Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 112
October 29, 2012
as beldades de bond

VESPER LYNDT
Bond, JAMES BOND, está mais soturno, existencialista.
Com Daniel Craig, ganhou bíceps, bom preparo físico e um ar de cachorrinho abandonado, molhado pela chuva.
Saiu o estilo “cool” de SEAN CONNERY, “playba” de ROGER MOORE e TIMOTHY DALTON, e esta substituição merece análises mais profundas.
O mundo anda mais agressivo, dolorido. O espectador quer ver um solitário angustiado combatendo os paranoicos e conspiradores. Não se confia em mais ninguém com mais de 30 anos. Efeito do 11 de setembro.
Em 1 filme, o novo Bond correu mais do que o agente correu em toda a saga de Roger Moore [que fez 7 longas, entre 1973-85].
Continua atacado as melhores beldades do mundo da espionagem, especialmente as agentes duplas, no chuveiro, no bote, na rede e na casinha de sape pé-na-areia.
Mas ganhou agora um histórico perturbado: órfão, viu seus pais serem mortos na Escócia quando criança. M ainda reafirma: “Órfãos dão ótimos agentes.”
As piadas continuam no lugar certo.
A ironia e o uísque escocês ganharam a companhia de novos patrocinadores, como a cerveja Heineken.
Abrir uma breja enquanto xaveca uma agente gata? Nada a ver… Bond não bebe breja.
Nos 40 ANOS de BOND, viu-se a guerra fria recontada, o terrorismo internacional exercido por megalomaníacos, vilões russos, gregos, chineses.
Agora, em SKYFALL, dirigido pelo grande SAM MENDES, o vilão é SILVA [Javier Bardem]. Não distribui bolsa família, nem seu assistente se chama Zé Dirceu.
Sacanagem conosco, que só queremos o bem do planeta e cuja arma mais poderosa é o drible e a bola colocada.
Porém, uma coisa nunca muda, além da abertura caprichada, com a música da moda.
As beldades deste Bond soturno continuam nos 3 filmes, CASINO ROYALE, QUANTUN OF SOLACE e SKYFALL, com licença para matar.

OLGA KURYLENKO
Especialmente a agente dupla Berenice Marlohe, xavecada num cassino e com… dry martini [ufa!].
Pena que a maioria morre [ainda de cabelo molhado, com o cigarro apagado na mão].
Ou que bom. Ainda no luto, nosso herói descobre outra agente com a libido em dia.

EVA GREEN

Caterina Murino

Gemma Arter

Stana Katic

Naomie Harris

Berenice Marlohe
October 28, 2012
e aí, levou?
Alguém é capaz de lembrar da primeira livraria do Brasil que incluiu entre as prateleiras um café com mesinhas e bolos?
Hoje é a norma. Compramos e xeretamos livros rodeados pelo aroma de café.
Combinação perfeita da relação leitor – livro, como já era da escritor – escrever.
Porque, diferentemente de outras atividades, ler requer concentração, cafeína no sangue, nada de distrações, e uma companhia silenciosa.
Acho que foi a LIVRARIA DA VILA, a da VILA, a primeira a ter uma cafeteria ao fundo.
A ARGUMENTO, do Leblon, foi também pioneira, com seu Café Severino, que serve também de local de exposição de fotos.
Para quem não sabe, Severino era o nome do porteiro do prédio da Dias Ferreira em que fica a loja.
Hoje, em todas as grandes cidades, inclusive nas praianas, virou programa obrigatório de sábado e domingo ir a uma grande livraria, dar um rolê.
Elas estão também na maioria dos shoppings.
No Conjunto Nacional, conjunto comercial na esquina da Paulista com a Rua Augusta, vi a pequena e cult Livraria Cultura se transformar.
Um dos seus segredos: ao invés de contratar vendedores do comércio, contratava universitários, estudantes de filosofia, letras e comunicações, que tinham repertório para discutir e indicar livros aos consumidores.
O sonho de muitos dos meus colegas de ECA – USP era trabalhar na Cultura.
Hoje ela se expandiu para o antigo e gigante Cine Astor em frente, sem fechar a loja em que tudo começou. Abriu 1 teatro, abriu 3 outras lojas no mesmo conjunto [uma especializada em artes, outra em livros didáticos de línguas e uma terceira em games], além de patrocinar duas salas de cinema abaixo e ser parceira da Mostra de Cinema.

loja de games
Suas filiais seguem o mesmo padrão.
A de Recife é fantástica; à beira do rio, ocupa um antigo armazém no Recife Velho e vive abarrotada.
Pedro Hertz, seu comandante, é um teimoso que nos inspira.
Numa época em que ninguém mais acreditava em livrarias [Brasiliense, Martins Fontes, Saraiva, Atica são algumas das que fecharam], num mercado que sofria com a inflação, o livreiro ao contrário apostou na expansão.
Ganhamos todos nós.
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Na entrada ontem, muito bem acompanhado:
Na saída. Levou?
October 27, 2012
família vende lotes
October 26, 2012
as verdades
O livro novo já está nas livrarias.
A capa é demais de boa, rapá [mais abaixo]!
Mó orgulho.
