Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 14
January 31, 2019
Com censura
Militar interrompe programa da TV Brasil criado no fim da ditadura militar pela antiga TVE.
E foram excluídos conteúdo laico, socialista e contra a ditadura do canal de internet para surdos, a TV Ines.
Parece ironia, mas não é.
No governo Bolsonaro, debater sem censura numa instalação sua não é recomendável. E quem noticiar a censura é chamado de agente da ex-União Soviética.
O general de divisão que chefia a Secretaria de Governo, ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz, decidiu suspender parte da programação da TV Brasil.
Entre eles, o programa Sem Censura, que começou justamente em 1985, na Redemocratização, em que o país vivia um debate político e cultural intenso, oriundo da campanha que o unificou, as Diretas Já.
O governo federal vai reestruturar a EBC, a grade de programação da TV apelidada de TV Lula, cortará cargos comissionados e quer otimizar despesas.
Promessa de campanha do presidente eleito, Jair Bolsonaro.
Sem Censura foi durante duas décadas apresentado por Leda Nagle, uma estrela do telejornalismo, que aceitou o desafio de politizar uma nova TV pública que renascia na nova democracia.
Era entrevista obrigatória de todo autor, músico, cineasta, teatrólogo, atrizes e atores que divulgavam seus lançamentos para uma repórter cativante, que se cercava deles no centro de uma tábula redonda e papeava sem parar por duas horas.
Não havia tabus. Não se cansava nunca.
Nem nós. Conhecia a todos e nos lembrava de detalhes da entrevista anterior.
Tinha uma voz rouca, magnética.
Não sei se ajudava a vendagem de livros.
Até 2016, quando foi demitida, era uma militância ir até à sede da TVE, depois Brasil, no centro velho do Rio, ouvir o que Leda tinha para perguntar. Era uma tradição.
De outro ministério, o da Educação, chegou uma lista de programas que deveriam ser retirados do site da TV do Instituto Nacional de Educação de Surdos (TV Ines), canal público ligado à Fundação Roquette Pinto voltado para deficientes auditivos.
Foram cortados conteúdos de autores de esquerda, relacionado à ditadura militar (Bye Bye Brasil, de Cacá Diegues, e Uma Longa Viagem, de Lúcia Murat).
E biografias de filósofos que duvidassem da fé cristã (Gramsci, Nieztsche, Rousseau, Walter Benjamin e, claro, Marx).
Programas com conteúdo sobre feminismo, Aids, população indígena e negra foram pras nuvens, assim como uma entrevista do ex-deputado Jean Wyllys, o vilão do bolsonarismo.
Segundo Ancelmo Goes (O Globo), tudo começou quando Ricardo Vélez Rodríguez se tornou o comandante do MEC. A lista teria sido confeccionada pelo diretor-geral da Roquette Pinto, Fernando Veloso, com o diretor de programação, Cláudio Jardim.
A resposta imediata foi de praxe: o conteúdo já estava gasto, haveria reforma na grade e no site.
Mas o MEC, depois de uma sindicância, apurou que o ministro da Educação, indicado pelo ultradireitista Olavo de Carvalho, não teve nada a ver com a censura, que foi feita em novembro (durante a transição de governos).
Na mesma nota, o ministério afirmou que Goes, um dos colunistas mais lidos e relevantes da imprensa brasileira, foi treinado em marxismo leninismo pela União Soviética.
No governo Bolsonaro, debater não é recomendável. Nem noticiar a censura.
January 30, 2019
Padilha versus Bolsomoro
Um ícone do antipetismo, o cineasta José Padilha, que se diz amigo de Paulo Guedes, continua convicto, mas começa a duvidar das intenções do seu antes herói, Sérgio Moro.
Na série O Mecanismo, Padilha não economizou ao demonizar os personagens dos ex-presidentes Lula e Dilma. Fez deles caricaturas planas de vilões tolos, deslumbrados, apesar da série, que considero muito boa, tratar com inteligência do mecanismo que gera a corrupção.
Escrita por Elena Soárez, tinha mais problemas de direção e encomenda (pegar pesado contra Lula) do que de roteiro em si.
No maniqueísmo político, se o PT, sob os mandos de Lula, era o mal, o bem era aquele que o caçou implacavelmente, o juiz de Curitiba, e a PF.
Mas seria o ministro da Justiça um anti-herói?
Não são poucos os que viveram a ilusão de que os problemas brasileiros eram de responsabilidade apenas de uma “facção ideológica”, a esquerda, e não do conjunto da macropolítica.
Ou o que chamou de esquerda: o PT, que nasceu de esquerda, mas no poder foi PT, sob a máxima maquiavelista dos fins justificarem os meios, partido que traiu sua essência e fez alianças com o impensável.
Padilha lembrou ontem, na Folha de S. Paulo, na coluna “Sergio Bolsomoro”, das suspeitas contra Flavio Bolsonaro e observou que o novo governo começou “carimbado por suspeitas gravíssimas de corrupção”.
Livrou a cara do presidente “eleito para salvar os brasileiros da corrupção (real) de PT/PMDB”, sem definir exatamente que significa “real”.
Então, a mira da sua crítica vai na direção de Moro.
Pergunta se o novo ministro da Justiça, “ungido pela eficiente luta contra a corrupção empreendida no âmbito da Operação Lava Jato”, vai ficar assistindo a tudo sem fazer nada.
