Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 109
December 26, 2012
retrospectiva
O ano foi produtivo em muitas frentes e empacou em outras.
Nenhuma grande estrada foi inaugurada. Nenhum aeroporto, trem.
Dois estádios saíram do papel. Três. Tem o do Grêmio. O primeiro a ser inaugurado. E que não está na COPA. Coisas do Brasil.
Um deles é o MINEIRÃO, do eterno candidato mineiro que não sai do Rio de Janeiro, Aécio, e da banda Jota Quest, que discursou com Dilma na inauguração, deixando Skank e Patu Fu furiosos, e o Clube da Esquina na esquina do esquecimento. Custo: R$ 695 milhões.
Kleiton & Kledir, assim como Engenheiros da Hawai, não tocaram na inauguração do estádio de PoA. Porque o forte lá é a Literatura. Eduardo Peninha cantou Legião Urbana com um violão, acompanhado de Galera, Laub, Fabrício Carpinejar. Depois cantaram o hino. Do Rio Grande do Sul.
L. F. Veríssimo, colorado doente, preferiu ser internado numa UTI a ouvir menção à inauguração do estádio do time rival.
Dizem que trocou o mantra “foi pênalti no Tinga” para “não liguem a TV”.
Aliás, estádio agora se chama arena.
Busão agora se chama BRT.
Obras de mobilidade urbana serão, curiosamente, inauguradas depois da Copa- coisas do Brasil- como o trem-bala, o monotrilho Congonhas e trem de São Paulo – Guarulhos. Torcedores continuarão a pagar mais de 150 pratas por um táxi entre Guarulhos e Centro. Se cobrarem o que manda o taxímetro.
Aliás, 2013 será o ano em que faltará um ano para a Copa do Mundo.
REBELO continua garantindo os prazos. Puxa, se REBELO falou, podemos dormir tranquilos.
Seu colega, GUIDO MANTEGA, não acertou UMA projeção de crescimento neste ano.
Dizia que cresceríamos 3%, crescemos 1%. Incrível como um cara desse não é demitido.
Imagine se, na sua empresa, o gerente financeiro erra todas as projeções…
2012 foi o ano em que 210 anos de história viraram história, Dona Canô e Niemeyer, ano em que a Classe C descobriu o SUV, o LED, o tablet, as férias na Serra Gaúcha, a neve em SC, os atrasos em aeroportos, perda de bagagem, fila na entrada e nos táxis, atrasos nos vôos, cancelamentos inexplicáveis, e sentiu saudades das rodoviárias.
Aliás, 2013 será o ano em que não falaremos da ascensão da Classe C. Já que tudo será uma mesma classe. C.
Da família Diniz, em briga com Casino [se lê “Casinô”], a Eike Batista, que venderá rifas de sua petrolífera falida para pagar o amassado no para-choque do “Pois É” do filho.
2012 foi o ano em que japonês aprendeu a falar “vai culíntia”, “desce polcoo” e “chupa Chelsi”.
Foi o ano em que a apagadinha da Sandy virou furacão, uma catarina leiloou a virgindade, pelo preço de uma empresa de Eike Batista, Camaro Amarelo virou sinônimo de carro brega sertanejo universitário, e o Uruguai, sim, aquele país vizinho com menos gente do que o ABC paulista e uma economia do tamanho de Osasco, se tornou o país mais moderninho do Cone Sul.
O ano em que os paulistanos se livraram de Kassab, o pior avaliado prefeito já eleito e o que mais escureceu a cidade. Ou melhor, ergueu sombras.
O problema agora é saber o que fazer com as torres de escritórios de mais de 30 andares e shoppings enormes construídos em ruas sem saída, praças, parques e bairros tombados. E como reconstruir casarões históricos demolido. E melhorar o trânsito. Prefeito que conseguiu deixar os relógios da cidade apagados durante toda a sua administração. Talvez uma tática para não vermos o tempo passar, e a temperatura subir.
