Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 113
October 8, 2012
não existe amor em SP; especialmente na hora de coligar
Meu pai deve estar sorrindo, afinal ajudou a fundar o PSB com o acadêmico, professor Antonio Candido [ele mesmo]. Sem contar que o neto do amigo dele Miguel Arraes comanda o partido que foi a sensação ontem no País e que, piada dos amigos dele, cabia numa Kombi; antes da ditadura que os cassou.
PMDB caiu 15% em número de prefeituras em relação a 2008.
PT cresceu 14%.
PSB cresceu 51% no total de votos e 41% no total de prefeituras.
PSDB será o grande derrotado? Elegeu 13% menos prefeitos que em 2008. Em todo o País o número de eleitores do PSDB caiu 4%.
Prato cheio para analistas políticos: onde o PSDB teria errado?
Palpite: diferentemente de outros partidos, não criou nem deu espaço a novos quadros.
O PSDB estagnou em Aécio, Alvaro Dias, Serra, Alckmin e Jereissat. O PT criou Dilma, Haddad, o PMDB, Paes. O PSB então… É uma chocadeira.
Bem, ainda tem o segundo turno que pode reescrever a história.
E o PSDB tem grandes disputas, especialmente no Norte.
Sem dúvida, Chalita emplacou, tem carisma e foi 1 dos grandes destaques da eleição de São Paulo. Sem contar que tem o PMDBezão por trás. Veio pra ficar
Chalita e Fruet, surpresa em Curitiba, são 2 quadros que o PSDB não impediu de partirem. Como um marido prepotente
Hora de conferir o que indicavam os institutos de pesquisa. Galera de Curitiba nunca mais confiará num. Erraram feio.
O Ibope errou a pesquisa de boca de urna em 8 de 11 capitais que pesquisou.
Surpresa também na Bahia, com ACM Neto superando o candidato do PT e do governador. Que discursou dizendo que “a Bahia precisa do novo, e recuperar o respeito”. Que paradoxo. Essa Bahia não esquece o “padin” ACM… Deve ser efeito da novela Gabriela?
Para a Câmara de São Paulo, se elegeram Nabil Bonduki, Ricardo Young, Covas Neto e Matarazzo, bons quadros para a política local.
Meus amigos, o ator Pereio e o surfista-cadeirante Taiú, ficaram de fora, uma pena. Levariam um jeitão não viciado de fazer política à Câmara.
Soninha estaria lá, se não fosse a teimosia de sair candidata à Prefeitura.
A derrota do ex-ministro Orlando Silva [PC do B] surpreendeu, afinal tinha Lula no horário eleitoral afirmando ser ele o seu candidato. Já Netinho do mesmo partido conseguiu se eleger. E o PSOL fez 1 vereador.
Os neo-Tiriricas, como Mulher Pera, Vovó da Fiel, foram derrotados. Assim como a galera do futebol, Dinei, Marcelinho Carioca e Ademir da Guia. O independente e medalhista Aurélio Miguel continua vereador.
Galera do cassetete, Coronel Telhada, Conte Lopes, Eduardo Tuma, também.
Não cruzarão com Renato Cinco, líder da Marcha da Maconha, que foi eleito vereador lá pelo Rio de Janeiro. Seria um “mão na cabeça, maconheiro vagabundo!” se não fossem os 400 km de distância.
PT de São Paulo agora quer o apoio de Russomano. Baixo Augusta e Praça Roosevelt vão se dividir.
Como fica o grupo de tucanos e petistas que organizou o movimento “Amor sim, Russomano não”?
Vai deixar de amar?
Talvez Criolo tenha razão, e não existe amor em SP.
Especialmente na hora de coligar, na batalha do segundo turno.
o brasil comunista
Marx acreditava que o capitalismo continha em si o germe da própria destruição- com suas contradições internas, como a exploração extrema do proletário, o regime se desdobraria em tamanha injustiça que não seria mais sustentável e daria lugar a uma nova forma social.
Na teoria a revolução era iminente. Na prática o capitão brasileiro Luís Carlos Prestes se aproveitou da insatisfação de proletários, camponeses, antifascistas e burgueses progressistas, arregaçou as mangas e, apoiado pela Internacional Comunista, liderou um levante em novembro de 1935.
Em Recife e Natal foi instalado um governo revolucionário provisório.
No Rio de Janeiro não houve como se esperava sublevação espontânea.
O movimento foi derrotado em dias e recebeu o pejorativo nome de Intentona.
Foi o mais perto que o Brasil chegou da utopia socialista.
E se tivesse dado certo?
