Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 49
July 4, 2016
Viver ou continuar morto?
Quando uma história real sensacional cai no colo de um escritor, não se pensa duas vezes.
Quando uma história real sensacional tem como protagonista o próprio escritor, não se pensa, age.
O que aconteceu com o escritor J P Cuenca [na real vida] levantou mil questionamentos.
Mas só havia um caminho, escrever sobre. Só pela trama, já seria o livro da vida dele.
Ou o livro do ano.
E é ambos.
Num certo dia, ele descobriu que fora expedido seu atestado de óbito.
Para a teia infernal da burocracia, ele estava morto, e, pior, seu cadáver, reconhecido.
Provar que estava vivo não era tão simples assim. Desejar-se vivo…
Como num dilema de Antonioni, ele foi atrás da história, descobriu quem era ele morto, descobriu que o local da morte não existia mais: foi tomado pela escavadeira que transforma o Rio no momento pré-olímpico.
Desistir ou insistir.
Alguns amigos desaconselharam a se aprofundar na história.
Mas Cuenca percebeu em sua morte algo recorrente, a morte de um escritor após cada obra, a morte de uma relação, a morte de uma cidade, que é morta e se reconstrói, a inutilidade da vida, sua fugacidade.
Que diferença faria ele estar vivo ou morto para o circuito que frequenta?
E se a mulher larga dele, porque ele não quer ter filho, perdeu sua função social?
Sua genética se encerrará nele? Seus livros bastarão?
Se Pornopopéia [Reinaldo Moraes] é a tragicomédia da pretensiosa vida cultural paulistana, em DESCOBRI QUE ESTAVA MORTO, livro que acaba de lançar, vê-se um Rio [Brasil] tentando resistir à sua mais uma vez eminente decadência [cultural].
Depois da decolagem abortada pela The Economist.
Três momentos o compõe.
A descoberta da morte.
Aceitar ou ir atrás.
Investigar [vai morar onde um corpo foi reconhecido como o seu, um prédio novo da nova Lapa].
Se aproveitando do dito de outro defunto-narrador, “franqueza é a primeira virtude de um defunto” [Brás Cubas], ele traça um perfil impiedoso do indiferente carioca, que durante o tiroteio numa comunidade vizinha aumenta o som, evita as janelas e não para a festa.
Numa alienação gestbyniana, de tudo acontece na festinha inconsequente de Santa Tereza.
Inclusive a degustação de um peixe cru preparado com os temperos e calor de uma… vagina, o shoshomi [“sashimi marinado dentro da xoxota de uma mulher”]
Aqui vai um trechão.
Livro imperdível:
este trecho extraí de uma prova em pdf
Naquele Rio de Herdeiro, bolsa de capital social onde
todos eram afilhados, filhos ou protegidos de alguém, meu
brilhareco de escritor publicado era visto com curiosidade e
certa condescendência. Eles sabiam que eu não tinha vínculos
cartoriais ou de nobreza. E tampouco algum tostão.
Falava-se muito. Nosso aparente autofascínio escondia
um espírito de competição, uma hostilidade latente. Em
todas as conversas havia o desejo de mostrar-se mais feliz,
mais saudável, mais adaptado, mais jovem, mais bonito,
mais sofisticado e mais caro. Melhor. E sempre naquele
agora um pouco adiantado ao tempo, no limiar entre o que
já era e o que será, no instante anterior à adoção em massa.
Na moda.
Assim, quando não falavam da alta dos preços dos
aluguéis, essas rodas podiam passar horas a fio listando cafés
biológicos (3 pontos), restaurantes orgânicos (5 pontos),
praias privativas no Mediterrâneo (6 pontos) e casas de
jazz (8 pontos) ou clubes clandestinos de música eletrônica
(10 pontos) que só eles conheciam em terras estrangeiras.
Os homens descreveriam receitas exclusivas de risoto
com trufas (6 pontos), o intenso e amplo buquê do vinho
californiano do mês (8 pontos), a qualidade da maconha
hidropônica importada por cem euros o grama (10 pontos),
as propriedades de um novo equipamento quadrafônico e
valvulado de som recém-chegado da Inglaterra (15 pontos).
