Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 13

March 11, 2019

Só dá Bolsonaro


Bolsonaro, filhos, assessores, ministros, seguidores, recuos, mentiras e polêmicas ocupam o espaço de todo debate democrático.


Só se fala nisso.


É evidente que a quantidade de baboseiras estranhas à marco-política e foras inéditos, de um amadorismo nunca antes visto, protagonizados por uma gente evidentemente despreparada, são suficientemente polêmicos e atraentes para gerar posts, tuítes, retuítes e mensagens na rede digital.


Mas, no mundo de hoje, o real, não existe nada mais fora da curva do que uma pauta conservadora.


Nos tempos de hoje, debater questões de gênero, direito da mulher, casamento gay, questões já resolvidas na revolução de costumes e direitos civis, mais a defesa de uma escola sem partido, com rezas e cultos no Congresso… É como voltarmos a usar o fax.


Abro o Twitter, minha rede social favorita.


Em 99% dos tuítes de jornalistas, amigos, acadêmicos e artistas que sigo, a palavra Bolsonaro é destaque.


“Bolsonaro sempre foi isso…”


“Bolsonaro é um monstro faz fake News…”


“De onde vem o dinheiro de site ligado a Bolsonaro?”


“Bolsonaro queria que Lula se tratasse no SUS mas escolheu o Einstein…”


“Assessora de Bolsonaro repassou 59% de verba ao marido…”


Essa é a sequência de agora há pouco.


Até no site de humor Sensacionalista está lá o Forrest Gump da política brasileira: “Bolsonaro ganha prêmio Esso de jornalismo na categoria Fakenews.”


Sigo os maiores jornalistas brasileiros, da política, cultura e esporte, Mônica Bergamo, Gilberto Dimenstein, Rubens Valente, Reinaldo Azevedo, André Rizek, Míriam Leitão, Pedro Dória, Leonardo Sakamoto, lendas como Sérgio Augusto, Laerte, colegas de jornalismo cultural como Álvaro Pereira Júnior, André Forastieri, Xico Sá, Milly Lacombe, escritores como J.P. Cuenca, Sérgio Rodrigues, os sites dos grandes jornais.


Todos hoje amanheceram com Bolsonaro em seus tuítes.


Muitos enviando justa solidariedade à jornalista Constança Rezende, do Estadão, vítima uma montagem bisonha e fake news, como Marclelo Tas, Nina Lemos, Camila Tuchlinsk, Joanna Maranhão, Chico Barney, compartilhada por quem? Pelo presidente tuiteiro.


Me pergunto se aí não está uma bomba de fumaça para desviar o foco em algo mais grave: o despreparo, o desespero, a insegurança.


Se o ex-capitão, frequentador assíduo no passado de programas de televisão sensacionalistas e populares do Lado B da programação, não sacou a técnica de estar sempre em evidência, com falas esdrúxulas, o que o deu popularidade, voz, cancha e voto.


Se ele não acha que isso é fazer política.


Ou, pior, que ele só saiba fazer isso.


Então teremos quatro anos de uma mistura de Pânico na TV com SQCSuperPop no Poder: O Bolsonaro Show


Retransmitido amplamente.


PS. Olha que ironia: mais num post falando dele…



 

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Published on March 11, 2019 08:02

March 6, 2019

O aprimoramento da democracia

O movimento Coletes Amarelos começou por conta do aumento de impostos dobre o diesel.


Porém, a pauta de reivindicações baseada na perda do poder de compra dos mais pobres se ampliou: demissão imediata do presidente Emmanuel Macron, mudança do regime político e democracia direta, com Referendos de Iniciativa do Cidadão (RIC).


O discurso de ódio contra a política desconectada da realidade, o xingamento desmedido e inédito numa sociedade que prioriza e curte o debate, a violência nas ruas de pequenos grupos que se aproveitaram dos protestos, o ativismo de cidadãos sem vínculo político ou “associativo”, surpreenderam a população.