De minha parte, glicemia aumentou, colesterol baixou, juntas endureceram e continuo teimoso a ser o único da família a usar PC, considerar Steve Job o maior vilão do mundo contemporâneo e achar que Bill Gates era fogo de palha.
Continuo lendo [e lançando] livros em papel. E contando com família, amigos e amigas gatas para divulgar [que não revelam o cachê].
Fui ver filmes no cinema [fazendo cinema]
Sonhando com novidades tecnológicas
Viciado em [fazer] teatro

peça IL VIAGGIO
E me surpreendendo a cada dia. Boas férias. Em fevereiro volto. Já que o mundo descobriu que os Maias é que erraram e se acabaram antes.
December 22, 2012
já que o mundo não acabou…
Saiu hoje OE – A edição do Fim do Mundo,
Revista nova quem te contribuição minha, do Jun Matsui, Rui Mendes, Alex Antunes, Jay 77, Alexandre Vianna, Zé Carratu, Douglas Prieto, Fernando Costa Netto, André Lion, Mauricio Lima, Fabio Ribeiro, ilustrações de Indio San, Sthephan Doitschinoff, Richard Kovács e+…
Escrevo sobre a incoerência e a burrice das propostas de censurarem o grande MONTEIRO LOBATO.
Ou melhor, de “enquadrarem” alguns de seus livros.
Estupidez tão grande que abrirá um precedente sem fim, o de se revisar a cada nova geração obras antigas que usam termos silenciados pela patrulha do politicamente correto.
Está-se tirando uma das belezas da literatura, que é o de permitir múltiplas interpretações, conhecer o passado. E duvida-se da capacidade de uma criança de analisar uma obra de ficção, interpretar cenas que usam uma linguagem não mais aceita.
“Negrinha era uma pobre órfã de 7 anos. Preta? Não, fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa todos os dias, houvesse ou não motivo”, é o parágrafo polêmico do livro NEGRINHA.
Descobri que foi uma entidade carioca de 2 sócios, o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental, que pediu que as obras NEGRINHA e CAÇADAS DE PEDRINHO não integrem o programa do Ministério da Educação que distribui livros a bibliotecas escolares. Para o Instituto, que impetrou no STF um mandado de segurança questionando a aquisição do livro, há elementos racistas na obra
Na OE, personagens de Monteiro, já aposentados, tiram a roupa em protesto.
Já que o mundo não acabou, estou com eles.
Olha o Visconde aí:
December 21, 2012
fim do mundo é…
Primeira vez na vida que ri de uma matéria do Jornal Nacional. Depois de ser tratado como Hommer, ouvir repórteres gritando, me fazendo chorar e falando comigo pau-as-da-men-te, como se eu fosse um bêbado surdo, especialmente na Previsão do Tempo.
Aliás, a matéria foi feita para rir, num timing perfeito para a piada ser contada.
Foi ontem, no final da edição, quando WILLIAM BONNER chamou o correspondente do Japão para perguntar se estava tudo bem por lá. Apenas isso.
“Sim, nenhuma bola de fogo caiu do céu, tá tudo certo por aqui”, foi a resposta.
Enfim, um pouco de humor no sisudo e já na meia-idade jornal.
Porém, se a previsão é do CALENDÁRIO MAIA, foi só a partir da meia-noite de hoje [horário Ciudad de México] que ela começou a valer. E está valendo ainda.
Temos horas para saber se os Maias eram visionários ou preguiçosos e simplesmente pararam o calendário em 2012 por exaustão. Ou se acabou a pedra entalhável na área.
Para garantir, porque a rapaziada não perde uma, à noite muitas festas se agitam.
Já escolhi a minha:
December 20, 2012
inexperiência premiada
Em toda campanha eleitoral, se popularizam figuras que passariam despercebidas se não se engajassem em programas partidários e não aparecessem no horário de propaganda eleitoral gratuita.
Na última se popularizou a “bonitona do Chalita”, como era conhecida. “Você viu a gata que é a vice do Chalita?”, diziam eleitores em bares, cabeleireiros, rodas de amigos, almoços em família.
