Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 11
May 2, 2019
Michael Jackson, monstro?!
A essa altura, você já foi convocado para opinar: o rei do pop era excêntrico ou monstro?
Depois de assistir sem desgrudar os olhos da tela às quatro horas do documentário Deixando Neverland (HBO), fico com a segunda alternativa.
Foram ao todo quatro garotos que o acusaram: Wade Robson, James Safechuck, Jordan Chandler e Gavin Arvizo.
Quatro!
No entanto, o fato de todos eles pedirem compensação financeira de um astro milionário deixou dúvidas quanto suas intenções.
Calma lá. Foram quatro garotos que não se conheciam, que descreveram o mesmo modus operandi de Michael Jackson:
Começa com uma amizade e admiração incomum.
Os pais são convencidos da pureza do gesto.
Todos se hospedam em Neverland, um sítio, uma espécie de parque afastado, com quartos escondidos em todas as alas.
Jackson pede para dormirem juntos (???!!!).
Ensina o garoto a despir-se e vestir-se rapidamente.
Vídeos pornôs.
Conversas francas sobre dificuldades de relacionamentos com os pais.
Masturbarem-se juntos.
Tocam-se.
Confiança estabelecida, o contato físico se intensifica: sexo oral, tentativa de penetração.
Jackson se enjoa, ajuda a família, compra casas, sustenta, e aparece dias depois de mãos dadas com outra criança passeando em zoológicos, parques, hospedado em hotéis de turnês, como se fossem namorados, tratado como sensível, apaixonado pela inocência infantil = wacko (maluco).
Wacko Jackson.
No filme, Wade Robson revela que começou a ser abusado com sete anos de idade. O imitador australiano mirim abandonou com a mãe deslumbrada e a irmã a família e se mudaram para Los Angeles, convencidos por Jackson.
Que dizia ao garoto que, se souberem do que fazem na cama, os dois iriam para a cadeia, e a vida de ambos estaria arruinada.
Abandonaram o pai depressivo, que se matou.
Mas Jackson tinha outros planos e os abandonou também. Wade se transformou num dos maiores coreógrafos de todos os tempos (ensinou Britney Spears a dançar). Só falou do abuso quando virou pai.
Como James Safechuck, ator mirim, que fez o lendário comercial da Pepsi com Michael Jackson, e que se abriu quando o filho alcançou a idade em que ele era abusado.
Wade achava que se amavam, como James. Ambos foram enganados pelo mestre das palavras e manipulação.
Que os convenceu a testemunharem a seu favor no processo que outro garoto, Jordan Chandler, 13 anos, moveu contra Jackson em 1993.
James disse à rede CNN na época que participava de “festas do pijama” inocentes. A família desistiu do processo depois de embolsar US$ 18 milhões, o que aumentava a suspeita de extorsão.
Em 2005, outro processo judicial. Outro garoto de 13 anos o acusava, Gavin Arvizo.
James se recusou a testemunhar. Então foi Wade quem testemunhou a favor de Jackson, com Macaulay Culkin, outro ator mirim, que também trabalhou com ele num clipe.
Apesar do segurança Rach Chacon, da faxineira Kiki Fournier, da empregada Adrian McManus, do caseiro Jesús Salas e do cozinheiro Philip Lemarc, pela acusação, testemunharem que viram o patrão beijando e molestando crianças em Neverland, assim como a comissária de bordo Cynthia Bell, ele foi inocentado por conta da tese “reasonable doubt”.
A mesma que inocentou O. J. Simpson.
Hoje, Wade diz que mentiu no tribunal.
Julgue você.
April 29, 2019
Vai para o trono (de ferro) ou não vai?
Ontem, muitos pararam para assistir ao episódio decisivo de Game of Thrones (não o último).
Hoje, a repercussão domina sites e redes sociais.
Todas as oito temporadas da série da HBO, que estreou em 2011, convergiam para a batalha final, Great Battel of Winterfell, o Dia D da série. O tão anunciado inverno enfim chegara
Foram exatos e estonteantes exaustantes 82 minutos de tensão, perseguições e mortes.