No entanto, 66% dos franceses defendiam o movimento. Em novembro de 2018, 42% apoiavam, 24% tinham simpatia.


Tudo começou com o vídeo da hipnoterapeuta Jacline Mouraud, que viralizou no Youtube.


Criticou Macron com seu didatismo e voz calma pela carga alta de impostos e queda do poder de compra e salário: “Para aonde vai a França?!”



Jacline atravessou a fronteira da rede social, foi a debates na televisão, deu entrevistas e suspeita-se de que é candidata a algum cargo no próximo pleito.


O presidente é considerado arrogante, amigo da elite, banqueiros, e errou feio ao declarar com seu pensamento liberal que quem “quiser trabalho é só atravessar a rua”.


Nas ruas, o movimento começou em 17 de novembro e não foi organizado por nenhum partido político, associação, sindicado.


Milhares de pessoas nas redes sociais organizando protestos em amarelo te lembra alguma coisa?


Sim.


Porém, o viés ideológico é difícil de detectar. Não é contra a esquerda.


O antigo partido Front National (FN), de extrema-direita, atual RN (Rassemblement National), que defende endurecer contra imigrantes, apoia o movimento, assim como o grupo de esquerda-radical, La France Insoumise (LFI).


Por não ter liderança, há todo tipo de reivindicação.


Outra liderança é o caminhoneiro Éric Drouet. Como Priscillia Ludosky, empreendedora.


Um dos mais ativos é Maxime Nicolle, que usa o Facebook: um típico agitador e distribuidor de fake news detonando a imigração, que espalhou que o Pacto Global Pela Imigração conspira para acabar com a soberania nacional (versão francesa de Cabo Daciolo).


Os estudantes, ativos em maio de 68, juntaram-se ao movimento, mas não com a mesma mobilização de 51 anos atrás.


Os protestos aos sábados ocupam as rotatórias das grandes cidades e travam o trânsito. Depois, marcham juntos.


Macron respondeu com um grande debate nacional, do qual os franceses podem participar e dar a opinião, em encontros transmitidos pela televisão.


Na pesquisa de 25 de fevereiro de 2019, 55% querem o fim do movimento, que já passa dos três meses.


Dificilmente Macron sai do poder, cuja popularidade aumentou depois do início das manifestações. No entanto, é bem provável que envie ao Congresso um projeto lei que torne possível os referendos, RICs.


E o que sair dos debates, promete, resultará numa proposta de reforma do Estado.


Há semelhanças entre a experiência dos amarelos daqui e de lá: ambos questionam o sistema político em vigência.


Mas tem diferenças fundamentais.


Alguns dos daqui tinham a ilusão de que a retirada da presidenta, ou da esquerda, era suficiente. Outros, que a democracia precisava de intervenção militar.


Lá, preferem aprimorá-la.


(colaboração do mestre francês em ciência política, Patrick Trazzi)

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Published on March 06, 2019 05:25

February 26, 2019

O fim do neorrepublicanismo


Ministro que afirma que índio é latifundiário…


Ministra que afirma que banheiro trans é local de degeneração sexual…


Ministro que pede que seja lido pelos estudantes o slogan da campanha de Jair Bolsonaro, “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”,  para filmarem e enviarem à Secom (Secretaria de Comunicação do governo) e MEC…


Nada mais fazem do que seguir discurso de campanha, de governar para as maiorias, seja lá o que isso significa.


Os garotos que estudam numa escola do parque do Xingu, ou da aldeia guarani em Boraceia, Aldeia do Rio Silveira, a Escola Estadual Indígena Txeru Ba e kua, o maior prédio, que fica na entrada da reserva, terão que saudar “Deus acima de tudo”?


Não. Ministro já recuou 24 horas depois e admitiu que foi um erro.