Trechos de alguns comentários:
Marta Mendonça, da REVISTA ÉPOCA
Marcelo Rubens Paiva lançou recentemente um novo livro, uma coletânea de contos e crônicas sobre relacionamentos. A crônica que dá origem ao título e se chama “Isso é o que ela diz” lista frases que nós, mulheres, costumamos dizer – sem que sejam necessariamente realidade…
Impossível não se identificar com pelo menos algumas. Confira:
- Amor, não precisa ter ciúme. Ele é gay.
- Eu não demoro, nem vou lavar o cabelo.
- Não sei de onde veio essa batida no para-lama.
- Hoje eu tenho uma reuniãozinha com as amigas, até te convidaria – mas só vão as meninas.
- Já estou chegando. Estou aqui na esquina.
- Ai, adoro sua barriguinha.
- A próxima conta eu pago.
- Chico? Gato? Ele é meio velho…
- Adicionei porque é um cliente. Ia pegar mal ignorar.
- Eu não estou bêbada.
- Pode deixar que eu tenho dinheiro pro pedágio.
- Só vou olhar, não vou comprar nada.
- Eu não estou gritando!!
- Estou de regime. Só vou provar.
- É claro que eu gozei. Você não reparou?
Você acrescentaria mais alguma?

Martha Mendonça é editora-assistente de ÉPOCA no Rio de Janeiro.
Felippe Franco, do site SRZD, do Sidney Rezende:
Em livro, Marcelo Rubens Paiva volta a explorar universo feminino: ‘Me fascina’
O escritor Marcelo Rubens Paiva voltou a explorar o universo feminino no seu novo livro, “As Verdades Que Ela Não Diz”, lançado no início deste mês. A obra é uma coletânea de contos e crônicas que abordam assuntos como relacionamento, infidelidade e ciúme. Em entrevista ao SRZD, o autor explicou a atração pelo tema: “A transformação do papel da mulher na sociedade me fascina”.
Descontraído, Marcelo explicou que a complexidade do assunto acaba lhe dando uma gama maior de possibilidades. “Casais que se juntam mas não se casam, ciúmes, posse, mulher que tem amigos gays, como o marido vê isso… São várias histórias que nascem dessa forma”, disse o escritor. “É um bufê de salada que você pode fazer a mistura que quiser”, brincou.
Comemorando os 30 anos do lançamento do seu primeiro livro, “Feliz Ano Velho” (1981), que narra o período após o acidente que o deixou tetraplégico, o autor revelou que pensa em voltar a escrever sobre sua vida. “Tenho tido muita vontade ultimamente. Na ficção coloco histórias que vivi, meus pensamentos, mas talvez eu coloque algo mais ligado à memória no próximo livro”, explicou Paiva.
Mesmo com dez livros publicados e acumulando as funções de dramaturgo e colunista do jornal “Estado de S. Paulo”, Marcelo confessou que não segue uma rotina de trabalho. “Procuro escrever de manhã, mas nem sempre dá certo”, contou. “Sou boêmio, vai saber a qualidade do uísque, né”, brincou.
Confira a entrevista completa:
SRZD - Seu primeiro livro retratou uma passagem da sua vida. O quanto da sua história é ficcionado na obra?
Marcelo Rubens Paiva - Na verdade, o autobiografado ficciona não uma história, mas um jeito de ser, que nós nos comportamos. Por exemplo, em determinado momento, eu fiquei em silêncio na vida real e, no livro, inventei uma frase genial ou um pensamento. Acho que a gente dá uma aprimorada na nossa própria personalidade. Lembro de um episódio do Seinfeld em que o George lembrava como responder uma pergunta provacativa só no dia seguinte. Escrever livro é assim.
SRZD - Você pensa em voltar a escrever abertamente sobre sua vida?
MRP - Acho que sim, tenho tido muita vontade ultimamente. Tenho escrevido muito pouca sobre ela. Claro que a ficção acabou substituindo o relato pessoal. Na ficção coloco histórias que vivi, que ouvi falar, meus pensamentos mais obscuros, mas talvez eu coloque algo mais ligado à memória no próximo livro. Tenho vontade de escrever sobre o Brasil nos anos 70, 80, pois estava presente no olho do furacão. Pode ser que seja na primeira pessoa, pode ser um personagem, ainda não sei.
SRZD - “Feliz Ano Velho” é uma grande referência. Queria saber a importância que ele tem para você hoje e se quando o escreveu imaginava o sucesso que faria.
MRP - Não imaginava nada. Estava no primeiro ano da faculdade de jornalismo da USP, tinha trancado a Unicamp por causa do acidente. O livro foi uma encomenda do editor da Brasiliense, Caio Graco, que pediu para escrever sobre o período. Ele achava que literatura fazia bem para exorcizar, desabafar, e também pediu porque intuiu que, depois da abertura política, muitos relatos dos sobreviventes da ditadura interessariam aos leitores que viveram o império da censura.
SRZD - Seu novo livro aborda o universo feminino, assim como em outras obras suas até mesmo no teatro. Por que esse tema te fascina tanto?