Rolou até um dogfight, ou melhor, dragonfight, sobre o céu do castelo de Winterfell: quando dois aviões de caça perseguem um inimigo, cena tão comum sobre o Canal da Mancha durante a Segunda Guerra.
Alô. Spoiler abaixo.
Foi daquelas batalhas em que a correlação de forças era como na de Termópilas, em Esparta.
Tudo parecia perdido. Não tinha jeito, pois o inimigo, em maior número, ainda era capaz de ressuscitar o aliado, transformado em inimigo.
Mas não era dia do reino desabar. “Not today.”
O combate começou de forma equivocada, segundo minha opinião civil. Avançou a cavalaria antes da ação aérea e bombardeamento da artilharia. Não aprenderam com Alexandre o Grande: cavalaria defende os flancos e entra quando o inimigo está enfraquecido. Aguardo a crítica do meu colega especialista Roberto Godoy. Ele viu?
Muito herói morreu. Muitos se sacrificaram. A maioria sobreviveu.
Deu tempo para sarcasmo de Tyrion (Peter Dinklage), que até levou uma repreendida da princesa Sansa por fazer piada numa hora imprópria. Esse povo do norte não tem humor…
Como se não bastasse, ele a pede em casamento. De novo. Foi piada, menina…
Os roteiristas David Benioff e D.B. Weiss tiveram o cuidado de, no épico episódio, mostrar toda infinidade de personagens da série, um por um, sobreviventes na oitava temporada. Ninguém ficou de fora, dos protagonistas aos secundários.
Tem gente dizendo que a cena decisiva, em que morre o Rei da Noite, é cópia de Guerra nas Estrelas. Lembra, sim. Lembra também filmes de zumbis, especialmente o ataque a Jerusalém em World War Z.
Nada do casal protagonista de telenovela, Daenerys e Jon, titia e sobrinho, salvarem seus súditos. Ao contrário, sobrevivem graças ao talento e esforços da prodigiosa e incansável Arya. Que guerreira…
A juventude, a mulher, salva a humanidade.
Agora, vão atrás da rainha doida, Cersei, em Porto Real, que traíra não se juntou à luta.
Quem se sentará no Trono de Ferro? Tenho um palpite.
PS. Repararam na abertura da nova temporada? Toda a história está contada nela. Repare até aonde vão os quadradinhos brancos e o que segue.
April 27, 2019
O blá blá blá da pauta conservadora
Enquanto muitos acreditavam que a terceira via seria uma alternativa à velha esquerda, ela se mostra embasada no discurso conservador da velha direita.
Em duas eleições, Argentina e Espanha, o bolsonarismo, discurso homofóbico, politicamente incorreto e saudosista, deu cria.
O papel da mulher e debates de gênero ganham protagonismo: as querem de volta ao lar e recatadas.
Nas duas eleições, o nome do marqueteiro Steve Bannon (Brexit, Trump e Bolsonaro) vem à tona.
No final das contas, o que interessa é expulsar a velha política do poder, especialmente a esquerda, com uma pauta liberal (economicamente) aliada ao passado.
Domingo, dia 27 de abril, na Espanha, o partido de extrema-direita, Vox, testa a eficácia do seu discurso patriótico, anti-separatista, contra tudo isso que está aí, aproveita-se da crise econômica dos novos tempos (desemprego na Espanha é de mais de 15%, um dos maiores da Europa) e faz uma campanha baseada no discurso de ódio.
O partido ganha força com um ativismo duvidoso de redes sociais, compara o Partido Socialista (no poder) à Venezuela, defende valores tradicionais da pátria-família, critica o feminismo, é contra aborto, punições a crimes cometidos durante a ditadura de Franco e a favor da liberação de armas para defesa pessoal.
Não parece um repeteco do que acontece no Brasil?