Lembrou Eugênio Gudin, economista que controlou a crise econômica gerada no tumultuoso fim do governo Getúlio Vargas, mas pediu as contas quando percebeu que JK acelerou os gastos públicos, não os controlou (o que gerou inflação), chamando-o de “playboy” (uma bobagem, já que Juscelino nasceu na miséria, estudou graças a padres, foi médico voluntário no front de batalha da Revolução Constitucionalista de 1932 e ralou muito na política).
“Sergio Moro vai flexibilizar as suas posições éticas para ficar em um governo que já nasce maculado?”
Padilha finaliza lembrando que, se o ministro capitular em suas convicções éticas, quando elas se aproximam da família Bolsonaro, pode ficar conhecido como Bolsomoro.
Será o vilão da próxima (e já anunciada última) temporada na Netflix de O Mecanismo?
January 28, 2019
Que marxismo cultural?
Quando alguém usa a expressão “marxismo cultural”, logo me vem à cabeça o refrão: “O nome dela é Jeeeniffffer, eu encontrei ela no Tiiinder, e não é minha namoraaaada, mas poderia seeeer…”
O hit do verão 2019, de autoria de Gabriel Diniz, toca todo instante em toda parte, e gruda como chiclete
É marxista?
“Mas ela veio me xingando, enchendo o saco e perguntando quem é essa perua aí? Mas peraí! Mas peraí! Você não paga as minhas contas, já não é da sua conta o que é que eu tô fazendo aqui…”
Vê-se no início da canção popular queixas e uma revolta contra a submissão que reprime. Há presença da busca de uma utopia (sexual) plena. Um sujeito procura controlar para concentrar a renda de outro. Há indícios de tentativa de exploração do homem por uma mulher desbocada.
Logo… Machista e marxista.
O economista Joel Pinheiro da Fonseca, filho do economista Eduardo Giannetti, me incentivou indiretamente a criar um detectômetro da predominância da esquerda na cultura brasileira.
Na sua coluna O Bicho-Papão Marxista, publicada na Folha, escreveu: “’Marxismo cultural’ é uma teoria da conspiração que visa a explicar e dar um sentido a um fato que, esse sim, existe e é problemático: o predomínio intolerante da esquerda em diversos âmbitos da cultura nacional”.
Roberto Carlos? Nem laico é.
Marcelo D2? Huuummm…
Pensei nos musicais que hoje dominam a cena teatral brasileira.
Mamonas – O Musical não é de esquerda. Nem Chacrinha, Shrek, Xanadu, Alô Dolly.
Em My Fair Lady, A Ópera do Malandro, Saltimbancos, Jesus Cristo Superstar, Elis há traços.
A presença “tóxica” de Chico Buarque e Broadway, antro de marxistas, nos palcos brasileiros, formam a coluna do teatro com ideologia esquerdista intolerante.
Anitta não é esquerdista convicta, apesar da proposta de empoderamento feminino e de estar cercada por gente da esquerda.
Mas Ivete não tem nada com isso, nem Claudia Leitte. Querem o sentimento liberal de concorrência livre e tocar repertório amplo e meritocrático.
Timbalada é esquerdistas. Olodum, idem. Gil e Caetano, nem preciso dizer… São esquerdistas, gaysistas, abortistas, maconhistas e intolerantes.
Tem a ala explicitamente vermelha de MCs, encabeçada pelos Racionais que, apesar da autocrítica, mantêm-se no topo da cadeia ideológica.
O rock brasileiro já foi marxista. Mas mudou de lado, como Carlos Lacerda, com predominância hoje para o pensamento liberal de direita; alguns aderiram à extrema-direita.
“Um ponto de partida de que poucos discordariam: em certos âmbitos da cultural —como universidades, órgãos de imprensa, artistas— há mais gente com visões que podem ser classificadas no amplo balaio de gatos da ‘esquerda’. Em muitas redações ou faculdades, os votos foram muito mais para políticos de esquerda”, escreveu Fonseca.
Vejamos.
Zé Celso é de esquerda. O Oficina votou em peso na esquerda.
Bia Lessa, Kike Diaz, Galpão, Tapa, Ornitorinco (os três últimos assumidamente brechtianos), Parlapatões, Bortolotto, Felipe Hirsh, Aderbal Freire e o Teatro Poeira, para ficar com algumas figuras relevantes da cena teatral brasileira, idem.
No cinema, temos o campeão de bilheteria, José Padilha. Algum duvida em quem ele votou?
Mas Fernando Meirelles, que se esconde por trás de ecológico apoiador da REDE, apoiado por Giannetti, Walter Moreira Salles, mais todo cinema pernambucano e baiano… Não disfarçam o viés ideológico em suas obras.
Na indústria, quem os livram a cara é a comédia brasileira, que é o que faz dinheiro mesmo, e por mérito e consequência da livre concorrência: Pernas pro Ar, Se Eu Fosse Você, Milton Hassum, Minha Mãe É Uma Peça, Meu Passado me Condena...
Ideologia? Preferem bilheteria.
Literatura só tem comuna, sempre teve, é uma tradição que vem dos tempos de Oswald de Andrade, Jorge Amado, Graciliano Ramos, filiados de carteirinha do Partidão.
