Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 12
April 5, 2019
Doria proíbe feira do MST
Doria não colou nem se descolou de Bolsonaro. Mas da esquerda ele quer distância.
Ele cancela em cima da hora uma das festas mais tradicionais da cidade, a Feira Nacional da Reforma Agrária.
Que ocorre em todo mês de maio no Parque da Água Branca.
O evento do MST entraria na sua quarta edição.
São quatro dias em que sem-terra vendem seus produtos agrícolas sem agrotóxico, já conhecidos em muitas vendas da cidade, que levam o selo indireto de Vendinha do MST (no meu bairro, Sumaré, tem duas).
Em 2018, o evento foi visitado por mais de 280 mil pessoas sem distinção ideológica, no bairro que agrega moradores de Higienópolis, Pacaembu, Barra Funda, Santa Cecília, Perdizes, Pompeia, Sumaré, zona oeste e norte.
A um mês da feira, que reúne artistas, shows, debates e monta uma saborosa praça de alimentação, o MST recebeu a notícia de que o parque estadual não a receberia.
O movimento pretende transferir para um espaço municipal, provavelmente o Anhembi, entre 1 e 4 de agosto.
João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional da feira, explica num áudio:
“O governo do Estado do governador Doria não liberou o parque, e não dá tempo para fazermos em maio. Faremos em agosto uma feira mais bonita, maior e com mais variedade de produtos, nossas gloriosas atividades culturais e nossa bonita cozinha da reforma agrária. Queríamos reafirmar a importância da nossa feira e o compromisso de mantermos a unidade do nosso movimento.”
A polarização ideológica é uma estupidez.
Enquanto a Prefeitura de Bruno Covas, do PSDB, negocia a feira num dos seus espaços, o atual gestor do Palácio dos Bandeirantes, do mesmo partido, de olho na Presidência em 2022, age com uma descabida grosseria antidemocrática.
ATUALIZAÇÃO
Às 15h06, Assessoria de Imprensa da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente/Cetesb soltou a nota:
Ao contrário do que a coluna informa, sobre a Feira Nacional da Reforma Agrária ter sido vetada pelo governo por “uma grosseria antidemocrática”, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente esclarece que o parecer foi emitido pelo Conselho Gestor do parque, composto por oito membros da sociedade civil, além dos oito representantes da administração pública. O pedido foi protocolado em dezembro e a deliberação ocorreu em fevereiro, baseada no crescimento anual do evento, que tem previsão de receber mais de 200 mil pessoas em 2019 segundo os administradores.
A Pasta também recebeu representantes do MST e a deputada Beth Sahão (PT) a fim de auxiliar na busca por espaços maiores e mais seguros para o tamanho do público. Foram oferecidos os parques da Juventude e Ecológico do Tietê. Como os organizadores optaram por um espaço municipal, eles foram orientados sobre os trâmites com a Prefeitura. Os membros da secretaria se colocaram à disposição caso houvesse a opção por outro parque estadual.
Atenciosamente,
—
Assessoria de Imprensa
Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente/Cetesb
April 2, 2019
Bye bye Google+
O sucesso do Facebook levou a gigante do setor, Google, a entrar na briga com uma rede social própria, o Google+, ou G+.
Que observou os erros do Orkut, que de pioneiro foi varrida do mapa pela genialidade e ousadia de Mark Zuckerberg e seus colegas de Harvard: aprimorar a plataforma digital, somada à privacidade, o calcanhar de Aquiles, e novidades como o botão “curtir”.
Mas não rolou.
Hoje, 2 de abril, o G+ fecha as portas.
As contas do Google+, se ainda existem, e as páginas da rede, serão fechadas.
Aos poucos, o conteúdo será deletado.
O tiro de misericórdia veio depois que a empresa descobriu um bug no G+ que expôs dados de mais de 50 milhões de usuários.
A maioria ainda é audiência assídua (cliente) de suas plataformas, como Chrome, GMail, Youtube, Drive.
Google conseguiu elevar seu sistema operacional de celular, Android, à surpreendente categoria de líder do mercado.
E ainda é número um naquilo que fez a fama, o site de buscas, desbancando também outros pioneiros, como Yahoo (que ainda resiste).
Porém nas rede social se mostrou um fracasso já há tempos.
