Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 108

February 6, 2013

Tarantina – de presa à predadora

Muito se fala da qualidade dos diálogos, da violência caricata que choca alguns, da trilha precisa em que se homenageiam grandes bandas e músicos esquecidos, da sua capacidade de ver talento em atores na gaveta, de recuperar e citar cineastas considerados secundários, da trama não linear, da montagem surpreendente, da consistência do seu cinema, das alegorias e citações.


Mas é preciso exaltar uma qualidade: TARANTINO sabe como poucos construir personagens femininos verticais, profundos, quem admiramos e por quem sentimos algo a mais, misto de medo e atração, tesão e repulsa, que transformam predadores em presas.


Deusas de beleza incomparável, são submetidas a uma repressão chauvinista e procuram se libertar.


As TARANTINAS seguem um padrão. Traem àqueles que as submetem à opressão, se vingam, cortam a raiz pelo mal. De coadjuvantes, decidem dar a volta e protagonizar.


Têm sede de justiça.


Têm pernas e pés que se destacam- como bom podólatra ou pedolatra que é [do grego podo-pé + latra-adorador], o diretor esbanja closes de unhas pintadas e pés que seduzem.


Como em GRINDHOUSE e JACKIE BROWN.


 




Curiosamente, em seu primeiro filme, CÃES DE ALUGUEL, não tem mulher.


Mas é em PULP FICTION que ele começa a nos deliciar com Mia Wallace (Uma Thurman), mulher do chefão Marsellus Wallace, que provoca até o desespero seu guarda-costas, Vincent Vega.


 



 


Surge então Jackie Brown (Pam Grier), em JACKIE BROWN, aeromoça de uma pequena linha aérea mexicana que, com baixo salário, contrabanda dinheiro de um traficante amador de armas, Ordell Robbie (Samuel L. Jackson). Jackie desperta uma paixão avassaladora de um advogado de fianças. O manipula para se vingar.


 



 


Ordell é o escroque que mantém uma relação com uma surfistinha loirinha de LA, Melanie Ralston (Bridget Fonda), apenas porque é branquela.


 



 


E manipula duas outras mulheres. É traído por todas elas.


 



 


 


KILL BILL traz a vingança da noiva BEATRIX KIDDO, que grávida sofre um atentado no dia do seu casamento. São dois capítulos da saga e vingança em que ela enfrenta feras como ELLE DRIVER, O-REN-ISHI, GOGO YUBARI, SOFIE FATALI e outras pestes.


 




 


Em GRINDHOUSE são as bonecas DJ Julia (Sydney Tamiia Poitier), Arlene (Vanessa Ferlito) e Shanna (Jordan Ladd) que se juntam para vingar a morte de uma delas, PAM (Rose McGowan), cometida pelo psicopata DUBLÊ MIKE (Ken Russel).


 



 


BASTARDO INGLÓRIOS é a vingança surreal da pequena judia francesa SHOSANNA, que depois assumiu a identidade de Emmanuelle Mimieux (Melanie Laurent), contra a cúpula nazista, uma chance rara que caiu sobre seu colo, ou melhor, no seu cinema e Paris.


 



 


A atriz BRIDGET VON HAMMERSMARK, que quebra a perna (Diane Heidkrüger), é uma agente dupla que colabora com o atentado.


 



 


E agora, em DJANGO, BROOMHILDA (Kerry Washington), a linda escrava que fala alemão, leva seu marido (Jamie Foxx) a matar um número recorde de atores e figurantes. Como na lenda.


 



 

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Published on February 06, 2013 05:38

February 4, 2013

celebração de tudo [e de nada]


 


 


 


É uma luta fazer o paulistano afrouxar o nó, tirar a mão do bolso, a caneta da orelha e vestir um colar de flores.


Na cidade em que já teve um CARNAVAL de rua até na AVENIDA PAULISTA, muitos hoje reclamam que os blocos atrapalham o trânsito.