O neorrepublicanismo surgiu no começo dos anos 1980, depois da onda de redemocratização que começou nos países europeus (Portugal, Espanha, Grécia), contaminou a América do Sul e Central, desabou o Muro de Berlim e espalhou rapidamente para os países do Leste Europeu


O modelo defende que a República, a união de Estados sob um governo eleito que se renova, vive uma onda neorrepublicana, em que a liberdade como não-dominação, de regimes não-autoritários, parte da participação direta dos cidadãos na vida política.


Ele se inspira na origem da democracia de Atenas: todos participam da vida pública, mantendo a privada, e se submetem às leis que eles mesmos escreveram.


Não por outra, o estágio pós fim da ditadura brasileira, em 1985, foi chamado de Nova República.


E escreveu na nova Constituição o preâmbulo: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem

preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,

promulgamos…”


A carta do ministro Ricardo Vélez Rodríguez, que aparentemente ainda está em campanha, desrespeita a massa grande de estudantes que vem de família agnóstica ou outras religiões.


O tema polemizou.


Ficou em primeiro lugar nos assuntos mais comentados do Twitter.


A oposição se manifestou.


O deputado do PSOL, Marcelo Freixo (RJ), entrou com uma representação contra o MEC, que estaria “totalmente ideologizado, sem rumo ou iniciativas que possam fazer avançar a educação brasileira”.


“Depois de chamar os brasileiros de canibais e de ladrões quando viajam, o ministro da Educação, Vélez Rodríguez, comete crimes grosseiros de improbidade administrativa”, conclui.


O ex-ministro da Educação petista, Aloizio Mercadante, soltou a nota:


“É completamente ilegal tentar forçar a utilização do slogan do candidato Bolsonaro nas escolas. Igualmente ilegal é tentar se apropriar de imagens de crianças para fins políticos. Tal atitude, além de eticamente inaceitável, fere abertamente o Estatuto das Crianças e dos Adolescentes (ECA), que exige a autorização formal dos pais para a utilização de imagens de crianças para qualquer finalidade.”


“Além disso, atenta contra o artigo 37 da Constituição Federal que em seu § 1º  do artigo XXII estabelece: ‘a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos’.”


Não foi preciso o vice Hamilton Mourão, o sensato, se manifestar.


O MEC recuou hoje de manhã.


Tirou o slogan e o pedido para filmarem as crianças.


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Published on February 26, 2019 06:45

February 22, 2019

Ajuda humanitária pra gringo ver


Que mané de ajuda humanitária é essa?


E, então, os governos de extrema-direita dos EUA, Holanda e Brasil decidem posar de altruístas, elevando a tensão nas fronteiras, tensão de que não precisávamos, e estávamos livres há mais de um século…


Junto com a Colômbia, inimiga histórica da vizinha Venezuela.


Jair Bolsonaro, que chocou a cena política mundial com seu passado intolerante e xenofóbico, recheado de declarações misóginas, racistas, homofóbicas, que propôs um campo de concentração para jogar venezuelanos que cruzavam em pânico as fronteiras brasileiras, prometeu destruir a esquerda, ataca a imprensa, criminaliza movimentos sociais, deixa sem-teto e sem-terra sem apoio, ameaça prender sua liderança (o líder do MST, João Pedro Stédile, já avisou a amigos que não se exilará, e que cai na clandestinidade, se for perseguido), cansou de ser vilão e quer o papel do mocinho, o “good guy”.


O regime de Maduro afunda a Venezuela no caos. Virou o cenário ideal para alimentar um sentimento antissocialista, derrubando todas as teses de utopia da esquerda mundial.


O povo sente fome, não tem remédio, a oposição é perseguida, a imprensa, empastelada.


Vive um colapso político-social, que pode terminar em banho de sangue ou ruína.


O presidente Jair Bolsonaro manteve o envio de medicamentos e alimentos, que esperariam no fim de semana a população venezuelana na fronteira com Roraima.


Maduro fecha a fronteira.