As mulheres falariam de suas aulas de Hatha (3 pontos),
Ashtanga (6 pontos), Bikram (10 pontos) e outras variações
de ioga, de como as roupas estavam baratas na Top Shop em
Nova York (5 pontos), como furaram a fila para a bolsa-desejo
da última estação na Céline em Paris (20 pontos), da dieta
bem-sucedida do verão (10 pontos), da sua obsessão pelo
redesenho de partes específicas do corpo (15 pontos), dos
orgasmos conquistados nas últimas semanas (20 pontos) e,
claro, dos fi lhos que tinham (500 pontos) ou pretendiam ter
(-500 pontos).
Os filhos eram parte indispensável dessa busca pela
perfeição e pela vida fabulosa que queriam conquistar.
Muitos desses casais, por volta dos trinta e poucos anos de
idade, começavam a se multiplicar como coelhos em ondas
simultâneas. Logo trocariam suas fotos de perfil nas redes
sociais por imagens dos bebês que, nos anos seguintes, se
transformariam no centro gravitacional das suas vidas, dos
seus desejos e das suas personalidades. Até que, em algum
ponto da adolescência dos filhos, vissem sua fantasia de
controle ruir.
Mas, bem antes de sentir-se órfã do filho que teve, a
mulher que conquistasse esse requisito seria calorosamente
invejada, em silêncio pouco discreto, pelas outras sem-filho.
Para elas, L’enfant-roi não apenas sacramentava a utilidade
final dos seus úteros, trompas e tudo o que os acompanhava,
mas também a aparente tomada definitiva do marido, o sonho
do homem-próprio recém-conquistado – mesmo que depois
tivessem que fazer terapia de casal e desejassem o marido ou
a mulher do próximo.
Para fugir desse roteiro, eu adiava planos com a minha
mulher e, naquela mesma semana, quando falávamos de
mais um casal que anunciava sua prole, informei, distraído,
enquanto passava um café e ela fritava um omelete:
– Se você engravidasse, eu te pediria para fazer um aborto.
Ela engoliu o choro.
Na festa, eu bebia encostado numa parede e via os casais
se distraindo dos seus acordos de fidelidade.
Estava sozinho naquela noite, o que me permitia
observar de fora o desvio das conversas, já envoltas numa
sombra turva e nebulosa de bebedeira, para o tema da
orgia, da suruba, do casal liberal, de quem faria um ménage
à trois com a amiga atriz – sempre havia um inesgotável
estoque de atrizes belas e disponíveis nos sofás do Rio de
Janeiro – ou mesmo uma troca com o casal sentado ao lado.
E, então, os homens iera comum que permitíssemos que
Suas nossas mulheres se beijassem e nos issemseduzíamos
com calculada liberdade, para depois emvoltarmos para
casa ae roncarem ao lado das própriascompanhias de
sempre. Aquele mundanismo não costumava ultrapassar
palavras e olhares, com a exceção de esporádicas visitas a
boates de burlesco e swing que eles frequentávamosa com
a expressão antropológica de velhas francesas em excursão
à África Colonial.
Aqueles jovens casais de sucesso dissolveriam-se pouco
a pouco na modorra de suas produtivas e bem-adaptadas
rotinas, até seus divórcios serem negociados em termos
saudáveis, como tudo deveria ser. Eles prolongariam seus
matrimônios ao limite das suas possibilidades pelo simples
medo de que seus parceiros pudessem ser felizes com outra
pessoa, alguém que fosse a antítese das suas limitações.
Ou pelo menos era o que eu fazia na época. Era
insuportável a ideia ade que minha mulher pudesse ser feliz
com outro homem. Eu não conseguia transformar o maior
amor da minha vida em algo deste mundo ou mesmo num
interesse concreto. Ainda não a havia largado apenas porque
a considerava minha propriedade.
Tudo acaba. A merda é que depois continua, eu pensava,
até que os dois terminassem como dois soldados exaustos,
perdidos, lutando do lado do inimigo.
2
Empunhando um telefone dourado, um jovem adulto
mostrava as fotografias de seus dois últimos lares em
diferentes continentes:
– Exatamente o mesmo apartamento.