Estaria no Wikipedia:
Depois da revolução, o tema do debate de abertura do Politburo carioca foi: o que fazer com aquela estátua de braços abertos sobre a Guanabara que representava o ópio do povo.
O líder Prestes não poderia acordar no Catete, dar um “guten tag” para a primeira-dama, Olga Benário, ler a edição matinal da Classe Operária, maior e único jornal em circulação, já que todos os outros foram empastelados, e ver da varanda “o suspiro da criatura oprimida” (Marx).
Ocorreram discussões acaloradas no Comitê Central. Os ilustres comissários do povo propuseram:
1. Demolição irrevogável da estátua com o uso de dinamite.
2. Substituição por outra do mesmo tamanho de Marx e Engels. Seria uma obra de engenharia utópica, já que os dois filósofos gorduchos não caberiam no topo da montanha.
3. Substituição da estátua por uma de Prestes, este, sim, baixinho e leve. Mas o próprio levantou dúvidas quanto ao culto precoce à sua personalidade.
4. Substituição por uma de Lênin. Figura já muito batida e explorada pelos camaradas russos.
5. Trocar por um grande trator em homenagem às fazendas comunitárias.
6. Trocar por uma foice e um martelo.
Mas um jovem arquiteto, que não aparentava a idade que tinha, figura influente nas fileiras do partido, Oscar Niemeyer, propôs transformar o turbante da estátua num macacão, incluir um capacete sobre a cabeça, erguer o braço esquerdo e fechar os dedos da mão.
Em 1941, no aniversário de cinco anos da revolução, a tropa de voluntários que embarcava para defender Stalingrado e Leningrado do cerco nazista desfilou no Aterro do Povo e saudou a antiga estátua do Cristo Redentor, rebatizada como Impávido Trabalhador.
O regime não teve muitos problemas com a literatura revolucionária. Afinal, a maioria dos autores, como Oswald de Andrade, Jorge Amado, Graciliano Ramos e Dias Gomes, era das fileiras do partido. Apenas um pornógrafo, Nelson Rodrigues, porta-voz da crise do proletário suburbano, deu trabalho aos censores.
Nas artes plásticas, Portinari liderou a estética do realismo socialista tropical. O cinema novo rasgou o protocolo alienante do cinema americano e, influenciado por Eisenstein, filmou a grande tomada do Campo dos Afonsos pelas tropas lideradas por Prestes e a invasão do Paraguai, das Guianas e das Ilhas Malvinas, que passaram a fazer parte da União das Repúblicas Socialistas Brazucas.
A censura encontrou problemas num movimento pequeno-burguês iniciado no final dos anos 1950 em Ipanema. Alguns pensaram em banir de vez aquele ritmo que misturava jazz com samba e subsidiar outro que usava balalaica, tambores e chocalhos.
Porém o que mais deu trabalho foi intervir nas letras daqueles que preferiam uisquinho a vodca.
Ninguém chegou a ser mandado pro trabalho forçado no Gulag Marajó. Prontamente modificaram as músicas. Garota de Ipanema virou Trabalhadoras de Ipanema Uni-vos!, e sua letra substituída por “olha, que coisa mais determinada, mais cheia de metas, é ela a operária que vem e que passa, com o balanço eficiente da linha de produção…”
Indignado mesmo ficou o consultor do povo, J. R. Tinhorão, com a música O Pato. Propôs a substituição da letra por “o trator vinha arando eficientemente, ram, ram, quando o camponês sorridente, comemorou a colheita, colheita, colheita.”
O autor João Gilberto só não foi expurgado porque um poeta também simpático aos ideais da revolução, apesar de estar sempre de porre, Vinícius de Moraes, interveio em carta pessoal ao partido, comovente e repleta de clichês marxistas, que dizia: “Que eu possa me dizer da Internacional Socialista: que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinita enquanto dure.”
Anos depois, como se não bastassem os probleminhas na Europa com a Primavera de Praga, revoltas estudantis e a decadência do capitalismo exemplificada pelo esvaziamento das barbearias da vanguarda revolucionária, o Comissariado começou a se preocupar com a má influência de uns cabeludos que organizavam um movimento chamado tropicalismo. Apesar de não entender “nada, nada!”, mandou alguns deles colherem cacau na Bahia e prendeu uma banda chamada Mutantes, provocativa e niilista.
Nos anos 1980 se iniciou uma détente que fez vista grossa à explosão do rock brasileiro, cujos refrões “você não soube reformar”, “a gente não sabemos votar pro comitê central”, “que união das repúblicas é essa?” e “ideologia, não quero uma para viver” foram espantosamente escutados nas rádios estatais.