Antonio Candido resistiu e preferiu o socialismo do PSB, partido que fundou.
Tivemos resistência de João do Rio, Nelson Rodrigues, Rachel de Queiroz, Rubem Fonseca, o republicanismo de Euclides da Cunha, a indefinição de Guimarães Rosa.
Mas Machado… Ora. Desdenhando daquela maneira a burguesia que nascia no fim do Império, taxando-a de um bando de desocupados, contemporâneo de Marx e Engels, era de esquerda, o que só foi revelado um século depois, por Roberto Schwarz, marxista também estudioso de Brecht.
Agora, convenhamos. Olha a lista das mais tocadas atualizada (já em 2019):
ATRASADINHA Felipe Araújo
2 ZÉ DA RECAÍDA Gusttavo Lima
3 SOFAZINHO PT. Jorge Mateus e Luan Santana
4 NÃO FALA NÃO PRA MIM Humberto e Ronaldo
5 NOTIFICAÇÃO PREFERIDA Zé Neto e Cristiano
6 QUEM PEGOU, PEGOU Henrique e Juliano
7 OLHA ELA AÍ Eduardo Costa
8 CIUMEIRA Marília Mendonça
9 BEIJO DE VARANDA Bruno e Marrone
10 CORAÇÃO INFECTADO Maiara e Maraisa
11 MEIO SEU PART. João Neto e Frederico
12 TRINCADINHO Jorge e Mateus
13 INFARTO Diego e Victor Hugo
14 PROPAGANDA Jorge e Mateus
15 SOLTEIRO NÃO TRAI Gustavo Mioto
16 AO VIVO E A CORES Anitta
17 COMO A CULPA É MINHA ? Jefferson Moraes
18 LARGADO ÀS TRAÇAS Zé Neto e Cristiano
19 APELIDO CARINHOSO Gusttavo Lima
20 TIJOLINHO POR TIJOLINHO Enzo Rabelo
January 24, 2019
Setenta anos do amadurecimento teatral
Há 70 anos, nascia o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), que profissionalizou de vez o teatro brasileiro, trouxe uma dramaturgia densa e relevante.
Dois anos antes da fundação da primeira tevê brasileira (TV Tupi).
A técnica foi apurada.
Atores adotaram o “método”. Passaram a seguir Stanislavski, como Marlon Brando, James Dean, Jane Fonda, Paul Newman, e a geração de ouro do Actors Studio, fundado dois anos antes.
Na sexta-feira, dia 25, aniversário da cidade, na Biblioteca Mário de Andrade, o TBC será lembrado.
São Paulo vivia um crescimento vertiginoso. A cidade passava a ser centro de produção de bens e cultura.
No pós-guerra, muito dinheiro entrava no país. Muitos emigrantes fugiram de uma Europa e Ásia destroçadas.
Franco Zampari, um engenheiro apaixonado por teatro, decidiu largar a Indústria Matarazzo, em que trabalhava, e montar a sua própria companhia.
Escrevia e produzia num casarão alugado da Rua Major Diogo, 315. Com uma estrutura nada amadora: duas salas de ensaio, uma sala de leitura, oficina de carpintaria e marcenaria, almoxarifados para cenografia e figurinos, equipamentos de luz e som.
Estrearam com La Voix Humaine, de Jean Cocteau, e A Mulher do Próximo, de Abílio Pereira de Almeida.
Revezaram-se nas produções seguintes: Cacilda Becker [foto acima], Fernanda Montenegro e Fernando Torres, Ziembinski, Sérgio Cardoso, Paulo Autran, Tônia Carrero, Cleyde Yáconis, Cacilda Becker, Walmor Chagas. Na direção artística, o italiano Adolfo Celi.
John Patrick, Tennessee Williams, Eugene O’Neill traduziam o drama e desânimo da família americana, cética, para a brasileira.
Tudo que veio a seguir no teatro brasileiro, de Antunes ao Oficina do Zé Celso, assim como o Arena, nasceu ali. Inclusive o que se seguiu na teledramaturgia brasileira.
A partir de 1960, a turbulência não era mais dentro dos lares, mas nas ruas, em todo Brasil.
Flávio Rangel, o novo diretor artístico, levou a nova dramaturgia engajada brasileira, de Dias Gomes (O Pagador de Promessas) a Jorge Amado (Vereda Salvação)
Nesta sexta, no dia 25 de janeiro, das 14h às 20h, atores Denise Fraga, Celso Frateschi, Daniel Alvim, Joca Andreazza, Élcio Nogueira Seixas, Luciano Gatti, Lúcia Romano, com as diretoras Cibele Forjaz e Johana Albuquerque, farão parte no evento com curadoria do crítico e pesquisador teatral Álvaro Machado, do diretor teatral Ruy Cortez e do ator Sílvio Restiffe, membros da diretoria da ATBC (Associação dos Amigos do TBC).
O dia será dedicado a dois dos maiores diretores do TBC: Ziembinski e Flávio Rangel, com espetáculos que dirigiram, Volpone, de Ben Jonson, e A Semente, de Guarnieri.
Assim, representam os dois momentos da companhia; uma segunda fase nacionalista.
Detalhe.
