revistas, de 1980 até este 30 de abril de 1981, tivemos mais de 70 atentados a bomba no Brasil. Só no dia 27 de agosto de 1980, três bombas explodiram no Rio: uma na sede da OAB, que matou a secretária Lyda Monteiro da Silva, outra na Câmara Municipal, em que seis pessoas atingidas, e a terceira no jornal Tribuna da Luta Operária.
Era uma atrás da outra. Uma bomba foi desativada no Hotel Everest, em que estava Leonel Brizola, que voltara no exílio. Outra no escritório do advogado de presos políticos, Sobral Pinto. Explodiram bombas no Salgueiro durante um comício da oposição, no carro do deputado Marcelo Cerqueira e na sede da Convergência Socialista.
Parte dos militares não queria a abertura nem a desmobilização dos aparelhos de repressão. Em 1980, no dia 26 de abril, uma bomba explodiu numa loja que vendia ingressos para o show de 1º de Maio. No dia 30, explodiu a primeira banca de jornal. Até setembro, dezenas de bancas de jornal explodiram em São Paulo, Brasília, Rio, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e Belém. Em 23 de maio, uma bomba destruiu a redação de BH do jornal da imprensa nanica Em Tempo. Em 27 de junho, uma bomba explodiu no Sindicato dos Jornalistas em BH. Duas bombas explodiram na sede do jornal Hora do Povo no dia 30 no Rio de Janeiro. No dia 11 de agosto, foi encontrada uma bomba no Tuca, teatro da PUC-SP. No dia seguinte, uma bomba feriu onze estudantes na cantina do Colégio Social da Bahia. Em setembro, desarmaram uma bomba na Lapa, e, no dia seguinte, explodiram outras duas bombas: uma feriu duas pessoas num bar de Pinheiros. Em novembro, três bombas explodiram em supermercados do Rio. Outra na Livraria Jinkings, a mais importante de Belém, da família do ex-deputado Raimundo Jinkings. Dias depois, uma bomba incendiária destruiu o carro do filho dele.
Em 1981, atentado a bomba num ônibus na Cidade Universitária do Rio, no relógio público instalado no Humaitá, no tradicional jornal carioca Tribuna da Imprensa, de Hélio Fernandes, lacerdista que virou um crítico sagaz ao regime militar. Em abril, bomba na casa do deputado Marcelo Cerqueira. Um dia depois, bomba na Gráfica Americana no Rio. Até o histórico dia 30 de abril de 1981 no Riocentro, quando elas pararam.
O sargento Rosário e o capitão Machado eram do DOI-Codi do Rio de Janeiro.
Eram então militares do próprio Exército que boicotavam a redemocratização que o mesmo promovia.
Tais crimes foram cometidos depois de 1979, portanto não acobertados pela Lei da Anistia.
Ninguém foi preso. Ninguém será.
No Brasil, a violência, quando é do Estado, é atenuada. Deveria ser agravada.

Wilson Machado calado em audiência de 2014
December 4, 2015
Locais da Virada Ocupação serão divulgados 1h antes para despistar PM
Os locais da Virada Ocupação são secretos e serão divulgados 1h antes
Domingo e segunda, artistas como Criolo, Paulo Miklos, Tiê, banda Eddie, Karina Buhr, Maria Gadú, Pequeno Cidadão e Edgar Scandurra [que tocarão Jimi Hendrix], atores, como Otavio Martins, palhaços, apresentam-se em escolas estaduais ocupadas.
Como apoio ao movimento contra o fechamento e remanejamento de escola proposto pera Secretaria Estadual de Educação.
Ao todo são 800 artistas, 700 produtores e mais de 2 mil voluntários.
Para despistar a PM, os locais dos eventos de domingo, dia 6, não são divulgados.
Os interessados em receber o endereço da Virada em primeira mão devem se inscrever no formulário no site para receber um SMS da equipe de produção:
http://www.viradaocupacao.minhasampa....
Que vai enviar uma mensagem 1h antes do início do evento e tentar evitar os lastimáveis confrontos com a polícia.
Diz o manifesto:
POR QUE UMA VIRADA OCUPAÇÃO?
Além de propor um plano de reorganização da rede pública de ensino que irá deslocar mais de 311 mil alunos e fechar 93 escolas, sem consultar a comunidade escolar, o governo estadual está agora, de forma arbitrária, perseguindo e ameaçando os alunos envolvidos com as ocupações em protesto as medidas anunciadas.
Os alunos estão sofrendo abusos diários da polícia e de parte do corpo docente das escolas ocupadas. Além disso, a gestão Alckmin já anunciou o corte no bônus dos professores de escolas ocupadas, numa tentativa de jogar o corpo docente contra os alunos. Essa é a forma de atuar do Governo de SP. Mas, por considerar o movimento dos secundaristas totalmente legítimo, a Minha Sampa está convocando sua rede para ajudar na organização Virada Ocupação!
Sabemos que em momentos históricos, os artistas surgem como figuras poderosas para representar uma causa de milhares de vozes ignoradas. Se você é cantor, músico, produtor, ou tem algum equipamento de som na sua casa e está disposto a ajudar, inscreva-se e ajude a transformar as ocupações em uma grande oportunidade para os alunos, e toda a população paulista, aprenderem que todos nós podemos mudar as decisões políticas do nosso Estado se nos mobilizarmos para isso.
Esse é o momento de mostrar aos secundaristas que estamos do lado deles e que não vamos aceitar nem o fechamento das escolas nem ameaças contra os estudantes! O movimento contra a reorganização do ensino público estadual já dura mais de um mês e, até agora, o governo não se mostrou verdadeiramente disposto a dialogar e escutar as demandas da comunidade escolar.
December 3, 2015
Equipe da Globo atacada no Allianz Parque
E estádio é de primeira. Já alguns torcedores…
O PALMEIRAS deu um show ontem de raça e comprometimento.
Tem um time recheado de garotos talentosos, como Gabriel Jesus, um técnico moderno, o craque da competição, Dudu, um goleiro espetacular.
E um estádio de dar inveja.
Ouvi até santistas fanáticos, como Kiko Zambianchi [cuja avó italiana era Palestra, como a minha], lamentar, dar os parabéns ao Verdão.
Mas parte da sua torcida…
O carro em que estava a equipe da GLOBO, sem o logotipo da emissora, foi atacado quando tentava entrar no estádio Allianz Parque.
Torcedores o cercaram ontem noite de quarta-feira e quase o viraram.
O narrador Cleber Machado fugiu em pânico. Deixou o local da decisão da Copa do Brasil com os comentaristas Casagrande e Caio Ribeiro, voltou correndo à sede da emissora, na zona sul.
Narrou o jogo do estúdio.
A equipe do UOL Esporte confirma.
Agora de manhã, no programa Redação SporTV, o chefe de reportagem Fábio Seixas desabafou:
“O Cleber Machado, o Caio e o Casagrande estavam indo para transmitir a partida e foram impedidos de fazer a transmissão do estádio. Tiveram que voltar e fizeram da sede da TV Globo, o que é lamentável. Torcedores cercaram o carro. São três profissionais indo trabalhar, com toda a imparcialidade que eles têm, uma marca desses três personagens, e foram impedidos… Ontem, tinha um clima muito legal dentro do estádio. É uma minoria que causa transtornos. Não houve briga de torcidas, o que é muito legal, mas ainda há alguns idiotas no entorno do estádio que causam esse tipo de confusão”.
Vai ficar por isso mesmo?
Marcelo Rubens Paiva's Blog
- Marcelo Rubens Paiva's profile
- 279 followers