Aquela era uma bolha com pretensões cosmopolitas. As
conversas, modas e bebidas, em festas como a do Tomás
e nos bares e clubes correspondentes a elas, tentavam
ultrapassar a geografia. Quando cheguei, um grupo de
executivos comentava suas temporadas em megalópoles
financeiras. Mudavam de casa entre Londres, Hong Kong ou
Nova York sem hesitar, como o fluxo flutuante de capital que
administravam. A cada novo endereço, usavam um serviço
que lhes arranjava desde a decoração da casa até a escola
inglesa das crianças e uma lista aprovada de restaurantes de
cozinha internacional e lojas de design.
– Ela achou um imóvel com o formato igual ao anterior. E
mandou refazer o piso, sem que pedíssemos, para que match
o que tínhamos no Upper East e os tapetes.
A sala em tons de cinza, o sofá Chesterfi eld de trinta mil
dólares, a poltrona Charles Eames original, a luminária em
formato de refletor de cinema, o tapete irônico de zebra.
Dentro do circuito que ansiávamos frequentar, o mundo
era algo semelhante a isso: um bar de hotel, uma casa da
Wallpaper, um ensaio de moda da Monocle com a trilha
sonora de uma playlist da Pitchfork. A estética domesticada,
que transformava endereços Time Out em McDonald’s do cool
e expedições à Somália em turismo exótico por publicações
como a Vice, era consumida com avidez por esses agentes do
capitalismo e pela parte menos hábil para o trabalho dessa
jovem boemia – a maioria de nós naquele apartamento, então
trabalhando como freelancer em comunicação, publicidade,
jornalismo, tv ou nas margens do mercado editorial e do
mundo acadêmico.
Esse segundo grupo, como dispunha de tempo e não
obedecia horários de escritório ou de bolsas asiáticas,
relia romances de Bolaño com lupas, acalentava vagas
inquietações metafísicas, estocava discos de vinil em casa e
frequentava festivais de música pelo mundo – uma vez por
ano, quando a cotação do dólar permitia. Era uma forma de
se sentir menos miserável ao lado de quem desfrutava do
dinheiro e do poder ao qual nunca teriam acesso. Ao menos
lhes restava comprar identidade por meio com um gosto
supostamente original e independente.
Enquanto alguns se concentravam no que comprar, a
preocupação dos estrangeiros que frequentavam as festas
do Rio pré-olímpico era precisamente a oposta. Em tempos
de crise europeia, impressionava o número de jovens
portugueses e espanhóis dispersos por esses salões, falando
em voz baixa e cuidadosa com os brasileiros prósperos e
estabelecidos.
– Estou cá a prospectar.
– Sí, un taller de arquitectura.
– Lá en el alto del Vidigal. Bien lá no topo.
Eram como os ingleses bem-vestidos e com cara de fome
no jardim de Jay Gatsby. Sem dúvida, tentavam vender alguma
coisa – ou a si mesmos. Pareciam fantasiar com a quantidade
de dinheiro que rolava solta naquela vizinhança e estavam
convencidos de que tudo seria deles mediante poucas palavras
no tom certo. Bando de otários. Mas não era difícil culpá-los.
Em 2011 o céu andava azul-turquesa como uma nota de cem
reais, e uma oferta aparentemente ilimitada de riqueza e gente
chegava ao Rio de Janeiro sob a nuvem inebriante de poeira
levantada pelas novas construções.
Não apenas o Tomás e seus amigos financistas
comemoravam, mas também os grandes empreiteiros, os
conglomerados de comunicação, os concessionários públicos
de transporte e serviços, os célebres ilusionistas midiáticos
exploradores de commodities alavancados no capitalismo de
Estado, os condes da burocracia estatal e, por fim, a classe
política, agente e sócia do dinheiro que a empossava. Andares
abaixo, todos nós esperávamos por alguma migalha grudando
no dorso desses tubarões como rêmoras famintas – unidos
por um enorme e aparentemente incondicional talento para a
esperança. Entre a primeira e a segunda década do século xxi,
o mesmo processo econômico que fez os preços dos imóveis
se multiplicarem por três ou quatro transformou o real na
moeda mais sobrevalorizada do mundo. E, na cozinha do
apartamento, um homem de calça cáqui agora dava conselhos
a Tomás Anselmo girando o dedo num copo de uísque com
soda e muito gelo:
– Olha, meu caro, se eu fosse você, jogava todo o investimento
no di e a rentabilidade naquele fundinho de ações. Eu tenho
conversado com o pessoal do Factual e eles têm sido obscuros
sobre o mercado, então é papo de proteger o seu principal e só
tirar a rentabilidade de um fundo de renda fixa.