Prestes veio a falecer em 7 de março de 1990, desapontado com a queda do Muro de Berlim, o Nobel para Gorbachev e o fim do futebol arte. O Cavaleiro da Esperança se tornou o líder mais tempo à frente de um país, 55 anos, recorde imbatível. Seu concorrente direto, Fidel Castro, ficou “míseros” 49 anos. Apenas um político da República do Maranhão, José Sarney, pode ainda quebrá-lo.
No velório de Prestes, todos perceberam: questão de meses o colapso da URSB e URSS. Não deu outra.
O governo posterior, de Roberto Freire, foi substituído por de Aldo Rebelo, que baniu estrangeirismos russos, que levou um golpe do pagodeiro Netinho, que rachou com chefe da polícia política, Zé Dirceu, o mais radical dos extremistas, e mergulhou o país no caos.
Por fim, uma ruptura no regime reintroduziu a economia de mercado no Brasil. O primeiro Mc’Donalds foi aberto no Palácio do Povo, antigo Copacabana Palace. Foi após comer um Big Mac que o poeta Ferreira Gullar, ex-membro do PC, rasgou a sua carteirinha e saudou o novo regime declamando: “Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles num pão com gergelim. Vem, capitalismo, vem a mim!”
O próprio Oscar Niemeyer, gozando de boa saúde e ainda sem aparentar a idade que tinha, foi incumbido a desentortar o braço do Cristo.
October 6, 2012
viral que ironiza campanha eleitoral bomba na internet
COMO FAZER UMA PROPAGANDA ELEITORAL?
O vídeo gaúcho foi lançado ontem, sexta-feira.
Sábado de manhã já estava em 350 mil viewers.
Direção de Pepe Mendina, um dos responsáveis pela série de virais TEM UM CARA NOS SEGUINDO.
E ideia de Marcos Piangers, radialista, colunista do jornal ZERO HORA, que apresenta programas de rádio [Barracão e Pretinho Básico].
O vídeo produzido por Binho Lemes, Pepe Mendina, Eduardo Mendonça, Fábrica de Conteúdo, e filmado em Porto Alegre, mostra em detalhes a fórmula de como se fazer uma propaganda eleitoral de 3 minutos de um candidato qualquer.
Como ele deve falar e se posicionar.
As pausas, o olhar, o tom.
O porquê de um apresentador jovem comandar a propaganda; para dar sangue novo e oxigenar a campanha.
Lá estão as propostas, o jngle e, o mais divertido, os populares que fingem que não ganham cache e apoiam incondicionalmente o candidato.
Assim como rolamos de rir, o vídeo é assustador.
Nos sentimos OS TROUXAS.
Prova o quanto estamos envoltos por um marketing político que sabe muito bem do que faz e, pelo visto, aplica fórmulas e manuais bem testados anteriormente, apolíticos e, como já desconfiamos, não com o propósito de discutir ideias, mas de fisgar o eleitor.
Seguem um padrão em torno da norma:
1. Tratar o eleitor como um consumidor.
2. Tratar o candidato como um produto.
3. Lembrar que, na democracia, a política gera lucro.
Roteiro é de Marcos Piangers, Pepe Mendina, Eduardo Mendonça, Thiago Prade
Atores: Eduardo Mendonça, Thiago Prade, Marcos Piangers, Adriano Ramos, Donato Oliveira, Bruno Krieger, Douglas Dias. E o sensacional Jingle é de Marcos Piangers, Eduardo Mendonça, Pepe Mendina.
Dá uma olhada:
October 5, 2012
aqui a neurose é profunda
Hoje estreia TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA.
Comemora os 30 anos do CPT, Centro de Pesquisa Teatral do SESC Consolação, mais do que uma escola de teatro, mas uma frigideira de ideias, talento, debate sobre o Brasil, filosofia, física e o homem do futuro.
Centro comandado pelo mestre, o veio ANTUNES FILHO, responsável pela renovação do teatro brasileiro.
E os 100 anos do nascimento de Nelson Rodrigues.
O reencontro é explosivo.
Foi ANTUNES que, nos anos 1980, recuperou NELSON do ostracismo ideológico a que foi submetido por suas opiniões desastrosas sobre o regime militar, em que dizia que não havia tortura, enquanto seu filho sofria nas masmorras de uma prisão política.
Ele ironizava a esquerda de batina que combatia a ditadura e, ao mesmo tempo, era visto cumprimentando Médici no Maracanã.
Jogado na fogueira com a ascensão dos movimentos feministas, NELSON passou a ser considerado um autor secundário, reacionário, antiquado e careta, diante da revolução dos costumes e dos direitos civis que avançava também pelo Brasil.