O casarão, tombado pelos Conpresp (municipal) e Condephaat (estadual), e que pertence à Funarte (ex-MinC), chegou a reviver no começo dos anos 2000 a euforia da casa cheia, com salas em atividade, café, peças, comédias, dramas, lançamentos de livros, debates.
Mas foi fechado novamente.
Permanece fechado desde 2007, apesar dos R$ 20 milhões gastos (5 milhões para a aquisição do prédio).
E o MinC sumiu.
Todas as fotos acima são de Fredi Kleemann, fotógrafo ”oficial’ do TBC, que conheci e me levou ao teatro na década de 1970 (me dirigiu como ator infantil). Um mestre do retrato.
January 21, 2019
O filho será sacrificado?
O que acontece no Brasil hoje me remete a um fato bíblico notório.
Que resultou no nascimento de um Messias.
Deus pediu a Abraão para sacrificar o filho Isaac.
Ateus consideram a crueldade a prova de que a Bíblia mente ou Deus não existe.
“Como pode haver sacrifício e teste atroz impostos a um pai?”
O escritor e teólogo Kirk Durston sugere outro olhar.
Primeiro, Deus quer transformar Abraão, para ele ser outra pessoa. Que ele, ao temer Deus, O valorize mais do que todas as pessoas, até o próprio filho. Que Abraão O reverencie acima de tudo.
O teste pouco importava, diz Durston. A transformação de Abraão, a decisão ao sacrifício e se tornar um outro homem é que vale.
Não foi o caso de aprender um fato que anteriormente era verdade, mas desconhecido para Deus, mas um caso de um novo estado de coisas que não existia até o momento da decisão de Abraão.
Finalmente, Deus disse a Abraão que, por conta da decisão, ele seria abençoado, seus descendentes seriam multiplicados, todas as nações do mundo seriam abençoadas.
Uma pequena intervenção feita por Deus mudou sutilmente um homem, em como ele via o mundo e interagia com outras pessoas.
Tais mudanças tiveram consequências e levaram ao nascimento de Israel e à chegada de Jesus, Messias.
Um pequeno evento mudou radicalmente o futuro do mundo.
“Nunca foi a intenção de Deus que Abraão realmente sacrificasse seu filho. Em vez disso, o que temos nesse relato é um vislumbre de como Deus orquestra a história com pequenas mudanças no passado que levam a grandes mudanças no futuro. Também é um exemplo de como Deus nos dá pistas no passado sobre o que acontecerá no futuro. Cerca de 2.000 anos depois, na mesma montanha, o próprio Deus, na pessoa de Jesus, o Messias, assumiu o lugar da Humanidade no altar para satisfazer as exigências da justiça perfeita, para que Ele pudesse cumprir as exigências do amor perfeito, para cada pessoa depositar sua confiança em Cristo para o perdão dos seus pecados, e para a vida eterna”, conclui Durston.
Agora, esperar para ver o que uma família Messias de outro continente, outro hemisfério, decide.
Se sacrifica para abençoar uma nação ou não.
Leia mais:
January 17, 2019
Revisionismo geral começou
Darwing estava errado, a Terra é plana, a globalização é obra de marxistas, e a ditadura como a tortura foram boas para o país.
Revisionismo científico e histórico é parte preponderante da nova direita. E, por aqui, veio de quem menos se esperava: BBC News Brasil.
O problema é que todo ele tem sido feito à base de crenças, não fatos, dados científicos, pesquisa. Sob crenças, não se faz política, não há diálogo. “No que eu e minha igreja acreditamos, lemos na rede ou ouvimos dizer” passa a ser realidade.
Pactos e política só são possíveis com fatos. Diverge-se em torno de fatos, números, não em torno de crenças. E, no jornalismo, como na Justiça, todos sabem: a fonte é a parte fraca (alguns usam “podre”) da matéria.
A vítima da vez foi (pra variar) minha família. O que se faz desde 1971.
Numa reportagem longa da BBC News Brasil, meu pai foi retratado como um riquinho mal-educado. E eu, um esnobe.
Reportagem entrevistou alguns moradores da região visivelmente orgulhosos com a chegada ao Poder de alguém que se criou lá.
Não entrevistou UM membro da minha família, UM historiador, muito menos sobreviventes da VPR, nem os que combateram com Lamarca e estão vivos. Também não entrevistou militares da velha guarda, que combateram a luta armada.
Nem procuradores federais que revelaram todo esquema e detalhes da prisão e morte do meu pai (detalhes que a família não conhecia) ao intimar todos do DOI-Codi (RJ), inclusive torturadores, que participaram da morte sob tortura e foram condenados pela Justiça Federal do RJ.
Processo que está disponível na internet; usei partes no meu livro Ainda Estou Aqui.
Usou frases informais de uma troca de e-mails comigo, em férias, o que não autorizei, e em que pedi para que entrevistasse minha tia Maria Lúcia Paiva, irmã do meu pai, e o procurador Federal Sérgio Suyama.
A repórter estava com pressa e não o fez.
Ela queria detalhes sobre meu avô Jaime Paiva. Não convivi com ele. Figura controversa, apoiou a ditadura que cassou e exilou seu filho deputado federal. O que causou um rompimento definitivo entre os dois.
Ao voltar do exílio, nos mudamos para o Rio de Janeiro. Raramente meu pai ia ao Vale do Ribeira.