MRP - A grande transformação do papel da mulher na sociedade, do núcleo familiar, me fascina. A todos os escritos contemporâneos. O casamento sofre interferência dos desejos da mulher, a mulher conquista o trabalho e sua independência, inclusive afetiva. É um periodo muito rico para todos os escritores abordar essa nova realidade, casais que se juntam mas não se casam, ciúmes, posse, mulher que tem amigos gays, como o marido vê isso… São várias histórias que nascem dessa forma. É um bufê de salada que você pode fazer a mistura que quiser.
SRZD - Você tem algum texto que considere seu favorito em “As Verdades Que Ela Não Diz”?
MRP - Tem um que eu tenho muito carinho, que inclusive nem é muito sobre relação. “O Tio e a Gravidade”, o último. É um papo entre um tio que acabou de ser abandonado pela mulher e a sobrinha. É um texto super delicado, me lembra o clima de “Peixa Banana”, do Salinger, que o Paulo Francis dizia que era o melhor conto do século XX. Mas gosto de todos. É que é diferente, pois não é sobre um casal.
SRZD - Você já teve trabalhos que viraram filmes. Qual a sensação de ver essa transição? Tem alguma outra peça ou livro que gostaria de ver adaptada para o cinema?
MRP - Eu gostaria de ver tudo adaptado para o cinema, mas gosto de ver bem adaptado, por isso faço questão de fazer sempre parte da equipe de roteristas. Tem muita gente interessada desde o “Feliz Ano Velho”. Eu lancei em dezembro e em fevereiro já tinha assinado contrato para filmar. É muito bacana você ver uma obra em outra linguagem.
SRZD - Seus livros tem uma linguagem bastante coloquial. Você sofre ainda sofre algum tipo de questionamento por isso?
MRP - Sofri muito na década de 80, fui chamado de subliteratura. Era uma linguagem que não era novidade. O [Paulo] Francis e o [Fernando] Gabeira escreviam assim. A galera da época já utilizava essa linguagem, eu só fui mais radical, tive a mão pesada para quebrar a norma culta. Uma grande geração de escritores acabou se aproveitando, inclusive o jornalismo, com titulos mais informais.
October 25, 2012
filmes da nossa infância
Hoje passa no Vão Livre do MASP um dos destaques da MOSTRA de SP, o filme preferido da minha infância, ROBERTO CARLOS A 300 KM POR HORA.
Dirigido e produzido por ROBERTO FARIAS.
Junto com a inauguração de outro símbolo do Brasil dos anos 1960-70, a FEIRA DO AUTOMÓVEL.
Programa favorito de toda criança da época, pela quantidade de brindes e novidade.
Até para mim, criança caiçara do LEBLON, de família de esquerda, a feira e a Jovem Guarda eram tão importantes quanto o jogo de botão, SIMONAL, Chacrinha e a Seleção Brasileira.
Qual a relação?
O filme fala de 2 mecânicos que trabalham na oficina de um piloto brasileiro de fama internacional, que pretende correr um grande prêmio em Interlagos.
Depois de um grave acidente, um dos mecânicos acaba assumindo o posto do chefe e se apresenta como competidor mascarado.
Precursor da paixão do brasileiro pela FÓRMULA 1.
Uma espécie de Cyrano de Bergerac da terceira onda da revolução industrial [ôps, Hobsbawm, acabei de inventar este momento da história]: quando países subdesenvolvidos passam a se chamar “em desenvolvimento”, graças ao dinheiro sobrando lá fora, incrementam seus parques industriais, importam fábricas, as chamadas MULTINACIONAIS, e fabricam carros e geladeiras ao lado dos campos de grãos apostando no crescimento do mercado interno e poder de compra de uma classe média emergente.
O mesmo que o governo DILMA faz 50 anos depois.
A ligação de cantor com o cinema começou com FRANK BLUE EYES SINATRA [que deixa minha mãe até hoje atordoada, dançando sozinha na sala e de olhinhos vidrados].
SINATRA levou tão a sério a profissão, que virou ator denso e chegou a ganhar 1 Oscar.
ELVIS foi outro que se imortalizou rebolando em praias, asas de avião, cercados por meninas de maiô e laquê.
Vieram os BEATLES que interpretaram eles mesmos.
Nos trópicos, a galera da jovem guarda, como WANDERLEY CARDOSO e JERRY ADRIANO, tb abraçou o cinema para se promover e brincar de ator.
Eu tinha 9 anos, ouvia falar do AI-5, achava aqueles tropicalistas doidos demais, não tinha ideia do que era o cinema novo. Tudo que eu e meus coleguinhas do COLÉGIO ANDREWS em Botafogo queríamos era assistir à matine de POBRE PRÍNCIPE ENCANTADO, de WANDERLEY CARDOSO.
Dirigido por DANIEL FILHO e com enredo e roteiro de, surpresa… CACÁ DIEGUES.

Wanderley Cardoso em O Pobre Príncipe Encantado
Raul Cortez está no filme de hoje, ROBERTO CARLOS A 300 KM POR HORA.
Lembrei-me que no final dos anos 1980, eu e SÉRGIO RESENDE escrevemos o roteiro de um filme que seria estrelado por PAULO RICARDO e toda a trupe do RPM. Produção L.C.BARRETO.