Suas mulheres histéricas, sexualmente conflituosas, numa sociedade que as dominava, o incesto reprimido, a pedofilia, os tabus da classe média ressaltam na obra de NELSON e incomodam.
Sua carreira internacional nunca decolou. Mas no Brasil entendemos bem e até nos identificamos com suas neuras.
São mais profundas do que os manuais do correto e errado. Fazem parte da antiga guerra entre edo e superego, instinto e cultura, desejo e consciência social, ser ou não ser.
Independentemente do que os outros iam pensar, ANTUNES passou a remontar NELSON durante a ruptura do regime militar brasileiro, a reconstrução dos movimentos sociais e a campanha das DIRETAS JÁ, para provar o quanto fomos estúpidos em boicotá-lo e o valor e a profundidade das suas obras- “Nelson Rodrigues, O Eterno Retorno” é de 1981, e “Nelson 2 Rodrigues” de 1984.
A partir de então que o PORNOGRÁFICO passou a, ironia, ser uma unanimidade: o maior autor de teatro brasileiro.
Sábato Magaldi enquadrou a peça sobre o rico que após a morte da esposa é levado a conhecer uma prostituta como uma tragédia carioca.
FICHA:
Adaptação e Direção: Antunes Filho
SESC Consolação
Rua Dr. Vila Nova, nº 245
Estreia Dia 05 de outubro, sexta-feira, às 21h.
Temporada de 05/10 a 16/12.
Sextas e sábados, às 21h. Domingos, às 18h. Exceto dias 07 e 28/10
Não recomendado para menores de 16 anos
Preços – R$ R$ 32,00 [inteira]; R$ R$ 16,00 [usuário inscrito no SESC e dependentes, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante] e R$ R$ 8,00 [trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no SESC e dependentes]
Duração – 60 minutos
Escreveu Sebastião Milaré:
Vendo o ensaio na sala munida de escassos elementos cênicos e luz normal, nota-se o pensamento do diretor manifestado no gesto exato e na voz precisa dos atores, que vão desvelando aos olhos e à sensibilidade do espectador o delírio de Geni na situação limite, dentro da qual o Poeta organizou sua narrativa dramática. Nada ali é excessivo. Sequer as referidas lembranças de incursões anteriores, somadas a outras mais, como as prostitutas seminuas em cortejo pagão no casamento de Geni, excedem os contornos dessa escritura cênica minimalista. Pelo contrário, as imagens se constituem e se movimentam no âmbito do pensamento. Mas não para ilustrá-lo, somente para torná-lo matéria visível. As citações abrem espaços, fendem as paredes da estrutura do drama pessoal fundindo-o ao drama coletivo. Brechas por onde passeiam arquétipos, tirando as situações do prosaico e redimensionando-as no plano das imanências, onde o efêmero digladia com o eterno, o profano copula com o divino, a aparência da coisa é apenas a indicação de infinitas possibilidades.
O que detona a ação é a palavra. Vislumbra-se aqui o principal cavalo-de-batalha de Antunes Filho em seus processos criativos com os atores do CPT. Como tornar a palavra funcional preservando-lhe os sentidos simbólicos e sem lhe castrar as contradições? Como emitir a palavra com decisão e precisão sem torna-la automática, mas plena de significados ocultos? Tudo começa na preparação do corpo, pois ele fala antes das cordas vocais serem acionadas, e culmina na ressonância, onde a palavra se libera sem constranger o corpo em seu contínuo discurso mudo. Entre uma coisa e outra está o profundo entendimento do universo poético em questão. Sem dúvida na longa pesquisa de modos expressivos e técnica vocal, desenvolvida no CPT, textos de Nelson Rodrigues apresentavam-se como exemplos e desafios. Frequentemente deparamos com encenações de obras de Nelson Rodrigues onde os criadores se deixam levar pelo pitoresco das expressões e situações, banalizando as palavras e ignorando os abismos que nelas se ocultam. Pode até ficar “engraçadinho”, mas nada tem a ver com a poética vulcânica de Nelson. Nela a palavra é arma de difícil manejo, mas letal, em todos os casos. E é para os abismos das palavras que Antunes conduz seus atores nesta versão de “Toda Nudez Será Castigada”.