Ela é a ginecologista Marianne Pinotti, filha do falecido deputado José Aristodemo Pinotti, formada pela Universidade São Francisco, de Bragança Paulista.
Atuou durante 7 anos como responsável pelo setor de câncer de mama do Hospital Pérola Byington, em São Paulo, e assumiu a Secretaria Municipal da Saúde de Ferraz de Vasconcelos, cidade da Grande São Paulo.
E, agora, foi escolhida pelo prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, para a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida. Uma dessas secretarias que, erroneamente, servem para a governabilidade e distribuição de apoios e cargos aos aliados.
Erroneamente, pois é importantíssima.
Marianne tem experiência zero no assunto, nunca foi vista nos encontros e congressos da militância.
Já a Secretaria engloba a CPA, Comissão Permanente de Acesso, que regula e fiscaliza leis de acesso e banheiros, rampas e calçadas, recebe denúncias de irregularidades, está em contato com a Secretaria de Transportes para regularizar os ônibus e táxis acessíveis, cria programas de treinamentos em escolas e repartições públicas, cuida do mobiliário da prefeitura, fiscaliza calçadas, terminais, shoppings, cinemas, teatros, casa de shows, bares, farmácias, agências dos Correios, estádios de futebol, projeto ATENDE, cartão de estacionamento DEFIS e para IDOSO, escolhe as vagas na cidade, cuida da sua manutenção, fiscaliza LEIS DAS COTAS e outras coisinhas “tolas”.
É uma Secretaria tão estratégica que funciona no prédio do gabinete do prefeito.
E que acaba de ser entregue a uma militante do PMDB absolutamente desconhecido do meio.
A ONG CVI-SP, que teve assento permanente na CPA, responsável pela criação dos programas acima [projeto ATENDE, cartão DEFIS, fiscalização em locais de reunião, táxis acessíveis], acaba de soltar um manifesto extravasando a sua revolta.
Sua e de toda a militância.
Amigos, colegas e companheiros de deficiência,
Com a indicação da médica Marianne Pinotti, candidata a vice-prefeita na chapa de Gabriel Chalita, para assumir a pasta das Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida na cidade de São Paulo, o PT e seus aliados, a exemplo do PSDB e coligados, infelizmente deixam claro que não possuem em seus quadros de filiados ou colaboradores pessoas “com deficiência” que tenham competência profissional e política suficiente para merecer a confiança do futuro prefeito quanto a desenvolver políticas públicas aos seus próprios pares.
Outra leitura é constatarmos que, em pleno século XXI, aos olhos dos governantes, e de pessoas com deficiência que se submetem a essa conduta, nós, cidadãos brasileiros que temos algum tipo de deficiência, ainda somos indiscriminadamente a própria deficiência e necessitamos incondicionalmente de ajuda, supervisão médica e até mesmos de tutela.
Seja como for, fico imaginando como seria a reação da sociedade se para uma secretaria voltada às políticas para pessoas negras fosse indicada uma pessoa branca, ainda que militante e defensora da integração racial, ou se uma secretaria de políticas para as mulheres tivesse como titular um homem, mesmo que um médico ginecologista.
Sempre fui crítico para com essa situação e, como militante há mais de trinta anos pela garantia dos direitos das pessoas com deficiência e ativista pela implantação do movimento de vida independente em nosso país, não posso deixar de me sentir incomodado com a passividade da maioria dos meus pares que, seja por acomodação, falta de envolvimento político, ignorância, ou por conveniências pessoais, empregatícios e financeiras, se calam e até mesmo apoiam esse retrocesso.