A cúpula militar brasileira tem toda a razão de se preocupar, já que prefere o canal do diálogo entre militares daqui e de lá, que falam a mesma língua.


É bom alguém avisar: ex-capitão, a Venezuela está no leque de proteção da Rússia, e seu arsenal contém os mais modernos caças do continente, Sukhoi-30, e os melhores tanques, T-32, um efetivo numeroso de mais de 200 paramilitares, divididos em milícias, além das Forças Armadas, treinados e munidos de Kalachnikov, aquela que não quebra, nem trava, funciona no calor, frio, seca ou molhada, na neve e no deserto.


Ajuda humanitária para gringo ver.


Se é que os gringos caem nessa…


Em que dia recuará?


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Published on February 22, 2019 03:37

February 19, 2019

A reação dos sensatos


“Alguns podem se desanimar considerando que a luta pela igualdade, liberdade e solidariedade é bonita, porém uma utopia. Mas a utopia é sempre um horizonte”, escreveu Margarida Genevois, presidente de honra da Comissão Arns.


Encontrei o ex-ministro José Gregori na missa de 7º dia de Fernão Bracher. Me perguntou se eu ia no lançamento da Comissão Arns.


“Precisamos dar uma resposta aos que passam um trator sobre conquistas sociais e os direitos humanos”, ele disse.


Claro que eu vou, Zé.


Amanhã, quarta-feira, às 11h, na Faculdade de Direito da USP – Largo São Francisco, haverá um reencontro no lançamento da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns.


Um nome que, ao soletrar, me emociono.


Responsável pelas denúncias de tortura e desaparecimentos políticos cometidos no Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, por ditaduras impiedosas, o cardeal de São Paulo fez da Igreja, que apoiara o Golpe de 1964, uma grande aliada da luta pela redemocratização e justiça social.


Presidida por Paulo Sérgio Pinheiro, a comissão conta com o apoio de ex-ministros, liderança indígena, gente do mundo acadêmico e jurídico, como André Singer, Antônio Mariz de Oliveira, Ailton Krenak, Claudia Costin, Fabio Konder Comparato, Zé Carlos Dias, José Gregori, Laura Greenhald, Bresser Pereira, Luiz Felipe Alencastro, Vladimir Safatle e outros.


Me perguntava depois da missa o que me pergunto desde 2013.


Onde erramos? Como fomos cair nessa cilada?


Estava ali, na Igreja do Sumaré, uma geração que pensou o Brasil, desenhou um projeto de Nação.


Sim, teve e tem uma elite brasileira que divide as atenções entre seus negócios e mudar o país.


Como José Mindlin, José Ermírio de Moraes, Walter Moreira Salles, que trafegaram inclusive entre governos de esquerda, intelectuais, artistas, que resistiram contra abuso de governos autoritários, lutaram pela democracia e justiça social.


Estava ali a família Bracher, de banqueiros, educadores, ativistas sociais. Financiam escolas, a FLIP (Fernão, que militou no movimento estudantil de esquerda, JUC e JEC, que deram na AP, não perdia uma).


Candi, meu colega de classe, é presidente do Itaú. A filha Bia tornou-se editora e uma das escritoras mais premiadas do país. Elisa tem um dos projetos educacionais mais inovadores já criados, o Instituto Acaia. Em que matriculei meus filhos.


 


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Published on February 19, 2019 04:29

February 17, 2019

Bolsonaro e as masturbadoras

 



Uma foto causou repercussão.


Depois da alta, o presidente Bolsonaro pousou com parte da sua equipe.


Muito se comentou sobre o figurino despojado do ex-paciente do Einstein.


Mas alguém reparou com atenção na espetacular obra atrás?


Não é um Portinari, pintor de grandes murais, como Guerra e Paz, da sede da ONU, em Nova York, para onde não pode ir na inauguração em 1954 por ser declaradamente comunista. Ufa. É Di Cavalcanti.


