Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 51

May 5, 2016

O Supremo e o timing

Uma das explicações para o caos político que o Brasil vive [que se estende para a economia] reside no fato de Poderes eleitos pelo voto não respeitarem a Constituição.


Ações do Executivo e Legislativo são constantemente questionadas. Ferem as leis. Conturbam um ambiente já volátil na essência democrática.


Um Poder boicota o outro. Ambos boicotam o País.


Talvez no STF, justamente aquele em que o eleitorado não despejou seus votos, e por isso mesmo, com o dever da isenção política, escravo da tábua da lei, cego ideologicamente, possa estar a saída.


Afinal, um órgão não contaminado pelo esdrúxulo e fisiológico jogo eleitoral corrompido pela iniciativa privada possa nos conduzir no trilho da normalidade


Mas o timing…


Quer dizer que aquele que presidiu a sessão da Câmara mais importante das últimas três décadas, conduziu o processo que muda o rumo do País para sempre, em duas semanas seria afastado pelo ministro Teori Zavascki?


Se fosse duas semanas antes, os livros de História do futuro contariam outra versão?


O Supremo precisa trabalhar mais, ser mais ágil.


E se a culpa é da morosidade, o Brasil está disposto a ajuda-lo.


O ministro atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) feito há cinco meses!


Que Cunha usava o cargo para interferir nas investigações da Operação Lava Jato, da qual ele é réu.


O que todo País sabia, as ruas já tinham apontado.


E ainda julga a ação da Rede Sustentabilidade, que alega que Cunha, terceiro e depois do impeachment, se rolar, segundo na linha sucessória da Presidência, por ser réu em processo criminal, não poderia ocupar o comando do País.


Teori diz que a permanência do deputado frente à Casa representa “risco para as investigações penais” que correm na Corte máxima e é “pejorativo que conspira contra a própria dignidade da instituição por ele liderada”.


Depois que uma sessão tumultuada afastou uma presidente eleita.


Sessão que, evidentemente, passa a ser contestada.

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Published on May 05, 2016 07:19

May 4, 2016

A nova do Radiohead

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Radiohead começa a divulgar o disco novo


Depois de cinco anos sem gravar, a melhor e mais ousada banda do novo milênio, que faz uma releitura do rock com pinceladas do progressivo, lança um novo hit.


No sábado, sumiu das redes, apagou seu site, seus perfis, lançou um panfleto misterioso [Queimem a Bruxa].


Cogitou-se de que ela teria acabado.


Anteontem, entrou com fotogramas [um gif] no Insta.


Ontem, com um clipe no Youtube.


Fim do mistério.


A banda sempre surpreende e inova.


Era a preparação para lançar o disco novo, Burn the Witch.


Uma homenagem aos novos tempos de intolerância e caça às bruxas, aos impuros e ao diferente:


“Stay in the shadows, cheer at the gallows, this is a round up. This is a low flying panic attack, sing a song on the jukebox that goes. Burn the witch, burn the witch, we know where you live. Red crosses on wooden doors, and if you float you burn, loose talk around tables, abandon all reason, avoid all eye contact. Do not react, shoot the messengers. Burn the witch.”


[Fique na sombra, aplauda como todos, é uma reunião. É como um ataque de pânico sutil, cante a música que rola na junkebox. Queimem a bruxa, queimem a bruxa, nós sabemos onde  mora. Cruzes vermelhas pregadas nas portas, se você flutuar vai queimar, papos furados em torno das mesas, abandone toda a razão, evite olho no olho. Não reaja, elimine os mensageiros. Queime a bruxa…]


Veja o clipe no Youtube [já com mais de 4 milhões de visualizações]


 


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Published on May 04, 2016 07:28

May 2, 2016

A Ditadura Acabada

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O jornalista Elio Gaspari teve trânsito livre entre os principais personagens [e arquivos] da ditadura militar, o bruxo general Golbery do Couto e Silva, golpista profissional e criador do SNI, e o “pastor alemão” Ernesto Geisel, general responsável pela abertura política.


O resultado você conhece: quatro volumes incríveis detalhados sobre a ditadura militar lançados pela Companhia das Letras entre 2002 e 2004, “A Ditadura Envergonhada”, “A Ditadura Escancarada”, “A Ditadura Derrotada” e “A Ditadura Encurralada”, agora publicados pela Intrínseca.