Tem mais. O número 2 do partido é um ex-militar, Javier Ortega. Como se seguisse à risca a cartilha do sucesso de Bolsonaro, defende a prisão enérgica de criminosos, inclusive do líder separatista Carles Puigdemont, exilado entre Alemanha e Bélgica.
Na Argentina, a inspiração é explícita.
A líder da direita, deputada Cynthia Botton, quer ser, segundo a repórter Patrícia Campos Mello, a “Bolsonara argentina”: é contra o aborto (a lei é semelhante à brasileira, liberado apenas em caso risco de morte da mãe, má formação do feto e estupro), ideologia de gênero, equiparação salarial das mulheres, discurso politicamente correto, LGBTs, e a favor da intervenção nas escolas.
Ela já postou fotos em sua rede social se reunindo com Bannon.
Veremos se lá, como aqui, o discurso pega.
De boa, ninguém vai deixar de ser gay, ler filosofia, abortar (ainda que ilegalmente), as mulheres não vão voltar pro fogão, nem pro tanque, as escolas são autônomas, existem leis e supremas cortes para defender direitos individuais. Ganhem eleições com esse blá blá blá. Mas a revolução de costumes não tem volta.
April 24, 2019
Sátira política está em alta
A (não)política, distopia, histeria eleitoral, crise da democracia, que leva figuras estranhas à… política, torna-se commodity abundante da sátira.
Em tempos de “terraplanismo”, nazismo de esquerda, gurus como Steve Bannon e Olavo de Carvalho, Brexit, Trump, Tiririca, Bolsonaro, do palhaço Beppe Grillo (5 Estrelas) e agora do humorista Volodymyr Zelenskiy, eleito presidente na Ucrânia, uma espécie de Dilma Bolada local, temos a lamentar e nos preocupar.
Porém, é difícil segurar o riso das incontáveis gafes que proporcionam.
David Letterman, que não poupou George W. Bush nem no 11 de Setembro, reclamava que era impossível fazer piada sobre um cara quase perfeito e gente fina como Obama. Foi lançado o desafio de quem seria o primeiro humorista a conseguir. Fracassaram.
Quem acompanha a série Veep (HBO) desde 2012, “fazendo História, queira ou não”, nunca deu tanta risada.
O novo jeito insano e surpreendente de se fazer política no mundo todo é um prato cheio para a corrida maluca à Casa Branca da nova (sétima) e anunciada última temporada.
Marqueteiros? Não sabem nada. Pesquisas eleitorais? Esquece. Slogans? Inventam-se na hora.
O eleitor reage apoiando as maluquices dos candidatos, como “matemática foi inventada pelos muçulmanos, portanto, existe um terrorista por trás de cada professor de matemática, e vou eliminá-las das escolas”, discurso feito de improviso por Jonah Ryan (Timothy Simons).
Selina Meyer (Julia Louis-Dreyfus, que recebeu o recorde de cinco nomeações ao Globo de Ouro pelo papel), ex-senadora, ex-vice, ex-presidente, perdida nas incongruências do novo eleitor, acaba inventando de improviso um slogan nada a ver com os dias de hoje: “Man Up!”
Seria algo como “vire homem!”, depois de ouvir num debate o “mimimi” da candidata favorita.
Começa a ganhar primárias entoando “Man Up!”, enquanto o concorrente azarão entoa “No Mathematics!”
Ao mesmo tempo, o governo chinês começa a influenciar a campanha, com ações obscuras, em busca do reconhecimento americano de ilhas em disputa no Mar da China Meridional (também reivindicadas por Brunei, Malásia, Filipinas, Taiwan e especialmente Vietnã): clara alusão ao papel da Rússia na eleição americana.
April 22, 2019
Não vamos crescer, mas emburrecer
Por que cultura não pode ter subsídio? Liste de cabeça setores da economia brasileira que têm.
Igrejas. Transporte público. Zona Franca de Manaus. Mercado exportador. Bancos. Educação. Agronegócio.