March 31, 2019
Violência urbana não nasceu na democracia
Um dos argumentos dos que defendem a ditadura é que, naquela época, não tinha violência urbana.
Primeiro, na democracia anterior, de 1945 a 1964, tinha menos ainda.
No Estado Novo, muito menos.
Na República que implementou a democracia, de 1989 a 1930, quase nada.
Não foi exatamente por conta da ditadura que a violência urbana saiu do controle?
Deu certo a divisão de polícias, entre Civil e Militar?
A fragilidade institucional do regime que cassava professores, adversários, advogados e juízes não alimentou a epidemia da violência?
CV (Comando Vermelho) não nasceu durante a ditadura, num presídio que misturou contraventores, estupradores, presos políticos e ladrões de banco (Penitenciária Cândido Mendes, Ilha Grande)?
Foi então que a guerra do tráfico, com novos comandos, como ADA (Amigo dos Amigos), hoje aliada ao PCC, Terceiro Comando, dominou a paisagem urbana.
O Esquadrão da Morte, grupo policial de extermínio, foi incentivado pelo regime, que o oficializou formando os 12 Homens de Ouro, com licença para matar.
A Escuderia Le Cocq nasceu na ditadura.
O Capitão Guimarães, um dos maiores bicheiros do Rio de Janeiro, era do DOI/Codi; foi carcereiro de Paulo Francis.
Assim como Anísio Abraão, de Nilópolis, que levou torturadores do DOI/Codi para serem seus seguranças.
Castor de Andrade auxiliou presidente e general Figueiredo na eleição para impedir a vitória de Brizola.
Consulte o livro Os Porões da Contravenção, para ver a promiscuidade entre agentes da repressão e o jogo do bicho.
Não foi levando agentes da Polícia Civil, como delegado Fleury, para dentro da repressão política, dando carta-branca, que a ditadura passou a combater as organizações de esquerda?
Polícia que percebeu que era mais jogo bandidos trabalharem para ela (plot do filme Lúcio Fávio – Passageiro da Agonia, de Babenco).
Polícia que passou a negociar armas com traficantes, formou milícias, faz lobby (Bancada da Bala) para que jogos de azar nunca sejam permitidos no Brasil, e que a posse de maconha e a proibição da venda continuem crime.
Repressão que saiu do controle, prendeu quem quis, inclusive bispos da Igreja Católica, e boicotou a redemocratização em 1981-1982, como no Atentado do Rio Centro.
Violência urbana, com a tortura, é legado da ditadura.
Foi nela que saiu do controle.
March 28, 2019
Se não foi ditadura, foi democracia?
Mais fácil se perguntar se o que veio depois de 1 de abril de 1964 foi uma democracia, do que argumentar de que houve sim uma ditadura.
O discurso do bloco capitalista, de que é melhor uma ditadura com padrão de vida capitalista do que um regime comunista, foi por óleo abaixo depois da crise do petróleo, que trouxe inflação e recessão em toda parte.
Vivemos um tsunami de redemocratizações. Começou na Revolução dos Cravos, Portugal, então sob o regime salazarista, cruzou a Espanha, sobre ruínas do franquismo, chegou na Grécia, veio bater no Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Bolívia, subiu para a América Central, foi pra África, Oriente Médio (com limitações), até no colapso da USRR derrubar o Muro de Berlim e atravessar numa blitzgrieg o berço do stalinismo e partes da Ásia.
Teóricos do Mundo Livre descobriram que não tinham um manual acadêmico que indicasse o que era ou não uma democracia.
E listaram em What Democracy Is…And is Not (Philippe Schmitter e Terry Karl), a pedido da administração Clinton. É democracia se tiver:
Renovação no Poder
Eleições livres e liberdade partidária
Liberdade de expressão
Punição, recompensa e reconhecimento a crimes cometidos no período autoritário.
Controle civil nas Forças Armadas
Depois de 1964, o marechal Castelo Branco foi empossado presidente por um Congresso sem a oposição; cassada, presa e no exílio pelo AI-1 (Ato Institucional No. 1).
Militares passaram a governar por Atos Institucionais.
Controle civil nas Forças Armadas
Castelo baixou o AI-2 e cancelou as eleições para presidente de 1965, em que ganharia com folga JK (cassado), secundado por Carlos Lacerda (a ser cassado), segundo pesquisa do Ibope divulgada 50 anos depois.