Raul seria o vilão da história. E nossa musa, FERNANDINHA TORRES, a namorada do herói.
Chegamos a ensaiar. O filme entrou em processo de pré-produção.
Quando se pesquisavam locações, a banda surtou, entrou numa implosão de egos feridos e se desfez.
Deveríamos ter procurado a LEGIÃO na sequência. Surfista tínhamos [saía DELUQUE, entrava BONFÁ].
Problema era fazer do RR um galã estilo PR. Teríamos que um dar 1 AR MAIS SOMBRIO ao filme, algo mais para TARKOVSKI.
Mas neste caso os BARRETOS não iriam aprovar.
Posso falar? Seria um filmaço. O roteiro estava ótimo. Perguntem a FERNANDINHA, que tinha acabado de ganhar CANNES por EU SEI QUE VOU TE AMAR.
Mas a sina da maioria das bandas de rock é a implosão. Demoram pra perceber a BESTEIRA.
ALIÁS, sexta, também no vão livre, passa É SIMONAL, de DOMINGOS DE OLIVEIRA.
Sinopse: Fã do cantor Simonal viaja para o Rio de Janeiro esperando encontrar o ídolo. Passando-se por jornalista, consegue se aproximar dele durante um ensaio. Insólita comédia musical embalada pelo sucesso de Wilson Simonal nos anos 70. Reúne imagens antológicas do artista em shows na boate Sucata e no Maracanãzinho, onde regeu um coro extasiado de 35 mil pessoas – parte delas usadas no documentário Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei (2009).
Hoje RPM voltou, FERNANDINHA virou colunista de jornal, TARKOVSKI é homenageado da Mostra nesse ano, e eu procuro gancho pra gastar o meu [e o seu] tempo.
October 24, 2012
baleia não coça as costas

paparazzi flagra baleia branca no leblon
Baleias brancas, as belugas, conhecidas como os ‘canários do mar’, porque são tagarelas como as minhas tias italianas no Natal, que disputam qual torta é a mais próxima da receita original da nona, aprendem a emitir sons semelhantes aos da fala humana.
Num estudo publicado pela revista Current Biology, pesquisadores afirmam que escutam a baleia NOC, de 9 anos, e registram a vocalização.
Não apenas as emissões vocais têm a frequência semelhante da fala humana, como as pausas. Além disso, NOC aprende a falar por recompensa e muda rapidamente a pressão dentro de sua cavidade nasal para produzir os sons.
No entanto, ninguém entende o que ela diz. Tenho algumas suposições.
Ele canta Lulu Santos:
“Garota vou pra Califórnia, viver a vida numa boa, o meu destino é ser star de um parque aquático. “
Ou, mais existencialista:
“Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre passará. A vida vem em ondas, como um maaaar…”
Pode ser uma homenagem a DORIVAL:
“O mar quando quebra na praia é bunituuuuu…”
Pode ser uma pergunta:
“Aí fora da água pega a TIM?”
Pode estar reclamando:
“Cês tão maluco, despejam lixo o dia todo, em todos os cantos e, como se não bastasse, jogaram o Bin Laden?!”
Mas, para mim, tenho certeza. É um pedido desesperado:
“Pelo amor de deus, há meses que peço: alguém coça as minhas costas!”
Escute você no site da BBC BRASIL e tire suas conclusões:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/10/121023_baleia_beluga_fala_rw.shtml
October 23, 2012
capitalismo doidão
O que mais se ouviu nos debates entre OBAMA e MITT ROMNEY foi o “crush” [achatamento] da classe média.
OBAMA fala muito em trazer de volta para a AMÉRICA, “o melhor país do mundo”, os empregos manufaturados.
É o mote da sua campanha. Como fará? Mistério…
Traduzindo.
No País que inventou a linha de montagem, o avião, os televisores, que dominou o mundo com sua indústria de eletrodomésticos, carros, navios, numa segunda revolução industrial, possível graças ao petróleo, energia nuclear e carvão baratos, mão de obra qualificada, consumo interno aquecido e esforços de guerra, as fábricas sumiram.
Muitas se mudaram pro México.
Nos anos 1990, os nerds ficaram surpresos quando a MICROSOFT mudou a fábrica que empacotava CDs para além da fronteira do Rio Grande, para assumidamente fugir das leis ambientais.
Na fronteira, aliás, se instalaram como dominós as “empacotadoras”.
Ao lado das cercas e holofotes que barram os ilegais, se ergueram fabriquetas da maioria das corporações americanas.
Depois, levaram tudo pra CHINA, TAILÂNDIA, MALÁSIA, ÍNDIA, para explorar uma mão de obra barata, se livrarem dos sindicados, da lei ADA de acessibilidade aos trabalhadores deficientes, do rigor da receita federal.
Da APPLE à NIKE, todas mudaram sua linha de produção para países que toleram o trabalho infantil.
Nos EUA ficaram as sedes, o financeiro, as ações, os acionistas, a especulação, os CEOs e seus bônus, a tecnologia, a informação, Wall Street, os fundos de pensão, o parque acadêmico de altíssimo nível e os bancos de dados.
Ficaram os que mandam: the big bosses.