Menos informados, nativos de todas as idades arregaçavam
as gengivas para repetir orgulhosos as manchetes do New
York Times e do Guardian sobre o aumento do custo de vida
no país – sem desconfiar ou esquecendo propositadamente
que a abundância de dinheiro era a mesma que financiava
empréstimos de risco e os negócios de megapicaretas
célebres e que drenava a competitividade da indústria.
Quando a Economist publicou, em novembro de 2009, pouco
depois que o Arcanjo Gabriel anunciou a Profecia Olímpica,
que o Brasil em algum momento da década “posterior a
2014” seria a quinta economia do mundo, superando o
Reino Unido e a França, que o único risco do Brasil, dali em
diante, seria o orgulho excessivo, que o Brasil, ao contrário da
Índia, não tinha conflitos étnicos e insurgentes, que o Brasil,
ao contrário da China, era uma democracia, e, ainda, que
o Brasil, ao contrário da Rússia, exporta mais que petróleo
e armas, acreditou-se que o futuro do país do futuro do
pretérito havia chegado.
Anos depois, o mesmo Tomás Anselmo diria na sua pose
de burguês tomador de uísque e intelectual especulativo:
– A edição da Economist com o Cristo Redentor decolando
na capa foi o início da nossa derrocada. Eles penduraram
essa revista nas paredes dos escritórios da cidade inteira,
como um quadro num altar. A maioria nunca leu o especial
de vinte páginas sobre o futuro mágico do Brasil, mas
tinha aquilo enquadrado. Que semanas e que meses: havia
manhãs naquele tempo! Aceitaram aquela matéria como
uma teofania, como se tivesse sido escrita não por um grupo
de jornalistas gringos com tentáculos ligados aos fundos de
investimento do próprio Belzebu, mas por um apóstolo em
êxtase transcrevendo a voz de trombeta de Deus lhe narrando
o paraíso e mandando que enviasse o texto às Sete Igrejas
da Ásia. Acreditamos naquele momento que estávamos
condenados à prosperidade… e, infelizmente, esse não foi o
nosso último ato ingênuo. Antes a puta da Economist tivesse
reproduzido em suas páginas sobre o Brasil o apocalipse de
São João, já que agora as coisas antigas desapareceram e tanta
gente enxuga dos olhos toda lágrima, disso não há dúvida.
June 29, 2016
Vamos rever a Lei Rouanet
Lei Rouanet é a nova vilã.
Questiona-la é uma forma desonesta de questionar o posicionamento político de artistas.
Especialmente daqueles que defendem o governo Lula&Dilma ou comparam o impeachment em andamento a um Golpe de Estado.
Para o neo-ativismo maniqueísta virtual, artistas defendem o governo deposto por interesses financeiros.
Desqualifica-se a ideologia.
Artista não serve para nada, e dinheiro útil da Saúde e Educação vão para aqueles que não se sustentam pelo próprio trabalho.
Artistas não tem ideais, opiniões, só estão preocupados com a sua boquinha.
Patrocínio é mesada.
Tais argumentos nem merecem réplica.
Porém, se a corrupção está na Petrobras, elétricas, telefônicas, fundos de pensão, saúde, educação, ingenuidade achar que a Cultura estaria livre.
A lei tem muitas falhas e propicia, sim, a corrupção.
Especialmente praticada por agentes de marketing cultural de algumas empresas.
Se existem grandes eventos que se pagam, por que recebem benefícios?
Em 2006, o MinC liberou R$ 9,4 milhões ao Cirque du Soleil, operação via Lei Rouanet. Claudia Leitte, Luan Santana, Shrek, até a Peppa Pig já estiveram na lista dos aprovados para captar milhões de incentivos pela lei.
