Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 47
September 12, 2016
Protesto inusitado na NFL
O jogo de futebol Americano nasceu em academias militares.
Suas regras lembram táticas de guerra: conquista de território, jardas, cercos.
Depois de 11 de Setembro, o patriotismo foi a campo, de onde não saiu mais: grandes bandeiras, hino, soldados das diversas forças, aviões de caça em rasantes, tiros de canhão.
Cada jogo se transformou num espetáculo ufanista carregado de sentimentalismo.
Ontem, no aniversário de 15 anos do atentado de 11 de Setembro, que coincidiu com a abertura da temporada 2016-17 da NFL, protestos de jogadores lembraram os velhos tempos das luta nos campos de atletismo e o engajamento pelos direitos civis.
Enquanto a maioria fazia uma corrente durante a execução do hino, alguns se ajoelharam em protesto contra a recente onda racista que resultou em mortes de negros por policiais brancos.
O protesto estava claro: estou mais conectado mais à minha gente, meus brothers, não ao seu país.
Foi o quarterback do 49ers, Colin Kaepernick, quem começou, no jogo contra Los Angeles Rams, ao se recusar A FICAR EM PÉ durante o hasteamento da bandeira, em protesto contra a violência policial.
O gesto foi considerado ofensivo por alguns torcedores.
Levou o presidente Obama a se pronunciar, que defendeu o direito constitucional de Kaepernick de protestar.
Jurrell Casey, Wesley Woodyard and Jason McCourty, jogadores do Tennessee Titans, ergueram o punho na partida contra o Minnesota Vikings, lembrando o gesto dos Panteras Negras, executado na olimpíada de 1968 pelos medalhistas Tommie Smith e John Carlos.
O cornerback do Kansas, Marcus Peters, se ajoelhou durante o hino.
Assim como o linebacker do Broncos, Brandon Marshal, tinha feito na sexta-feira.
Seu gesto foi imitado em outra partida: quatro jogadores do Miami Dolphins, Arian Foster, Jelani Jenkins, Michael Thomas e Kenny Stills, também se ajoelharam antes da partida contra Seahawks.
Dois terços dos jogadores da NFL são afrodescendentes.
September 9, 2016
O jornalista paralímpico
Eles estão nos bastidores de todos os jogos Paralímpicos.
Mas quase não são retratados, nem lembrados, nem ganham medalhas.
Correm de um lado para o outro.
Vieram em vários tipos de cadeira de rodas.
São os jornalistas e fotógrafos cadeirantes, amputados, com deficiência motora, que circulam velozmente entre zonas mistas, salas de imprensa, trabalhando e mandando suas matérias.
Amy Purdy, a sensacional bailarina e atleta amputada que dançou com um robô na abertura, comentará os jogos pela NBC.
Pelo Channel 4, entre os 36 comentaristas e apresentadores, 21 são deficientes [foto acima].
Mais da metade.
RJ Mitte, ator com paralisia cerebral que fez o filho de Walter White, de Breaking Bad, é o mais conhecido de todos.
Para o The Guardian, ele disse:
“É o mais importante show de pessoas com deficiência na TV. Não é apenas uma celebração das pessoas com deficiência, mas é até aonde a gente poder chegar.”
Quem apresentou para a BBC a cerimônia de abertura foi o correspondente Frank Gardner, cadeirante ferido na Arábia Saudita.
Comenta para a BBC o jogador de basquete cadeira de rodas Ade Adepitan.
No Brasil, ex-atletas ajudam nas transmissões.
A Globo [SporTV] chegou a contratar a ginasta brasileira que ficou tetraplégica, Laís Souza, para trabalhar como comentarista.
Até adaptou bancadas.
Mas devido à bolsa que ela recebe, não pode exercer atividades profissionais.
A Folha mandou seu repórter e colunista cadeirante Jairo Marques.
Bom trabalho a todos.
E não atropelem ninguém.
September 5, 2016
Rede social passou a pautar a imprensa
Jornalista-Uber
A imprensa pauta a rede social.
Este era o lema que anunciava sobrevida à profissão de jornalista, em guerra contra a tecnologia da informação, e nos enchia de esperança, apesar do horizonte de cenário apocalíptico que destruiu (restaurou, na verdade) a indústria fonográfica, cinematográfica e editorial.
Era o lema.
A rede social passou a pautar a imprensa.
Que a examina, antes de fechar uma coluna, uma página, um editorial, uma capa, uma manchete. Hoje, a imprensa se alimenta da rede social, dos virais, memes, fotos, gifs, vídeos, frases, tuítes, do climão. Talvez busque nela o lucro em falta. Busque inspiração. Novidades. Sangue novo.