Curiosamente, assim que se encerrou o debate presidencial americano capitaneado pela CBS ontem, transmitido da Flórida por todas as redes, o TELECINE começou a exibir A GRANDE VIRADA, filme de 2010 que nem foi pro circuito – pulou a etapa da exibição em cinemas e chegou direto em homevideo e TV paga.
O tema?
A ganância do mercado e a crise do capitalismo mundial.
A produção de US$ 15 milhões que deu prejuízo [faturou US$ 4,4 milhões] explica por que os antigos impérios industriais não saem do atoleiro que eles próprios criaram e os motivos da crise financeira global.
JOHN WELLS, diretor e roteirista, em seu primeiro longa, conta a história do alto executivo de Boston, Bobby (Ben Affleck), que dirige uma Porsche e é gerente de vendas de um estaleiro, que é demitido pois a empresa decide cortar custos, mão de obra, vender fábricas e especular suas ações no mercado.
Seus chefes Phil (Chris Cooper) e Gene (Tommy Lee Jones) também são demitidos.
Não tem emprego pra ninguém.
Bobby só encontra refúgio no cunhado, um mestre de obras (Kevin Costner). Tem que arregaças as mangas, carregar sacos de cimento, pra trazer leitinho pras crianças.
As fábricas da Nova Inglaterra estão abandonadas.
Tudo se mudou para a ÁSIA.
Não há peso na consciência dos executivos. Querem que suas ações aumentem de preço, para viajarem com suas esposas em jatinhos particulares, jantarem em restaurantes de 500 dólares, e que o CAPITAL gire sem que se precise apertar um parafuso ou soldar uma chapa de aço.
Curiosamente, A GRANDE VIRADA (The Company Men) é produção do Reino Unido.
Outro país que perdeu seu parque industrial [nem carro mais fabrica] e vive dos fundos de investimentos árabes, turbinas, exploração de petróleo danosa ao meio ambiente, mostarda forte e rock & roll.
Fazia sentido.
Transferiram as poluentes, barulhentas e gastadoras fábricas para os países em desenvolvimento, e foram jogar golfe, fazer botox, engordar em fast-foods e curtir cruzeiros do Caribe.
Mas se esqueceram de quem dá sustentação a todo este luxo e estilo de vida, morre em guerras e sua em bicas por uma casinha modesta, 2 carros na garagem e filhos com diploma: a classe média.
+++
Uma coisa que não se entende é o número grande de indecisos nas eleições americanas para Presidente. Aqui, tudo bem, não existe debate político. Para os extremos da periferia, Celso Russomano e Ratinho Jr. podem ser bons candidatos, e na semana seguinte não mais.
Porém, aqui o voto é obrigatório, lá, opcional.
Se lá cara está em dúvida, fica em casa aparando a grama do jardim.
October 21, 2012
lugar marcado
No avião é incontestável.
Apesar de, em alguns voos, rolarem discussões acaloradas em defesa do direito da janelinha.
Em estádios de futebol brasileiros as federações tentam, mas não parece fácil.
Faz parte da cultura do brasileiro duvidar em coro da heterossexualidade do juiz, dos bandeirinhas, apontar a profissão das mães deles, denegrir a torcida adversária e sentar no primeiro lugar vago.
Recentemente, com a modernização das salas de cinema, o espectador se viu desafiado a escolher o lugar para sentar.
No início da implantação, muitos olharam com desdém aquela tela apontada pela bilheteira cheia de poltroninhas desenhadas e duvidaram que a marcação seria respeitada, especialmente durante os trailers.
O espectador também não sabia qual o lugar indicado, se existem lugares ideais para filmes de ação, de arte, brasileiros (sem legenda), documentários ou 3D. E descobriu que, em cada plateia, há uma configuração própria.
Escolher o lugar passou a ser mais uma chateação do que uma solução.
No entanto, pouco a pouco, aprendemos a olhar o monitor com poltroninhas, fileiras e espaços e apontar: Este!
O programa favorito de Álvaro e Neide: ir ao cineminha domingo no shopping em que se respeita vaga de idoso.
Chegam cedo, compram ingresso com lugar marcado, dão uma volta na livraria mega, compram o melhor colocado na lista de mais vendidos, jantam na praça de alimentação, e de sobremesa levam para a sala duas pipocas grandes e dois refrigerantes gigantes. Como não gostam de comerciais, costumam entrar pontualmente no início do filme.
Álvaro, obcecado e excelente estrategista, costuma escolher lugares no corredor, para facilitar a localização da poltrona, as necessidades diuréticas de Neide e a evasão discreta em caso de filme ruim, da fileira “i”.
Para Álvaro, a marcação de lugar foi uma das maiores invenções da indústria de exibição cinematográfica, depois do porta-copos.
No último domingo, surpresa, um outro casal, mais jovem, mais mal-educado, bem mais forte e menos sedentário, estava esparramado no lugar escolhido metodicamente por Álvaro.
Enquanto ambos em pé, no meio do corredor, com as pipocas grandes e os refrigerantes que congelavam as mãos, começaram a protestar, perceberam um absoluto descaso dos oponentes, que pouco a pouco ganhavam a patente de inimigos.
“Desculpe, mas escolho este lugar com antecedência e bastante precisão.”