Como artista, acho que devemos investigar e abrir as contas da Lei.
Para separar malandros de honestos e salvar o que existe de bom nela, cuja lista de 2016 tem biscoito-fino:
Instituto Tomie Ohtake R$19.733.528
MASP R$17.724.344
Instituto Itaú Cultural R$14.730.000
Fundação Bienal de São Paulo R$13.270.450
Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira R$10.799.781
Instituto Cultural Inhotím R$10.592.267
Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo R$9.769.386
Museu de Arte Moderna de São Paulo R$8.076.530
A Lei Nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991, Lei Rouanet, é uma chatice.
Foi criada no governo Collor, transferindo à iniciativa privada parte do patrocínio cultural, através de isenções.
Só poucos e sábios burocratas conseguem cumprir todas as exigências contidas nela.
Só bem enturmados, com pistolões, conseguem grana.
É preciso prestar contas, discutir orçamentos, aceitar imposições arbitrárias, como “autor” (dramaturgo) não ganha cachê, aguardar prazos, dar telefonemas a Brasília cobrando.
Mas o MinC era tão rigoroso com Lei Rouanet, que nos casos levantados pela Operação Boca Livre, deflagrada ontem pela PF, aparentemente tem gente de dentro envolvida.
Ponho minha mão no fogo por 98% dos funcionários do MinC.
Mas em 2% deles…
Juca Ferreira, então ministro da Cultura, soltou uma nota se explicando:
A Operação “Boca Livre”, deflagrada hoje pela Polícia Federal, é consequência de investigações do Ministério Público Federal e do próprio Ministério da Cultura (MinC), iniciadas em 2011.
As apurações do MPF e do MinC, que deram origem à operação divulgada hoje pela PF, identificaram indícios de adulteração de documentos, declarações falsas, documentos montados com o fim de comprovação de objeto, apresentação do mesmo projeto por diversos proponentes, fatos que apontavam para um esquema de fraude e de uso indevido da Lei Rouanet.
Estes indícios levaram o MinC, já à época, a inabilitar de forma cautelar a empresa alvo da operação da PF e outras ligadas aos mesmo grupo, congelando todos os projetos que estavam em execução naquele momento. Ao mesmo tempo, o Ministério decidiu aprofundar as análises que vinham sendo realizadas, o que resultou em diversas reprovações de contas que determinaram processo de Tomada de Conta Especial junto ao TCU e na ordem de devolução de recursos aos cofres públicos.
Ao confirmar os sinais de fraude, o Ministério enviou, em 2013, todos os dados à extinta Controladoria Geral da União (CGU) para que outras frentes de investigação fossem abertas em paralelo ao trabalho do MinC.
O esquema criminoso que fraudou o incentivo fiscal não tem relação com as distorções que temos apontado sobre as limitações da Lei Rouanet de fomentar de forma ampla a cultura brasileira. Se por um lado é importante manter um aperfeiçoamento constante da gestão destes mecanismos, por outro devemos manter o foco na reforma do sistema de fomento à cultura.
No que se refere à gestão, em minhas duas atuações como ministro da Cultura, de 2008 a 2010 e de janeiro de 2015 a maio deste ano, além de investigar e punir irregularidades, dentro dos limites legais impostos ao Ministério, e de encaminhar denuncias à CGU, ao MPF e à PF, trabalhamos para dar transparência ao processo de avaliação e para fechar as brechas legais que favorecem as fraudes, além de qualificar os mecanismos de acompanhamento e controle dos mais de 8 mil projetos que são apresentados anualmente no âmbito do incentivo fiscal da Lei Rouanet.
Sobre os problemas estruturais das políticas de fomento, encaminhamos ao Congresso Nacional em 2010, o Procultura, projeto que cria uma verdadeira política pública de fomento à cultural. O Procultura é resultado de mais de 10 anos de intensos debates e de estudos aprofundados sobre a melhores formas de dotar o poder público de excelência neste setor. Aprovado na Câmara, desde 2014 o projeto aguarda votação no Senado. Sua aprovação será um salto de qualidade nas políticas de fomento, corrigindo grande parte das distorções atuais e incidindo de maneira mais positiva na cultura brasileira.