Nos abastecemos da sua quantidade ilimitada de informações, que se renova a cada minuto, e do humor da humanidade, ou melhor, da rede. Nos abastecemos da sua criatividade. Até a fonte passou a dar declarações oficiais pelas redes sociais, colocando a carreira de porta-voz em risco.
O antigo leitor agora é um hashtag, uma arroba, uma página, um avatar, como o repórter, como a empresa de comunicação e como a fonte. Dividimos todos o mesmo espaço digital. Somos um link, sites, produtores de conteúdo, divulgadores de notícias. Somos fotógrafos, cineastas, editorialistas, comentaristas, repórteres. Editamos.
O antigo leitor é o concorrente e parceiro do veículo que seguia, do canal de TV, da imprensa escrita. Aprendeu com o veículo que consumia. Se a humanidade virou rede, o leitor virou galera.
Problema: a ética da rede social passou a prevalecer sobre os manuais rigorosos, bem específicos e bem construídos, sempre atualizados, necessários num contexto de liberdade de imprensa, em que não se quer o controle do Estado sobre a informação. Não coincidência que foi o fim do regime militar que impulsionou a edição de manuais de redação ou de conduta, redigidos numa parceria inédita e dialética entre patrão e empregado, dentro de um acordo tácito em defesa da isenção e da qualidade da notícia, entre empresas de comunicação, especialistas da língua, juristas e, lógico, pratas da casa, os jornalistas.
Tem repórter, colunista, escrevendo como se desabafasse para uma rede de amigos, um grupo fechado, notas mal apuradas, maldosas, rancorosas.
Ainda se acredita que jornalista apura, rede social confunde, jornalista tem credibilidade, rede social se entorpece pelo boato, jornalista tem história, experiência, tradição, rede social engatinha, jornalista tem rede de comando, rede social vive sob a égide do movimento anarquista, da contracultura, dos Rolling Stones (“you can’t always get what you want, but if you try sometimes, you just might find you get what you need”), do punk-rock (“do it yourself”), do lema da Nike (“just do it”).
Continuamos a seguir as linhas preditas por Walter Benjamin, que num estado de desespero e holocausto diagnosticou o fim da narrativa tradicional, o fim do narrador; ou a desorientação moral das formas modernas de narrativa. O que deu na incapacidade de trocarmos experiências.
O jornalista hoje se viciou pelos tóxicos das redes sociais, o narcisismo gerado pela exposição impensável. Colunistas antes lido por milhares podem ser lidos por milhões. Podem ser tema, gerar cliques, transformando a máquina de notícias em máquina de caça níqueis, o veículo em cassino. Pode estar acima da sua própria notícia. Virar notícia, assunto comentado, top trend: é compartilhado, seguido, tem fãs, como um ídolo pop.
Pouco a pouco ele se destaca da rede produtiva secular e sente que pode ir para o espaço sem a anacrônica relação patrão&empregado, comprimida pelas leis do trabalho e pressões sindicais. Ele pode ter seu próprio site, seus próprios anunciantes.
O repórter que entende a rede social se torna empreendedor, virar um jornalista-Uber, dominar aplicativos e páginas alavancadas por contas no Face, Twitter, Insta, Snapchat, confiando na fidelidade de seus seguidores.
Para isso, precisa falar a mesma linguagem. A velocidade da informação, arma da rede social, atrapalha a apuração, reduz suas antigas habilidades. A qualidade da notícia fica a desejar, já que é preciso ser o primeiro a blogar ou tuitar.
Não se deve perder tempo com a palavra que se encaixaria com perfeição. Vai com o clichê mesmo. Rapidez e concisão. Temos apenas 140 caracteres. Temos pressa.
E vamos torcer para a notícia se confirmar. Para ser verdade. Onde tem fumaça, tem fogo. Se não for, beleza, a rede tem memória curta. Em dois dias, a polêmica se esvazia. Surgirão outras, que devo compartilhar, para jogar uma nuvem de fumaça diante da minha desinformação. Ah, a galera sabe, nem tudo que sai na rede é verdade.
Benjamin lamentou o fim da narrativa oral, base da Civilização e do conhecimento, trocada pela industrialização do contar história. Dizia que era cada vez mais raro encontrar pessoas que soubessem narrar qualquer coisa com correção.
August 24, 2016
Campanha da Vogue causa polêmica
Vogue fez uma campanha polêmica para os Jogos Paralímpicos.
A rede está revoltada.
O assunto já é dos mais comentados [top trend].
Pegou dois atores, Paulinho Vilhena e Cleo Pires, e os fotografou e editou como se fossem atletas amputados.