“Não precisa ficar tenso, tiozinho. Por que não senta na fileira de baixo?”
“Por que vocês não vão pra lá?”
“Esquece, Álvaro, tem dois lugares logo ali”, disse Neide impaciente com o peso da sobremesa.
Álvaro, como sempre ocorria em situações em que a injustiça e a desonestidade de um Brasil anacrônico, subdesenvolvido e pré-estabilidade da moeda rolava, passou a ter uma taquicardia, que só conseguia ser controlada por um jeito professoral de resolver situações conflituosas:
“Meu jovem, não seria bom para todos se as regras fossem cumpridas, se as filas fossem respeitadas, se obedecêssemos aquilo que nos é indicado? Numa democracia, existem direitos e deveres. Você tem o direito de se sentar num lugar confortável, já que pagou pelo seu ingresso, e assistir ao filme de preferência, com sua digníssima namorada”.
“… ficante!”, interrompeu a acompanhante.
“No entanto, o senhor tem o dever, como um bom cidadão, de respeitar o lugar que lhe foi indicado, para o caos não se instalar entre nós”.
O primeiro pedido de silêncio foi proferido da fileira traseira. Álvaro olhou para a tela e se certificou de que escolhera como sempre o lugar ideal, já que veria a projeção de frente, sem precisar erguer ou abaixar a cabeça.
“Tio, o filme tá começando. Senta em qualquer lugar!”, disse o rapaz.
“Este é o nosso lugar!”, disse a menina.
“Não, ele é nosso!”, respondeu Álvaro, com os tickets na mão.
“Vem, mor, deixa eles”, tentou Neide.
“De jeito nenhum! Se alguém tem que se mudar…”
“Os incomodados que se retirem!”, interrompeu a jovem arrogante.
Álvaro não só se irritou com a frase totalmente fora de propósito da acompanhante, ou ficante, como decidiu ignorar os apelos de mulher e iniciar um discurso:
“Num país que sediará a Copa do Mundo e a Olimpíada…”
“…Cala a boca, velho!”, gritaram lá de trás.
Neide começou a puxar o marido, equilibrando as pipocas e refrigerantes, enquanto Álvaro levantou a mão com os dois ingressos da fileira “i” e proferiu:
“Vocês não querem acreditar, mas vivemos num novo Brasil!” Respirou fundo e, mesmo com a trilha do filme explodindo em Dolby pelos alto-falantes, como se estivesse num palanque, bradou: “ Vejam o caso do Mensalão, julgado finalmente pelo Supremo, um marco na história da nossa República…”
Então a vaia foi geral. Alguns começaram a atirar pipocas no casal. Queriam ver o filme e que aquele velho louco, que dizia coisas ininteligíveis sob a música dos créditos iniciais, parasse.
Neide, desesperada, puxou o marido, que se segurou na poltrona, agarrado no braço dela, como se fosse o último bote do Titanic.
Finalmente, o jovem casal, assustado com a irracionalidade daquele velho teimoso, se levantou e mudou de lugar. Se sentou duas fileiras abaixo, em que havia dois lugares vagos.
Vitorioso, exultante e sem ar, Álvaro sossegou. Mal conseguiu prestar atenção no filme, já que refletiu sobre cada palavra. Continuou o discurso na cabeça, de como o Brasil precisa superar a fragilidade das regras, das instituições e a impunidade epidêmica, que só atrapalham o nosso desenvolvimento, empecilhos históricos que nos impedem de dar um salto grande ao futuro, que devem ter tido origem na escravidão, ou na vinda da corte portuguesa, ou nos regimes instáveis e totalitários.
A respiração de Álvaro demorou para voltar ao normal. Nem conseguiu comer a pipoca. Muito menos ouvir Neide praguejar contra a teimosia de marido. Ela passou o filme inteiro dizendo que um dia ele teria um derrame se continuasse na sua missão impossível de reeducar os jovens.
Terminada a sessão, ninguém mais se lembrava do ocorrido, nem mesmo o jovem casal. Apenas Álvaro e Neide permaneceram sentados. Esperaram os créditos finais, a sala se esvaziar e as luzes se acenderem para, enfim, se retirarem sem nenhuma retaliação física ou verbal.
Neide irritada, disse: “Vou ao banheiro”.
Álvaro respirou fundo, se levantou, recolheu os copos vazios e só então percebeu, graças à iluminação da sala, que na verdade se sentaram na fileira “k”.
October 17, 2012
a gente vai lewando…
O casal NARDONI foi condenado por homicídio doloso triplamente qualificado (art. 121, § 2°, incisos III, IV e V). Ele vai cumprir pena de 31 anos, 1 mês e 10 dias. Ela, 26 anos e 8 meses de reclusão.
Ficou caracterizado como crime hediondo e o julgamento aconteceu 2 anos depois do crime- rápido para os padrões brasileiros.
Venceu a tese da promotoria [Francisco Cembranelli]. Mesmo que as evidencias não fossem conclusivas, não poderia haver outra pessoa na cena do crime, que não os pais da garota.
Condenou-se não pelas provas, mas pela exclusão de versões.
O Ministro LEWANDOVSKI, revisor do julgamento do MENSALÃO, queria provas concretas para condenar os réus GENOINO e ZÉ DIRCEU.