June 23, 2016
Cartunista Glauco ganha exposição
Glauco Vilas Boas, ou simplesmente Glauco, com Angeli e Laerte, Los Três Amigos, revolucionaram o cartunismo brasileiro.
Inspirados pela geração do Pasquim, Millôr, Jaguar, especialmente Henfil, trouxeram para o dia a dia tiras que exploravam as neuroses urbanas ATUAIS, especialmente as dos paulistas.
Geraldão, seu personagem mais famoso, era um solteirão excêntrico e hipocondríaco, que morava com a mãe.
Bebum drogadão que muitos diziam que era inspirado nele mesmo.
Juntaram-se na revista Chiclete com Banana, megassucesso de vendas, e depois, ideia de Angeli, em Los Três Amigos, gozação do filme de John Landis.
Cujos personagens são os próprios autores, com suas próprias noias, Angel Villa, Laerton e Glauquito, que falavam num portunhol tosco.
Glauco, também líder de uma seita de daime e começou a faltar nas reuniões.
Os outros dois, depois com a ajuda de Adão Iturrusgarai, imitavam o traço inconfundível dele.
É no Itaú Cultural que ele recebe uma exposição: A OCUPAÇÃO GLAUCO.
Que abre no dia 9 de julho e fica até 21 de agosto.
Glauco foi assassinado com seu filho no portão da casa em que moravam em 2010.
Que baita saudade desse cara…
June 20, 2016
Itália de hoje, Brasil de amanhã
A Itália talvez seja o que pode virar o Brasil.
Lá, a cada ano que passa, M5S, o partido do comediante Beppe Grillo se consolida no Poder.
Com a bela advogada Virginia Raggi, de 37 anos, ganhou ontem a Prefeitura de Roma.
Também em Turim, reduto da esquerda sindical, o P5S impôs uma humilhante derrota.
Itália e Brasil.
Ambos os países ao saíram de ditaduras estiveram nas mãos de três partidos políticos que se revezavam no poder: direita, centro e esquerda.
Aqui, tucanos, PMDB e petistas.
Lá, democracia-cristã, socialista e PCI.
Foram os partidos que se fortaleceram na Guerra Fria com o fim de regimes autoritários e se enraizaram no Estado graças a uma rede de corrupção que custeava campanhas eleitorais e a permanência do poder.
Sem a timidez de fazer alianças e acordos entre eles danosos aos cofres públicos.
Lá, como aqui, uma operação policial, MÃOS LIMPAS, que atacou o empresário corruptor, não o corrupto, e começou pequena, atingiu a cúpula dos grandes partidos.
A Queda do Muro de Berlim, a descrença da velha ideologia, a corrupção, o desencanto, tornaram-se campo fértil para uma política pela própria política, não para o outro.
Berlusconi foi o primeiro fruto a amadurecer.
De um partido fundado em 1994, Força Itália, uma nuvem ideológica populista: anti-comunista, midiática, liberal.
Agora, o Movimento 5 Estrelas, ou M5S, que nasceu de uma provocação de um comediante, chegou a ter ¼ do Congresso, surge como força paralela ao Executivo.
As eleições municipais deste fim de semana consolidaram o M5S como alternativa de Governo.
Ganhou fácil em Roma do tradicional Partido Democrático (PD), antigo PCI; uma derrota humilhante.
Acabar com os velhos vícios da política italiana é o principal lema da nova estrela na política de lá.
A bola está quicando por aqui.
A frente, o empresário, comediante ou palhaço que tomar a bandeira da reforma da velha política brasileira, tem chances de em pouco tempo tomar o Poder.
Pelo voto de um eleitor descontente, desacreditado, enganado e traído pela “velha” política.
June 16, 2016
Hackers postam bandeiras gays em contas do ISIS
Hackers postam bandeiras gays em contas de simpatizantes do ISIS.
Depois do atentado em Orlando, membros do Anonymous se infiltraram em contas de simpatizantes do Estado Islâmico e postaram conteúdo “gay-friendly”.
O usuário @WauchulaGhost contou a Newsweek que depois que Omar Mateen matou 49 pessoas na boate Pulse, se sentiu compelido a agir.