Na verdade, a palavra do poeta sempre foi matéria-prima para suas criações cênicas. Todavia, ao se examinar as muitas montagens que realizou a partir de obras de Nelson Rodrigues, evidencia-se a sua “circum-ambulação” em torno do objeto, na busca impenitente de alcançar os significados mais profundos. Como meio de questionamento sobre a matéria, às vezes permite-se também a associação livre, mas sem abandonar os movimentos circulares. E da associação livre, surgem imagens referenciais, que desembocam em formas estéticas emblemáticas. Curioso observar, por exemplo, três abordagens à “A Falecida”, com resultados formais, estéticos, diversos, mas movidas pelo desejo de apreensão da essência poética. A primeira é de 1965, com alunos da EAD, e estava presa a conceitos do teatro psicológico, realista, embora com traços de ruptura. A segunda, no “Paraíso, Zona Norte”, resolvia-se em ambiente gótico agitado por arquétipos, com claras referências (associações livres) ao inconsciente coletivo. A terceira, cujo título completou-se por irônico “Vapt, Vupt”, resolvia-se na linguagem pop. Em todas elas, no entanto, a busca mais profunda do sentido expresso (ou oculto) nas palavras prevalecia sobre a forma, ou ia para além da forma. Agora, em “Toda Nudez Será Castigada”, as imagens referenciais surgem como licenças poéticas colocadas sobre o discurso cênico detonado pelas palavras do texto, e a “circum-ambulação” atinge o núcleo do objeto.
O espaço aparentemente vazio está pleno de pulsações. Não apenas o drama de Geni se manifesta no tablado, mas o drama humano. Anseios e frustrações criam o cenário de angústias e descaminhos, atmosfera densa, labirintos gerados pela fantasia e pelo medo de cada um. Não há salvação possível a esses seres que buscam a remissão por caminhos tortos ou por meios sórdidos. A essência de Nelson Rodrigues é assim revelada pelo artista que compreendeu como ninguém a sua natureza poética. Por isso, dentre tantos eventos e encenações em homenagem aos cem anos de Nelson Rodrigues, a montagem de “Toda Nudez” por Antunes Filho e atores do CPT ganha especial relevo. Dá-se ali o diálogo sobre a condição humana, estabelecido por poetas que se entendem e se complementam, pois um é da escrita e outro é da cena.
+++
Ela pode não concordar, mas acho FERNANDA YOUNG uma das muitas herdeiras de NELSON.
Abre seu arquivo de neuroses íntimas-femininas sem pudor.
Explora no romance, no teatro e na TV as doenças do isolamento afetivo, dos choques dos pensamentos, os humores numa vida que, nos perguntamos sempre, não faz sentido, o vazio da classe média urbana, que não tem relevância histórica e social nenhuma, mas apenas um dia a dia a preencher, suportar, não enlouquecer.
As pequenas bobagens do cotidiano viram grandes questões- segredo da boa literatura.
Sempre gostei de seus livros, amo as séries de TV que escreve com seu marido ALEXANDRE MACHADO [OS NORMAIS, OS ASPONES, MINHA NADA MOLE VIDA], e cá está lançando mais um, A LOUCA DEBAIXO DO BRANCO [pela Rocco].
October 4, 2012
o pior da democracia
No debate de ontem entre candidatos à Presidência Americana na UNIVERSIDADE DE DENVER [alô, reitoria da USP, lá eles fazem debates nas universidades], vê-se o amadurecimento democrático e a sua dependência da mídia.
O formato foi bem simples.
Foram 6 temas de economia previamente escolhidos pela internet.
1 mediador apenas conduziu o debate ininterrupto, em que um candidato, sim, DEBATEU com outro.
Cada 1 tinha 2 minutos de fala, seguida de réplica e tréplica etc.
Não havia jornalistas fazendo perguntas polêmicas como legalização do aborto, drogas, eutanásia, fé em Cristo, que podiam constranger um candidato, nem a vida PESSOAL de ninguém foi abordada.
Também não tinha candidato aventureiro perguntando aos que realmente competem, nem dedo na cara, acusação de corrupção e atos ilícitos.
Só se falou de programa de governo: em como criar empregos, cortar gastos, salvar a economia e o sistema de saúde.
Foi 1 debate de discussões internas. A emissora que quis transmitir assim o fez.
Um próximo dia 27/10 da Flórida será exclusivamente sobre política externa.
Aqui passou pela GLOBO NEWS, BAND NEWS, CNN, FOX TV, para se ter ideia da importância.
Mas não na TV Aberta.
Na CNN, um aflitivo gráfico mostrava o humor dos indecisos do Estado do Colorado no mesmo instante do debate.
Antes, suas esposas foram entrevistadas.
Ambas com carisma e charme, nervosas e torcendo pelo desempenho do marido.
Via-se claramente pelo gráfico ilustrado o sucesso que OBAMA faz com o mulherio, especialmente quando fala de saúde.