Estão inspirados nos verdadeiros atletas paralímpicos, Bruna Alexandre, do tênis, e Renato Leite, do vôlei.
Redes sociais perguntam por que não usaram dois entre os milhares de atletas?
Qual o problema?
A campanha é SOMOS TODOS PARALÍMPICOS.
Na verdade, Cleo e Paulinho são embaixadores paralímpicos [indicação minha].
E a campanha foi criada pela agência África, de outro embaixador paraolímpico, Nizan Guanaes.
Foi um jogo curioso. Uma provocação.
Relaxa, gente.
Claro, agora venha uma campanha com amputados de verdade.
E os memes já surgiram.
August 22, 2016
Vai Tite!
Nova era.
Renovada a esperança.
Fomos ouro. O campeão voltou.
Queremos mais.
Correndo o risco de, pela primeira vez, ficarmos de fora de uma Copa do Mundo, precisávamos de um comando frio.
E moderno e aberto.
Tite foi óbvio e preciso na convocação da Seleção.
Mesclou o vitorioso time olímpico, trouxe alguns homens de confiança (Fagner, Renato Augusto, Gil e Paulinho), deixou alguns nomes certos (Daniel Alves e Marcelo) e renovou.
É uma excelente convocação.
Deixou de lado Elias.
Deixou de lado os garotos do Grêmio, Wallace e Luan.
Apostou numa mescla de experientes ex-jogadores do Corinthians com o sangue novo do Santos.
E ousou, com desconhecidos.
Precisa agora de mais.
Precisa impôr inteligência tática, arma do novo futebol, empreendida pela Alemanha.
O talento individual, o drible, são ferramentas.
Mas é o conjunto que ganha jogo, e ele sabe disso, pois imprimiu no Corinthians este estilo.
Precisa parar com as firulas, o cai-cai, cavar faltas.
Ensinar o jogador brasileiro que jogo duro não é desleal.
Ensinamos o mundo a valorizar a posse de bola.
Já aprendemos a voltar para marcar.
Precisamos reaprender a chutar de fora da área, a bater de primeira.
A não desperdiçar chances com o maldito último drible.
Cadê a inspiração Zico (gol feio também vale)?
Pedalada, caneta, lambretinha agitam a galera, mas não ganham jogo.
Vai Tite!
Vai Brasil!
August 16, 2016
O mito do legado

Estádio da Olimpíada de Atlanta
Barcelona é sempre citada como a cidade que mais ganhou ao sediar uma olimpíada.
Mas Barcelona não é o que é por causa da Olimpíada.
Ela é de Gaudí, Picasso, Miró, Dali, do Mediterrâneo, do sol, do calor.
Com ou sem Olimpíada, Barcelona seria um dos pilares do turismo europeu.
E seu estádio Olímpico, hoje obsoleto, não é utilizado há anos.
Berlim ganhou mais turistas depois da Olimpíada de 1936? Ao contrário.
Foi a cidade mais evitada durante décadas.
E Cidade do México, Los Angeles, Montreal, Seul, Sarajevo, Sochi?
A Sochi construída para os jogos já estava abandonada seis meses depois.
Ninguém vai a Atlanta e pensa na sede da Olimpíada de 1996, mas em qual cassino a comida é mais em conta.
E mais, a Grécia não faliu por causa da Olimpíada de Atenas, e sim por entrar na Comunidade Europeia.
Perdeu indústrias, mão de obra, ganhou inflação e corrupção.
Além de arenas abandonadas.
É surpreendente que o tal legado não se concretiza na totalidade. Até em economias organizadas, houve desperdício.
Sem contar os custos astronômicos [Sochi US$ 51 bilhões, Londres US$ 11,6 bilhões, Pequim no mínimo US$ 40 bilhões].
Sarajevo foi palco de uma olimpíada de inverno e de uma guerra civil.
A degradação de suas instalações é justificável.
Em Atenas, que custou US$ 15 bilhões, parte do legado está às moscas.
Foi o jornalista Tim Chester quem selecionou para o Mashable o abandono de obras olímpicas no mundo todo.
Encontrou mascotes de Pequim jogados.
Até uma rampa em Turim abandonada [Jogos de Inverno de 1956]
August 11, 2016
Rouanet participa de evento na USP transmitido pela web
Rouanet participa de evento na USP transmitido pela web
Calma lá.
Não estará em discussão a Lei Rouanet.
Nem leis de fomento ou isenção fiscal que têm causado ojeriza em grupos e militantes contra a transferência de dinheiro do Estado para a produção de cultura.
Uma bandeira neoliberal implementada por Collor e amadurecida no governo FHC.