O trânsito de sábado e domingo, quando saem os blocos. Também atrapalhado pelas ciclofaixas.


É CARNAVAL. Invenção anterior ao automóvel. Seja pagão. Deixe o carro em casa.


A rua é do povo. É folia.


Muito ressentimento no ar contra aqueles que querem extravasar a dureza da vida, encontrar amigos.


Por onde já desfila o grande bloco BANDALHA, ou BANDA REDONDO, fundado por PLINIO MARCOS em 1972, o bloco ACADÊMICO DO BAIXO AUGUSTA pediu passagem e arrastou gente cantando e dançando em ritmo de samba NIRVANA, RAUL SEIXAS, TITÃS, CHICO SCIENCE, THE “PULP FICTION” TORNADOES, além de marchinhas tradicionais e clássicos como VOU FESTEJAR e É HOJE, do CAETANO.


Porque CARNAVAL em SP tem que ter roquenrol.


Afinal o carnaval nasceu antes do samba, não é monopólio dele.


É o renascimento do carnaval de rua de São Paulo.


Dessa vez com autorização da Prefeitura.


Não é fraco não.


No quarto anos de vida [no ano passado a Prefeitura não nos deixou sair], arrastamos uma galera.


 



 



 


PORTA ESTANDARTE COM NECESSIDADES ESPECIAIS e RAINHA DA BATERIA


 


 


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Em 1972, Plínio Marcos chamou colegas de teatro, como Carlos Costa, o Carlão, se autoproclamou presidente da Banda Bandalha.


 



 


A banda saía da frente do Teatro de Arena, que mudou o teatro brasileiro, e percorria o centro. Como Porta Estandarte, a atriz Etty Frazer. Mestre sala, Toni Ramos.


Entre os foliões, Walderez de Barros, Gianfrancesco Guarnieri, John Herbert, Pepita e Lolita Rodrigues, José Ramos Tinhorão. E claro que na época rolou embates entre PLINIO e a prefeitura.


Ainda existe.


Costuma se concentrar na frente do Teatro de Arena Eugênio Kusnet, em frente à PRAÇA ROOSEVELT.


Desce a Rua da Consolação, seguindo pela Xavier de Toledo, passando pelo Teatro Municipal, Av. São João, Ipiranga, Praça de República, cruzando a Av. São Luís. Voltando ao ponto de partida na frente do Teatro de Arena.


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O CADERNO ALIÁS através da Mônica Manir trouxe uma intrigante entrevista com o psicanalista e professor da UNIFESP, Tales Ab’Sáber, que numa estada em Berlim pesquisou a night, de onde tirou inspiração para escrever A MÚSICA DO TEMPO INFINITO [Cosac Naify].


Trechos da entrevista:


“É uma festa intensa, que deseja não terminar jamais”, sobre a noite em Berlim.


“Trata-se de um dispositivo de época para a gestão do prazer.”


“A balada é mais bonita, mais livre e mais erótica que a vida, e no entanto está totalmente articulada, econômica e socialmente, à vida como ela é.”


Sobre o lazer noturno:


“Ele tem raízes na oferta de experiências própria da grande metrópole moderna, como os cafés concertos da Paris de Haussmann, os cabarés berlinenses dos anos 1920 e as casas de dança e jazz da Nova York da mesma época. Muito cedo se observou nessa invenção para a noite uma espécie de nova ordem internacional da diversão, ligada à organização da vida das massas na sociedade liberal. No entanto, a partir dos anos 1950 e 1960, emergiu a ideia de que a noite dos jovens estaria ligada também a um vetor político, de crítica ao sistema, no qual aquilo que era ofertado pelo mercado era vivido como a negatividade da antiga bohème. Esse movimento sempre guardou a ambiguidade de ser regulador e ao mesmo tempo um espaço imaginário de desejos conflitantes com a vida social. A partir das décadas de 1980 e 1990, há um retorno à ordem da contracultura ocidental, que teve seu ápice público e político, em plena luz do dia, em 1968 e 1970. Ele foi retirado do cotidiano, reservado para a circulação de mercado, para ser guardado, e de certo modo privatizado, na emergência da boate de massa, o novo espaço da república pop. Essa passagem histórica foi marcada pela ultrapassagem do rock – e da canção – pela música eletrônica. No Brasil, ela se condensou na balada, que não existia na minha juventude nos anos 1980.”