MITT ROMNEY tem cara de republicano, fala como republicano, seus 5 filhos são exemplos de filhos de republicano, e sua mulher, com quem é casado há décadas, é o estereótipo de uma boa esposa de um republicano.
Falou absurdos como deixar de investir em energia verde [solar e eólica] para investir mais em exploração de carvão e petróleo, em cortar o gasto sem dizer de onde, em privatizar o sistema de saúde dos idosos, que deveriam ganhar vouchers para planos de saúde privados [qual empresa os aceitarão?]
Disse que quer cortar impostos da pequena empresa, da classe média, e discorda do corte de gastos militares.
OBAMA parecia aéreo. Não acreditava na quantidade de besteira que ouvia. Nem em ter que, pela enésima vez, defender seu plano, rejeitado e boicotado pelo Congresso de maioria republicana.
Impaciente, se confundiu.
Disperso, ouvia MITT e não reagia. Não atacou o adversário.
No final, todos se cumprimentaram, sorriram falsamente, e assim é a vida.
PERDEU o debate.
Sua derrota foi unânime.
Na CNN, 67% acharam que MITT ganhou o debate, contra 25% de OBAMA..
Os especialistas de TV, inacreditavelmente, quem primeiro atestaram a derrota, como jurados de um programa de auditório, apesar do nonsense das respostas do republicano.
Debateram o debate como um show, um quadro do AMERICAN IDOL, não se ligaram no fato de MITT não falar coisa com coisa, mas sim de ter se saído melhor, ter sido mais rápido e dinâmico, e do presidente ter esquecido o charme na Casa Branca.
Na terra do show business, eleição é mais um show.
E isso a democracia americana tem de pior: um cara pode ter um programa mais lógico e que funcione na prática, mas perde uma eleição se suar muito diante das câmeras e se seu topete não estiver bem laqueado.
Se o estrago for o suficiente para virar o jogo, já que OBAMA estava com uma liderança confortável nas pesquisas, é a prova de que não se tem mais como defender bons ideais sem uma boa maquiagem, um sorriso canastrão e um rostinho fotogênico.
October 2, 2012
como dar uma dura em si mesmo?
MULHOLLAND DRIVE (Cidade dos Sonhos), de 2001, é um filme que quase ninguém entende.
Dirigido e produzido por David Lynch, causou debates, dividiu opiniões. Uma lista de pistas [clue] para entendê-lo era repassada pela internet.
Só consegui entender o filme na terceira vez que o vi, sozinho e doidão.
Sim, há trechos dele que se parecem com um sonho de uma aspirante a atriz, Diane [Naomi Watts], recém-chegada em HOLLYWOOD.
Que protagoniza uma das cenas mais deslumbrantes, que deveria ser utilizada em escolas de teatro: duas formas opostas de como representar num teste uma mesma fala.
A chave para entendê-lo: na verdade, o real é a menor parte do filme, e o sonho ocupa quase toda a trama.
A ORIGEM, de 2010, de Christopher Nolan, também é um filminho bem intrincado.
Agentes conseguem entrar na mente de outros e roubar segredos guardados até no inconsciente durante o sono.
Invadem sonhos das vítimas e modificam seus projetos pessoais.
Agora é o filme LOOPER – ASSASSINO DO FUTURO, de diretor Rian Johnson, que levanta debates.
Parece inexplicável, mas é até bem amarrado.
Que tal viajar no tempo, encontrar com você mesmo 30 anos depois e, pior, com a missão de matá-lo? Na verdade, parece que esta é a linha dramática, só que o contrário: você viaja no tempo e o reencontra 30 anos mais jovem, com um rifle apontado para você.
Todo mundo aqui é safo o suficiente para saber que se você altera o passado, pode ter problemas lá na frente no futuro. Ou no presente.
JOE (Joseph Gordon-Levitt) está numa decadente cidade americana de 2042, pertence a um grupo de exterminadores treinados e pagos em barras de prata e ouro para matar vítimas enviadas do futuro.
Mas algo o perturba quando se vê na missão de matar a si mesmo 30 anos mais velho (Bruce Wills), que morava na CHINA.
O filme ganha dois narradores.
Um combate e depende do outro.
E protagonizam uma cena em que certamente todos se identificarão: o que você gostaria de dizer para você 30 anos mais jovem, moleque irresponsável que fez esta e aquela bobagem?
Se não entender, cola que te explico.
Se é que entendi.
No mais, descobre-se que alguns vícios do presente permanecem, como a corrupção policial, o desrespeito ao pedestre e o falso romantismo com prostitutas.
A epidemia do crack foi trocada por outra, do colírio alucinógeno.