Até porque, Sérgio Paulo Rouanet é muito mais do que o ex-secretário de Cultura de Collor responsável pela criação da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991), conhecida como Lei Rouanet.
Trata-se do diplomata, filósofo, acadêmico, especialista em Walter Benjamin [e seu tradutor].
Pensador alemão que, não com estas palavras, colocou uma pá de cal na aura da atividade cultural, morta pela tecnologia da reprodução das obras de arte.
Tecnologia que promove a liquidação da herança cultural tradicional.
Prazer Desinteressado da Arte? De Kant à Cultura Pós-Aurática de Walter Benjamin é o encontro que acontece no dia 15 de agosto, às 14h30, na Sala de Eventos do INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS DA USP.
Rouanet e Barbara Freitag começam com a teoria kantiana da arte, formulada na Crítica do Juízo (1790), até Benjamin e a perda e recuperação da aura na era da reprodutibilidade técnica.
Comentários de Cremilda Medina, Jeanne Marie Gagnebin, Martin Grossmann e Willi Bolle.
No dia 17 de agosto, às 9h, em A Ciência e suas Fronteiras, Rouanet falará das tentativas de superar fronteiras internas no campo das ciências; das fronteiras da ciência com a religião, moral e política; e do impacto das fronteiras nacionais e culturais sobre a ciência.
Com participação de Eugenio Bucci, Manuela Carneiro da Cunha e Luiz Carlos Bresser-Pereira.
Ambas as discussões serão transmitidas ao vivo pela web:
Ironia: é a tecnologia da informação ajudando a difundir as ideias de Benjamin.
Mas quem quiser assistir in loco na Cidade Universitária precisa se inscrever:
August 10, 2016
Família de Jango caminha no novo Elevado João Goulart
É anunciada como uma caminhada pela democracia.
No Minhocão, antigo Elevado Costa e Silva, que a Prefeitura mudou o nome para Elevado João Goulart.
Marcada para este domingo, dia 14 de agosto.
Com presença da família de Jango [os filhos João Vicente e Denize Goulart], que caminhara pelo elevado que leva o nome do pai, ex-presidente deposto no Golpe de 64.
A concentração será às 8h30 na Pizzaria Sara [Rua Dr. Cesário Motta Jr., 561].
August 8, 2016
Aumenta procura de Garota de Ipanema na rede
O fenômeno foi detectado pelo Spotify, considerado a maior fonte de receita para o mercado da música digital na Europa.
Aumenta 1.200% procura de Garota de Ipanema no Spotify
Quem faturou com a caminhada de Gisele Bündchen no Maracanã ao som de Garota de Ipanema foram os herdeiros de Vinícius de Morais e Tom Jobim.
A música que a dupla que compôs em 1962, despretensiosamente e aos poucos, teve um aumento de reproduções pelo Spotify no mundo todo, depois da cerimônia da abertura Olímpica.
Para quem não sabe, o Spotify, que atua em 59 países.
Com mais de 100 milhões de usuários e 30 milhões de assinantes pagantes, é um serviço de música digital via streaming.
No seu catálogo, mais de 30 milhões de músicas.
Desde do lançamento em 2008, pagou mais de 3 bilhões de dólares em direitos autorais para artistas e gravadoras.
August 3, 2016
Maria Esther para acender a pira
Pelé é o candidato natural para acender a pira.
É nosso rei, o cara que mudou a autoestima do brasileiro.
Sim, confere, existe o Brasil antes de depois de Pelé.
Mas ele tem compromissos, não confirmou.
Se ele não puder, falam em Guga. Perfeito.
Mas e Maria Esther Andion Bueno?
A paulista de 78 anos ganhou tudo nas décadas de 1950 e 60.
Ganhou 19 torneios do Grand Slam.
Foram sete na simples, onde em duplas femininas e uma em duplas mistas.
Foi a nº 1 do mundo em 1959, 1964. A primeira mulher a ganhar os 4 Grand Slams.
No Livro dos Recordes, aparece na final do US Open de 1964, contra a americana Carole Caldwell Graebner, Venceu em apenas 19 minutos.
Ganhou US Open em 1959, 1963, 1964 e 1966.
Faturou Wimbledon em 1959, 1960 e 1964, e os de duplas em 1958 (com Althea Gibson), 1960 (com Darlene Hard), 1963 (Hard), 1965 (com Billie Jean King) e 1966 (com Nancy Richey).
Ganhou ainda Aberto da Itália em 1958, 1961 e 1965, Aberto da Austrália, Roland-Garros (França)
Carregou a tocha semana passada.
No ano da primavera feminina, eu voto nela!
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