Vire e mexe, me vejo relendo-os, especialmente o primeiro volume.


Que aliás é mais atual do que nunca: vê-se ali, no Golpe de 64, eventos semelhantes aos dias de hoje, o comportamento da imprensa, de juristas, da Justiça, as rebeliões do Poder e a traição de aliados.


Para mim, “A Ditadura Envergonhada” deveria ser leitura obrigatória nas escolas.


E quem sabe nos livraríamos das aberrações de análises políticas que lemos e escutamos de uma geração desinformada, que aprende história de 140 caracteres em 140 caracteres.


Quando se anunciou que Gaspari preparava um quinto volume, sempre me perguntei qual seria o nome.


Abordaria o governo Figueiredo, o da transição definitiva.


Governo da anistia política, da refundação de partidos, do combate à linha dura, bombas na OAB, bancas de jornais e Rio Centro, refundação do movimento sindical, volta de Brizola, Arraes, Darcy Ribeiro, figuras expulsas do Brasil pelo golpe.


Pensava “O Epílogo da Ditadura”, “O Último Ato”.


Claro, “A Ditadura Encerrada”.


Porém, Gaspari foi mais preciso e, como nos outros livros, haverá divergência.


O livro “A Ditadura Acabada” é o quinto volume da Coleção Ditadura. Já está em pré-venda. E nas livrarias no final do mês.


Alguns dirão que a ditadura nunca acabou [acabou, sim].


Se os volumes anteriores abordaram os conturbados governos Castello Branco, Costa e Silva, Médici e Geisel, este pega o período de 1978 a 1985.


Do final do governo do presidente Ernesto Geisel à posse de sucessor, o general João Baptista Figueiredo, atravessando as Diretas Já e a eleição de Tancredo.


Passa pelo fim do AI-5 e de uma crise econômica sem precedentes [moratória, recessão e inflação alta].


O epílogo é uma surpresa, o capítulo “500 Vidas”.


Gaspari conta o que aconteceu com 500 personagens que sobreviveram ao fim da ditadura, entre militares e militantes, empresários e sindicalistas, torturados e torturadores.


Três deles, um exilado-cassado, um metalúrgico perseguido e uma presa política torturadasadicamente, chegaram à presidência da República, FHC, Lula e Dilma.


A Ditadura Acabada estará disponível em duas versões de e-book, uma delas com áudios e vídeos acrescentados pelo autor, ambas contendo mais de trinta documentos históricos.


Para indicar a amigos e familiares com informações e conclusões esdrúxulas sobre o momento anterior e atual.

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Published on May 02, 2016 07:55

April 29, 2016

Fenômenal Garrincha pelo fenômeno Bob Wilson

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A notícia de que Bob Wilson faria uma peça sobre Garrincha em parceria com o SESC-SP [Pinheiros] me deixou atônito e feliz.


Claro, faz todo sentido.


O diretor americano que mudou o teatro contemporâneo [ou melhor, o pós-moderno], redesenhou a dramaturgia aristotélica e o papel do autor, reaproximou o teatro das artes plásticas, escolheu meu jogador de futebol favorito para retratar [homenagear].


Pelé não dá teatro. Garrincha dá.


Pelé é Ella Fitzgerald. Garrincha, Billie Holiday.


O menino paupérrimo fã de pássaros das pernas tortas mulherengo pobre e alcoólatra de Pau Grande (RJ) é O personagem brasileiro.


É branco-mulato-índio.


É Macunaíma.


Pescado do talento nato, jogado ao centro do mundo no Maracanã abarrotado, ao estrelato internacional, graças a duas vitoriosas copas do mundo [uma delas, a de 1962, ganhou PRATICAMENTE sozinho, com Pelé contundido no banco], do campo de várzea para os casinos e showbizz, tentando sempre se reerguer de golpes de empresários inescrupulosos e injeções milagrosas no joelho, com nove filhas para cuidar.


Em paralelo seu grande amor pela grande cantora Elza Soares, que já foi chamada de a Billie Holiday dos trópicos.


Garrincha era a Alegria do Povo, entendeu que o futebol era competição, mas também circo, espetáculo, entretenimento.


Que quem o pagava para ver queria torcer, rir, surpreender-se e ver um mágico fazer malabarismos com a bola.