Eleições livres e liberdade partidária
Em 1966, cancelaram eleições direta para governador, prefeito de capitais e cidades estratégicas, como Santos. Em 1967, impuseram uma Constituição sem constituinte.
Renovação no Poder
Em 1968, baixaram o AI-5. Mais de 500 membros do Executivo, deputados, senadores e vereadores, foram cassados, e foi instituída a censura prévia, que engessava imprensa e cultura, e acabou de fato apenas em 1989, com a nova Constituição.
Liberdade de expressão
Na Abertura Política, promovida pelo general Figueiredo, houve anistia política, mas não se julgou crimes nem se reconheceu os desaparecidos.
Punição, recompensa e reconhecimento a crimes cometidos no período autoritário.
Foi democracia?
Mesmo assim, foi só em 1995 que FHC a consolidou de vez, ao colocar um civil no Ministério da Defesa e reconhecer mortos e desaparecidos.
Alguma dúvida?
Quem quiser contestar, hoje pode.
March 26, 2019
Evento de Harvard desconvida Olavo, que desdenha
O próprio astrólogo Olavo de Carvalho, que fora convidado a um evento em Harvard e MIT, e desconvidado, postou ontem na sua página do Facebook:
“Recebi da turma de Harvard. Interpretem como quiserem. Da minha parte, estou feliz de não ter de fazer uma longa viagem só para dialogar com microcéfalos.”
Ele anexou a mensagem do estudante João Moraes Abreu, aluno do mestrado em Administração Pública de Harvard, a menos de duas horas de avião de onde mora, Richmond, Virgínia.
Em 14 de março, Abreu, presidente da Brazil Conference 2019, que acontece semana que vem, escreveu:
“Escrevo pois nós passamos a última semana em um esforço diário para estruturar o formato e, especialmente, a composição do painel que contaria com a sua participação na conferência em Abril. Infelizmente, não tivemos sucesso: focamos em nomes que sejam ao menos minimamente comparáveis, em relação à relevância para o debate brasileiro, mas não conseguimos a confirmação de nenhum outro convidado até o momento.
Em casos como este, e dada a proximidade do evento, nós optamos por não realizar a discussão, dado que o princípio fundamental da Conferência é estruturar debates com ao menos duas perspectivas distintas em cada painel. Lamentamos pelo inconveniente que isso possa ter causado e fico a disposição para maiores esclarecimentos se necessário.”
Se você é fã do astrólogo, interpretaria como: não há ninguém que conseguiria debater devido ao seu “incomparável” talento.
Se não é, percebe que houve uma recusa de outros participantes; de se sentarem na mesma mesa.
Seus seguidores se dividiram.
“Um debate Dilma x Constantino estaria mais de acordo com a universidade do Obama”, comentou Henrique Ortiz.
Edson Surdi escreveu: “O m… deve estar se corroendo de inveja. Vida longa, professor.”
Para Renã Pozza Silva, “Olavo vs Olavo deve estar impossível de encontrar.”
Iggor Carvalho resume: “O senhor destrói qualquer um.”
“Tipo, os outros arregaram, acho”, interpretou Fábio V. Barreto.
O Brazil Conference 2019 contará com a presença de debatedores como o ministro Dias Toffolli, Fernando Haddad, Ciro Gomes, FHC, Boulos, Henrique Meirelles, Luciano Huck, jornalista Patrícia Campos Mello, general Santos Cruz, Sônia Guajajara, Tabata Amara, cria de Harvard, Pelé, vice-presidente Mourão, que se sentará com a deputada estadual da Bancada Ativista, Mônica Seixas (PSOL-SP), Jorge Paulo Lemann, patrocinador do evento (como BGT Pactual, Lojas Americanas, 99, Votorantim, Ambev), entre outros “microcéfalos”.
Brazil Conference em Harvard & MIT é um evento anual sempre no mês de abril, organizado pela comunidade brasileira de estudantes na região de Boston, desde 2015.
Promove debates de “líderes e representantes da diversidade nacional e internacional” sobre os mais variados temas.
March 25, 2019
#NuncaMás
Enquanto Bolsonaro cria embaraços defendendo ditaduras do Cone Sul, times de futebol argentinos entraram em conjunto na campanha #NuncaMás, no Dia Nacional da Memória pela Verdade e Justiça, comemorado ontem, domingo, 24 de março.
