Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 18
September 10, 2018
O ‘Conto de Aia’ de Bolsonaro
Quando Conto da Aia estreou, muitos se lembraram do fundamentalismo imposto pelo Talibã e Estado Islâmico, em que as mulheres foram subjugadas, proibidas de trabalhar e estudar.
Mas Margaret Atwood, autora do livro que deu origem à série, Handmaid’s Tale (Booker Prize de 2000), o escreveu em 1985.
O retrocesso dos direitos da mulher rolou também no regresso de Aiatolá Khomeini ao Irã, o renascimento da República Islâmica, em que mulheres ocidentalizadas foram subjugadas e cobertas.
Mas entramos na segunda temporada. Um ano se passou. Um novo e desconhecido Brasil sai da sombra: o de Bolsonaro.
E não é que a série mais premiada e comentada dos últimos anos nos remete à possibilidade da vitória de Bolsonaro e a ascensão de seus ideais?
Em Hadmaid’s Tale, os Estados Unidos passaram por guerra civil. É o que general Villas Bôas e seguidores do ex-capitão sugerem.
Uma ala radical tomou o poder numa antes sociedade caótica, poluidora, hedonista.
Opositores são fuzilados e enforcados. Sugestão já proposta pelo candidato do PSL.
Assim como homossexuais e médicos que trabalham em clínicas de aborto.
O governo é totalitário, o Estado, militarizado, a casta no Poder é da elite de comandantes, proposta do candidato Bolsonaro, que já sugeriu um ministério só de militares.
Jornalistas foram enforcados e fuzilados. É comum em eventos e palestras o candidato acusar empresas como Globo, Folha de S. Paulo (que chama de Foice de S. Paulo), Estadão (que chama de Esquerdão), de serem ligados à esquerda.
Na segunda temporada da série produção da Hulu (aqui, exibida pela Parmount), o casamento gay é anulado.
Enfim, as mulheres…
Bolsonaro não é um gentleman e questiona a reformulação da identidade de gênero, o papel das mulheres e a equiparação salarial.
Na série, June, ex-editora de moda, é a rebelde que, presa e doutrinada, deve usar um lenço e servir ao comandante Waterford.
E Nadine, cientista, professora acadêmica e gay, foi obrigada a se separar de sua companheira e filha e enviada a um campo de concentração com outras mulheres de “reputação duvidosa”.
Não lembra?
September 6, 2018
Cacá Diegues homenageado em festival de Miami

Bye Bye Brasil
O novo imortal da Academia Brasileira de Letras, cineasta Cacá Diegues, que passa a ocupar a Cadeira 7 do “imortal-aposentado”, o genial Nelson Pereira do Santos, falecido em 21 de abril, ganha uma mostra na 22ª edição do Festival de Cinema Brasileiro de Miami (BRAFF).
O evento organizado pelas guerreiras Adriana Dutra, Claudia Dutra e Viviane Spinelli ocorre todos os anos, com patrocínio, entre outros, da prefeitura da cidade e Ancine [abaixo a lista].
É o único festival brasileiro de cinema no país do cinemão (por falta de patrocínio, o de Nova York, que rolava em TriBeCa, parou de acontecer).
Na noite do dia 23 de setembro no New World Symphony Soundscape Park, haverá a entrega do prêmio de melhor filme (escolha do público) e a exibição gratuita de Bye Bye Brasil, filme mais conhecido e de maior repercussão de Cacá aqui e no exterior.

FOTO: SERJAO CARVALHO / ESTADÃO
A mostra com três filmes de Cacá acontece de 14 a 23 de setembro.
Serão também exibidos:
Orfeu (de 1999)
Deus é Brasileiro (de 2003)
O Maior Amor do Mundo (de 2006).
Estão confirmados para o festival, as produtoras Renata Magalhães, Mariza Leão e Elisa Tolomelli, os atores Betty Faria e Danton Melo, os diretores Carol Jabor, Sergio Rezende, Marcio Debellian e Tiago Arakilian, e os roteiristas Helio de la Peña, Luisa Parnes e Flávia Guimarães.