Estranho. Na minha juventude dos anos 1970 e 1980, tinha.


Chamava-se discoteca, como GALLERY, HIPOPPOTAMUS, e depois danceteria. Não é o mesmo que balada?


Quem viveu a noite de São Paulo se lembra dos cafés do BIXIGA, LIRA PAULISTANO, das boates NAPALM, CARBONO 14, MADAME SATÃ, ROSE BOM BOM.


Depois, RADAR TAN TAN, AEROANTA, CAIS, SINGAPURA, AVENIDA CLUB.


 



 


Para ele, o que caracteriza uma balada:


“A balada é o espaço que sustenta esse desejo [de que tudo muda]. Ela dá uma amostra, um sampler, do mundo do luxo e da luxúria para os que não o possuem, ou da experiência estética antiburguesa para os adaptados. Trata-se de um dispositivo de época para a gestão do prazer. A balada é mais bonita, mais livre e mais erótica do que a vida, e no entanto está totalmente articulada, econômica e socialmente, à vida como ela é. Ela mantém vivo esse potencial utópico, e ao mesmo tempo o reduz a um espaço socialmente aceito. É a sua forma de solução de compromisso, o seu sonho social.”


 


O que costumam festejar?


“É um paradoxo. Eles festejam suas vidas difíceis de mercado, e sua inserção por um fio na coisa toda. Mais ou menos do mesmo modo que a mercadoria, por meio da cultura da propaganda, festeja a si própria sem parar. A ordem do poder atual exige celebração contínua, ligada à afirmação do indivíduo de realização do próprio prazer, desde que ele seja de mercado, apolítico. E esses jovens, que por vezes fingem um cuidadoso punkismo construído em lojas caras da moda, celebram a mesma celebração geral de seu mundo. Ou, como escrevi em meu livro, eles festejam o fato de não haver nada a festejar. É a compulsão a ser feliz, que diz muito respeito à propaganda.”


Eu, que tenho graduação incompleta por correspondência em balada e boemia, não sabia que devia festejar algo quando saio.


Vou me concentrar melhor no caminho.


Pensava que estava fisicamente me expondo ao som de uma música que penetra nos ossos, que fala à alma, que traz lembranças, nostalgia, e que olha o futuro, que me diz coisas. Sem contar que meus hormônios reprodutivos afloram e me movem à corte, para, como diria DARWIN, garantir a sobrevivência da espécie.


Talvez celebremos a fertilidade na era camisinha. Fertilidade eterna. O amor líquido.


Talvez reencontremos nossos ancestrais através de músicas antigas.


“Podemos dizer que o hiperindivíduo, que busca a singularidade do seu prazer nas ofertas de mercado, acaba pensando como todos os demais, em uma grande uniformidade cultural, e ele vai de fato alimentar o megafestival que legitima o presente. Estamos diante de um mundo que, na mesma medida em que afirma o indivíduo, o empobrece e o torna apenas idêntico a todos.”


E quem sabe este hiperindivíduo quer se sentir integrado num ritual da aldeia.


“[Gay] Talese percebeu o destino da coisa toda: a política seria em breve substituída pela imagem. Seu texto é o primeiro a falar da celebração de tudo e de nada, que passou a ser a cultura jovem no nosso tempo, em que há muita produção de imagem, excitação e gozo, mas, para lembramos os termos do escritor, ‘nada está acontecendo’. Um lance de espírito de gênio. Por que a festa precisa sugar tudo para ela? Tudo tem que se expressar como excitação. É a mesma lógica da mercadoria quando ela aparece: excitar para circular. Todos precisam estar nesse estado porque, caso contrário, não correspondem ao mundo. Esse momento está ligado ao desligamento do vetor político da contracultura. Ele passa a ser encenado, não é mais o embate político real.”