Lá e aqui, a ferida não foi cicatrizada.
Lá, os times de futebol mais importantes e de maior torcida, Boca, River, Independiente, Rosário Central, Velez, Racing, Lanús, Estudiantes, divulgaram pelas suas redes sociais oficiais, em conjunto, mensagens de apoio ao movimento que repudia a ditadura que mais presos políticos desapareceu.
Aqui, Bolsonaro foi recebido pelo Palmeiras, no dia em que o time comemorava o justo campeonato brasileiro de 2018.
Evidentemente, o controverso e então recém-eleito presidente foi convidado oficialmente pelos dirigentes da equipe alviverde.
Apareceu na foto com os jogadores levantando a taça, como um membro da comissão técnica.
O time é dirigido pelo técnico Felipe Scolari, que já deu declarações polêmicas de apoio a Pinochet.
Na polarização política de 2018, times e jogadores apoiaram ou não Bolsonaro durante a campanha; jogadores do Palmeiras, Felipe Mello, como do rival Corinthians, Jadson.
Já a torcida Gaviões da Fiel, que viveu a experiência da Democracia Corintiana, estendeu uma faixa pedindo anistia durante a ditadura brasileira, posicionou-se contra o atual presidente, assim como outras.
O time Atlético Paranaense chegou a entrar com uma camiseta num jogo em Curitiba contra o América-MG, apoiando o então candidato. Apenas o ex-corintiano Paulo André, líder de um movimento que pede a democratização do futebol, não.
Na Argentina, não se questiona.
Em 24 de março, protestaram.
É o dia que, em 1976, começou a sangrenta ditadura comandada por uma junta militar, que incluía membros das três Forças Armadas.
E no Chile, Jair Bolsonaro elogiou a ditadura chilena.
Justamente na semana em que foram condenados pelo juiz Mario Carroza, quinta-feira, dia 21, os 11 ex-oficiais do Exército acusados no emblemático caso Quemados
O crime ocorreu em 1986, durante a ditadura militar.
O fotógrafo Rodrigo Rojas e a estudante Carmen Gloria Quintana foram queimados vivos depois de detidos, durante protesto contra a ditadura.
O presidente chileno, Sebastián Piñera, não gostou da declaração de Bolsonaro, que apareceu de surpresa num shopping da elite chilena, reduto de defensores do antigo regime de Pinochet.
Foi saudado e tirou selfies.
Em 1996, numa entrevista à rádio Jovem Pan, Scolari disse: ”Pinochet fez muita coisa boa também. Ajeitou muitas coisas por lá. O pessoal estava meio desajeitado. Ele pode ter feito uma ou outra retaliaçãozinha aqui e ali, mas fez muito mais do que não fez”.
E o ex-capitão do Exército brasileiro, atual presidente, prestou deferência a um torturador no dia da abertura do processo pelo impeachment contra a presa e torturada, ex-presidenta Dilma.
March 21, 2019
O psicopata dos psicopatas
A loucura da rede social não tem limites.
Se você tem filhos pequenos, como eu, deve estar horrorizado pelo efeito que uma lenda urbana digital, que hoje em dia se espalha velozmente, causa numa criança.
E deve sentir a mesma raiva que eu: quem inventou essa maldita bruxa Momo?
Toda literatura infantil é baseada em lendas. O medo é recorrente nos contos de fada. Uma criança aprende a temer floresta, predadores, o desconhecido, a buscar abrigo com a família, e entra em contato com os perigos da morte e da sua existência.
Até aí, faz parte da elaboração da consciência e do papel social de criaturinhas que até anos antes não existiam.
Mas Momo extrapola. O ser horripilante, meio boneca, meio galinha, ensina crianças a se mutilarem. Ensina a se matarem. Ou, caso não matem os pais, podem ser abduzidas por ela.
Não é cedo para a absorção do freudiano Complexo de Édipo (matar o pai para ficar com a mãe).
Porém, Momo é uma ideia que deve ter partido da mente mais doentia de todas, de um mundo que está doido, que decidiu, através de um hoax, assustar crianças via redes sociais e faturar.