Luz para o setor agropecuário. Água e energia (o consumidor pagará R$ 17,187 bilhões em 2019, valor aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica para que seja possível cobrir o orçamento da Conta de Desenvolvimento Energético, descontos tarifários e empréstimos subsidiados).
Diesel. Táxis.
Agora pense no ÚNICO setor, pouco lucrativo, que transporta ideias, ilumina a alma, emprega centena de milhares e sofre diariamente críticas e desgaste do novo governo e agregados.O nome é CULTURA.
Sintomático? Intencional. Projeto de Estado?
Lei Rouanet, que quem critica não sabe exatamente como funciona, audiovisual, livros: tudo sob ataque.
Aposta-se na ignorância, falta de debate, críticas, trevas, consumo fútil. Não vamos crescer. Vamos emburrecer.
Tivemos protecionista na ditadura. Sarney protegeu o setor de informática.
No governo Lula, a era do subsídio foi inaugurada pelo setor de material de construção. Passou pela indústria naval, de petróleo.
Liste de cabeça setores que tiveram uma massa de isenções que acabou até prejudicando toda a economia no governo Dilma.
O Brasil destinou R$ 723 bilhões com subsídios para o setor privado no período de 2006 a 2016, segundo ex-secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto de Almeida.
Até 2016, empresas que fabricam semicondutores, computadores e equipamentos de automação industrial deixaram de pagar R$ 55,7 bilhões em impostos. Em 2017, o Ministério da Fazenda afirmou que os subsídios da União totalizaram R$ 354,7 bilhões (5,4% do PIB, mais de duas vezes e meia do déficit primário).
Mas só a atividade cultural é mamar no Estado.
April 19, 2019
Ofensiva contra o audiovisual brasileiro
O país reclama do excesso de burocracia, e assistimos de camarote o caso “uma conta não bateu, punem-se todos”.
Você é gestor do Estado.
Faz licitação para 300 obras.
Em seis delas, gastou-se mais do que previsto: o orçamento estourou.
Paralisam-se todas as obras?
É o que fazem com o audiovisual brasileiro, indústria que movimenta bilhões e gera mais de 300 mil empregos.
Em algumas produções, a conta não fechou.
Porque choveu por dias, impossibilitando gravações de externa, porque a equipe teve um surto de gripe, porque o ator quebrou a perna, porque a atriz engravidou, e é uma gravidez de risco, porque a cena de perseguição saiu mais cara do que o previsto, por conta de imprevistos…
TCU encontrou problemas em contas de projetos aprovados pela Agência Nacional do Cinema (Ancine).
Em resposta, o presidente da Ancine, Christian de Castro, paralisou as atividades da agência e liberação de recursos para filmes e séries já aprovados, em produção, em pré, em captação ou em elaboração.
Você tem uma rede de farmácias.
Em algumas delas, a conta não bateu. Gastou-se mais do que o declarado.
Você fecha todas as lojas da rede?
Cada caso deveria ser julgado independente do todo.
Me lembro de um desabafo do cineasta Sérgio Rezende, que, ao fechar as contas do épico Guerra de Canudos, de 1996, teve que ir atrás de notas fiscais dos que alugaram jegues, e ninguém sabia ler nem escrever, nem tinha documentos, em Junco de Salitre, 500 km de Salvador (BA), onde foi filmado.
April 16, 2019
Governo deixa cultura de lado
Há tempos que o governo brasileiro deixou de comprar livros. Não se sabe como repõe exemplares em bibliotecas, universidades e escolas. Recentemente, os questiona. Quer reescrever alguns.
BNDES, grande parceiro do cinema nacional, cortou 40% da verba cultural. Destinará apenas R$ 5 milhões em 2019.
Agora, é a Petrobrás que se retira de cena.
“Para nós, cultura é uma energia poderosa que movimenta a sociedade”, anuncia o site da empresa.
Não mais.
Ela deixa de fazer parcerias com os principais festivais de cinema do país, Festival do Rio de Janeiro, Festival de Brasília, Mostra de Cinema de São Paulo, Anima Mundi, de teatro, Festival de Teatro de Curitiba, Teatro Poeira, e música, Prêmio da Música Brasileira.