Bob Wilson espera que todos saibam quem foi Garrincha.


Não faz de seu teatro uma sala de aula, dispensa o didatismo.


Seu teatro não quer ensinar, mas provocar.


Com dança, não com a palavra.


Divide em cenas marcantes: o começo pobre no campo, a bebida, a derrota brasileira de 1950, a paixão, o estrelato, a ingenuidade, o empresário, o sucesso internacional, acidente de carro que matou seu filho…


Quase não tem diálogos.


São quadros, pinturas, com uma espetacular banda ao vivo, um elenco genial.


E uma fantástica compreensão do que é o Brasil.


Escalou um Garrincha que fez as filhas do próprio chorarem, Jhe Oliveira, de 37 anos.


Ator baiano de origem pobre, pai boêmio e mulherengo, que dizia que Garrincha era o rei do futebol, não Pelé.


Teatro para aprendermos a como retratar nossa história e nossa paixão, o futebol.


O texto é do americano Darryl Pinckney, que já trabalhou com Wilson em The Old Woman – A Velha (2014), com consultoria e empréstimos de Estrela Solitária by Ruy Castro.

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Published on April 29, 2016 08:10

April 27, 2016

A República do jeitinho

eu e o príncipe herdeiro

eu e o príncipe herdeiro


 


Dá-se um jeito


Tem-se a ilusão de que o comunismo é um dos maiores problemas do País, e acabar com ele, a salvação.


Temem-se a Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba, países que não param sozinhos em pé.


Tem-se a ilusão de que o povo nas ruas, um juiz de primeira instância e promotores aguerridos acabarão com a corrupção.


De que sessões de um Congresso corruto garantirão um futuro melhor a nossos filhos e netos, que viverão num mundo sem roubalheiras.


Temos a ilusão de que o Poder emana do povo, pelo povo, para o povo.


De que a Justiça é cega, que o Brasil, um “pa-tro-pi” abençoado por Deus, em que se plantando tudo dá, é o País do futuro.


Sem contar que Deus é brasileiro.


Acreditamos na representatividade democrática, na Constituição, nas leis, que pagamos os impostos que nos cabem, que se o País não é a Dinamarca, é porque gastam mal nosso dinheiro.


Acreditam-se que os administradores públicos são corrutos e incompetentes, os funcionários públicos são preguiçosos, o Estado é refém da burocracia, e tem que ser mínimo.


Tem-se a esperança de o craque resolva nossas deficiências táticas, gerenciais, abafem nossos dirigentes corruptos, nossas entidades podres, que o talento nato se sobreponha ao trabalho coletivo, de que surgirá um camisa 10 para nos guiar, um camisa 9 para colocar a bola nas redes, um goleiro salvador, um santo, de que somos eternamente o País do futebol, da natureza exuberante, das florestas, rios, campos e arados, da cordialidade, alegria e tolerância à miscigenação.


Tem-se a ilusão de que de uma Ilha da Fantasia surgirá outro Guga, outra Maria Ester, que de um campo de várzea virá outro Garrincha, que na favela nascem vários Romários.


Que Ademar Ferreira, João do Pulo, Daiane, Clodoaldo, Hortência, Paula, Oscar, Bernardinho e tantos outros apareçam da escuridão dos ginásios, para os holofotes da glória.


Vamos ganhar um Oscar um dia.


Vamos ganhar um Nobel, quem sabe.


Vamos patentear a grande descoberta.


Vamos criar a vacina salvadora, a cura, temos fé.


Acreditamos que aqui não existe racismo. Que nos tornamos independentes num 7 de setembro, uma república democrática num 15 de novembro, que a escravidão acabou em 1888. Que 13 de maio é o dia de celebrar o fim da escravidão. Que sua tutora é Princesa Isabel. Acreditamos no dia do índio, em Tiradentes, em Aparecida, homenageamos os trabalhadores no Dia do Trabalho, Jesus no Natal, seu renascimento na Páscoa. Despejamos nossa fé em pacotes turísticos ou viagens para praias e montanhas em feriados prolongados, congestionando estradas.


Carregamos colares com miçangas de nossos Orixás para nos protegerem. Rezamos ao santo casamenteiro. Fazem-se promessas para arrumar emprego, curar doença, trazer de volta a pessoa amada. Fazem-se simpatias, ebós, pernas, braços, costelas de gesso, para sanar dores.