Na verdade, a resposta de quem ela é estaria em números a serem adicionados pelo WhatsApp, para dados serem afanados de celulares.
Ou em cliques tão necessários para aqueles que vivem hoje da audiência das redes.
E foram bem-sucedidos. As crianças estão bem assustadas. Nos grupos de pais dos condomínios ou escolas, todos só falam disso.
Assim como meu filho de cinco anos, elas não dormem há dois dias. Meu mais novo, de quase três, não quer ir para a escola agora, quando antes acordava rindo e saltitante.
Nossa missão é: isso é mentira, é lenda, é besteira, não existe, esquece…
Momo é uma escultura da exposição Ghost de 2016 em Tóquio: um misto do grotesco e erótico, o “eroguro”, da lenda japonesa Ubume (dos “youkais”, seres sobrenaturais meio bicho meio humano que representam perigo aos aldeões).
Cada um tem uma teoria, mas dizem que Momo era uma mãe que morreu no parto e quer se vingar. Para isso, muda de forma para enganar as pessoas.
O ídolo de todos, Felipe Melo, num vídeo de 6,3 milhões de viewers, explica em seu canal do YouTube, no O Mistério da Momo, quem ela é.
Acusa concorrentes que quererem audiência, cliques, mostra vários exemplos de aproveitadores e acalma a criançada.
Melo merece respeito. O cara é bom, tem repertório e faz um belo serviço.
Desmistifica os memes, e Momo vira piada. Acho uma boa saída. Valeu.
March 19, 2019
Seja o que Deus quiser
Deus está presente na maioria das menções e discursos oficiais do novo governo brasileiro.
É tanto Deus pra lá e pra cá, que desconfio ser Ele o verdadeiro Posto Ipiranga
Estão colocando Deus numa tremenda roubada: consertar o país em que se diz que Ele nasceu.
Ou Deus não é mais brasileiro?
Seja ministro, secretário, membro do alto ou baixo escalão, especialmente membros da família do presidente, como o próprio, no Executivo, Legislativo e Judiciário, Deus tornou-se mais onipresente do que nunca.
Esteve presente inclusive num slogan eleitoral: Deus acima de tudo.
Começo a acreditar que, se o governo falhar, a Reforma da Previdência não for a desejada, a economia não crescer, Ele será responsabilizado: Deus quis assim.
Deus, coitado, tem culpa do nosso fracasso?
Ele estava lá, de boa, observando erros e acertos de sua obra.
A bagunça dos atuais gestores, os recuos, indecisões e rachas são exemplos claros de que estamos nas mãos de Deus.
O mercado, cuja ações batem recordes, tem provado que absorveu a frase preferida dos atrasados: fé em Deus e pé na tábua
Presenciamos um período de impasses em que nunca antes na história desse país a expressão “que Deus nos acuda” foi tão necessária.
Espera lá. Colocar Seu nome em vão é pecado?
Bem, a última palavra é de Deus.
Até eu serei obrigado a mencioná-lo, diante de tudo o que está acontecendo: seja que o que Deus quiser.
March 15, 2019
Fórmula 1 busca ampliar público
Série na Netflix, os carros mais rápidos já construídos e metade do grid com menos de 25 anos. Muita novidade e rivalidade na pista.
É a fórmula da Liberty Media para reacender o interesse do grande público na Fórmula 1, que viu seus ídolos e lendas se aposentarem ou morrerem.
A McLaren foi a que mais ousou: o carro MCL34 será pilotado por um moleque de 19 anos, Lando Norris.
A Ferrari cedeu um de seus dois cockpits do SF-90 a um garoto de 21 anos, Charles Leclerc. O outro continua com o tetracampeão Sebastain Vettel.
Precisam de corajosos malucos recém-saídos da puberdade para dirigir os foguetes que se transformaram máquinas que literalmente voam por cima de outras, num espetáculo que aproxima a corrida do videogame.
Rivalidade é o mote num esporte em que o que interessa é chegar na frente do inimigo.
Para a nova geração, espírito esportivo é coisa do passado, e, se for preciso, joga-se o carro do adversário para fora. Aliás, como aprenderam assistindo aos filmes históricos das disputas entre Ayrton Senna e Alain Prost.
Netflix abriu sua temporada com a espetacular série em dez episódios, Fórmula 1 – Dirigir Para Viver, que leva técnicas dos grandes filmes e séries de ficção para as pistas.