A reportagem confundiu meu pai com os irmãos dele. Eles, sim, como meu avô, tinham terras anexas por lá. Meu pai chegou a comprar um terreno longe, do outro lado do rio, com o que ficou por pouco tempo, que ficou abandonado, e repassou ao meu tio Carlos em 1967.
Já que a BBC Brasil usou minha família para adular os Bolsonaro, denegriu quem não pode se defender (meu pai e meu avô), resolveu fazer associações com quem não tinha nada a ver com a história, me queixei com Thomas Pappon, meu amigo desde os anos 1980 e da BBC Brasil.
Ele respondeu (e me autorizou a publicar):
“Oi Marcelo, lamento que tua família tenha ficado triste, lamento mesmo. Mas discordo de que a matéria adule o Bolsonaro ou tenha usado tua família para isso. A história da Eldorado dos anos 60 passa pelo Jayme Paiva, pelos quilombos, pela passagem do Lamarca. É o que foi contado. A matéria contrapõe afirmações do Bolsonaro com conclusões da Comissão da Verdade. Trabalho há mais de duas décadas aqui e sei que a BBC Brasil, assim como a BBC toda, quer – e tenta sempre – ser isenta e imparcial. Não é fácil. Se a matéria tiver erros, o pessoal conserta. Um abraço, Thomas.”
Meu pai era rompido com meu avô desde 1964, que até fazia negócios com militares (importava tanques e exportava armamento fabricado no Brasil) e era amigo de Alfredo Buzaid, ministro da Justiça do Governo Médici.
Bolsonaro morou dos 11 aos 18 anos em Eldorado, a dois quilômetros da fazendo do meu avô. Eu tinha, então, cinco e 12 anos, morava no Rio e nunca o vi na vida. Nessa fase, eu e meu pai não íamos a Eldorado. Passei a ir entre 12 e 14 anos, exatamente quando me mudei para Santos; meu pai estava morto, e meu tio Carlos e avô morreram em seguida.
“Rubens Paiva tinha 12 anos quando o pai comprou as primeiras terras por ali – ele e os irmãos estudaram em colégios de elite em São Paulo”, diz a reportagem.
Claro. Moravam todos em Santos e São Paulo. Foram internos nas escolas Arquidiocesano e São Bento. Meu avô morava na Praça da República, em São Paulo, e depois Canal 1, Santos. Por que colocar os filhos para estudar em Eldorado?
Sobre meu avô, diz a reportagem: “Quando tinha a festa da laranja, se ele cismava com a pessoa, quebrava o copo na mão dela com a bengala. Andava cheio de capangas em volta”. Fonte: Antônio Carlos de Melo Cunha, de 64 anos, engenheiro agrônomo aposentado e amigo de Jair Bolsonaro dos tempos de colégio.
Era mixirica. Não andava com capangas, a fazenda não tinha seguranças, a sede era cercada por uma mureta de menos de um metro, não tinha cercas, entrava quem quisesse, não tinha armas, mas uns cachorros dóceis, que brincavam com as 30 crianças, netos do meu avô.
Diz Bolsonaro: “Eu tinha 15 anos de idade e morava na cidade de Eldorado paulista. Ali – já mudou de nome – existia a Fazenda Caraitá. Proprietário: família Rubens Paiva. Rubens Paiva tinha uma chácara ali. Do cocoruto, do topo da cidade de Eldorado Paulista, cidade bastante pequena, via-se a chácara de Rubens Paiva, a montante do Ribeira de Iguape…”
Era do meu tio Carlos, irmão mais velho do meu pai, que tinha o Sítio OK, colado à cidade, e três filhos mais velhos do que eu.
Num bizarro maniqueísmo, no texto da BBC News Brasil, a família Bolsonaro é tratada pelas fontes como gente humilde, o pai era dentista prático, “era conhecido por seu senso de humor e educação”. A família Paiva era do mau.
“Fui amigo dos netos de Paiva. Conheci Rubens Paiva, convivi com Marcelo e os irmãos”, diz Antônio Avelino de Melo Cunha, policial aposentado e dono de uma pousada em Eldorado que hoje mora no litoral paulista.
Eu não tenho irmãos, mas quatro irmãs. E nunca o vi na vida. Meus tios Carlos Paiva, Cláudio Paiva e René Paiva tinham mais de um filho homem e eram assíduos de lá. Eu curtia Leblon, Arraial do Cabo, Angra, Cabo Frio, Búzios, casas de amigos dos meus pais e dos pais dos coleguinhas da escola.
Diz a reportagem: “Apesar de não ser um cara ‘ruim’, Jaime e sua família não eram sempre bem vistos pelos moradores. Entrevistados descreveram que nos meses de verão, quando filhos e netos visitavam a fazenda, era comum ver os Paiva cavalgando seus cavalos de raça pelas ruas.”
Não tinha cavalos de raça. Eram pangarés, dóceis com as crianças. Só meu avô teve um puro-sangue, que ninguém montava, nem ele, e morreu picado por uma cobra.
“Por lá também passava Rubens Paiva, que tinha uma chácara anexa à do pai e construiu uma pista de pouso para chegar à cidade em seu avião.”