Parar de fumar ainda é um tormento.
A polícia ainda faz reconhecimento com fotos 3X4 em P&B.
E, o mais surpreendente, o celular super fino, leve e moderno não pega no campo.
Deve ser uma operadora brasileira.
+++
Enquanto isso, graças a um deputado trapalhão do PC do B, que meteu no bico onde não era chamado, TED se transformou na maior bilheteria do País, deixou para trás RESIDENT EVIL: RETRIBUIÇÃO.
Executivos da UNIVERSAL estão rindo até agora do marketing indireto.
Aliás, bem-feito ao deputado moralista.
No mais, o filme é muito bom.
September 28, 2012
Tropicália e nós
Alguns clássicos ainda são remasterizados e relançados em vinil, como Transa do Caetano, destaque nas mega livrarias- quase não existem mais lojas de discos.
Confesso que se eu reiniciasse minha coleção de LPs começaria por ele.
Duas músicas eram reproduzidas como hinos de repúblicas estudantis no final dos anos 1970, que sabíamos de cor e cantávamos nos entorpecendo, bebendo, cada um com um instrumento:
Back in Bahia, de Gil, em que se aumentava no refrão “hoje eu me sinto como se ter ido fosse necessário para voltar, tanto mais vivo de vida mais vivida, dívidas e dúvidas pra lá e pra cá”
It’s A Long Way, do disco que não saía das vitrolas da nova esquerda, Transa, libelo juvenil tão urgente quanto Love Will Tear Us Apart (Joy Division) e Smell Like Teen Spirit (Nirvana).
A esquerda de dez anos antes não entendia “nada, nada!”
Caetano e Gil, sim, mudaram a nossa cabeça para sempre.
Tudo o que queríamos era cantar com os amigos numa jam desafinada: “Hey brothers, say brothers, it’s a long, long, long way, it’s a long, long, long way, long, long, long, long. It’s a long road.”
Se bem que nas repúblicas mais alternativas, ou de drogas mais pesadas, o disco Araçá Azul era o indispensável.
Como numa em que morei, em que um estudante virou padre, dois morreram de HIV [um deles o lindo menino Zé Otaviano, que passa na foto abaixo], outro virou professor de teatro, e eu, hum… ainda com dúvidas pra lá e pra cá.

Campinas -1978
“Eu não queria ir pro festival, não sou escoteiro”, disse Caetano sobre o convite para tocar no Isle of Wight Festival- enquanto amargava o exílio em Londres-, no documentário do amigo Marcelo Machado, Tropicália, daqueles filmes que caras da minha idade choram e saem do cinema com um turbilhão de imagens do passado invadindo a procura do carro no estacionamento, o caminho pra casa e o sono.
Que, como Simonal – Ninguém Sabe O Duro Que Dei, Raul – O Início, O Fim e O Meio, Uma Noite em 67 e Titãs – A Vida Não É Uma Festa, mostra a força desse gênero que, definitivamente, aprendemos a fazer.
Especialmente com a aliança do que temos de melhor, a música.
Numa das imagens, Tropicália resgata os brasileiros subindo timidamente no palco do festival em que tocaram Joe Cocker, The Who, Bob Dylan, Jimi Hendrix, Chicago, The Doors, The Who, Miles Davis, enquanto o locutor informava para centenas de milhares: “Vamos dar boas-vindas a um grupo de artistas brasileiros que não pode se exibir no seu país por motivos políticos.”
Mal sabiam que era “o” grupo de artistas brasileiros que malandramente sintetizava todos eles e vomitava de volta com temperos de forró, bossa nova, samba, batidas de macumba, maxixe, maracatu, fado, frevo, xote, repente.

Unicamp - 1980
September 25, 2012
nossos heróis
Este post vai para o pequeno JUAN, filho do deputado Federal Protógenes Queiroz [PC do B], ex-delegado da PF.
Ninguém é santo, garoto.
Pior que é desses que gostamos, e que ficam pra História.
TED o ursinho camarada
TED é uma das comédias mais divertidas e escrachadas já feitas.
O ursinho é o grande personagem, que passa o dia na TV fumando um narguilé, fazendo piadas politicamente incorretas e xavecando muitas minas, já que é uma ex-celebridade.
Chega pra própria Norah Jones- aliás, Geetali Norah Jones Shankar, filha do indiano Ravi Shankar-, com quem teve um caso no passado, e diz:
“Você continua gostosa, apesar de ser metade muçulmana.”
“Indiana”, corrige Jones.
“Tudo a mesma coisa. Aliás, obrigado por 11 de setembro.”