Câmera lenta, som bem editado, surpresas ao estilo Velozes e Furiosos… E figuras reais que parecem personagens com muitas camadas psicológicas bem construídos por grandes roteiristas.
Os conflitos nos prendem na tela. Ganchos nos fazem adiar a hora de desligar.
A grande sorte dos produtores foi que tanto a Mercedes quanto a Ferrari, principais times da Fórmula 1, recusaram-se a participar.
Ficamos então com o segundo pelotão, em que não faltam histórias e dramas, mas falta ética.
Em cada episódio, uma trama temperada pelo sarcasmo de donos de equipes e arrogância de pilotos que chegam às vias de fato.
Dramas como a do piloto desastrado, Romain Grosjean, que bate em quase todas as corridas, entra num surto psicológico (captado pelos microfones da série) e vira motivo de piada do chefe da própria equipe, Gunther Steiner.
Ou a rivalidade entre os chefões da equipe símbolo da França, Renault, e a única americana, a Hass, o velho versus o mundo novo, colonizador e colonizado, em disputa pelo quarto lugar entre construtores.
Não falta o episódio do escândalo financeiro do bilionário indiano, Vijay Mallya, excêntrico que viu sua companhia aérea falir, Kingfisher, dono da antiga e ótima escuderia Force India.
Ele teve que ficar na Inglaterra para não ser preso durante a temporada 2018. Em seguida, a Force é comprada ainda em 2018 por outro bilionário, o canadense Lawrence Stroll, que a obriga a ceder em 2019 um volante para o filho, pior piloto entre os 20, Lance Stroll
Não falta a disputa entre os dois espanhóis de sangue quente, o veterano Fernando Alonso e o garotão Carlos Sainz.
Assim como os dois da Red Bull, o simpaticão australiano, Daniel Ricciardo, e o emburrado e arrogantezinho, Max Verstappen, que se estranharam nas primeiras corridas, um atropelando literalmente o carro do outro.
Pilotos trocam empurrões, xingam-se. Tudo filmado pela equipe do documentário.
Da Red Bull, veio também o conflito com seu fornecedor de motor, a Renault. A primeira decidiu trocar pela unidade motriz da Honda. A segunda, que também tem uma equipe, e euros que não acabam mais, não se fez de rogada e levou o carismático piloto da outra, Ricciardo.
A Williams, que tantos títulos ganhou, agora gerida pela filha de Frank, teve o pior desempenho da história, chegando em último.
Sauber virou Alfa Romeo de vez e, surpresa, contratou o ex-Ferrari Kimi Raikkonen.
A Hass tem lá como terceiro piloto o brasileirinho Pietro Fittipaldi, neto de Emerson. Se Grosjean continuar pisando na bola, ou beijando o muro…
O que não falta, aliás, é piloto arrogante, maluco, ousado, kamikaze.
Contanto que os carros sejam mesmo seguros, vai ser um “deus nos acuda” com muito “chega pra lá”. E emoção redobrada.
Começando neste fim de semana com O Prêmio da Austrália.
March 13, 2019
Ninguém confia em ninguém
Detalhes da investigação de quase um ano do caso Marielle-Anderson revelam uma faceta triste do brasileiro: ninguém confia em ninguém.
Na cronologia do caso, a desconfiança entre as próprias autoridades é evidente. Depois da morte em 14 de março de 2018, começou a disputa entre PM, Polícia Civil, Polícia Federal do Rio e de Brasília e o Ministério Público de Brasília e do Rio, envolvendo Gaeco, DH e Draco.
As milícias, poder paralelo que ocupa mais de 80 comunidades cariocas, foram apontadas como as principais suspeitas. Especialmente porque a vereadora do PSOL, metralhada por uma HK MP5 9 milímetros, as denunciava.
Seus membros foram homenageados em eventos oficiais do Legislativo por ninguém menos que o filho do atual presidente, Flávio, que empregava seus parentes. Em que há deputados e vereadores suspeitos de terem sido financiados por elas, elevando o domínio territorial ao eleitoral.
O delegado Giniton Lages, da DH (Delegacia de Homicídios), foi incumbido de elucidar o caso de duplo homicídio, inquérito 901-00385/2018.