Não tinha chácara anexa alguma. Ia eventualmente nos levar do Rio de Janeiro e nos buscar no avião emprestado pela firma de engenharia carioca em que trabalhava, Geobras. Pousávamos em Registro, cidade a 50 quilômetros de Eldorado. Antes dos meus seis anos.
Algumas vezes, fomos no busão Rio-Curitiba. Parávamos em Registro, e uma carona nos levava pela estrada de terra até a fazenda. Total da viagem: 15 horas.
“Um dos moradores de Eldorado mais próximos do presidente, o funcionário público aposentado João Evangelista Correa, conta do dia em que entregou um bolo a Rubens a pedido da confeiteira local. Ele e um colega caminharam os dois quilômetros até a fazenda na esperança de ganhar um trocado pelo serviço. Chegando lá, João diz que Rubens olhou irritado para os meninos: ‘o que vocês querem aqui? Falei que ia buscar na cidade’. Ao responderem que a confeiteira havia prometido uma gorjeta, teriam ouvido um ‘não’ resoluto.”
“’Não tinha amizade com pobres’, diz João Evangelista, das cadeiras estofadas que ficam em sua garagem.”
Era meu pai? Que confeitaria? Que bolo? Pediu bolo como? Não tinha telefone na região. Quando ele ia à fazenda, ficava um ou dois dias. Meu pai não dar gorjeta? Bem. Como ele não está aqui para se defender, fica a versão que a BBC escolheu.
“João conta que, apesar de sua eventual irritação, Rubens convidava os meninos para jogar futebol em suas terras. Bolsonaro teria participado de algumas partidas.”
Meu pai jogando futebol? Em que terras? Em que campo de futebol? A do meu tio Carlos? Meu pai jogava pôquer, bebia uísque e fumava cigarros e charutos. Nem assistia a futebol.
“Em discurso em março de 2016, Bolsonaro disse que conheceu Rubens Paiva aos dez anos Além de jogar bola na fazenda de Rubens, Bolsonaro teria sido, nas palavras do agricultor Celso Leite, ‘um dos maiores ladrões de mexerica da família Paiva’. Ele conta isso aos risos, explicando que os furtos, comuns entre os meninos locais, eram ‘só farra mesmo’. Para proteger sua plantação, Jaime Paiva teria colocado um vigia de plantão e um cão de guarda, que teria corrido atrás de Celso e de Bolsonaro enquanto os meninos fugiam em direção ao rio.”
A história é boa, Bolsonaro é criativo. A plantação seguia os dois quilômetros entre a cidade e a sede, qualquer um podia pular e pegar. Não tinha vigias.
“Íamos de canoa até um lugar que tinha uma laranja muito boa. Quando o cachorro latia, a gente pulava n’água.”
Na beiro do rio, em todo Vale do Ribeira, planta-se bananas, que gosta de água.
Diz a BBC sobre a biografia Mito ou Verdade escrita por seu filho Flávio Bolsonaro, que os filhos de Rubens Paiva eram da mesma faixa etária de Bolsonaro e, “não raras vezes”, eram vistos comprando picolés Kibon em Eldorado, “inacessíveis à garotada local, que ao ver um deles jogar o palito fora, corria na expectativa de estar premiado com ‘vale um picolé’ marcado na madeira”.
Me confundiu com meus primos mais velhos, estes sim da mesma faixa etária (aliás, eleitores do pai dele, e se engajaram apaixonadamente pelas redes sociais, para a nossa surpresa).
A reportagem lembra que Bolsonaro disse no plenário da Casa em fevereiro de 2013. “Está todo mundo vivo lá. A Fazenda Caraitá está em cartório. A base de renda do Lamarca está lá na fazenda da família Paiva. É muito fácil verificar isso.”
Era mais fácil Lamarca financiar meu pai, que morreu e nos deixou apenas um terreno no Jardim Botânico.
VPR roubou US$ 2,5 milhões de um cofre com as propinas recebida pelo governador de São Paulo, Adhemar de Barros, o “rouba mas faz”. Valor corrigido hoje: US$ 18 milhões.
Honra seja feita ao pai de Bolsonaro. Segundo a reportagem, “foi fichado e monitorado pela ditadura em razão de sua candidatura pelo MDB. Documentos oficiais mostram que o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), o Serviço Nacional de Informação (SNI) e o comando da Aeronáutica monitoraram suas atividades políticas e registraram o crime pelo qual ele tinha sido acusado, de exercício ilegal de profissão (medicina, odontologia ou farmácia).”
Colegas falam que era “um cara democrático, liberal e tranquilo”, e que os irmãos de Bolsonaro “seguiram caminhos diferentes” do presidente.
Queria ter conhecido.
O novo presidente e sua família, mais seu vice, já declararam que é preciso rever os livros que retratam a ditadura.
O Flávio pediu a uma escola do Rio de Janeiro, Santo Agostinho, que retirasse do currículo Meninos sem Pátria, livro acusado de comunista sobre uma família (história real) que foi exilada pela ditadura. E foi atendido.
O governador do RJ proibiu uma perfomance que simulava a tortura praticada no período. Foi atendido.
O que virá? Que Herzog se suicidou, que dom Paulo era comunista, e o livro Tortura Nunca Mais um delírio marxista?