Certamente o fato de uma pessoa possuir alguma deficiência e ser filiada a um partido político não legitima sua capacidade profissional e muito menos seu caráter para comandar tamanha tarefa, como também não cabe aqui questionar a competência e o comprometimento daqueles que, mesmo sem possuir deficiências, ocupam ou virão a ocupar essas pastas, tanto nos governos municipais quanto estaduais. Apenas considero falta de sensibilidade e visão política, para dizer o mínimo, manter a representatividade da promoção de políticas públicas para esse expressivo segmento da sociedade – hoje cerca de 23% da população segundo o senso do IBGE 2010 – sob o comando de pessoas que não vivem na própria pele as consequências impostas pela morosidade na execução de ações efetivas que garantam na prática as obrigações estabelecidas nos textos legais, tais como falta de acessibilidade ao transporte, educação, emprego, saúde, cultura, esporte etc.
Sem querer ser dono da verdade, penso que é mais fácil discutir sobre a fome quando se está de barriga cheia! Guardadas as proporções, entendo que discursar sobre as necessidades das pessoas com deficiência e depois, ao término do evento, sair andando, ouvindo, enxergando e convivendo sem maiores problemas com as barreiras arquitetônicas, sensoriais e atitudinais, que são explícitas em nossa sociedade, seja a mesma coisa.
Então, lanço o desafio para que todos reflitam sobre o assunto e, quem sabe, possamos contribuir para a melhora da conduta ética no meio político a partir da nossa própria forma de pensar e agir.
Saudações.
Edison Passafaro
Fundador do Centro de Vida Independente Paulista
December 17, 2012
o urbano selvagem
Tenho a sensação de que a maioria que me atende preferia desabafar:
“Não estou aqui porque quero, mas porque pre-ci-so.”
E quanto maior a cidade, mais indiferente fica o morador. Como uma defesa.
Mais indiferente a problemas que “não são da minha esfera”. Como há milhões circulando diariamente, se você reclama atenção exclusiva num guichê, uma fila de gente que aceita as regras se forma atrás. Portanto, se você acredita que há problemas no serviço oferecido, nem vem, pois quem fica do outro lado do balcão, porque pre-ci-sa, não porque adora, grita sem muita consideração: “Próximo!”
Como aprendemos na infância a expressão precisa de um reacionário, os incomodados que se retirem.
Parece uma contradição, afinal os sumérios inventaram as cidades, os gregos as transformaram em Estado, os romanos as aperfeiçoaram e popularizaram soluções engenhosas de engenharia para civilizar tribos e antigos aldeões selvagens.
A burocracia estatal se firmou como solução para problemas criados pelo convívio em massa em espaços apertados. Problemas que não tínhamos quando morávamos em cavernas, tribos, aldeias.
No ambiente labiríntico da burocracia estatal, a relação atendente&nós é tensa, ele está lá porque pre-ci-sa e ganha direitos específicos, imunidades, uma aposentadoria infinitamente mais justa que a nossa, privilégios do monopólio e estabilidade questionada do serviço público.
Muita gente não está onde está porque quer é um paradoxo urbano com que somos obrigados a conviver- a não ser que nos mudemos de chapéu e cuia para casa do mesmo, onde Judas perdeu as botas, para plantar batatas, bananeiras e vermos se tem alguém na esquina.
A maioria gostaria de estar numa praia, numa rede, numa ilha deserta, num resort luxuoso, ou numa rede de uma praia de um resort luxuoso de uma ilha deserta em que só se chega de navio, ou até numa espaçonave, não num balcão atendendo a queixas de sujeitos que desconhecem leis, protocolos, imprevistos.
Estou aqui, pre-ci-so desse emprego, fiz concurso, fui indicado, escuto amigavelmente suas reclamações despropositais, para apontar com toda paciência e precisão o guichê correto, documento que falta, formulário a ser preenchido. E chego em casa afônico de tanto: “Próximo!”
No metrô, instalaram novas, como chamam, catraca?
Mas não faz “cá-tra-cá” quando acionada. São duas lâminas de vidro verticais muito ameaçadoras, nada onomatopeicas. O sujeito enfia o bilhete. Elas abrem. Se não passar rápido, elas fecham, como uma tesoura, cortam você em dois. Não fazem “cá-tra-cá”, mas “vupt”. Intimidação que começa na entrada. “Tente me enganar, que te quebro!”