Entre os curadores, além de Anna Marie de la Fuente, editora-chefe da revista Variety, e Carlos Gutierrez, diretor do Cinema Tropical, a nossa ex-colega jornalista e documentarista, Flavia Guerra.
São oito filmes na competição:
Correndo Atrás, de Jefferson De
Benzinho, de Gustavo Pizzi
O Paciente – O Caso Tancredo Neves, de Sergio Rezende
Aos Teus Olhos, de Carolina Jabor
Berenice Procura, de Allan Fiterman
As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra
Uma Quase Dupla, de Marcus Baldini
Antes Que Eu Me Esqueça, de Tiago Arakilian
Em sessões hors concours, dois documentários: Quero Botar Meu Bloco na Rua, de Adriana L. Dutra, sobre o carnaval de rua carioca, e Fevereiros, de Marcio Debellian.
Paralelamente, entre 17 e 18 de setembro na Universidade Internacional da Flórida (Florida International University), serão exibidos filmes focados nos estudantes: Euller Miller Entre Dois Mundos, de Fernando Severo, Como é Cruel Viver Assim, de Julia Rezende, e Canastra Suja, de Caio Soh.
O festival tem patrocínio de Miami-Dade County (Tourist Development Council, Department of Cultural Affairs, Cultural Affairs Council, Mayor and Board of County Commissioners), City of Miami Beach – CAC, Ministério da Cultura, Secretaria do Audiovisual, Ancine, FSA, BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul) e E! Entertainment Channel
September 3, 2018
Só não perdemos a vergonha
O meteoro resistiu. Mas e o resto?
O que se perdeu?
Queimou o fóssil de 12 mil anos de Luzia?
A primeira edição de Os Lusíadas, de 1572?
E a primeira edição da Arte da Gramática da Língua Portuguesa, do Padre José de Anchieta de 1595, foi salva?
E Rerum per octennium…Brasília, de Baerle (1647), com 55 pranchas a cores desenhadas por Frans Post?
E o exemplar completo da famosa Encyclopédie Française?
O primeiro jornal impresso do mundo, de 1601, perdemos?
O documento de assinatura da Lei Áurea?
Perderam-se Os Murais de Pompeia?
Múmias e o Sarcófago de Sha Amum Em Su, um dos únicos no mundo que nunca foram abertos?
Acervo de botânica Bertha Lutz?
Estão lá ainda os diários da Princesa Isabel?
E o trono do rei Adandozan, do reino africano de Daomé?
Sobrevive o prédio em que foi assinada a independência do Brasil e suas duas bibliotecas?
O pergaminho do século 11, com manuscritos em grego sobre os quatro Evangelhos, o exemplar mais antigo da Biblioteca Nacional e da América Latina?
E a Bíblia de Mogúncia, de 1462, primeira obra impressa a conter informações como data, lugar de impressão e os nomes dos impressores, os alemães Johann Fust e Peter Schoffer, ex-sócios de Gutemberg?
Perdemos a Crônica de Nuremberg, de 1493, considerado o livro mais ilustrado do século 15, com mapas xilogravados tidos como os mais antigos em livro impresso?
E a Bíblia Poliglota de Antuérpia, de 1569?
O maior dinossauro brasileiro já montado com peças quase todas originais, o dinoprata, foi-se?
E Angaturama Limai, maior carnívoro brasileiro?
A ossada da enorme baleia azul?
Fósseis de plantas já extintas?
Tudo se perdeu?
Só não se perdeu a vergonha de como tratamos nossa história, nosso passado, nossos museus.
De como estamos mal cuidados, mal administrados, em maus lençóis.
Nesse ponto, a Monarquia dava de dez a zero.
September 2, 2018
Teatro adulto e infantil agora no streaming
Looke é uma plataforma de streaming com 13 mil títulos bem completa.
Tem de sucessos como Bruce Willis em Desejo de Matar, Deadpool 2, o brasileiro premiado, Aquarius, o indie Antes Que Eu Me Esqueça, ao programa Conversa com Bial.
E um grande repertório de cinema nacional.