January 13, 2019
Cruzeiro para provar que a Terra é plana
Pessoas que acreditam que a Terra é plana e vivemos num disco cercado por um muro de gelo não são nerds fãs de Game of Thrones (do muro acima), mas cientistas, os terraplanistas, que organizam um cruzeiro para zarpar em 2020.
Querem chegar até o muro e provar a sua existência.
Parece a mais fake das news, até porque a navegação só se desenvolveu quando se descobriu que a Terra é redonda, como astros que nos cercam. Foi possível através de astrolábios e cartas náuticas cruzar oceanos, “desvendar” continentes, um mundo novo.
Mas não é. O grupo chamado FEIC (que dito em voz alta soa “fake”), Flat Earth International Conference, existe.
Talvez no encontro de 2019 em novembro em Dallas surjam mais detalhes (inscrições já estão abertas).
Mas, espera?
O problema é como o capitão usará sistemas de navegação alimentados pela rede de 24 satélites em órbita da Terra (redonda), que formam o GPS (Global Position System)? Ele pode fingir que a Terra é redonda?
Os dados do GPS só são possíveis por conta de cálculos da posição de um alvo através da curvatura do planeta.
FEIC afirma que descobriu que a Terra é um disco cercado por um muro, não redonda, depois de uma série de análises, pesquisas e cálculos.
No encontro de 2018, apresentaram:
A Terra gira a 1.040 milhas por hora enquanto viaja ao redor do sol a 66.000 milhas por hora;
Enquanto isso, todo o sistema solar se move através da Via Láctea a 490.000 milhas por hora;
Como a galáxia Via Láctea flui através do espaço infinito a mais de 1 milhão de milhas por hora?
Afirmam que não cairemos na borda da Terra, um disco circular, por conta de paredes e barreiras de gelo, com a Antártida.
Acham que a NASA mente, toma liberdades criativas com seus impostos e produz materiais enganosos.
Mais informações, procure Robbie Davidson da Kryptoz Medial: robbied@gmail.com.
Ou pelo telefone: +1 780 9939004
Um dos terraplanistas, que não entra em detalhes sobre o cruzeiro, comparou ao The Guardian, de onde veio a notícia do cruzeiro, a farsa da Terra redonda às mentiras do poderio militar dos dois blocos durante a Guerra Fria.
Numa segunda expedição, poderia tentar encontrar Adão e Eva. E a maldita serpente, que ofereceu a maçã. Será que está viva ainda?
E procurar na Terra Santa a goiabeira de Jesus.
January 9, 2019
Tiro no pé global
Vídeo Show era um dos melhores programas de variedade cultural até o fim do milênio. Quando a emissora deu um tiro no pé.
Nele, a agenda cultural das grandes cidades.
Equipes com Cissa Guimarães, Renata Ceribelli e Virgínia Novick nos entrevistavam em estreias de teatro, lançamentos de livros e exposições.
Obrigação exigir a nossos divulgadores um telefonema à produção do Vídeo Show.
Que comparecia e cobria tudo em cultura, divulgava a um amplo público, feminino e teen. Sem preconceitos.
Na estreia da minha peça E Aí, Comeu?, lá estavam eles debatendo o machismo decadente do papo de bar, tema da peça.
Foi a Era Boni.
Desde 1983, nomes como os de Marcelo Tas, Paulo José, Tony Ramos, Patrícia Pillar, Malu Mader, Miriam Rios, Carla Camuratti, Paulo Betti, Kadu Moliterno, Lúcia Veríssimo, Júlia Lemmertz, Herson Capri, Fernanda Torres, Débora Bloch se revezaram na bancada de apresentadores.
Idade não era impedimento: foi apresentado também por Eva Wilma, Dennis Carvalho, Nuno Leal Maia, Paulo César Grande, Paulo Goulart, Lucélia Santos.
Era uma festa com a cara de Dennis Carvalho.
Miguel Falabella, com seu carisma e cultura teatral, fez história.
Quando Marluce Dias assumiu como diretora-geral (ficou entre 1998 e 2002), oriunda do BNDES e do RH, substituindo Boni, o programa bateu num iceberg.
A com pouco experiência em programação, no cargo para ajustar as contas da empresa, decidiu que a rede batesse bumbo para a rede.
E que o programa ficasse apenas na programação da emissora, debatesse novelas, entrevistasse atores da casa, falasse dos produtos da empresa, vendesse a programação, mostrasse os bastidores do Projac.
Como se, na câmera do celular, invertêssemos a imagem para um selfie.
Ora, o que era mirado para fora, focou o umbigo.
Além de cinco horas de teledramaturgia própria exibidas por dia, agora tínhamos de aturar um programa sobre a mesma dramaturgia, com a inclusão dos realities e apresentadores sem repertório.
No caso de E Aí Comeu?, por conta do prestígio e sucesso da peça, que ganhou Prêmio Shell de melhor texto em 2000, rolou um movimento contrário: atores da peça foram reabsorvidos pela Globo, como Felipe Camargo e Bianca Byington, e eu passei a escrever para a rede, com Felipe Cardoso e depois para a dupla João Falcão & Guel Arraes.
Virou chapa-branca.
Perdeu a essência.
Perdeu o encanto. Perdeu o sentido, o público, a voz antes relevante.
Afundou.