O vupt pode virar crau!
Hora do rush.
Depois de ultrapassarmos dentes afiados que excluem não pagantes, descemos pelo esôfago do transporte nada acolhedor, nos apertamos na plataforma até chegar nosso trem, o duodeno. Com movimentos peristálticos, viajamos pelos canais do intestino delgado, baldeação para o grosso, para sairmos do outro lado, noutra estação, no orifício de outro bairro, passando pelo esfíncter que dessa vez parece mais amigável e faz um vupt suave como um pum.
Andar e ser tratado diariamente como um toco de fezes deixa qualquer um abominavelmente selvagem.
Como em Londres, que tem o notório “mind the gap” (atente ao vão), o sistema de som dos metrôs daqui deveria, entre um quarteto de Mozart e uma ária de Bach, nos acalmar com uma voz doce, frases positivas e de cunho social, “quem espera sempre alcança”, “seja justo e dê a passagem”, “calma, você vai chegar em tempo”, “feche os olhos e pense numa rede de uma praia duma ilha deserta”, “conte até dez, respire fundo”, “acabamos de ouvir Concerto de Brandenburgo, allegro”.
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Interrompi um Jonathan Franzen no fim depois que me disseram que sua sombra, David Foster Wallace, é melhor. Fui checar. Seu Ficando Longe é realmente fascinante. Sua neurótica meticulosidade e capacidade de descrição lembram o nosso Renato Pompeu (Memórias de uma Bola de Futebol). A precisão em descrever o sofrimento de uma lagosta cozida viva, uma privada a vácuo, uma jogada de Federer, com tantos detalhes, humor e como somos ridículos, também explorado por Franzen, colocam o cara na lista daqueles poucos escritores que pretendemos ler tudo!
A insistência com longos pés de página pode se transformar num pé no saco se você está em dívida com o oculista. Wallace fragmenta seus textos com uma média de duas notas de pé de página por página, notas que poderiam ser inseridas na narrativa. Algumas têm três páginas. Uma é simplesmente “Dãã”. O pior é que são imperdíveis.
Como a do Sorriso Profissional, praga americana no ramo da prestação de serviços: “Sorriso que não chega a envolver os olhos de quem sorri e que não significa nada além de uma calculada tentativa de promover os interesses daquele que sorri ao fingir que ele gosta da pessoa para quem sorri.”
Não consigo apontar se Wallace é melhor que Franzen. Do segundo já li romances tijolos e contos. Romance será o quesito final. Criar personagens, narrar, bolar tramas e conflitos… É a diferença entre pintar um quadro e um teto de igreja. O romance mais cultuado de Wallace, Infinite Jest, ainda está em processo de tradução e será publicado em 2013. Aí sim a comparação será com tira-teima.
Se eu fosse o editor manteria o título. “Jest” é algo como tirar um sarro, uma onda. Tomara que não usem Tirar uma Onda Sem Parar, Zoando Infinitamente. Já não basta o que fizeram com Sallinger e o seu Raise High the Roof Beam, Carpenters. Na Brasiliense virou Pra Cima Com a Viga, Moçada. Quando passou para a Cia. das Letras, virou Carpinteiros, Levantem Bem Alto A Cumeeira. Não dá… E The Catcher in the Rye? Tiraram a sonoridade e beleza. Virou O Apanhador no Campo de Centeio. Por que não Para Onde Vão os Patos do Central Park no Inverno?
Não é preciso ser literal. Feliz Ano Velho, que fez 30 anos, em inglês virou, Happy Old Year, em espanhol, Feliz Año Viejo, em italiano, Feliche Anno Vechio. Mas em alemão não faria sentido. A editora Rowohlt mudou para Sprung in der Sonne (me parece que é Um Mergulho Para o Sol), que saiu com uma ilustração na capa da Avenida Paulista com coqueiros e um sol de rachar. Blecaute virou Jenseits der 4 Jahreszeit, que não tenho a menor do que significa. Em tcheco, virou Stastny Stary Rok. Melhor nem saber o que é.