Vixe, mas Di também foi do Partido Comunista. Chegou até \a ser preso na Era Vargas. Não se salva um?


Cercadas por músicos, são duas mulheres se tocando.


Nitidamente se masturbando.


A música as entorpece.


Ou estão num mesmo ambiente?


Podem até estar concomitantes numa cena de… lesbianismo.


Os acervos dos palácios do Planalto e do Alvorada juntam mais de 300 obras. Entre eles, Brecheret e essa obra rara de Di Cavalcanti, por ser sem cores, de realismo mágico, em homenagem às curvas de Brasília e ao chorinho.


No Salão Nobre do Palácio do Planalto, tem duas pinturas de Portinari série Cenas Brasileiras: Jangadas do Nordeste Os Seringueiros, cedidas pelo Banco Central. Há duas pinturas também no Alvorada.


Logo aparecerá uma(um) doida(o) exigindo arte sem partido e moralmente tradicional-familiar nos palácios de Brasília.


Tarefa quase impossível.

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Published on February 17, 2019 08:00

February 13, 2019

Jornalismo renasce com as fake news


(redação new york times 1940)


Cena estranha ocorrida na posse de Bolsonaro: jornalistas confinados passam por um corredor de apoiadores do presidente eleito, que vaiam e gritam em coro: “Uatizapi, uatizapi, uatizapi!”


Por outro lado, o jornalismo digital vive um boom exatamente por conta do efeito das redes sociais, território livre das fake news.


Só no 4º Trimestre de 2018, o New York Times ganhou a adesão de 265 mil assinantes digitais.


De 2017 para final de 2018, cresceu 27%. “Efeito Trump”, justificam. No total, somados com o um milhão de assinantes do impresso, eles formam um time de 4,3 milhões de pagantes.


Em 1 de janeiro de 2019, jornalistas experimentaram em Brasília a ira do novo governo e eleitores contra o comportamento da imprensa tradicional, que consideram doutrinadora, fabricante de mentiras, manipuladora.


A rede social WhatsApp seria, então, o espaço para debate democrático, honesto, sem viés ideológico, especialmente sem a foice da esquerda, que, acreditam, domina a mídia, aliada a tudo de ruim que existe, como às Farcs (declarou o mentor da nova direita, Olavo de Carvalho, numa entrevista ao Estadão).


Seria. Podem ter sido vítimas da maior fabricante de fake news de que se tem notícia.


A internet começou como aliada da imprensa.


A prova foi a imediata entrada de grupos de comunicação no business.


UOL nasceu na salinha de banco de dados em processo de digitalização da Folha de S. Paulo numa pareceria com o Grupo Abril.


Mas a imprensa tradicional encolheu depois da Revolução Tecnológica.


Redações diminuíram de tamanho, a digitalização tirou empregos, faliu revistas.


As redes sociais pareciam a pá de cal, como ocorrera no mercado fonográfico, de lojas de discos e locadoras de vídeo, com as TV abertas e, agora, com os canais pagos. Passado. Todos se readaptaram e se renovam.


Se a filha de um amigo informava que queria seguir a carreira de jornalismo e perguntava detalhes, não tínhamos o entusiasmo de antes.


Tudo está mudando. A imprensa também se readapta. Já são mais de 3,3 milhões de assinantes que pagam pelos serviços digitais do NYT.


No mundo atolado pela lama das fake news, o leitor tradicional precisa do selo da imprensa em que confia.


Assim, quando o New York Times anuncia seus balanços trimestrais, todo mercado comemora e respira aliviado.


A receita com publicidade digital superou pelo terceiro ano consecutivo a do papel.


Mais de 120 jornalistas foram contratados em 2018.


Um exército de 1.600 jornalistas movimenta a Nave Mãe, como é conhecida a sede e redação do jornal, no meio de Manhattan.


Sim, jornalismo é uma carreira fascinante. Recomendo.