Os programas de patrocínio da petrolífera estão em revisão desde que Bolsonaro afirmara via Twitter: “Determinei a reavaliação dos contratos. O Estado tem maiores prioridades”.
A empresa, grande parceira da classe teatral e dança (Grupo Corpo e Companhia de Dança Deborah Colker), afirma que ela deve focar em projetos de ciência, tecnologia e educação.
Com o preço do barril de petróleo nas alturas em 2011, chegou a destinar R$ 350 milhões para a cultura.
Em 2018, foram R$ 38 milhões.
Fichinha, perto de outros gastos.
Apenas no primeiro trimestre do governo Jair Bolsonaro, os gastos em publicidade chegaram a R$ 75,5 milhões; aumento de 63% em relação ao mesmo período de 2018.
Só as aliadas TV Record e SBT embolsaram em três meses R$ 17,6 milhões.
Numa canetada mal digerida pelos liberais na sexta-feira dia 12/04, a empresas perdeu R$ 32,4 bilhões em valor de mercado, depois que Bolsonaro impediu o aumento do diesel.
O TCU apontou em 2018 prejuízo de R$ 950 milhões do BNDES em operação só com a JBS.
Segundo nota de Lauro Jardim publicada há dois meses, o procurador da República Ivan Cláudio Garcia Marx vai cobrar da JBS o ressarcimento de ao menos R$ 2 bilhões ao BNDES, por conta dos prejuízos causados ao banco de fomento.
O site da petrolífera não foi atualizado. Está lá:
Atuação na cultura. Valorizamos nossas raízes e o poder da diversidade. Para nós, cultura também é energia. Uma energia poderosa que movimenta a sociedade através da criatividade e da inspiração e que promove crescimento e mudanças. Apoiamos a cultura brasileira como força transformadora e impulsionadora do desenvolvimento.
Programa Petrobras Cultural. É o nosso programa de patrocínios às artes e à cultura. Apoiamos projetos brasileiros com valor cultural destacado, inovadores e que sejam realizados com apuro técnico, excelência e tenham atuação abrangente.
Selecionamos projetos que, indo além do seu mérito cultural, estejam alinhados à nossa estratégia de marca e possam nos auxiliar a construir as melhores experiências junto às pessoas. Nossas linhas prioritárias de atuação são:
Música
Audiovisual
Artes Cênicas
Já era.
April 12, 2019
Para chorar de tanto rir
Não foram poucas vezes que tive que levantar os óculos para enxugar as lágrimas que Jô Soares causou. De riso.
Lágrimas de riso têm outro gosto.
Lágrimas de riso são felizes. São bem-vindas. São essenciais. E raras.
Rir até chorar é um dos efeitos do show O Livro ao Vivo – de Jô Soares, que estreia para o público hoje, sexta-feira, 12/04, no teatro da FAAP (São Paulo).
Chorar de tanto rir é o que Jô, já com 81 anos, proporciona com a lista grande de histórias (reais ou exageradas? não interessa), algumas escatológicas (eu adoro), que não poderiam ser contadas na TV aberta (especialmente hoje em dia).
Vê-se um Jô feliz, emocionado, rememorando amparado por seu biógrafo amoroso, sempre bem-humorado, Matinas Suzuki Jr. (que também não se contém e dispara a gargalhar).
Histórias em que alguns personagens estavam ontem na estreia, como o fabuloso Juca de Oliveira.
Ele dedica o show a três mulheres fundamentais da sua vida: a mãe, Mercedes, a primeira esposa, Teresa Austregésilo, e Flavinha, o “eterno amor”.
E começa relembrando as piadas que a mãe contava. Claro, de português.
Fala do trote que deu em Ronald Golias, colega do lendário programa Família Trapo, enquanto imitava do outro lado da linha Paulo Machado de Carvalho, o todo poderoso da Record (o Roberto Marinho dos anos 1960, comparou Matinas).