Sinto falta da prática do Sorriso Profissional no Brasil.
O Sorriso Estou Aqui Porque Preciso, do paulistano, o Está Falando Comigo? Profissional, do carioca, e o Vai Com Calma Meu Rei, do baiano, são sinceros, mas agregam o valor do Custo Brasil.
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E ano não acabou.
Tem coisa rolando ainda.
December 16, 2012
nice to meet you
December 14, 2012
memórias de um escritor sem memória
JÁ contei essa história algumas vezes, mas talvez ela tenha se modificado na memória, alguns neurotransmissores a revelam de maneira diferente, sem contar que posso ter contado de uma maneira que me favorecia demais, já que a insegurança de um escritor o leva a valorizar e exagerar pra cima os fatos ocorridos, e depois de velho desistimos de traçar um perfil interessante de nós mesmos, que, com o fim das utopias [adoro essa desculpa para darmos desculpas do por que só agora somos sinceros], nada mais é do que o perfil de um cara comum, que deu sorte de conhecer um bom editor, com um bom capista, uma boa divulgação e distribuição, e resenhistas que acordaram de bom humor, ou beberam um bom uísque na noite anterior- na época em que jornalistas culturais bebiam uísque-, ser hábil com as palavras, contar boas histórias, cheias de truques narrativos em que o leitor cai, como público de ilusionistas.
Pois faz exatos 30 anos que fiz minha primeira noite de autógrafos.
Eu era um coitado estudante cadeirante duro. E tudo mudou.
Foi no SESC POMPEIA recém-inaugurado, num corredor. Pico que eu mesmo escolhi, fui lá, agendei e, como eu era um grande ninguém, me deram o corredor que liga o auditório principal, e uma mesa.
Vejo nas fotos que quem compareceu em massa foi a minha turma da faculdade [de Comunicações da USP].
Apareceram amigos do meu pai, da família e A família, a máfia italiana [por parte de mãe] e a portuguesa [por parte de pai].
Veja o arquiteto JOAQUIM GUEDES e LILIANA, saudosos, que com certeza foram checar a obra da colega LINA BO BARDI e aproveitaram para dar um abraço na família e no garotinho que viram crescer.
Acho incrível eles terem se descolado até a antiga fábrica da zona oeste para o lançamento que tinha tudo para dar errado, de um livro que descaradamente jogava com o nome do grande clássico de Rubem Fonseca, FELIZ ANO NOVO, de uma editora que lançava uma coleção esquisita de livros mais finos [12 x 21], Cantadas Literárias, para caber no bolso, sem orelhas para economizar, de autores que ninguém tinha ouvido falar, como REINALDO MORAES, CAIO FERNANDO ABREU, ANA CRISTINA CESAR, e depois lançaria RADUAN NASSAR, ALICE RUIZ, tantos outros, abrigaria a obra de WALT WHITMAN, D H LAWRENCE, de tantos outros…
A maioria foi para ver o prédio reformado pela grande LINA.
Meus amigos da ECA, porque o vinho branco alemão era grátis, cujo logo estava no convite.
E família tem que aparecer em peso, pois quem não vai é logo alvo de fofocas e se arrepende de orelha quente de perder a chance de falar mal dos primos, tios, cunhados, noras, genros e de todos os outros.
Aí está a noite de 14/12/1982 em que lancei FELIZ ANO VELHO. Ou teria sido no dia 15?
Veja o colega jornalista WILLIAM BONNER, de óculos e barba, tentando se aproximar para dar “boa-noite”. Desde aquela época, WILLY, como o chamava, era obcecado em dar boa-noite. O jornalista VITOR PAOLOZZI me protege.
Veja que BONNER dribla PAOLOZZI e outros ecanos e se prepara para dar o bote, digo boa-noite. A editora MARIA EMÍLIA põe a mão na cabeça se perguntando o que estou fazendo aqui?