Por que deveria ser?


E me pergunto onde entra o CARNAVAL neste debate.


Deixa pra lá. Vou ver a programação noturna com os amigos, me divertir e refletir melhor.

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Published on February 04, 2013 12:26

February 1, 2013

a gente vai levando

Neste fim de semana, de luto, começa o pré-carnaval.


Vamos ver se conseguimos espantar o ódio, a revolta, e seguir em frente.


O Bloco Acadêmicos do Baixo Augusta é gratuito e democrático. Não tem abadá, nem camiseta vip. É só chegar e pular.


É neste domingo no Baixo Augusta.


Horários @BlocoAugusta:


14h DJ @tata_aeroplano


15h30 Simoninha +Quizomba + bateria


18h00 chegada na Praça Roosevelt


18h30 DJ Zegon.


Acaba 20h.


 



 


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E fizeram um aplicativo para você acompanhar o Carnaval de rua.


A ferramenta foi desenvolvida pela Fábrica de Aplicativos em parceria com o Catraca Livre e o bloco Acadêmicos do Baixo Augusta.


Para baixar basta acessar pelo celular: http://universo.mobi/blocos


A Fábrica de Aplicativos é um projeto que capacita pessoas da perifa para que, ao criarem aplicativos, consigam usufruir os benefícios das rede. Surgiu para ajudar as pessoas, mesmo sem nenhum conhecimento de informática, a criar gratuitamente seu próprio app. Não é necessária nenhuma aprovação, tudo é feito automaticamente no endereço http://www.universo.mobi/


 


 


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Mesmo com o nada feito, com a sala escura

Com um nó no peito, com a cara dura

Não tem mais jeito, a gente não tem cura

Mesmo com todavia, com todo dia

Com todo ia, todo não ia

A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando

A gente vai levando essa guia





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Dessa vez a Prefeitura de SP cedeu às pressões, entendeu o óbvio e está acolhendo os blocos com mais atenção.


Outro que sai [amanhã] é o Bangalafumenga associado ao Bloco do Sargento Pimenta.

Sábado, das 11h até 16h30


Rua Fidalga com Rua Purpurina – Vila Madalena São Paulo.


Com esquenta do CET que organiza a folia.


 



 


 


Bangalafumenga - a partir das 11horas.


Bloco do Sargento Pimenta – a partir das 15horas.


 


 





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Num evento ontem na LIVRARIA CULTURA do Market Place, em São Paulo, eu e Xico Sá, meu chapa de mesa redonda e quadrada, mais uma vez incorporamos o prosador das ilusões não perdidas e expomos nossas opiniões, receitas, dicas e sugestões de como resolver os impasses do amor contemporâneo.

E lógico que autografamos nossos livros novos, BIB JATO [Cia. das Letras] e AS VERDADES QUE ELA NÃO DIZ [Editora Foz].

Surpreendentemente, recebemos a visita de escoteiros e escoteiras, bandeirantes, lobinhas; as Borbagatinhas, como disse Xico.

Aprendemos que se deve cumprimentar com a mão esquerda.

Dizem que Baden-Powell, na África, ao se aproximar de um líder guerreiro, viu a mão esquerda estendida do cara e ouviu a explicação:”Com esta mão seguro o escudo para guerra, e ao te cumprimentar com ela, fico desarmado, pois confio em você”.

Sempre alerta!