E, cuidado. A emissora continua a prática de selfie. Não entrevista atores de outras emissoras, não divulga filmes que não sejam produzidos pela Globo Filmes, proíbe gente contratada da casa em programas de outras emissoras e, principalmente, de atuarem em séries de outros streamings.
Erro que a Globo News, Sport TV, GNT Multishow não cometem.
Abra o olho…
January 7, 2019
Diversidade first!
A verdadeira face da América enfim se revelou na entrega do Globo de Ouro 2019.
Ou melhor, a face anti-Trump.
Me pergunto como reagiria um espectador há 70 anos se visse cenas da cerimônia de ontem. Mas que país é esse?, diria. É a América, meu caro, que a indústria do entretenimento escondeu, e cujas diferenças são abafadas por um puritanismo danoso há mais de cem anos.
Sandra Oh foi a apresentadora. A atriz-comediante de ascendência asiática ficou à vontade diante de um público de nítida diversidade. Ela ainda levou de sobra um prêmio pela atuação em Killing Eve.
Três filmes encabeçados por negros, sobre o racismo, estavam entre as cinco maiores produções indicadas.
Spike Lee ficou injustamente de fora da lista de vencedores. Beleza, perdeu para o mexicano Afonso Cuarón (Roma). Que deveria ter dito no discurso: “Va a la mierda, tarugo, Trump!”
Spike viu Regina King, afrodescendente, estrela de Se A Rua Beale Falasse, derrotar as divas branquelas Amy Adams, Emma Stone, Rachel Weisz e Claire Foy.
Rami Malek e seu Bohemian Rhapsody, a incrível biografia de Freddie Mercury, foram os grandes vencedores da noite em cinema.
Assim como outro drama que também envolve um personagem real gay para a TV: O Assassinato de Gianni Versace.
Green Book, sobre o relacionamento entre o pianista negro (Mahershala Ali) e o motorista branco (Viggo Mortensen) faturou três prêmios: melhor roteiro, melhor ator coadjuvante e melhor filme de comédia ou musical.
O prêmio foi justo com dois veteranos do cinema, Glenn Close e Michel Douglas, que dedicou aos filhos e ao pai, lenda de Hollywood.
A terra das oportunidades, habitada por nativos, cujo território foi sendo ocupado aos poucos por imigrantes de todas as partes, que se expandiu, absorveu porções de outros países, recebeu judeus, católicos irlandeses, protestantes anglo-saxões, árabes, exilados do Leste europeu, imigrantes de tantas guerras, asiáticos, trouxe à força escravos da África e forma hoje um dos maiores territórios multiculturais e raciais do globo enfim deu voz à diversidade.
Inclusive de gênero.
Mas nem tudo foi perfeito.
Justin Hurwitz, de a pior trilha de todos os tempos, de O Primeiro Homem, ganhou seu terceiro Globo de Ouro. Que trilha irritante, amigos.
Num filme (produzido por Spielberg) que se propõe a nos colocar dentro de Eagle, a cápsula que pousou na Lua em 1969, e escutar todos os ruídos, alarmes e o silêncio lunar, uma voz absurdamente piegas dava o tom da música sentimentaloide.
Deu saudades de John Williams.
E, de novo: Spike, tu és um gênio, “broo”. Filmaço!
PS> Parabéns TNT Brasil pela dupla de entrevistadores no Red Carpet, que entende de cinema e consegue cativar os indicados
January 3, 2019
Brasil livre do socialismo
Enfim, com o aval das urnas, o socialismo acaba.
Como as classes sociais tinham sido extintas nos governos anteriores, princípio socialista, voltamos a dividir a sociedade em trilhardários, bilionários, milionários, ricos, classe média alta, classe média-média, classe média baixa, pobres, miseráveis e pés-rapados.
O dinheiro das classes do topo da pirâmide, tomado e distribuído entre os mais pobres nos anos anteriores, será devolvido.
Os metalúrgicos que moram conosco desde a ascensão do socialismo podem deixar o quarto de hóspede e a sala de nossos lares.
Uma pena, porque, depois de tantos anos, me apeguei a eles, que ocupam a metade do meu três-quartos e fazem reparos numa camaradagem socialista no encanamento, parte elétrica e cozinha.
Por vezes, repartimos os cuidados das crianças. Repartíamos. Podemos retornar ao apartheid social.
A piscina do condomínio volta a ser frequentada apenas pelos moradores ou locatários do condomínio, não mais por toda a vizinhança.
Depois de anos de censura esquerdista, a imprensa volta a ser livre. Sugiro intervir em emissoras socialistas. Membros da família Edir Macedo e Silvio Santos têm total competência para instaurar uma TV sem partido.
A socialização dos meios de produção se encerra.
Indústrias voltam aos industriais, bancos, aos banqueiros, comércio, aos proprietários.
Teatros, dependências e piscinas do Sesc serão fechadas.
Escolas do Sesi e Senai passarão para o controle militar.
A renda voltará a ser desigual, depois de um período em que a bandeira brasileira foi vermelha.
O Estado deixa de controlar a economia e dividir igualitariamente a renda.
Homens e mulheres não são mais iguais.
Igreja e Estado voltam a se unir.
Agora, precisamos entender o que significa o fim do politicamente correto.
E decidir se mudamos o nome do Internacional de Porto Alegre para Ouvirundum de Porto Alegre, e trocamos o colorado pelo verde e amarelo.
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