Pelo seu raciocínio, o segundo escalão do partido agiu sem comando.
Corrompeu-se sem ordem direta.
Muitos acreditam que o PT deveria se livrar das laranjas podres e seguir um caminho renovado por DILMA, HADDAD e outros, num futuro em que seu timoneiro LULA sai aos poucos de cena.
SURPREENDENTEMENTE, o partido deu voto de confiança a antigos líderes e fundadores, atacou a imprensa golpista e as elites. Perdeu a chance de se reconstruir e readquirir parte da militância que migrou traída para partidos menores, como PSOL.
Na cidade do Rio de Janeiro, o PT elegeu apenas 1 vereador, contra 4 do PSOL.
Mais patético foi o caso do ex-deputado VALDEMAR COSTA NETO que, condenado pelo STF, disse que recorrerá a cortes internacionais, que não julgam este tipo de caso, mas crises entre nações e crimes de guerra.
O brasileiro rico está tão acostumado a recorrer, recorrer, recorrer, se enfiando pelas brechas da lei e com a inoperância do Judiciário e nunca ser condenado, que ao se ver diante de uma condenação da instância máxima não sabe como livrar a cara.
Quem vai para a cadeia estará no enredo dos próximos capítulos.
A comovente depressão de GENOINO, que todos sabem não “enricou” com o desvio do dinheiro público, e o passado para alguns de glória e combate de ZÉ DIRCEU comovem, mas talvez por isso dizem que a justiça é cega.
O que parece tão óbvio, causa estranheza ainda para alguns.
O SUPREMO condenou. Não há mais o que fazer ou a quem recorrer. Que se cumpra a lei.
Como numa novela, desenhou-se um herói, o Ministro negro, persistente, e um vilão.
O relator versus o revisor, o criador e seu crítico.
Revisor que virou piada na internet [de origem desconhecida].
Como LEWANDOVSKI julgaria HITLER:
Senhores, não existem filmes, fotos, nem testemunhas de Hitler abrindo registro de gás em campos de concentração, nem apertando o botão de uma Bomba V2 apontada para Londres, pilotando um caça Stuka, dirigindo um tanque Panzer, disparando um torpedo de um submarino classe U-Boat sobre seu comando a navegar no Atlântico ou mesmo demonstrando habilidades no manuseio de um canhão antiaéreo Krupp, manipulando uma metralhadora MP40, uma pistola Walther P-38 ou simplesmente dirigindo um jipe Mercedez Benz acompanhado do general Von Rommel pelos desertos do norte da África.
Por isso, parece claro que não existe nada a incriminá-lo. Com certeza, ele não sabia de nada. Não via nada. A oposição diz que foram queimados documentos incriminatórios importantes, mas nada, absolutamente nada foi comprovado, apenas evidenciou-se a existência de cinzas e destroços por todos lados que somente foram trazidos com a chegada dos americanos e russos que não fazem parte da peça de acusação do proceso entregue pelo “Parquet”; o Sr. Procurador.
Afinal, ele seria apenas um Chanceler e presidente do Partido Nazista; ou seja, ele não passava de um mequetreque. Jamais foi pego, ou mesmo visto transportando armamentos debaixo dos braços (tipo pão francês) ou carregando pacotes de dinheiro nas cuecas. Alguns relatos que citavam seu nome eram meros registros de co-réus, como alguns membros da Gestapo, os quais, por conseguinte, carentes de confiabilidade. Outros relatos são de inimigos figadais – os denominados “Países Aliados” e assim longe de merecerem qualquer relevância para serem tomadas como fundamentos de acusação.
Alguns o acusam de ter invadido Paris e desfilado sob o Arco do Triunfo. Esta é mais uma acusação inventiva dos opositores. Ele apenas foi visitar seu cordial amigo o General De Gaule que infelizmente havia viajado para o sul da França. Ele então, teria apenas aproveitado a sua viagem para passear e fazer compras na Avenue de Champs Elisé com seus amigos. Qualquer outra conclusão é mera ilação ou meras conjecturas que atentam a qualquer inteligência mediana. Por aí vemos que nada contribui para a veracidade das acusações.
Não afasto a possibilidade dele ser o suposto mentor intelectual, mas nada, repito, nada consubstancia essa hipótese nos autos. E olha que procurei em mais de 1 milhão e 700 mil páginas em 10.879 pastas do processo.
E não podemos esquecer que ele foi vítima de diversos atentados que desejavam sua morte, articulados pela mídia e pelas potentes e inconformadas forças conservadoras. Seus ministros como Goebels, Himmiler, Rudolf Hess e outros também nada sabiam. Eram coadjuvantes do NADA; sem nenhuma responsabilidade de “facto”.
O holocausto, em que pessoas de diversas raças e etnias, talvez tenham tido um suicídio coletivo ao estilo do provocado há anos nos EUA pelo pastor Jim Jones. É, ainda hoje, um tema controverso. Assim trago aos pares, como contraponto, a tese defendida pelo filósofo muçulmano Almanidejah que garante a inexistência de tal desgraça da humanidade.