Apresenta uma novidade que pode ser a salvação da lavoura para a classe teatral, que vê seu público trocar o teatro pelas quatro telas: oferece peças de teatro completas, com estrelas como Maria Padilha, Tonico Pereira, Maitê Proença, Adriane Galisteu, para adultos e crianças, que podem ser assistidas em casa.
Chamada de a Netflix brasileira (exibe também séries da Globo), a plataforma comemorou o Dia do Artista de Teatro (19 de agosto) oferecendo duas listas com diversas peças de teatro nacionais, completas.
Sem custo adicional para quem é assinante do Looke, está dentro do selo amarelo do Vídeo Club.
Especial Teatro traz 55 títulos que fazem parte do catálogo. Entre elas:
À Beira do Abismo me Cresceram Asas, com Clarisse Derzié Luz e Maitê Proença. Sem as máscaras habituais da juventude, Terezinha e Valdina, duas octogenárias que moram em uma casa para idosos, falam sobre qualquer assunto: sexo, diferenças entre homens e mulheres, abandono, o bom e o ruim.
Uma Mulher de Outro Mundo, com Adriane Galisteu, Dani Mustafci, Lúcia Veríssimo e Marcio De Luca. Com o intuito de colher dados para um novo livro, o famoso escritor Charles Condomine e sua segunda esposa, Ruth, fingindo interesse pelo sobrenatural, convidam uma conhecida médium, Madame Arcati, para jantar e realizar uma sessão espírita. Para surpresa do casal, a sensitiva traz à tona o espírito da primeira esposa de Charles, Elvira, e acaba criando um terrível problema.
A Escola do Escândalo com Bianca Comparato, Maria Padilha, e Tonico Pereira. Casado há apenas sete meses, o rabugento comendador Pedro Atiça vive trocando farpas com a esposa Rosália, que, habituada à pacatez do dia a dia no campo, agora se deslumbra com os prazeres da vida fútil na alta sociedade..
Biografia Não Autorizada, com Marcos Oliveira e Tiago Robert. Por meio de sua autobiografia, Modesto Valadares quer escancarar a sua revolta com os bastidores da televisão e se vingar de todos aqueles que o prejudicaram no decorrer da sua carreira.
Pressão Alta, com Raul Gazolla. O espetáculo retrata situações cotidianas de um ator, como as frustrações dos primeiros amores, as exigências, às vezes absurdas, do mercado de trabalho, a batalha contra os primeiros sinais do tempo, o esforço para se adaptar à tecnologia nossa de cada dia.
A lista Kids Teatro conta com 27 peças e faz parte do catálogo do Looke Kids. Como:
O Menino Teresa
Bichos do Brasil
Ciranda das Flores
Triangulina
As Aventuras de Bambolina
Cada Qual no Seu Barril
A Volta ao Mundo em 80 Dias
Cinderela Bela Magrela
O Menino que Mordeu Picasso
Merda!!!
Ou, desculpe criançada, Quebrem a Perna.
August 30, 2018
Abstenção não é fenômeno apenas brasileiro
“Tudo farinha do mesmo saco”. “Todo político é ladrão”. “Os partidos são bancos de negócios”.
Votar em quem?
Nessas horas, um grande eleitor, o cético (o de votos brancos, nulos e abstenção), chega num índice que questiona os eleitos e a própria democracia (29% no primeiro turno de 2014).
Mais ainda no país em que o voto é obrigatório; apesar da multa irrisória de R$ 3,51 por turno.
Pouco mais de 30 milhões de eleitores se abstiveram de votar nas eleições de 2014 (21,10% no segundo turno).
Desprestígio de partidos, políticos, imprensa e até das pesquisas inflam o sintoma do desprestígio da política.
Dados do IDEA (International Institute for Democracy and Electoral Assistance) revelam que o fenômeno é global.
As democracias estão em crise: a média dos países de abstenção é um pouco acima dos 30% e tem aumentado desde meados dos anos 80.
Nas democracias europeias estáveis, esse número [de comparecimento] é hoje pouco superior a 70%. Nos países de voto obrigatório, a média é inferior a 75%. Aqui, os números oscilam em torno de 80%, nunca sendo inferiores a 78,5%.