Suspeitou-se de policiais do 41º Batalhão, em Acari, chamado dias antes por Marielle de “Batalhão da Morte”.
Estranhou-se o comportamento de PMs do 4º Batalhão de São Cristóvão, que mandaram possíveis testemunhas se afastarem do local, assim que chegaram na cena do crime em 14 de março.
Um dia depois, reuniram-se o então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, o general do Exército Walter Souza Braga Netto, interventor do Estado, e o procurador-geral de Justiça no Rio, José Eduardo Gussem.
Por não confiarem nas autoridades locais, pretendiam federalizam a investigação. Anunciou-se a apuração paralela do Ministério Público Federal (MPF) de Brasília.
O Superior Tribunal de Justiça pediu o envolvimento também da Polícia Federal e do MPF do Rio.
Na Superintendência da PF do Rio, três delegados federais, Hélio Khristian Cunha de Almeida, denunciado duas vezes por extorsão, Lorenzo Martins Pompílio da Hora e Felício Laterça apresentaram o sargento da PM Rodrigo Jorge Ferreira como testemunha surpresa, que acusava o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando de Curicica, miliciano já preso.
Tudo mentira, afirmou Giniton.
Curicica prestou um depoimento sigiloso à procuradora Caroline Maciel, em Mossoró, para onde foi transferido. Surgiu o nome Escritório do Crime, grupo de matadores de aluguel de milicianos que cobram até R$ 1 milhão por encomenda.
Ele disse que a Polícia Civil, incluindo a cúpula, não investigava o Escritório do Crime, porque recebia propinas do jogo do bicho. Raquel Dodge foi informada.
O major Ronald Paulo Alves Pereira foi apontado como um dos líderes do Escritório do Crime, junto com o ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega. Ambos foram homenageados na Assembleia Legislativa do Rio com menções honrosas pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro.
Num texto primoroso de Alan de Abreu, jornalista autor dos livros O Delator e Cocaína: a Rota Caipira, para a nova edição da revista piauí, conhece-se a cronologia do abafa: o procurador-geral Gussem pediu que o Conselho Nacional do Ministério Público suspendesse a apuração dos federais.
Dodge afastou os procuradores federais, mas manteve os estaduais.
Curicica continuou acusando: “O que tenho a dizer, ninguém gostaria de ouvir: existe no Rio hoje um batalhão de assassinos agindo por dinheiro, a maioria oriunda da contravenção. A DH e o chefe de Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, sabem quem são, mas recebem dinheiro de contraventores para não tocar ou direcionar as investigações, criando assim uma rede de proteção para que a contravenção mate quem quiser. Diga, nos últimos anos, qual caso de homicídio teve como alvo de investigação algum contraventor?”
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, anunciou novamente a abertura de inquérito na Polícia Federal.
Era agora a PF de Brasília (sete delegados) apurando a Polícia Civil, longe, claro, da Superintendência da PF carioca, a dos três policiais que apresentaram a falsa testemunha.
O MP estadual do Rio trocou o promotor do caso, Freitas Filho.
O procurador-geral nomeou a promotora Letícia Emile Alqueres Petriz, que, surpresa, afastou-se da DH e pediu ajuda ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado), grupo do próprio MP.
A promotora Simone Sibilio do Nascimento, ex-PM e delegada, passou a auxiliar Letícia.
Em janeiro de 2019, elas recorreram à Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas), não à DH, para cumprir mandados de prisão.
Por fim, chegaram nos suspeitos o ex-sargento Ronnie Lessa e o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz.
Lessa é próximos da família Bolsonaro; vizinho a um terreno do presidente na Barra da Tijuca. O Jornal Valor diz que sua filha namorou um filho de Bolsonaro, informação passada pelo delegado Giniton Lages.
Imediatamente, apareceu o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, declarando que a Polícia Federal não vai admitir “tentativas de obstrução” às investigações relacionadas ao assassinato de Marielle e Anderson.
Qual PF, a da Superintendência carioca ou a de Brasília?
Alguém questionou? Por que anunciar o que deveria ser óbvio?
Por que correram para informar que foi “um crime de ódio” por motivo “torpe”.
Não se fala em encomenda?
E por que o governador carioca, Witzel, afastou o delegado do caso, Giniton, alegando acúmulo de funções?
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