Veja a ex-namorada do autor, FERNANDA, quem leu os manuscritos, o demoveu da ideia de imitar KAFKA e sugeriu imitar SALLINGER, lembrando o nome do sujeito da fila, já que o jovem escritor demonstrava ter um precoce problema de memória. Que se agravou depois do VERÃO DA LATA. Passa atrás BIA ABRAMO, jornalista que costumava beber uísque. NA época, bastante até.
Veja o jovem político EDUARDO SUPLICY angariando simpatia de eleitores e da eleitora saudosa MILU.
Também lancei o livro no RIO, na antiga DAZIBAO, para amigos cariocas e família, com a presença de FERNANDO GABEIRA.
Que nem fez uma presença.
A charmosa livraria em Ipanema sumiu anos depois.
Aliás, a editora também.
E no RECIFE, na antiga LIVRO 7, em que apareceu ALCEU VALENÇA, pernambucano mais ilustre da época, além de GIVANILDO e Antônio José da Silva Filho, mais conhecido como BIRO-BIRO.
Sim, como todo paulista que se preza, tenho uma turma de amigos pernambucanos.
Livraria que também sumiu, mostrando o quanto o autor é pé-quente.
O bacana de ser famoso é que você conhece pessoas famosas, como DENTINHO
Do meio artístico, como GEISE.
Visita lugares incríveis, como o começo da TRANSAMAZÔNICA, em ALTAMIRA
Viaja pro estrangeiro e faz coisas incríveis, como alimenta gaivotas com ração para gatos em MIAMI [com amigo CLAUDIO TOGNOLLI].
Se pegos, seríamos deportados.
Faz programa de índio também, claro.
Mas tem seu preço, como pousar para fotos com escritores iniciantes, que se aproveitam da minha fama, como esse colombiano que não largava do pé de minha guia cubana, um tal de GABO.
December 12, 2012
12/12/12
Bressane convida.
JÁ estão dizendo que é a melhor graphic novel do ano:
Caros, nesta quarta-feira, 12 de dezembro de 2012, lançamos a graphic novel V.I.S.H.N.U., cujo roteiro escrevi sobre o argumento de Eric Acher para a arte de Fabio Cobiaco. Editado em 29 x 29 cm, todo em preto e branco, o livro tem 222 páginas, um quilo e meio, e é publicado pela Companhia das Letras.
O evento começa às 19h, no Espaço Revista Cult (rua Inácio Pereira da Rocha, 400, Vila Madalena, SP), com direito a exposição dos originais de Fabio Cobiaco, e, a partir das 23h, se transfere para a Mercearia São Pedro (rua Rodésia, 34, Vila Madalena).
Mais informações:
http://www.facebook.com/events/304650116312095/
http://companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=65022
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=30361837&sid=220198190141210384535662353

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Já sexta, sábado e domingo:

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E nesta semana encerra a temporada uma das melhores peças do Senhor Mario Bortolotto, imperdível:

December 11, 2012
olhares de cuba
A Galeria f2.8 apresenta a mostra “Olhar Cuba”: a primeira impressão de Havana de 3 diferentes fotógrafos: FRÂNCIO DE HOLANDA, RICARDO LIMA E TOUCHÉ
Estiveram juntos em abril deste ano em CUBA representando o Brasil na Segunda Jornada Latino-Americana de Fotografia.
33 imagens em preto e branco e colorido de um dos lugares mais curiosos, místico e preso ao passado do mundo.
December 7, 2012
o túnel
PLINIO MARCOS, um túnel.
Da Rodovia dos Imigrantes, a bela obra de engenharia futurista que cruza a Serra do Mar e desemboca em SANTOS, onde nasceu o ator-escritor-jogador de futebol-provocador.
No caminho inverso dos descobridores, Bandeirantes e colonizadores, dos escravos e imigrantes europeus, árabes e orientais que construíram o Brasil. E por onde desce nossa riqueza para ser exportada.