E nulos e brancos?
Cláudio Couto e Guilhermo Russo (da FGV) atentam que, no Brasil, talvez por conta da urna eletrônica e da assimilação do número dos partidos, que facilita a votação, o grau de votos nulos e brancos não é tão ruim.
Nas eleições de 1994 e 1998, eles estavam em torno de 20%.
Com a adoção do voto eletrônico em 2002, a queda dos votos inválidos despencou pela metade.
Do cenário atual, o que se espera? Ninguém consegue prever.
August 28, 2018
Constituição brasileira é a segunda maior do mundo
Estive lá, fazendo lobby com deficientes. Éramos da comissão das minorias com negros, índios e mulheres. Minorias?!
Encontrava a minha mãe, especialista em direito indígena.
Encontrava-se o Brasil todo pelos corredores do Congresso em 1987, 1988. A Constituinte melhoraria a vida de todos.
Mas brotou um catatau confuso, que seria resolvido depois.
E poderosos grupos de ruralistas, defensores de armamento, evangélicos e o Centrão.
Emenda após a emenda, ela ficou hoje 44% maior do que a original, tornando-se a segunda maior constituição do mundo; perdendo para a da Índia.
É o que constatou o professor da Universidade de São Paulo (USP), Rogério Arantes, num encontro para se debater o aniversário de 30 anos da Constituição Federal na FGV.
O excesso de políticas públicas e sociais é apontado como um dos responsáveis pelo inchaço.
Era fim da ditadura, em que direito era uma palavra doente. Para o professor da FGV, Oscar Vilhena, a “generosidade” da Constituição acontece desde o começo: “Falava-se que essa primeira etapa serviu como um verdadeiro pacto social, em que toda a sociedade que estava minimamente articulada esteve lá para tentar entrincheirar os seus direitos e interesses”.
Floriano Azevedo, também da USP, apontou quatro deficiências que deram numa ordem “disfuncional”
estrutura federativa irracional
instituições que engrandecem e não cabem em si
pouca definição de competências e diálogo entre os poderes
um estado individualista que está mais a serviço dele próprio do que do cidadão
“É uma estrutura fadada a dar errado”, conclui.
Percebemos.
fonte: https://cepesp.wordpress.com
August 27, 2018
Entenda os sistemas econômicos numa parábola
O que cada país e suas corporações fariam se fossem um proprietário de duas vacas leiteiras?
O site NewstalkZB, de um grupo de comunicação da Nova Zelândia, procura explicar economia e sistemas político com ironia.
Alguns suscitam preconceito.
Mas, no geral… Não é que funciona? Dê uma olhada:
Comunismo: “Você tem duas vacas. O Estado as recolhe e te dá um pouco de leite.”
Socialismo: “Você tem duas vacas. Você dá uma para o seu vizinho.”
Fascismo: “Você tem duas vacas. Os Estado recolhe as duas e te vende um pouco de leite.”
Burocratismo: “Você tem duas vacas. O Estado pega as duas, atira numa delas, tira o leite da outra e depois joga o leite fora.”
O capitalismo tradicional: “Você tem duas vacas. Você vende uma e compra um boi. Você espera elas se multiplicarem e a economia crescer. Você as vende e se aposenta com os ganhos.”
O sistema italiano: “Você tem duas vacas, mas você não sabe onde elas estão e resolve almoçar.”
O francês: “Você tem duas vacas. Faz greve, organiza manifestações e tumultos, bloqueia as estradas, porque você quer ter três vacas.”
O sistema americano: “Você tem duas vacas. Vende uma e força a outra a produzir o leite de quatro vacas. Depois, você contrata uma consultoria para descobrir por que a vaca morreu.”
O sistema suíço: “Tem 500 vacas. Mas nenhuma delas é sua. Você taxa os proprietários que as armazenam.”
O irlandês: “Você tem duas vacas. Uma delas é um cavalo.”
O sistema chinês: “Você tem duas vacas. Trezentas pessoas tiram o leite delas. Você anuncia que tem emprego pleno e alta produtividade bovina. E prende um jornalista que relata a situação.”