Do programa pioneiro, já na TV Globo, sua casa de muitas décadas, Faça Humor, Não Faça Guerra, e das maluquices daquele que Jô considerava o mais engraçado de todos, Paulo Silvino.
Da fake entrevista do papa para Rádio Jovem Pan.
E de casos que só quem vive a experiência teatral pode contar: como a noite em que o ponto escapuliu da orelha da Bibi Ferreira, dando branco na diva, numa peça em que aliás em estava, Às Favas com os Escrúpulos (de Juca, com direção de Jô), no teatro Raul Cortez.
Começa com Matinas apresentando o convidado: “Em 60 anos de vida profissional e 28 anos de entrevistas, ele fez 14.426 conversas, cerca de 1.300 dias de programas de humor na TV, trezentos personagens, 43 anos de shows, dirigiu 24 peças de teatro e atuou em onze, foram dez filmes como ator e um como diretor, oito exposições como pintor, um show como músico e cantor, quinze programas de televisão como redator, nove livros, contando com esse”.
O show não tem música.
O cenário é composto pelas belíssimas colunas do palco do teatro. Duas cadeiras, uma mesinha, o improviso, a sinceridade e as histórias. E um banner com as capas dos dois volumas da biografia O Livro de Jô.
Matinas de preto, Jô de branco.
O suficiente.
PS> O Livro ao Vivo é uma ideia da produtora As Gêmeas – Conteúdo e Comunicação, de Simone Ruiz (que tem filhas gêmeas). Começou arrasando. Vem mais por aí.
April 10, 2019
O fim está próximo
O Sol vai derreter planetas e luas.
Galáxias vão se chocar. O Universo entrará em colapso.
O fim está próximo, e não é apenas uma previsão bíblica, mas científica.
Um meteoro dizimará a nossa espécie e grande parte da vida marinha e terrestre.
Ou será o imbatível fungo Candida auris, que ataca sem cura e se espalha silenciosamente por todo o planeta, atravessa barreiras alfandegárias, fronteiras. E mata!
A Humanidade não tem mais jeito.
E emburrecemos. Jurassicamos.
Não houve holocausto, nazismo é de esquerda, Hitler era agente de Stalin, a Terra é plana e viemos de Adão e sua costela, Eva. Que inventaram a mamadeira de piroca, para adoecer a Humanidade com um distúrbio chamado homossexualismo.
E se um homem vestido de mulher entra num banheiro em que minha mamãezinha e pobre irmã estão se maquiando, tiro ele no tapa e chamo a polícia.
No Brasil, PM agora pode matar, que o julgamento vai pra Justiça Militar. Governador manda atirar. Presidente manda liberar porte.
Falam de um tal domínio do marxismo cultural nos livros.
Querem reescrevê-los.
Não houve ditadura. Haveria, se os militares não impedissem os comunistas. É o que dizem.
Nem houve escravidão, já se disse.
O país do futuro virou o país do “parei no tempo, viva!”
“Ustra Vive! Fleury Vive!”, foi a saudação aos dois maiores torturares da ditadura, homenageados nessa semana na Assembleia Legislativa de São Paulo.
O ex-marinheiro José Anselmo dos Santos estava na mesa de debates.
Cabo Anselmo vive?!
Ele, o cabo Anselmo, que viveu décadas escondido, temendo ser morto pela direita (queima de arquivo) e esquerda (por traição), o agente duplo que entregou a própria mulher grávida de um filho seu à repressão política, para ser morta com seus companheiros e comandados.
O agitador marinheiro de março de 1964, acusado de ser da CIA, infiltrado da VPR, agente de Fleury: um cachorro.
Não sabia que ele está por São Paulo, participando de debates. Na Assembleia que, durante a ditadura, foi fechada, e seu deputados presos e cassados.
O evento foi organizado pelo deputado Castello Branco (PSL), sobrinho-neto do marechal Castelo Branco.