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Published on February 01, 2013 05:47

January 30, 2013

momentos inesquecíveis

Encontro que não precisa de legenda


 



 


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Quem encontraram sorrindo na lama


 



 


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Quem encontro ao abrir a porta do elevador


 



 


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Encontro que emociona, contesta [o dominante] e apoia [quem precisa]


 



 


 


 


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Encontro subversivo sem perder a ternura


 


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Published on January 30, 2013 06:30

January 14, 2013

os americanos [de novo] de bem com suas instuições

 


A indústria de entretenimento americana sempre refletiu o humor do público.


Se nos últimos anos vimos produções que retratavam a malevolência do mercado financeiro, Wall Street e bancos de investimentos nos bancos de réus, e se a ganância se tornou inimiga número 1, hoje se percebe que os americanos estão de bem com suas instituições, apoiam as medidas socializantes de intervir no mercado, estão de lua-de-mel com OBAMA e o ideal democrata, sentiram-se aliviados com a morte de Bin  Laden e apoiam as intervenções armadas que há 200 anos são a marca de sua política externa e de imposição do ideal do mundo livre.


Nos jogos de futebol americano, que chegam à fase final, a dos playoffs, sempre há filas de fuzileiros empunhando a bandeira americana e anúncios de que “nossas tropas espalhadas pelo mundo veem o jogo”.


Na cerimônia do GLOBO DE OURO, ontem, ficou provado que até a CIA fez as pazes com a opinião pública, depois de ser a vilã do fiasco da Guerra Contra o Terror e de passar informações erradas sobre armas de destruição em massa no Iraque.


Um agente de ações especiais da CIA, TONY MENDEZ, entregou um prêmio com JOHN GOODMAN. O mesmo que inspirou o filme ARGO.


 



“A CIA e Hollywood ainda são amigos íntimos”, disse Mendez para o EL PAÍS.


Aliás, ARGO surpreendeu, venceu as mais importantes categorias, e seu premiado diretor, BEN AFFLECK, dedicou o prêmio às “nossas tropas que lutam contra o terrorismo”.


CLAIRE DANES, de HOMELAND, também sobre a CIA, melhor atriz dramática de TV, também dedicou seu prêmio àqueles que lutam contra o terror.


Até BILL CLINTON, em pessoa, esteve na cerimônia, foi aplaudido de pé, e mostrou que a ERA BUSH já era!


Hollywood e a TV americana se politizaram de vez.


A badalada série HATFIELDS & MCCOYS, que para mim se perde um pouco no terceiro capítulo e fica repetitiva, estreia com pompa de obra-prima.


As séries THE NEWSROOM, VEEPS, HOMELAND [primeira temporada é muito melhor do que a segunda] e THE BOSS [idem], que tratam do poder e da manipulação política com a lente afiada, estavam indicadas, ganharam prêmios e deixaram MADMEN no passado dos grandes flashes.


O filme sobre SARAH PALIN, a tonta e patética ex-candidata a vice da chapa republicana, GAME CHANGE, ganhou 3 prêmios.


O filme de Kathryn Bigelow, A HORA MAIS ESCURA, sobre a operação da CIA que matou Bin Laden, estava indicado. É um filmaço. Mas como não critica a tortura como a classe gostaria que tivesse feito, ficou a ver navios.


Assim como DJANGO, que abusa da violência, num momento em que se discute o controle de armas. Tarantino ganhou melhor roteirista. Mas a onda de violência tirou outros prêmios merecidos- é claro que ele é um diretor INFINITAMENTE superior ao simpaticão BEN AFFLECK, que fez uma direção carretona em ARGO.


E, claro, a grande estrela, LINCOLN, sobre o pai da democracia moderna, que ganhou poucos prêmios, mas que deve virar o jogo no OSCAR.


Uma pena que por aqui a POLÍTICA não inspira como por lá.


E temos tanta fonte jorrando.


Nunca se fez um filme sobre a GUERRA DO PARAGUAI, o TENENTISMO, a COLUNA PRESTES, a Guerra de 32, a renúncia de JÂNIO, o GOLPE DE 64, a assinatura do AI-5, a abertura de GEISEL, a CIA no Brasil, Operação Condor, o CASO RIOCENTRO, as DIRETAS, a morte de Tancredo, o impeachment de COLLOR, as privatizações, o escândalo da compra de votos para reeleger FHC.