Avatares foram substituídos por bandeiras com arco-íris.
Contas foram inundadas por slogans do movimento LGBT.
Outros ativistas reclamam que autoridades têm feito pouco contra o ativismo do ISIS na rede.
@WauchulaGhost disse ao Washington Post que é fácil identificar e encontrar imagens e ameaças de simpatizantes do ISIS.
“Acordo de manhã e vejo mensagens de radicais dizendo que vão me matar e cortar minha cabeça fora. Contra-atacamos.”
Justo. Cada um luta com sua arma.
Mais informações na conta da agência RT (https://twitter.com/RT_com)
June 15, 2016
Argentinos zoam Brasil em comercial de cerveja
Brasil eliminado da Copa América.
Claro que eles não perderiam a chance.
Num comercial da cerveja Quilmes, patrimônio nacional, turistas argentinos cantam no Rio a musiquinha criada por oito amigos do colégio Manuel Belgrano, de Buenos Aires, para nos zoar, que viralizou na Copa do Mundo.
Cujo clímax é a frase, lógico, que Maradona é melhor que Pelé, uma obsessão deles.
Brasil, decime qué si siente (Brasil, diga-me como se sente) é cantada sobre a melodia e ritmo de Bad Moon Rising (Creedence Clearwater Revival).
No entanto, esqueceram-se de um detalhe envolvendo a economia dos dois países.
A Quilmes é nossa.
Há dez anos, a tradicional cerveja do Grupo Quinsa passou para o controle total do Brasil.
A AmBev desembolsou, em 2006, US$ 1,25 bilhão em troca de 34,46% das ações que ainda permaneciam de posse do Grupo Bemberg, que controlou a Quilmes por 115 anos.
Os brasileiros, que já tinham parte da Quilmes, ficaram com 91,18% do pacote acionário.
Vão cantando, vão…
PS> Hoje a Ambev se fundiu à belga Interbrew. Viraram a Anheuser-Busch InBev, com sede na Bélgica e em São Paulo.
June 13, 2016
Seleção brasileira, lembra-se dela?
Seleção não dá mais ibope
Dá vexames.
A amarelinha, canarinho, que rendeu marchinhas e festas.
Que mudou o vira-lata brasileiro.
Nem é mais campeã de audiência da emissora, detentora dos direitos de transmissão da Seleção, parceira e mecenas do futebol brasileiro.
Pelo Campeonato Brasileiro: Palmeiras x Corinthians, às 16h, 27,8 pontos no Ibope.
Copa América Centenário: Brasil x Peru, às 21h45, horário nobre, 22,1 pontos.
Quem manda num dos maiores símbolos da identidade nacional, a seleção brasileira de futebol?
Del Nero, coronel Nunes, Rede Globo?
Quais patrocinadores ficaram, quais se foram, assustados com o montante de escândalos que envolve nossos dirigentes?
Responda rápido, qual o nome do presidente da CBF?
Escale o time titular, consegue?
Quem é o camisa dez?
Em outros tempos, você sabia de cor.
Seleção segue rumo à completa decadência.
Ronaldo Fenômeno deu seu diagnóstico: É um problema POLÍTICO.
Político e policial.
Como tudo no Brasil.
Havelange, Ricardo Teixeira, Del Nero, todos os poderosos do nosso futebol, na mira do FBI.
Ontem, durante a eliminação da Copa América, seu grande protegè, Galvão Bueno, jogou a toalha.
Chorando, pedia providências ao que ele chamou de uma das maiores humilhações do futebol brasileiro.
E o Brasil vê um dos seus orgulhos se desfazer.
Com o muitos outros.
Como diria o narrador Milton Leite: Que fase…
Logo logo dirão.
Seleção brasileira, lembra-se dela?
June 10, 2016
Vereador sugeriu colocar gays numa ilha e perde ação
Por aí, o Brasil que manda no Brasil.
E que nos deixa incrédulos, pois foi eleito por nós, para nos representar.
Nossa voz insana.
Numa segunda-feira do começa da primavera de 2014, o vereador Sérgio Nogueira (PSB), pastor, subiu na tribuna da Câmara Municipal de Dourados, Mato Grosso do Sul, e fez um discurso inflamado, pegando todos de surpresa.