Tem-se a ilusão da existência da utopia, do paraíso, do nirvana. Meditar é pensar em nada. Pensar em nada traz paz interior. A esperança é a última que morre. Pensar positivo é um dever constante. Dá-se um jeito. Para tudo tem solução. Aos trancos e barrancos, empurrando com a barriga, o Brasil sobrevive.


Temos a impressão de que o novo estatuto do idoso trouxe conforto aos velhinhos, o do torcedor, paz nos estádios, o da criança, garantias à geração que é o nosso futuro. Que o código florestal protegerá nossas florestas, rios e mananciais. Que a Maria da Penha salvará as mulheres da ira e abusos da classe masculina.


Mas fé, só a fé, não move montanhas.


O Brasil não sairá do lugar se acreditar e esperar, sem lutar diariamente, ter disposição para conhecer, debater, pesquisar, aprender, treinar, praticar, repetir, ensaiar, estudar, observar, respeitar.


A ilusão é fruto da preguiça.


Ela é bela como uma fantasia.


É ineficiente como uma neblina.


Porque no fundo precisa-se de mais para acabar com a corrupção, ser um país democrático, reformar um Estado, gerar Gugas e Romários, acabar com o racismo, a intolerância, a violência contra crianças e mulheres, ganhar uma Copa do Mundo, um ouro e preservar a natureza.


Temos direitos. Precisamos ter deveres.


Pensarmos como um elemento de um todo, um ser republicano.

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Published on April 27, 2016 14:23

April 25, 2016

Game of Thrones parecido com o Brasil

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Daenerys Targaryen lembra Dilma [acima]. Viaja sem reino. Ninguém a quer. Traída por todos. Seu reino está em chamas. Até o dragão sumiu.


Game of Thrones cada vez mais parecido com o Brasil.


Enquanto um vizinho bateu panela durante fala, digo entrevista, de Zé de Abreu no Faustão [Rede Globo], fãs de Game of Thrones contava os minutos para a estreia da nova temporada da série.


Com sinal aberto da HBO desde sábado e grande promoção.


Frustração.


Game of Thrones recomeça e não acontece nada.


Todos os reinos divididos.


Ninguém manda nada.


Terra arrasada.


Duas rainhas foram depostas.


A sexta temporada deve ter sido inspirada no Brasil.


Tomada de Poder na Muralha, em Casterly Rock, em toda a parte.


Grupos fundamentalistas se unem, religiosos destronam rainhas, o povo não sabe a quem recorrer.


Todos querem o Poder, mas como no Brasil ninguém quer exercê-lo.


O bonitinho Jon Snow, que morreu no final da última temporada, mas boatos diziam que ressuscitaria, parece mortinho da Silva.


Calma lá. A Mulher de Vermelho [Melissandre], meio bruxa meio sacerdotisa, está por perto.


Sansa [que poderia se chamar Sonsa] continua a personagem mais chata da teledramaturgia mundial. Mais estranho é que uns dez caras e príncipes quase se casaram com ela. Ingleses…


@silasimon: “Sansa se deu bem (ufa!). E os golpistas vão ter que encarar os selvagens junto com o lobo e a bruxa vermelha.

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Published on April 25, 2016 08:03

April 24, 2016

Domingo de avenida fechada termina em protesto

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Paulista fechada aos carros e aberta aos conflitos


É bem estranho o acampamento de defensores do impeachment em frente ao prédio da Fiesp, que já dura semanas.


Não são “coxas”, com muitos pensam.


Coxas estão no Guarujá, em ar-condicionado, no churrasco em Alto de Pinheiros, em Miami.


Fiquei hoje alguns minutos circulando entre eles e não os entendi.


Apitam, gritam “Fora Dilma”, usam barracas padronizadas, que devem ter sido herdadas de um Campus Party [evento anual que reúne milhares de fãs de tecnologia e games num acampamento high-tec], e em nada lembram “playboys” paulistanos.


Uma quadra depois, em frente ao prédio da Gazeta, uma manifestação com piquenique e forró parecia ser contra o impeachment.


O confronto era inevitável.


Afinal, para muitos, a Fiesp tem se metido demais na conturbada política brasileira, e deixou sua posição clara.


Deu-se agora à tarde.


