os americanos [de novo] de bem com suas instuições
A indústria de entretenimento americana sempre refletiu o humor do público.
Se nos últimos anos vimos produções que retratavam a malevolência do mercado financeiro, Wall Street e bancos de investimentos nos bancos de réus, e se a ganância se tornou inimiga número 1, hoje se percebe que os americanos estão de bem com suas instituições, apoiam as medidas socializantes de intervir no mercado, estão de lua-de-mel com OBAMA e o ideal democrata, sentiram-se aliviados com a morte de Bin Laden e apoiam as intervenções armadas que há 200 anos são a marca de sua política externa e de imposição do ideal do mundo livre.
Nos jogos de futebol americano, que chegam à fase final, a dos playoffs, sempre há filas de fuzileiros empunhando a bandeira americana e anúncios de que “nossas tropas espalhadas pelo mundo veem o jogo”.
Na cerimônia do GLOBO DE OURO, ontem, ficou provado que até a CIA fez as pazes com a opinião pública, depois de ser a vilã do fiasco da Guerra Contra o Terror e de passar informações erradas sobre armas de destruição em massa no Iraque.
Um agente de ações especiais da CIA, TONY MENDEZ, entregou um prêmio com JOHN GOODMAN. O mesmo que inspirou o filme ARGO.
“A CIA e Hollywood ainda são amigos íntimos”, disse Mendez para o EL PAÍS.
Aliás, ARGO surpreendeu, venceu as mais importantes categorias, e seu premiado diretor, BEN AFFLECK, dedicou o prêmio às “nossas tropas que lutam contra o terrorismo”.
CLAIRE DANES, de HOMELAND, também sobre a CIA, melhor atriz dramática de TV, também dedicou seu prêmio àqueles que lutam contra o terror.
Até BILL CLINTON, em pessoa, esteve na cerimônia, foi aplaudido de pé, e mostrou que a ERA BUSH já era!
Hollywood e a TV americana se politizaram de vez.
A badalada série HATFIELDS & MCCOYS, que para mim se perde um pouco no terceiro capítulo e fica repetitiva, estreia com pompa de obra-prima.
As séries THE NEWSROOM, VEEPS, HOMELAND [primeira temporada é muito melhor do que a segunda] e THE BOSS [idem], que tratam do poder e da manipulação política com a lente afiada, estavam indicadas, ganharam prêmios e deixaram MADMEN no passado dos grandes flashes.
O filme sobre SARAH PALIN, a tonta e patética ex-candidata a vice da chapa republicana, GAME CHANGE, ganhou 3 prêmios.
O filme de Kathryn Bigelow, A HORA MAIS ESCURA, sobre a operação da CIA que matou Bin Laden, estava indicado. É um filmaço. Mas como não critica a tortura como a classe gostaria que tivesse feito, ficou a ver navios.
Assim como DJANGO, que abusa da violência, num momento em que se discute o controle de armas. Tarantino ganhou melhor roteirista. Mas a onda de violência tirou outros prêmios merecidos- é claro que ele é um diretor INFINITAMENTE superior ao simpaticão BEN AFFLECK, que fez uma direção carretona em ARGO.
E, claro, a grande estrela, LINCOLN, sobre o pai da democracia moderna, que ganhou poucos prêmios, mas que deve virar o jogo no OSCAR.
Uma pena que por aqui a POLÍTICA não inspira como por lá.
E temos tanta fonte jorrando.
Nunca se fez um filme sobre a GUERRA DO PARAGUAI, o TENENTISMO, a COLUNA PRESTES, a Guerra de 32, a renúncia de JÂNIO, o GOLPE DE 64, a assinatura do AI-5, a abertura de GEISEL, a CIA no Brasil, Operação Condor, o CASO RIOCENTRO, as DIRETAS, a morte de Tancredo, o impeachment de COLLOR, as privatizações, o escândalo da compra de votos para reeleger FHC.
O caso do MENSALÃO, por exemplo, daria um filmaço. O diretor PADILHA disse que faria. Foi filmar uma versão da franquia ROBOCOP. E me pergunto se conseguiria patrocínio do BNDES ou PETROBRAS ou CAIXA ou CORREIOS para filmar O MENSALÃO.
Taí um tema a ser debatido: a dependência do cinema brasileiro com a indústria e o lobby da verba federal e do Estado.
E a falta de interesse em recontar nossa história.
Talvez por isso nossa indústria anda tão despolitizada.
Nossa esperança é a TV. Se conseguir se livrar deste lixo que é o BBB e assemelhados.
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