Assim -já estou me dirigindo para encerrar meu voto Sr. Presidente- afirmando acreditar que todos eles foram usados, trapaceados por algum aloprado tesoureiro de um banco alemão que controlava financeiramente a tudo e a todos; especialmente os projetos políticos e as doações corruptivas. E tudo em nome da realização de um plano maquiavélico individual de domínio total que concebeu e monitorava do porão da sua pequenina casa nos Alpes.
Enfim, depois de exaustivas e minuciosas vistas nos autos, especialmente nos finais de semana, trago aos pares novos dados que peço ao meu colaborador Adolfo para distribuir a todos. Depois desta minha “assentada” declaro a improcedência da ação, inocentando por completo o réu por falta de provas. É como voto, Sr. Presidente.
October 10, 2012
livro novo, casa nova
Livro novo.
Crônicas reescritas, contos, cenas, trechos, num livro lindo editado pela nova editora FOZ.
Com esta linda capa da Crama Design Estratégico.
Ah, sei que vão perguntar: não sou eu na abraçando esta mina.
Em comemoração dos 30 anos de carreira literária.
Agora começa o estágio “divulgação”.
Olha o que saiu hj na contra do CADERNO 2.
Entrevista com meu editor e colega de ECA –USP, Ubiratan Brasil.
Há 30 anos, a trágica experiência de um jovem inspirou um livro que logo chegou ao topo da lista dos mais vendidos no Brasil. Feliz Ano Velho narra as desventuras de seu autor, Marcelo Rubens Paiva, depois que um acidente o deixou tetraplégico quando estava com apenas 20 anos. Como uma espécie de comemoração àquele sucesso (foi o livro de autor brasileiro mais vendido na década de 1980), sua nova obra, As Verdades Que Ela Não Diz, chega nesta quarta-feira, 9, às livrarias marcando a estreia de uma nova editora, Foz, comandada por Isa Pessoa.
Não são fatos isolados – em 30 anos de estrada, Paiva, que é cronista do Estado, desenvolveu um estilo seco, direto e envolvente tanto para comentar assuntos triviais como para tratar de temas delicados. A gênese, aliás, já estava em Feliz Ano Velho, cuja sucesso consolidou a linha editorial adotada pela Brasiliense, que o lançou em 1982: dar voz a novos autores, cujas experiências e inquietações seriam mobilizadoras.
Nesse período, Paiva publicou dez livros, foi traduzido para alemão, inglês e checo, entre outras línguas, além de dirigir e escrever peças de teatro, como 525 Linhas, No Retrovisor, e Da Boca pra Fora – E Aí, Comeu?.
Em As Verdades Que Ela Não Diz, Paiva mostra uma vez mais sua habilidade para criar diálogos. São contos que tratam de diversos níveis de infidelidade, conjugal ou mesmo de amizade. Sobre o assunto, o escritor respondeu às seguintes perguntas.
Faz 30 anos da publicação de Feliz Ano Velho – você tratou ali de assuntos sobre os quais não falaria hoje? O livro o incomoda? Você tem ideia de como ele seria se fosse escrito hoje?
Sim, narrei até um banho numa UTI. Fui mais escancarado e sem censura em Feliz Ano Velho como dificilmente serei em outra obra. Porque paradoxalmente fiquei conhecido e agora me intimida, me preocupa a exposição pública. Tenho muito respeito pelo livro. É como um membro da família que se exilou, se tornou independente e se deu bem. A questão é: se o livro fosse escrito hoje por um anônimo teria a mesma crueza. Não sei se alguns assuntos interessariam como interessaram naquela época.
Você não teve mais vontade de escrever sobre a sua vida?
Aprendi a escrever sobre a minha vida através da ficção. Aprendi e gostei, pois posso torná-la mais atraente ou melhorá-la, para deixar literariamente mais interessante. A peça No Retrovisor é um exemplo. É sobre um deficiente físico, um cego, anos depois do seu acidente, já inserido e profissionalmente estabelecido. Sem nenhum saudosismo. Mais resolvido do que eu.
Sobre As Verdades Que Ela Não Diz: abordar o complexo universo feminino com ironia e afetividade exige maturidade artística, concorda? Malu de Bicicleta, de alguma forma, o ajudou a encarar melhor esse universo?
Na verdade foi na peça E Aí, Comeu?, depois de um divórcio aos 36 anos, que comecei a investigar o universo feminino, as razões do sucesso e fracasso das relações, a crise da maturidade, de ser adulto e entender o outro, ver o mundo através dos olhos de quem ama. Faço parte de uma geração de escritores privilegiada, pois testemunha a emancipação feminina, tem um material rico para trabalhar, e viveu a decadência do antigo projeto de casamento dos nossos pais.
O que norteou a escolha dos textos de As Verdades?
A vitória ou derrota no amor, a luta para dar certo, superar, a redenção, a maturidade de reconhecer os próprios erros, as trapalhadas amorosas. Puxa, tenho 53 anos. Já podem me chamar de senhor. Aliás, adoro quando me chamam. Apesar de ser da geração que sofre um certo complexo de Peter Pan, é bom também ser Gepeto.
AS VERDADES QUE ELA NÃO DIZ; Editora: Foz (192 págs., R$ 35,90)
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