Que deve estar furioso, do túmulo, em ver as homenagens ao golpe que só foi possível graças à sua adesão de última hora, mas que foi traído pela tigrada, Costa e Silva e linha-dura, que ao invés de devolverem o poder aos civis, como combinado, ficaram mais de 20 anos nele, pintando e bordando.
Sem contar a suspeita de terem matado o marechal tio-vovô num atentado engenhoso.
O Brasil já era.
É tempo de desânimo. Venha, meteoro!
Alternem-se, polos da Terra!
Salinize-se, oceano!
Derretam-se, geleiras!
Tornem-se resistentes, bactérias!
Aumente, calor. Crie furacões. Cheguem, tsunamis!
É o juízo final
A história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver
A maldade desaparecer
April 8, 2019
Samba da privatização doida
Choveu, acaba a luz em muitos bairros de São Paulo.
Nesse sábado no meu bairro, Sumaré, acabou às 15h. Só há 1h que se viu um caminhão da companhia elétrica rondando a quadra. Levou mais de dez horas para voltar.
No passado era melhor. Nunca ficávamos mais do que duas horas sem luz. Que tipo de privatização doida foi essa, da qual somos vítimas?
Um consumidor insatisfeito, num telefonema, mudaria de plano, de companhia, já que o serviço piorou depois da privatização.
No entanto, existe apenas uma companhia elétrica atuando não no bairro, mas em 24 municípios da Grande São Paulo: a gigante italiana Enel.
Hoje, segunda-feira, acabou a luz de novo às 13h. Coisa de doido, mesmo.
Privatização é um excelente negócio para a sociedade quando há agências reguladoras fortes que estabeleçam metas, controles e multas.
Como o Estado tem outras prioridades, aluga-se uma linha de trem, metrô, estrada, uma banda larga.
As agências atuais, por conta do desequilíbrio entre a mobilização de consumidores e lobby do mercado, defendem os interesses dos regulados, não da população.
Viraram cabide de emprego e moeda de troca entre governos e partidos. Em algumas, a corrupção equivale ao PIB de muitos países.
Em Praia do Una (Barra do Una), Litoral Norte, em que a família tem casa, caiu um raio depois do Carnaval e queimou o modem da Vivo de todos.
Nessa casa, muitos trabalham. Já enviei dezenas de colunas e posts dela.
Ligamos cinco vezes. Nos dão o número de um protocolo, mas nada. Fomos ao SAC da empresa. Nenhum dos cinco protocolos estava registrado no sistema. Foi como se nunca tivéssemos ligado.
Trocamos de companhia? Apenas a Vivo opera na área.
No Brasil, já se viajou de trem de São Paulo para Brasília.
Nas ferrovias, estatizadas pelos militares, o negócio de transporte de passageiros ruiu.
A Eletropaulo começou a ser privatizada em 1995. Virou AES, consórcio entre americanos, franceses e Siderúrgica Nacional, e é agora Enel Distribuição, grupo europeu que atua em SP, RJ, CE e GO.
É a maior distribuidora de energia elétrica da AL. Tem ações na bolsa que valiam entre R$ 10 e R$ 15, chegaram a mais de R$ 40 há um ano e hoje estão R$ 34,54
Tem mais de sete mil funcionários. Sua intenção é dar lucro, cortando excessos.
A Vivo é a antiga Telesp, que não deixa saudades. Foi a privada CTB (Companhia Telephonica Brasileira), braço da Bell, concessão cedida por Dom Pedro II em 1879, que os militares transformaram em Embratel em 1966.
Ainda se veem bueiros no Rio e em SP com seu logo.
Foi na ditadura que conhecemos uma estatização fora do controle de todos os serviços. Nela conseguir um telefone fixo era missão quase impossível, e uma linha de celular em 1989 custava US$ 4 mil.
Internet? Só para acadêmicos ou quem tinha amigos na USP, Unicamp ou conhecia alguém na Embratel, empresa estatal que geria a novidade.
No Brasil, privatizou e não privatizou.
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