Com gritos “Golpistas! fascistas! Não Passarão!”, centenas de ativistas do #OcupeADemocracia, que realizava debates na avenida aberta à população e fechada aos carros, foram protestar em frente à Fiesp e enfrentaram acampados lá.


Que partiu com canos e paus ao ataque.


Defendem o pato da Fiesp.


O que era para terminar com confraternização e festa um dia ensolarado na nova praia paulistana, terminou tenso.


Ninguém relaxa nem no domingo de sol.


O país continua rachado neste veranico.


Registros do Mídia Ninja, fotos Sato

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Published on April 24, 2016 15:55

April 21, 2016

Movimento faz escracho na casa de Temer

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Enquanto isso, na casa da bela, recatada e do lar


No dia do mártir da Independência, o grupo Levante Popular da Juventude fez um “escracho” para denunciar Michel Temer hoje de manhã [quinta-feira, 21 de abril].


Foi no Alto de Pinheiros, São Paulo, em frente à casa paulista do vice-presidente.


Ativistas com faixas, máscaras e exemplares da Constituição acusaram o vice-presidente de trair, articular e conduzir o processo de impeachment de Dilma, sua companheira de chapa.


O Levante Popular da Juventude, que conta hoje com aproximadamente 10 mil militantes, começou em 2012 com escrachos [manifestações e pichações] em frente a casas de acusados de praticar tortura durante a Ditadura Militar.


Também jogou dólares em Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e purpurina no deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ).


Thiago Pacheco, representando do grupo, diz que há golpe em curso no Brasil: “A atual presidente não cometeu crime algum, por isso estamos aqui denunciando o golpe. Tentando tomar de assalto a presidência, Temer é um dos principais articuladores do golpe brasileiro. Queremos que a Dilma termine o seu mandato que foi eleito de forma democrática.”


Informação e fotos vêm do Coletivo Nacional de Comunicação do Levante Popular da Juventude e Mídia Ninja

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Published on April 21, 2016 08:49

April 18, 2016

Nas entrelinhas do impeachment

O Brasil conheceu seu Congresso.


Viu nele uma religiosidade estranha à política.


Viu Deputados Federais com bandeiras de seus Estados homenageando filhos, netos, tios, pais, avós, esposas.


E representantes da Federação se lembrarem de suas cidades, pouco republicano.


Viu crianças no recreio jogar papel picado, portar cartazes com grosserias, como “Tchau Querida”, vaiar, xingar, fazer careta, cuspir, e teve muita, mas muita vergonha alheia.


Vergonha alheia republicana.


Viu a traição de homens que até semana passada faziam parte do governo que impeachava.


Viu gente pedir Diretas Já, quando as tivemos há um ano e meio e cassaram a vencedora.


Viu condenados de foro privilegiado votar em nome da moralidade e contra a corrupção.


Dos 513 deputados da casa, 299 têm ocorrências judiciais, 76 já foram condenados; 57 parlamentares são réus do Supremo, inclusive o que presidiu a sessão.


Viu a plataforma LUPA NEWS [www.lupanews.com ou @lupa] em tempo real mostrar quantas condenações tinha cada votante.


Veja aqui detalhes:


http://revistapiaui.estadao.com.br/lu...


Viu aliados em anos de parceria se dizerem estranhos ao governo.


Viu ministros da sexta-feira votarem contra o governo no domingo.


Viu o vice-presidente, Temer, festejar e sorrir pela derrota da sua companheira de chapa.


Viu um deputado carioca homenagear o maior torturador que São Paulo já conheceu.


Viu um homossexual declarado ser xingado de “baitola” enquanto votava e devolver com uma cusparada.


Viu Silvio Santos do SBT ignorar a sessão, apresentar seu show de calouros e derrubar a audiência da Record, emissora que a transmitiu.


Viu a esperança de que a corrupção acabará no Brasil.


Viu apresentadores de TV afirmarem “falta pouco para conseguirmos o impeachment”.


Viu o antigo PCB e o atual PSB votar com a direita.


Viu vítimas do Golpe de 64, como Guel Arraes e Tancredo Neves, servirem de inspiração para se votar pelo impeachment.


Viu a festa que fez Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SDD-SP). Em setembro de 2015, o STF decidiu aceitar denúncia e abrir ação penal contra o deputado, por se beneficiar de desvios do BNDES.