Propôs enviar homossexuais a uma ilha, onde ficariam presos por 50 anos.
Para ele, “família não é qualquer coisa”, e o governo federal a desconstruía em cartilhas. Lembrou que a “prática do homossexualismo é condenada nas escrituras sagradas”:
“Não podemos passar a ideia de que o anormal é normal. Bota as pessoas que pensam assim numa ilha por 50 anos. Coloca essas pessoas numa ilha e depois de 50 anos volta para ver. Não vai ter mais ninguém.”
Ouça seu discurso:
http://www.94fmdourados.com.br/notici...
Teve gente que ironizou:
Ana escreveu no site da rádio: “Adorooooo. Pra mim ia fazer um favor. Imagina uma ilha só com gay… Que magia. Me chama que eu vou. #heterofobica”
Mas a repercussão negativa foi maior.
Para dar um fim na polêmica, ele foi além.
Candidato à reeleição neste ano, entrou uma com ação na 4ª Vara Cível de Dourados, aos cuidados da juíza Daniela Vieira Tardin, pedindo que qualquer matéria já publicada sobre o caso fosse apagada.
E que o parlamentar não fosse criticado pela imprensa durante os próximos dez anos.
Os advogados do vereador também pediram à Justiça que a empresa proprietária do Portal da 94FM, primeiro a publicar matéria sobre o assunto, apague “de todos os sítios da internet, as publicações sobre o tema, que tenham sido replicadas ou inspiradas no seu título ou em seu texto ou na sua forma de redigir o evento em comento”, e “se abstenha de publicar matérias ofensivas contra” ele “durante os próximos dez anos, sob pena de aplicação de multa diária”.
O desembargador Divoncir Schreiner Maran considerou que a publicação “não implicou em ofensa à honra e à imagem do representante como candidato, pois o que foi divulgado referia-se apenas a discurso proferido pelo representante na Câmara Municipal no exercício da verança que ocupa, inclusive com a transcrição na íntegra do discurso, não contendo, pois nenhuma ofensa na seara eleitoral, tratando-se, pois de matéria de cunho meramente informativo, que sequer merece análise pela Justiça Eleitoral”.
Todas as informações em detalhes estão no portal da combativa 94FM de Dourados.
June 7, 2016
Sônia Braga dá uma dura em ministro
Sônia Braga dá uma dura no ministro da Cultura, Marcelo Calero.
Foi didática e educada.
O novo ministro da Cultura, participava do programa da TV Brasil, Preto no Branco, quando de surpresa começou a criticar Sônia Braga e o elenco do filme Aquarius.
Em Cannes, atores e equipe do novo filme de Kleber Mendonça protestaram contra o que chamavam de “golpe do Brasil”.
Sônia publicou uma carta aberta na sua conta do Face.
O ministro disse no programa:
“Acho ruim, em nome de um posicionamento político pessoal, causar prejuízos à reputação e à imagem do Brasil. Estão comprometendo em nome de uma tese política, e isso é ruim. Eu acho até um pouco totalitário, porque você quer pretender que aquela sua visão específica realmente cobre a imagem de um país inteiro. Eu acho que a democracia precisa ser respeitada e acho que é um desrespeito falar em golpe de Estado com aqueles que viveram o golpe realmente, o de 64. Pessoas morreram. E as pessoas esquecem isso.”
Respondeu a musa do cinema brasileiro:
June 6, 2016
Fotos antigas revelam um Afeganistão pueril
Afeganistão em paz.
Tudo isso antes da guerra com a União Soviética, entre os anos 1979 e 1989, a ascensão do Taliban, o fortalecimento da Al Quaeda e a guerra contra os EUA.
Existiu um país ainda inocente, sem a turbulência da Guerra Fria, do fundamentalismo religioso e das regras da Idade Média impostas às mulheres.
É o Afeganistão dos anos 1960.
Fotos do arquivo da família de Bill Podlich, professor americano do Arizona que decidiu passar o verão de 1967 com a prole num país exótico, com semblante capitalista.
Ele registrou sua família no cotidiano de Cabul, a capital, onde, encantado, dois anos depois passou uma temporada.
Dói no coração.
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