O indiano: “Você tem duas vacas. Faz adorações para elas.”
O sistema britânico: “Você tem duas vacas. As duas são loucas.”
O sistema grego: “Você tem duas vacas emprestadas pelos bancos da Alemanha e França. Você come as duas. Os bancos pedem o leite, mas você não tem como entregar e recorre ao FMI. Que empresta duas vacas. Você as come. Então, os países e o FMI vêm recolher o leite. Você vai ao barbeiro.”
August 22, 2018
Delícias e horrores da democracia
Damos risada, quando deveríamos lamentar.
Adelmo Papai Smurf, do PRP-DF (nem azul, nem bochechudo, como o personagem), Cacete Pão Dividido, do PCdoB-BA (para dividir o pão, um comunista), Mestre Pop, com sua franja de roqueiro antigo, Wolverine, e sua sobrancelha assustadoramente parecida com a do herói, Gordinho Estourado, um sergipano arretado, são alguns dos candidatos das eleições 2018.
Tem mais.
Viado da Bike, que dizem ser uma figura folclórica de Belém do Pará, Galo Cego, baiano do PSOL, Teteia do Jegue.
Grete Cover, de São Paulo, já saiu em outras eleições e lembra pouco a rainha do rebolado, Gretchen.
Alceu Dispor 24 HS se eleito estará ao nosso dispor em todas as horas do dia? E Macho Vei, do PSC-MA?
Assis O Homem do Jumento é do Rio Grande do Norte.
Sergipe nos brinda com nomes bombásticos: Bin Laden, veterano, já conhecido, do PSB, Gordinho do Povo, Vardo da Lotérica, Xamego Bom, Lampião de Aracaju.
A maioria é de candidatos a deputado estadual.
Sem dinheiro e tempo da TV, o jeito é buscar o voto através de um nome de impacto.
As delícias da democracia proporcionam candidatos hilários do Brasil litorâneo, central e profundo.
Num ambiente que era para ser sério, o escarno.
A gozação.
O descrédito.
Todos os anos, eles aparecem. Já tivemos para vereador o Sobre Cú e a liga demoníaca.
Para nos divertir e também lamentarmos.
Papai Chegou quer chegar à Câmara do DF. Bolinho de Fubá, à de SP. Só na Bença abençoará a Câmara de Rondônia? Lora do Boticário é loura e paraense.
Agora, Joice aceita o desafio (em inglês) e faz um trocadilho: é melhor Jair Joiçando. Já sabemos quem apoia.
Ricardo Salles, do Partido Novo, chocou a rede, ao lançar um santinho em homenagem à bala de fuzil 30.06 contra a esquerda, MST, bandidagem e roubo de trator.
Um jeito velho de resolver conflitos graves.
A repercussão foi péssima. O candidato ruralista mudou o santinho.
August 20, 2018
Oficina faz crowdfunding por ‘Roda Viva’
A parceria inusitada entre Zé Celso e Chico Buarque deu num marco do teatro brasileiro, a peça Roda Viva.
Brecht era relido. Palco e plateia se consumiam, entravam em metamorfose, estado de delírio transi(único): viravam elemento de união e oficina de ideias; questionava-se o tempo, o conformismo, a verdade.
Ela estreou em 1968 no Teatro Princesa Isabel, Rio de Janeiro, provocou o público (que saía com sangue de fígado respingado), a sociedade de consumo, a cultura da Coca-Cola, provocou o Brasil conservador e uniu a classe artística na luta contra a ditadura.
Em duas ocasiões, os atores apanharam de anticomunistas de São Paulo (cujo comando CCC quebrou todo cenário) e Porto Alegre.
Ela foi encerrada, e alguns partiram para o exílio.
Uma campanha intensa de financiamento coletivo quer comemorar os 60 anos da peça que fez do Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona a usina de ideias e revolução mais ativa e necessária do Brasil.
Rola um mutirão de colaborações para #QueroRODAVIVAnoTeatroOficina, a sua remontagem, no aniversário do Teatro:
https://benfeitoria.com/rodaviva
No momento atual, em que as democracias estão ameaçadas, o conservadorismo suga nossa força criativa, quer nos calar, e o debate, acirrado, bem propícia a sua volta.