O caso do MENSALÃO, por exemplo, daria um filmaço. O diretor PADILHA disse que faria. Foi filmar uma versão da franquia ROBOCOP. E me pergunto se conseguiria patrocínio do BNDES ou PETROBRAS ou CAIXA ou CORREIOS para filmar O MENSALÃO.


Taí um tema a ser debatido: a dependência do cinema brasileiro com a indústria e o lobby da verba federal e do Estado.


E a falta de interesse em recontar nossa história.


Talvez por isso nossa indústria anda tão despolitizada.


Nossa esperança é a TV. Se conseguir se livrar deste lixo que é o BBB e assemelhados.

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Published on January 14, 2013 09:18

January 11, 2013

livros – sugestões para as férias

A TRILOGIA USA de John dos Passos é publicada no Brasil e prova ao leitor brasileiro o quanto o cara é genial e atual.


John Dos Passos, que foi jornalista, lutou na I Guerra Mundial e na Guerra Civil Espanhola, radical de esquerda, monta uma ficção política e econômica que conta a história da ascensão do capitalismo, suas crises e contradições, a luta contra a miséria, entremeada por interrupções de rádios ao vivo, manchetes de revistas e jornais, anotações, bilhetes, criando a atmosfera de grande caos e ruídos que vivemos na era pós-revolução industrial, e hoje [no mundo rede-redes-tvs-touch] nos é tão familiar.


Não chega a ter os arroubos experimentais dos primeiros livros de FAULKNER, nem pensa em discutir a própria literatura, como JOYCE.


Como HEMINGWAY, seu amigo e depois desafeto, descarregou a experiência de vida pessoal na literatura.


A TRILOGIA USA é formada pelos livros “Paralelo 42″, “1919″ e “O Grande Capital”, nesta ordem.


Paralelo 42” mostra os Estados Unidos antes da I Guerra Mundial e as péssimas condições dos trabalhadores e camponeses.


1919” traz o período da I Guerra Mundial, o debate sobre a neutralidade dos Estados Unidos, as perseguição aos pró-germânicos e o início do movimento sindical.


O terceiro livro, “O Grande Capital“, foca o pós-guerra: o regresso da tropa, os anos dourados do regime e sua queda com o crash.


Obrigatório ler!


 



 


Foi John Dos Passos quem apresentou Key West a Hemingway. O amor e ódio entre os amigos que participaram juntos da Guerra Civil Espanhola e depois nunca mais se falaram é um dos plots do telefilme Hemingway e Gellhorn, que não entrou em cartaz, só passou na HBO.


Filme decepcionante do grande Philip Kaufman (Os Eleitos), que usa imagens reais do conflito espanhol e fala do romance entre Hemingway (Clive Owne) e a correspondente de guerra Martha Gellhorn (uma Nicole Kidman deslumbrante), que virou sua terceira mulher, os debates sobre os rumos da revolução e a influência soviética, o caso dúbio entre John dos Passos e o herói republicano Paco Zarra, vivido pelo nosso Rodrigo Santoro. A casa e os gatos de Key West aparecem.


Muitos filmes históricos hoje em dia parecem baseados no Wikipedia. Este é mais um, que se perde em reducionismos. Como a bronca que Ernest dá na mulher: “Escreva com o coração!” Eles transam ardentemente no hotel que é bombardeado. Tá bom. Era um bêbado insaciável ou um idiota?


 



 


É o terceiro telefilme de três horas e dividido em três partes que assisto nesse ano na TV: a maravilhosa produção franco-alemã Carlos, de Oliver Assayas, sobre o terrorista Carlos O Chacal (ganhou o Globo de Ouro e até o Prêmio da Crítica da Mostra SP), Hatfields & McCoys, produzido pelo History Channel, drama shakespeariano demorado que fala da guerra entre dois clãs antes unidos na Guerra da Secessão (Kevin Costner ganhou o Globo de Ouro de melhor ator), e Hemingway e Gellhorn.