Viu as incongruências regionais [estados inteiros, como PR e MG, votarem pelo sim, e BA votar pelo não].


Viu incongruências pessoais, como a de Arnaldo Jardim (PPS-SP), antigo militante estudantil [o Chefão, da Refazenda], parceiro de Aloizio Mercadante, votar contra Dilma.



Ou Raquel Muniz (PSD-MG) homenagear o marido, votar pelo afastamento, dizer que o “Brasil tem jeito”, e testemunhar hoje, 12 horas depois, a prisão do marido, Ruy Borges Muniz (PSB), prefeito de Montes Claros, por fraudes para favorecer hospitais privados, pela Polícia Federal, na Operação Máscara da Sanidade II – Sabotadores da Saúde.



Viu Paulo Maluf, condenado até pela justiça francesa, a três anos de prisão, a votar.


Bruno Araújo, do PSDB, apareceu em planilha de pagamentos do ‘departamento de propina’ da empreiteira que está na mira da PF.


O deputado tucano, que deu o voto derradeiro [342] pelo impeachment, está na planilha da Odebrecht.


Por isso foi às lágrimas no púlpito?


Este é um dos muitos detalhes que foi ofuscado pelo espetáculo da sessão de ontem, que votou pela continuação do impeachment e que coincidentemente atravessou o Fantástico, o Show da Vida.


É preciso corrigir os rumos desta democracia.


Dar lógica à vida política.


E estabilidade.

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Published on April 18, 2016 08:27

April 14, 2016

Aquele impeachment

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Éramos esperançosos no final dos anos 1980.


Novas ideias surgiam, na volta das trincheiras da Guerra Fria. A Constituinte mobilizava o País.


O debate estava amadurecendo: nasciam editoras, coleções, as tiragens aos domingos dos grandes jornais passavam de um milhão.


Movimentos sociais, essenciais numa democracia, renasciam num novo formato.

Índios, negros (quilombolas), sem-teto, sem-terra, minorias (deficientes, mulheres e homossexuais), sindicatos livres, centrais sindicais e uniões estudantis voltaram a ter influência nos Três Poderes.


Era comum nos encontrarmos pelos corredores do Congresso, fazer lobby e agregar: construir um projeto de Nação e costurar uma nova Constituição.


Em 1989, teríamos enfim a eleição direta para a Presidência.


A última fora em 1960, em que um populista aventureiro, Jânio Quadros, de um partido sem expressão (PTN), cabelos despenteados com caspas cuidadosamente expostas, ganhara uma eleição disputadíssima de um turno com 48,26% dos votos; menos da metade do eleitorado.


O mote da campanha, o combate à corrupção. O símbolo, a vassoura.


O jingle, uma marchinha: “Varre, varre vassourinha, varre, varre a bandalheira, que o povo já está cansado, de sofrer dessa maneira, Jânio Quadros é esperança, desse povo abandonado”.


Jânio não conseguiu governar. Sua aliança política era ilusória. O vigésimo segundo presidente do Brasil renunciou em agosto de 1961, sete meses depois.


O Brasil mergulhou numa grave crise institucional. Um novo regime surgiu para acabar com a corrupção e o comunismo. A corrupção só aumentou.


Em 1989, um desconhecido político de Alagoas, de família muito rica, resgataria o estilo Jânio. Também de um partido obscuro (PRN), cabelo com gel, seu lema de campanha era “governar para os desacamisados”.


A candidatura do Caçador dos Marajás, como foi apresentado pela Veja, corria por fora. Concorria com as maiores lideranças políticas do País- Mário Covas (PSDB), Brizola (PDT), Ulysses Guimarães (PMDB), Lula (PT) e Paulo Maluf (PDS).


Adotado pelo empresariado, ruralistas e especialmente pela Rede Globo, que temia um governo alinhado com a esquerda, Collor que tinha uma retransmissora da emissora largou em último (5%), foi ao segundo turno com Lula, que recebeu apoio de Brizola, Covas e Ulysses, aliança hoje impensável.


Venceu o “Sapo Barbudo” (apelido dado por Brizola) por uma diferença de 5,71%, num país rachado: 50,01% votaram nele.


Na sexta-feira, 16 de março de 1990, a nova ministra Zélia Cardoso de Mello entrou com uma hora de atraso no auditório do Ministério da Economia para apresentar o plano de frear a inflação galopante.