Para o restauro e equipagem do teatro, eles precisam de R$ 790 mil.
Chico estreava na dramaturgia falando de si e da sociedade devoradora de talentos: o cantor unanimidade criou um texto sobre um artista, Ben Silver, que fica popular e é consumido pela dinâmica do mercado, até virar bagaço.
No palco, uma garrafa de Coca-Cola e uma estátua de São Jorge.
Na plateia, por vezes, os atores agrediam verbalmente o público numa catarse, que vivia alienado sob os coturnos militares, num golpe em parte apoiado pela população, imprensa e a Igreja, que temiam o comunismo e as revoluções de costumes.
Remontar seria uma resposta para alguns ainda vivem tal delírio.
August 16, 2018
Os curiosos bens e investimentos dos presidenciáveis
Com o registro das candidaturas à Presidência da República, o eleitor tem acesso a aplicações e bens declarados.
Veja bem, declarados. Os imóveis aparecem no valor venal (que costuma ser abaixo do mercado).
Surgem situações curiosas. Cabo Daciolo (Patriotas) não tem bens.
Já João Amoêdo (Novo) movimenta uma fortuna de R$ 450 milhões: R$ 217 milhões em CDBs e RDBs, 13 imóveis entre apartamentos, terrenos e escritórios. Ações? Em torno de R$ 11 milhões.
Diferentemente do seu colega do MDB, Henrique Meirelles, que tem uma fortuna de R$ 377 milhões e aplica o grosso em ações: R$ 283 milhões.
O banqueiro tem também uma bela grana disponível em conta corrente (R$ 6,8 milhões), um terreno de R$ 1,00 (preço de uma bala) e mora num apartamento de R$ 21,8 milhões. Nada mal.
Jair Bolsonaro não gosta de correr riscos. Só aplica em poupanças (tem duas) e tem cinco casas.
Felippe Hermes, do site spotniks.com, ironizou, ao reparar no conservadorismo da aplicação do conservador candidato do PSL: “Jair Bolsonaro tem R$ 487 mil na poupança. Está confirmado que ele não entende nada de economia.”
Álvaro Dias é mais ligado. Tem apenas R$ 0,29 na poupança. Estranhamente, não tem nenhum imóvel no seu nome e um carro de R$ 128 mil.
A dureza dos veteranos na política, Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB), é comovente.
Declararam possuir menos do que um apartamento de dois quartos do Leblon (o primeiro, R$ 1,7 milhão, o segundo, R$ 1,4 milhão).
Na verdade, Gomes tem três imóveis: dois apês e uma casa. Todos avaliados em torno de R$ 300 mil. Menos do que uma quitinete no Copan.
O mesmo valor declarado por Alckmin por um apê. Que declarou também uma casa de R$ 52 mil, um prédio comercial de R$ 28 mil e dois terrenos. É, pelo valor de mercado, tem bem mais do que um apê no Leblon.
João Goulart Filho (PPL), filho do presidente deposto por um Golpe Militar que pretendia impedir um suposto avanço comunista promovido pelo pai, não é pobre: declarou R$ 8,6 milhões.
Declarou duas casas no valor de R$ 1,00 cada (um bombom). O resto está em quotas e quinhões de capital.
Guilherme Boulos (PSOL) tem apenas um carro usado de R$ 15 mil (um “pois é”).
Quanto aos questionáveis pela Justiça de Curitiba bens de Lula. O candidato do PT aplica o grosso em previdência privada (VBGL), das aplicações conservadoras a que mais rende: R$ 6,3 milhões.
Tem um carrão de R$ 170 mil, mais três terrenos em torno de R$ 800 mil e três apartamentos, dois que valem R$ 38 mil, e outro, R$ 189 mil.
Nenhum triplex.
E aí, quer votar pela quantidade de bens ou perfil (arriscado ou conservador) das aplicações?
Saiba mais no site do TSE: http://divulgacandcontas.tse.jus.br
Marcelo Rubens Paiva's Blog
- Marcelo Rubens Paiva's profile
- 279 followers