 




 


O gênero não é telefilme, não é série, que costuma ter oito (Veep), dez (The Newsroom) ou 13 episódios (a maioria delas), é exclusivamente para a TV e dividido em três partes. Pelo jeito, uma nova tendência do veículo que sempre se renova.


Aí, tem…


 


 


 

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Published on January 11, 2013 05:53

January 9, 2013

o velho e os gatos (de 6 dedos)



O governo federal americano resolveu “tombar” os gatos de Hemingway e transformá-los em patrimônio nacional.


São 50 gatos herdeiros legitimados em testamento pelo Prêmio Nobel de 1954, estrelas de livros como Hemingway’s Cats (Pineapple Press), que moram no 907 da Whitehead Street, em Old Town Key West, pequena ilha cercada pelo mar azul-turquesa da Flórida, na antiga casa casa feita de pedras nativas. Hemingway viveu de 1931 a 1940, bebeu e escreveu neste sobrado em estilo colonial espanhol pé-na-areia cercado por um jardim tropical e decorado por móveis antigos e animais empalhados (não gatos), hoje The Ernest Hemingway Home & Museum.


Alguns dizem que foi o período mais produtivo do autor de O Velho e o Mar, inventor do romance moderno que embola vida pessoal e ficção permeada por diálogos que causam efeitos na narrativa.


Imitado por muitos de nós.


Por mim, com certeza.


Escrevia em pé na companhia de gatos de seis dedos. Normalmente eles têm cinco dedos na frente e quatro atrás.


Foi o capitão de um barco de Boston quem presenteou Hemingway com um gato da raça Maine Coon branco de seis dedos, Snowball. O bichano tendo em quem se inspirar achou que Key West era sempre uma festa e saiu espalhando o sêmen e o problema genético conhecido como polidactilia, depois de golinhos de leite e sobras de rum.


Hoje, os herdeiros são tratados e vacinados pelo veterinário Edie Clark e cercados por uma tela inclinada para dentro para impedir a fuga. A companhia farmacêutica Pfizer garante remédios para o bem-estar dos felinos, livres de pulgas e outros parasitas. A contrapartida é que os usa em anúncios.


Hemingway dava nome de pessoas famosas a seus gatos, como Picasso e Simone de Beauvoir. A tradição é seguida. Quer apostar que tem um Roth lá, gato velho e tarado, resmungando de dores no reto?


Se Snowball vadiou bastante pela ilha, calcula: os gatos que vivem lá e são tombados são da décima geração dos que se enrolaram pelos pés de Hemingway, ronronaram para ele, passearam entre seus papeis e lamberam seus beiços lambuzados de mojito. O velho Roth é pra lá do octaneto do escritor.


Não conheceram “Papa”, no entanto exercem um fascínio peculiar. Fãs, leitores e turistas em busca dos cruzeiros caribenhos dão uma paradinha para vê-los. Lá estão os tataranetos dos tataranetos daquele mulherengo beberrão que gostava de caçar, pescar e de touradas, lutou em três guerras e deu um tiro de fuzil na boca.


Melhor blindar os peludos da ira dos flashes.


 





 


Gatos domésticos vivem mais que os de rua, que morrem em brigas de gangue, xavecando felina do vizinho, em atropelamentos, envenenamentos, viroses e ataques de predadores, como fabricantes de tamborim e vendedores de churrasquinho de origem desconhecida. Sem contar que ninguém sai com uma seringa na mão procurando bichanos arredios para colocar a vacinação em dia. Dos felinos.


Vivem de 6 a 8 anos, enquanto seus colegas caseiros de 12 a 15 anos. É como comparar um homem solteiro-boêmio com um casado-caseiro. Gatos podem desenvolver doenças renais, cardíacas, diabetes, câncer, entre outras. Como nossos amigos que costumam fechar bar.