Escrito e dirigido por Seth MacFarlane, da série de televisão Uma Família da Pesada, é desses filmes que a crítica odeia e a plateia se esborracha de rir o tempo todo.
Além de ser o amigo de 35 anos de John (Mark Wahlberg) que só leva pra roubada, diz que irá reclamar com o fabricante por ter vindo sem o pênis.
Na verdade, o filme traça um perfil cômico [exagerado] da nova geração hedonista que, com complexo de Peter Pan, tem dificuldade para crescer.
Cuja referência para a dancinha do clássico de Bee Gees não é SATURDAY NIGHT FEVER, mas TOP GANG.
O dilema do personagem é o ultimato que a gostosa da namorada Lori (Mila Kunis) dá a John, que convive com seu urso de pelúcia desde os 8 anos- brinquedo ganhou vida quando o dono o desejou um amigo apenas, já que nem o judeuzinho da rua que apanhava de todo mundo quis ser seu amigo.
Parece que, além da crítica, Protógenes, o deputado, também o detestou, sem entender as parábolas de uma obra de ficção, e pede a censura.
No fundo, o filme é até moralista, já que John para de fumar e arruma um emprego decente, dá anel de noivado pra garota e aceita romper com o ursinho camarada.
No mais, não sei se é possível um deputado censurar um filme num Estado democrático.
Talvez na China ele consiga, país que já foi fonte de inspiração para o PC do B, seu partido.
September 24, 2012
politização premiada
Premiação de ontem do EMMY para os melhores da TV mostra a politização dos gêneros.
Drama: A série HOMELAND, sobre um ex-fuzileiro que se converte para o Islã e passa a trabalhar para a Al-Qaeda, faturou os mais importantes prêmios, deixando a série MADMEN comendo poeira.
Curiosamente, a quinta temporada de MADMEN é a mais ousada e para muitos a melhor: soturna, baixo-astral, retrata o início da contracultura e do fim das ilusões.
Mas HOMELAND mereceu cada prêmio, tanto a dupla de atores protagonistas, Claire Danes [que apareceu grávida], como Carrie Mathison, oficial de operações da CIA, e o inglês Damian Lewis, sargento Nicholas Brody, como o de melhor roteiro [apesar de ser uma série baseada noutra israelense].
Filme: Melhor telefilme foi para o impagável GAME CHANGE, sobre a atrapalhada e absolutamente ignorante SARAH PALIN, conservadora radical escolhida para ser vice dos republicanos contra OBAMA na última eleição.
JULIANNE MOORE, quem deu vida à bizarra governadora do Alaska, ganhou como melhor atriz de filme.
A hilária e absurdamente em forma Julia Louis Dreyus [eterna Elaine de Seinfeld], que faz a atrapalhada e inútil vice-presidente americana na série VEEP, da HBO, faturou melhor atriz cômica. Justíssimo.
A série deveria também ter ganho melhor comédia.
Curiosamente, os indicados e o vencedor de melhor programa de “variedades” são todos assentados na sátira política.
Irônicos, pegam pesado na onda conservadora americana, The Saily Show, com Jon Stewart, The Colbert report, Real time with Bill Maher, SNL, Jimmy Kimmel live.
Ganhou o de Jon Stewart.
A TV lá mostra o quanto o país está interessado em discutir seus conflitos internos e externos, os rumos que toma, a crença e descrença pelo Poder.
Inclusive as séries novas, como THE NEWSROOM.
No mais, casamento gay e liberação das drogas continuam em pauta.
Enquanto aqui…
Nem beijinho na tela rolou.
Ninguém fala dela, mas a carioquíssima radicada nos Estados Unidos desde os 7 anos, MORENA BACCARIN, ganharia fácil o prêmio de Mais Gata Série Drama da TV.
Ela faz a esposa do Sargento Brody, de HOMELAND, que tenta trazer o marido para o núcleo familiar, contra tudo e contra todos.
A brazuca é filha do jornalista Fernando Baccarin e da atriz Vera Setta, que atuou no filme O Vampiro de Copacabana, de 1976.
Curiosamente, durante a cerimônia do EMMY 2012 de ontem, transmitido pela sacal WB-TV [a emissora que mais comerciais tem do planeta], o CANAL BRASIL exibia O Vampiro de Copacabana.
MORENA foi colega de escola de Claire Danes.
Mundo pequeno…
+++
Essa WB TV merecia uma blitz da ANATEL ou PROCON.
Está na lista de canais pagos, mas abusa da paciência com a quantidade de comerciais. Como twittei ontem, tem tanto comercial que deveriam nos pagar para assisti-lo.
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