Linda homenagem daquele que consideramos um dos maiores dramaturgos brasileiros, mas que preferia ser apresentado como “palhaço”.
No entanto, não deixo de pensar nas referências e relações entre o amigo divertido, sagaz e muito fiel a seus princípios, que morreu em 1999, e o sentido de um túnel: atravessar obstáculos rochosos das travas da consciência; levar o sujeito por um atalho de um ambiente para outro; revelar novas paisagens; encurtar através do mais difícil a ida ao passado; buscar no interior da terra sentidos e explicações…
Mas me cansa essa mania que tenho de procurar associações quando queremos homenagear um amigo, buscar palavras precisas e lustrosas.
Talvez PLINIO combine de alguma maneira com um túnel.
Assim como PAULO AUTRAN também ganhou o seu na entrada do AEROPORTO DE CONGONHAS. Sutil como ele representava. Fundamental como era.
PLINIO tem mais cara de PRAÇA. Em que eventualmente erguem lonas de circo. E que à noite vira ponto das putas, travecas, viciados, bichas degeneradas, anãos de caralho grande, pés de chinelo, sambistas, bêbados e gigolozinhos escrotos do mundaréu.
E em que às manhãs abrigasse uma feira livre.
Porém, que TUNEL seja. Como já é CENTRO CULTURAL, TEATRO e muitas outras referências em homenagem.
O mais interessante é que eu, que quando estou de barba sou confundido com ele, tenho uma associação pessoal.
Este túnel leva à Rodoviária RUBENS PAIVA, no entrada da cidade.
Outro santista ilustre homenageado.
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Em agosto de 2011, SARNEY apresentou proposta para que Congonhas passasse a se chamar Aeroporto de Congonhas – Senador Romeu Tuma.
Disse Sarney:
“É com emoção que tomo a iniciativa de oferecer esse preito a Romeu Tuma, na certeza de que o povo de São Paulo receberá com imensa satisfação a manifestação do Congresso em favor de um dos mais brilhantes homens públicos do nosso tempo”, disse o poeta e presidente do SENADO.
O povo de São Paulo não recebeu com satisfação e tripudiou a ideia de dar o nome ao controvertido ex-policial, chefe do DOPS durante a ditadura.
De acordo com o livro Habeas Corpus, lançado em janeiro de 2011 pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Tuma participou ativamente na ocultação de cadáveres de militantes políticos assassinados sob tortura e no falseamento de informações que poderiam levar à localização dos corpos dos desaparecidos políticos
Depois, ele chefiou a Polícia Federal, que assinava atos censurando obras literárias, teatrais, músicas, livros, até balés.
Bem, diante do passado polêmico, melhor deixar AEROPORTO DE CONGONHAS.
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Vamos ver se HADDAD já imprime um novo estilo à cidade.
E discute com BLOCOS DE CARNAVAL de RUA uma regulamentação.
Por enquanto, prometeu ouvir as partes.
Enquanto o prefeito ainda no cargo os combatia com rigor.
Fez, por exemplo, o bloco ACADÊMICOS DO BAIXO AUGUSTA descer nos 2 últimos anos por uma perigosíssima AVENIDA CONSOLAÇÃO,nos espremeu contra a parede, para não atrapalhar o trânsito da rua que amamos tanto, que nomeia bloco e que se transforma a cada ano.
Vamos então começar no próximo sábado dia 15/12 o GRITO DO NOVO CARNAVAL.
Olha o grito de guerra aí:
ALÔ COMUNIDADE! NOSSO BLOCO ASSINA E APOIA O MANIFESTO CARNAVALISTA – O PRIMEIRO PASSO PARA BOTARMOS OS BLOCOS NA RUA! DIA 15/12 VAMOS TODOS NO FESTA MANIFESTO QUE ROLA NA VILA MADALENA PELA LIBERAÇÃO DO CARNAVAL DE RUA DE SP! SE LIGA! TAMO JUNTO! APAVOOOOOORA!
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E nos dia 16/12, na SALA FUNARTE, agenda aí.
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