Castração traz vantagens aos bichinhos, já que muitas viroses, inclusive uma tal Aids felina, são transmitidas sexualmente e pelo sangue, contágio que acontece em brigas e acasalamentos. O veterinário Diego Farjat diz que um gato alimentado, castrado e vacinado corretamente pode viver até 30 anos.


Sou do tempo em que comida do gato era pires com leite C, sobra do almoço, evitando-se osso de galinha que, diziam, entala, e sardinha em dia de feira.


O ideal hoje é ração específica para a raça, idade, peso e ambiente. Pode ser diet, natural, orgânica, para abaixar colesterol, queda de pelo, seca, molhada, premium, superpremium, para gatos com propensão a obesidade e diabéticos, com problemas renais crônicos, pelo longo ou para prevenção de recidivas na urolitíase. E, aprendi na marra, apesar de adorarem derivados do leite, eles não o digerem bem, ficam enjoados e têm diarreia. Eu ainda dava sobras de Activia aos meus coitados.


Gatos polidácteis foram no passado associados a bruxaria e eram mortos. No entanto, como trevos, pés de coelho, ferraduras, eram considerados sinais de boa sorte por marinheiros. Como esse dedo a mais da polidactilia não é usado, a unha a mais não é gasta, pode crescer muito e, por causa da curvatura, entrar na pele. Eles têm mais dificuldades em aprender a andar. Quem já tomou um porre daqueles sabe como é.

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Published on January 09, 2013 05:40

January 7, 2013

50 tons de massa cinzenta

50 tons de suor [na sombra]


 



 



 


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50 tons de paranoia [e falta de sutileza]


 



 



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50 tons de massa cinzenta [e modéstia]


 



 



 



 


 

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Published on January 07, 2013 05:52

January 6, 2013

uma lenda de roupa nova


 


BISCOITO GLOBO deixou de ser um polvilho fresquinho embrulhado num saco de papel e não lacrado.


Bastava enfiar o dedo por dentro para libertá-lo, encaixá-lo como um anel e saborear um dos petiscos mais populares do RIO DE JANEIRO, décadas de tradição a R$ 2 na versão doce ou salgado, vendido em quiosques ou por ambulantes que transitam na areia sem se importar com o sol escaldante. Alguns ainda vendem limão ou mate em galões. Que chegou a ser proibido e voltou, já que faziam parte da paisagem como a Pedra da Gávea, o Morro dos Dois Irmãos. Os gritos de “limão ou mate” e “ó o Bixxxcoito” remetem à paz e ao aconchego.


A Vigilância Sanitária pressionou.


A pirataria idem.


BISCOITO GLOBO, que curiosamente foi inventado por 3 paulistanos do Ipiranga em 1953, os irmãos Milton, Jaime e João Ponce, vem agora num saco plástico, lacrado, maior, e seus biscoitos de polvilho parecem menores, mais densos e menos crocantes, por estarem sufocados.


Chiadeira vai rolar.


Não se mete com uma lenda assim sem mais.


 



 


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Adios.


Mais uma.


Uma profissão que precisa se reciclar.


Ou encontrar seu canto neste mundo atrapalhado e espancado pelas inovações tecnológicas.


Nada de pânico.


Quem se atirar na água pode morrer de hipotermia.


Deixa a orquestra no deck tocar mais uma, e vamos tentar flutuar, apesar dos rasgos.


No panic.



 


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Pelo visto, dá pra ser feliz mesmo na lama


 


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Published on January 06, 2013 05:07

December 29, 2012

rio 43 graus

Cidade maravilha da beleza e do caos…


 



 


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Joaquim Ferreira dos Santos no GLOBO lembrando aos cariocas os princípios básicos da boa educação


 


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Published on December 29, 2012 06:51

Marcelo Rubens Paiva's Blog

Marcelo Rubens Paiva
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