(inauguração da nova redação do new york times)

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Published on February 13, 2019 06:06

February 10, 2019

O menino commodity


Da minha janela, vi esses meninos jogarem.


No campo que revelou Zico, Júnior, Júlio César, Adriano, Luan, Paquetá, Vinícius Júnior: o lendário Estádio da Gávea, do Flamengo.


Morreram meninos apertados num contêiner, que tudo o que queriam era, como seus ídolos, quem sabe jogar no time principal, Seleção Brasileira, Milan, Real, fazer história.


Da minha janela, vi Ronaldinho Gaúcho ser ovacionado por 20 mil pessoas.


Ouvia da cama uma torcida fanática às manhãs de domingo torcer e empurrar: “Meengooo”.


Sempre fui acordado, no nosso apartamento no Selva de Pedra, Rio, pelos pais, amigos, torcedores desses meninos.


Os grandes jogariam à tarde no Maracanã. Os pequenos, na Gávea.


Faziam bonito, apesar da pouca idade. Jogavam como grandes.


Vi rivalidades, sangue nos olhos, técnica, inteligência, habilidade na pele de adolescentes.


O último foi um disputado Fla-Flu sub-17: Garotos do Ninho contra os Moleques de Xerém.


Que se sacrificam como poucas crianças, aguentam instalações precárias, passam frio, fome, são vítimas de assédio e abusos.


Que deixam de ser menino muito cedo.


Viram commodities.


Porque assim são tratados: naquelas arquibancadas, estão também olheiros, investidores, empresários fazendo contas, seduzindo pais, de olho num produto exportação Made in Brazil.


E por serem commodities, já ficam instalados num contêiner.


No contêiner em que iriam para o porto, seriam embarcados para Espanha, Itália, Inglaterra, China, Japão, Leste Europeu, Arábia, mercadoria de qualidade, prestígio e barata.


Nos Estados Unidos, um atleta só se profissionaliza se frequenta escolas, colégios e universidades. No circuito estudantil, se destacam.


Aqui, vão do contêiner para o campo, para o contêiner, à espera de uma boa oferta.


Aqui, são leiloados.


E se acontece no time de maior torcida, que recentemente equilibrou suas contas e é modelo de gestão, imagine no Brasil Profundo…


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Published on February 10, 2019 05:58

February 7, 2019

Manoel de Barros ocupa a Paulista


O menino “ligado em despropósitos” de Desprezo, no Pantanal do Mato Grosso, “um apanhador de desperdícios”, foi parar em dois monumentos da Avenida Paulista.


O Itaú Cultura abre em 13 de fevereiro a mostra Ocupação Manoel de Barros (grátis).


Com textos, manuscritos, vídeos e fotos do “homem que permaneceu menino até a velhice”.


“Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades.”


A seis quadras dali, o palco do Teatro do Sesi-SP se transforma em Desprezo, a vila imaginária em que o garoto que “usava a palavra para compor seus silêncios” cresceu, ganhou de aniversário um rio, enquanto o irmão, uma árvore cheia da pássaros, passou a infância intrigado com a habilidade de uma taturana decepada como um trem descarrilado se recompor, e a partida de futebol em que as traves eram pedras, e o rio, a linha divisória.


“Não sou bom entendedor das coisas grades. Mas… menos ainda, das coisas pequenas.”


O “mas” sutil, com a pausa, dá a grandeza do poeta e da atriz que o declama: Barros e Cássia Kiss.


Com a direção de Ulysses Cruz (que bom, tem voltado ao teatro depois de uma temporada enfurnado na TV), Cássia interpreta da infância à velhice o magistral poeta da coisa pequena.


O nome da peça, pontuada pelo músico e compositor Gilberto Rodrigues, resume bem o pano de fundo: Meu Quintal é Maior do que o Mundo.


Fica em cartaz de sexta à domingo até 17 de fevereiro (também é de graça).


São 18 textos que, interligado, soam biográficos e cronológicos: o menino, o homem e o velho.