Numa entrevista coletiva, anunciou que confiscara todo dinheiro aplicado em contas correntes. Poderíamos retirar apenas 50 cruzados novos: “Não há nenhuma penalização aos 60 milhões de brasileiros que ganham menos do que cinco salários mínimos, nem à classe trabalhadora, aos pequenos poupadores. Ganha a sociedade brasileira, pois teremos um país com mais justiça social.”


Anarquizaram as leis básicas da economia. Mexeram numa instituição brasileira intocável, a Caderneta de Poupança. O Estado paralisou. O comércio paralisou. O dinheiro dos brasileiros ficaria retido no Banco Central por 18 meses, com correção e 6% de juro ao ano. No caso dos fundos de curto prazo, o resgate era mais limitado.


O congelamento brutal de recursos equivalia a 30% do PIB. Claro que os 60 milhões foram os mais atingidos. O Plano Collor decretou controle de preços e salários por 45 dias, aumento das tarifas de energia elétrica, telefone e transportes urbanos, e extinguiu estatais como Portobrás, Siderbrás, EBTU e Embrafilme.


O País mergulhou na maior recessão de sua história até então. A economia retraiu 4,3%. Em 1990 a inflação chegou a 1.620%. Em 1991 recuou para 472%. Em 1992 voltou a passar dos 1.000%. Em 1993 bateu os 2.477%. Era o quarto plano econômico em quatro anos. Os anteriores também fracassaram.


Entramos num dos piores momentos culturais de história. O cinema acabou. Na literatura, a autoajuda dominava as prateleiras. Leitores precisavam de palavras reconfortantes e místicas para suportar as incongruências do dia a dia. Axé, pagode, sertanejo desempregou a brilhante geração Cazuza & Renato Russo.


O Poder virara uma festa irresponsável afogada em Logan, produtos importados e gravatas Hermes. Denúncias começaram a surgir. Collor não conseguia governar. Nenhum movimento social o defendia. Quando pedia apoio da população, o efeito era contrário: ela saía espontaneamente em massa, de preto, exigindo a renúncia. Pelo Datafolha, quando tomou posse, 71% dos eleitores tinham uma expectativa de que o governo federal fosse “ótimo” ou “bom”. Depois do Plano Collor, caiu para 36%.


Seu irmão, Pedro Collor, revelou o esquema de corrupção que envolvia o ex-tesoureiro da campanha, Paulo César Farias. Em 2 de setembro de 1992, foi aberto o processo de impeachment na Câmara proposto por Barbosa Lima Sobrinho. No fim do mês, por 441 a 38 votos, votou-se pelo impeachment. O 32º presidente do Brasil renunciou em 29 de dezembro de 1992, horas antes de ser condenado pelo Senado por crime de responsabilidade.


O risco de se ter um aventureiro excêntrico que “diz a verdade”, de um partido sem expressão, é constante até em democracias maduras. Depois da Mani Pulite (Operação Mãos Limpas), que esmigalhou os partidos tradicionais italianos, Silvio Berlusconi, milionário midiático, subiu ao poder com um novo partido, Força Itália. Il Cavaliere (O Cavaleiro) colecionou escândalos. Nos EUA, Donald Trump ainda lidera a corrida republicana. Pelas pesquisas, derrota Hillary Clinton.


Todos eles, Jânio, Collor, Berlusconi e Trump, têm muito em comum, além da preocupação extra com a cabeleira: são populistas pós-modernos, “desreferencializados”, não alinhados à política tradicional, que se dizem além da velha dialética direita versus esquerda e se apresentam como os escolhidos para reformar um Estado corrupto e inoperante. Papo que seduz os despolitizados.


Não terminaram bem seus mandatos, muito menos a corrupção.


Porque talvez não seja um líder messiânico ou uma fileira de tanques que acabará com ela.


É a velha política de baixo pra cima que precisa ser reformada.


É o Estado que precisa ser revisado.


Sugestão?


Recomeçarmos e retomarmos. A proposta de uma nova Constituinte que movimente as reformas paralisadas não deve ser desprezada. Uma que não engane ninguém: a luta de classes é o fundamento de qualquer Nação.


 

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Published on April 14, 2016 07:02

Marcelo Rubens Paiva's Blog

Marcelo Rubens Paiva
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