Manoel Wenceslau Leite de Barros, quando garoto, foi apelidado de Cuiabá, cidade em que nasceu em 1916. Mudou-se para Corumbá, onde morou numa fazenda no Pantanal.


O pai o queria doutor: engenheiro ou advogado. Tornou-se um estudioso das palavras, artes plásticas e cinema (chegou a estudar no MoMA de Nova York).


Resultado: 18 livros de poesia, além de livros infantis e relatos autobiográficos, dois prêmios Jabuti, duas vezes o Prêmio Nestlé, prêmio da Academia Brasileira de Letras, Biblioteca Nacional e pela Associação Paulista de Críticos de Arte.


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Published on February 07, 2019 03:12

February 4, 2019

Por que Vikings é melhor que Game of Thrones


Que da Escandinávia vem uma das melhores músicas, filmes e séries de TV, já é quase unanimidade entre profissionais do mercado.


Mas sobre a Escandinávia, especialmente os vikings, fez-se uma das melhores séries de todas, Vikings (History-MGM), cujo encerramento foi anunciado, depois de quase 90 episódios e seis temporadas, duas delas com 20 episódios.


A série (tem aqui no Netflix e NOW) começou bem as primeiras duas temporadas, mas ficou espetacular na terceira.


Suspeito que seus produtores miraram para o sucesso de Game of Thones e encomendaram: Façam igual.


E ficou melhor.


De repente, o protagonista, um fazendeiro que vira rei, Ragnar Lothbrok (personagem real, que iniciou a espetacular aventura viking pelos mares em busca de terras para plantar), passou a atacar três reinos, o seu, Wessex e Francia.


O Reino Unido era dividido em pequenos reinos, e uma guerra interna, com os vikings aliados, buscou a unificação. Tudo real.


Vikings ocuparam York. Tudo o que queriam era um lugar para plantar, difícil no inverno rigoroso da Noruega.


Na Francia, paz aparente. Até o irmão de Ragnar, Rollo, se casar com a princesa, filha do primeiro rei a combater os pagãos, Carlos Magno.


Aparecem então personagens que víamos em GOT, como o filho do rei deficiente, Ivar.


A espada, o trono, a coroa, até uma mão de ferro viram elementos de cena, bruxaria e visões surgem, conselheiros se metem, irmãos rancorosos se matam. E há muitas cenas de batalhas épicas, navios, e até incesto.


Com uma diferença: a série da MGM é baseada em fatos e personagens reais, o que dá a ela mais credibilidade e desperta o interesse histórico do que a cuja trama é conduzida por… dragões e sua mãe.


Outra. Em Vikings a discussão é o respeito à religião alheia, debate mais que fundamental em tempos de fundamentalismo.


A Europa vivia sob a disputa do islamismo na Península Ibérica, Cristianismo e a influência de Roma e os ditos ”pagãos”, povo do norte que tem vários deuses, fazem sacrifícios, até humanos.


Quer debate mais atual?


Num dos episódios mais marcantes da quinta temporada, o rei pagão e o inglês bebem sozinhos e discutem Deus e deuses. Riem se perguntando se eles existem mesmo, apesar de se matarem por eles.


O criador da série, Michael Hirst, contou que a decisão de acabar partiu dele, e que já esgotou o que tinha a dizer sobre a saga do povo que viajou através do Mar do Norte, ocupou a Inglaterra e Francia (Normandia vem de povo do norte), foi da Sicília até o Saara, ocupou a Islândia, Escócia, Irlandas, esteve na América, Báltico, Mar Negro, Cáspio, em toda a parte.


Algumas diferenças fundamentais: Ivar se torna um facínora. Sua deficiência lhe traz horrores, desejo de vingança. Vira um tirano, como previu seu pai.


Em GoT, eles são mais gente boa.

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Published on February 04, 2019 06:15

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Marcelo Rubens Paiva
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